Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Corrente Elétrica 1 – Movimento de uma Carga Pontual dentro de um Campo Elétrico Uma carga elétrica dentro de um campo elétrico está sujeita a uma força igual a qE. Se nenhuma outra força atua sobre essa carga (considerar positiva inicialmente) então essa carga será acelerada na direção do campo elétrico. De acordo com a 2ª Lei de Newton, esta força será igual à massa da carga vezes a aceleração da carga, ou seja: F = q E = ma ⇒ a = qE . m (1) A partir daqui voltamos ao que aprendemos em Cinemática quando estudamos o movimento de uma partícula sob a ação de uma força externa. Quando a força que atuava na partícula era a força da gravidade, dependendo das condições iniciais, a partícula normalmente tinha uma trajetória parabólica. Sendo assim, uma partícula carregada dentro de um campo elétrico, segue a mesma teoria da cinemática para ser descrita dentro de um campo elétrico. Veja este link: http://webphysics.davidson.edu/physlet_resources/bu_semester2/index.html Exemplo 1 Suponha que um elétron é projetado em um campo uniforme de 500 N/C com velocidade inicial e paralelo a esse campo. Qual a distância que este elétron percorre antes de parar? A aceleração é no sentido contrário ao campo, pois a carga é negativa, e é dada por (q/m)E. A expressão envolvendo a velocidade, aceleração e espaço de um corpo em movimento é: x v=2x106m/s v=0 m/s v = v + 2 a ( x − x0 ) 2 2 0 onde x0 = 0, no exato momento que a partícula entra no campo com velocidade inicial de 2x106 m/s. Levando a expressão da aceleração na equação acima, obtemos: 0 = (2 x106 ) 2 − 2 1, 6 x10 −19 x 500 ( x − 0) ⇒ x = 2, 28 x10−2 m. −31 9,11x10 Ou 2,28 cm. 1 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo 2 - Corrente e Movimento de Carga Corrente elétrica é o fluxo líquido de carga elétrica (elétron, próton, íon) que passa por uma seção transversal de área A, por segundo. Esta corrente pode estar no ar (relâmpago), vácuo (acelerador de partículas) e, mais usual, num condutor elétrico (fio em nossa casa). Matematicamente podemos definir corrente elétrica da seguinte maneira; I= ∆Q . ∆t (3) Aqui, ∆Q é a quantidade de cargas que passam por uma seção transversal num intervalo de tempo ∆t. A unidade de corrente elétrica é o Coulomb por segundo, ou seja, C/s, também conhecida como Ampere (A). q vd A Se o intervalo de tempo for infinitesimal, então a definição de corrente fica da seguinte forma: I = dQ dt . (4) A equação (4) é interessante, pois, caso a quantidade de carga seja dependente do tempo, a corrente é obtida a partir da integração desta equação. Por convenção, o sentido da corrente depende da carga em movimento. Para cargas positivas, a corrente está no mesmo sentido de movimentação destas. Se a corrente elétrica for feita por elétron, a corrente é contrária à movimentação dos elétrons. A figura ao lado mostra a corrente e a carga correspondente. Neste caso a corrente total é a soma algébrica das duas correntes. Ie Ip e - p + Uma corrente de 1A é equivalente a uma quantidade de carga muito grande passando por uma seção por segundo. Considerando que a carga do elétron é de 1,6x10-19C, teremos um total de 6,25x1018 elétrons passando por segundo. Esta corrente é, e.g., o que uma lâmpada de 220W precisa para acender completamente sob um potencial de 220V. Obs. A corrente elétrica produzida por um relâmpago pode chegar a 30000 A. No link http://pt.wikipedia.org/wiki/Rel%C3%A2mpago podemos encontrar um texto simples sobre relâmpagos com muitas curiosidades sobre este fenômeno. Mais detalhes podem ser adquiridos, também, em http://en.wikipedia.org/wiki/Lightning#Discharge. O efeito que uma corrente elétrica tem sobre o homem quando flui de uma mão para outra, está mostrado na tabela abaixo. 