Jornal Valor --- Página 4 da edição "27/03/2015 1a CAD B" ---- Impressa por ivsilva às 26/03/2015@19:55:19 Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 27/3/2015 (19:55) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto B4 | Valor | Sexta-feira, 27 de março de 2015 Empresas | Indústria Farmacêutica Medicamento combate quatro tipos de virus causadores da doença e foi desenvolvido na França DIVULGAÇÃO Sanofi pode lançar vacina contra dengue no Brasil até 2016 Stella Fontes De São Paulo A francesa Sanofi tem pronta uma a vacina contra a dengue, que protege contra os quatro tipos de vírus e que a empresa espera disponibilizar no Brasil entre o fim deste ano e o início de 2016. O medicamento, desenvolvido pela divisão Sanofi Pasteur, depende de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A situação da doença é especialmente complicada no Estado de São Paulo, onde foi registrado o maior número de casos no país desde janeiro. Segundo o Ministério da Saúde, dos 224 mil casos de dengue ocorridos no país até o início de março — o que equivale a crescimento de 162% na comparação com o mesmo período de 2014 — , 123 mil foram registrados em São Paulo. Além da Sanofi, o Instituto Butantan, em parceria com o americano National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIH), e o laboratório japonês Takeda trabalham em vacinas que estão em estágio de desenvolvimento anterior ao da Sanofi e devem entrar, em breve, na fase 3 de testes clínicos, a última antes do lançamento. “É um processo longo e complexo, porque há necessida- de de cumprir várias fases de pesquisa para garantir segurança e eficácia”, conta a gerente do departamento médico da Sanofi Pasteur, Sheila Homsani. O desenvolvimento da vacina contra dengue pela Sanofi exigiu 20 anos de pesquisas, na França, e o produto final parte de outra vacina, usada contra a febre amarela. De acordo com Sheila, essa vacina, disponível há 30 anos, é produzida com o vírus vivo enfraquecido revestido com quatro antígenos — de cada um dos tipos de vírus da dengue —, que são reconhecidos pelo sistema imunológico. “Essa é uma tecnologia bem complexa, de vacina de vírus vivo enfraquecido e recombinada com o vírus da dengue”, explica. “É como se tivéssemos recheado o vírus da dengue com a vacina da febre amarela”. A Sanofi já tem uma fábrica dedicada à produção da vacina, em Neuville-sur-Saône, perto de Lyon, na França, com capacidade para 100 milhões de doses por ano. A fabricação já foi iniciada, mas a disponibilidade da vacina ainda depende da aprovação de agências reguladoras dos diferentes países que serão atendidos. No Brasil, a expectativa é a de que toda a documentação necessária à aprovação do medicamen- to seja encaminhada à Anvisa até o fim deste semestre. Na Malásia, o dossiê já seguiu para a análise da agência reguladora local. De acordo com a especialista, o desenvolvimento clínico da vacina envolveu cerca de 20 estudos e mais de 40 mil participantes em 15 países. Um dos estudos da fase 3 foi realizado em cinco países da América Latina, entre os quais o Brasil, com mais de 20 mil crianças e adolescentes e mostrou redução de 60,8% no número de casos de dengue entre a população vacinada, atestando a eficácia do medicamento contra os quatro tipos de vírus. Os resultados do estudo, que compreendeu também o Caribe, foram publicados em novembro. “Também conseguimos reduzir os casos graves em 95,5% e em 80,3% o risco de hospitalização, o que significa que leitos em hospitais poderiam ser liberados para outros doentes”, afirma Sheila, acrescentando que a eficácia da vacina, que deve ser aplicada em três doses a cada seis meses, está diretamente relacionada à capacidade de proteger contra os quatro tipos de vírus. “A vacina está pronta e temos estoque. Como a situação do país preocupa, temos a certeza de que a Anvisa quer resolver essa situação, mas só agência mesmo para dizer Alckmin tenta acelerar vacinação De São Paulo Laboratório da Sanofi na França desenvolveu vacina contra quatro virus da dengue quando haverá lançamento.” O laboratório japonês Takeda, por