125 Possibilidades e desafios enfrentados pelo profissional de enfermagem no atendimento ao paciente com sintomatologia dolorosa DEBORA BIANCA PADILHA Enfermeira--Universidade de Santa Cruz do Sul- RS WILLIAM VINICIUS KLEINPAUL Acadêmico -Curso de graduação em enfermagem- Universidade de Santa Cruz do Sul- RS ANALIDIA RODOLPHO PETRY Enfermeira, Doutora, Professora do Curso de graduação em enfermagem- Universidade de S. Cruz do Sul - RS RESUMO A dor é um sinal que o corpo humano emite quando é invadido ou agredido e que age como um sistema de alarme, acionado para a proteção da integridade anátomo tissular. Trata-se de um fenômeno subjetivo, cuja percepção é particular a cada indivíduo e, atualmente, é considerado como o quinto sinal vital. Para investigar como se dá a percepção da dor pelos profissionais de saúde, propusemos, como problema desta pesquisa avaliar: O que as queixas de dor dos indivíduos, internados nas unidades clínicas e cirúrgicas de um hospital de médio porte do interior do estado, representam para os profissionais de enfermagem de nível técnico ou superior? Traçamos como objetivos específicos: investigar o que os profissionais de enfermagem das unidades clínicas e cirúrgicas fazem diante de um paciente com dor; pesquisar como os profissionais de enfermagem entendem as queixas de dor dos pacientes; averiguar quais são os sentimentos da equipe de enfermagem frente à dor do paciente. Tratase de uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório de cunho qualitativo, realizada em um hospital de médio porte, no interior do estado do Rio Grande do Sul. A coleta de dados foi realizada, através de uma entrevista semi-estruturada, elaborada pelo pesquisador e aplicada em vinte e cinco profissionais de enfermagem de nível técnico e superior. Os resultados mostraram que tratar de pacientes com sintomatologia dolorosa provoca sentimentos de impotência e desconforto nos profissionais entrevistados. Eles referem dificuldades para interpretar a dor dos pacientes, mas consideram importante implementar condutas variadas 126 para o alívio do desconforto. Dentre as medidas de alívio mais utilizadas estão a massagem e a terapia com utilização de frio e calor. Os dados referem ainda que a possibilidade de êxito no alívio da algia dos pacientes atendidos recompensa o trabalho do profissional de enfermagem. Palavras chaves: dor, profissionais de enfermagem e alívio da dor. ABSTRACT Pain is a signal that the human body emits when it is invaded or attacked. It is an alarm system that is triggered to protect the integrity of anatomical tissue. This isa subjective phenomenon, whose perceptionisunique to eachindividual andis currentlyconsidered as thefifth vital sign.Toinvestigate howhow pain is perceived by health professionals we proposed,as a problemof thisresearch, to investigate:What pain complaints of individuals hospitalized in medical and surgical units of a medium-sized hospital in the state to represent nursing professionals of technical or higher level? We draw the following objectives: To investigate what nurses from medical and surgical units are facing a patient with pain; Search as nursing professionals understand the pain complaints of patients; Ascertain what are the feelings of nursing staff against patient's pain. As methodological path we chose a survey that has a descriptive, exploratory and qualitative nature. Data was collected through a semistructured interview developed by the researcher. Having such site survey, a medium-sized hospital in the state of Rio Grande do Sul were interviewed twenty-five professional nursing technical level. The results showed thattreatingpatients withpainful symptoms,causesfeelingsof helplessness anddiscomfort in theinterviewed professionals. Theyreport difficultyin interpretingpatients' pain, but considerimportant to implementvariouspipelines for therelief of discomfort.Among themost widely usedmeasuresof 127 painreliefaremassagetherapyand the use ofcold and heat. The dataalso indicate that thechance of successful painrelief rewardthe work ofprofessional nursing. Keywords: pain, nurses and pain relief. Introdução A dor é uma combinação de sensações corporais