2 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Corrente elétrica 1 – 10 mA 10 – 100 mA 100 – 200 mA 200 – 1000 mA 1 a 10 A Efeitos fisiológicos Princípio da sensação de choque Ponto em que um estímulo é suficiente para produzir um efeito doloroso; paralisia muscular, dor severa dificuldade respiratória; parada cardíaca Fibrilação ventricular normalmente fatal se não houver intervenção Parada cardíaca, recuperação possível desde que o choque seja terminado antes da morte Queimaduras graves e não fatais, a menos que os órgãos vitais tenham sido atingidos Fonte: http://www.ufpa.br/ccen/fisica/aplicada/choques.htm 3 – Densidade de Corrente (Facultativo) vd ∆t Vamos fazer uso da primeira figura, porém, com pouco mais de detalhes. Suponha que este condutor tenha um numero n de cargas livres por volume para conduzir a corrente elétrica, assim, num intervalo de tempo ∆t A estas cargas percorrerão um espaço dado por vd ∆t (veja figura ao lado) q vd Assim, a carga total que passa por uma seção transversal de área A num intervalo de tempo ∆t é: ∆Q = q nV = qn A vd ∆t ⇒ I = ∆Q = q n Avd . ∆t (5) V é o volume dado A. vd ∆t. Da equação (5), podemos definir a densidade de corrente como sendo: J= I = q nvd . A (6) Como velocidade é uma grandeza vetorial, então a densidade de corrente também o é: J = q nvd . Semelhante ao que fizemos para definir fluxo de um fluido, podemos fazer o mesmo para a corrente, ou seja, I = ∫ J ⋅ nˆ dA . (7) Se J for constante, então: I = J . A.cos(θ ). O ângulo θ é o ângulo entre o vetor unitário perpendicular a área e o vetor densidade de corrente. n J ∆A 3 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Da equação (7), podemos dizer que, se a densidade de corrente for paralela ao vetor unitário que é perpendicular ao plano de área A, então a corrente que passa é máxima. Se temos mais de um tipo de carga conduzindo corrente, então a equação genérica para densidade de corrente, é dada pela equação (8): J = ∑ ni qi (vd )i . (8) i Para um fio de raio igual a 0,0814 cm, conduzindo uma corrente de 1A, a velocidade dos portadores de cargas, no caso elétrons (assumindo que cada átomo contribui com um elétron livre) é de 3,6x10-3 cm/s. A densidade do cobre é de 8,92g/cm3. Determine o valor da densidade de elétrons livres supondo que cada átomo contribui com um elétron livre. 4 - Resistência Elétrica e Lei de Ohm Para a situação onde as cargas estão em movimento, situação não eletrostática, temos que as cargas se deslocam dentro de um condutor para condução de corrente. Para que uma carga se mova, é necessário um campo elétrico, e se a L carga é negativa, esta se move na sentindo contrário ao campo elétrico. Se, num condutor q elétrico, tem a presença se uma corrente vd elétrica, então existe uma diferença de potencial entre dois pontos, a e b que estão afastados por A uma distancia L (veja figura ao lado), então, o Vb Va campo elétrico, neste caso, é dado por: ∆V = Va − Vb = E.L , mas, experimentalmente, podemos dizer que ∆V = I .R . (9) Ou seja, a corrente é proporcional a diferença de potencial e a constante de proporcionalidade é denominada de resistência elétrica R, cuja unidade no SI é o Ohm (ou V/A). A Eq. (9) é a Lei de Ohm. Veja estes links: http://www.walter-fendt.de/ph14e/ohmslaw.htm, http://phet.colorado.edu/sims/ohms-law/ohms-law_en.html, http://phet.colorado.edu/en/simulation/battery-resistor-circuit . Pela