Immunology of the human genital tract and immune response directed to the human papillomavirus Resumo O estabelecimento de que a infecção pelo papilomavírus humano é o principal fator associado à gênese das neoplasias intra-epiteliais cervicais e do câncer cervical estimulou o desenvolvimento de vacinas profiláticas e terapêuticas com o intuito de se prevenir as referidas lesões cervicais. O entendimento da imunidade relacionada à infecção por este vírus forma a base para tais pesquisas. A imunidade celular direcionada contra este vírus constitui-se em importante fator para a eliminação do mesmo, no entanto os principais alvos e tipos de respostas que medeiam a destruição deste agente, não estão totalmente estabelecidos. O presente artigo resume os principais mecanismos envolvidos na resposta imunológica contra a infecção pelo papilomavírus humano e como este vírus se evade do sistema imune. Este agente não provoca resposta imunológica sistêmica, no entanto a maioria das mulheres infectadas não apresenta sintomas clínicos e é capaz de eliminar totalmente o vírus. At u ali z a ç ã o Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano Adriana Bittencourt Campaner1 Roberto Euzébio dos Santos1 Maria Antonieta Longo Galvão 1 Tsutomu Aoki1 Palavras-chave Papilomavírus humano Imunologia Trato genital inferior Keywords Human papillomavirus Immunnology Lower genital tract Abstract The establishment of the human papillomavirus infection as a major cause of cervical intraepithelial neoplasia and cervical cancer, has spurred the development of prophylatic and therapeutic human papillomavirus vacines for prevention of these cervical lesions. Knowledge of the immunity to the human papillomavirus infection forms the basis for such endeavors. The cellular immunity to this virus is implicated as an important factor for the elimination of this agent, but the main targets and types of responses that mediate human papillomavirus clearance are not established. This article summarizes the main mechanisms involved in the immune response to infections caused by this virus and how it can evade the immune system. Human papillomavirus do not provoke strong systemic antibody or T-cell reponses. Furthermore the majority of those infected women do not display clinical symtoms and are able to clear the virus. Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Faculdade de Ciências Médica da Santa Casa de São Paulo 1 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 213 Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano Introdução Atualmente se aceita que a infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV) é o fator de risco mais importante relacionado ao desenvolvimento das neoplasias intra-epiteliais e do carcinoma cervical, sendo a presença deste vírus considerada, pela maioria dos autores, como necessária para o desenvolvimento dessas lesões (Dalstein et al., 2003; Munoz et al., 2003). Diversos trabalhos encontrados na literatura têm demonstrado a presença do HPV de alto risco em mais de 90% das neoplasias cervicais e das lesões de alto grau. Infecção por múltiplos tipos virais também é freqüentemente encontrada (Walboomers et al., 1995; Munoz et al., 2003). Apesar da ligação entre a infecção pelo HPV e as lesões intra-epiteliais escamosas estar bem estabelecida, existe clara discrepância entre a freqüência de mulheres infectadas pelo HPV e aquelas que desenvolvem neoplasias intra-epiteliais e carcinomas cervicais. Estudos atuais revelam que a maioria das infecções por este agente é transitória, com eliminação espontânea do vírus através da ativação do sistema imune, em mais de 80% dos indivíduos infectados no período médio de 18 a 24 meses (Moscicki et al., 1998; Franco et al., 1999). As razões para esta variação na história natural deste vírus são pouco conhecidas; no entanto, se aceita que outros co-fatores devem ser importantes no desenvolvimento da neoplasia. Assim, a evolução destas lesões vai depender do tipo e persistência da infecção pelo HPV, fatores genéticos, alimentares e ambientais e, principalmente, do estado geral e imunológico do hospedeiro (Pinto et al., 2002; Parellada & Pereira, 2003; Castle et al., 2004; Moodley et al., 2005; Spence et al., 2005). Pesquisas realizadas nas últimas décadas têm-se voltado para a resposta imune desencadeada pelo hospedeiro ao vírus HPV. Apesar de ser a mesma ainda pouco compreendida, há evidências de que desempenha importância relevante