desconfortáveis associadas a uma experiência emocional, segundo a Associação Internacional para o estudo da dor (IASP). Identificar a dor como sendo o quinto sinal vital, sugere que a avaliação deverá ser tão automática, quanto à obtenção de uma pressão arterial e pulso do paciente (1). .Ela é um evento que afeta o hipotálamo, isto é, a parte do cérebro que controla a liberação de hormônios que regulam o sono, o despertar, a fome, a sede e o impulso sexual (2) . Diante do estímulo doloroso há reações comportamentais características como, movimentos repetitivos (por exemplo, balançar o corpo de um lado para o outro), caretas, choro ou gemidos (3). O estudo da dor é prejudicado ou influenciado por vários fatores complexos que comprometem os campos afetivos, psicológicos, biológicos, sociais e culturais do ser humano. A cultura exerce grande influência em todos os aspectos da vida das pessoas, incluindo suas crenças, comportamentos, percepções, emoções, religião e outros (4) . Nessa direção, importa salientar que a bagagem cultural de cada indivíduo tem um poderoso efeito na tolerância a dor, uma vez que estímulos que produzem dor insuportável para uma pessoa podem ser perfeitamente toleráveis por outra (5) . A dor é caracterizada de acordo com sua duração, localização e etiologia. Existem vários tipos de dor: aguda, crônica, a ligada ao câncer, visceral, somática, neuropática, central, superficial, profunda, fantasma e a psicogênica (6) . A dor aguda, em geral é de inicio recente e comumente associada a uma lesão específica. Ela indica que ocorreu algum dano ou lesão, sendo que a sua etiologia pode se constituir em um desafio. Trata-se de um tipo de dor que varia em tipo e intensidade, podendo ser constante ou intermitente (7). Importa salientar que, caso não aliviada, a dor aguda, pode afetar os sistemas: pulmonar, cardiovascular, gastrintestinal, endócrino e imune (8). A dor crônica, por outro lado, tem duração longa, de pelo menos seis meses a vários anos (9) . Ela geralmente acompanha o processo de uma doença ou está associada a uma lesão já tratada, sendo imprevisível e auto-limitada. Pode ocorrer tanto na pele, como em quase 128 todos os tecidos e ou órgãos mais profundos. A sensação de fadiga e o isolamento social geralmente são decorrências da dor crônica, que pode ser, ainda, acompanhada de depressão, em virtude do longo período de sua duração, com poucos períodos de melhora. A pessoa com dor crônica acaba sentindo-se vencida por ela, o que acarreta em consequências como falta de interesse pela família, pela profissão e pela sociedade como um todo (7). Os profissionais da saúde devem compreender os efeitos da dor crônica sobre os pacientes e suas as famílias e necessitam estar habilitados sobre as estratégias de alívio da algia e dos recursos apropriados para assistirem afetivamente no seu tratamento. Este tipo de dor está associado à destruição dos tecidos e pode levar a um sofrimento prolongado e insuportável. A partir destas reflexões, este estudo propõe como problema de pesquisa, investigar o que as queixas de dor dos indivíduos internados nas unidades clínica e cirúrgica de um hospital de médio porte do interior do estado representam para profissionais de enfermagem de nível técnico ou superior. Metodo Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, de cunho qualitativo. A pesquisa foi realizada em duas unidades de internação, uma clínica e a outra cirúrgica, de um hospital de médio porte, de um município no interior do estado do Sul do Brasil. As entrevistas foram realizadas individualmente, com vinte e cinco profissionais de enfermagem, de nível técnico ou superior, que atuam nestas unidades nos turnos manhã e tarde. Foi disponibilizada uma sala para a realização das entrevistas, lembrando ainda o local escolhido para realizar a entrevista deve ser discreto, onde haja o mínimo de interrupções e barulhos que possam distrair, tanto o pesquisador, quanto o sujeito entrevistado.