Levi Mendes/Imprensa SEI REPORTAGEM Diferenças e semelhanças O Encontro de Economia Baiana chega a sua 12ª edição debatendo razões e possibilidades de superação da crise e pensando em formas de equalizar o desenvolvimento nas regiões. POR MORGANA DAMÁSIO Confiabilidade na plataforma econômica do governo, queda da inflação, aprovação do ajuste fiscal, redução da taxa Selic, reanimação de crédito, estímulo ao consumo, aumento do lucro das empresas e recuperação da receita tributária. Essas seriam algumas das premissas para um cenário otimista, que vislumbra uma rápida retomada do crescimento da economia brasileira. Uma segunda projeção acredita que os investimentos não voltarão a ter uma dinâmica forte de crescimento nos próximos meses, particularmente no ano de 2017. Os fatores que influenciam esse cenário seriam insegurança quanto às reformas propostas pelo governo, uma suposta ociosidade da capacidade industrial, investimento lento do empresariado no programa de concessões, valor cambial baixo para que as exporta16 ções sejam um motor para o crescimento da economia do país e baixa queda da inflação para que o Banco Central reduza as taxas de juros. Outra possibilidade é de que diante do ajuste fiscal não seria possível contar com os gastos do governo para alavancar a demanda agregada pelo componente do crescimento. Os cenários foram apresentados pelo economista Oswaldo Guerra, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “A economia brasileira vai começar a ter uma leve recuperação. Esses cenários – otimista e estagnacionista – estão discutindo se essa recuperação será em forma de V, em que aceleraríamos com certa rapidez, ou se será em forma de U, quando ficaríamos um certo tempo estagnados até a recuperação ter início”, explica. Guerra foi um dos participantes do XII EnSETEMBRO | OUTUBRO 2016 contro de Economia Baiana, que reuniu pesquisadores, estudantes e profissionais do mercado e do setor público, entre 22 e 23 de setembro, no Auditório da Fecomércio, em Salvador. O tema escolhido este ano foi Crise Econômica: Interpretações e desafios à retomada do crescimento sustentável. O evento é realizado por meio de uma parceria entre a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), o Curso de Mestrado em Economia da UFBA e as Secretarias Estaduais do Planejamento (Seplan), Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra) e Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz). Oswaldo Guerra participou da mesa-redonda “A crise e a economia baiana” ao lado de Reinaldo Sampaio, representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia. O espaço, mediado por Vitor Lopes, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia e ex-presidente da ABDE, teve como foco o processo de desenvolvimento econômico baiano, sua concentração, e necessidade de descentralização e planejamento para o desenvolvimento do semiárido baiano. A mesa foi um dos principais destaques do encontro que contou com debates sobre economia baiana, economia regional, financiamento e desenvolvimento, com apresentação de trabalhos que discutiram desde rendimento, mercado de trabalho, indústria e setor público até o comportamento dos torcedores do Esporte Clube Bahia, em um paralelo entre economia e futebol. PANORAMA DA ECONOMIA BAIANA “A Bahia tem a maior taxa de desemprego do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia e do Brasil são bem próximos; com esse comportamento não alteramos a realidade social. Precisamos crescer mais”, afirma Reinaldo Sampaio, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, que aponta como desafios a serem superados no estado a elevada concentração industrial, baixa inserção nacional e internacional e agricultura familiar de baixa produtividade. Apenas cinco municípios concentram 42% do PIB da Bahia, deste percentual quase um quarto do valor está concentrado em Salvador. Apesar dos esforços governamentais para aumentar a relevância do interior na economia do estado, os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam a necessidade de descentralização na economia na região. Os números sinalizam que a capital baiana tinha 24,3% do PIB do estado, figurando como o município com maior participação. Ao todo, o produto de Salvador somou R$ 38,8 RUMOS bilhões, em um total de R$ 159,8 bilhões em toda a Bahia. Para Oswaldo Guerra, as razões para uma participação tão elevada está na alta densidade demográfica, com aproximadamente três milhões de habitantes, num total de 15 milhões no estado, além de se destacar como um polo de serviços, com destaque para o turismo e o comércio, por ser uma capital. Segundo os dados do IBGE, Salvador é seguida por Camaçari, com 7,7% de participação no PIB, Feira de Santana (5,2%), Candeias (2,9%) e Simões Filho (2,5%). Nesses municípios vivem apenas 26,3% da população de todo o estado. O pesquisador também destaca o sul e o extremo sul do estado como importantes áreas da economia baiana. “O sul se caracteriza pela produção de cacau e o extremo sul pelo turismo e a indústria de celulose”, explica, alertando para a necessidade de se pensarem alternativas de desenvolvimento na região do semiárido. UM DESAFIO CHAMADO SEMIÁRIDO Fruto de uma matriz original de uma economia escravagista e agroexportadora, muitos fatores de natureza cultural, econômica e política deixaram marcas que se refletem até hoje na economia baiana. Segundo Sampaio, desde que Salvador perdeu o posto de capital para o Rio de Janeiro, em 1763, também foi deslocado o foco de prioridade de visão