no controle das infecções por este vírus, determinando se a infecção será debelada ou persistente, bem como a extensão e severidade das lesões e o sucesso da terapia (Tjiong et al., 2001; Sanclemente & Gill, 2002; Gonçalves & Donadi, 2004). A imunidade do trato genital inferior O sistema imune pode ser visto como órgão que se encontra distribuído pelo corpo fornecendo defesa ao hospedeiro contra patógenos. No sistema imune, diversos compartimentos distintos podem ser definidos, cada qual 214 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 especialmente adaptado para gerar resposta aos agentes nocivos ali localizados. O sistema imune de mucosas é considerado importante compartimento localizado próximo às superfícies, por onde a maioria dos patógenos penetra. As mucosas são particularmente vulneráveis a infecção. Constituem-se em barreiras finas e permeáveis para o interior do organismo em razão de sua atividade fisiológica variada: troca de gases (pulmões), absorção de alimentos (intestinos), atividades sensoras (olhos, nariz boca e garganta) e reprodução (útero e vagina). A necessidade de permeabilidade dessas superfícies cria vulnerabilidade óbvia à infecção não sendo surpreendente que a maioria dos agentes infecciosos invada o corpo humano por essas vias (Mestecky & Fultz, 1999; Janeway et al., 2002). O trato genital pode ser dividido em dois compartimentos: vagina e ectocérvice, que hospedam flora comensal, e útero e tubas, os quais são estéreis. A esterilidade da endocérvice está relacionada às variações dos níveis hormonais do ciclo menstrual. O epitélio escamoso estratificado da vagina e ectocérvice é necessário para manter barreira mecânica, enquanto que o epitélio colunar da endocérvice pode permitir o influxo antigênico. Sofisticada barreira funcional é também mantida pelo muco cervical que apresenta capacidade de filtrar microorganismos (Johansson & Lycke, 2003). O sistema imune do trato genital é parte do sistema imunológico relacionado a mucosas, englobando extensa área de cerca de 400 m2 (Mestecky & Fultz, 1999; Johansson & Lycke, 2003; Wira & Fahey, 2004). Assim como na imunidade sistêmica, o sistema imune relacionado às mucosas também é dividido em imunidade humoral e celular. Apresenta três níveis de imunidade: o primeiro está relacionado às mucosas, constituindo a barreira do epitélio cérvico-vaginal; o segundo está localizado nos linfonodos regionais e o terceiro é a imunidade sistêmica. Diferentemente de sítios bem definidos como as placas de Peyer no trato gastrointestinal e dos agregados linfóides na árvore brônquica, têm sido identificadas, na submucosa cérvico-vaginal, especialmente da zona de transformação da cérvice, células plasmáticas e linfócitos com tendência à formação de agregados linfocitários, onde os antígenos seriam capturados e processados (Mestecky & Fultz, 1999; Johansson & Lycke, 2003). Além dos agregados linfóides já mencionados, onde podem ser encontrados linfócitos T CD4 e CD8 e células plasmáticas produtoras de imunoglobulinas (Ig), a mucosa do trato genital contém células com capacidade de apresentação antigênica, tais como macrófagos e células dendríticas. A grande maioria dos linfócitos intra e sub-epiteliais está localizada na zona Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano de transformação cervical, sugerindo que este sítio apresenta acentuada atividade imunológica. Sugere-se que os linfócitos intra-epiteliais cervicais seriam, predominantemente, CD8 e os sub-epitelias CD4 (Tjiong et al., 2001; Mestecky & Fultz, 1999; Johansson & Lycke, 2003; Modotti et al., 2005). No trato genital inferior, a primeira linha de defesa contra qualquer infecção estabelecida é a imunidade humoral através da produção de anticorpos. A população de linfócitos locais é constituída principalmente de linfócitos B, os quais são capazes de desencadear a referida resposta. Diversas imunoglobulinas estão presentes nas secreções cérvico-vaginais normais, sendo parte importante na defesa do hospedeiro pelo bloqueio da aderência do agente nas células epiteliais da mucosa (Tjiong et al., 2001; Modotti et al., 2005). Em contraste com outras secreções mucosas do organismo, maior quantidade de Ig G do que de Ig A são encontradas no trato genital feminino. Os níveis destas imunoglobulinas apresentam influência hormonal, variando durante o ciclo menstrual; são derivadas do compartimento sistêmico, bem como de produção local (sugere-se que a Ig G local seria