UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM CONDUTAS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE CRÍTICO KARINA CARDOSO GULBIS ZIMMERMANN ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE CRICIÚMA, JANEIRO DE 2009. KARINA CARDOSO GULBIS ZIMMERMANN ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Condutas de Enfermagem no Paciente Crítico. Orientadora: Profa. Ms. Maria Augusta da Fonte UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL CRICIÚMA, JANEIRO DE 2009. Dedico essa monografia aos meus familiares que me estimularam a cada dia para a busca contínua de minha profissão e se abstiveram de momentos em família compreendendo todo esse processo. Dedico em especial ao meu marido José que está diariamente ao meu lado, compartilhando os seus conhecimentos e a sua vida, confiando e acreditando em meu potencial. AGRADECIMENTO Agradeço a Deus por me oportunizar momentos preciosos de aprendizado e por me dar energia para a busca do conhecimento. Agradeço aos meus pais Darci e João que sempre compreendem meu distanciamento e, que nem por isso, deixam de apoiar minha conquista e me amar. Ao meu marido José que está sempre ao meu lado, sendo companheiro, amigo e inspiração. A minha sogra Maria que sempre tem para mim palavras que estimulam a minha busca de crescimento profissional constante. Agradeço a minha orientadora Maria Augusta que com respondeu de maneira especial os meus e-mails. A enfermagem é uma arte; e como arte requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor. Mas o que é tratar da tela inerte ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo - o templo de espírito de Deus? É uma das mais belas artes, eu quase diria, a mais bela de todas. FLORENCE NIGHTINGALE - 1860 RESUMO A temática abordada neste estudo está voltada à Assistência de Enfermagem: métodos e uso de tecnologias para o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade, em uma unidade cirúrgica. A proposta enfoca a avaliação da ferida, o registro escrito e fotográfico e a avaliação do processo de trabalho de enfermagem acerca do cuidado dos curativos supracitados. Nosso objetivo foi identificar como tem ocorrido o processo de avaliação das feridas pelos profissionais de enfermagem até o momento, e, ao mesmo tempo, inserir imagens e relatórios em banco de dados, utilizando o prontuário eletrônico do paciente (PEP), tecnologia que está sendo inserida na instituição. Desse modo, tentamos evidenciar a viabilidade e a relevância do uso de imagens seriadas das feridas no PEP, e como esse processo favoreceria o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade. Se tratou de uma estudo qualitativo, descritivo e exploratório, realizado em um hospital da região sul de SC, tendo como participantes a equipe de enfermagem e quatro pacientes com feridas de média e alta complexidade. Os profissionais responderam a um questionário com perguntas abertas e fechadas, com assuntos como: rotina do setor, formas de avaliação das feridas, protocolos e métodos tecnológicos utilizados e a existência da interdisciplinaridade para o cuidado. Os pacientes por sua vez foram acompanhados em seu processo de cicatrização, tiveram suas feridas fotografadas e inseridas no PEP, para serem acompanhadas pela equipe. Analisamos os dados e verificamos que os profissionais que trabalham na unidade cirúrgica, não possuem capacitações ou cursos específicos a esse setor e a feridas/curativos. Salientamos ainda, que não existem métodos específicos, planejados, além disso, a tecnologia, uso do PEP e de imagens fotrográficas das lesões é uma atividade ainda a ser inserida, mesmo assim, é almejada pelos profissionais que responderam o questionário. A equipe de enfermagem considerou importante para o processo de cuidar e comparar as imagens, e comprovamos sua viabilidade através dos registros realizados, pois, houve a possibilidades de verificar a evoluçao cotidianamente, compreender como estava o processo de cicatrização, analisar possiveis complicações e intercorrencias e verificar as condutas que estavam sendo feitas ou que poderiam ser implementada. Evidencia-se ainda que, na prática do setor, não existe protocolos, fluxogramas e trabalho interdisciplinar, com isso, cada profissional, realiza suas atividades, de forma fragmentada, sem discussões sobre a evolução da cicatrizaçao e melhores condutas para cada caso acompanhado. Quanto a tecnologia e o uso de fotos, embora o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) esteja em via de implantação, utilizamos o terminal que se encontrava no setor e, a equipe conseguiu visualizar as imagens por intermédio dele, comparando cronologicamente as evoluções, uma vez que, somente palavras poderiam não forneceriam esse detalhamento da ferida. Apesar de existir, o sistema de informatização disponível é limitado e não possibilita visualizar duas ou mais imagens por vez, dificultando as comparações. Para ter o feed back à instituição, relatamos esses detalhes de planejamento do sistema para o setor de tecnologia de informação, o qual é responsável por estudar formas de implantação e capacitação das equipes. . Palavras-chave: Curativos, media e alta complexidade, feridas, enfermagem, protocolo, prontuário eletrônico do paciente. .LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Constituição da Pele.................................................................................17 Figura 2 – Epiderme...................................................................................................18 Figura 3 – Derme........................................................................................................19 Figura 4 – Folículo pilossebáceo................................................................................21 Figura 5 – Cascata de eventos na cicatrização de feridas ........................................27 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Perfil dos profissionais e respectivas capacitações sobre unidade cirurgica e em feridas/curativos................................................................................. 52 Quadro 2 – P1 – FO abdominal e traqueostomia.......................................................62 Quadro 3 – P2 – FO abdominal e colostomia ...........................................................63 Quadro 4 – P2 – UP sacral – estágio 1......................................................................63 Quadro 5 – P3 – Membro inferior D ..........................................................................64 Quadro 6 – P4 – FO abdominal, colostomia, dreno – 1ª internação..........................65 Quadro 7 – P5 – FO abdominal, colostomia, dreno – reinternação...........................66 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS PEP – Prontuário Eletrônico do Paciente AHCPR - Agency for Health Care Policy and Research RYB - red, yellow, black NPUAT - National Pressure Ulcer Advisory Panel FO – Ferida Operatória TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UP – Úlcera de Pressão. COFEN – Conselho Federal de Enfermagem 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 2 PELE E SUAS PARTICULARIDADES ................................................................. 12 3 FERIDAS: CLASSIFICAÇÃO E TIPOS ................................................................. 22 3.1 Classificação das feridas ..............................................................................................................22 3.2 Tipos de feridas: causas e fatores relacionados ..........................................................................23 3.3 Processo de cicatrização ..............................................................................................................25 3.3.1 Fatores que interferem no processo de cicatrização .............................................................30 4 CURATIVOS .......................................................................................................... 32 4.1 Prática assistencial de Enfermagem em curativos .......................................................................33 5 TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO DE FERIDAS .......................... 37 6 METODOLOGIA .................................................................................................... 44 6.1 Abordagem metodológica .............................................................................................................44 6.2 Tipo de pesquisa ..........................................................................................................................45 6.3 Local do Estudo ............................................................................................................................47 6.4 População do estudo ....................................................................................................................47 6.5 Coleta de Dados ...........................................................................................................................48 6.6 Aspectos Éticos ............................................................................................................................50 7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS....................................................... 51 7.1 Análise dos questionários: equipe de Enfermagem .....................................................................52 7.2 Experiência com registros fotográficos .........................................................................................60 7.2.1 Paciente 1 ..............................................................................................................................61 7.2.2 Paciente 2 ..............................................................................................................................62 7.2.3 Paciente 3 ..............................................................................................................................63 7.2.4 Paciente 4 ..............................................................................................................................64 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 67 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72 APÊNDICE ................................................................................................................ 75 APÊNDICE A – Termo De Apresentação E Consentimento Institucional ............................................ 77 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido familiar - paciente ............................... 79 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Enfermagem ................................... 81 APÊNDICE D – Instrumento de pesquisa – entrevista i – Enfermagem ............................................ 83 11 ANEXO ..................................................................................................................... 84 ANEXO A – Parecer de aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa .................................................. 87 12 1 INTRODUÇÃO A temática abordada neste estudo está voltada à Assistência de Enfermagem: métodos e uso de tecnologias para o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade, em uma unidade cirúrgica. A proposta enfoca a avaliação da ferida, o registro escrito e fotográfico e a avaliação do processo de trabalho acerca do cuidado de curativos de média e alta complexidade. Todos os profissionais de enfermagem do serviço tiveram acesso para verificar a evolução da ferida do paciente internado que estava sendo acompanhado pela pesquisadora, sendo que as evoluções escritas e as imagens foram anexadas ao Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), mecanismo informatizado em vias de implantação no hospital e utilizado durante a pesquisa. O acompanhamento de feridas de média e alta complexidade requer conhecimento teórico e prático, além de capacidade de tomadas de decisões imediatas, para a elaboração de planos de cuidados específicos. (MEIRELES al, 2007). E, et dentro da equipe de enfermagem, o Enfermeiro é o profissional habilitado para a realização de tal procedimento em pacientes que requerem cuidados precisos e de maior complexidade. O COFEN, em sua resolução 272/2002, regulamenta a Sistematização da Assistência de Enfermagem, e considera atividade privativa do enfermeiro a utilização de métodos e estratégias de trabalho científico para identificar situações de saúde/doença, estabelecendo desse modo, a justificativa para que a assistência de enfermagem possa contribuir para a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade. Diz ainda ser essa prática um processo de trabalho adequado às necessidades da comunidade e o modelo assistencial a ser aplicado em todas as áreas de assistência à saúde pelo enfermeiro. (COFEN – Resolução 272/2002) Para favorecer esse processo de cuidado de feridas existem mecanismos que norteiam a prática de enfermagem, os quais, todavia, precisam ser implementados conforme a realidade da clientela. É evidente que existe a necessidade do uso da informatização e utilização de imagens no prontuário para o acompanhamento de feridas, uma vez que somente a escrita não demonstra suficientemente como, de fato, se encontra a evolução no processo de cicatrização 13 da ferida. Desse modo, faz-se necessário lançar mão de tecnologias que favoreçam a interdisciplinaridade, bem como instrumentos que oportunizem a comparação cronológica das imagens evidenciando o processo de evolução. Através do uso da informatização e banco de fotos, o acompanhamento de feridas ganha caráter visual e assim, proporciona melhores condições para eventual reavaliação de condutas. Na prática, evoluções escritas não conseguem oferecer a nítida informação de todos os parâmetros de avaliação de uma ferida, e para isso, um protocolo seria apropriado. Com o intuito de contribuir para a qualidade do atendimento, o estudo contou com o objetivo geral de identificar como tem ocorrido o processo de avaliação das feridas pelos profissionais de enfermagem até o momento, e, ao mesmo tempo, inserir imagens e relatórios em banco de dados, utilizando o prontuário eletrônico do paciente (PEP), tecnologia que está sendo inserida na instituição, para desse modo evidenciar a viabilidade e a relevância do uso de imagens seriadas das feridas no PEP, e como esse processo favoreceria o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade. Tal estudo foi realizado em um Hospital de grande porte em um município do Sul de Santa Catarina, no período de junho de 2008 a janeiro de 2009, conforme parecer 56/2008 (Anexo A) do Comitê de Ética e de Pesquisa da instituição onde foi realizado o estudo. Ao iniciarmos o estudo partimos do pressuposto de que a prática atualmente em uso deveria ser repensada, mas para isso era essencial delimitar metas e objetivos específicos, quais sejam: • Analisar a metodologia de assistência de enfermagem existente na instituição acerca da avaliação e cuidados de feridas nos curativos de média e alta complexidade na Unidade de Internação Cirúrgica. • Identificar as interrelações entre profissionais de saúde no cuidado de feridas em curativos de média e alta complexidade. • Identificar como a Sistematização da Assistência de Enfermagem com o uso de tecnologias de PEP para inserção de imagens de feridas contribuiria para o acompanhamento do paciente internado com lesões/feridas nos curativos de média e alta complexidade. 