369 O PROCESSO DO CUIDAR: PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA ÚLCERA DE PRESSÃO THE PROCESS OF TAKING CARE: NURSING PROFESSIONALS IN THE PRESSURE ULCER PREVENTION AND TREATMENT Angélica Cristina de Souza Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG. [email protected]. Karla Cristina Pereira Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG. [email protected]. Fernanda Nunes Gama Enfermeira. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste-MG. [email protected]. RESUMO O presente estudo teve como objetivos identificar as ações desenvolvidas pela equipe de enfermagem e as dificuldades para implantação de um protocolo de ações para prevenção da úlcera de pressão e verificar a adesão da equipe de enfermagem na prevenção, tratamento, promoção da recuperação desses pacientes em uma Instituição Hospitalar do interior de Minas Gerais. Foi utilizada uma abordagem qualitativa descritiva, tendo como sujeitos da pesquisa 13 profissionais de enfermagem do Hospital São Sebastião de Inhapim, do município de Inhapim-MG. Como prevenção da Úlcera de Pressão (UP) os profissionais colocaram como principal a mudança de decúbito seguido de higienização do paciente como banho, troca de fralda e realização do curativo como forma de manter a pele limpa e seca e como método complementar para dar suporte a ação de mudar o paciente de posição, o uso de coxim e a hidratação da pele com óleos, como forma de prevenir o atrito cutâneo, a força de cisalhamento sobre a pele e diminuir pressão sobre as proeminências ósseas. As dificuldades enfrentadas pela equipe de enfermagem foram a falta de materiais adequados, recursos humanos no tratamento da ferida. e a falta de um protocolo de ações para facilitar o atendimento e melhorar a qualidade da assistência. Neste sentido conclui-se que há necessidade da atualização dos profissionais quanto ao uso de métodos para prevenção da UP e da implantação de um protocolo de ações para facilitar a assistência e suprir a falta de funcionários e agilizar o atendimento. PALAVRAS-CHAVE: Profissionais de Enfermagem. Processo do Cuidar. Prevenção e Tratamento. ABSTRACT The current study had as an objective to identify the difficulties in the implementation of an action in the prevention and treatment of pressure ulcers in a Hospital Institution of a city town in Minas Gerais. A descriptive qualitative boarding was used, having as research samples, the nursing professionals of the Hospital São Sebastião de Inhapim, city of Inhapim-MG. As a result, in the UP prevention, the professionals had placed as principal the change of decubitus followed by the patient hygienic cleaning such as bath, nappy exchange and dressing accomplishment as a way of keeping a clean and dry skin, and as a complementary method to give support to the action of changing the patient position. Also, the use of cushion and the skin hydration using oils as a way of preventing the cutaneous attrition, the strength of shearing upon the skin and decreasing pressure on bone Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 370 proeminences. Regarding care, the difficulties faced by the nursing team for the lack of adequate materials and human resources in the wound treatment, the lack of an action protocol to facilitate the attendance and to improve the assistance quality. In this sense it is concluded that there is a necessity of professionals updating concerning the usage of methods for UP prevention and the implantation of an action protocol to facilitate the assistance, to supply the lack of employees and to speed up the attendance. KEY-WORDS: Nursing Professionals. Care Process. Prevention and Treatment. INTRODUÇÃO A pele é o maior órgão do corpo humano, constitui cerca de 10% do peso corporal, está constantemente exposta a agressões físicas, químicas e mecânicas. Ela é composta por três camadas: a epiderme que é a camada mais externa, a derme que é a camada um pouco mais profunda e a hipoderme também chamada de tecido subcutâneo ou tecido adiposo (BORGES et al, 2001). A úlcera de pressão (UP) é definida como a ruptura da pele decorrente da pressão prolongada e suporte sanguíneo insuficiente, em geral nas proeminências ósseas (SMELTZER; BARE, 2005). Para Timby (2007) é chamada de úlcera de decúbito, sendo uma lesão causada pela prolongada compressão capilar, que é suficiente para prejudicar a circulação da pele e no tecido subjacente. HargroveHuttel (1996) descreve a úlcera como áreas localizadas de necrose celular