Edição 42 dezembro/2016 [email protected] NURT Núcleo de Revisão Textual TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS Quem pesquisa, está atento às vicissitudes do idioma. A vírgula necessária após sujeito Edlene da Trindade Começo este texto perguntando se você, leitor, estranhou a pontuação da frase destacada no início desta publicação – “Quem pesquisa, está atento às vicissitudes do idioma.” Sim, há uma vírgula separando o sujeito do predicado. Para identificar o sujeito, basta fazer a pergunta: Quem está atento às vicissitudes do idioma? A resposta: quem pesquisa. Observe que este é um sujeito em formato de oração, chamado de sujeito oracional. Seria possível separar o sujeito do predicado? A orientação gramatical é de que não se separam esses elementos, na escrita, com vírgula, devido ao vínculo sintático direto entre eles. É a mesma relação que há entre verbos e complementos verbais ou entre nomes e complementos nominais. Provavelmente ocorreu certo rigor na transmissão dessa orientação, visto que, ao examinar os estudos técnicos sobre pontuação e a produção textual em seus diversos gêneros, verifica-se que há algumas situações em que a vírgula entre o sujeito e o predicado pode ser opcional ou até mesmo necessária. Tudo começou com o uso da vírgula para separar estruturas paralelas nos moldes dos provérbios populares, como em: “Quem cala, consente”, “Quem não deve, não teme”, “Quem procura, acha”, “Quem ama, cuida”. A vírgula nos exemplos anteriores é facultativa, pois a sua ausência não prejudica a compreensão, ficando o seu emprego condicionado à preferência do autor do texto, que pode levar em conta, por exemplo, a extensão do sujeito ou a proximidade dos verbos das duas orações. Em que casos, então, não se deve abrir mão da vírgula? Em duas situações especiais: (a) quando os verbos das duas orações forem iguais: “Quem sabe, sabe” “Quem pode, pode”; (b) quando a ausência da vírgula provocar ambiguidade no enunciado: “Quem ama, cobra”, “Quem quer, casa”. Observe que, se não houver vírgula nos exemplos da letra “b”, as formas verbais “cobra” e “casa” podem ser lidas como substantivos, resultando em: “Quem ama cobra”, “Quem quer casa”. É certo que fomos orientados pelo princípio do “certo versus errado” em questões de gramática. Agora, cabe a nós a missão de reavaliar o conhecimento adquirido, avançando na sua interpretação, como nesse caso específico de pontuação, cuja finalidade precípua é conferir ao texto a clareza necessária para que se estabeleça a comunicação imediata entre escritor e leitor.