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Aula 10
LESTE EUROPEU
META
Estudar o Leste Europeu em diferentes contextos histórico-geográfico;
diagnosticar os principais dilemas enfrentados pela população;
identificar o potencial das principais economias do Leste Europeu.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Compreender o Leste Europeu no contexto da Guerra Fria;
analisar as condições sociais do Leste Europeu no pós-guerra fria;
caracterizar os aspectos geográficos da Europa Oriental.
PRÉ-REQUISITO
Estudar o período bipolar que caracterizou o pós-guerra; Capitalismo x Socialismo;
União Soviética e expansionismo europeu; Geopolítica
europeia; Mundo Multipolar; União Europeia.
Marcelo Alves Mendes
Geografia Regional dos Países Periféricos
INTRODUÇÃO
Caros alunos e alunas,
Após estudar nas aulas anteriores a dinâmica do espaço global e as
diferentes maneiras de poder constituído no território, chega o momento
de analisar regionalmente as marcas materializadas no espaço em função
da geopolítica e suas contradições entre dois modelos antagónicos no
continente europeu.
Na sua origem, a bipolaridade entre o sistema capitalista e socialista
configurou-se como uma iniciativa geopolítica a partir do cenário da Guerra
Fria. A estratégia norte-americana de isolamento da União Soviética e de
seu bloco de Estados da Europa Oriental tem início após a Segunda Guerra
Mundial. Portanto, estudar o Leste Europeu ou Europa Oriental é retomar
o debate da geopolítica da Guerra Fria e as implicações econômicas, sociais e políticas herdadas desse processo de instabilidade e insegurança que
reinava no pós-guerra no continente europeu.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO LESTE EUROPEU
A divisão regional do Leste Europeu compreende diferentes maneiras
de interpretação em contextos históricos e ideológicos que influenciaram
configuração espacial da Europa Oriental durante a Guerra Fria e após o
fim da dissolução da Ex-União Soviética, mas em geral corresponde aos
países localizados na parte central e oriental do continente. Mesmo que
haja diferenças naturais entre os países que compõem a região, pode-se
associar a presença do idioma eslavo e da religião cristã ortodoxa elementos fundamentais para caracterizar a região. Além disso, a maior parte dos
países adotou o socialismo como modelo econômico e o regime político
de partido único, com exceção da Grécia.
Vale ressaltar que durante a Guerra Fria o continente europeu foi dividido
em Europa Ocidental sobre influência dos países capitalistas e a Europa Oriental influenciada pelo socialismo liderado pela União Soviética. Portanto, os
fatores ideológicos e geopolíticos tornaram-se mais importantes que os fatores
de ordem geográficos na delimitação do continente europeu, particularmente
da Europa Oriental. Os países considerados desta região – 13 Estados - são
aqueles localizados desde a fronteira germano-polonesa – Hungria, Eslovênia,
Croácia -, até os montes Urais, divisão natural entre Europa e Ásia. Portanto,
percebe-se a flexibilidade na delimitação da Europa Oriental, pois tanto são
utilizados os aspectos geográficos (montes Urais) quanto político (excluindo
a Grécia) para delimitar o espaço regional da Europa.
No que tange ao período de dissolução do Bloco Socialista após Guerra
Fria, os países do Leste Europeu aderiram à democracia liberal e capitalista
abrindo-se para o mercado inicialmente europeu seguido da expansão e
dos interesses do capitalismo global. Mesmo com o fim da Guerra Fria,
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ainda encontram-se remanescentes do socialismo, como por exemplo, a
Bielorrússia e Moldávia, onde os partidos comunistas retornaram ao poder
democraticamente por eleições diretas. Porém, atualmente em países como a
Romênia, Polônia e a República Tcheca, a esquerda praticamente não existe
como força política e os termos comunismo e socialismo são carregados de
uma conotação negativa semelhante aos de nazismo e fascismo. A abertura
econômica e política dos países do Leste Europeu tornou-se mais evidente
em 2004, com a entrada de países como Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria na União Europeia,
considerada uma dos maiores blocos econômicos do mundo.