nossa experiência, sabemos que os fios elétricos em nossas casas são dimensionados de acordo com o que ele vai alimentar (alimentar aqui significa fornecer energia suficiente para um dispositivo operar normalmente). Um chuveiro elétrico ou um condicionador de ar, sempre necessita de um fio de maior calibre. Então, é de se esperar que a resistência elétrica dependa do diâmetro do V Não-ôhmico Ôhmico I 4 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo fio, além de seu comprimento e material. Você já viu condutor elétrico feito de ferro? Por que? A Lei de Ohm em função das características físicas do fio é: R= ρL A , (10) onde ρ é a resistividade do fio cuja unidade é Ohm.metro (Ω.m) e o seu inverso é a condutividade (σ). Estes parâmetros dependem da temperatura em que se encontram, pois quanto maior a agitação dos átomos que formam o condutor, maior a dificuldade que os portadores de carga terão para passar de uma região para outra. Em termos de condutividade, temos: R= L . σA (11) Nos materiais ôhmicos, a resistência não depende da corrente, por outro lado, nos materiais nãoôhmicos, a resistência depende da corrente. Veja esta simulação: http://phet.colorado.edu/sims/resistance-in-a-wire/resistance-in-a-wire_en.html . Tabela da Condutividade Elétrica (1/Ω.m) de alguns materiais. Supercondutividade Supercondutividade é o fenômeno qual a resistência de um material é quando ele se encontra abaixo de temperatura crítica. Estes materiais denominados de supercondutores. pelo nula uma são http://www.utreach.phy.cam.ac.uk/physics_at_ work/2004/exhibit/irc.php Resistivity of YBa2Cu3O7 (Tc = 93K = -180°C) 5 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo 5 - Energia nos Circuitos Elétricos – Efeito Joule Quando um condutor está sob um campo elétrico, os elétrons no seu interior começam a ser acelerados, porém, devido às inúmeras colisões que estes sofrem com outros elétrons ou com a rede cristalina, a energia é transformada em calor. Considere um condutor de seção transversal A1 e que uma quantidade de carga ∆Q passa por esta seção num intervalo de tempo de ∆t. O potencial elétrico neste ponto é U1 = ∆Q V1. (12) Se a carga (pense em carga positiva) se move para outro ponto de potencial igual a V2, então a diferença de potencial entre 1 e 2 é dada pela seguinte equação: ∆U = ∆Q(V2 – V1) = - ∆Q V. (13) Aqui, fizemos V = V1 – V2 Dividindo ambos os membros da Eq. (10) por ∆t, obtemos: ∆U ∆Q = −V = −VI ∆t ∆t ⇒ P = VI . (14) O sinal negativo foi suprimido porque a potência calculada, neste caso, representa a potência perdida. A unidade de potência é o Watt (W). O aquecimento resultante de uma corrente elétrica é conhecido como Efeito Joule. Vemos que a potencia é diretamente proporcional a corrente e a tensão. Qual a diferença, em termos práticos, em aumentarmos a tensão em detrimento da corrente para acionar uma, e.g., furadeira? Podemos escrever também que a potência é dada por: V2 P = ( IR ).I = R I = . I 2 (15) Veja estas simulações: http://phet.colorado.edu/en/simulation/circuit-construction-kit-ac 6 – FEM e Baterias FEM ou forca eletromotriz é um dispositivo que fornece energia elétrica a um circuito. Uma bateria ideal fornece energia independente da corrente que circula nele e não tem qualquer resistência interna (http://phet.colorado.edu/en/simulation/battery-resistor-circuit) R A potência fornecida por uma fem é: d P=εΙ c (16) I Uma bateria real, por outro lado, possui uma resistência interna e isto faz diminur o potencial sobre uma resistência R do circuito. b a r ε 6 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Va – Vb = ε − Ι r . (17) Mas, a queda de tensão em R é: I.R = Va – Vb = ε − Ι r. Veja que fizemos Va = Vd e Vb = Vc. Isso é possível já que entre a e d consideramos que não existe queda de potencial já que é um condutor ideal. Assim, para I, temos: I= ε R+r . (18) Pela Eq. (18), observamos que a corrente, num circuito real, é menor do que o ideal. A potência dissipada em um circuito real é dada por: P=I R= 2 ε2 R. ( R + r )2 (19) Ao derivar a equação acima com relação à R e igualando o resultado a zero, obtemos R = r. Isto significa que a dissipação máxima sobre um circuito acontece quando a resistência de carga é igual à resistência interna da bateria. Potência (UA) Potência Dissipada 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Resistência (Ohm) Potência dissipada por um resistor em função da sua resistência R. No caso da figura acima, podemos concluir que a resistência da bateria é de 5 Ohms. 7 – Combinações de Resistores Num circuito elétrico podem existir muitas resistências associadas em série ou em paralelo. Estas resistências, no circuito apenas resistivo, podem ser substituídas por uma equivalente. As cores do resistor da figura ao lado é utilizada para caracterizar o valor da resistência (http://www.areaseg.com/sinais/resistores.html) . Resistência em série – a corrente é a mesma em qualquer resistência, mas a queda de potencial nos I a c b R1 R2 7 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo resistores é igual à soma da queda em cada um deles. Va − Vc = V = (Va − Vb ) + (Vb − Vc ) = I R1 + I R2 = I ( R1 + R2 ) Podemos substituir a soma das resistências como sendo igual a uma resistência equivalente, ou seja, Req = R1 + R2 A resistência equivalente de várias resistências em série é dada por: N Req = R1 + R2 + ....R N = ∑ Ri . (20) 1 Resistência em paralelo – a ddp é a mesma em qualquer resistência mas a corrente total é a soma de cada corrente individualmente. I = I 1 + I 2 + ... V V V 1 1 1 = + + ... ⇒ = + + ... Req R1 R2 Req R1 R2 (21) A resistência equivalente também pode ser dada por: n 1 1 =∑ . Req 1 Ri Link interessante sobre circuitos em série e em paralelo: http://www.edy.pro.br/fisica/eletricidade/multimidia/din_lampadas.html 8 – Regras de Kirchhoff Normalmente os resistores estão dispostos em associações que são denominadas de série e paralelas. Esta associação de resistores possui o que chamamos de resistor equivalente. A corrente que passa em cada parte do circuito pode ser calculada via as Regras de Kirchhoff. Várias simulações de circuitos de corrente elétrica podem ser encontradas em http://www.phys.hawaii.edu/~teb/optics/index.html. 1) Quando se percorre uma malha fechada de um circuito, as variações de potencial têm uma soma algébrica que é igual a zero. 2) A corrente líquida num nó do circuito é igual a zero, ou seja, a corrente que entra é igual à corrente que sai. I2 A primeira regra se refere à conservação de energia e a segunda a conservação da carga. A figura ao lado mostra a divisão da corrente em duas. I1 I3 I1 = I2 + I3 . 8 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Aplicação da Regra 1: o circuito ao lado mostra resistores e baterias dispostas num circuito simples, sem nó. Os elétrons no circuito ganham energia quando passam do potencial menor (da bateria) para o maior (+). Ao passar pelos resistores, os elétrons perdem energia. Partindo da bateria 1, temos: R2 R1 I R3 ε1 ε2 +ε1 – IR1 – IR2 – IR3 – ε2 – IR4 – ε3 = 0 ε3 Da equação acima podemos obter a corrente. R4 A escolha do sentido da corrente é arbitrária. Neste caso, se a corrente calculada for