sua vez, está estudando uma vacina tetravalente contra a dengue baseada em uma forma atenuada do próprio vírus, da dengue 2 (DENV-2), que fornece o esqueleto genético para os demais vírus da doença. “A vacina tetravalente contra a dengue da Takeda está atualmente em fase avançada de estudos para testar a sua eficácia e segurança e entrará em fase 3 de testes clínicos em breve”, informa a farmacêutica. A fase 3 envolve um número bem maior de participantes que a fase anterior, podendo chegar a dezenas de milhares, como foi o caso do projeto da Sanofi Pasteur. No Butantan, a vacina, que assim como a da Takeda é feita com o próprio vírus da dengue, está na fase 2 de pesquisa e deve chegar à seguinte ainda neste semestre. De acordo com Sheila, da Sanofi, a chegada do inverno deve amenizar os números da dengue no Sudeste. No Nordeste, porém, é justamente nesse período que começa a haver crescimento dos casos. “Preocupante também é o fato de que, para esses mais de 200 mil casos registrados, há outros 300 mil casos de pessoas que se infectaram e não sabem que têm dengue porque os sintomas são moderados", afirma. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclareceu ontem, por meio de nota, que não recebeu pedido de uso excepcional ou protocolo de registro de vacina contra dengue. A agência informou que “todas as solicitações recebidas dizem respeito a pedido de avaliação de protocolos de estudos clínicos com a vacina.” O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) pediu ao Ministério da Saúde o adiantamento no uso das vacinas, que estão em fase de testes. Na nota, a Anvisa informa que, de três etapas para o registro de medicamentos, o processo mais avançado para a vacina no Brasil diz respeito às pesquisas clínicas realizadas pelo Instituto Butantan e Sanofi. “A primeira está em fase II dos ensaios clínicos, e a segunda já tem os estudos fases II e III finalizados”, diz a agência. A nota destaca ainda que a direção e a equipe técnica da Anvisa se reuniram na quarta-feira com representantes do Butantan em encontro no qual foram apresentadas informações sobre o estágio atual do desenvolvimento clínico da vacina da dengue, além de relatada uma proposta de ensaio clínico de Fase III, que seria posteriormente protocolizada na Anvisa. As empresas que já contataram a Anvisa interessadas em produzir a vacina foram a GlaxoSmithKline, em parceria com a Fiocruz; o National Institute of Health, em parceria com o Instituto Butantan; a Sanofi Pasteur; a Takeda Pharma e a Merck. Estimativa de reajuste de preço para 2015 desagrada setor De São Paulo A indústria farmacêutica recebeu com pessimismo e previsão de corte de empregos os fatores da fórmula de cálculo de reajuste dos preços de medicamentos em 2015, publicados pelo governo ontem no Diário Oficial da União. Por enquanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não divulgou o reajuste médio oficial permitido, mas cálculos do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), a partir de índices autorizados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), indicam que esse aumento deve ficar entre 5,4% e 5,9%. “Mais uma vez, o reajuste vem abaixo da inflação e em momento que a pressão sobre os custos da indústria é muito forte, tanto do lado do câmbio quanto dos preços administrados”, disse o presidente do sindicato, Nelson Mussolini. O Sindusfarma representa 190 empresas responsáveis por 90% do mercado de medicamentos. A combinação de reajuste inferior à inflação e pressão de custos vai se refletir no nível de empregos. Conforme a publicação oficial, o reajuste máximo autorizado pela Cmed para medicamentos de nível 1, que compreende classes terapêuticas sem evidência de concentração, foi estabelecido em 7,7%. Para o nível 2 (classes terapêuticas moderadamente concentradas), o índice pode ser de até 6,35%. Já para as classes fortemente concentradas, o chamado nível três, o aumento máximo permitido é de 5%. não conseguirmos negociar [os salários], haverá desemprego.” Além da mão de obra, tem peso relevante nas despesas o preço da energia elétrica, uma