RESISTÊNCIA BACTERIANA AOS ANTIBIÓTICOS Um fantasma que nós tornamos real Goreth Barberino & Ana Verena Mendes [10.08.2016] [Type the abstract of the document here. The abstract is typically a short summary of the contents of the document. Type the abstract of the document here. The abstract is typically a short summary of the contents of the document.] RESISTÊNCIA BACTERIANA AOS ANTIBIÓTICOS Um fantasma que nós tornamos real Ponto de vista: Goreth Barberino & Ana Verena Mendes A descoberta da penicilina em 1928 foi considerada uma das maiores descobertas da área médica dos últimos cem anos e deu início a uma nova era na Medicina tornando possível o tratamento dos feridos da II Guerra Mundial, oferecendo a possibilidade de cura para doenças infecciosas estigmatizantes como a Sífilis e reduzindo um número significativo de mortes, com aumento importante de sobrevida e mão de obra produtiva. Entretanto, já naquela época, Alexander Fleming, previa que o uso indiscriminado, em subdoses e por tempo incorreto da milagrosa droga, levaria inevitavelmente à seleção de bactérias resistentes. Na verdade, a resistência aos antibióticos em parte pode ser considerada um fenômeno inexorável, conseqüência natural da adaptação da célula bacteriana à exposição aos agente terapêuticos. Entretanto, o uso abusivo e equivocado destas drogas, sem dúvida facilitou o processo seletivo e o exarcebou. Antes de 1990, o problema de resistência aos antibióticos não era considerado uma ameaça para gestão das infecções bacterianas. Entretanto, as falhas de tratamento com utilização de drogas de primeira linha, foram surgindo nas unidades de saúde. Na atualidade a resistência aos antimicrobianos é um crescente problema global no tratamento de doenças infecciosas, representando um grande desafio para a comunidade médica, com forte impacto na morbidade e mortalidade. Inicialmente as infecções causadas por micro-organismos resistentes eram restritas ao ambiente hospitalar, onde o uso de antimicrobianos é mais amplo, em função de características próprias do ambiente e dos pacientes. Contudo, nos últimos anos, tem sido observado um aumento da prevalência de bactérias resistentes na comunidade, a exemplo de S.aureus resistente a meticilina (MRSA - AC) associados a pneumonias, infecções de pele, entre outros. Sem falar da crescente resistência de micro-organismos causadores de doenças seculares como a Tuberculose. A possível causa da mudança no perfil de resistência destes isolados pode ser associada à má utilização de antibióticos nos ambulatórios, à prática de automedicação, ao uso abusivo de dispositivos médicos protéticos e invasivos além da globalização que gerou o aumento da movimentação das populações ao redor do mundo. Outra possível causa não menos importante para o desenvolvimento de cepas resistentes aos antimicrobianos na comunidade, começou a ser descrita em 1950, os antibióticos passaram a ser utilizados como promotores de crescimento adicionados à ração de animais, podendo conduzir ao desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes. Esses isolados uma vez selecionados poderiam transmitir resistência para micro-organismos não resistentes e assim, contribuir para o aumento da resistência bacteriana numa enorme gama de indivíduos. Em suma, a resistência bacteriana é atribuída a uma soma de fatores: aquisição de genes de resistência, pressão seletiva e disseminação clonal, muitos destes favorecidos pelo uso irrestrito e errático de antimicrobianos no meio médico e agroveterinário. Tornando-se assim, o principal problema de saúde pública no mundo, afetando todos os países, desenvolvidos ou não e, curiosamente servindo de indicador de má gestão em saúde. Nos países desenvolvidos, a fácil disponibilidade das medicações, a judicializacão da medicina, o uso de ampla tecnologia médica, o prolongamento da vida e o uso ostensivo de antimicrobianos na agricultura e na veterinária são fatores que favorecem a seleção de cepas resistentes. Por outro lado, nos países sem recursos, a má qualidade das drogas, a ausência de diagnóstico, as eventuais interrupções e as subdoses são igualmente fatores indutores do mesmo problema. Desta forma, temos aí um indicador que afeta ricos e pobres desde que tenham em comum, má gestão das tão preciosas drogas antimicrobionas. O mais estarrecedor é que, apesar de reconhecer que o papel da utilização de antibióticos no surgimento de resistência, através do efeito seletivo, competitivo e da subseqüente transferência de resistência, a comunidade científica reconhece que a redução da resistência exigirá estratégias amplas e duradouras e tenderá a ser lenta e com efeitos pouco perceptíveis em curto prazo. Este cenário tem sido apontado como causa da diminuição da eficácia dos tratamentos, prolongamento das doenças e aumento de morbidade, além, de maior custo, maiores taxas de hospitalização e maior uso de antibióticos de amplo espectro e conseqüentemente aumento da mortalidade. Estudos apontam para pontos que poderiam contribuir para minimizar a resistência, tais como: a redução do tempo de uso, ajuste de doses, o uso do antibiótico adequado e quando necessário. Todos estes pontos são abordados nos programas de gestão do uso de antibióticos atualmente conhecidos como Stewardship. Estes programas surgiram como parte das recomendações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) para a prevenção de doenças infecciosas emergentes e da Organização Mundial de Saúde (OMS, WHO) para combate da Resistência Bacteriana. Diante da abrangência e gravidade do problema, em 2011, a OMS lançou um pacote de medidas que devem ser desenvolvidas em todos países para fazer uma frente ampla aos diversos fatores envolvidos neste cenário. A base das medidas está estruturada em seis pontos: 1. Desenvolvimento de um Plano Nacional ABRANGENTE e FINANCIADO pelo Governo com Envolvimento das Sociedades Civis. 2. Fortalecimento da Vigilância e Capacidade dos Laboratórios. 3. Assegurar o acesso ininterrupto aos medicamentos essenciais e de qualidade assegurada. 4. Regular e promover uso racional de medicamentos, Incluindo em animais, e garantir a boa assistência ao paciente. 5. Reforçar a prevenção e controle de infecção 6. Favorecer Desenvolvimento de novas ferramentas de INOVAÇÕES e PESQUISA Cada uma destas medidas traz um enorme peso em si e pressupõe uma enorme seriedade no enfretamento do problema por parte de todas as esferas das Políticas Públicas e Sociedades Privadas. A estrada é longuíssima em um país como o Brasil em que se convive de modo esquizofrênico com altíssima tecnologica e ausência quase absoluta de controles processuais e de distribuição de recursos. Cabe ao menos aos profissionais de saúde educarem e se educarem na boa prática dos ensinamentos seculares de Alexander Flemming, Referências: 1 - www.anvisa.org.br 2 - www.cdc.gov 3 – www.infectoemicroconsult.com.br 4 - www.who.int/en/