ANÁLISE DE INTERAÇÕES COMPETITIVAS ENTRE

Propaganda
ANÁLISE DE INTERAÇÕES COMPETITIVAS ENTRE
FORMIGAS EM Syzygium cumini
Lucena, R.C. (1); Vieira, L.A.F. (1) [email protected]
(1)
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa – PB, Brasil.
RESUMO
Compreender as relações definidas entre planta-animal é de extrema
importância para entender interações ecológicas ocorridas dentro de um
ecossistema. O objetivo deste trabalho foi estudar as interações ocorridas pelas
formigas em um perímetro de 10m estabelecido ao redor de um exemplar de
Syzygium cumini. Após a contagem, cálculo de sua frequência relativa e
classificação de todos os formigueiros, procurou-se estabelecer se ocorreu
competição entre as espécies localizadas quando recursos foram
disponibilizados. Durante cinco observações, com o auxílio de uma isca
proteica, foram registradas a presença de uma espécie agressiva e
territorialista, Crematogaster scutellaris (fr=20) que, apesar de possuir 3
formigueiros com a maior distância relatada em relação à base da S. cumini
(8,73m), subjugou todas as outras 3 espécies encontradas: Atta sp. (fr=66,67),
Camponotus lateralis (fr=6,67) e Wasmannia auropunctata (fr=6,67). A
espécie Atta sp. não apresentou nenhum indício de herbivoria em relação a S.
cumini ou de competição pois esta espécie, apesar de possuir o maior número
de formigueiros no local, deslocando-se para árvores vizinhas em busca de
recursos. A espécie W. auropunctata raramente interagiu com a S. cumini
devido à presença da C. scuterallis e C. lateralis, que possuem preferências de
habitats semelhantes e, ocorrendo exclusão natural da W. auropunctata.
Palavras-chave: Competição, Myrtaceae, Formicidae.
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
INTRODUÇÃO
Formigas possuem uma alta diversidade natural, sendo encontradas ao
longo de quase todos os ecossistemas terrestres. Seu impacto ecológico
é reconhecível por desempenhar funções importantes como detritívoras,
predadoras, granívoras e herbívoras (KAMINSKI, 2009). Uma de suas
ações naturais, em ecossistemas tropicais onde compõem 15% da
biomassa animal total (BEATTIE; HUGHES, 2002), é a interação com
plantas, onde atuam como herbívoros, assumindo uma intima
associação (TOBIM, 1991).
Plantas disponibilizam recursos naturais essenciais para a sobrevivência
das formigas, seja na forma de néctar, estrato vegetativo ou ‘food
bodies’ (plantas que possuem órgãos especializados para abrigar
colônias de formigas) (BEATTIES, 1985). Em contrapartida, pode
ocorrer interações mutualísticas entre formigas e plantas, agindo como
alelopáticas, impedindo o crescimento de outras espécies de plantas que
impediriam a incidência completa necessária por luz (Suarez et al,
1998), fornecem nutrientes acumulados (BENSON, 1985) e diminuem
o impacto da herbívoria por outros invertebrados (VASCONCELOS,
1991).
O estudo das relações de competição é de suma importância para
entender a interação ocorrida entre planta-formiga. Competição, como a
maioria dos ecologistas considera, compreende a demanda ativa por
2
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
dois ou mais indivíduos da mesma espécie (competição intraespecífica)
ou membros de duas ou mais espécies de mesmo nível trófico
(competição interespecífica) por um recurso comum ou necessidades
para sobrevivência, que são potencialmente limitantes (RICKLEFS,
2009). Esse tipo de interação é muito comum devido à riqueza na
diversidade de espécies de formigas.
Syzygium cumini (L.) Skeels é uma espécie invasora, membro
pertencente da família Myrtaceae, compreendendo mais de 4.620
espécies agrupados em 129 gêneros e em cinco tribos. A planta foi
introduzida em muitas regiões tropicais como no Brasil, sendo
encontrada em diversos estados das regiões sudeste, nordeste e norte.
