Hélio Mário de Araújo, Acássia Cristina Souza, Givaldo Santos

VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
HIDROGRAFIA E HIDROGEOLOGIA: QUALIDADE E DISPONIBILIDADE DE
ÁGUA PARA ABASTECIMENTO HUMANO NA BACIA COSTEIRA DO RIO
PIAUÍ
Hélio Mário de Araújo, Universidade Federal de Sergipe; Givaldo Santos Bezerra,
Universidade Federal de Sergipe; Marcelo Alves dos Santos, Universidade Federal de
Sergipe; Acássia Cristina Souza, Universidade Federal de Sergipe; Núbia Dias dos
Santos, Universidade Federal de Sergipe
Email: [email protected]; [email protected]; [email protected] ;
[email protected]; [email protected]
1 – INTRUDUÇÃO
No contexto hidrográfico do estado, a bacia do rio Piauí apresenta diversidade em
relação aos usos (consuntivos e não consuntivos), bem como no que se refere aos
aspectos de ordem fisiográficas, que acabam muitas vezes, por condicionar uma
variação espacial quantitativa e qualitativa da disponibilidade hídrica.
No Brasil, a preocupação com os recursos hídricos intensificou-se na década de
1980, no contexto das discussões sobre meio ambiente e nos movimentos de
reorganização democrática da sociedade. Essa preocupação mereceu atenção especial
da ECO-92, com a formulação da agenda 21, que preconizou gerenciamento
sustentável dos recursos hídricos, orientando os países para a urgência de preservar
esse bem, que se torna cada dia mais escasso.
A exemplo de outros estados brasileiros, Sergipe vem implementando, por
intermédio da SEPLANTEC/SRH, o Programa Estadual de Apoio à Gestão Participativa
dos Recursos Hídricos, como forma de adequar sua política ao novo ideário da gestão
compartilhada dos bens públicos e do desenvolvimento sustentável. Tal programa,
portanto, iniciou-se pela bacia hidrográfica do Rio Sergipe, que se constitui na
experiência piloto para as demais cinco bacias existentes no estado, entre elas a do rio
Piauí.
Assim, considerando a importância dos recursos hídricos no desenvolvimento
socioeconômico da bacia hidrográfica do rio Piauí, é que se pensou em desenvolver
este trabalho, centrado no baixo curso, na perspectiva de analisar a disposição hídrica
(superficial e subterrânea), associada as diversas formas de usos da água, já que a
bacia costeira encontra-se inserida numa área do estado de Sergipe, onde as condições
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Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
climáticas condicionam um bom desenvolvimento da drenagem com rios, em sua
maioria, apresentando índices consideráveis de vazão.
2 – FISIOGRAFIA FLUVIAL E QUALIDADE DA ÁGUA
A bacia do Rio Piauí (figura 01) é considerada a mais importante concentração
fluvial localizada inteiramente em território sergipano. Ocupa área de 4.313,72 Km2
drenando grande número de municípios do centro-sul do estado produtores de laranja
e maracujá.
O Rio Piauí com 150 Km2 de extensão tem suas cabeceiras na região das serras
residuais do sudoeste do estado, descendo da serra dos Palmares no município de
Simão Dias a uma altitude média de 400m. “Ante de desaguar no Atlântico, entre os
Municípios de Estância e Jandaíra (BA), encontra-se com o rio Real, no estuário
conhecido como Mangue Seco” (Fontes, 2007, p. 95).
O Regime fluvial da sua bacia reflete as variações de pluviosidade, possuindo no alto
e médio cursos canais, sobretudo, intermitentes. Seu curso inferior detém uma
umidade considerável em relação aos demais trechos, em decorrência da natureza
permeável das rochas e da existência de chuvas mais abundantes. As estiagens
registram-se, geralmente, nos meses de primavera e verão. Suas águas superficiais
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contribuem com 80,54% para o abastecimento do sistemas públicos da bacia,
destacando-se o rio Piauitinga (quadro 01).