14 • Identificar se existem e se são utilizados fluxograma e protocolo estabelecido para o cuidado do paciente com curativos de média e alta complexidade. • Elaborar banco de dados fotográfico, com fotos diárias das feridas de alguns paciente selecionados para haver um acompanhamento visual pela equipe. • Identificar como os profissionais do setor realizam o acompanhamento do processo de cicatrização das lesões em curativos de média e alta complexidade. Empenhados em oferecer um cuidado integral e competente ao paciente, e amparados pela Lei 7.498/86, que regulamenta o exercício da profissão de Enfermagem, salientamos a importância de o profissional Enfermeiro executar a assistência que lhe cabe, pois o artigo 01 da referida lei diz que “são funções privativas do Enfermeiro, os cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas”. (COREN, 2008, p.87-88). Durante nossa da prática profissional constatamos que o processo de trabalho das unidades de internações cirúrgicas é, em geral, multidisciplinar, ou seja, cada profissional executa a sua parte e, com isso, fragmenta-se o cuidado, existindo maiores chances do descuido para com a integralidade do paciente. Pensamos que atendimento integral requer evitarmos preconceitos e interagirmos em prol de um bem comum: o paciente, o qual está literalmente em nossas mãos, esperando que façamos por ele o que é apropriado e necessário. Acreditamos na possibilidade de prestarmos um atendimento integral ao paciente, no qual todos os profissionais de uma equipe conheçam e acompanhem cada caso, e possam realizar as suas atividades interagindo e documentando as condutas prestadas ao paciente, de forma a que todos compreendam os processos e tenham acesso às informações e evoluções. Abordamos e enfocamos nesse estudo, em especial, o trabalho da equipe de enfermagem no que concerne à avaliação, às evoluções e às condutas quanto a pacientes portadores de feridas de média e alta complexidade. Acreditamos que o enfermeiro tem o conhecimento e a responsabilidade de realizar o devido acompanhamento das feridas de média e alta complexidade nas unidades de internações cirúrgicas, sendo esses locais, espaços de planejamento e exercício da 15 autonomia em prol de condutas efetivas na avaliação de feridas e redirecionamento de condutas. Com o planejamento de métodos e o uso de tecnologias na Assistência de Enfermagem, no que tange a evolução e acompanhamento das feridas em curativos de média e alta complexidade, pode-se contribuir para banco de dados de imagens disponibilizado para o conhecimento de todos da equipe, incluindo a evolução diária, e, através de comparação, torna possível verificarmos a evolução do processo de cicatrização. Nosso problema de pesquisa objetiva averiguar a necessidade e funcionalidade do uso de métodos e tecnologias de PEP e imagens para a implementação na Assistência de Enfermagem em pacientes com curativos de média e alta complexidade em uma unidade de internação cirúrgica de um município do Sul de Santa Catarina, no interesse contribuir no acompanhamento e evolução desses pacientes. Nesse contexto está situada a nossa indagação e o problema que é o objeto de pesquisa: No âmago do trabalho da equipe de Enfermagem ocorrem a utilização de métodos e tecnologias para registro, acompanhamento e evolução de feridas de média e alta complexidade na Unidade de Internação Cirúrgica para oportunizar a interdisciplinaridade? Nessa perspectiva, e visando o detalhamento desse problema, apresentamos como questões norteadoras: 1. Quais as interfaces entre a evidência da necessidade de métodos de Assistência em Enfermagem, seu planejamento e realização? 2. Como o Enfermeiro realiza o acompanhamento dos pacientes com feridas de média e alta complexidade na Unidade de Internação Cirúrgica? 3. Existem registros informatizados acerca das feridas de média e alta complexidade na Unidade de Internação Cirúrgica? 4. Como ocorre o acompanhamento dos profissionais que não realizam o curativo, quanto à evolução das feridas de média e alta complexidade dos pacientes? 5. É importante e funcional o uso de tecnologias para o acompanhamento de feridas de média e alta complexidade? 16 2 PELE E SUAS PARTICULARIDADES A existência de inúmeros tipos de feridas nos impõe a responsabilidade e a necessidade de estudar seus conceitos, classificacões, tipos, processos de cicatrização, métodos de tratamento e cura, além da prevenção de complicações que afetem a integridade da pele ou até mesmo a recuperação de uma ferida. (Figura 1) Para compreender a etiologia e o processo de formação da ferida, cabe aprofundarmo-nos brevemente sobre a constituição da pele e de suas camadas, tentando compreender, dessa forma, como esse sistema corpóreo, chamado tegumentar, pode ser afetado quando existe uma ferida, e de que forma poderá ela ser cuidada. Geovanini, Junior, Palermo (2007), referem que a pele do paciente adulto habitualmente corresponde a 10% do seu peso corporal e a 2m2 de área total, com elasticidade, variando de pessoa para pessoa, no que tange a idade, nutrição, hidratação, riscos externos, etc. A pele é um emaranhado estrutural, possuindo, cada cm2, 6 milhões de células, 2 mil melanócitos, 5 folículos pilosos, 5 metros de nervos, 2 pontos termosensíveis, 15 glândulas sebáceas, 12 pontos criosensíveis, 200 pontos algeosensíveis, 1 metro de vasos sanguíneos, 100 glândulas sudoríparas. E tem a responsabilidade de proteção, termoregulação, percepção / sensibilidade (GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007), além de, excreção e metabolismo (HESS, 2002, p. 8). A saber: • Proteção: constitui uma barreira física contra microorganismos, substâncias estranhas, infecções e perda excessiva de líquidos. • Termoregulação: busca manter a temperatura corporal por intermédio de vasoconstrição, vasodilatação e sudorese. • Percepção / sensibilidade: inclui terminações nervosas, permitindo captar sensações de dor, pressão, calor. • Excreção: contribui para a termoregulação, excretando residuos, como água e eletrólitos. 17 • Metabolismo: na pele ocorre a ativação da vitamina D, quando exposta ao sol, e, desse modo, ela interfere no metabolismo do Cálcio e do Fosfato, minerais importantes para a formação óssea. As camadas constituintes da pele são: epiderme, derme e hipoderme (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007; GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007). Figura 1: Constituição da pele Fonte: http://www.afh.bio.br/sentidos/img/sentidos%20pele.jpg EPIDERME A epiderme (Figura 2) é a camada externa, possui tecido avascular e estratificado, é composta de estratos ou camadas: basal, espinhosa, granulosa e córnea (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO. 2007, GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007; IRION, 2005): • Camada basal / germinativa: é formada por células basais e melanócitos, possuindo estruturas de adesão, chamadas de desmossomas, os quais dão suporte ao epitélio. As células basais têm intensa função mitótica, sendo então germinativas, dando origens as camadas da epiderme. Os melanócitos, através de uma relação funcional com os queratinócitos, constituem formadores de melanina, produto pigmentar que confere a coloração ao 18 tecido tegumentar e protege a pele das radiações ultravioletas do sol, absorvendo a energia solar. • Camada espinhosa: formada por células espinhosas, as quais também possuem desmossomas, que promovem grande adesão celular, achatandose progressivamente em direção à superfície. • Camada Granulosa: constitui-se de células granulosas, repletas de grânulos de queratoialina, que promovem a queratinização da pele. • Camada córnea: formada por células epidérmicas anucleadas, constituídas de queratina. (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO.,2007; IRION, 2005). Vale salientar ainda que 2 a 8% das células epiderme são células de Langerhans, tendo essas função imunológica, atuando no processamento primário dos antígenos exógenos que atingirem a pele. Figura 2: Epiderme Fonte: http://www.afh.bio.br/sentidos/img/sentidos%20pele.jpg DERME Abaixo da epiderme existe uma lâmina basal rica em glicoproteínas filamentosas e colágeno tipo IV, o que permite aumentar a aderência da epiderme à derme. (IRION, 2005) 19 Por sua vez, após essa lâmina, temos a derme (Figura 3) que é a segunda camada da pele, também chamada de cório, que compreende denso estroma fibroelástico no qual se situam as estruturas vasculares, nervosas e os órgãos anexiais da pele, glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos. (IRION, 2005) Figura 3. Derme Fonte: http://www.afh.bio.br/sentidos/img/sentidos%20pele.jpg A derme é chamada por Meireles, Silva, Figueiredo (2007, p. 59) de a “substância fundamental”, um gel viscoso, rico em mucopolissacarídeos, que participa da resistência mecânica da pele, com material fibrilar de três tipos: fibras colágenas, fibras elásticas e fibras reticulares”. As fibras colágenas constituem 95% do tecido conjuntivo da derme e promovem sustentação de sua estrutura e fixação da derme à epiderme. As fibras elásticas, se constituem de elastina, conferindo a elasticidade da pele, proteção mecânica e ligação derme e epiderme. As fibras reticulares são formadas de colágeno tipo III, produzidos por fibroblastos e células reticulares, elas, formam o “arcabouço” dos órgãos hematopoiéticos (baço, linfonodos, medula vermelha, etc) e as redes em torno das células musculares e dos órgãos epiteliais (fígado, glândulas endócrinas).” (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007). A derme é formada por duas camadas principais: papilar e reticular, além disso, possui como células principais os fibroblastos, que são capazes de secretar macromoléculas importantes durante o processo de cicatrização. (IRION, 2005): • Papilar: fina e possui sulcos conforme o molde da epiderme, porque está aderida à ela. Possui colágeno III e IV, além de possuir uma rede de vasos 20 sangüíneos e linfáticos que se organizam em plexos. Essa parte é importante para a regulação da perda de calor. • Reticular: é mais espessa, possuei fibras densas e menos gel que a camada papilar e o colágeno tipo I, caracterizando-se por uma malha. Essa organização das fibras reticulares origina as “linhas de Langer”, que proporcionam um aspecto granuloso à pele. As estruturas anexas da Derme, já relatadas anteriormente, desempenham papéis importantes na pele, tais quais (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007): • Glândulas sudoríparas: são elas: écrinas, encontradas em toda a pele, e apócrinas, predominantemente na região palmo-plantar e axilar; fazem ligação com a superfície epidérmica. A secreção sudoral écrina é inodora, incolor, e se constitui basicamente de 99% de água, podendo atingir de 10 a 20 litros de sudorese por dia (24 horas), sendo, desse modo, um importante anexo para a a regulação corporal. As glândulas apócrinas são encontradas nas regiões axilares, peri-mamilares, anoperineal, e, de forma modificada, no conduto auditivo externo, pálpebras e mamas. Desembocam nos folículos pilossebáceos ou nas suas proximidades, secretando pequena quantidade de secreção sudoral que “tem aspecto leitoso e produz calor, decorrente da ação de bactérias próprias das regiões onde são encontradas”. (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007, p. 60) . • Pêlos: situam-se nas invaginações profundas da epiderme, se constituem de células queratinizadas produzidas pelos folículos pilosos. Servem como proteção mecânica em áreas orificiais e no couro cabeludo, além de proteção contra os raios ultravioleta. Têm inervação, assim fazendo parte do aparelho sensorial cutâneo. • Glândulas Sebáceas: presentes em toda a pele, excetuando-se as regiões palmo-plantares, desembocam no aparelho ou folículo pilossebáceo (glândula sebácea, foliculo piloso e músculo eretor do pelo) com ou sem pêlo (figura 4). O sebo por elas secretado, protege contra a proliferação de bactérias e fungos, e, unindo-se ao suor, origina, no estrato córneo, a película que tem função de retenção de água pela pele. Atua ainda como agente emulsificante, 21 pois forma uma substância que reune sebo, lipidio de queratinização, ácidos graxos e outras gorduras na superfície da pele. Figura 4: Folículo pilossebáceo Fonte: www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/acne/imagens/acne34.jpg HIPODERME OU TECIDO SUBCUTÂNEO A hipoderme, ou tecido subcutâneo, contribui para impedir a perda de calor, resistir a traumas mecânicos, e constitui uma reserva de material nutritivo. (GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007; MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007). É a camada mais profunda da pele, constituida basicamente de tecido adiposo, e possui vasos sanguíneos e glandulas sudoríparas, pelos e terminações nervosas, em sua porção superior. (Figura 1) 22 3 FERIDAS: CLASSIFICAÇÃO E TIPOS Conforme Giovanini, Junior, Palermo (2007, p. 36), “o termo ferida é utilizado como sinônimo de lesão tecidual, deformidade ou solução de continuidade que pode atingir desde a epiderme, até estruturas profundas, como fascias, músculos, aponeuroses, articulações, cartilagens, tendões, ossos, órgãos cavitários e qualquer outra estrutura do corpo”. Abaixo descrevemos esses detalhes das feridas. 3.1 Classificação das feridas Podemos classificá-las quanto à espessura, etiologia, evolução, presença de infecção, comprometimento tecidual (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007): a) Espessura • Superficial: atinge a epiderme e a derme. • Profunda superficial: há destruição da epiderme, da derme e do tecido subcutâneo. • Profunda total: atinge até o tecido muscular e as estruturas adjacentes, como tendões, cartilagens, ossos, etc. b) Etiologia • Acidentais ou traumáticas: imprevistas, provocadas por objetos que cortam, perfuram, laceram, contundem, bem como inoculações de venenos, mordeduras e queimaduras. • Intencionais ou cirúrgicas: quando houver intenção terapêutica. • Patológicas: lesões secundárias a determinada doença básica. • Iatrogênicas: resultados inadequados de procedimentos ou tratamentos. • Por fatores causais externos: resultam de pressão, peso do corpo, cisalhamentos, fricções e umidade excessiva. 23 c) Evolução • Agudas: ruptura da vascularização e imediato processo de hemostasia. • Crônicas: de longa duraçao ou recorrentes, com processo cicatricial lento por desvios. d) Presença de infecção • Assépticas: com ausência de microorganismos patogênicos e sem indicios de sinais flogísticos. • Limpas contaminadas: ocorrem usualmente em tecidos de baixa colonização, sem contaminação significativa, por lesões traumáticas com menos de seis horas. • Contaminadas: feridas acidentais recentes, ou contaminadas em atos cirúrgicos, por lesões traumáticas com tempo superior a seis horas. • Sépticas: potencialmente colonizadas ou com contaminação grosseira por detritos ou por microorganismos como parasitas, bactérias, virus, fungos, geralmente por baixa imunidade esses se proliferam. Possuem claras evidências de processo infeccioso: tecido desvitalizado, exsudação purulenta e odor característico. e) Comprometimento tecidual • Estágio I: caracteriza-se por hiperemia, descoloração ou endurecimento local. • Estágio II: existe perda de epiderme ou derme, ulcerações superficiais com bolhas ou crateras rasas. • Estágio III: perda total de tecido cutâneo, presença de necrose do tecido subcutâneo até a fáscia muscular. • Estágio IV: atinge músculos, tendões e ossos, com necrose. 3.2 Tipos de feridas: causas e fatores relacionados 24 Para Giovanini, Junior, Palermo (2007), além da classificação das feridas, existem as causas e proveniências, as quais aqui chamaremos de tipos de feridas: • Feridas mecânicas: são traumáticas por traumatismos externos cortantes, perfurantes, penetrantes, abrasões, esmagamentos, etc. • Feridas laceradas: apresentam margens irregulares, provenientes de trauma externo por vidros ou arames. • Feridas químicas: causadas por agentes quimicos, como ácidos ou bases muito fortes, sais e gases corrosivos. • Feridas térmicas: desenvolvem-se por calor ou frio extremos. • Feridas por eletricidade: ocasionadas por raios elétricos ou contatos com objetos energizados. • Feridas por radiação: sua causa está diretamente ligada a radiação, como longa exposição ao sol, aos raios X, etc. • Feridas incisivas: produzidas por instrumento cortante, como feridas cirúrgicas. • Feridas contusas: ocasionadas por objetos rombos, geralmente por traumatismos em partes moles, com hemorragias e edema. • Feridas perfurantes: provenientes de armas de fogo ou arma branca. • Feridas Oncológicas: suas causas são tumores primários de pele ou metástases cutâneas. • Úlcera arterial: feridas crônicas em pernas, procedentes de lesão de artérias, por doença vascular periférica. Apresentam tecidos desvitalizados amarelos ou pretos, com esfacelamento e escarificação, pouco exsudativas, geralmente em partes distais dos membros inferiores. • Úlceras de pressão: áreas de necrose tecidual proveniente de deficiência circulatória por pressão, usualmente ocorrendo em locais de proeminência óssea que sofrem pressão local por longo período. • Úlceras venosas: feridas crônicas nas pernas, por insuficiência venosa, podendo ser desencadeadas por traumas ou infecções. • Pé diabético: feridas crônicas nos pés, resultado de complicações do diabete, associadas a neuropatias e doença vascular periférica. 