(6)Como critério de inclusão determinamos que o entrevistado deveria ser profissional de enfermagem de nível técnico ou superior, independente de idade, sexo, credo e tempo de trabalho nas referidas unidades;trabalhar em uma das unidades de internação clínica ou cirúrgica no momento da pesquisa; assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme resolução 196/96 (10) ; aceitar o uso do gravador no momento da entrevista. Para manter o anonimato, os indivíduos foram identificados por números, conforme a ordem de realização das entrevistas. Assim, os entrevistados foram denominados de Entrevistado 1, até o Entrevistado 25. Fizeram parte deste estudo 24 profissionais de enfermagem do sexo feminino e 1 do sexo masculino, sendo estes 22 técnicos de enfermagem 129 e três enfermeiros,compreendendo uma faixa etária de 19 a 42 anos, dos quais 16 eram casados, 5 separados, 4 solteiras, sendo ainda que 18 tinham filhos. A coleta de dados foi efetuada por uma entrevista semi – estruturada, composta de cabeçalho e questões abertas, elaboradas pelo pesquisador. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Santa Cruz do Sul, sob protocolo N° 258.065. Os dados receberam tratamento sistemático de leitura, agrupamento e codificação e foram agrupados em unidades temáticas por afinidade de conteúdo. Para proceder à análise temática, foram empregados os procedimentos de pré-análise, (que se caracteriza por um trabalho exaustivo, procurando informações claras nas falas dos sujeitos); exploração do material para agrupamento dos assuntos conforme seus significados; análise propriamente dita,em que o pesquisador interpreta os dados conforme o referencial bibliográfico pesquisado. (11,12) A análise dos dados resultou na compilação de três blocos temáticos: como os profissionais de enfermagem compreendem e percebem a dor dos pacientes, quais os procedimentos realizados para alívio da dor e quais os limites e as possibilidades que os profissionais de enfermagem encontram ao cuidarem de um paciente, com sintomatologia dolorosa. Resultados e Discussão O primeiro bloco temático evidenciou como os profissionais de enfermagem compreendem e percebem a dor das pessoas que estão sob seus cuidados. Desde tempos remotos, o homem tem se dedicado a compreender o fenômeno da dor, enquanto uma resposta do organismo a uma agressão interna ou externa. Sem definição precisa, na atualidade a dor é uma condição humana que vai desde uma percepção de desconforto fisico a uma concepção de desequilíbrio emocional. Trata-se de uma percepção individual e particular de cada 5 individuo . Em nossa pesquisa, evidenciamos a dificuldade encontrada por alguns entrevistados para definir este fenômeno, conforme depoimentos a baixo: “Dor... o que é dor...sabe nunca parei para pensar...mas é algo muito ruim,ninguém gosta de sentir dor” ( entrevistado 4) “ Complicado né?... acredito que existam vários tipos de dor... é difícil falar concreto o que é dor... quando a pessoa não está num estado normal de tranquilidade, de bem estar”(,,,)“Pra mim o que é dor... eu sinceramente não sei te responder o que é dor.”(Entrevistado 19). 130 Os dados acima vêm ao encontro de estudos que demonstram tratar-se de um fenômeno que possui várias dimensões (13) . Enquanto um fenômeno fisiológico, a dor afeta o hipotálamo, isto é, a parte do cérebro que controla a liberação de hormônios que regulam o sono, o despertar, a fome, a sede e o impulso sexual3. As reações comportamentais também são coordenadas pela hipotálamo e agem como um sistema de alarme que é acionado para a proteção da integridade anátomo tissular (8) . A identificação da dor dos pacientes, por parte dos nossos entrevistados, variou bastante, conforme a percepção de cada um (4) . Evidenciamos que o profissional de enfermagem procura correlacionar gestos e comportamentos do paciente, ao modo como interpreta a dor dos mesmos, conforme observamos nas falas abaixo: “As vezes eles estão agitados, ou muito solicitantes, tocam a campainha diversas vezes”.