sobre a pele e tecido subcutâneo. Dealey (2001) defende que é uma lesão localizada da pele, causada pela interrupção do suprimento sanguíneo para a área geralmente provocada por pressão, cisalhamento1 ou fricção. O enfermeiro enquanto prestador do cuidado ajuda o cliente a readquirir a saúde através do processo de cura, abordando as necessidades de cuidado da saúde holística do cliente, incluindo as medidas para restaurar o bem estar emocional, espiritual e social (POTTER; PERRY, 1999). A enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente da assistência quando possível, pelo ensino do auto-cuidado, de recuperar, manter e promover a saúde em colaboração com outros profissionais (HORTA, 1979). A má qualidade da assistência prestada a indivíduos portadores de UP por muito tempo foi considerada um problema estritamente da enfermagem, uma vez que esses profissionais são os que estão em contato direto com os pacientes. Evidências científicas têm mostrado que o aparecimento da UP está associada a fatores múltiplos, como mobilidade, nutrição, idade, umidade, temperatura elevada, estado cognitivo e lesão medular (GOULART et al, 2008). Porém, o enfermeiro é considerado o profissional responsável na prevenção e tratamento dessas feridas, pois é ele quem executa, supervisiona e orienta os cuidados para o bem estar do paciente (LIMA et al, 2008). Os pacientes que apresentam úlcera por pressão são aqueles acamados e hospitalizados por um longo período (COSTA; COSTA, 2007). A UP traz sofrimento para quem já tem uma patologia de base e após a sua instalação, surgem então, vários outros problemas intercorrentes como a preocupação dos familiares que nem 1 Inter-relação das forças gravitacionais e o atrito. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 371 sempre entendem a razão do seu aparecimento. A úlcera uma vez formada necessita de grande esforço da equipe de enfermagem para a recuperação do paciente, por outro lado a alta permanência do cliente no hospital onera a instituição e, no cliente, na maioria das vezes deixa variadas seqüelas (PEREIRA, 2000; ROSELI, 2003). O elemento fundamental no processo de cuidar é o reconhecimento de seu papel e de seu modo de agir, com profissionalismo e ética, sendo de responsabilidade do enfermeiro assegurar que as decisões e as ações implementadas em nome do cliente sejam eticamente determinadas (ALFAROLEFEVRE, 2005). Esse estudo torna-se importante na tentativa de mostrar que o processo do cuidar é um ato de responsabilidade de cada profissional e que qualidade no atendimento depende do seu comprometimento, pelo fato de promover uma assistência livre de danos decorrente de imperícia, imprudência e negligência de acordo com o artigo 16 do Código de Ética dos profissionais de Enfermagem (COFEN, 2005). Contudo os profissionais de enfermagem, busca a melhoria na assistência utilizando o conhecimento científico para atualização na prevenção e tratamento de feridas. Os objetivos desse estudo foram identificar as ações desenvolvidas pela equipe de enfermagem e as dificuldades para implantação de um protocolo de ações para prevenção da UP e verificar a adesão da equipe de enfermagem na prevenção, tratamento, promoção da recuperação desses pacientes portadores da UP. METODOLOGIA Para realização desse estudo utilizou-se uma abordagem qualitativa descritiva. Essa abordagem qualitativa considera o significado e a intencionalidade presente nos atos, nas relações e nas estruturas sociais, valorizando-se os níveis mais profundos das relações sociais que não podem ser operacionalizadas em números e variáveis (MINAYO, 2004). O estudo descritivo é aquele que expõe os dados para que estes possam ser analisados e interpretados (GIL, 2002). Como cenário do estudo foi escolhido o Hospital São Sebastião de Inhapim, localizado no interior de Minas Gerais. É um hospital geral de pequeno porte de natureza beneficente sem fins lucrativos contendo 56 leitos e 77 funcionários dentre eles 45 médicos, um enfermeiro, 23 técnicos e auxiliares de enfermagem e oito auxiliares de serviços gerais e agentes administrativos. Fizeram parte da amostra desse estudo 13 dos 24 profissionais de enfermagem. Dos 11 profissionais que não participaram, quatro foram excluídos da amostra por exercerem suas funções no Centro Cirúrgico e na Central de Material Esterilizado, dos outros sete profissionais, um estava de férias, um de licença médica e cinco se recusaram a participar do estudo. Os dados foram coletados no período de abril e maio de 2009, em horário pré-determinado e permitido pelos participantes, por meio de entrevista, utilizando um roteiro semi-estruturado, elaborado pelas pesquisadoras e um gravador a fim de manter a confiabilidade das informações. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 372 Após a coleta dos dados foi iniciada a transcrição seguida da análise dos mesmos. As entrevistas foram transcritas na íntegra, onde os dados foram analisados e consolidados, comparados com base em literaturas existentes sobre o tema e agrupados nas diferentes categorias. Os participantes foram identificados com letras e números de P1 a P13. Na análise dos dados foram seguidos os passos propostos por Minayo (2004) de ordenação dos dados, leitura do texto com o objetivo de encontrar “unidades de significados”, transformação das unidades de significados em temas, interpretação dos temas e discussão com a literatura existente. Foi encaminhada a carta para autorização do estudo na Instituição Hospitalar, solicitando autorização para coleta de dados, que após ser aprovada foi assinada, ficando uma via com a instituição. Conforme as exigências da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos), todos os participantes foram informados quanto aos objetivos do estudo, uso do gravador, bem como da participação voluntária e o direito da não participação e os que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, (TCLE), em duas vias de igual teor, ficando uma via com os participantes do estudo garantindo-lhes sigilo quanto à sua identificação (CNS, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO Prevenção e Tratamento da Úlcera de Pressão (UP) A amostra do estudo foi composta por 100% de profissionais de enfermagem, do gênero feminino e com faixa etária entre 27 e 52 anos. Quando questionados sobre as ações desenvolvidas pela equipe de enfermagem na prevenção da UP os profissionais colocaram como principal a mudança de decúbito juntamente com métodos para prevenir o atrito cutâneo, a força de cisalhamento sobre a pele e diminuição da pressão sobre as proeminências ósseas, seguido de higienização do paciente como banho, troca de fralda e realização do curativo como forma de manter a pele limpa e seca, como certifica os seguintes relatos: “São ações de mudança de decúbito, né, que é uma das principais. Procedimento para conforto ao paciente, tá, procura fazer conforto, usa-se ainda o método da luva de encher, pra poder colocar pra trazer conforto também os coxinhos pra conforto. Essas são as medidas pra prevenir a úlcera de pressão. E o banho né, pra conforto essa medida de prevenção”(P1). ...“a parte de enfermagem nosso cuidado, que a gente faz, troca o paciente várias vezes ao dia, um banho primeiro, às vezes a gente troca o paciente de 2 em 2 horas, orienta o acompanhante a trocar, é põe, luvas cheias de água em alguns lugares como nos calcanhares, é se for nas costas a gente vira, deixa mais na posição que não vai afetar aquele lugar e faz curativo 3, 4 vezes ao dia. A noite pra tirar o Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 373 efeito também e assim vai seguindo até a gente ver como que ta a escara”(P2). “É auxiliar a família é a passar um óleo, né, um óleo de girassol,é mudar o paciente, fazer mudança de decúbito no paciente assim pelo menos de 2 em 2 horas recomendamos também é bolsa de água é que aqui a gente usamos até colocar na luva é pra que a pele do paciente, não teje em contato é... muito com o colchão, igual o calcanhar, né, o joelho, aonde forma mais úlceras, né, é essencial um banho, né, fazer limpeza no paciente direitinho, secar o paciente bem sequinho e não deixar que encoste pele com pele igual por exemplo na posição do joelho as vezes quando o paciente ta de lado, virado de lado o paciente encosta ali, né, faz aquele... queima ali, encosta pele com pele”(P7). “Mudança de decúbito, hidratação da pele, usando óleo de girassol, luvas com água nos calcanhar, travesseiro entre as pernas (colchão de ar, de água, pente de ovo)” (P3). Estes relatos demonstram que a principal ação dos profissionais é a mudança de decúbito, sendo considerado como o fator mais importante na prevenção de úlceras de compressão e complementado por Smeltzer e Bare (2005) como ação necessária para aliviar e redistribuir a pressão sobre a pele e evitar o fluxo sanguíneo reduzido para a pele e tecido subcutâneo. Os resultados demonstram ainda o conhecimento desses profissionais quanto a utilização de materiais e métodos para dar