derivada do plasma enquanto que a Ig A produzida localmente). Aqui, a maioria das moléculas de Ig A é polimérica e consiste de proporções semelhantes de Ig A1 e Ig A2 (no muco cervical a maior parte das moléculas de Ig A é do formato polimérico e nas secreções vaginais iguais proporções das formas monomérica e polimérica estão presentes); já no plasma, trato respiratório e trato intestinal alto, Ig A1 é o tipo predominante (Johansson & Lycke, 2003; Modotti et al., 2005). No entanto, frente a uma infecção viral ou na presença de lesões neoplásicas e pré-neoplásicas, a principal reposta imune desencadeada é do tipo celular. A população de linfócitos muda dramaticamente; os linfócitos T citotóxicos e as células natural killer predominam, compondo quase três quartos das células imunes responsivas (Tjiong et al., 2001; Johansson & Lycke, 2003; Wira & Fahey, 2004). Na fase de reconhecimento antigênico da resposta imune celular, os antígenos devem ser capturados pelas células apresentadoras de antígenos (APC), isto é, as células de Langerhans locais, com intuito da ativação de linfócitos T virgens. Estes linfócitos são células de vital importância na imunidade celular cervical e por não reconhecerem antígenos livres, necessitam de células apresentadoras de antígenos que contenham MHC (complexo principal de histocompatibilidade) em sua superfície, para que se tornem ativadas (Cutler & Jotwani, 2004; Forte, 2004). O MHC é uma região do cromossomo 6 responsável por produzir glicoproteínas que são expressas na superfície da maioria das células do corpo humano, permitindo que o sistema imune reconheça o “próprio” e o “não-próprio” do organismo. Estas podem ser do tipo I ou II. O MHC classe I é expresso em quase todas as células nucleadas do organismo e é responsável pela ativação das células T CD8; já o de classe II é expresso principalmente pelas células imunocompetentes, incluindo linfócitos, monócitos, macrófagos, células dendríticas e células endoteliais, sendo responsáveis pela ativação das células T CD4 (Cutler & Jotwani, 2004; Forte, 2004). Os antígenos capturados pelas APC são processados dentro de compartimentos celulares especializados, em pequenas partículas de informações que são utilizadas para iniciação da resposta imune. Estas células apresentadoras migram através de linfáticos locais em direção aos respectivos linfonodos de drenagem. Quando de sua chegada aos linfonodos, apresentam os antígenos às células T paracorticais em repouso e evocam resposta proliferativa antígeno-específica, resultando em migração e acúmulo de células T e B ativadas para o sítio de infecção via sangue periférico e linfáticos. As células precursoras da imunidade celular e humoral, localizadas nas zonas T e B dos linfonodos, são estimuladas, resultando finalmente na produção de células T helper, T citotóxicas e imunoglobulinas nos sítios mucosos efetores, tais como lamina própria e epitélio (Tjiong et al., 2001) (Figura 1). Figura 1 – Passos envolvidos na resposta imune celular no trato genital. FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 215 Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano Imunidade direcionada contra o papilomavírus humano A história natural da infecção pelo HPV pode seguir três possíveis rotas: completa eliminação viral após fase aguda, infecção latente e infecção ativa e progressiva. A maioria das mulheres se infecta nos primeiros anos do início da atividade sexual, por volta dos 15 aos 25 anos, sendo comum a infecção repetida e por múltiplos tipos oncogênicos. No entanto, a maioria destas infecções são geralmente transitórias e clinicamente não insignificantes, embora possam desencadear alterações citológicas e histológicas temporárias (aproximadamente 80% dos casos regridem espontaneamente). Entretanto, a regressão das NIC parece estar relacionada à idade das pacientes, sendo mais freqüente abaixo dos 30 anos. Felizmente, poucas mulheres se tornam persistentemente infectadas e é este pequeno grupo que apresenta risco substancial para o desenvolvimento de NIC e câncer. Apenas 1% das infecções persistentes por tipos de alto risco progredirá para o carcinoma invasor (Moscicki et al., 1998; Franco et al., 1999). Em relação a este vírus, sabe-se que o mesmo não se dissemina pelo organismo; não existe viremia aparente, sendo a imunidade do trato genital crucial no controle de sua replicação. A infecção e o aparecimento das lesões relacionadas ao HPV são dependentes de