( Entrevistado 4). “Através da fala, aparência, o modo de olhar, ou tem sempre aqueles que são muito solicitantes, te chamam a todo momento”. (Entrevistado 20). Os entrevistados percebem os sinais físicos e comportamentais da dor, que provoca alterações significativas no organismo humano (14) . Estas alterações podem ser evidenciadas através de sinais orgânicos alterados, conforme evidenciamos no relato de entrevistados que apontam sinais clínicos indicativos de dor: “Nos sinais vitais, de alguma forma ele vai manifestar: sudorese, hipertensão, taquicardia.” ( Entrevistado 14). Por outro lado, há pacientes que não desejam que a equipe de enfermagem perceba a sua dor física, por exemplo, quando estão ansiosos por sua alta hospitalar. A negação do desconforto também é uma percepção que a enfermagem deve ter em relação ao paciente que sente dor. Assim, é necessário ter atenção quando o paciente se mover e realizar expressões faciais que possam indicar que ele esteja com dor. Através de uma abordagem criteriosa, podemos identificar o motivo pelo qual ocorre esta negação e assim desfazer algumas crenças do indivíduo e trabalhar junto a ele para que seus medos possam ser minimizados (5) . Encontramos alguns entrevistados que referem perceber este sentimento de negação dos pacientes, frente à dor: 131 (...)” tem aqueles que ficam quietos e não falam que sentem dor... porque tem vergonha.”( Entrevistado 4). “(...)”às vezes eles escondem, por medo de terem que ficar mais tempo aqui no hospital”. (Entrevistado 12). Os relatos acima nos fazem considerar que o estudo da dor se configura em uma área complexa e desafiadora, para a equipe de enfermagem. O olhar clínico e a educação continuada podem ajudar os profissionais a identificar a dor do paciente, através da análise dos sinais que apresentam e dos comportamentos e atitudes que expressam. Outro aspecto abordado na pesquisa realizada diz respeito ao modo como os profissionais de enfermagem lidam com a dor dos indivíduos que estão sob seus cuidados. Identificamos que os profissionais entrevistados apresentam sentimentos diferentes, quando se defrontam com a dor dos pacientes, conforme apontam os seguintes dados: “Procuro ser o mais profissional possível, sem me envolver, porque senão tu acaba sofrendo junto e deixa de fazer o resto do serviço”. (Entrevistado 18). “Depende, as vezes acho que sou um pouco fria, pois já virou uma certa rotina, outras vezes me sinto comovida, acho que depende do meu humor”. (Entrevistado 23). “Me sinto, às vezes, incapaz. Tento fazer o que está ao meu alcance, me sinto mal quando não consigo resolver ou ajudar meu paciente.” (Entrevistado 14). Os relatos acima nos convidam a considerar que o sofrimento do paciente, causado pela manifestação de algum tipo de dor, provoca desconforto nos profissionais de enfermagem (15) que, por vezes, se sentem incapazes de lidar com o problema. Trata-se de uma situação comum no ambiente hospitalar, com a qual os profissionais de enfermagem necessitam lidar no seu cotidiano profissional. Através dos dados coletados, percebemos que muitos cuidadores tentam trabalhar com este tipo de sentimento, quando estão perante ao paciente com dor : “(...)constrangida, porque o paciente sente dor, tu tá ali fazendo medicação e não vê resultado, ainda mais quando é um paciente em estado terminar, Eu tento lidar com isso todos os dias mas é bem difícil, sempre acaba absorvendo pra ti”. (Entrevistado 10). 132 “(...) sinto uma tristeza, e ao mesmo tempo uma angústia e daí me pergunto: o que tô fazendo aqui? É bem difícil”. (Entrevistado 11). Os dados analisados nos permitem compreender que os profissionais de enfermagem percebem os sinais de dor emitidos pelos pacientes. Entretanto, muitas vezes sentem-se impotentes e desconfortáveis, por não conseguirem aliviar o desconforto das pessoas que estão sob seus cuidados. Importa salientar que, por vezes, o profissional é emocionalmente afetado pelo sofrimento do outro, fator que implica em um importante estressor profissional. A dor é uma queixa frequente que leva os pacientes à procura de atendimento médico. Contudo, evidenciamos que nem sempre a equipe consegue avaliar os níveis de dor que o paciente apresenta: “(...) como experiência de vida e como profissional, eu acho horrível quando alguém subestima a dor do paciente”. (Entrevistado 13). A avaliação inadequada da intensidade da sintomatologia dolorosa pode levar a condutas e a um tratamento inadequado. Pode haver excesso de valorização, com implementação aumentada de medicações ou, pelo contrário, falta