suporte a ação de mudar o paciente de posição, como visto nas falas sobre o coxim e a hidratação da pele com óleos. Alguns profissionais citaram a higienização como banho, troca, deixar o paciente sempre limpo e seco como método de prevenção, sendo salientada por Dealey (1997) apud Dealey (2001) má higiene e por Smeltzer e Bare (2005) fontes de umidade sobre a pele como fatores predisponentes para o desenvolvimento de uma lesão. Constatou-se também a desatualização dos profissionais ao utilizarem luvas com água como método de suporte, pois sabe-se que o uso dessas luvas é uma prática inadequada, pelo risco da mesma estourar, molhar o paciente e o leito causando desconforto a esses pacientes, trabalho para a equipe e possibilidade de desenvolver uma UP (DEALEY, 2001). Com relação à freqüência que é realizada a mudança de decúbito, os profissionais relataram que normalmente faziam essa mudança de 2 em 2 horas, certificado nas seguintes falas: “Em paciente acamados com fraldas de 2 em 2 horas”(P1). “É... de 2 em 2 horas é de 4 em 4 isso, ai é de acordo com a orientação do médico, né. E também o paciente se tiver consciência tiver sentindo dor a gente muda de posição, né ajuda a virar”(P5). “A maioria de 2 em 2 horas”(P6). “Geralmente, eu no meu plantão eu faço de 2 em 2 horas porque eu acho que o paciente se sente mais a vontade”...(P7). “o normal é de 2 em 2 horas, né, de 3 em 3”(P10). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 374 “Isso ai depende porque tem paciente que fica com acompanhante, o acompanhante mesmo vira, né, entendeu, de 2 em 2 horas, de hora em hora depende do estado do paciente, né”(P12). Percebe-se que não há divergência quanto à mudança de decúbito realizada pelos profissionais, o que mostra uma coerência no atendimento prestado aos pacientes acamados. Segundo Medeiros et al (2009), a mudança de posição do paciente de 2 em 2 horas é uma ação determinante na prevenção e tratamento da UP. A prática do cuidado na prevenção e tratamento da UP envolve um cumprimento na assistência, pelo fato dos profissionais de enfermagem possuírem conhecimento especializado e trabalharem próximos aos pacientes, desempenhando o papel principal na proteção daqueles confiados a seus cuidados contra complicações reversíveis ou evitáveis. O primeiro passo para prevenção é identificar os pacientes com maior risco de desenvolvê-las e o segundo passo é implementar medidas que reduzam as condições que predispõem o seu aparecimento (TIMBY, 2007). Processo do cuidar em Enfermagem Quando indagados sobre a rotina de troca de curativos, os profissionais mencionaram que a mesma era seguida de acordo com a prescrição médica, como certifica os relatos: “A rotina o médico geralmente põe lá a quantidade no prontuário; troca o curativo 4 vezes ao dia, isso vai de cada”...(P2). “Ah! até médico aqui quer que a gente troca de 6 em 6 horas, já tem médico que não, a gente troca de manhã, pode trocar a tarde entendeu”(P4). “A rotina depende do médico o que o médico pede, né de 4 em 4 horas, de 6 em 6 depende da situação do paciente, né”(P5). “Ah! Geralmente os médicos pedem curativo de 2 ou 3 vezes dependendo do médico”(P11). “Troca o curativo, lava, tem uns Dr que pede... quando o paciente tem diabete tem uns Dr que pede de 2 em 2 h, de 4 em 4h, depende do Dr, né, entendeu, tem uns de 6 em 6”(P12). Percebe-se que uma divergência de opiniões médicas sobre o tempo entre uma troca e outra, que eles avaliam de acordo com o tipo e tamanho da ferida. Segundo Timby (2007) em alguns casos, o médico pode optar por assumir a total responsabilidade pela troca de curativo, pelo menos na primeira vez, porém cabe aos enfermeiros reforçar quando eles estão úmidos, evitando que os microrganismos se dirijam para dentro da ferida. Para Timby (2007) o curativo serve pra manter a pele limpa, absorver a drenagem, controlar sangramento, proteger a ferida contra danos, manter o Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 375 medicamento no local e manter um ambiente umedecido. A troca de curativo é feita pelos profissionais quando a ferida requer avaliação ou cuidado, e quando eles soltam ou ficam saturados de drenagem. No cuidado com o paciente portador de UP todos os profissionais, incluindo os enfermeiros, são considerados responsáveis e devem responder pelo oferecimento de cuidados seguros e apropriados. Uma vez que a falta deste cuidado para este tipo de paciente pode levar a danos a sua saúde e até mesmo a morte (TIMBY, 2007). No relato da profissional P1 a rotina é realizada de acordo com o tipo e a apresentação da úlcera: ...