O rio Piauí tem afluentes importantes, destacando-se pela margem direita, os rios
Arauá e Pagão, e pela Margem esquerda, os rios Jacaré, Piauitinga e Fundo. O rio
Arauá nasce no município de Itabaianinha, a 225 m de altitude, e desemboca no Piauí,
no município de Arauá. Em todo seu percurso drena uma área de clima úmido, com
período seco de um a três meses e precipitações médias anuais acima de 1000mm. O
rio Fundo nasce no município de Itaporanga da Ajuda e recebe alguns subafluentes
mais extensos como o Paripueira e o Muculanduba. Está inserido numa área onde
ocorrem as maiores precipitações do Estado detendo um clima úmido com período
seco de apenas um a dois meses (SOUZA, 1982).
Quadro 01 – Sistemas Públicos de Abastecimento da Bacia Hidrográfica do Rio Piauí
Sistemas
Arauá
Boquim
Itaporanga
Itabaianinha
Piauitinga
Tomar do Geru
Pedrinhas
Umbaúba
Lagarto
Salgado
Santa Luzia
Povoados
Total
Águas superficiais
Águas subterrâneas
/
Vol. Produzido m3/mês
14.646
87.701
79.116
82.721
245.460
15.088
31.000
72.000
35.780
7.846
18.575
689.933
555.722
134.211
Manancial
Riacho Doce
Riacho Grilo
Riacho Fundo
Rio Guararema
Rio Piauitinga
Riacho Areias
Riacho Imbé
Aqüífero Cristalino
Aqüífero Cristalino
Aqüífero Sapucari
Aqüífero Cristalino
137.664
80,54%
19,46%
Fonte: SEPLANTEC, 2003
No que pese ao enquadramento dos cursos d’água da referida bacia, verifica-se que
os resultados das análises físicas e químicas, realizadas em trechos definidos para
caracterizar a qualidade da água estão intrinsecamente ligados aos diferentes aspectos
do ambiente natural (vegetação, solo e geologia), à distribuição espacial da população,
às condições de saúde ambiental e aos usos e ocupação do solo (CONAMA 20/86).
As águas do rio Piauí, no trecho localizado na bacia costeira, são classificadas como
doce. Os resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas
no rio Piauí, desde o ponto PI12 até a confluência com o rio Arauá, indicaram que se
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Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
trata de uma água que sofreu alteração da classificação, passando de salobra para
doce. A presença de coliformes associada a altos teores de nitrogênio total e fósforo
total, registrados aponta a contaminação recente desse trecho por microorganismos
de origem fecal e leva à comprovação de contaminação das águas por esgotos
domésticos. No que se refere a outras fontes de contaminação, ressalta-se a presença
de alumínio e ferro associada à composição química do solo presente na bacia de
drenagem. Em relação aos usos da água, neste trecho analisado, é utilizada na
irrigação, dessedentação de animais e abastecimento público.
Deve-se destacar, ainda, a presença de nitrogênio e fósforo resultantes da
exploração de extensas áreas com a agricultura. Ressalta-se, também, a tendência de
crescimento demográfico, para os próximos 15 anos, nos municípios de Santa Luzia do
Itanhi e Umbaúba, o que se traduzirá num aumento da pressão antrópica. A
persistência dos indicadores de desenvolvimento humano, acarretará, sem dúvidas,
num expressivo aumento da carga orgânica lançada nos rios e reservatórios.
Do rio Arauá, desde a sua nascente até a sua confluência com o rio Piauí, os
resultados de salinidade obtidos indicam que se trata de uma água salobra. A presença
de coliformes associada a altos teores de nitrogênio total e fósforo total aponta a
contaminação recente desse trecho por microorganismos de origem fecal e leva à
comprovação de contaminação das águas por esgotos domésticos. Os resultados de
sólidos dissolvidos e cloretos estão associados à questão da salinidade elevada. No que
se refere a outras fontes de contaminação, ressalta-se a presença de alumínio e ferro
associada à composição química do solo presente na bacia de drenagem, além do alto
grau de assoreamento e extração de areia para construção.
O rio Piauí, desde a confluência com o rio Arauá, até a confluência com o rio
Piauitinga, os resultados de salinidade, obtidos indicam que se trata de uma água
doce. A presença de coliformes termotolerantes associada aos teores de nitrogênio
total aponta a contaminação recente desse trecho por microorganismos de origem
fecal e leva à comprovação de contaminação das águas por esgotos domésticos. No
que se refere a outras fontes de contaminação, ressalta-se a presença de alumínio e
ferro associada à composição química do solo presente na bacia de drenagem. Os usos
da água são diversos, desde a irrigação, dessedentação de animais até para
abastecimento público.