completo programa de diferenciação dos queratinócitos cervicais. O vírus infecta inicialmente os queratinócitos da camada basal, no entanto altos níveis de expressão das proteínas virais tardias (principais imunógenos que o HPV sintetiza) ocorrem apenas nas camadas mais superficiais. O ciclo de replicação toma longo tempo e mesmo em condições propícias, o tempo entre a infecção e a liberação de partículas virais completas demora no mínimo 3 semanas, visto que este é o tempo necessário para completa diferenciação e descamação dos queratinócitos. Na realidade, o período para aparecimento das lesões é altamente variável, podendo significar semanas até meses, indicando que o vírus pode efetivamente ludibriar o sistema imune (Tjiong et al., 2001; Sanclemente & Gill, 2002; Parellada & Pereira, 2003; Padilla-Paz, 2005). Existem diversas razões pelas quais este agente é tão evasivo. Embora o epitélio seja boa barreira primária à infecção, qualquer brecha no mesmo facilita o acesso do HPV à camada basal onde ocorre baixa replicação viral, sem lise celular. Como conseqüência, a infecção pelo HPV não é acompanhada de processo inflamatório, não existindo exposição antigênica disponível para ser detectada pela vigilância imunológica do hospedeiro, isto é, as células de 216 FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 Langerhans. Após período de latência, ocorre acelerada replicação do DNA viral nas células diferenciadas levando ao aparecimento de lesões características. Entretanto, as células do epitélio escamoso possuem baixa capacidade de apresentação antigênica, apesar do número de cópias virais por célula. Durante todo o processo de maturação celular no epitélio as células infectadas permanecem intactas, visto que o vírus não destrói nem lisa a célula. Dessa maneira, durante todo seu ciclo de vida o HPV permanece protegido no interior destas células, o que resulta em infecção crônica e persistente (Sanclemente & Gill, 2002; Parellada & Pereira, 2003; Padilla-Paz, 2005). A patogênese viral resultaria da interação entre a virulência deste patógeno e a deficiente resposta imune do hospedeiro. O equilíbrio existente entre o agente indutor e a imunidade do indivíduo irá determinar a persistência, progressão ou regressão do processo de transformação neoplásica (Majewski & Jablonska, 1998; Parellada & Pereira, 2003; Castle et al., 2004). Os mecanismos efetores da vigilância imunológica contra este vírus incluem a imunidade inata (imunidade inespecífica) e a antígeno específica ou adquirida (ambas imunidades humoral e celular). As citocinas, isto é, peptídeos mediadores locais, representam o componente principal da imunidade inespecífica direcionada contra o HPV. De modo geral, a imunidade inata está associada com a produção destes e outros mediadores pelos macrófagos e neutrófilos locais e pelas células infectadas por este agente. Os principais efeitos relacionados a estas substâncias incluem a inibição da expressão dos genes virais e proliferação celular, estímulo à apoptose, estímulo ao tráfego ou trânsito de leucócitos para o sítio de infecção e inibição da angiogênese tumoral (Majewski & Jablonska, 1998; Castle et al., 2004; Gonçalves & Donadi, 2004). No entanto, é a imunidade mediada por células que participa de maneira decisiva na luta contra a expressão viral, considerando-se principalmente a atividade dos linfócitos CD8 e CD4 (Tjiong et al., 2001; Gonçalves & Donadi, 2004; Padilla-Paz, 2005). Como exposto anteriormente, para o reconhecimento das proteínas virais, existe a necessidade de sua liberação do interior das células infectadas, seguida de captura pelas células de Langerhans, visto que os linfócitos não reconhecem partículas antigênicas isoladas. Modelos animais provêem evidências do tipo de resposta celular encontrada na infecção por este vírus. Nicholls et al., 2001, ao analisarem os eventos que acompanham o desaparecimento das lesões da papilomatose oral canina, Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano concluíram que esta doença animal pode ser considerada modelo apropriado de imunidade direcionada ao HPV. Os referidos autores observaram que a regressão das lesões papilomatosas foi precedida por emigração das células de Langerhans intra-epiteliais, seguida de migração para o tecido infectado de células CD4 e em menor número de células CD8 (estas últimas atingiram pico justamente quando as verrugas apresentaram remissão completa). Numerosos queratinócitos