“A rotina de curativo é feita de acordo com o tipo, com a presença da úlcera, porque a gente percebe, né, a gente faz a rotina, 2 vezes ao dia, né, após cada banho, após cada troca de higiene do paciente, então é feita de acordo com a troca do paciente”(P1). Para Timby (2007) o cuidado com a ferida envolve técnicas que promovem sua cicatrização como a utilização de curativos, a proteção de drenos, a remoção de suturas ou grampos, a aplicação de ataduras e faixas e a administração de irrigações. Dealey (2001) relata que há uma variação nas loções usadas no tratamento de feridas, basicamente para limpeza com o objetivo de remover qualquer corpo estranho, como fragmentos ou sujidade, remover fragmentos de tecidos soltos na superfície, como tecido necrótico e remover todos os restos do curativo anterior. Com relação à realização do tratamento de ferida na instituição, os profissionais apontaram que a falta de recursos materiais como, por exemplo somente um tipo de pomada, oferecida pela Instituição dificulta o cuidado por se tratar de uma população carente. No entanto quando a família possui condições é prescrito outro tipo de pomada: “a gente faz tratamento não com pomada muito cara porque a instituição não consegue fornecer , mais aí a gente compra, faz uma receita, pede a família pra comprar, então afasta a úlcera”(P1). “é a gente coloca, às vezes açúcar, dependendo, ou só neomicina, a gente coloca sulfadiazina de prata troca o curativo 4 vezes ao dia, isso vai de cada... ; do tipo que ta a escara, entendeu; as vezes passa, pede o paciente pra comprar óleo de girassol ou outro tipo de óleo pra melhorar aquela ação na pele”(P2). “tratamento da ferida é a gente costuma fazer o curativo com... a prescrição do médico muitas vezes com é! tópico, né e neomicina e curativo”(P6). “faço curativo, geralmente usa a pomada do hospital que é a neomicina, mas quando a ferida é um pouquinho muito grande costuma o hospital pedir o familiar pra comprar, e ai a gente troca o curativo, eu troco o curativo, geralmente na hora que eu vou dar o banho”(P7). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 376 Percebe-se que a instituição oferece apenas um tipo de pomada para o tratamento da ferida o que dificulta o trabalho dos profissionais e a melhora do quadro clínico do paciente. Quando a família possui condições de comprar o tipo de pomada mais apropriada o resultado é melhor. Para o tratamento da UP, Dealey (2001) relata sobre os agentes tópicos, aquele que se aplica uma ferida, e curativo, aquele que cobre uma ferida, e tem como objetivo de promover a cicatrização e proteger contra danos maiores. Para Smeltzer e Bare (2005) o tratamento (cuidado) é realizado de acordo com os estágios que a UP o que se encontra identificado no relato: “Isso é de acordo com cada apresentação da úlcera na pele”(P1). Quando questionados como seriam realizados registros sobre a mudança de decúbito e o tratamento da ferida relataram que eram feitos no prontuário e no caderno de enfermagem, como certificado a seguir: “Realizada no prontuário” (P1). “No prontuário que a gente faz. A gente vai lá muda de decúbito e escreve, o paciente foi mudado de decúbito pro lado esquerdo, depois a gente torna a colocar e passa outra equipe de enfermagem; o que a gente fez durante o dia, né” (P2). “Sim no prontuário do paciente com hora e data” (P3). “É no caderno, né que a enfermeira deixou pra gente, o que a gente faz, a gente vai no caderno e anota, o horário, né tudo se foi realizado, banho de leito se levou no banheiro, se deu banho de chuveiro aí anota no caderno”(P5). “É o relato no caderno e no prontuário também”(P6). O registro de enfermagem no prontuário do paciente tem como objetivo a comunicação multiprofissional, uma forma de informar a outros profissionais sobre a situação do paciente e sobre o plano de cuidados. O Prontuário é considerado um documento legal, garantindo respaldo ao profissional que dele se utiliza, podendo ser usado pelo promotor ou advogado de defesa para provar ou não alegações de imperícia (TIMBY, 2007). Dificuldades Enfrentadas pela Enfermagem Ao perguntar se havia alguma dificuldade enfrentada pela instituição ou pela equipe de enfermagem na implantação de um protocolo de ações na prevenção das úlceras de pressão, os profissionais responderam que a quantidade de profissionais era insuficiente para suprir as necessidades e atender os pacientes com uma melhor