Do rio Piauitinga, desde a sua nascente até a sua confluência com o rio Piauí, os
resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas, indicaram
que se trata de uma água doce. A presença de coliformes termotolerantes associada
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aos teores de nitrogênio total e nitrato aponta a contaminação permanente (recente e
remota) desse trecho por microorganismos de origem fecal e leva à comprovação de
contaminação das águas por esgotos domésticos. No que se refere a outras fontes de
contaminação, ressalta-se a presença de alumínio e ferro associada à composição
química do solo presente na bacia de drenagem, a presença de surfactantes associada
a efluentes contendo sabões e detergentes e de cianetos associada ao processamento
de mandioca, sendo a água de múltiplos usos como irrigação, dessedentação de
animais e abastecimento público.
Rio Piauí, desde a confluência com o rio Piautinga até o ponto Comp10, os
resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas, indicaram
que se trata de uma água doce. A presença de coliformes termotolerantes associada
aos teores de nitrogênio total, nitrito e nitrato aponta a contaminação permanente
(recente e remota) desse trecho por microorganismos de origem fecal e leva à
comprovação de contaminação das águas por esgotos domésticos. No que se refere a
outras fontes de contaminação, ressalta-se a presença de alumínio e ferro associada à
composição química do solo presente na bacia de drenagem, bem como a de
surfactantes associada a efluentes contendo sabões e detergentes. Neste trecho
verificou-se a presença e o lançamento de esgoto e efluente industrial do distrito
industrial de Estância. Múltiplos usos da água são feitos neste trecho, assim como a
irrigação, dessedentação de animais e abastecimento público.
Já o rio Piauí, desde o ponto Comp10 até a sua confluência com o Oceano Atlântico,
os resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas,
indicaram que se trata de uma água salobra.
O rio Fundo, desde a sua nascente até a sua confluência com o rio Piauí, os
resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas, indicaram
que se trata de uma água salobra. Os resultados de sólidos dissolvidos e cloretos estão
associados à questão da salinidade elevada. A presença de alumínio e ferro está
associada à influência do estuário. A presença de coliformes termotolerantes
associada aos teores de nitrogênio total aponta a contaminação recente desse trecho
por microorganismos de origem fecal e leva à comprovação de contaminação das
águas por esgotos domésticos. Múltiplos usos também são efetuados com esta água
como recreação e piscicultura.
Do rio Paripueira, desde a sua nascente até a sua confluência com o rio Fundo, os
resultados de salinidade obtidos para este ponto nas campanhas de amostragem
efetuadas indicaram que se trata de uma água salobra. A presença de coliformes
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Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
termotolerantes associada aos teores de nitrogênio total aponta a contaminação
recente desse trecho por microorganismos de origem fecal e leva à comprovação de
contaminação das águas por esgotos domésticos. Os resultados de sólidos dissolvidos
e cloretos estão associados à questão da salinidade elevada. É um local onde há
influência das marés e múltiplos usos como recreação e piscicultura.
O rio Pagão, desde a sua nascente até a sua confluência com o rio Guararema, os
resultados de salinidade, obtidos nas campanhas de amostragem efetuadas, indicaram
que se trata de uma água doce. A presença de coliformes termotolerantes associada a
altos teores de nitrogênio total aponta a contaminação recente desse trecho por
microorganismos de origem fecal e leva à comprovação de contaminação das águas
por esgotos domésticos. Múltiplos usos da água são feitos neste trecho como
irrigação, dessedentação de animais e abastecimento público.
3 - RECURSOS HÍDRICOS DE SUB-SUPERFÍCIE
O uso da água subterrânea na Bacia Hidrográfica do Rio Piauí foi alvo de um
detalhado levantamento executado pela SEPLANTEC/SRH e COHIDRO. Na Bacia
Costeira predominam os sistemas granular, fissural e cárstico (rochas calcárias) e
devido a uma maior alimentação e movimentação das águas subterrâneas
armazenadas, apresentam uma boa qualidade físico-química para abastecimento
humano. Destaca-se uma maior dureza (teor de cálcio e magnésio na água) dos
recursos hídricos subterrâneos presentes nos calcários (Figura 02).