Popularmente conhecida como jambolão, é descrita como uma árvore
que mede cerca de 10 m de altura e de 3 a 4,5 m de diâmetro de
projeção da copa, com folhagem abundante, ramos de coloração
acinzentada-claro. As flores estão dispostas em inflorescências, de
coloração branca a creme, axilares, racemosas. No Brasil, as flores da
jambolão são encontradas nos intervalos dos meses de setembro a
novembro e o fruto, encontrado nos meses de dezembro a fevereiro.
O objetivo prioritário deste trabalho foi determinar se a interação entre
planta-formiga ocorria de maneira aleatória e estabelecer quais as
interações ocorridas entre as diversas espécies diante da presença de
recursos.
3
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado um exemplar de Syzygium cumini, localizado
em uma área urbana no município de João Pessoa, Paraíba. Cinco
observações, entre os meses de novembro e dezembro de 2011, foram
estabelecidas em horários diversos para determinação do período de
ocorrência de maior atividade. Foi estabelecido um transecto de 10m ao
redor do exemplar de S. cumini com o objetivo de determinar a
quantidade de formigueiros dispersos.
Os formigueiros foram marcados utilizando uma bandeira formando um
ângulo de 90º no local do ninho e a segunda bandeira foi fixada ao final
do percurso estabelecido pelas operárias. Ambas as bandeiras foram
presas utilizando barbantes coloridos para diferencias às espécies
encontradas e se ocorreu cruzamento entre trilhas. A distância entre os
formigueiros e a planta foi medida com o auxílio de uma trena comum.
Segundo Human e Gordon (1999), para o estudo de competição
interespecífica entre espécies da família Formicidae, indica-se testes
baseando-se em alimentos atrativos. Na base da planta, foi colocada
uma isca composta por uma base proteica, disposta sobre papel vegetal
(CAMPOS, 2002), buscando-se analisar o comportamento adotado
entre as diferentes espécies durante períodos de 10 minutos e intervalos
de 10 minutos. Nesses intervalos, a isca era analisada e reposta. As
formigas eram coletadas, dispostas em potes de vidro contendo álcool
4
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
70º e levadas ao laboratório de entomologia com o objetivo de
classificação taxonômica. A frequência relativa do número de
formigueiros foi calculada com base no total observado.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Durante as observações, foram determinadas, criteriosamente, as
distâncias relativas aos diversos formigueiros em relação a S. cumini.
Foi constatada a presença de 15 formigueiros ao redor da S. cumini. A
sua distribuição foi variável, com a presença abundante da espécie 3,
Atta sp. (fr=66,67), totalizando 10 formigueiros. Sua distribuição foi
irregular ao redor da árvore, com distância média de 2,8m. As Atta sp.,
conhecidas como saúvas ou “formigas cortadeiras” (DELLA LUCIA,
1993), não predaram a árvore base, deslocando-se para árvores vizinhas
em busca de recursos, ainda que seus formigueiros se encontrassem a
uma distância maior quando comparadas ao exemplar de S. cumini.
Utilizaram como recursos, inflorescências e estratos vegetativos de
duas plantas vizinhas, a Terminalia e uma Fabaceae, ambas localizada a
4,75m e 7,30m, respectivamente, em relação a S. cumini. Esse deslocamento pode ter sido devido à baixa capacidade de
toxicidade das suas folhagens, apresentando uma taxa de mortalidade
diária de 16,67 ± 7,6, segundo estudos realizados por Dequech et al.
(2008) ou pelo comportamento agressivo e territorialista da espécie 2,
5
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
Crematogaster scutellaris (fr=20), relatado por Soulié (1960), tendo em
vista que, foi observada a presença de cupins no tronco da S. cumini,
uma presa em potencial na ausência de isca para a C. scutellaris.