25 • Queimaduras: lesões por coagulação de proteínas intracelulares, sendo decorrentes de calor, eletricidade e congelamento. • Fístulas: conexões anormais de superfície corporal com regiões internas, por infecções, traumas, etc. A ferida pode ser avaliada, Segundo o grau de destruição de camada tecidual ou cor; tamanho, localização anatômica, inclusive extremidades ou proeminência óssea mais próxima ou outros marcos anatômicos; aspecto do leito da ferida e da pele circundante; drenagem, especificando quantidade, cor e consistência; dor ou hipersensibilidade, que podem indicar infecção, destruição do tecido subjacente ou insuficiência vascular. (HESS, 2002, 170-171). Para a classificação de uma ferida, faz-se necessário o devido conhecimento científico, e dentre os profissionais de enfermagem que realizam os procedimentos de retirada e realização de um novo curativo, o enfermeiro se constitui no mais capacitado para isso. Ele, através de uma ação e decisão, pode propor intervenções e colocar em prática os protocolos de atendimento, se estes existirem na Instituição. 3.3 Processo de Cicatrização O processo de cicatrização é um complexo conjunto de fases que requer conhecimento e compreensão para determinar as condutas e caracterizar a ferida. “O organismo humano procura restabelecer a integridade do tecido cutâneo-mucoso agredido, iniciando o processo de cicatrização imediatamente após a instalação de uma lesão” (GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007, p. 44). Silva, Meireles (2007, p. 68) relatam que a cicatrização “consiste em uma complexa seqüência de eventos coordenados e desencadeados pelo organismo, que objetivam reconstituir estrutural e funcionalmente o tecido comprometido em sua maior plenitude”. Todavia, destaca-se o fato de que esse processo de cicatrização pode ser mais ou menos lento conforme o grau de comprometimento tecidual (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007): 26 • Feridas de espessura pacial / feridas epidérmicas: acometem a epiderme e a camada superficial da derme. Ocorre o preenchimento da ferida com sangue, restos celulares desvitalizados e partículas de tecidos, formando uma crosta. Há a migração do epitélio que se desprendeu da membrana basal, para a área lesada, onde ele proliferam por mitose incorporando-se à camada epitelial. Essa crosta que se forma protege o processo de cicatrização e quando este está concluido ela se desprende, para então iniciar o processo de queratinização das células proliferadas. Desse modo ocorrerá a regeneração ou reepitelização, permanecendo ao final uma cicatriz, geralmente imperceptível. • Feridas de espessura total / dérmicas: comprometem toda a epiderme, a derme e o tecido subcutâneo, e até mesmo o tecido muscular e o ósseo. A complexidade, nesses casos, é maior, por haver a necessidade de se formar tecido de granulação, epitelização e contração da ferida, até esta se reparar completamente. 27 Figura 5: Cascata de eventos na cicatrização de feridas. Fonte: HESS, 2002 Devido ao fato de existirem essas cadeias previamente organizadas pelo próprio organismo, Hess (2002) nos lembra que os pacientes que não tenham comprometimentos sistêmicos passam pelas fases de cicatrização sem dificuldades. (Figura 5) As fases de cicatrização compreendem: fase inflamatória, proliferativa, e de maturação (HESS, 2002). Há autores que chamam a fase inflamatória de fase de 28 hemostasia e inflamação (IRION, 2005) ; a (MEIRELES, SILVA, 2007) e a maturação de remodelamento fase proliferativa de fibroblástica remodelação (IRION, 2005) ou (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007) ou fase reparadora (GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO 2007). Assim sendo, discorremos sobre as três fases independente dos diferentes nomes, uma vez que o processo e componentes são identificados como os mesmos em todos os casos (HESS, 2002; MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007; GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO 2007): • Fase inflamatória / hemostasia e inflamação: É a fase de resposta vascular e celular. Inicia-se no momento da lesão, e estende-se até aproximadamente 6 dias. Surgem sinais de processo inflamatório: dor, calor, rubor, edema e comumente perda de função local. Caracteriza-se por ativar o sistema de coagulação, formação de trombos por meio de agregação plaquetária, desbridamentos, defesas contra infecção e controle central para a cicatrização. Existem três etapas: trombocítica, granulocítica, macrofágica. Na Fase Trombocítica formam-se trombos, agregam-se plaquetas e ocorre a cascata de coagulação. Na Fase Granulocítica ocorre o desbridamento da ferida e a defesa contra infecções, e, por isso, há concentração de leucócitos polimorfonucleados na área afetada, ocasionando fagocitose das bactérias e decomposição dos tecidos necrosados, com limpeza da ferida. Ocorre ainda, liberação de enzimas proteolíticas (colagenases, elastases e hidrolases ácidas), as quais decompõem o tecido necrótico e as substâncias básicas que contém colágeno e proteoglicanos. Na Fase Macrofágica ocorre a afluência de macrófagos, que secretam as proteases e liberam as substâncias vasoativas e os fatores de crescimento que controlam a proliferação celular. • Fase proliferativa ou fibroblástica: Tem a duração de aproximadamente duas a três semanas e promove o desenvolvimento de tecido de granulação que contém capilares, colágeno e proteoglicanos desenvolvidos por células endoteliais, fibroblastos e queratinócitos. Nesse momento, o ambiente é favorecido pelo aumento de concentração de oxigênio no leito da ferida, para que haja crescimento do tecido de granulação, capilares e substâncias básicas se direcionem e cresçam em direção à camada de células basais. Ocorre o inicio da síntese do colágeno que requer substâncias como 29 proteínas, gorduras, vitaminas A e C, carboidratos, zinco e oxigênio para ser efetivada. Contudo, ao aumentar a perfusao tecidual e a oxigenação, há liberação de fibroblastos para a elaboração do colágeno que se depositará na ferida. • Fase de maturação/ remodelação/remodelamento/reparadora: É a fase de formação de tecido conjuntivo e epitelização. Inicia-se geralmente na terceira semana e normalmente tem um periodo longo dependendo de onde se encontra a lesão. Ocorrem a síntese de fibroblastos e a lise de colagenases, além da redução da vascularização dos fibroblastos, que aumenta a força tênsil e reorienta as fibras de colágeno. Há migração e divisão mitótica de células basais, tendo início o processo de maturação do epitélio nas bordas, com células basais se dividindo, deslocando e remodelando. Além desse processo, faz-se necessário descrever os tipos de cicatrização, a qual é definida pelo tipo de lesão, a quantidade de tecido comprometido, e a existência de complicações instrínsicamente ou extrínsicamente relacionadas ao paciente: • Cicatrização de primeira intensão: Fechamento primário, onde há junção de bordas por pontos, reduzindo-se assim as possibilidades de infecção. Geralmente ocorre em feridas “limpas”. Cicatriza em aproximamente 10 dias, e ao final apresenta uma discreta cicatriz. (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007; GEOVANINI, JUNIOR, PALERMO 2007). • Cicatrização de segunda intensão: Fechamento secundário, há perda tecidual, geralmente feridas infectadas, onde, está impossibilitado de realizar a junção de bordas. Ocorre formação de tecido de granulação e intensa contração da ferida. (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007; GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO 2007) • Cicatrização de terceira intensão: Existem fatores e dispositivos com a função de retardar a cicatrização, por exemplo drenos, estomias, feridas não suturadas inicialmente, ou casos em que houve rompimento dos pontos, reabertura de cirurgias para drenagens, infecções, etc. (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO 2007). 30 3.3.1 Fatores que interferem no processo de cicatrização Conforme Hess (2002), existem fatores locais e sistêmicos que podem interferir no processo de cicatrização. Quais sejam: a) Fatores Locais Pressão: Com esse fator ocorre a diminuição da irrigação sangüinea e consequente baixa oxigenação, nutrição, e encaminhamento de leucócitos para o local, retardando assim a cicatrização. Ambiente Seco: Ocorre a desidratação das células no local da ferida e consequentemente a sua morte, formando uma crosta que impede a cicatrização. Mantendo a ferida úmida, esta permanecerá hidratada e será potencializada a migração celular e a estimulação da epitelização. Traumatismo e edema: Interferem no transporte de oxigênio e na nutrição celular da ferida. Incontinência: Tanto fecal quanto urinária, prejudicam a integridade cutânea, sendo necessário ter cuidado com a pele para mantê-la integra. Infecção: Há diminuição da oxigenação e da nutrição locais, além de inibição da formação de colágeno pelos fibroblastos e estimulação dos leucócitos à liberação de liozinas, as enzimas que destroem o colágeno existente. (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007). Necrose: Constitui-se em um meio de cultura que desencadeia a liberação de enzimas que interferem no processo de cicatrização. Deverá ser removido mecanicamente ou autoliticamente. (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007). b) Fatores Sistêmicos 31 Idade: Com a idade avançada, fatores como nutrição, hidratação, déficit imunológico, circulatório e respiratório estao presentes, o que pode acarretar o surgimento de lesões ou o retardo de cicatrizações. Biotipo: Pessoas obesas tendem a ter o suprimento de oxigênio deficitário no tecido adiposo, por exemplo. Doenças Crônicas: Existem doenças que inteferem na cicatrização, como as metabólicas, tipo diabetes, doenças cardiovasculares, insuficiência vascular, etc. Condições Nutricionais: Deficiências de proteínas, vitaminas, carboidratos e gorduras, retardam o processo processo de cicatrização, no que se relaciona a energia e sinteses de colágeno por exemplo. Imunossupressão e radioterapia: Esses processos afetam o sistema imunológico, e, desse modo retardam o pocesso de cicatrização. E a radioterapia, além disso, pode acarretar lesões na pele, que requer cuidado e acompanhamento. A recuperação do tecido lesado necessita de um conjunto de fatores organizados e direcionados a esse propósito, e caso ocorram interferências, todo o processo poderá ser retardado. 32 4 CURATIVO O desfecho da cicatrização das feridas depende de fatores inerentes ao paciente, internamente ou externamente. Todavia, também é influenciado pela forma como se executam os procedimentos terapêuticos. Em feridas se faz necessário um plano de cuidados acerca da forma de execução dos curativos, bem como da proteção por meio de agentes tópicos que facilitem a cicatrização. O curativo é um cuidado dispensado a uma área do corpo que apresenta lesão de continuidade, atualmente denominado pelo termo técnico de “terapia tópica”. (NOGIMI, 2006, p.720). Além disso, é uma proteção da lesão ou ferida, de agentes externos físicos, químicos ou biológicos, e a troca de curativos também é o momento em que se realiza a limpeza e aplicam-se coberturas que possam favorecer o processo de cicatrização. (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007). Todo esse cuidado é importante, para diminuir as chances de complicações, desde que respeitados os critérios básicos para o curativo promover a cicatrização: umidade, remoção de excesso de secreção, troca gasosa, isolamento térmico, impermeabilidade bacteriana, insenção de partículas, e retirada de curativos sem traumas (HESS, 2002; GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007) Existem inúmeros tipos de curativos, mas, os princípios básicos supra citados, favorecem a cicatrização. A prática adequada é um desafio, mas é, além disso, uma necessidade de intervenção para recuperação. Segundo Declair (2005) o enfermeiro vem despertando em relação à avaliação e ao cuidado de feridas, buscando ter maior autonomia e tomar sob sua responsabilidade técnica o controle da evolução das feridas. Dessa forma pode discutir condutas e realizar um acompanhamento que descreva diariamente os aspectos gerais, mantendo toda a equipe informada, bem como podendo interferir executivamente nos momentos apropriados. Observando as características mencionadas, constatamos a necessidade da avaliação de enfermagem para a promoção do cuidado das feridas. 33 4.1 Prática Assistencial de Enfermagem em curativos Quando falamos em assistência de enfermagem e tomadas de decisões imediatas, no caso dos curativos de média e alta complexidade em pacientes críticos, vale salientar a importância da participação ativa e da intervenção do enfermeiro, mas também a existência de um mecanismo que possibilite o trabalho transdisciplinar. Consideramos curativo de média e alta complexidade aquele que requer do profissional maior conpetência técnica para sua realização. Assim, “o tratamento de feridas envolve procedimentos de alta complexidade técnica e o enfermeiro só poderá tomar decisões imediatas se estiver preparado cientificamente” ( SANTOS, et, al, 2007, p. 27). Ressaltamos ainda que toda atividade de maior complexidade técnica e que exija essa tomada de decisões, é tida como função do enfermeiro, pela lei do exercício profissional n° 7.498/86. Agir contrariamente a essa lei configura atitude de omissão, negligência e imprudência, e desse modo pode-se colocar em risco a vida do paciente (SANTOS, et, al, 2007). O serviço de Enfermagem é essencial para a avaliação e a manutenção do tratamento proposto por que, uma vez tendo o conhecimento e aplicando-o na prática, podemos identificar situações de risco ou de benefício ao paciente com relação à sua lesão. O acompanhamento do histórico de feridas pelo enfermeiro é uma prática que vem despontando, e pode ser feita de forma direta e ativa, tanto no quesito prevenção de feridas, quanto no cuidado para com as que já existem (SANTOS, et, al, 2007). Os mesmos autores relatam que as maiores dúvidas se concentram na questão autonomia do enfermeiro para o acompanhamento de feridas. Desse modo, o desenvolvimento de protocolos é uma forma precisa e eficaz de dar ao enfermeiro maior autonomia, desde que esta seja planejada e aprovada para a utilização. O paciente cirúrgico é um indivíduo inerentemente suscetível a fatores de risco relacionados às contaminações, déficit imunológico, depressão dos sistemas respiratório, cardíaco e neurológico, entre outros, sobre dos quais a equipe técnica pode intervir, tentando minimizar a possibilidade de agravamento da lesão e/ou de sua cicatrização. 