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Nos municípios da Bacia Costeira distingue-se para sua maioria dois domínios
hidrogeológicos: Bacias Sedimentares e Formações Superficiais Cenozóicas. As Bacias
Sedimentares constituídas por rochas sedimentares bem diversificadas, representam
os mais importantes reservatórios de água subterrânea, formando o aqüífero do tipo
granular. Têm alto potencial, em decorrência da grande espessura de sedimentos e da
alta permeabilidade de suas litologias, que permite a exploração de vazões
significativas.
Face às características físicas de porosidade, permeabilidade, sistema de deposição,
entre outros, tornam-se, por vezes, áreas potenciais ao acúmulo de água subterrânea
em níveis relativamente pouco profundos. São conhecidas como áreas hidrogeológicas
com potencial explorável “muito elevado” e “elevado”, para execução de poços com
profundidades em torno de 100 metros.
As Formações Superficiais Cenozóicas, constituídas por pacotes de rochas
sedimentares que recobrem as rochas mais antigas, têm um comportamento de
aqüífero granular. Possui porosidade primária e nos terrenos arenosos apresentam
uma elevada permeabilidade, o que lhes confere, no geral, excelentes condições de
armazenamento e fornecimento de água.
Esse domínio caracteriza-se ainda pelo fato de apresentar potencial explorável
considerado de “elevado” a “médio”, com uma largura média de 1.000 metros, da
linha da praia, para o interior, compreendendo os depósitos arenosos de praia, os
depósitos areno-argilosos do Grupo Barreiras e alguns níveis calcários da Formação
Cotinguiba.
Obtém-se geralmente vazões em poços tubulares com cerca de 20.000 a 30.000
litros/h. Na Bacia Costeira, excetuando-se as águas subterrâneas de regiões calcarias,
que apresentam normalmente dureza superior ao limite de potabilidade, os demais
aqüíferos conhecidos até o momento, são de qualidade satisfatória para utilização sem
qualquer processo de tratamento.
4 – CONCLUSÃO
Sob o ponto de vista da disponibilidade de água, a atual situação além de complexa,
mostra-se preocupante, uma vez que o desmatamento em alto grau, associado a
degradação do solo, provoca irregularidade nos abastecimentos das sedes municipais
e comunidades rurais. Esse comportamento, deve-se a uma cadeia de eventos
ensejada pelo escoamento superficial, pelo assoreamento das correntes de água
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Tema 3 - Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
superficiais e pela diminuição dos registros subterrâneos que, nas épocas de estiagem,
respondem pela perenização dos cursos d’água através da descarga de base.
Aliado a esses, outros problemas de menor magnitude também se evidenciam
merecendo do setor público maior fiscalização e controle, são eles: exploração de areia
das margens e calhas dos rios, pesca e caça predatória, enchentes e desperdício de
água. Dessa forma, para uma efetiva gestão ambiental e dos recursos hídricos alguns
entraves devem ser superados, a exemplo das doenças de veiculação hídrica, poluição
do ar, planejamento na exploração das águas subterrâneas, falta de integração entre
os órgãos públicos e a sociedade, bem como a ausência de educação ambiental.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes, A. L. 2007, ‘Recursos Hídricos’ In Atlas Escolar Sergipe: espaço geo-histórico e
cultural, Grafset, João Pessoa.
Governo do Estado de Sergipe. 2002, Projeto cadastro da Infra-estrutura hídrica do
Nordeste / Diagnóstico dos Municípios, CPRM / SEPLANTEC / SRH, Aracaju.
Governo do Estado de Sergipe. 2003, Enquadramento dos cursos d’água de Sergipe de
acordo com a resolução CONAMA n. 20/86. Aracaju, SEPLANTEC/SRH (minuta de
relatório final).
SOUZA, M.H. de. 1982, Análise morfométrica aplicada às bacias fluviais de Sergipe.
Dissertação de Mestrado em Geografia, IGCE/UNESP, Rio Claro.
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