de atenção e, mais especificamente, de apoio emocional, conforme observamos no relato abaixo: “Quando eles começam a chamar demais sempre desconfio que não pode ser tanta dor... daí deixo-os esperando”. (Entrevistado 25). O segundo bloco temático que emergiu dos dados desta pesquisa diz respeito aos procedimentos realizados para o alívio da dor. O modo como o cuidado de enfermagem é organizado pode influenciar na maneira como as equipes exercem suas responsabilidades. Isto requer um amplo conhecimento de estratégias de alívio. Confiança, respeito e empatia são essenciais para comunicação e envolvimento com o paciente (16). Como demonstram alguns de nossos entrevistados, diversos são os procedimentos que podem ser realizados para o alivio da dor: “Sempre, no momento que tu entra num quarto dando bom dia, já é um procedimento agradável, pois eles já se encontram aqui fragilizados, longe de casa; não custa nada ser 133 gentil. Eu acredito que a enfermagem pode neutralizar bastante até chegar na medicação”. (Entrevistado 19). “(...) apoio emocional, acho que é muito importante, só em tranquilizar já ajuda, se a dor dele era 10 diminui pelo menos . Atenção e demais cuidados! (Entrevistado 19). “Converso com ele que vai melhorar,que ele deve ter paciência, que o remédio tem um tempo pra fazer efeito.”( Entrevistado 6). Os dados analisados demonstram que atenção e afeto fazem a diferença, no cuidado proporcionado aos indivíduos: “Dar mais atenção, isso é muito importante. Imagina aquele paciente que ta ali longe de casa que muitas vezes tá até sem familiar, um pouco de carinho, um toque, até mesmo um sorriso já melhora o astral do paciente”.( Entrevistado 11). É possível perceber o cuidado de enfermagem verbal e não-verbal, que se manifesta através do apoio emocional, do toque, e da fala que tenha a intencionalidade de transmitir tranquilidade, carinho, conforto, segurança, atenção e bem-estar (15) , como apontam os depoimentos a seguir: “Proporcionar conforto é fundamental, enquanto ele estiver no hospital” (entrevistado 20) Observamos que as medidas de conhecimento geral sobre o alivio do desconforto são realizadas pela equipe de enfermagem. Nossos entrevistados referiram conhecimentos sobre procedimentos não farmacológicos para o alivio da dor: “Tem vários... bolsinha de água quente, gelo loca;, claro que cada paciente tem sempre as suas particularidades, mudar de posição”. (Entrevistado 3). Terapias térmicas, com frio e calor podem ser estratégias efetivas de alivio da dor17. A aplicação do calor aumenta o fluxo sanguíneo para uma região e contribui para a redução do dor e acelera a cura. A terapia de frio e calor deve ser cuidadosamente aplicada e monitorada, para evitar lesionar a pele. Outra terapia não farmacológica diz respeito à utilização da massagem, conforme encontrado em nossa pesquisa: 134 “Terapia como uma boa massagem, tocar no paciente, muitas vezes alivia”. (Entrevistado 6). “Medidas de conforto, como mudança de decúbito. (Entrevistado 12). A massagem permite que se toque o corpo da pessoa que está com dor aplicando um ritmo na epiderme que, ao provocar o relaxamento muscular, reduz a sensação dolorosa. Estudos com recém-nascidos referem que a massagem profunda proporciona eficaz alívio da sensação dolorosa (18) . O alívio da dor e dos sintomas da doença são fatores importantes para qualidade de vida do paciente, contribuindo para apressar a sua recuperação (19). Por outro lado, pudemos evidenciar em nossa pesquisa que há profissionais que consideram a terapia medicamentosa como a forma de eleição para alívio da dor: “ (...)na maioria dos casos depende muito da medicação”. (Entrevistado 7). “Geralmente faço o que tem na prescrição ou quando me solicitam”. (Entrevistado 14). “Tento aliviar com medicações, é a única coisa que a gente pode fazer”. (Entrevistado 15). Os relatos acima demonstram compreensões acerca do cuidado de enfermagem alicerçado em uma corrente biologista que acredita na prática medicamentosa como única solução. A administração de drogas para minimizar a dor física, prescrita pelo médico assistente, é uma das funções da enfermagem (15) . Entretanto, importa salientar que a aproximação