apoptóticos foram demonstrados nas lesões em regressão, sendo que os autores enfatizam a presença dos mesmos na defesa local, visto que se correlacionam temporal e espacialmente com a infiltração linfocitária e o desaparecimento das lesões. A habilidade do sistema imune em destruir a lesão é refletida pela capacidade de detecção por parte das células de Langerhans. Existem evidências de que o HPV poderia ocasionar depleção destas células. Assim, sua ausência ou diminuição das mesmas poderia levar à ineficiente resposta imune primária. Sugere-se que inicialmente, a depleção no número destas células seja por efeito citopático direto ou como resultado no aumento do trânsito das mesmas em direção aos linfonodos, levando o agente a ser apresentado aos linfócitos. Seguir-se-ia, dessa maneira, o desenvolvimento de lesões intra-epiteliais. Na seqüência, algum sinal imunológico local desencadearia o aumento das referidas células de Langerhans com intuito de apresentação antigênica e destruição viral. Postula-se que as células de Langerhans (elemento fundamental da fase aferente da resposta imune celular) também desempenhem papel relevante no mecanismo de defesa humano contra tumores, com relação positiva entre a infiltração celular e o prognóstico. Em relação à ação das mesmas sobre as células neoplásicas, Hubert et al., 2001, realizaram estudo no qual cultivaram queratinócitos transformados, os quais reproduziam as características de lesões intra-epiteliais cervicais in vivo. Demonstraram alto índice de apoptose de queratinócitos infectados mediante a adição de células dendríticas à cultura, quando comparados a culturas sem esta adição. No entanto, a atividade citotóxica destas células não afetou os queratinócitos normais. O contato entre as células dendríticas e as tumorais foi considerado pré-requisito para a atividade citotóxica das primeiras. Os referidos autores sugerem que na carcinogênese cervical quanto maior a infiltração de células dendríticas e de apoptose celular melhor será o prognóstico das pacientes. Melhor prognóstico na presença de infiltração por células de Langerhans também foi observado por alguns autores em pacientes portadoras de câncer cervical invasivo, bem como outros tipos de neoplasias malignas tais como as de pulmão, gástrica, de tireóide e de laringe. A maioria dos autores relata que quanto maior a infiltração das células de Langerhans maior será a sobrevida e o tempo livre de doença, menor o número de metástases em linfonodos e menor o índice de recorrência loco-regional. Assim, quando da presença da infecção viral o organismo prepara, na maioria das vezes, resposta celular efetiva culminando com a regressão das lesões ano-genitais. A regressão das mesmas é acompanhada de grande infiltração de linfócitos do tipo CD4 e também CD8 (elementos principais da fase eferente da resposta imune celular) e células natural killer. Arany e Tying, 1996, avaliaram pacientes portadoras de lesões genitais desencadeadas pelo HPV quanto à resposta após aplicação de interferon. Observaram que nas pacientes com melhor resposta ocorreu maior infiltração de linfócitos T e células natural killer (todas com sinal de ativação) e maior produção local de citocinas. De Gruijl et al., 1996, deduziram que, ao ocorrer resposta T celular bem sucedida ao vírus HPV, os queratinócitos infectados são lisados liberando antígenos virais no espaço extracelular. Nesta localização, os linfócitos B capturam estes fragmentos virais e desenvolvem anticorpos Ig G específicos. Estes achados são consistentes com suas observações de que níveis elevados de Ig G estavam freqüentemente associados a pacientes que debelaram a infecção e eram infreqüentes naquelas com doença persistente. Provavelmente, as mulheres que persistiram com suas lesões não sofreram resposta imune celular com exposição de antígenos virais pela lise das células infectadas; assim, o estímulo antigênico não estava presente para desencadeamento de resposta humoral. Assim, o propósito de se estudar e entender os fatores que regulam a resposta imunológica direcionada contra o HPV é o de auxiliar no desenvolvimento de imunoterapias e vacinas que possam combater eficazmente a infecção causada por este agente, prevenindo o desenvolvimento de lesões precursoras e neoplásicas no trato genital inferior. FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 217 Imunidade do trato genital inferior e mecanismos defensivos contra o papilomavírus humano Leituras suplementares 1. Arany I, Tyring SK. Status of local cellular immunity in interferon-responsive and -nonresponsive human papillomavirus-associated lesions. Sex Transm Dis 1996; 23: 475-80. do trato genital inferior feminino contra os microrganismos patogênicos. Femina 2005; 33: 497-505. 