Clube da Esquina Os Sonhos Não Envelhecem Como começam as bandas de músicas? Já parou para pensar porque as pessoas desejam fazer música? Música é uma expressão do ser humano e, como toda arte, serve para expressar, para comunicar alguma coisa. Na maioria das vezes, as pessoas querem expressar através da arte suas emoções, o que estão sentindo no momento. O compositor* escreve suas músicas, muitas vezes, quando está apaixonado por alguém, quando sente saudades, e até mesmo quando está revoltado com alguma coisa. Os movimentos artísticos geralmente são formados inicialmente por jovens. As bandas de música, de diversos estilos, também, na maioria das vezes, se iniciam com os jovens. A música, por transmitir tanta emoção, seduz as pessoas e quase todo mundo já tentou ou tem vontade de tocar um instrumento. A amizade também é outro fator que une as pessoas em torno da música. E é de um grupo muito especial de jovens amigos que esse texto falará: um movimento musical que foi denominado de “Clube da Esquina” artistas que conseguiram unir técnica e emoção. O Clube da Esquina é formado por músicos que, hoje, são consagrados, ou seja, alcançaram muito sucesso em suas atividades. Mas nem sempre foi assim. Os meninos do Clube da Esquina eram garotos comuns, mas muito interessados em música. Eles foram chamados assim porque tocavam suas músicas em uma esquina, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, Capital de Minas Gerais. Capa do disco Clube da Esquina 1 O movimento surgiu da amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Borges, na década de 60. Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, mas morava em Três Pontas, cidade do interior de Minas Gerais. Quando se mudou para Belo Horizonte para estudar e trabalhar, ele foi morar no mesmo prédio da numerosa família Borges. Vários outros amigos foram chegando e as músicas e os grupos musicais foram surgindo. Capa do disco Clube da Esquina 2 Vista da principal praça do Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte: a Praça Duque de Caixas, conhecida como Praça do Santa Tereza. Segundo conta Lô Borges, um dos principais músicos do Clube da Esquina, o nome surgiu de uma brincadeira. Na década de 60, eram muito comuns as festas voltadas para os jovens nos clubes, mas a rapaziada do Clube da Esquina ficava na esquina tocando violão, pois não tinha condições financeiras para participar das festas. Certo dia, um amigo mais abastado passou de carro pela esquina onde eles tocavam violão e os convidou para irem para uma festa no clube. Segundo consta, Lô Borges gritou, de longe: “nosso clube é aqui, na esquina”. Era o período dos festivais de música*, e a brincadeira com o violão virou coisa séria. Os festivais, muito populares na década de 60 e 70, projetaram primeiramente o nome de Milton Nascimento e, em seguida, do restante dos companheiros - Lô e Márcio Borges, Fernando Brant, Wagner Tiso, Beto Guedes, dentre outros. Em 1972, o grupo lançou o disco Clube da Esquina e foi um grande sucesso. Em 1978, foi lançado o Clube da Esquina 2. Todos os seus integrantes se engajaram em carreirasolo depois e tiveram muito sucesso na profissão de músico. Violão, o principal companheiro Imagem aérea da área central de Belo Horizonte. A cidade tem uma enorme tradição na música e na arte. Muitos artistas do Clube da Esquina ainda moram em Belo Horizonte. A qualidade musical dos garotos sempre foi muito grande e eles viraram, hoje, uma referência de música em Minas Gerais. Todos eles já tocaram em diversos lugares do mundo e são responsáveis por influenciar gerações de músicos que vieram depois deles. Atualmente, na esquina onde os garotos tocavam, há uma placa indicando o local, e músicos de todo o mundo vêm conhecer o lugar onde surgiu o Clube da Esquina, tal a importância que o grupo tem para a música. Os sonhos não envelhecem é parte da letra da canção “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, e virou o título de um livro que Márcio Borges, principal letrista do grupo, ao lado de Fernando Brant, escreveu, em 1996. “Sonhos Não Envelhecem” é um excelente livro para quem quer conhecer e estudar a música brasileira do período do Clube da Esquina. Agora vamos conhecer melhor os principais representantes do movimento. Milton Nascimento (1942) Capa do disco Courage, de 1967. Capa do disco Milton Nascimento, de 1969. Carioca de nascimento e mineiro de coração, Milton Nascimento é filho de Maria do Carmo Nascimento, uma empregada doméstica, e foi adotado por um casal cuja esposa, Lília Silva Campos, era professora de música. O pai adotivo, Josino Campos, era dono de uma estação de rádio. Milton mudou-se para Três Pontas, em Minas Gerais, antes dos dois anos e, aos treze anos, já cantava em festas e bailes da cidade. Mudou-se para Belo Horizonte para cursar Economia, onde, tocando em bares e clubes noturnos, começou a compor com mais frequência. E foi em uma pensão, no Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, que conheceu os irmãos Borges Marilton, Mário e Lô – e, com essa amizade, surgiram os primeiros sucessos do artista. Com uma voz muito potente e um modo de compor bastante moderno, o artista surpreendeu a classe artística pela sua qualidade musical e originalidade, ao compor