do cuidador durante o ato de medicar permite confortar o paciente que está emocionalmente fragilizado, amenizando suas angústias e medos. A troca de informações sobre os entendimentos do paciente em relação ao fenômeno doloroso é de suma importância, pois a sua compreensão sobre o alivio da dor contribui para seu conforto, fator que auxilia na recuperação do indivíduo (2). Outro aspecto que importa salientar em nossa pesquisa diz respeito ao fato de que os entrevistados demonstram se preocupar em saber se o procedimento realizado, quer seja de natureza farmacológica ou de alivio, foi eficaz. Os profissionais que participaram deste estudo procuram checar e evoluir o que foi realizado, trocando informações com os colegas e outros profissionais do setor. Desse modo: “Fico na observação, pergunto ao familiar como ele tá reagindo, registro cada cuidado prestado, comunico à enfermeira qualquer sinal de alteração."(Entrevistado 12.) “Evoluo no prontuário e depois espero um pouco e volto no quarto e pergunto se passou”. (Entrevistado 4). 135 “O que eu faço... em relação a tudo... após um procedimento ou técnica ou fármaco, eu anoto tudo na pasta, até mesmo pra poder passar pro outro turno o que aconteceu”. (Entrevistado 5). Os dados que se relacionam aos procedimentos efetuados para o alívio da dor, demonstram que alguns profissionais de enfermagem entendem a terapia medicamentosa como única solução para alívio do desconforto. Em contrapartida, outros utilizam-se de procedimentos, tais como massagens, mudanças de decúbito e terapias com frio e calor para amenizarem a sintomatologia dolorosa. Os dados coletados neste estudo resultaram no terceiro bloco temático, que se refere às possibilidades e às dificuldades encontradas pelo profissional de enfermagem, frente ao paciente com dor. Identificar e classificar o sofrimento de uma pessoa é algo com que a equipe de enfermagem lida todos os dias. Há fatores que devem ser considerados nesta avaliação como, por exemplo, o fator emocional, cultural e crenças do indivíduo: “(...) é algo muito relativo,varia de pessoa a pessoa ou até mesmo os fatores ou meio que eles vivem, quero dizer as culturas e costumes” ( entrevistado 2). A cultura exerce um poderoso efeito na tolerância ou não à dor. Ela exerce grande influência em todos os aspectos da vida das pessoas, incluindo suas crenças, comportamentos, percepções, emoções e religião, dentre outros. Tal aspecto pode ser constatado em situações nas quais estímulos, que produzem dor insuportável em uma pessoa, podem ser perfeitamente toleráveis por outra (4). A avaliação da sintomatologia dolorosa é fundamental para se compreender a sua origem, a sua magnitude e posteriormente implementar medidas analgésicas. Muitas vezes mal interpretada, a dor hoje é entendida como sendo o quinto sinal vital (8) , tão importante quanto qualquer outro. Assim é essencial para equipe de enfermagem saber avaliá-la para o manejo e prestação dos cuidados necessários (15) . Evidenciamos o posicionamento dos profissionais a este respeito: “(...) a dor já nos mostra que é um sinal de alerta, momento de avaliar e tentar descobrir qual a origem dessa dor”. (Entrevistado 12). “(...) acho difícil avaliar a dor do paciente, eu particularmente não gosto de avaliar a dor do paciente”. (Entrevistado19). 136 Registrar a dor é fundamental, pois tais informações permitem que os dados sejam compartilhados entre os diversos plantões e equipe multidisciplinar, possibilitando que se realizem os ajustes necessários para o tratamento. Se a dor é identificada, mas a informação não circula entre os profissionais, ou circula de modo irregular e lento, a proposta analgésica ou o ajuste, ficam comprometidos. Por esta razão as ações a serem realizadas, após a identificação da dor ou de sua piora, devem permitir rapidez (17) . Assim, como refere o entrevistado 20. “(...) pra nós da enfermagem... que passamos o maior tempo com o paciente vai ser através de nossos registros,a avaliação que o médico fica sabendo de como o seu paciente passou aquele dia. É muito importante para avaliar a dor”. (entrevistado 20) O primeiro passo para a avaliação da dor é acreditar na queixa verbal