15. Moodley M. Update on pathophysiologic mechanisms 2. Banchereau J Steinman RM. Dendritic cells and the control of human papillomavirus. Curr Opin Obstet Gynecol 2005; 17: 61-4. 3. Castle PE. Beyond human papillomavirus: the cervix, 16. Moscicki AB, Shiboski S, Broering J et al. The natural exogenous secondary factors, and the development of cervical precancer and cancer. J Lower Genital Tract Dis 2004; 8: 224-30. history of human papillomavirus infection as measured by repeated DNA testing in adolescent and young women. J Pediatr 1998; 132: 277-84. 4. Cutler CW, Jotwani R. Antigen-presentation and the 17. Munoz N, Bosch FX, de Sanjose S et al. International of immunity. Nature 1998; 392: 245-52. role of dendritic cells in periodontitis. Periodontol 2000 2004; 35: 135-57. 5. Dalstein V, Riethmuller D, Pretet JL et al. Persistence and load of high-risk HPV are predictors for development of high-grade cervical lesions: a longitudinal French cohort study. Int J Cancer 2003; 106: 396-403. 6. De Gruijl TD, Bontkes HJ, Walboomers JM et al. Analysis of IgG reactivity against human papillomavirus type-16 E7 in patients with cervical intraepithelial neoplasia indicates an association with clearance of viral infection: results of a prospective study. Int J Cancer 1996; 68: 731-8. 7. Franco EL, Villa LL, Sobrinho JP et al. Epidemiology of acquisition and clearance of cervical human papillomavirus infection in women from a high-risk area for cervical cancer. J Infect Dis 1999; 180: 1415-23. 8. Gonçalves MA, Donadi EA. Immune cellular response to HPV: current concepts. Braz J Infect Dis 2004; 8: 1-9. 9. Hubert P, Giannini SL, Vanderplasschen A et al. Dendritic cells induce the death of human papillomavirus-transformed keratinocytes. FASEB J 2001; 15: 2521-3. 10. Janeway CA, Travers P, Walport M, Shlomchik M. Imunidade mediada por células. In: ____ Janeway CA, Travers P, Walport M, Shlomchik M. Imunobiologia: o sistema imune na saúde e na doença. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. p. 319-42. Agency for Research on Cancer Multicenter Cervical Cancer Study Group. Epidemiologic classification of human papillomavirus types associated with cervical cancer. N Engl J Med 2003; 348: 518-27. 18. Nicholls PK, Moore PF, Anderson DM et al. Regression of canine oral papillomas is associated with infiltration of CD4+ and CD8+ lymphocytes. Virology 2001; 283: 31-9. 19. Padilla-Paz LA. Human papillomavirus vaccine: history, immunology, current status, and future prospects. Clin Obstet Gynecol 2005; 48: 226-40. 20. Parellada CI, Pereyra EAG. Resposta imune da infecção pelo HPV. In: Sociedade Brasileira Patologia Trato Genital Inferior e Colposcopia. 14º Encontro de Atualização em Patologia Trato Genital Inferior e Colposcopia. Frontis Editorial; 2003. CD-ROM, Collectanea Symposium – Série Medicina e Saúde (CDB 002), artigo 3. 21. Pinto AP, Túlio S, Cruz OR. Co-fatores do HPV na oncogênese cervical. Rev Assoc Med Bras 2002; 48: 73-8. 22. Sanclemente G, Gill DK. Human papillomavirus molecular biology and pathogenesis. J Eur Acad Dermatol Venereol 2002 May; 16: 231-40. 23. Spence AR, Franco EL, Ferenczy A. The role of human papillomavirus in cancer: evidence to date. Am J Cancer 2005; 4: 49-64. 24. Tjiong MY, Out TA, Ter Schegget J et al. Epidemiologic 11. Johansson M, Lycke NY. Immunology of the human genital and mucosal immunologic aspects of HPV infection and HPV-related cervical neoplasia in the lower female genital tract: a review. Int J Gynecol Cancer 2001; 11: 9-17. 12. Majewski S, Jablonska S. Immunology of HPV infection 25. Walboomers JM, Jacobs MV, Manos MM et al. Human tract. Curr Opin Infect Dis 2003; 16: 43-9. and HPV-associated tumors. Int J Dermatol 1998; 37: 81-95. 13. Mestecky J, Fultz PN. Mucosal immune system of the human genital tract. J Infect Dis 1999; 179(Suppl 3): S470-4. 218 14. Modotti MTCF, Reiche EMV, Modotti WP et al. As defesas FEMINA | Abril 2007 | vol 35 | nº 4 papillomavirus is a necessary cause of invasive cervical cancer worldwide. J Pathol 1999; 189: 12-9. 26. Wira CR, Fahey JV. The innate immune system: gatekeeper to the female reproductive tract. Immunology 2004; 111: 13-5.