O único formigueiro das espécies 1, Camponotus lateralis (fr=6,67) foi
localizados na base da S. cumini, com distância de 0,25m. Os
indivíduos da C. lateralis eram encontrados com frequência no estrato
vegetativo da planta ou em seus galhos e troncos. A Crematogaster
scutellaris, apresentou 3 formigueiros encontrado a uma distância
média de 8,73m, porém eram sempre vistas ao longo da copa da S.
cumini, estando de acordo com Ruiz et al. (2013), que afirma que essa
espécie prefere viver em árvores. Como explanado por Schatz (2003),
essa espécie é muito atraída pelo odor forte, característico da isca
proteica, por isso, seu comportamento de intimidação constante pode
ser facilmente explicado, rodeando o ninho das formigas da C. lateralis
(Figura 1). A C. scutellaris apresentou técnicas de competição bem
características, que incluíam botes e mordidas, onde, em alguns casos,
as formigas de espécie diferentes eram levadas para locais distantes da
isca (MARLIER, 2004). Ao longo do tronco do indivíduo S. Cumini,
foi observada uma grande quantidade de soldados mortos da formiga da
C. lateralis e os poucos indivíduos vivos desta espécie se
movimentavam vagarosamente pela árvore.
6
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
As representantes da espécie Atta sp., por apresentar hábitos diferentes
das demais e procurar outras plantas para obter recursos alimentares,
não frequentou o local onde a isca foi disposta. Foi observada apenas a
presença de duas operárias no local, que, ao presenciarem exemplares
da C. scutellaris ou por não serem atraídas pelas partículas odoríferas
da isca, alteraram sua rota e voltaram a procurar estratos vegetativos em
outras localidades.
A espécie 4, Wasmannia auropunctata (fr=6,67), possui apenas um
único formigueiro ao longo do perímetro estabelecido, localizado na
base da S. cumini, com distância de 0,55m. Apesar dos relatos dessa
espécie possuir uma grande capacidade de adaptação e multiplicação no
habitat ao qual está inserido e domina-lo, influindo a composição da
fauna local (CLARK et al., 1982; FABRES; BROWN, 1978), a W.
auropunctata apresentou-se em quantidade baixa e raramente foi
encontrada ao longo do tronco e estratos vegetativos da S. cumini. A
exclusão pela espécie dominante. C. scutellaris, ocorre em casos de
coexistência no mesmo biótipo, dessa maneira, a W. auropunctata não
domina as partes áreas das plantas se o meio for rico em outras espécies
que possuem a mesma preferência de local, como a C. lateralis e a C.
scutellaris (DELABIE, 1988).
7
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
Figura 1. Número de indivíduos das espécies Camponotus
lateralis e Crematogaster scutellaris presentes nas iscas durante
as cinco observações realizadas.
CONCLUSÃO
As iscas contendo proteína atraíram representantes das espécies:
Camponotus lateralis e Crematogaster scutellaris, que estabeleceram
um alto nível de competição. A espécie C. scutellaris sobressaiu em
relação à espécie C. laterallis, devido ao seu comportamento agressivo.
A C. laterallis, por ser pouco agressiva esteve mais sujeita a ataques e
foi subjugada pela C. scutellaris.
Constatou-se que as formigas Atta sp. não modificaram seu
comportamento devido às suas diferenças em sua necessidade
alimentar, a presença da C. scutellaris ou pela toxicidade da S. cumini,
mesmo que sendo classificada como baixa, preferindo percorrer longas
distâncias até árvores vizinhas. A espécie Wasmannia auropunctata
8
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
não apresentou nenhum estabelecimento de comportamento, seja em
relação a S. cumini ou em relação às outras espécies de formigas.
REFERÊNCIAS
BEATTIE, A.J.; The evolucionary ecology of ant-plant mutualisms. Cambridge
University Press, Cambridge, 204p., 1985.
BEATTIE, A.J.; HUGHES, L. Ant-plant interactions. In: HERRERA, C.M.;
PELLMYR,O. Plant animal Interactions. Blackwell Publishing, Oxford, 313p.,
2002.
Benson, W.W. Amazon ant-plants. In: Prance, G.T.; Lovejoy, T.E. Amazonia.
Pergamon Press, Oxford, 442p., 1985.
CAMPOS, M. C. G.; A. E. de C. Campos-Farinha ; O. C. Bueno . As Formigas
Urbanas no Brasil: Retrospecto. O Biológico, v. 64, p. 129-133, 2002.