do paciente. Deve-se procurar usar uma linguagem clara, de fácil entendimento para o paciente (2) . A equipe de enfermagem deve ser instruída a mensurar e registrar a dor, no prontuário do paciente, fazendo constantemente a mesma pergunta: Qual a intensidade da sua dor neste exato momento? Importa salientar que as condições orgânicas nas quais os indivíduos se encontram podem dificultar a avaliação do estado doloroso do paciente. Percebemos, no relato da entrevistada 16, que o estado de confusão mental pode ser um obstáculo importante no alívio da dor: “(... ) tem aqueles pacientes confusos que em um momento dizem sentir dor de cabeça, passa um tempo, dor na perna; fica difícil realmente entender.”(Entrevistado 16). “(...) tem pacientes que te deixam confusa, estão tão debilitados e desorientados que nem sabem mais onde tem dor; fica difícil descrever”. (Entrevistado 13). A ansiedade que frequentemente acompanha a dor reduz a compreensão, a memória e a capacidade de comunicação (2). Os relatos a seguir enfatizam tal situação: “(...) a ansiedade em que os pacientes se encontram, isso faz com que eles sintam ainda mais dor”. (Entrevistado 7). “É complicado os pacientes que estão com o lado emocional abalado... ficam agitados, e ansiosos, choram sem dar explicação... daí a comunicação fica dífícil, vem a dúvida se é dor ou é o medo por estar ali”.(Entrevistado 25). 137 Em relação a dificuldades para interpretar a dor do paciente evidenciamos que o estresse e o cansaço fazem parte da rotina hospitalar. Assim, a insistência por medicamentos e a cobrança dos familiares aparecem nos relatos abaixo como um fator importante para os profissionais de enfermagem: “Aquele paciente muito queixoso, refere-se à dor o tempo inteiro, só quer remédio, chora, grita de dor. Além de ser estressante para a equipe acaba se tornando um ponto de interrogação: até onde vai essa dor? Explicar que tu só pode medicar o que o médico prescreveu, fazer o cidadão entender tudo isso é pior ainda”. (Entrevistado 4). “ È complicado, quando os familiares não entendem, e ficam todo o tempo chamando, tocando a companhia. Isto causa um estress em mim, e acredito que no paciente, ainda mais quando ele está acamado; tenho certeza que eles não gostam quando a gente fica mexendo toda a hora” (entrevistado 22). ‘(...) tem paciente que parece que estão testando a gente, toda hora chamando. Sempre mantenho uma postura firme, porque senão eles tomam conta”. (Entrevistado7). Pode-se mencionar que há diversas dificuldades para a equipe de enfermagem no tratamento da dor. (6) Estudos sobre a dor deveriam estar presentes nas instituições de ensino, para melhorarem a assistência, a qualidade no atendimento e o conforto do paciente. Alguns pontos foram abordados por nossos entrevistados, sendo que em algumas situações se torna muito difícil identificar a dor: “(...) “paciente que não fala, é difícil saber onde dói, ou para aqueles que tudo dói, também não é nada fácil”. (Entrevistado 4). “(...) às vezes o paciente tá ali sozinho, não tem acompanhante; tu não conhece direito ele; aí ele é acamado, não verbaliza, gemente, ou se revira na cama, e ai tu não sabe se é dor ou desconforto de estar deitado.Eu fico em dúvida onde dói”. (Entrevistado 9). “(...) quando não verbaliza, são gementes é difícil saber onde é a dor, a gente vai pelo quadro do paciente”. (Entrevistado 18). Em certos estágios da doença o paciente pode ser incapaz de participar ativamente de medidas de alívio, mas quando há energia mental e física suficientes, o paciente pode aprender as técnicas de auto tratamento para aliviar a dor (14). 138 Outro fator que dificulta a assistência de enfermagem frente à dor do paciente diz respeito aos pacientes que se tornam adictos a certas medicações. Tais situações preocupam os profissionais entrevistados, conforme observamos nos relatos abaixo: “Em relação à morfina, eu sempre deixo pra fazer em último caso, procuro sempre usar as outras opções. Tem pacientes que eu procuro orientar não fazer morfina, eu até fico com pena porque tem pacientes que são tão novinhos e já pedem por morfina, insistem tanto que saio do plantão de cabeça cheia, porque não entendem que fizemos isso pro bem deles”.