34 Segundo Irion (2005, p. 41) existem fatores para o desenvolvimento de feridas e para o retardo de sua cicatrização, dentre os quais estão o Diabetes Mellitus, a Incontinência Urinária, o comprometimento da mobilidade, o estado do sistema imunológico, e os transtornos gastrointestinais, cardiopulmonares e vasculares que podem impedir o fluxo de nutrientes para os tecidos lesados. Sabemos que os pacientes cirúrgicos, por uma série de questões nutricionais e imunológicas, têm maiores dificuldades de regeneração dos tecidos nos locais que possuem lesões. Dessa forma, o acompanhamento permanente, próximo e transdisciplinar, tem maior capacidade de favorecer a recuperação integral do paciente crítico. É necessário reconhecer a importância do tratamento de feridas para a promoção de políticas de saúde; para isso é necessário existir profissionais que orientem os tratamentos por meio de protocolos institucionais competentes e seguros, considerando que a padronização dos produtos é fator decisivo na eficácia e na redução dos custos. Ressaltamos que todo o tratamento deve ser individualizado [...] (GIOVANINI, 2007, p. 19). Nesse sentido, acreditamos que o enfermeiro tenha capacitação técnica e científica para desenvolver adequadamente as avaliações das lesões de média e alta complexidade. A essência de enfermagem fundamenta-se na promoção, manutenção e recuperação da saúde, por meio da utilização de todos os nossos recursos técnico-científicos, inclusive a sistemática operacional da assistência de enfermagem e das nossas habilidades instrumentais e expressivas [...] (GIOVANINI 2007, p. 61 apud CASTELLANOS IN CAMPEDELLI, 1989, p.65). O planejamento de enfermagem e a autonomia são fatores importantes para o enfermeiro de Unidade de Internação Cirúrgica, uma vez que as decisões devem ser tomadas de forma rápida e organizada, segundo critérios científicos, podendo ser decisivas, uma vez que “o profissional tem nas suas mãos a saúde, a vida da pessoa, e, em determinadas circunstâncias, a sua decisão vê-se envolta por situações ambíguas[...] ” (ANDRADE, 2001 , p. 23) Alguns fatores externos também favorecem a não-efetivação do planejamento; dentre eles, a falta de entendimento do trabalho do profissional enfermeiro e a falta de parcerias em decorrência dessa lamentável mas, remediável 35 situação. Para Andrade (2002, p. 22) “... dentro de uma equipe de trabalho, os resultados devem ser conseguidos colocando o esforço da equipe frente às metas individuais”. O atendimento pelos profissionais da saúde é feito multidisciplinarmente, porém, ainda existe marcante distanciamento entre estes. Muito embora todos trabalhem em um ambiente restrito, muitas vezes não conseguem ter uma sintonia técnica e científica para suprir a necessidade do paciente com lesões de média e alta complexidade. Andrade (2002, p. 22) salienta ainda que, existem obstáculos para a integração em uma equipe dinâmica, dentre esses a formação básica, a qual entendemos que seja, ausência de uma formação voltado para o trabalho em equipe, entendimento das habilidades e competências em sua prática de forma organizada e substanciada cientificamente. Talvez a problemática da multidisplinaridade no atendimento de pacientes com feridas de média e alta complexidade, fosse sanada se existisse a comissão de curativos. Essa poderia construir protocolos de atendimento, com manejos de prevenção e plano de cuidados para cada tipo de feridas, levando em conta o estágio e o processo de cicatrização em que as mesmas se encontram. Com a formação de uma comissão de curativo efetiva, poderia haver discussões dos casos, e desse modo ter-se-ia um ponto de referência que subsidiasse a prática de cuidar de feridas. Estariam sendo aliadas a teoria e a prática de uma forma interdisciplinar, porque a comissão contaria com enfermeiro, médico, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social, não mais trabalhando de forma isolada, mas sim agregando conhecimentos de suas respectivas áreas de formação em prol do atendimento e da avaliação do paciente, porque cada um tem seu importante papel para a evolução positiva no processo de cicatrização. (SANTOS et al, 2007). Atualmente o trabalho em saúde é feito por diversos profissionais da saúde e por outros que são treinados para realizar uma série de atividades que mantém a estrutura institucional. (PADILHA, 2002, p.24). 36 Mas, embora existam esses profissionais trabalhando na instituição, a multidisciplinaridade é um fator forte e determinante na área da saúde, principalmente nos setores do âmbito hospitalar, onde, existem inúmeros profissionais dividindo o mesmo espaço de trabalho, desenvolvendo suas técnicas e habilidades, mas não contemplando o atendimento integral do paciente. Dessa forma, acreditamos na importância de trazer à discussão a interdisciplinaridade, um termo pouco usado e pouco conhecido pela população de saúde, mas que, se efetivamente colocado em prática, trará bons resultados em relação à integralidade do cuidado. Tratando sobre o processo de trabalho em saúde, concordamos que os profissionais são peças-chave para o desencadeamento das ações. E, esse processo, tem como finalidade – a ação terapêutica; como objeto – o individuo ou grupo de doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medicadas curativas, preservar a saúde ou prevenir doenças; como instrumental de trabalho – os instrumentos e as condutas que representam o nível técnico de conhecimento que é o saber de saúde e o produto final é a própria prestação da assistência de saúde que é produzida no mesmo momento que é consumida (MARX, 1982, apud PIRES, 1999, p. 32). Nesse contexto, a enfermagem pode desenvolver o seu papel no cuidado e acompanhamento do paciente, porque o seu trabalho é naturalmente amplo e não se dissocia da responsabilidades acerca de condutas. Devemos, pois, refletir sobre as nossas estratégias elaboradas para o serviço em que atuamos. É importante considerar que Pires (1999) fala que o cuidado integral do paciente também é de responsabilidade do Enfermeiro, e no enfoque do estudo relacionado à Assistência de Enfermagem: métodos e uso de tecnologias para o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade, em uma unidade cirúrgica, não deverá ser diferente. Ou seja, o Enfermeiro, em conjunto com a equipe, deve zelar pela qualidade do atendimento ao paciente, visando as melhores escolhas de procedimentos e tratamento, na tentativa de promover uma recuperação conveniente e solidificada para o processo de trabalho. Chamaremos esse processo - composto de conhecimento e acompanhamento fragmentado - de unidisciplinaridade. Embora ele possa ter 37 contribuído para a resolução de problemas da humanidade, deixa-nos o desafio de promover a interação, a interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade é vista como um caminho alternativo, uma vez que tenta romper a fragmentação, como intuito de atingir articulações e integrações para um promover conhecimento e direcionamento em comum. Não se quer negar o valor da especialidade, mas sim utilizar conjuntamente os conhecimentos dos diversos profissionais em busca dos mesmos objetivos. Neste caso, o acompanhamento e o tratamento dos pacientes com feridas (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007). A cada profissional faz-se necessário ter suficientemente esclarecidas as suas competências, e o que consta em seu código de ética profissional, para que seja capaz de executar o seu trabalho, defendendo as suas condutas com cientificidade diante de indagações que possam surgir no ambiente de trabalho. Lembremos que dúvidas sobre competências usualmente surgem no cotidiano, e por isso é válido esclarecer que a construção de competências é considerada em toda vida escolar, mas muitos desconsideram as atividades comuns como competências. De acordo com Perrenoud (2000), não se podem reservar as habilidades ao cotidiano e as competências às tarefas nobres. Tudo o que fazemos, de alguma forma foi aprendido, foi construído e é aplicado. Contudo existem as competências requeridas na vida cotidiana, que se aprendem a cada dia, muitas vezes vivenciando as situações, e as competências elementares que têm relações com o que se aprende na vida escolar. Ter conhecimento de modo algum afirma que o indivíduo é competente, e para que isso ocorra, deve existir uma associação da teoria com a prática e deve-se usufruir do conhecimento sabiamente. Dessa forma o enfermeiro de Unidade de Internação Cirúrgica pode compreender que as inquietações geram movimentos e esses movimentos geram a busca de transformações que possam contemplar as necessidades evidenciadas. Com esse esclarecimento, e conforme a Lei 7.498/86, do exercício profissional da Enfermagem, o tratamento de feridas envolve muitas vezes maior conhecimento teórico, tomadas de decisões imediatas e procedimentos de alta complexidade. Então, “cabem privativamente ao enfermeiro os cuidados diretos prestados a clientes graves, e, os de maior complexidade técnica e, que exijam conhecimentos de base cientifica e capacidade de tomar decisões imediatas” (COFEN apud MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007, p. 27). 38 5 TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO DA FERIDA A tecnologia na contemporaneidade parece conduzir a reflexão para uma conotação contraditória e dicotômica, quando associada ao termo “cuidado” (KOERICH, 2007). A tecnologia para o cuidado envolve a utilização de estratégias para o acompanhamento da evolução do paciente, e por vezes nos mantém escravos ou reféns no aspecto de trabalho-intervenção-produção para um mundo que se dissocia do cuidado e da interação humana (KOERICH,2007). Mas, mesmo que exista essa possibilidade que imprime a negatividade, a tecnologia nos fornece aparatos para o cuidado, através de aparelhos sofisticados e complexos que podem determinar, por exemplo, os padrões ventilatórios, identificar os sinais vitais e controlar os valores hemodinâmicos. Além disso, o uso de tecnologia para o registro pode ajudar no processo de cuidar, sendo que o mecanismo existente nas instituições é o prontuário eletrônico. Para Figueiredo, Borges, Torres, Araújo (2007, p.229) “o prontuário eletrônico do paciente tem um futuro promissor, pois só vem para facilitar o trabalho dos profissionais de saúde, gerando informações seguras e confiáveis sobre a vida clínica dos clientes / pacientes”. Para Furuie et al (2003) o prontuário pode ser funcional e completo, contendo controles de acesso, exames laboratoriais, imagens (estáticas, dinâmicas e 3D), laudos, documentos e mesmo sinais vitais em tempo real. Esses sistemas de informação são mecanismos importantes para as instituições de saúde, e “foram desenvolvidos, para atender inicialmente às necessidades administrativas e burocráticas tais como: aplicações financeiras e orçamentárias, folha de pagamento, contabilidade etc.” (MOTA, 2004, p. 24) Porém, surge o PEP, que, por sua vez, segundo Massad (2003 apud, Salvador, Filho, 2008, p. 2), o PEP foi criado para que médicos e enfermeiros recordassem de forma sistemática dos fatos e eventos clínicos ocorridos em um indivíduo, de forma que os demais profissionais da saúde envolvidos no processo de atenção pudessem ter acesso a estas informações. Assim, ele é o mais importante veículo de comunicação entre os membros de uma equipe de saúde responsável pelo atendimento. 39 Mota (2004, p. 38) esclarece ainda que a palavra prontuário é originária do latim Promptuarium e, significa “lugar onde se guardam ou depositam as coisas que se pode necessitar a qualquer instante”. Teoricamente o prontuário torna-se progressivamente um repositório de informações. Furuie, (p. 127, 2003), corrobora a afirmação acerca da função do prontuário de ser um documento único constituído de um conjunto de informações registradas, mas acrescenta que estas são geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente, e a assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo. (Considerações e Diretrizes para Estabelecer a Temporalidade e Destinação dos Prontuários de Pacientes”, protocolado no CFM sob o nº 2.727/2002, de 28/5/2002, GTAM – Grupo de Trabalho de Arquivos Médicos). Para Souza, Tomazeli, Vasconcelos, (2008, p. 4) “o prontuário do paciente é formado por informações relacionadas por profissionais da área, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, entre outros, e representa a fonte alimentadora de dados para todos os sistemas e seus subsistemas.” Taneguti, Porfírio, Reis (2008, p. 1), lembram que “a entrada da informatização nas organizações de saúde vem causando uma verdadeira revolução, com novas propostas, para tornar um facilitador da prática no dia-a-dia do profissional.” Salientamos ainda que PEP “além de ser um elemento crucial no atendimento à saúde dos indivíduos e servir de ferramenta de consulta sobre os fatos ocorridos, é um veículo de comunicação entre os diversos membros da equipe interdisciplinar” (MARIN, 2001, apud TANEGUTI, PORFÍRIO, REIS, 2008, p. 1). O prontuário eletrônico oportuniza: - Cadastro de paciente com único número de identificação e foto. - Geração de histórico por tipo de atendimento. - Geração de histórico por conta faturada. - Detalhamento por atendimento e tipo de procedimento. - Impressão de ficha para arquivamento no SAME/SSP padronizada. (tem por finalidade zelar pela guarda, arquivamento e sigilo do conteúdo do prontuário médico, bem como elaborar a Estatística Administrativa e Nosológica do hospital). - Possível acesso via Internet. - Opção de consultas de prontuário por nível de acesso. - Prescrição eletrônica via terminal. 40 - Possível arquivamento de Imagens. - Acompanhamento com dados clínicos (anamnese). - Possível utilização de coletor de dados, computador de mão com scanner e conexão por radiofreqüência, sem fio, carteira de identificação de paciente/cliente com código de barras. (SOKOLOWSKI, 1999 apud FIGUEIREDO, BORGES, TORRES, ARAÚJO, 2007, p. 232). Assim, todas as falas supracitadas demonstram o quanto é PEP pode ser otimizador para o processo de trabalho e para as instituições, onde, O PEP é uma ferramenta fundamental para médicos e outros profissionais de saúde e também para gestores hospitalares que podem controlar, de maneira eficiente, todas as informações pessoais e administrativas relacionadas ao paciente. (SALVADOR, FILHO, 2008, p. 1). Vale salientar esta potencialidade, “é crescente a necessidade de os serviços de saúde disporem de sistemas de informação capazes de sustentar a monitorização das atividades clínicas que realiza.” (PERES, LIMA, ORTIZ, p. 1, 2009). Segundo Ituassu (1999 apud MOTA, 2004) os sistemas de informação existentes, ou sistemas médicos se dividem em: sistemas de informação médica onde é coletado e tratado do conhecimento médico e científico, servindo de auxílio e material de consulta; sistemas de informações clínicas onde se armazenam informações dos cuidados prestados ao paciente, tendo caráter constante, todavia intimamente ligadas às ações médicas às quais os pacientes foram submetidos; e, por último sistemas especialistas, que propõem a aplicação do conhecimento médico-científico, em sitiuações de decisões clínicas acerca do paciente. A característica da tecnologia em enfermagem é peculiar, pois, ao se cuidar do ser humano, não é possível generalizar condutas, mas sim adaptá-las às mais diversas situações, a fim de oferecer um cuidado individual e adequado ao indivíduo (KOERICH, 2007). MORAES (2004), relata que no prontuário eletrônico os dados podem ser lançados igualmente como se faz no papel, mas, em contrapartida, os meios informatizados são melhor organizados e mais fáceis para visualização. 41 As fotografias digitais e convencionais possuem vantagens e desvantagens, porém ainda assim, são importantes no prontuário do paciente. Apesar da imagem fotográfica digital ser considerada satisfatória para as finalidades científicas, ainda não têm a mesma qualidade gráfica de uma fotografia convencional, pois sua resolução é cerca de oito vezes menor. Entretanto existem muitas outras vantagens na sua utilização, como a possibilidade de visualização instantânea, a manipulação benéfica e a dispensa de revelação. As fotografias convencionais em filme não têm limite na utilização das cores enquanto que as fotografias digitais que utilizavam inicialmente 156 cores dispõem atualmente de até 16 milhões de cores. Aparentemente uma desvantagem, teórica somente, pois que na prática o olho humano tem limites de identificação abaixo destes valores. (MORAES, 2004, p. 175). Segundo Figueiredo, Borges, Torres e Araújo (2007), o assunto sobre sistema de informação hospitalar, é antigo, particularmente desde os anos 60, mas, ainda assim, há muito o que aperfeiçoar, e compreeder. Há na literatura diversos estudos sobre prontuário eletrônico, porém, quanto ao registro fotográfico percebese a quase inexistência desse foco de discussão. As fotografias digitais e convencionais possuem vantagens e desvantagens, porém ainda assim, são importantes no prontuário do paciente. Apesar da imagem fotográfica digital ser considerada satisfatória para as finalidades científicas, ainda não têm a mesma qualidade gráfica de uma fotografia convencional, pois sua resolução é cerca de oito vezes menor. Entretanto existem muitas outras vantagens na sua utilização, como a possibilidade de visualização instantânea, a manipulação benéfica e a dispensa de revelação. As fotografias convencionais em filme não têm limite na utilização das cores enquanto que as fotografias digitais que utilizavam inicialmente 156 cores dispõem atualmente de até 16 milhões de cores. Aparentemente uma desvantagem, teórica somente, pois que na prática o olho humano tem limites de identificação abaixo destes valores. (MORAES, 2004, p. 175). Morais, Oliveira e Soares (2008, p. 104) afirmam que o acesso dos profissionais a recursos materiais adequados, a treinamentos específcos e ao desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar são fatores indispensáveis para a viabilização das condições necessárias para o estabelecimento de condutas terapêuticas eficazes neste processo. A enfermagem tem em suas mãos o cuidado, e conforme Silveira, Marin (2006, p. 142) , “sendo o cuidado o foco de atenção da enfermagem, seus profissionais são responsáveis pela produção e gerenciamento de informações que influenciam direta e indiretamente a qualidade e o resultado dos serviços prestados”. 