vez que as embalagens usam muito alumínio. A desvalorização do real frente ao dólar também afeta negativamente a rentabilidade da indústria, já que mais de 90% dos insumos utilizados pelas farmacêuticas são importados. No ano passado, o aumento médio dos custos de produção foi de 15% — no mesmo período, os medicamentos su- De acordo com o Sindusfarma, se todas as apresentações de medicamentos forem reajustadas pelos índices máximos, o reajuste médio ficará em 5,9%. O índice inferior à inflação, conforme Mussolini, e a “difícil” negociação salarial com os sindicatos — que pedem 13% de aumento — devem levar o setor, que abriu 2 mil postos de trabalho no ano passado, a reduzir o nível de emprego em 2015. “Não poderia haver aumento real neste ano. Com esse reajuste e a pressão sobre os custos, se biram em média 4,94% e a inflação geral ficou em 6,41% (IPCA). Segundo o Sindusfarma, entre 2008 a 2014, para um reajuste de preços dos medicamentos acumulado de 33,19%, a inflação geral acumulada atingiu 47,25% (INPCIBGE) e os aumentos de salário ficaram em 62,06%. Neste ano, a tendência é de custos de produção ainda mais altos e algumas empresas projetam gastos 20% maiores, puxados por insumos e materiais de embalagem, e sem considerar aumente salarial. (SF) Fundo americano amplia posição e Rossi avalia a questiona oferta por BR Properties possibilidade de aumentar capital . Construção Vinícius Pinheiro e Chiara Quintão De São Paulo A oferta de aquisição (OPA) pelas ações da empresa de imóveis comerciais BR Properties, feita há quase um mês por BTG Pactual, pela canadense Brookfield e pelo BC Fund, ficou seriamente ameaçada, pelo menos no formato atual. Descontente com a operação, a gestora americana de fundos Eminence foi às compras na bolsa e ampliou sua posição na companhia de 2,34% para 14,1% do capital. Como uma das condições para que a OPA seja levada adiante é a adesão de pelo menos 85% dos acionistas, fica praticamente inviável para o BTG realizar a operação da forma como foi proposta sem se sentar antes para negociar com a gestora. Em comunicado, a Eminence classificou a OPA como “grosseiramente inadequada” em preço e “coercitiva” em sua estrutura, e informou que pode ampliar a participação na BR Properties para até 19,5%. Com US$ 6,4 bilhões em ativos sob gestão, a Eminence informou que as aquisições foram realizadas para “proteger os direitos de nossos investidores” contra a oferta. A gestora teria posição na BR Properties há pouco mais de um ano e meio, segundo uma fonte com conhecimento do assunto. O fundo não detalhou no comunicado as razões pelas quais discorda da OPA. Em relação ao preço, o forte desconto das ações em relação ao valor patrimonial da BR Properties teria sido uma das razões do descontentamento do fundo americano. A gestora já está em contato com outros acionistas minoritários da empresa em busca de apoio contra a proposta, conforme apurou o Valor. No mercado, comenta-se que, de modo geral, desde o anúncio da OPA, investidores minoritários estrangeiros não tinham interesse em aderir à operação ao preço proposto. Em relação aos minoritários nacionais, o mercado diz não haver consenso. O BTG ofereceu o equivalente a R$ 12 por ação da BR Properties na oferta. O valor representa prêmio de 35% sobre a cotação média dos 30 pregões anteriores à proposta, mas ainda assim é 39% inferior ao valor patrimonial da ação da companhia, de R$ 19,52. Quando a operação foi anunciada, analistas consideraram baixo o preço por ser 50% menor do que o valor justo das propriedades da empresa, e avaliaram haver espaço para revisão da oferta. O movimento da Eminence se soma a outras dificuldades que a oferta já vinha enfrentando. Em meados de março, comitê independente do conselho de administração da BR Properties solicitou esclarecimentos e ajustes às condições propostas para a OPA. O comitê deixou clara sua intenção de assegurar que surja oferta concorrente com preço mais elevado. Segundo o Valor apurou, gestores da BR Properties tinham sido surpreendidos pelo anúncio da OPA. A estrutura da operação também é alvo de vários