( Entrevistado 7). “Pacientes dependentes da morfina, sem dúvida o melhor exemplo, eles referem à dor o tempo todo, só pra receber a morfina. E isso é cada vez mais frequente encontrar aqui no hospital”. (Entrevistado 18). Em relação às possibilidades encontradas por nossos entrevistados sobre o cuidado prestado frente à sintomatologia dolorosa, deparamo-nos com relatos que fazem a equipe refletir acerca do quão importante é o cuidado humanizado e o bom atendimento de enfermagem. Sentir-se valorizado importa para a autoestima e bom desenvolvimento do profissional: “Positivo é quando eles vêm te agradecendo que o que tu fez foi ótimo e que a dor passou ou aliviou; é muito bom isso”.( Entrevistado 1). “(...) quando eles tem alta, vem até o posto de enfermagem com aquele sorriso, pra te dar um abraço de “muito obrigado pelo que você fez por mim”; isso sem dúvida não tem preço”. (Entrevistado 21). A prática profissional na enfermagem objetiva, prioritariamente, cuidar do outro, direcionando as ações de uma forma prazerosa. Muitas vezes o profissional deve ser estimulado e reconhecido pelo seu trabalho. Cuidar do outro traz para o cuidador sentimentos de prazer e satisfação, ou seja, cuidar do outro é também cuidar de CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência dolorosa é individual e subjetiva, dependente de fatores sociais e culturais. Além de ser um sintoma universalmente conhecido, é um dos principais motivos de procura por atendimento em saúde. No indivíduo hospitalizado, ela é uma das causas pelas 139 quais as pessoas recorrem aos profissionais de enfermagem, solicitando, com frequência, sua atenção. Nesta direção, a percepção da dor, por parte dos profissionais de enfermagem implica em considerar aspectos individuais tanto do profissional, quanto do paciente que apresenta a sintomatologia dolorosa. Neste estudo procuramos investigar o que as queixas de dor dos indivíduos representam para os profissionais de enfermagem que trabalham em unidades: clínica e cirúrgica, de um hospital do interior do estado do Rio Grande do Sul. Os dados coletados permitem afirmar que cuidar de um indivíduo com sintomatologia dolorosa provoca, no profissional de enfermagem, sentimentos de desconforto e impotência por, em muitas das vezes, não conseguir debelá-la. Os entrevistados referem encontrar diversas dificuldades para avaliarem a dor do paciente, especialmente no que tange a diferenciar em aqueles indivíduos, que a referem para solicitarem doses extras de analgesia, daqueles que tentam disfarçá-la, para receberem alta clínica. Os resultados mostram que a avaliação da dor, como quinto sinal vital, não é uma prática utilizada pelos entrevistados. Em relação aos conhecimentos sobre medidas de alívio realizadas de forma não medicamentosa, pontua-se que os participantes desta pesquisa possuem embasamento teórico sobre a temática, sendo que muitos a colocam em prática. Evidenciamos, entretanto, que outros seguem a compreensão biologicista, preferindo recorrer ao uso do fármaco como único recurso, sem programar qualquer outra medida terapêutica de alívio. No terceiro bloco temático, evidenciamos que há preocupação na avaliação da dor que, para nossos entrevistados, deve ser criteriosamente abordada e registrada, considerando sempre o tipo, a localização e a intensidade. Os dados coletados apontam que se devem levar em consideração os aspectos sensoriais, culturais e emocionais que a permeiam e, desse modo, identificar a idade e a capacidade de compreensão do paciente, para implementar medidas de alívio e conforto que respeitem a integridade e os direitos do paciente. Entendemos que os dados desta pesquisa nos convidam a considerar a importância de ações de educação continuada sobre a temática da dor nos serviços de saúde. É imprescindível que os profissionais de enfermagem se sensibilizem e se capacitem sobre a utilização de medidas terapêuticas não farmacológicas, como estratégia de alívio da sintomatologia dolorosa. Referências 1- Potter, P, A; Perry, Anne G. Grande tratado de enfermagem prática: clínica e prática hospitalar. 3. Ed. 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