42 Assim, esses recursos importantes oportunizam um cuidado melhor subsidiado com imagens e informações, e “adicionaram à profissão mais eficiência, organização, velocidade e versatilidade”. (SILVEIRA, MARIN, 2006, p. 142) Desse modo, percebemos a necessidade de realizar pesquisas e tornar públicos os estudos para implementações na prática. Todavia, consideramos importante salientar que embora existam diversos estudos acerca da tecnologia, informatização e manejo de informações em saúde, pouco ou nada se destaca nas bibliografias encontradas, o uso de imagens ou fotografias ligadas ao processo de cuidar, menos ainda voltadas ao processo de cuidar de feridas, apesar de ser um documento interessante que fornece dados evolutivos por visualização oferecendo possibilidades de comparação. A documentação da ferida pode ser complementada por fotografia, quando indicada por motivos médicos e legais”, porque “ajuda o profissional a avaliar a ferida e medir alterações ao longo do tempo. Tipicamente, a ferida é fotografada em cores na avaliação inicial e, depois, a intervalos selecionados, segundo protocolos da instituição. (HESS, 2001, p. 196). Embora contrariemos essa afirmação de que o registro fotográfico seja feito mediante indicações legais ou médicas, porque pode ser um protocolo efetivo na instituição para todos os pacientes, concordamos com a importância de sua execução. Irion (2005, p. 342), afirma que “no caso de feridas abertas, a descrição de determinadas feridas e a evolução do processo de cicatrização podem ser inadequadas quando descritas somente por meio de palavras ”. Assim, a fotografia é um excelente método, “uma fotografia nítida, pode demonstrar as alterações qualitativas da ferida e auxiliar o profissional de saúde [...]” Para tanto, A assistência ao cliente portador de lesões de pele, assim como o manejo e o tratamento específico das lesões, exige do enfermeiro e de toda a equipe multidisciplinar envolvida, um conjunto de estratégias que possibilitem a identificação de possíveis caminhos para o alcance precoce dos objetivos propostos na assistência. Esse conjunto de estratégias, é denominado sistematização da assistência. (MEIRELES SILVA, FIGUEIREDO, 2007, p. 137). 43 Com a assistência sistematizada de enfermagem e uma avaliação organizada tentando identificar o tipo da lesão e estágio em que se encontra, as condutas podem ser planejadas e tomadas de acordo com as especificidades encontradas em cada caso (Agency for Health Care Policy and Research - AHCPR). Contudo, a avaliação deverá ser organizada para uma abordagem completa e detalhada, e, para esse fim, um roteiro / protocolo seria interessante. No Brasil existem algumas escalas de classificação já validadas. Todavia, a equipe de saúde pode perceber necessidades específicas do setor e à medida que considerarem necessário, podem elaboras a avaliação conforme a clientela. Temos o Sistema RYB (red, yellow, black), que se concentra em classificar as feridas conforme sua cor, sendo muito usado em feridas abertas. Existe a Escala Push Tool, proposta pela National Pressure Ulcer Advsory Panel (NPUAT), que inicia a avaliação pelo tamanho, tipo de tecido e quantidade de exsudado na lesão. E, além dessas, outras avaliações enfatizam o grau da lesão, a profundidade, o aspecto do exsudato e a dimensão da ferida (MEIRELES SILVA, FIGUEIREDO, 2007). Lembramos que a assistência pode ter como aliados os protocolos, porque os mesmos “ [...] ajudarão o profissional a padronizar diretrizes clínicas ou normas de condutas dirigidas e organizadas a fim de melhorar a assistência ao cliente de lesões de pele”. (MEIRELES SILVA, FIGUEIREDO, 2007, p. 45). Além disso, irão oportunizar maior autonomia ao enfermeiro nas tomadas de decisões. 44 6 METODOLOGIA A pesquisa pode ser definida como o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico, em que “a metodologia inclui as concepções teóricas da abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador” (MINAYO 2004, p. 16). Resumidamente, a presente pesquisa tem como proposta verificar como ocorre a avaliação de enfermagem. e se o uso métodos e tecnologias podem contribuir para assistência ao paciente com feridas, de forma que todos os profissionais tenham acesso e possam acompanhar a evolução de feridas em curativos de média e alta, através de registro evolutivo e fotográfico em banco de dados. Segundo Leopardi (2002, p.163), metodologia é a arte de dirigir o espírito na investigação da verdade, por meio do estudo dos métodos, técnicas e procedimentos capazes de possibilitar o alcance dos objetivos. 6.1 Abordagem Metodológica O presente estudo se constituiu em uma pesquisa qualitativa, pela abrangência do estudo, direcionado à avaliação de enfermagem se o uso métodos e tecnologias podem contribuir para assistência paciente com feridas e o processo de trabalho do setor, identificando como ocorre o acompanhamento da evolução das feridas de média e alta complexidade. Teve-se ainda o interesse de verificar a existência de fluxogramas, organogramas e protocolos, que poderiam contribuir para esse processo de cuidar interdisciplinarmente. O objetivo da abordagem qualitativa, segundo Minayo (2004), representa o nível dos significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que se expressa pela linguagem comum e na vida cotidiana. Vale salientar que consideramos a pesquisa qualitativa pertinente ao estudo, e, segundo Minayo (2004, p.22), esta, 45 responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantitativo. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. A necessidade de abrangência e de análise da subjetividade é muito importante para a compreensão do objeto de estudo em determinadas pesquisas, não bastando apenas referências numéricas, mas sim relatos práticos e vivenciados subjetivamente, mais eficazes à pesquisa, proporcionando-nos observar trajetórias, acontecimentos, comparando estudos de outros autores, conhecimentos, práticas, etc. Realizar um estudo qualitativo faz com que o investigador tenha perspectivas traçadas do que pretende fazer e estudar. Perspectivas estas direcionadas antecipadamente ao que o informante observa (âmbito primário), o que ele pensa sobre o que vê (âmbito de percepção) e o seu relacionamento com o todo (âmbito de contexto) (LEOPARDI, 2002). 6.2 Tipo de Pesquisa O estudo foi descritivo, porque houve a “necessidade de se explorar uma situação não conhecida” (LEOPARDI, 2002, p.120), e exploratória por permitir, segundo Leopardi (2002) que o investigador aumente o seu conhecimento e a sua experiência em torno de um determinado problema. Ao pesquisar sobre a temática é importante conhecer e explorar a situação, o local onde se está inserido o objeto de estudo, pontuar elementos relevantes e aumentar o conhecimento sobre o assunto e o problema. É relevante identificar meios e sugestões de aperfeiçoamento de forma a contribuir para a qualidade de atendimento, nesse caso, voltada a avaliação das feridas e ao uso de métodos e tecnologia para registros de curativos de média e alta complexidade de pacientes internados na unidade cirúrgica. Por considerarmos importante para o estudo, houve a participação direta da pesquisadora na realização dos curativos, avaliação e descrição das feridas, manejo, armazenamento de imagens fotográficas no prontuário eletrônico e orientações, quanto ao uso para observação, dos dados armazenados. 46 Nesse caso, utilizamos a pesquisa-ação, que, segundo Thiollent (1987 apud LEOPARDI, 2002, p.128): Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social, com base empírica, concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Durante a pesquisa realizamos orientações sobre o manejo e os cuidados das feridas, assim como o manuseio do PEP e a visualização das imagens. Propomos um roteiro de questionário como instrumento de pesquisa, com perguntas abertas e fechadas, porém salientamos que nossa proposta inicial era utilizar entrevista com roteiros semi-estruturados. Todavia, a equipe de enfermagem optou por permanecer com o questionário e devolvê-lo posteriormente, fato esse justificado pelo grande fluxo de trabalho local. A nosso ver, isso poderia desfavorecer os momentos de entrevista em que poderíamos articular as perguntas conforme as respostas prévias dos entrevistados. Mas, ao mesmo tempo, os questionários foram vantajosos para que os autores das respostas ficassem em anonimato completo, o que ajudou a obter respostas mais fidedignas, e a ausência da pessoa do entrevistador favoreceu em relação às reações que o entrevistado poderia ter durante a entrevista (POLIT, HUNGLER, BECK , 2004). E isso foi um ponto positivo. Conforme Leopardi (2002, p.167) “um instrumento de pesquisa deve ser cogitado para obter o mais fidedignamente possível às informações necessárias ao estudo”. Além do questionário, utilizamos a observação participante para verificar como eram realizadas as avaliações das feridas e como a equipe estava lidando com o uso do PEP. Na observação participante vimos que “o observador assume papel de membro do grupo, de modo que a experiência é avaliada do interior dela mesma” (LEOPARDI, 2002, p. 197). Ocorreram diversos momentos de entrosamento e discussão sobre a evolução das feridas dos pacientes, bem como visualização e orientações sobre o processo de cicatrização em que as mesmas se encontravam. 47 Além da pesquisa-ação e da observação participante, optou-se pela proposta de se realizar os curativos dos pacientes escolhidos para amostra, porque a esse momento, tivemos a oportunidade de realizar os registros fotográficos e descritivos das feridas para o banco de dados proposto. Dessa forma, foi possível avaliar como a documentação fotográfica favorece o processo de trabalho dos profissionais da Unidade de Internação Cirúrgica. 6.3 Local do Estudo O estudo foi realizado em uma Unidade de Internação Cirúrgica de um hospital da região Sul de Santa Catarina, após receber o parecer favorável da Comissão de Ética da instituição (parecer 56/2008), e mediante solicitação por ofício do campo de pesquisa à enfermeira diretora de Enfermagem da Instituição (apêndice A). 6.4 População do Estudo Tivemos como amostra para o estudo: • Quatro pacientes para avaliação da ferida de média ou alta complexidade, com acompanhamento, registro fotográfico e escrito acerca das feridas. Não nos importamos com relação à quantidade, tendo em vista, que o interesse não foi quantitativo, mas, sim qualitativo, voltado para o acompanhamento da ferida por meio fotográfico e com o PEP, pelos profissionais do setor. • Enfermeiros da Unidade de Internação Cirúrgica que aceitaram responder ao roteiro de questionário, uma vez que o foco é a Assistência de Enfermagem, contribuindo para o acompanhamento da evolução dos curativos de média e alta complexidade. • Técnicos de enfermagem que aceitaram responder ao roteiro de questionário, por serem esses os profissionais que acompanham mais diretamente os pacientes, conforme a escala semanal, e têm a oportunidade de observar de maneira mais próxima a evolução do paciente. 48 Não podemos e não devemos estipular uma quantidade numérica, uma vez que é uma pesquisa qualitativa, e, conforme Minayo (2004, p. 43) “a amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões”. Apresentamos como critérios de inclusão: • Ser profissional de enfermagem do quadro de equipe da Unidade de Internação Cirúrgica. • Ser paciente com curativo de média ou alta complexidade internado na Unidade de Internação Cirúrgica. • Aceitar participar do estudo, sendo que, sendo paciente não estando em condições de decidir, será solicitado ao familiar a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), caso, aceite a proposta. Os critérios de exclusão comportam: • Ser profissional substituto em um dia eventual. • Ser paciente com curativo de baixa complexidade internado na Unidade de Internação Cirúrgica. • Ser paciente sem curativo internado na Unidade de Internação Cirúrgica. • Não aceitar participar do estudo; nesse caso, inclui-se o fato de não liberação do familiar, caso o paciente esteja impossibilitado de decidir. 6.5 Coleta de Dados A coleta de dados ocorreu em momentos, para melhor organizar as metas e para detalhar o processo de pesquisa: 1º Momento: Após o parecer encaminhamos o oficio para a de aprovação do Comitê de Ética do Hospital, Diretora de Enfermagem, para conhecimento e liberação do campo de pesquisa (Apêndice A). 2º Momento: Iniciamos as atividades no campo de pesquisa, com a integração e a apresentação dos detalhes da pesquisa individualmente a cada um dos profissionais 49 de enfermagem da Unidade de Internação Cirúrgica. Optamos por fazer uma apresentação individual porque cada profissional tinha as próprias atividades de enfermagem para desenvolver durante o expediente, e não queríamos interromper a rotina do setor. 3º Momento: Identificamos os pacientes com curativos de média e alta complexidade, através dos relatórios nos prontuários e por meio da contribuição da equipe do setor, conhecedora dos pacientes internados. 4º Momento: Apresentamos a proposta aos pacientes e seus familiares, e garantimos que o TCLE fosse devidamente lido e assinado pelo familiar, porque os pacientes, embora conscientes, não conseguiram assinar (Apêndice B). 5º Momento: Realizamos a avaliação das feridas e dos curativos de média e alta complexidade, para estabelecer a periodicidade com que seriam colhidos os registros fotográficos para constituir o banco de dados e as evoluções no período da pesquisa. 6º Momento: Elaboramos, nos dias estipulados, o banco de dados fotográfico e escrito sobre as feridas e os curativos dos pacientes estudados, usando o computador do setor para acompanhamento de todos os profissionais. Orientamos a equipe sobre como utilizar o PEP e incluir e visualizar as fotos comparando as suas evoluções. 7º Momento: Solicitamos ao enfermeiro do setor o número de profissionais por turno, para proceder a apresentação, a cada um, da proposta e solicitação de participação e obter a resposta dos questionários, mediante assinatura do TCLE (apêndice C). 8º Momento: Entregamos os questionários aos profissionais do setor, para posterior recolhimento, conforme combinado. (Apêndice D) 9º Momento: Realizamos a observação participante do processo de trabalho da equipe, verificando se houve interesse dos profissionais em visualizar a evolução 50 dos curativos, registrada em banco de dados informatizado e fotográfico, e se esse recurso constituiu um método útil para o processo de trabalho dos profissionais da Unidade de Internação Cirúrgica. 10º Momento: Identificamos no setor a existência e funcionalidade do organograma, do fluxograma e dos protocolo de curativos. 6.6 Aspectos Éticos O estudo foi desenvolvido de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, na qual está disposto como deve ser realizada a pesquisa com seres humanos, respeitando-se os aspectos éticos, legais e morais. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, para análise e parecer. Salientamos que todos os participantes foram orientados sobre os objetivos do estudo e assinaram o TCLE. Foram ainda esclarecidos que poderiam desistir de participar da pesquisa em qualquer momento que considerassem necessário. Esta Resolução incorpora sob a ótica do indivíduo e das coletividades os quatros referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outro, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. (BRASIL, CNS – Conselho Nacional de Saúde, 1996). Considerou-se importante esse esclarecimento para que fosse garantida a livre escolha do participante, bem como a desistência do mesmo, caso considerasse necessário. A intenção era que esse fosse um fator de segurança e aproximação dos envolvidos. 