qualidade. A falta de material adequado para dar suporte na qualidade do atendimento também foram fatores relatados por eles: “a gente tem na norma de rotina como prevenir, né, com essas ações de prevenção. Só assim, tem dificuldade pela quantidade de Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 377 profissionais, que acaba sendo pouco, então não faz essa mudança, esse conforto diariamente, tem que ta sempre relembrando, tá, e mesmo protocolo escrito geralmente pela quantidade de serviço não é acompanhado, então tem essa dificuldade, ta”(P1). “aonde a gente trabalha o hospital não oferece todas as condições; por exemplo eu sou sozinha, né, pra fazer a mudança, né. Geralmente tem que ta pedindo ajuda mesmo da família é igual o material pra por exemplo na virada, na mudança do paciente quando eu coloco ele de lado pra ele parar direitinho eu tenho de enrolar o lençol e fazer os rolinhos de lençol pra colocar; aqui a gente mexe com muita gente pobre as vezes não tem nem condições de comprar o óleo, um óleo pra passar na pele do paciente, então a gente encontra várias dificuldades”(P7). “é pouco funcionário. As dificuldades é várias, falta de material, então as vezes falta pomada, falta de... num tem gazinha, a gente simplismente lavava com soro colocava gazinha com neomicina, aquilo ia e sarava quando eu acho que isso também a falta de ter o produto certo, o material certo fazer o procedimento da úlcera... é complicado ainda mais em certas regiões”(P11). “Pois é, o material que a gente tem... igual agente falou, a gente usa o que o pessoal fornece, né, o que a gente tem em mãos aí, o que pode usar, até luva agente usa tipo assim, tem escara no pé, né a gente enche a luva de água, né coloca, né” (P5). Percebe-se que houve uma dificuldade na compreensão da pergunta feita, uma vez que apenas uma participante citou o protocolo em sua fala, porém sem confirmar se há ou não um protocolo a ser seguido na instituição. Sabe-se que é importante a implantação de um protocolo de tratamento de feridas, pois segundo Borges et al (2001) nele estão definidas as metas e ações que visam à sistematização da assistência prestada aos portadores de feridas. Protocolo é um plano exato e detalhado para o estudo de um problema de saúde humana, para implementação de um esquema terapêutico, resultando na sistematização da assistência, aumentado o potencial humano e reduzindo os custos (BORGES et al, 2001). Ainda, de acordo com o mesmo autor, a elaboração das normas de atendimento deve estar baseada na finalidade institucional e é indispensável a participação dos profissionais que tem domínio técnico, bem como os gestores da instituição, a fim de que seja aumentada a capacidade de atendimento, possibilitando atender a demanda e garantir um padrão de qualidade. O protocolo segundo Medeiros et al, (2009) deve conter informações relativas à identificação do cliente, escala de Braden, quadro demonstrativo das áreas suscetíveis às úlceras, registro das modificações da pele, seguindo os estágios das úlceras por pressão e guia de prevenção e tratamento. Para Menegon et al, (2007) o protocolo é uma ferramenta da sistematização da assistência de enfermagem, na medida em que qualifica o cuidado prestado, com repercussão no indicador de qualidade assistencial de enfermagem através da redução da incidência de UP. A escassez de recursos humanos foi mencionada pelos participantes como um fator que interfere na qualidade da assistência prestada ao portador de UP, uma vez Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 378 que, diante de um numero aquém das necessidades do serviço, a qualidade do atendimento estará prejudicada. De acordo com a resolução COFEN - 189/96, que estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas Instituições de Saúde compete ao enfermeiro estabelecer o quadro quantiqualitativo de profissionais necessários à prestação da assistência de enfermagem (COFEN, 1996). CONCLUSÃO A partir da análise dos resultados desse estudo pode-se observar que a UP ainda é uma das grandes preocupações dos profissionais de enfermagem pelo fato de desempenharem o papel de cuidar dos indivíduos confiados a eles. No entanto é imprescindível que estes profissionais tenham um olhar clínico para identificar os pacientes com maior risco de desenvolver a úlcera e implementar medidas que possam reduzir o aparecimento da mesma. Mostra ainda que a ação mais desenvolvida pela equipe de enfermagem é a mudança de decúbito e que os mesmos possuem conhecimento