negativa, isto significa que a direção verdadeira da corrente é oposta à escolhida inicialmente. A potência dissipada em cada resistor é: P = VI = RI2. A taxa de energia (potência) fornecida por cada bateria ao circuito é dada por: P = ε I. Caso a corrente esteja no sentido contrário à fem da bateria (bateria sendo carregada) então a bateria, neste caso, está “consumindo” energia da(s) bateria(s) que está(ão) fornecendo energia ao circuito. A corrente, nos nossos estudos, sempre está no sentido do movimento da carga positiva. Neste caso, os elétrons estão sempre no sentido contrário da corrente. Isto é fácil de memorizar porque os elétrons sempre seguem para o potencial maior, no caso, o pólo positivo da bateria. Não esquecer que a potencia gasta pelo circuito (resistências) é igual à potência fornecida pelas baterias. Circuito com várias malhas No circuito de várias malhas, há sempre um ponto que a corrente se divide ou se soma. Por exemplo: No circuito da figura ao lado, a corrente que passa pela bateria 1 divide-se em duas quando chega em “b”. Em “e”, as correntes I1 e I2 se somam para formar I novamente. Em termos matemáticos ε1 podemos escrever que (segunda regra de Kirchhoff): (22) c I I2 I1 f I = I1 + I2 . b a R2 R1 e d As malhas do circuito acima são três: abefa, abcdefa e bcdeb. Aplicando a primeira regra de Kirchoff, temos: 9 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Malha abefa ε1 – R.I1 = 0. (23) ε1 – R.I2 – ε2 = 0. (24) + I1 R1 – I2 R2 = 0. (25) Malha abcdefa Malha bcdeb No total, temos 3 variáveis (correntes) e 4 equações. Isto significa que este sistema é facilmente resolvido para obter as correntes em cada parte do circuito. 9 – Circuitos RC (http://phet.colorado.edu/en/simulation/circuit-construction-kit-ac) Circuito RC é aquele que contém um resistor e um capacitor. Diferente do circuito puramente resistivo, a corrente no circuito RC varia porque o capacitor leva um tempo para carregar (ou descarregar). Neste circuito, quando o capacitor está completamente carregado, a corrente se torna zero e, quando o capacitor está completamente descarregado, a corrente é máxima. 9.1) Capacitor inicialmente carregado. Considere um circuito RC formado apenas por uma chave, incialmente aberta, um capacitor carregado e um resistor. Como a chave está aberta (resistência infinita) nenhuma corrente circula no circuito. S A tensão no capacitor é V0 = Q0 /C. Quando a chave é fechada, os terminais do resistor ficam sob o mesmo potencial do capacitor e imediatamente uma C corrente I0 = V0 /R = Q0 / RC começa a circular no circuito. + _ R A corrente elétrica que circula no circuito quando a chave é ligada se deve a carga presente no capacitor que, à medida que o tempo passa, vai diminuindo. Esta corrente é dada pela seguinte equação: I =− dQ . dt (23) Aplicando Kirchhoff na malha quando a chave é fechada, obtemos, após um determinado tempo, a seguinte equação: Q Q dQ − IR = 0 ⇒ +R = 0. C C dt Rearranjando a equação acima, ficamos com a seguinte expressão: dQ dt =− . Q RC 10 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Cuja solução é adquirida após integrarmos ambos os membros, ou seja, ln Q = − t + A. RC Aplicando exponencial em ambos os membros, obtemos: ( Q(t ) = B exp − t RC ). B é uma constante que é determinada a partir das condições iniciais do problema. No nosso caso, em t = 0, a carga vale Q0. ( Q(0) = B exp − 0 RC )= Q ⇒ B = Q0 . 