51 7 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Por ser um estudo qualitativo a análise dos dados foi apresentada de forma descritiva, segundo a técnica de análise de conteúdo de Minayo (2004), onde o pesquisador explicou os dados encontrados, buscando representá-los de acordo com as falas dos entrevistados, observações e registros realizados, assim, discorrendo sobre os seus dados da maneira como foram encontrados, e, após, realizou as interpretações, desenvolvendo argumentos para justificar os seus achados e as suas conclusões com o apoio das bibliografias encontradas. A análise dos dados levou em conta os aspectos teóricos do estudo e as suas hipóteses, sendo, inicialmente, classificados e sistematizados, buscando-se identificar, nas falas das entrevistadas, aqueles elementos de maior freqüência e significado (Minayo, 2004). Quanto à análise do método informatizado e do banco de dados fotográfico, foi avaliado se, na prática, houve interesse por esse recurso e se ele foi, de fato, importante aos profissionais para o acompanhamento da evolução das feridas de média e alta complexidade nos pacientes. Segue-se o que coloca Minayo (2004, p.78) sobre os componentes para a análise de dados: - Ordenação dos dados: neste momento, faz-se o mapeamento de todos os dados obtidos no trabalho de campo. Aqui estão envolvidos, por exemplo, transcrição de gravações, releitura do material, organização dos relatos e dos dados da observação; - Classificação dos dados: nesta fase, é importante ter-se em mente que o dado não existe por si só. Ele é construído a partir de um questionamento que se faz sobre eles, com base numa fundamentação teórica; à partir de uma leitura exaustiva e retida dos textos, estabelecem-se interrogações para identificar o que surge de relevante (“estruturas relevantes dos atores sociais”). Com base nesse processo elaboram-se as categorias específicas. Nesse sentido, determina-se o conjunto ou os conjuntos das informações presentes na comunicação; - Análise final: neste momento, procura-se estabelecer, entre os dados e os referenciais teóricos da pesquisa, uma relação respondendo às questões da pesquisa com base em seus objetivos. Assim, promovem-se relações entre o concreto e o abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática. 52 7.1 Análise dos questionários – equipe de enfermagem Na Unidade de Clínica Cirúrgica havia 28 profissionais de enfermagem, sendo que todos foram convidados a participar da pesquisa, e foram entregues os TCLE e os questionários a todos que manifestaram o interesse. Dentre esses, 15 devolveram os questionários respondidos. Realizamos a análise dos dados fazendo uma apresentação da amostra e tentamos verificar se os profissionais já haviam tido capacitações sobre unidade cirúrgica, curativos e feridas. Para preservar a identidade dos profissionais, os chamaremos de R (respondente) e posteriormente serão enumerados de 1 a 15. Categoria 1: Profissionais e respectivas capacitações em unidade cirúrgica e em feridas/curativos R Profissão R1 R2 Técnico em Enfermagem Técnico em Enfermagem R3 R4 R5 R6 R7 Técnico em Enfermagem Técnico em Enfermagem Técnico em Enfermagem Técnico em Enfermagem Técnico em Enfermagem R8 Técnico em Enfermagem R9 Técnico em Enfermagem R10 Enfermeiro R11 Técnico em Enfermagem R12 Técnico em Enfermagem R13 Técnico em Enfermagem R14 Técnico em Enfermagem R15 Técnico em Enfermagem Quadro 1: Perfil dos profissionais e feridas/curativos. Fonte: Dados da Pesquisa Curso em unidade cirúrgica Não Sim – Educação Continuada - Hospital Não Não Não Não Sim – Educação Continuada Hospital Não Curso em feridas e curativos Não Não Não Não Não Não Sim. Na faculdade de Enfermagem Sim – Educação Continuada Hospital Sim – no curso técnico Sim de enfermagem Sim. Pós Graduação Sim – Educação em Enfermagem Continuada Hospital e Médico Cirúrgica em Pós graduação Não Não Sim – Educação Sim. Continuada Hospital Não Não Sim – Educação Sim – Educação Continuada Hospital Continuada Hospital Não Sim, Tratamento de feridas Convatec e 1º Encontro de Estomaterapia respectivas capacitações em unidade cirúrgica e em 53 Ao analisarmos as respostas, podemos verificar que, dentre os 15 respondentes, 14 têm o ensino médio, com formação em Técnico em Enfermagem e 01 (um) é enfermeiro. Ao questionarmos sobre cursos em unidade cirúrgica, verificamos que poucos profissionais haviam tido capacitações, excetuando-se as disciplinas ministradas nos respectivos cursos de formação que fizeram. Verificamos que, dentre as capacitações/cursos, foram citados: educação continuada no hospital (R2, R7, R12 e R14), matérias no curso de técnico (R9) e em pós-graduação em Enfermagem Médico-Cirúrgica (R10). E, quanto a cursos sobre feridas e curativos, tivemos respostas de que alguns tiveram orientações na faculdade (E7), em educação continuada (E10, E14), em pós graduação (E10), em curso de tratamento de feridas da Convatec, e no 1º Encontro de Estomaterapia (E15). Em diversas áreas consideramos que capacitações são essenciais e em saúde, não seria diferente, uma vez que se tornam pertinentes por sempre haver particularidades, modificações e aperfeiçoamentos de condutas e produtos na área, além do fato de a clinica cirúrgica sem abrangente e complexa, não sendo suprido todo o conteúdo durante o curso técnico. Esse panorama nos demonstrou que a maioria dos entrevistados não teve orientações formais sobre essa unidade, ou sobre feridas ou curativos, ficando tal conhecimento restrito ao que foi ensinado nos cursos técnicos de enfermagem. Tuyama (2004 apud Morais, Oliveira, Soares, 2007, p. 99) afirma que o profissional de enfermagem possui um papel fundamental no que se refere ao cuidado holístico do paciente, como também desempenha um trabalho de extrema relevância no tratamento de feridas, uma vez que tem maior contato com o mesmo, acompanha a evolução da lesão, orienta e executa o curativo, bem com, detém maior domínio desta técnica, em virtude de ter na sua formação componentes curriculares voltados para esta prática e da equipe de enfermagem desenvolvê-la como uma de suas atribuições. Tal premissa é verdadeira, desde, que o profissional possua conhecimentos suficientes para avaliar sob a ótica crítica e reflexiva, para o desenvolvimento da assistência. Atualmente tem sido uma preocupação corrente oferecer a mais ampla educação em saúde aos profissionais de enfermagem, uma vez que o trabalho de 54 tais profissionais está tendo crescente destaque no cuidado dos pacientes com feridas. (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007) Categoria 2: Protocolos e padronizaçào de avaliação de feridas Morais, Oliveira, Soares (2007), relatam que a qualidade da assistência quanto à avaliação, acompanhamento e tratamento das feridas está diretamente ligado a condição técnica que o profissional possui, ou seja, em como ele é capaz de sistematizar essa avaliação, de como pode intervir no processo de cicatrização a partir das informações, considerando o seu conhecimento prévio sobre os aspectos da cicatrização, evolução e condutas. No roteiro de perguntas do questionário indagamos sobre conhecimento, existência de protocolos e padronização do acompanhamento de feridas, uma vez que a institucionalização de um protocolo para o tratamento de feridas é de substancial importância para o trabalho (Morais, Oliveira, Soares 2007, p. 103). Verificamos que a maioria dos profissionais relata não haver na instituição protocolo ou padronização de acompanhamento de feridas (R1, R2, R3, R4, R5, R6, R7, R11, R15). Dentre os que responderam que existe padronização, citam o “manual de normas e rotinas existente no setor” (R8, R10). O restante que diz haver padronização não o cita (R9, R11, R12, R13, R14). Além disso, a maioria não soube dizer o que vem a ser o protocolo (R1, R3, R4, R5, R13 R15), e alguns não responderam (R9, R11). Entre as respostas dos que afirmam saber o que é um protocolo temos: Protoloco são as regras estipuladas pelo hospital X. (R2) Normas, manual a seguir (R6) Sim. Aprendi o que significa a palavra protocolo, porque aprendi na faculdade. E quanto aqui, temos no setor. (R7) Padronizar o método de trabalho (R8) Sim. É a padronização dos procedimentos dispostos para a execução de uma determinada tarefa, no caso do curativo. (R10) Sim. Serve para esclarecer nossas dúvidas. (R12) Sim. Protocolo de atendimento. Rotina de atendimento. (R14) 55 Com as respostas podemos perceber que “regras”, “padronização” e “rotina” foram os termos utilizados. Apesar de não aprofundarem o conceito, abordaram essas palavras como um determindado ponto a seguir, ou seja, seria algo – um roteiro - que a equipe seguiria para a realização das suas atividades. Segundo Pereira, et al (2006) o protocolo sistematiza a ação da enfermagem e dos demais profissionais da equipe para a organização e a efetivação no acompanhamento do portador de ferida. Por meio da observação participante, percebemos que a cada semana um técnico de enfermagem assumia determinados quartos e leitos e, consequentemente, determinados pacientes. Desse modo, em diversos momentos a pesquisadora teve acesso à observação dos procedimentos de curativo realizados na ferida dos pacientes que estava acompanhando e fotografando. Desse modo constatamos que cada profissional tinha um método pessoal de trabalho, e que não havia uma rotina estipulada ou um padrão definido a seguir. Percebemos ainda momentos em que a quantidade de materiais e a forma de assepsia divergiam, desfavorecendo assim o processo cicatricial. A sistematização, de fato, constitui algo essencial para o processo de trabalho. Caso contrário, se cada um utilizar um método diferenciado para a mesma atividade, estaremos a mercê de retardar a cicatrização. Destacamos que, embora houvesse depoimentos que apregoavam a existência do manual de rotinas e procedimentos, em nenhum momento durante a pesquisa presenciamos a sua discussão ou utilização. Ele, embora exista, não é tido como recurso formal e não é o guia habital para a rotina local. Sobre protocolo, perguntamos se os profissionais consideravam importante a padronização dos curativos, e, se participariam da elaboração de um protocolo para a clinica cirúrgica, caso esse não existisse no setor. Evidenciamos, pelas respostas, que todos consideram importante a padronização, e justificam essa necessidade de diversas formas, mas sempre visando o bem estar do paciente e os benefícios da adoção de um procedimento uniforme, com vistas em uma evolução melhor: Facilitar o cuidado e a recuperação do paciente. R1 e R2, R9 Porque com isso teríamos um controle maior e um acompanhamento mais específico da evolução. R3 56 Teríamos um controle maior da evolução da ferida. R4, R5, R7 Daria continuidade de um trabalho feito anteriormente. R6 Porque se é padronizado é porque foi testado e deu certo! R8 Execução do curativo da mesma forma. R10, R12 O acompanhamento fica bem melhor. R11 Todos fariam o procedimento corretamente. R13 Existe a padronização pela comissão de curativo R14 Para melhores resultados para os pacientes. R15 Embora todos considerassem importante o protocolo, alguns dos profissionais disseram que não fariam parte da construção de um protocolo se esse não existisse. (R2, R9 e R13) e R4 não respondeu a pergunta. Esse fato nos preocupa por que o ponto de vista de cada um dos profissionais deve ser considerado relevante nesse processo. Recordamos o fato de que os próprios profissionais, veêm a necessidade de uma forma equânime de realizar o procedimento para o bem estar do paciente, reforçando o que vimos em campo de pesquisa, a diferente realização do curativo do paciente por cada um dos profissionais, que embora tenham o manual de normas e rotinas realizam o procedimento conforme aprenderam em seus cursos. Categoria 3: Avaliação das feridas Nosso questionamento sobre a prática de avaliação das feridas perpassa o saber teórico e prático. Desse modo, buscamos compreender como os profissionais fazem esse processo, e o que é registrado na evolução. Verificamos, pelas respostas, que profissionais de alguns turnos não avaliam as feridas, porque a maior parte dos curativos são feitos uma vez ao dia, após o banho no periodo matutino. Desse modo, acompanham a evolução pelo prontuário, caso esteja bem descrito, para compreender o processo de evolução e realizar o curativo se necessário. Salientamos que as evoluções ocorrem diariamente, e é descrito no prontuário basicamente o que é visto na ferida: grau de cicatrização, cor, odor, presença de exsudato, etc. A enfermeira relata que participa da avaliação dos curativos “grandes”, quando é chamada, o que pressupõe que os técnicos possivelmente encontraram alguma anormalidade a ser relatada e mostrada. 57 Na troca diária dos curativos avaliando o processo de cicatrização e infecção da ferida. R1 Normalmente quando são feitos, mas pela equipe da manha, após o banho, o turno noturno quase não tem acesso aos curativos que sao prescritos uma vez ao dia. Participamos da avaliação da ferida por meio da evolução, e, dependendo da ferida, passamos verbalmente R2 É avaliado a quantidade de exsudato, tecido de granu;ação, tecido necrosado. Não avaliamos , porque a noite realizamos poucos curativos. R3, R4. R5 Através da realização diária dos curativos e, evolução no prontuário do paciente descrevendoa ferida todos os dias. R6 Quando realizamos os curativos, também nos relatórios se fossem relatados exatamente o aspecto da ferida. Se necessário fazer curativo, observo as evoluções. R7 De acordo com extensao, cicatrização, profundidade e quantidade de exsudato. R8. Analisada sua extensão, profundidade, exsudato, rubor, calor e avaliado pontos de dreno bem detalhado. R9. Visualmente e através das evoluções de enfermagem, geralmente avalio curativos grandes e quando solicitado. R10 Pelo aspecto, cheiro, tipo de secreção, etc. R11 É analisado através de curativos diários com processo de evolução da ferida operatória, que realiza-se através da presença de exsudato, coloração, odor, etc, e evoluido no prontuário. R12 Se há tecido de granulação, exsudatos. E no setor há rodizio então avaliamos as feridas semanalmente. R13 Todo dia é analisada conforme evolução. R14 Avaliamos pelos curativos diários. R15 Ao lembrarmos da literatura, devemos esclarecer que as feridas podem ser avaliadas / classificadas quanto à espessura, etiologia, evolução, presença de infecção, comprometimento tecidual e tipo de ferida (GIOVANINI, JUNIOR, PALERMO, 2007). Além disso, a ferida pode ser avaliada, Segundo o grau de destruição de camada tecidual ou cor; tamanho, localização anatômica, inclusive extremidades ou proeminência óssea mais próxima ou outros marcos anatômicos; aspecto do leito da ferida e da pele circundante; drenagem, especificando quantidade, cor e consistência; dor ou hipersensibilidade, que podem indicar infecção, destruição do tecido subjacente ou insuficiência vascular. (HESS, 2002, 170-171). 