quanto à importância dessa ação juntamente com o uso de materiais e métodos que oferece suporte na prevenção da UP, como de higienização do paciente como banho, troca de fralda e realização do curativo como forma de manter a pele limpa e seca e a hidratação da mesma evitando o surgimento de úlceras. Com relação ao tratamento (cuidado) com a ferida, a falta de recurso materiais proporcionados pela instituição e a falta de funcionários dificultam o cuidado da equipe e influi na qualidade da assistência ao paciente. O uso do registro de enfermagem no prontuário do paciente oferece respaldo ao profissional no intuito de promover uma assistência livre de danos e segurança aos indivíduos assistidos. Em relação a prevenção e tratamento da UP há necessidade da atualização dos profissionais quanto ao uso de métodos para prevenção da UP, com isso as pesquisadoras sugerem a capacitação desses profissionais de enfermagem bem como a implantação de um protocolo de ações para facilitar a assistência e suprir a falta de funcionários e agilizar o atendimento. REFERÊNCIAS ALFARO-LEFEVRE, Rosalinda. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado colaborativo. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. BORGES, Eline Lima et al. Feridas: como tratar. Belo Horizonte: Coopmed, 2001. COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM-SP. Resolução n. 189/1996. Estabelece parâmetros para dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas instituições de saúde. Disponível em: < http://www.corensp.gov.br/drupal6/node/3621 >. Acesso em: 11 jun. 2009. COFEN. CONSELHO FEDERAL DE ENGERMAGEM-MG. Resolução COFEN240/2000. Dispõe no capítulo III art.16 das responsabilidades. Ano10, n°1. Agosto, 2005. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 379 COSTA, Fabrício M. Fuccio da; COSTA, Sabrina H. Portela da. Assistência de enfermagem ao cliente portador de ulcera por pressão: abordando a importância do conhecimento e informação. Rev. meio ambulatorial de saúde. v. 1, n. 2, p. 22-32, 2007. Disponível em: <http://www.faculdadedofuturo.edu.br/revista/2007/pdfs/RMAS%202(1)%202232..pdf>. Acesso em: 11 jun. 2009. CNS. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução nº. 196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos. Diário Oficial da União, Brasília, 16 out. 1996. DEALEY, Carol. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2001. GIL, Antônio Carlos Loureiro. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GOULART, Fernanda Maria et al. Prevenção de úlcera por pressão em pacientes acamados: uma revisão de literatura. Rev. Objetiva, Faculdade Objetivo, Goiás, n.4, 2008. Disponível em: <http://www.faculdadeobjetivo.com.br/view_sessao.php?id=59>. Acesso em: 11 jun. 2009. HARGGROVE-HUTTEL, Ray A. Enfermagem médico-cirúrgica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. HORTA, Wanda de Aguiar. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. LIMA, Gesiane Cristina de et al. O Enfermeiro Doutor em Úlcera de Pressão. Rev. de Enfermagem, Faculdade Universitária Campos de Andrade, artigo 66, 2008. Disponível em: <http://www.uniandrade.edu.br/links/menu3/publicacoes/revista_enfermagem/artigo0 66.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2009. MEDEIROS, Adriana Bessa et al. Análise da prevenção e tratamento das úlceras por pressão propostos por enfermeiros. Rev. Da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v.43, n.1, mar. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n1/29.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2009. MENEGON, Doris Baratz.et al. Implantação do Protocolo Assistencial de Prevenção e Tratamento de Úlcera de Pressão no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Rev. do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 2007. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/hcpa/article/view/2031/1174>. Acesso em: 20 jun. 2009. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010. 380 PEREIRA, M. N. O (des)conforto como vínculo do cuidar de enfermagem nos clientes neurológicos portadores de úlceras de pressão. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. POTTER, Patricia Ann; PERRY, Anne Griffin. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. SMELTZER, Suzanne C. O'Connell; BARE, Brenda G. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. TIMBY, Barbara Kuhn. Conceitos e habilidades fundamentais no atendimento de enfermagem. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.1 - Jul./Ago. 2010.