Quanto aos aspectos naturais, o relevo é caracterizado pela suavidade
em relação à média do relevo europeu, destacando-se as cadeias montanhosas como os Cárpatos e os montes Urais. O clima é o temperado continental em função da continentalidade da região, com temperaturas médias
registradas durante o verão de 24ºC a 35ºC. Contudo, os invernos são
rigorosos, com neve e frequentes temperaturas abaixo de 0ºC dificultando
o desenvolvimento agrícola.
A vegetação apresenta-se de maneira uniforme com predomínio da floresta de coníferas (pinheiros), fortalecendo a indústria madeireira e de papel
e celulose na região. Em relação à hidrografia, os rios são de longa extensão
e navegáveis em vários trechos, principalmente no extremo leste europeu
próximo à Ex-União Soviética, mas durante o inverno algumas áreas ficam
congeladas dificultando a pesca e o transporte na região. A drenagem é
predominantemente exorreica, desaguando em sua maioria no Mar Negro e
Báltico, destacando-se os rios Danúbio, Volga, Dniester, Sava, Drina e Don.
A RÚSSIA E O LESTE EUROPEU
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) nasceu a partir
da Revolução Russa de 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (19141918), na qual os comunistas transformaram a Rússia em um império. O
início da construção desse império se deu com a conquista do vale do Rio
Volga, no século XVI, e prosseguiu com a ocupação da Sibéria no século
XVII. No entanto, o período de maior expansão russa ocorreu no século
XVIII, com os czares (imperadores) Pedro, o Grande e Catarina II que
conquistaram a Ucrânia, Belarus e os estados bálticos – Lituânia, Letônia
e Estônia. Finalmente, no século XIX a expansão russa dirigiu-se para o
sul em direção às cadeias montanhosas do Cáucaso – Geórgia, Arménia e
Azerbaijão –, e às planícies da Ásia Central.
O contexto histórico de expansão da Rússia no continente asiático e
europeu não foi exclusivo deste país, pois, assim como a Rússia, outros países
como Estados Unidos da América, Inglaterra, Portugal, Espanha, Alemanha,
Japão, entre outros, também adotaram a política imperialista, principalmente
com a finalidade de explorar as riquezas presentes nos territórios ocupados,
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seguido da constituição do mercado consumidor. Nestes termos, pode-se
constatar o processo de fragmentação do mundo a partir dos interesses
imperialistas das potências hegemônicas nos diferentes períodos.
No entanto, a disputa de poder e domínio territorial ficaram mais
acirrados após a Segunda Guerra Mundial, quando os dois países economicamente e politicamente mais fortalecidos – Estados Unidos e União
Soviética - adotaram uma clara e objetiva postura imperialista, cada um com
a finalidade de expandir seu modelo econômico. Inicialmente, a Europa foi
palco da presença do poder entre essas duas grandes potências dividindo
o continente europeu em duas partes, ou seja, em Europa Ocidental como
modelo econômico capitalista comando pelos Estados Unidos e seus aliados,
e por outro lado, na Europa Oriental ou Leste Europeu, comandado pela
União Soviética com o regime socialista de governar.
Aa União Soviética alcançou seu auge na década de 1945, quando as
forças armadas soviéticas ocuparam todo o Leste europeu, a parte oriental
da Alemanha e a cidade de Berlim. Nas conferências de Yalta e Potsdam
estabeleceu-se uma esfera de influência soviética na Europa Oriental e
iniciou-se o processo conflituoso que conduziria à bipolarização da Alemanha (Magnoli & Araújo, 2005).
Esta expansão e apogeu duraram aproximadamente quatro décadas,
de modo que os países que foram cooptados pela União Soviética também
implantaram sistemas políticos totalitários assentados sobre o poder dos
partidos comunistas em que suas lideranças exerciam autoridade semelhante
ou superior ao dos antigos czares (imperadores). Porém, com a revolução
técnico-científica e informacional comandada pelos países centrais, aos
poucos o modelo da economia planificada demonstra sinais de fragilidade e
incapacidade de manter o crescimento dos países socialistas, gerando como
consequência profunda crise a partir da década de 1970 e 1980.