58 Toda ferida passa por um processo de início, meio e fim (inflamação, proliferação e remodelação) quanto à cicatrização. Porém, nesse percurso podem haver percalços, os quais devem constar no prontuário para fazer parte do processo de avaliação. Desse modo, a descrição e os mecanismos tecnológicos podem contribuir para uma maior compreensão das fases de cicatrização em que se encontram as feridas, e mostrar quais intervenções seriam apropriadas para o caso. Consideramos que todo e qualquer mecanismo que puder facilitar a avaliação do processo de cicatrização vem a ser pertinente nesse processo. Assim, acreditamos que a documentação fotográfica seria interessante, viável e, de baixo custo, e favoreceria o acompanhamento da equipe sobre determinada ferida, e mesmo havendo rodízios semanais, seria possível o acompanhamento visual do processo evolutivo, permitindo compreender como está cicatrizando a ferida. Dentre as dificuldades citadas pela equipe de enfermagem quanto a avaliação das feridas, destacamos, o fato de não ser possível a cada profissional acompanhar em pessoa diariamente a ferida e não ser possível a cada um saber como ela estava anteriormente para fazer comparações. Não avaliar a ferida todos os dias. R1, R2, R3, R4, R5, R7, R10, R12, R13 Não saber como a ferida apresentava-se no dia anterior para comparar. R1, R2, R6, R9, R11, R14, R15 Não ter protocolo de solicitação de avaliação padrão que forneça dados completos da ferida. R1, R2 Dificilmente o médico chega no horário do procedimento. Alguns nem abrem o curativo. R8. Número de paciente, tendo que priorizar curativos (feridas). R10 Troca de pacientes a cada semana, e, se o paciente fica mais de uma semana perde-se o contato com o paciente. R12, R14 Salientamos que, como não há padrão de avaliação e descrição da ferida, torna-se obviamente difícil a cada um saber como ela vem evoluindo, principalmente se os registros são insuficientes, por exemplo incluindo registros mínimos, do tipo, “ferida seca, sem exsudato”, pois se esse “seco”, for com esfacelos, por exemplo, perdeu-se uma informação preciosa. Esta reflexão reforça a necessidade da documentação fotográfica, principalmente dos curativos mais complexos. Lembramos que essa assistência pode ter como aliados os protocolos, porque os mesmos “ [...] ajudarão o profissional a padronizar diretrizes clínicas ou 59 normas de condutas dirigidas e organizadas a fim de melhorar a assistência ao cliente de lesões de pele” (MEIRELES, SILVA, FIGUEIREDO, 2007, p. 45). Além disso oportunizarão maior autonomia ao enfermeiro nas tomadas de decisões. Categoria 4: Uso de tecnologias Com todas essas informações sobre a avaliação e as dificuldades nesse processo, as respostas à pergunta sobre a importância da documentação fotográfica seriada vieram complementar e reafirmar a sua importância. Destacamos: É muito importante para analisar o processo de evolução da ferida. R1 Facilitaria o cuidado, e, nos curativos que nao temos acesso no horário noturno, seria, uma ótima maneira de acompanharmos os nossos pacientes, até mesmo quando prescisarmos fazer o curativo, já saberíamos o que vamos precisar e como encontraríamos a FO. R2 Aprovaria esse método, desde que seja viável e que nao atrapalhe nossa rotina. R3, R5 Para maiores estudos já que somos um hospital escola. R4. Para poder ter uma avaliação e observação de dias anteriores da ferida. R6. Porque acho importante. R7 Para comprovar se houve progresso no tratamento. R8 Com isso os médicos teriam um controle da ferida, até mesmo para mudarem o modo de realizarem, e também para melhor recuperação do paciente e, mudança de tratamento. R9 Para continuidade no processo, e meio visual para qualquer profissional avaliar a ferida. R10 Para ver a evolução, é importante que se registre, sendo assim, estará acompanhada com mais precisão. R11 Ficaria mais fácil, porque veríamos a evolução da ferida. R12 Poderiamos avaliar a cada dia a evolução da ferida. R13. A visualização diariamente facilitando o acompanhamento do processo de cicatrização (evolução do paciente) R14. Porque facilitaria até o procedimento adequado quanto aos técnicos de enfermagem até os médicos. R15. 60 Os profissionais mencionam aspectos relacionados à evolução e ao acompanhamento das feridas de forma a mostrar a sua importância na formação das condutas, e no processo eficaz de cicatrização, seja, com avaliação executada pela equipe médica ou de enfermagem, desde que o mecanismo fotográfico oportunize a todos a comparação da evolução. Conforme Irion (2005) a fotografia serve como aliada no processo de descrição das características das feridas, e, desse modo, pode promover mudanças de condutas que mais favoreçam a sua recuperação. 7.2 Experiência com registro fotográfico Após realizarmos a solicitação do campo de pesquisa e a aprovação do Comitê de Ética, tratamos de viabilizar, junto ao serviço de informática do Hospital, os meios e mecanismos para inserção das imagens no prontuário eletrônico do paciente. Esclarecemos que foi um processo lento, porque havia a necessidade de sermos liberados a entrar na rede de compudores hospitalar a fim de anexar as fotos. Na unidade de internação cirúrgica não havia meio de inserir as imagens via pendrive, cabo da máquina fotográfica ou CD. Sendo assim, somente nos dias úteis tínhamos acesso ao setor de informática, e nos finais de semana não tínhamos acesso a rede e aos PEP para anexar as imagens. Após repetidas discussões e diversas tentativas, foi encontrado um mecanismo para conexão com fio à intranet do hospital. E, como não havia outra alternativa disponível, tivemos a necessidade de levar o nosso próprio notebook ao hospital para efetuar a atividade. Salientamos que no momento o PEP não é utilizados pela unidade de internação cirúrgica de modo rotineiro para registro de evoluções, procedimentos, imagens, etc, sendo usado somente, para processar liberações de leito, altas, conferir a nutrição, baixa de pacientes, constatando-se, pois, que, por algum motivo, vem sendo subutilizado. Após esse desfecho de conseguir acesso ao PEP para inserção de imagens, selecionamos alguns pacientes entre os internados que possuiam feridas de média e alta complexidade, ou seja, feridas em que havia extenso comprometimento tecidual e cujo o processo de cicatrização perpassaria todas as 61 fases, e cuja a remodelação possuia riscos locais e sistêmicos (Giovanini, Junior, Palermo, 2007). Tão logo era obtida a aceitação do paciente e dos familiares para o acompanhamento, fazíamos a avaliação da ferida e planejávamos a peridiocidade do registro fotográfico. Acompanhamos 4 pacientes com curativos de média e alta complexidade, em um período de agosto de 2008 a janeiro de 2009. Destacamos que tivemos dificuldade de aceitação por vários pacientes que se enquadravam nos critérios de inclusão de amostra, o que prejudicou o andamento da pesquisa. Os motivos das recusas desses pacientes ou familiares consistiam na não aceitação do manuseio dos pacientes por alguém que não fazia parte da equipe, embora tivéssemos esclarecido amplamente os objetivos da pesquisa. Outro fator de dificuldade foi a alta rotatividade dos paciente, porque houve vezes em que quando estávamos estabelecendo a discussão, aceitação e avaliação, os pacientes recebiam alta hospitalar. Para preservar a identidade dos pacientes, os chamaremos de P1, P2, P3 e P4. As imagens foram capturadas com câmera digital Cybershot de 6 mega pixels da Sony (2.8 – 5.2/ 6.3-18.9), a uma distância de 20 cm da ferida, evitando-se o contado direto e os riscos de infecção. 7.2.1 Paciente 1 P1, masculino, 38 anos, teve histórico prévio de ruptura de Aneurisma Cerebral com hipertensão intracraniana, com neurocirugia para descompressão cerebral e preservação da calota craniana para reimplantação. Possuía FO (ferida operatória) em região abdominal anterior, onde encontrava-se a calota craniana, para conservação e posterior reimplante em seu local de origem. Estava com respiração mantida por traqueostomia metálica. Sua FO foi classificada como de alta complexidade pelo risco de rejeição e a necessidade de conhecimento maior sobre esse tipo de procedimento. Acompanhamos durante oito dias, diariamente, ambas as lesões, abdominal, por verificar a possibilidade de rejeição da calota implantada em abdome, e traqueostomia, pela complexidade do procedimento e realização da retirada necessitando constante avaliação. 62 A equipe demonstrou interesse em visualizar a evolução e, a medida em que fazíamos os relatórios em prontuário eletrônico e anexávamos as imagens, os técnicos de enfermagem, discutiam o caso, e mostravam interesse em verificar as mudanças diárias encontradas. P1, teve a retirada da calota, porque a mesma foi rejeitada organicamente como confere a FO exsudativa. Observa-se alterações de seu quadro em FO abdominal, as quais somente com imagens podem ser descritas. 01/08/2008 02/08/2008 03/08/2008 04/08/2008 05/08/2008 – retirada da calota/ colocação de dreno de sucção 06/08/2008 – retirada do dreno de sucção 07/08/2008 – FO sem exsudação 07/08/2008 – retirada da traqueostomia – pouco exsudato 08/08 - FO sem exsudação 08/08/08 – Fo traqueostomia, com exsudato em abundância Quadro 2: P1 – FO abdominal e traqueostomia Fonte: Dados da Pesquisa 7.2.2 Paciente 2 P2, feminina, 57 anos, histórico de CA intestinal, presença de FO abdominal com deiscência de pontos e colostomia a E; úlcera de pressão (UP) em 63 estágio 1 na região sacral. A FO foi classificada como de alta complexidade pelo risco de infeção, perda de tecido e possibilidade de necrose, por ser ferida aberta, exposta. Avaliada diariamente durante quatro dias. A equipe hospitalar constantemente solicitava informações sobre a lesão, mas os profissionais somente observavam as imagens em momentos com tempo livre para tal, uma vez que a unidade cirúrgica tem inúmeras atividades e demandas, e cada profissional presta cuidados a sete ou oito pacientes no turno matutino e vespertino, e, em média, a 12 pacientes no turno noturno. 24/09/2008 25/09/2008 26/09/2008 27/09/2008 Quadro 3: P2 - FO abdominal e colostomia. Fonte: Dados da Pesquisa 24/09/2008 25/09/2008 26/09/2008 27/08/2008 Quadro 4: P2 - UP Sacral – Estágio 1. Fonte: Dados da Pesquisa 7.2.3 Paciente 3 P3, masculino, 25 anos, teve trauma compressivo em MID, em uma máquina compressora, com perda tecidual e isquemia local, não teve fratura, mas, com o comprometimento circulatório, o aspecto do membro sugeriu hipóxia local, classificada em ferida de alta complexidade, risco circulatório. Foi acompanhado de 64 dois em dois dias, somando seis registros fotográficos. A equipe conseguiu visualizar as imagens e discutir o caso e a evolução. 10/10/2008 – Primeiro dia após sutura 12/10/2008 14/10/2008 16/10/2008 Já haviam feito o curativo não registramos 18/10 20/10/2008 21/10/2008 – teve alta, mas, foi encaminhado para um hospital que possuía a câmera hiperbárica Quadro 5: P3 – Membro inferior direito Fonte: Dados da Pesquisa 7.2.4 Paciente 4 P4, 76 anos, feminino, tem histórico de diverticulite colônica, apresentando FO abdominal com deiscência de pontos, bolsa de colostomia e dreno de penrose em flanco E. Classificada como ferida de alta complexidade, por risco de infecção, presença de fezes na FO, presença de dreno e ostoma. Tivemos dificuldade em registrar as imagens porque a equipe, ao dar o banho de leito, precisava fazer a troca imediata do curativo, porque havia exsudação na ferida. 65 Além disso, tivemos que discutir com a equipe médica para que fosse aceito o uso de colágeno a fim de favorecer a cicatrização, o que foi iniciado em 18/01/2009. Salientamos que a paciente teve alta em 11/01/2008, e, retornou em 12/01/2009, mas, somente reiniciamos a avaliação dia 18/01/2009, por motivos de desencontros. Procuramos fazer o registro fotográfico a cada dois dias. A equipe de enfermagem da instituição, sempre que considerava pertinente, avaliava as imagens e a evolução de enfermagem presente no PEP. 31/12/2008 02/01/2009 04/01/2009 06/01/2009 – já haviam feito. 07/01 – troca de bolsa realizada pela técnica 10/01/2009 – orificio do dreno a E e ostoma onde está a sonda 10/01/2009 Quadro 6: P4 - FO abdominal – colostomia - dreno – 1ª internação Fonte: Dados da Pesquisa 66 18/01/2009 – necrose – 21/01/2009 – já haviam feito inicio do uso do colágeno creme 23/01/2009 – percebe-se diminuição da necrose e presença de tecido de remodelação. 23/01/2009 – recolocado dreno de penrose e suturado local do estoma, onde havia deiscência de pontos 26/01/2009 Quadro 7: P4 - FO abdominal – colostomia - dreno – 2ª internação Fonte: Dados da Pesquisa 28/01/2009 67 8 CONCLUSÃO O estudo sobre a assistência de enfermagem - métodos e uso de tecnologias para o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade – faz-nos indagar sobre a importância das discussões entre profissionais acerca das condutas a serem tomadas para o benefício do processo de cicatrização das feridas no ambito hospitalar, bem como a existência de diversos vieses que prejudicam esse processo. Em um mundo em que se percebe claramente a evolução da tecnologia, e a importância desta na construção do conhecimentos do ser humano, também evidenciamos e questionamos o quanto tais métodos podem aproximar a equipe de saúde do paciente, e como se pode fazer uso desses meios para promover as avaliações das feridas dos pacientes sob nossos cuidados. É um desafio, em um ambiente com tantas obrigações e atividades concomitantes, “parar” e avaliar procedimentos ou condutas, por mais benéfico que isso possa vir a ser para o processo de cuidar. Com o intuito de tentar contribuir para a qualidade do atendimento, tivemos como objetivo geral identificar como ocorre o processo de avaliação das feridas pelos profissionais de enfermagem, e, ao mesmo tempo, implementamos a inserção de imagens e de relatórios em banco de dados, utilizando o prontuário eletrônico do paciente (PEP), tecnologia já existente na instituição, porém ainda não oficializada para uso no setor. Com isso, procuramos avaliar a viabilidade dessa utilização e como tal processo favoreceria o acompanhamento interdisciplinar dos curativos de média e alta complexidade. O resultado do estudo permitiu evidenciarmos as dificuldades em se utilizar essa tecnologia dentro do ambiente hospitalar, pois, mesmo havendo estudos que demonstram a sua efetividade e capacidade de otimização, resistências existem, principalmente pelo fato de que o procedimento, assim executado, demanda tempo dos profissionais para realizar os registros informatizados e incluir as imagens. Além disso, existe arraigado o costume da prática do manuseio dos prontuários de papel, com o que não se fazem necessários terminais de computador e papel sempre é um meio de registro “cômodo”, “portátil” e disponível para qualquer momento em que se precise utilizá-lo. Em contrapartida, no prontuário de papel, 68 podemos somente descrever em palavras escritas as avaliações e as evoluções, pois anexar ou inserir imagens e compará-las demandaria gestos e possivelmente oneraria o sistema de saúde atualmente implantado. De maneira geral, provaram-se válidas as nossas contribuições para a equipe de saúde da unidade cirúrgica, no sentido de que foram feitas as sensibilizações e orientações acerca do uso do PEP, visualização das imagens para comparação das feridas, no que concerne as evoluções ou os processos de cicatrização. Com o fato de inexistir o hábito de se utilizar o sistema informatizado, a equipe de enfermagem naturalmente manifestou dúvidas. Assim, à medida em que estas surgiram, foram sendo sanadas e a equipe foi sendo devidamente orientada. Percebemos um inegável interesse da equipe de enfermagem. Porém, com a grande demanda de atividades sob sua responsabilidade, muitas vezes, os profissionais podiam apenas olhar rapidamente as imagens, mas não tinham a oportunidade de acompanhar a avaliação escrita anexada. Do modo como é executado hoje em dia, os profissionais avaliam a ferida no momento da abertura do curativo, e registram as suas avaliações nas evoluções do prontuário, Entretanto, na maioria das vezes essas avaliações mencionam apenas se há secreção, infecção, sangramento, e eventuais complicações particulares ao caso, deixando de relatar detalhes do processo de cicatrização. Mesmo com esses entraves, acreditamos que a prática diária pode e deve ser repensada, mas, para isso, é essencial que se direcione o processo e que se persista na busca de soluções para as dificuldades encontradas. No decorrer da pesquisa buscamos identificar como ocorrem as interrelações entre os diversos tipos de profissionais envolvidos no tratamento, e como cada um deles avalia e conduz o processo de cicatrização das feridas de média e alta complexidade. Nesse sentido, constatamos que, na maioria das vezes, a avaliação e a descrição da ferida são feitas pelo técnico de enfermagem, excetuando-se alguns casos em que o enfermeiro avalia a ferida por ser “grande” ou por “ter sido chamado para acompanhar” o procedimento. As equipes avaliam a ferida diariamente, no momento em que fazem o curativo, e descrevem basicamente dados sobre presença de infecção, necrose e, às vezes, tecido de granulação. Salientamos que existe no setor um manual de normas e rotinas. Porém, não existe um instrumento de avaliação padronizado / protocolo para otimizar o 69 trabalho dos técnicos em enfermagem e favorecer a descrição mais apropriada de cada caso. Chamamos atenção ainda para o fato de que a maioria dos profissionais não possui capacitação específica em unidade cirúrgica e curativos/feridas, e, por isso, podem surgir dificuldades no momento de se avaliar uma ferida e de se descrever o aspecto como ela se encontrava no momento em que foi realizarado o curativo. Outro fato necessário de se comentar é a rotatividade estabelecida dentro do setor, onde a escala de trabalho é definida semanalmente, e, a cada semana, o técnico de enfermagem, cuida de diferentes leitos e pacientes. Os próprios profissionais relatam que perdem o contato com os pacientes e, se porventura voltam a cuidá-lo, não tem noção de como tem estado exatamente o processo de cicatrização, a não ser que leiam as evoluções dos prontuários. A equipe de enfermagem dos turnos vespertino e noturno declara que não tem por hábito realizar curativos, a não ser em momentos eventuais, em que foram prescritos mais vezes ao dia, ou em casos de necessidade de troca no período em que se encontravam de plantão. Refletem que um instrumento de acompanhamento padronizado – protocolo – e o uso de imagens, poderia suprir informações sobre a cicatrização da ferida, já que poderiam comparar as evoluções pelas fotos. Além disso, com tal recurso, teriam idéia de como possivelmente estaria a ferida no momento em que retirassem o curativo, facilitando a previsão da quantidade e do tipo de material necessário para ser utilizado no procedimento. A equipe deixa claro que, em alguns casos, os médicos avaliam as feridas pessoalmente, mas informam que os mesmos nem sempre chegam a tempo nos momentos em que estão realizando o curativo, e, desse modo, nem sempre visualizam as feridas. Em alguns momentos discutem os casos, mas não tomam decisões juntos para o manejo da cicatrização da ferida. Mencionamos o profissional médico, por conta dos dados do questionário da equipe de enfermagem, para essa conclusão, mas, temos por certo de que na instituição existem outros profissionais que participam do processo de reabilitação do paciente, tais como os nutricionistas e fisioterapeutas. Entretanto, estes em nenhum momento atenderam a nenhum dos pacientes estudados, ou tampouco fizeram a avaliação das feridas ou mesmo estabeleceram quaisquer condutas com relação a esse foco de atenção. Podemos, com isso, dizer que a multidisplinaridade está muito mais presente do que a interdisciplinaridade. 