CLARK, D.B.; GUAYASAMIN, C.; PAZMIÑO, O.; DONONOSO, C. PAEZ DE
VILLANCIS, Y. The tramp ant Wasmannia auropunctata: autoecology and effects on
ant diversity and distribution on Santa Cruz Island, Galapagos. Biotropica, v.14, n.3,
p.196-207, 1982.
DELABIE, J.H.C. Ocorrência de Wasmannia auropunctata (Roger, 1863)
(Hymenoptera, Formicidae, Myrmicinae) em cacauais na Bahia, Brasil. Revista
Theobroma, v.18, n.1, p.29-37,1988.
DELLA LUCIA, T. M. C. (Ed.) As formigas cortadeiras. Ed. Folha da Mata, Viçosa.
262p. 1993.
DEQUECH, S.T.B.; SAUSEN, D.C.; LIMA, C.G.; EGEWARTH, R. Efeito de
extratos de plantas com atividade inseticida no controle de Microtheca ochroloma
Stal (Col.: Chrysomelidae), em laboratório. Biotemas, v.21, n.1, p.41-46, 2008.
9
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
FABRES, G.; BROWN JR, W.L. The recent introduction of the pest ant Wasmannia
auropunctata into New Caledonia. Journal of tge Australian Entomological
Society, v. 17, p.139-142, 1978.
HUMAN, K. G.; GORDON, D. M. Explotation and interference competition
between the invasive Argentine ant, Linepithema humile, and native ant species.
Oecologia, v.105. p. 206-212. 1996.
KAMINSKI, L.A.; SENDOYA, S.F.; FREITAS, A.V.L.; OLIVEIRA, P.S. Ecologia
comportamental na interface formiga-planta-herbívoros: interações entre formigas e
lepidópteros. Oecol. Bras., v.13, n.1, p. 27-44, 2009.
MARLIER, J.F.; QUINET, Y.; BISEAU, J.C. Defensive behaviour and biological
activities of the abdominal secretion in the ant Crematogaster scutellaris
(Hymenoptera: Myrmicinae). Behavioural Processes, v.67, p.427-440, 2004)
RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. 5. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2009.
RUIZ, E.; MARTINEZ, M.H.; MARTINEZ, M.D.; HERNÁNDEZ, J.M.
Morphological study of the Stridulatory Organ in two species of Crematogaster
genus: Crematogaster scutellaris (Olivier 1792) and Crematogaster auberti (Emery
1869) (Hymenoptera: Formicidae). Ann. soc. entomol. Fr. (n.s), v. 42, n.1, p. 99105, 2006.
SOULIÉ , J.La ‘sociabilité’ des Crematogaster (Hymenoptera, Formicoidea). Insectes
Sociaux, v.7, p. 369-376, 1960.
SUAREZ, A.V.; MORAES, A. Defense of Acacia collinsii by in obligate and
nonobligate ant species: the significance of encroaching vegetation. Biotropica, v.30,
p. 480-402, 1998.
THOMAZINI, M. J.; THOMAZINI, A. P. Diversidade de abelhas (Hymenoptera:
Apoidea) em inflorescências de Piper hisoidinervum (C.D.C.).
Neotropical
Entomology, v.31, n.1, p.27-34, 2002.
TOBIN, J.E. A Neotropical rainforest canopy, ant community: some ecologial
considerations. In: HUXLEY, C.R.; CUTLER, D.F. Ant-Plant Interactions. Oxford
University Press, Oxford, 601p., 1991.
10
Resumos Expandidos do I CONICBIO / II CONABIO / VI SIMCBIO (v.2)
Universidade Católica de Pernambuco - Recife - PE - Brasil - 11 a 14 de novembro de 2013
VASCONCELOS, H.L. Mutualism between Maieta guianensis Aubl., a
myrmecophytic melastome, and one of its ant inhabitants: ant protection agains
insect herbivores. Oecologia, v.87, p.295-298, 1991.
11
Download