Nestes termos, diante do quadro de crise e insatisfação popular, milhares
de pessoas migraram para os países capitalistas, particularmente, aqueles de
mão-de-obra mais qualificada em função da abertura econômica e política
ideologicamente passada pelas nações capitalistas durante a Guerra Fria,
surgiram várias manifestações em prol da queda dos ditadores em seus
países, tornando-se necessária uma mudança no quadro político da União
Soviética, conduzindo ao poder o reformista Mikhail Gorbatchev, que governou entre 1985 e 1991 quando houve a dissolução da Ex-União Soviética.
Suas reformas políticas (glasnost) e econômicas (perestroika) destinavam-se
a restaurar as condições para o crescimento da União Soviética.
Mesmo assim, diante da progressiva democratização do poder nas
nações capitalistas, deflagrou-se o período de ondas anti-totalitarismo que
provocou a dissolução da União Soviética e posterior extinção em 1991 e
culminou com a criação de uma confederação de repúblicas independentes
denominada de Comunidade dos Estados Independentes (CEI). No entanto,
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mesmo com a dissolução da União Soviética, a Rússia continuou com sua
hegemonia nos países vizinhos, até pela presença demográfica de russos
espalhados em vários países e também pela influência econômica exercida
através da indústria, infraestrutura, transporte e comércio na região.
Conflitos no leste europeu
O leste europeu e os países pertencentes à CEI (Comunidades dos
Estados Independentes) enfrentam diversos problemas de ordem social,
econômico, além dos constantes conflitos desencadeados por intolerância
étnica e questão territorial. A CEI é composta por um conjunto de países
que compunha a ex-União Soviética. O declínio da União Soviética somado
à independência das ex-repúblicas soviéticas fez ressurgir diversos focos de
tensão na região do leste europeu e dos países da CEI.
Na Moldávia, na parte central do país, encontra-se uma região denominada de Transdnístria, nessa área, grande parcela dos habitantes são
pessoas de origem russa e ucraniana, assim, desde 1990, as etnias citadas
buscam a autonomia territorial e política com o objetivo de não mais se
submeterem ao controle do governo da Moldávia, que é de origem romena
e com a fragmentação do território russo, a Ossétia do Sul ficou separada
da Ossétia do Norte. Dessa forma, a primeira se estabeleceu no território
da Geórgia, enquanto a segunda encontra-se em território russo. Desde
então, a Ossétia do Sul busca ser anexada ao território russo para se unir
ao restante de sua etnia, presente na Ossétia do Norte e, com isso, compor
uma única república autônoma. Há tempos os ossétios lutam contra as
forças georgianas.
Esse conflito reavivou-se no dia 08 de agosto de 2008, quando a Geórgia invadiu a Ossétia do Sul e a Rússia, por sua vez, interveio e promoveu
ataques ao território georgiano, invadindo-o em seguida, consolidando
um conflito que já deixou dezenas de mortos e feridos. No sul da Ucrânia
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encontra-se uma província chamada Crimeia, nessa região há uma maior
concentração de pessoas de origem russa que aspiram anexar essa porção
territorial à Rússia.
Da mesma forma, no Azerbaijão existe um conflito que se arrasta há
muitos anos sem chegar a nenhuma solução. No sudoeste do Azerbaijão
se encontra a região de Nagorno-Karabakh, que abriga um elevado contingente formado por armênios. O grupo étnico em questão anunciou sua
independência, ato que promoveu um grande conflito armado que perdurou
por quatro anos. A guerra envolveu armênios e azerbaijanos.
Texto adaptado de Eduardo de Freitas
O QUE É O SISTEMA BIPOLAR?
Sistema de Estados cujo núcleo é constituído por duas superpotências
que coexistem em relativo equilíbrio de poder. O sistema da Guerra Fria é o
exemplo clássico do equilíbrio bipolar. No sistema bipolar, as superpotências
comportam-se, por definição, como rivais e tendem a estender o seu poder
por meio da formação de alianças com outras potências. Na Guerra Fria,
a rivalidade geopolítica entre Estados Unidos e União Soviética significou,
também, uma confrontação ideológica entre o ideal de uma sociedade baseada na liberdade econômica e na democracia política (o capitalismo) e o de
uma sociedade baseada na planificação econômica estatal e na hegemonia
de um único partido (o “socialismo real”).
O QUE É O SISTEMA MULTIPOLAR?
Sistema de Estados cujo núcleo é constituído por mais de duas grandes
potências que coexistem em relativo equilíbrio de poder. Na Europa do
século XIX, por exemplo, Reino Unido, França, Prússia (depois Alemanha),
Áustria e Rússia figuravam como grandes potências.