e interpretar as canções. O retorno do seu trabalho veio definitivamente, quando uma de suas músicas e de Márcio Borges, Canção do Sal, foi gravada pela grande cantora Elis Regina, a maior estrela da MPB*, na época e quando Travessia, uma canção sua e de Fernando Brant, ganhou o Festival Internacional da Canção, de 1967. Com uma carreira brilhante, suas canções foram gravadas por diversos músicos nacionais e internacionais, tendo também ganhado importantes prêmios pelo mundo afora. É bastante reverenciado pelos profissionais do gênero Jazz*. Hoje é considerado um dos mais importantes músicos vivos do país e seus shows têm sempre um público fiel, que vem aumentando a partir do contato dos jovens com sua música. Milton já se apresentou em diversos países, em todos os continentes. O estilo musical dele pode ser classificado como Música Popular Brasileira, que surgiu de um desdobramento do movimento da Bossa Nova, com fortes influências do jazz, de grandes expoentes do rock*, como os Beatles, Bob Dylan e com pitadas da música hispano-americana; isto, sem perder as influências da música tradicional mineira. Fernando Brant (1946/2015) Fernando Rocha Brant, conhecido como Fernando Brant, nasceu na cidade de Caldas, em 9 de outubro de 1946 e faleceu em Belo Horizonte, no dia 12 de junho de 2015. Foi e é considerando um grande compositor mineiro. Parceiro de Milton Nascimento, Lô Borges, Wagner Tiso, Márcio Borges, Nivaldo Ornelas, Toninho Horta e Paulo Braga. Na década de 1960, na cidade de Belo Horizonte participou do movimento musical Clube da Esquina. Compondo com Milton teve mais de 200 canções gravadas: Travessia, Maria, Maria, Planeta blue, Promessas do sol, O vendedor de sonhos, Canção da América, Saudade dos aviões da Panair (Conversando no Bar), Encontros e despedidas, Nos bailes da vida e San Vicente, dentre muitas outras. Com Travessia, parceria com Milton Nascimento, ganhou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro. De lá para cá compôs mais de trezentas canções com vários parceiros. Criou roteiros e letras para balés, teatros e trilhas de filmes nacionais e novelas. Criou com Tavinho Moura o musical brasileiro Fogueira do Divino. Faleceu em decorrência de complicações após segunda cirurgia de transplante de fígado. Lô Borges (1952) Nascido em Belo Horizonte, Salomão Borges Filho, conhecido como Lô Borges, é hoje um dos compositores mais influentes no Brasil. Filho número seis de dona Maricota e seu Salomão Borges, o pequeno Lô cresceu respirando música, principalmente por conta de seu irmão Marilton, e da amizade com Milton Nascimento, chamado pelos amigos de Bituca. Lô Borges é muito próximo de outro membro do Clube da Esquina, com idade muito próxima à sua, o guitarrista Beto Guedes e foi com ele que iniciou os primeiros contatos com o violão, instrumento que o acompanha durante toda vida. Em 1972, a família Borges se muda para a Rua Divinópolis, esquina com Paraisópolis, no boêmio bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Dali, daquela esquina, nasceu uma música, um disco e um movimento. Beto Guedes (1951) Alberto de Castro Guedes, de nome artístico Beto Guedes, nasceu em Montes Claros, norte de Minas Gerais. Beto Guedes é filho do seresteiro Godofredo Guedes, mas sua primeira influência musical é do grupo inglês The Beatles. Seu primeiro disco após o Clube da Esquina foi gravado em parceria com Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta. Músico extremamente talentoso, em 1977 grava seu primeiro disco solo intitulado "A Página do Relâmpago Elétrico”, grande sucesso de crítica. Músicas muito conhecidas do seu repertório estão também no seu segundo disco, Lumiar, e foram regravadas por diversos intérpretes brasileiros. Quando lançou seu terceiro disco, "Sol de Primavera", em 1980, já tinha uma legião de fãs no eixo Rio-São Paulo. O ápice da sua carreira foi o disco "Alma de Borracha", que, lançado em 1986, finalmente lhe rendeu um Disco de Ouro* e o seu reconhecimento no exterior. Ainda hoje, o artista continua a produzir para o seu público. Toninho Horta (1948) Antônio Maurício Horta de Melo nasceu em Belo Horizonte e é um dos instrumentistas mais aclamados e criativos do país. Além de compositor, o músico também já acompanhou, como violonista e guitarrista, grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, Edu Lobo, Gal Costa, Maria Bethânia e Nana Caymmi. Hoje, o artista tem uma carreira consolidada no mercado internacional, tendo tocado com grandes nomes do Jazz, como George Benson e Herbie Hancock. Suas composições, com influências da Bossa Nova* e do Jazz, também já foram gravadas por músicos do mundo inteiro. Toninho tem mostrado seu trabalho em países, como Inglaterra, Rússia, Japão, Coréia, Finlândia, Eslováquia, Croácia, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça, Áustria e nos EUA. Wagner Tiso (1945) Mineiro de Três Pontas, é o amigo mais antigo de Milton Nascimento. Pianista de formação erudita, Wagner Tiso é compositor, maestro* e arranjador*. Participou, com Milton Nascimento, Marilton Borges e Marcelo, do grupo vocal Evolu-Samba e do instrumental Berimbau Trio, que contava com Milton tocando contrabaixo. Foi aluno do músico Paulo Moura, um dos principais músicos da aclamada