questionamentos, como o conflito de interesses de o BTG ser o maior acionista da BR Properties, administrador e gestor do BC Fund — que se tornará o controlador da empresa nos moldes propostos pela OPA — e passar a deter parcela dos imóveis da companhia ao final da operação proposta. Outro ponto que chama a atenção é que, pela proposta do BTG, parte da oferta seria paga pela própria BR Properties, com o pagamento de um dividendo extraordinário de R$ 3,02 por ação. A operação inclui ainda uma divisão de parte dos ativos da BR Properties entre o BTG e a Brookfield, caso a oferta de aquisição seja bem sucedida. Como nesse processo os ativos que seriam supostamente os mais valiosos deixam de fazer parte da BR Properties, a pressão para que os minoritários aceitem a oferta aumenta, segundo a fonte, que pediu para não ser identificada. A avaliação é que a companhia e seus acionistas poderiam obter mais recursos com outra estrutura, que contemplasse, por exemplo, a venda individual de ativos para investidores estratégicos, do que com a proposta do BTG. Procurados, o banco de investimentos e a Brookfield não comentaram o assunto. A BR Properties anunciou, na quarta-feira, a contratação do Rothschild como assessor financeiro independente da administração e do comitê independente, formado por membros do conselho não ligados ao banco de André Esteves, para avaliar a operação. Esse comitê submeterá ao conselho a recomendação final sobre a oferta. No pregão de ontem da BM&FBovespa, as ações da BR Properties fecharam em alta de 2,69%, a R$ 14,12, ante R$ 13,75 na quarta-feira, R$ 13,12 na terça-feira e R$ 12,65 na segunda-feira. As cotações acima do valor da oferta de aquisição indicam que os investidores acreditam em uma melhora nas condições da OPA. “Não faz sentido pagar mais do que R$ 13 por papel para depois vender a ação a R$ 12”, diz um analista. Resta saber se o BTG vai elevar o preço por ação da BR Properties ou alterar as condições da operação e prosseguir mesmo com adesão inferior a 85%. De São Paulo A Rossi Residencial informou, ontem, ao mercado, que seu acionista controlador avalia oportunidades de negócios para a companhia, incluindo a possibilidade de aumento de capital. Há conversas com possíveis investidores, entre eles o fundo Cerberus. Por enquanto, são apenas “tratativas preliminares”, segundo a companhia informou. “Não há qualquer decisão sobre a realização de eventual operação envolvendo a companhia e tampouco qualquer documento assinado e vinculante”, informou a incorporadora, no documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O último aumento de capital da Rossi teve valor de R$ 600 milhões e foi concluído em janeiro de 2013. O mercado não descartava que a companhia lançasse mão, novamente, desse mecanismo de capitalização para reduzir seu endividamento. No fim de 2014, a alavancagem da Rossi medida pelo indicador dívida líquida sobre patrimônio líquido era de 109,8%, ante 97,3% no encerramento de 2013. No dia 18 de março, a Vinci Partners anunciou aumento de capital da PDG Realty que pode chegar a R$ 500 milhões caso haja adesão dos demais acionistas. Após esse anúncio, cresceu a expectativa que outras incorporadoras com endividamento elevado também optassem por esse tipo de operação. A Rossi está gerando caixa, mas tem apresentado margens pressionadas pelos descontos concedidos para acelerar a venda de imóveis prontos, nível elevado de distratos e redução de lançamentos. Na divulgação dos resultados de 2014, a incorporadora informou que tem capacidade para lançar até R$ 2,5 bilhões, mas que esse patamar não deve ser atingido em 2015. Para se adequar ao tamanho de seus lançamentos, a Rossi tem vendido ativos, como terrenos. Desde o início da execução de seu plano estratégico, em 2013, a companhia assinou o total de R$ 220 milhões em venda de terrenos. A comercialização de shopping centers de vizinhança também não é descartada. Neste ano, as ações da Rossi acumulam forte queda na BM&FBovespa, de 21,83%. Ontem, os papéis da incorporadora fecharam cotados a R$ 2,65, com desvalorização de 2,57%. (CQ)