Nos sistemas multipolares as alianças tendem a ser episódicas e mutáveis. As grandes potências compartilham o interesse na manutenção do
equilíbrio de poder, que é fonte de segurança para os Estados e de estabilidade para o sistema como um todo.
Adaptado de Magnoli & Araújo, Geografia: A construção do mundo
– Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2005.
Com isto, em 09 de novembro de 1989, sob imensas manifestações
populares nas principais cidades e devido à pressão das reformas do líder
soviético Mikhail Gorbachev, o regime comunista da Alemanha Oriental
anunciou abertura da fronteira inter-alemã com a derrubada do Muro de
Berlim, símbolo da bipartição geopolítica do continente. Portanto, a queda
do Muro de Berlim assinalou o fim da Guerra Fria e início de uma nova
ordem mundial denominada de multipolar.
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Muro de Berlim
CONCLUSÃO
A partir de uma breve abordagem sobre os aspectos econômicos e
políticos do Leste Europeu pode-se identificar que a história desta região
da Europa está interligada com os conflitos políticos e posteriormente
militar, estabelecidos entre os países líderes da bipolaridade mundial. No
entanto, além dos Estados Unidos e da União Soviética, também merece
destaque a Alemanha nazista pelo fato de protagonizar o alinhamento entre
grupos divergentes para combater o inimigo comum durante a Segunda
Guerra Mundial.
Portanto, o leste da Europa serviu de campo de batalha entre as potências imperialistas, capitalistas, comunistas, nazista, anti-imperialista e antifascista no limiar do século XX até o final da Guerra Fria em 1991 quando
a URSS reconhecem a independência das suas repúblicas.
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RESUMO
Atualmente, o Leste Europeu é considerado a região com maiores
problemas econômicos e sociais da Europa, com intensos conflitos e insatisfação em relação ao quadro humano econômico da Europa Ocidental.
Nesta região há uma grande heterogeneidade religiosa destacando-se o
catolicismo na maioria dos paíes, assim como o cristianismo ortodoxo,
principalmente na Rússia e Ucrânia.
Com a abertura econômica, os países começam apresentar indicadores sociais positivos em relação ao período comunista, no entanto, as
desigualdades sociais e regionais ainda continuam caracterizando esta região
da Europa que para alguns estudiosos é vista como a região problema.
Portanto, ao analisar o Leste Europeu se faz necessário estudar o contexto
geopolítico em que os países estão inseridos, para compreender a dinâmica
socioespacial da região.
ATIVIDADES
1. Faça uma análise entre imperialismo russo e desenvolvimento no Leste
Europeu.
COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES
O Leste Europeu serviu de palco para materialização da bipolaridade
entre as duas grandes potências econômicas e militares da Guerra
Fria. Os Estados Unidos, o maior represente do sistema capitalista,
criando instituições econômicas e militares como Banco Mundial,
Fundo Monetário Internacional, Organização do Tratado do Atlântico
Norte, enquanto a União Soviética criava o COMECON e o Pacto
de Varsóvia.
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PRÓXIMA AULA
Prezado alunos
Chegamos ao fim de mais uma etapa.
Aproveitem para revisar as aulas anteriores e sucesso no curso de
Geografia.
Espero que tenha encarado o tema Países Periféricos como tema emergente e atual face a nova organização do mundo. Superar temas como “países
desenvolvidos” e “países subdesenvolvidos” é de fundamental importância,
e a idéia de “periféricos” dar um sentido real, mesmo que a complexidade
do mundo possa facilitar a partir da proposta desse programa.
BOA SORTE!!
AUTOAVALIAÇÃO
A geopolítica é fundamental para compreender o processo de organização territorial do Leste Europeu.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Geografia e participação, volume 4: Américas e regiões
polares. São Paulo: Scipione, 1991.
GARCIA Helio C. & TITO, Marcio C. Geografia Geral. Volume único.
São Paulo: Editora Scipione, 2000.
MAGNOLI, Demétrio & ARAÚJO, Regina. Geografia: a construção do
mundo – geografia geral e do Brasil. Volume Único. São Paulo: Moderna, 2005.
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