0 Assim, a equação que descreve o comportamento da carga no circuito RC é: ( Q(t ) = Q0 exp − t RC ). (24) A Eq. (24) descreve o descarregamento do capacitor em função do tempo. A diminuição da carga no capacitor está relacionada diretamente com a constante de tempo ( τ ) do circuito. Esta constante é o valor que o capacitor leva para sua carga (ou corrente) cair a Q0 exp (– 1) (ou I0 exp(– 1)) , ou seja, t = RC. A figura abaixo mostra o comportamento da corrente num circuito RC sob as condições descritas anteriormente. Podemos interpretar a constante de tempo como sendo o tempo que o capacitor se descarrega completamente caso a taxa de decaimento fosse igual à taxa inicial (linha vermelha). O cálculo da corrente no circuito é obtido ao derivar a Eq. (24) com relação à t. O resultado é: I (t ) = − ( ( dQ d =− Q0 exp − t RC dt dt ( ⇒ − Q0 exp − t I I )) = ) x − RC1 = VR exp ( − t RC ) 0 RC ( τ ). ⇒ I (t ) = I 0 exp −t (25) Lembre-se que: d u du e ) = eu ( dx dx 11 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo Exemplo 1 Suponha um circuito RC onde a resistência é de 1000 Ohms e o capacitor, de 1mF, inicialmente carregado sob um potencial de 10V. Calcule: a) b) c) d) A carga inicial do capacitor; A corrente inicial no resistor; A constante de tempo e A carga no capacitor apos 0,5 s. Solução: a) Q0 = V0 C = 10 × 1 × 10 −3 = 0,01C ; b) I 0 = V0 / R = 10 / 1 × 10 +3 = 0,01A ; c) τ = RC = 1000 × 0,001 = 1s ; ( d) Q(t ) = Q0 exp − t ) RC 0,5 ⇒ Q(0,5) = 0,01 × exp − = 0,016C . 1 9.2) Capacitor inicialmente descarregado. A figura ao lado mostra um circuito RC, porém com uma fem em série com o capacitor e com o resistor. O capacitor, antes da chave S ser fechada, encontra-se descarregado e nenhuma corrente circula. A chave, ao ser conectada (fechar o circuito) não “vê” o capacitor, ficando apenas o circuito formado pelo resistor e bateria; neste caso, podemos dizer que a corrente inicial é: I0 = ε / R. À medida que o capacitor vai recebendo carga, a corrente no circuito vai diminuindo. Quando o capacitor estiver totalmente carregado, a corrente deixa de existir no circuito RC. Pela lei das malhas, podemos escrever que: ε − IR − Q dQ Q = 0 ⇔ ε = R⋅ + . C dt C (26) A resolução da Eq. 26 é feita da seguinte maneira: ε .C − Q = RC dQ dt ⇔ dt dQ = . RC ε .C − Q (27) Integrando ambos os membros da Eq. 27, obtemos: 12 Fundamentos de Física Clássica – Prof. Ricardo t t t + A = − ln (ε .C − Q ) ⇒ − − A = (ε .C − Q) ⇒ exp − − A = ε .C − Q ⇒ RC RC RC −t Q(t ) = ε .C − B. exp RC (28) “A” e “B” são constantes que serão determinados (na prática só precisa determinar B) a partir da condição inicial do problema, ou seja, em t = 0 a carga no capacitor é zero (normalmente). Levando esta condição na Eq. 28, obtemos: Q (0) = ε .C − B = 0 ⇒ B = ε .C . A Eq. 28 fica da seguinte maneira: −t −t Q (t ) = ε .C 1 − exp = ε .C 1 − exp . RC τ (29) Veja que na Eq. 29 apareceu a constante do circuito já calculada anteriormente. Neste caso, τ significa o tempo que o circuito leva para que a carga no capacitor atinja 67% da carga máxima do capacitor. A corrente em função do tempo pode ser adquirida a partir da Eq. 29, ou seja, I (t ) = dQ −1 t t = −ε .C. exp − ⇒ I (t ) = I 0 exp − dt RC τ τ . (30) Exemplo 2 Supondo que o capacitor está inicialmente descarregado, então não existe corrente sobre o resistor de 50 Ohms, e assim, a corrente só passa na bateria e na resistência de 100 Ω. A corrente inicial é igual a I0 = 50V = 0,5 A . 100Ω Depois de muito tempo em que a chave já foi ligada, supondo, assim, que o capacitor já está completamente carregado, a corrente deixa de passar pelo capacitor, fluindo apenas pelos resistores e bateria. Neste caso, a corrente final é: I= ε 50 + 100 = 50 = 0,3 A . 150 50V 100Ω I1 I2 0,1 F I3 50Ω 13