estratégica para o Sudeste. “Somado isso a fatores climáticos, a Bahia carrega um semiárido. Sempre tratamos o semiárido primeiro na perspectiva de sobrevivência das pessoas, depois das pessoas e dos animais, nunca se traçou uma estratégia eficaz para prosperidade da região. O semiárido reproduz com a Bahia o que o Nordeste reproduz com o Brasil. Não há um locus de poder político e econômico que direcione prioridades estratégicas e governamentais para uma construção de uma outra possibilidade”, afirma. Ocupando 265 dos 417 municípios que compõem o estado da Bahia, o semiárido possui bem menos de um terço da riqueza produzida pelo estado e reúne municípios marcados pelo baixo índice de chuva, dificultando a atividade agrícola em larga escala e predominando uma agricultura de subsistência familiar. O cenário também é caracterizado pela falta de estrutura, seja na inexistência de um sistema de transporte eficaz que interligue a região, na ausência de uma rede que estruture a produção econômica e até mesmo na escassez de saneamento público. “Se a Bahia pudesse ser descolada dessa região, os indicadores sociais seriam de outra dimensão, mas quando colocamos o semiárido a Bahia desarma em termos de indicadores sociais”, dimensiona Guerra. Nessa região existem algumas exceções, como Feira de Santana, chamada de Portal do Sertão, Vitória da Conquis17 ESTUDOS O Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) foi apontado como uma importante ferramenta para o crescimento econômico da renda per capita no semiárido. A conclusão é do professor Leonardo Bispo (UFBA), que apresentou o estudo “Qual é a relevância do FNE na promoção do crescimento econômico no semiárido baiano?”, durante o evento. “O objetivo era analisar a situação socioeconômica do semiárido no Brasil e verificar os efeitos do financiamento do FNE sobre o crescimento econômico na região e sobre a desigualdade de renda em todo o território do semiárido, entre 1991 e 2010”, explicou. O FNE, juntamente com os outros Fundos Constitucionais, figura como um dos principais instrumentos de financiamento da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e busca contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste, por meio de instituição financeira federal de caráter regional, mediante a execução de programas de financiamento aos setores produtivos, em sintonia com os respectivos planos regionais de desenvolvimento. O estudo também conseguiu aferir a proximidade dos valores do fundo em toda a área de financiamento sobre a renda média anual per capita da região e comprovou os efeitos positivos do financiamento do FNE na redução da 18 Carol Garcia ta, e a região da Chapada Diamantina, marcada pelo turismo. Reinaldo Sampaio explica que a estratégia que será implementada para reverter o quadro no semiárido e na Bahia se servirá de modelos diferenciados de desenvolvimento, tendo em vista que o estado se caracteriza por diversidade, que vai desde a sua formação histórica, as questões climáticas, culturais e sociais. “É preciso também territorializar a estratégia, pois as necessidades de um município diferem do outro. Depois disso, é necessário um plano de implementação e gestão desse planejamento”, disse. O gestor afirmou que está sendo realizado um inventário dos planos, políticas e projetos de todas as secretarias do estado, para que se compreenda melhor a dinâmica econômica e onde os esforços precisam ser aplicados. A mesa de abertura do evento reuniu representantes do governo baiano, economistas e pesquisadores. desigualdade de renda regional, tanto no semiárido quanto em toda área sobre a influência do fundo, atribuindo sua eficácia como principal ferramenta de desenvolvimento regional do Brasil. O trabalho foi um dos 27 estudos que se debruçam sobre economia apresentados em apenas dois dias de evento e reitera a importância do evento para apontar novos caminhos na economia. Durante a mesa de abertura intitulada de “Crise Econômica – Interpretações e desafios à retomada do crescimento sustentável”, representantes do estado, indústria, academia e comércio baiano reforçaram a importância dos debates para a formulação de preposições. Para Henrique Tomé Costa Mata, coordenador de pós-graduação em Economia da UFBA, “o encontro permite dar visibilidade àquilo que fazemos na universidade. Ele permite ao mesmo tempo debater temas importantes para o desenvolvimento, que utilizem o produto de seus estudos nos mais variados setores da economia da Bahia”, disse. O presidente da Desenbahia, Otto Alencar Filho, também reforçou a necessidade de reuniões dessa natureza: “As discussões nesses eventos são muito importantes para o desenvolvimento da Bahia, pois delas surgem novas iniciativas e reflexões úteis para as próximas ações”, concluiu. O encontro foi marcado por outros dois espaços de destaque, as palestras de abertura e encerramento. Em sua apresentação, o economista Eduardo Costa realizou um apanhado da economia brasileira até 2016, apontando acertos e falhas nas políticas econômicas postas em prática no Brasil. “Temos uma crise em várias instâncias. Entender a crise econômica implica em múltiplas análises”, disse. Já o encerramento, ficou por conta de Leonardo Leão, do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que se debruçou na temática de financiamento do desenvolvimento. Leão apontou as diferenças de possibilidade de investimentos vindos de bancos públicos e bancos privados, e o cenário do investimento em clima de tempos de crise. SETEMBRO | OUTUBRO 2016