70 A Sistematização da Assistência de Enfermagem se fosse estabelecida, a nosso ver, contribuiria para o melhor acompanhamento dos pacientes e subsidiaria discussões de casos mediante a existência de imagens e a possibilidades de comparações, oportunizando a análise dos métodos e condutas utilizadas, reflexões a seu respeito e mudanças de conduta visando tomadas de decisões que poderiam favorecer a cicatrização. Sendo o curativo de média e alta complexidade, evocamos o aspecto da responsabilidade do enfermeiro, enquanto profissional de um setor que possui esse tipo de demanda. Todo o processo de avaliação e conduta é competência do enfermeiro no que concerne a “cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas”. (COREN, 2008, p.87-88). Pensamos que o atendimento integral requer que descartemos os preconceitos e interajamos em prol de um bem comum: o paciente, o qual está literalmente em nossas mãos, esperando que façamos por ele o que é próprio e necessário. Acreditamos na possibilidade de um atendimento integral ao paciente em que todos os profissionais de uma equipe tenham a oportundade de conhecer e acompanhar cada caso, e possam realizar as suas atividade, interagindo e documentando as condutas prestadas, de forma que todos compreendam o processo e tenham acesso às informações e evoluções. Abordamos e enfocamos nesse estudo, em especial, o trabalho da enfermagem no que concerne avaliação, evoluções e condutas quanto a pacientes portadores de feridas de média e alta complexidade, porque essa é a prática encontrada. Todavia acreditamos que, o enfermeiro, no que se relaciona a feridas de média e alta complexidade, tem o conhecimento e a responsabilidade de prestar o devido acompanhamento nas unidades de internações cirúrgicas, sendo esses locais espaços de planejamento e exercício da autonomia em prol de condutas efetivas na avaliação de feridas e direcionamentos da equipe. Com o planejamento de métodos e o uso de tecnologias na Assistência de Enfermagem, no acompanhamento da evolução das feridas em curativos de média e alta complexidade, pode-se contribuir para o acervo ou banco de dados para o conhecimento de todos da equipe, sobre as evolução diárias, e, através de comparação, verificamos a evolução do processo de cicatrização. 71 Nosso problema de pesquisa teve sua resposta e, embora um pouco insatisfeitos, antevemos um panorama interessante, porque concluímos que, no âmago do processo de cuidar dos pacientes com feridas de média e alta complexidade, embora não ocorra a utilização formal e protocolar da documentação fotográfica e do registro em prontuário eletrônico das feridas na Unidade de Internação Cirúrgica, a equipe de enfermagem considerou relevante, oportuno e funcional, e, além disso, demonstrou, em suas falas, a preocupação com a falha da interdisplinaridade dos profissionais que lá trabalham. Refletindo sobre toda a trajetória, e interessados em contribuir para a instituição, deixamos a proposta de implantação oficial do sistema informatizado, com o seu imenso potencial,. É necessário que se crie um mecanismo que viabilize a inserção rápida de imagens das feridas de média e alta complexidade, bem como o que se aperfeiçoe o módulo em que são anexados os relatórios e imagens, uma vez que hoje não conseguimos expô-las lado a lado para comparação ou ampliá-las para melhor visualização. Tais aspectos foram repassados à equipe de tecnologia e informação, e fomos informados sobre o projeto de informatização oficial de toda a instituição, incluindo o setor em que decorreu essa pesquisa. 72 REFERÊNCIAS ANDRADE, M. T. S. Cuidados Intensivos. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2001. 580 p. BRASIL,Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196/96 de 10 de dezembro de 1996. Dispões sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: O Conselho, 1996. ______________COFEN – Conselho Federal de Enfermagem – Resolução 272/2002 - Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE - nas Instituições de Saúde Brasileiras. Rio de Janeiro: 2002. Disponivel em: http://www.portalcofen.gov.br/2007/materias.asp?ArticleID=7100&sectionID=34. Acesso em: nov. 2009. ______________COREN – Conselho Regional de Enfermagem. Disponível em: www.coren-sc.org.br. Acesso em: out. 2008. DECLAIR, V. Enfermagem Atual em Cursos: Feridas. Rio de Janeiro: EPUB, 2005, p. 37-102. FIGUEIREDO, Luciana Torres; BORGES, Márcia Pontes Cavalcanti; TORRES, Analucia de Lucena; ARAÚJO Ednaldo Cavalcante de. Prontuário eletrônico do paciente: a funcionalidade do registro informatizado. Revista Enfermagem UFPE On Line. 2007;1(2):229-36. ISSN: 1981-8963. FURUIE, S. S.; GUTIERREZ, M.A.; FIGUEIREDO J.C.B., et al. Prontuário eletrônico de pacientes: integrando informações clínicas e imagens médicas. 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Aspectos Éticos e Legais na Assistência de Enfermagem. MEIRELES, Isabella Barbosa, SILVA, Roberto Carlos Lyra da, FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de.(org.) In: Feridas: fundamentos e atualizações em enfermagem. São Caetano do Sul: SP. 2007. SILVEIRA, Denise Tolfo. MARIN, Heimar de Fátima. Conjunto de Dados Mínimos em Enfermagem: identificação de categorias e itens para a prática de enfermagem em saúde ocupacional ambulatorial. Rev. bras. enferm. [online]. 2006, v. 59, n. 2, pp. 142-147. ISSN 0034-7167. SOUZA, Marcio Coutinho de; TOMAZELI, Rosilene; VASCONCELOS, César Ricardo Maia de. Prontuário eletrônico: um determinante do gerenciamento de cliente/paciente em um sistema de informação hospitalar. Acesso em: dez. 2008. Disponível em: http://eco.unne.edu.ar/contabilidad/costos/VIIIcongreso/289.doc TANEGUTI, Francini; PORFÍRIO Regiane Baptista Martins; Reis Eliza Aparecida Alves. Prontuário Eletrônico do Paciente: facilidades e dificuldades no uso, su contribuições para a prática assistencial e administrativa dos enfermeiro. Acesso em: nov. 2008. Disponível em: http://www.sbis.org.br/cbis/arquivos/815.pdf. 75 APÊNDICES 76 APÊNDICE A: TERMO DE APRESENTAÇÃO E CONSENTIMENTO INSTITUCIONAL 77 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO TERMO DE CONSENTIMENTO INSTITUCIONAL Eu __________________________________, Diretora de Enfermagem da Instiruição Nosocomial do Sul de Santa Catarina, portador da Cédula de Identidade nº_______________, residente no município de _______________, declaro ter autorizado a pesquisa do projeto da Pós Graduanda Karina Cardoso Gulbis Zimmermann, intitulado: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE, orientado pela M.Sc Maria Augusta da Fonte. Declaro que fui informada que este trabalho é de interesse exclusivo para o ensino e à pesquisa, servindo para a aluna obter o grau de Especialista em Condutas de Enfermagem em Pacientes Críticos, onde os dados serão utilizados para este fim, apresentações e publicações, garantindo-se a manutenção do sigilo sobre as ocorrências da pessoa ou grupo atendido, preceitos éticos, estes, assegurados pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos. Acredita-se que os resultados irão fomentar e fortalecer a base de dados sobre a prática pedagógica atual. Dúvidas a respeito deste estudo poderão ser sanadas através do fone: (48) 99845223 (pesquisadora). Assim sendo, autorizo a publicação dos dados acima desde que assegurados os preceitos éticos da pesquisa. Criciúma, SC , ___/__/2007. ___________________________ Karina C. G. Zimmermann Pós-Graduanda __________________________________ Diretora de Enfermagem 78 APÊNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PACIENTE - FAMILIAR 79 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Familiar/Paciente Projeto de pesquisa: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Prezado (a) Senhor (a): Estamos realizando um estudo para identificação e implementação de Assistência de Enfermagem acerca de curativos de média e alta complexidade em pacientes internados em uma Unidade de Internação Cirúrgica, no CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE CONDUTAS DE ENFERMAGEM NO PACIENTE CRÍTICO ministrado pela USC – CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL e UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense. Para tanto, gostaríamos de contar com a participação do Paciente do Leito _______, para que possamos realizar o acompanhamento do curativo durante o tempo da pesquisa (setembro a outubro de 2008), bem como, elaborar um banco de dados fotográfico, como proposta de acompanhamento da informatizado, da evolução, por todos os profissionais que irá atendê-lo(a). Trata-se de um projeto que não irá identificar o paciente, porém, se não for do seu interesse, não se sinta na obrigação de concordar. Se você necessitar de qualquer outro esclarecimento, por favor, entre em contato pelo telefone celular (048) 9984-5223. Data: Nome do pesquisador: Karina Cardoso Gulbis Zimmermann Fone para contato: (48) 9984-5223. Declaro que estou ciente e concordo com a participação de meu familiar no estudo acerca de curativos de média e alta complexidade em pacientes internados em uma Unidade de Internação Cirúrgica no CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE CONDUTAS DE ENFERMAGEM NO PACIENTE CRÍTICO ministrado pela USC – CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL e UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense realizada pela pesquisadora Karina Cardoso Gulbis Zimmermann. Nome e Assinatura: __________________________/____________________________ Documento de Identidade:_________________________________ Data: __/__/______ 80 APÊNDICE C: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFISSIONAIS DE SAÚDE 81 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - Profissional Projeto de pesquisa: ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Prezado (a) Senhor (a): Estamos realizando um estudo para identificação e implementação de Assistência de Enfermagem acerca de curativos de média e alta complexidade em pacientes internados em uma Unidade de Internação Cirúrgica, no CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE CONDUTAS DE ENFERMAGEM NO PACIENTE CRÍTICO ministrado pela USC – CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL e UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense. Para tanto, gostaríamos de contar com sua participação, que consistirá em fornecer respostas sobre os questionamentos acerca da Assistência de Enfermagem empregada para o cuidado dos curativos de média e alta complexidade. Trata-se de um projeto que não irá identificá-lo, porém, se não for do seu interesse, não se sinta na obrigação de participar. Se você necessitar de qualquer outro esclarecimento, por favor, entre em contato pelo telefone (048) 9984-5223. Data: Nome do pesquisador: Karina Cardoso Gulbis Zimmermann Fone para contato: (48) 9984-5223. Declaro que estou ciente e concordo em participar do estudo para identificação e implementação da Assistência de Enfermagem acerca de curativos de média e alta complexidade em pacientes internados em uma Unidade de Internação Cirúrgica, no CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE CONDUTAS DE ENFERMAGEM NO PACIENTE CRÍTICO ministrado pela USC – CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL e UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense realizada pela(a) aluna(o) Karina Cardoso Gulbis Zimmermann. Permito gravar: ( ) Sim ( ) Não Nome e Assinatura: __________________________/____________________________ Documento de Identidade:_________________________________ Data: __/__/______ 82 APÊNDICE D: INSTRUMENTO DE PESQUISA – ENTREVISTA – PROFISSIONAIS DE SAÚDE 83 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO INSTRUMENTO DE PESQUISA Senhor(a) Profissional de Saúde do Setor Vimos por meio deste instrumento de pesquisa, solicitar a Vossa colaboração, no sentido de participar de um estudo investigativo, acerca de ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: MÉTODOS E USO DE TECNOLOGIAS PARA O ACOMPANHAMENTO INTERDISCIPLINAR DOS CURATIVOS DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE, orientado pela professora Mestre Maria Augusta da Fonte. Atenciosamente, Karina Cardoso Gulbis Zimmermann. Roteiro 1. Profissional: ( ) Enfermeiro enfermagem ( ) Médico. ( ) Técnico de Enfermagem ( ) Auxiliar de 2. Possui curso em Unidade de Internação Cirúrgica: ( )Não ( ) Sim Qual: ______________________________________________________________ 3. Possui curso em cuidado com feridas e curativos? ( )Não ( ) Sim Especifique: _________________________________________________________ 4. Na Unidade em que você trabalha existe um instrumento padronizado de avaliação de feridas (estágio de cicatrização, profundidade, tipo de ferida, etc)? ( )Não ( ) Sim Qual: ______________________________________________________________ 5. Como é atualmente analisada a ferida diariamente? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. Você participa da avaliação da ferida? Como ocorre sua participação, no acompanhamento da evolução da ferida? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7. Você sabe o que é protocolo de procedimento e qual a sua função? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 84 8. Você consideraria importante padronizar o cuidado das feridas na Unidade de Internação Cirúrgica? ( )Não ( ) Sim Por que: ___________________________________________________________ 9. Você participaria na formulação do protocolo de cuidado de feridas para a Unidade de Internação Cirúrgica?( )Não ( ) Sim 10. Seria interessante ter um instrumento de imagens seriadas das feridas diaa-dia para avaliação da evolução da ferida por comparação fotográfica no computador da Unidade de Internação Cirúrgica, para todos os profissionais visualizarem? Você aprovaria esse método? ( ) Sim ( ) Não . Por quê?______ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 11. Quais as dificuldades relacionadas à avaliação de feridas que você tem em seu cotidiano: a. ( ) não avaliar as feridas todos os dias b. ( ) não saber como a ferida apresentava-se no dia anterior para comparar. c. ( ) não ter um protocolo de solicitação de avaliação de feridas padrão que forneça dados completos da ferida. d. ( ) Outros. Quais:_________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 85 ANEXOS 86 ANEXO A: PARECER DE APROVAÇÃO COMITÊ DE ÉTICA PESQUISA