Bossa Nova. Até a época atual, Wagner Tiso tem 26 discos gravados, compôs diversas trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão e tem, em seu currículo, vários prêmios nestas áreas. É um dos músicos brasileiros mais respeitados no exterior, participando com frequência dos melhores festivais de jazz da Europa, como os de Montreux, Berlim, Montmartre, Nice e da Dinamarca. Suas apresentações fazem parte da agenda das principais salas de concertos, em países, como Grécia, Itália, França, Áustria e Alemanha. No Brasil, tocou com diversos músicos brasileiros, como Gal Costa, Milton Nascimento, Cauby Peixoto, Maísa e até mesmo com o grupo de rock gaúcho Engenheiros Hawaii, em seu primeiro disco acústico. Outro aspecto importante responsável pelo sucesso do Clube da Esquina são as letras das músicas. Mais do que a harmonia e a melodia*, as letras transmitem as ideias, emoções e sentimentos do grupo acerca da vida, relacionamentos e situação social do país. Os letristas mais importantes do movimento são Márcio Borges, Fernando Brant, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos. Muitos outros artistas participaram dos discos do Clube Esquina, mas tiveram uma influência menor no movimento. São músicos que tiveram uma carreira bastante promissora no cenário da MPB. Dentre outros, podem ser citados Flávio Venturini e o grupo 14 Bis, Tavinho Moura, Telo Borges e Mauricio Maestro. No site “Museu Clube da Esquina”, você tem informações preciosas sobre o movimento que revolucionou a música brasileira, com diversos vídeos, depoimentos, biografias dos artistas envolvidos. O site possui ainda uma história em quadrinho contanto a história do Clube da Esquina http://www.museuclubedaesquina.org.br/museu/clube-da-esquina-emquadrinhos/. Os quadrinhos foram realizados pelo desenhista Laudo, baseado no livro “Os Sonhos Não Envelhecem”, de Márcio Borges. *Glossário Arranjador – Músico responsável por criar o arranjo de uma música. Arranjo musical é a preparação de uma música para ser executada ou gravada. O arranjador define os músicos, os tipos de instrumentos e escreve as notas que serão tocadas para os músicos executantes. Bossa Nova – Gênero musical brasileiro criado nos anos 50, que promoveu uma revolução na música brasileira. Os músicos modernizaram o estilo de música tradicional, samba, e incorporam elementos do Jazz à sua sonoridade. Compositor – Músico responsável por criar a música, denominada composição musical. Disco de Ouro – Premiação dada pela gravadora ao músico, relativa ao número de cópias vendidas de seu disco. Para se obter um disco de ouro, é preciso vender 100 mil cópias. Festivais de Música – Concurso de música promovido por alguma organização. Os mais famosos festivais foram os da década de 60 e 70, produzidos por redes de televisão. Grandes nomes da música popular brasileira, como Chico Buarque e Gilberto Gil foram revelados nesses festivais. Harmonia, melodia e o ritmo – Elementos constituintes básicos da música. A melodia é a sequência de notas, uma após a outra, como o que é cantado nas músicas; a harmonia é a combinação das notas musicais, o seu conjunto, como os acordes feitos no violão; e o ritmo é a combinação desses sons, como o andamento - velocidade da música de forma uniforme. Jazz – Gênero musical surgido nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século 20. Baseado na improvisação musical, possui diversos subestilos, como Jazz Cool e Fusion. Maestro – Músico responsável por reger uma orquestra ou um coro. O termo também pode ser aplicado a um músico muito virtuoso, um mestre em sua área. MPB – Sigla para “Música Popular Brasileira”. Nome dado para indicar determinado grupo de músicos que surgiram na década de 60 e 70 e que modernizaram determinados estilos tradicionais de música brasileira, como o baião e o samba. Rock – Rock and roll, rock n’ roll, ou mesmo roque, é um gênero musical surgido nos Estados Unidos, no final dos anos 40. Sua característica principal é o ritmo marcado pela bateria e os solos de guitarra. Referência: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Brant http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vynil_vinil_92837841.png http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tdkc60cassette.jpg http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Compact_disc.svg?uselang=pt http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Milton_Nascimento_-_Clube_da_Esquina.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Milton_Nascimento_-_Clube_da_Esquina_2.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Viol%C3%A3o.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Belo_Horizonte_(2).jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Milton_Nascimento_-_Courage.jpg http://1.bp.blogspot.com/_VnjaZ8PIid8/SKinw8OfbPI/AAAAAAAAAbQ/5-u29z9hf90/s400/Capa.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/16/L%C3%B4_Borges.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Toninho_Horta.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Brant#/media/File:Fernandobrant.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Beto_Guedes#/media/File:Betoguedes_tvbrasil.png https://pt.wikipedia.org/wiki/Wagner_Tiso#/media/File:Wagner_tiso_remix_flickr.jpg