O verbo TAR Há muito tempo que, na língua oral, algumas formas verbais do verbo ESTAR perderam a sílaba inicial: eu tô (estou), ele tá (está), tamos (estamos), tão (estão), tava (estava), tive (estive), tiver (estiver)… Não discuto se está certo ou errado. Faço apenas a constatação de um fato inegável: a forma reduzida é uma marca característica da língua coloquial do português falado no Brasil. É interessante fazermos algumas observações: 1ª) No caso do infinitivo, não usamos a forma reduzida. Ninguém diz que “ele deve tar em casa”. Todos dizem: “Ele deve ESTAR em casa”. 2ª) Em textos formais, que exijam uma linguagem mais cuidada, não devemos usar as formas reduzidas: Eu estou em casa (em vez de “tô em casa”); Ele está feliz (em vez de “ele tá feliz”). 3ª) Devemos evitar as formas “tive” (por estive), “teve” (por esteve), “tiver” (por estiver), pois pode gerar ambigüidade. “Aqui ele não virá se tiver doente”. Se tiver (do verbo TER) doente (= houver doente) OU se ele estiver (do verbo ESTAR) doente? Na chamada língua padrão, não existe o tal verbo TAR. O verbo é ESTAR e não devemos usar as formas reduzidas. Diga e escreva: estou, está, estamos, estão, estava, estive, esteve, estiver… O leitor quer saber 1ª) Onde está erro na frase “Conheceu sua mulher quando ele teve na Bahia”? Não podemos, em hipótese alguma, confundir TEVE (pretérito perfeito do indicativo do verbo TER) com ESTEVE (do verbo ESTAR): “Ele não TEVE tempo para resolver o problema”; “Conheceu sua mulher quando ele ESTEVE na Bahia”. 2ª) Está OU estar? ESTÁ é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo: “Ele ESTÁ confiante”; “O advogado já ESTÁ no escritório”. ESTAR é o infinitivo: “Ele deve ESTAR confiante”; “O advogado só vai ESTAR no escritório amanhã”. Esse tipo de dúvida se deve à tendência de omitirmos, no português coloquial falado no Brasil, o “r” final dos verbos: “vou falá” (vou falar); “vai vendê” (vai vender); “deve parti” (deve partir). Essa confusão, entretanto, só acontece em verbos em que a terceira pessoa do singular do presente do indicativo é semelhante à forma do infinitivo: está ou estar; vê ou ver; crê ou crer; lê ou ler… Ninguém confunde diz com dizer, faz com fazer, tem com ter, quer com querer… Assim sendo, em caso de dúvida, podemos usar este artifício: a) Se ele DIZ, FAZ, TEM ou QUER, é porque ele ESTÁ ou VÊ; b) Se ele vai DIZER, FAZER, TER ou QUERER, é porque ele vai ESTAR ou VER. 3ª) VIR ou VIM? VIR é infinitivo e VIM é forma da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: “Ele deve VIR só na próxima semana”; “Ele pode VIR quando quiser”; “Ontem eu não VIM trabalhar”. As frases “Eu não vou vim” e “Ele só vai vim amanhã” são totalmente inaceitáveis. Seria caso de infinitivo: “vou VIR” e “vai VIR”. O melhor é dizer: “Eu não VIREI” e “Ele só VIRÁ amanhã”. 4ª) VER ou VIR? VER é infinitivo e VIR é infinitivo de outro verbo (VIR) ou é forma do futuro do subjuntivo do verbo VER. O futuro do subjuntivo do verbo VIR é VIER. 1) Ele deve VER o filme (infinitivo do verbo VER); 2) Quando ele VIR o filme, mudará de opinião (futuro do subjuntivo do verbo VER); 3) Ele deve VIR à reunião imediatamente (infinitivo do verbo VIR); 4) Quando ele VIER para o Brasil, entenderá melhor o problema (futuro do subjuntivo do verbo VIR). Assim sendo, a frase “Se eles VEREM de perto o que aconteceu, vão entender melhor os nossos problemas” é inaceitável. O correto é “Se eles VIREM de perto o que aconteceu…” Nessa frase, devemos usar o verbo VER no futuro do subjuntivo. É o mesmo caso de “quando a gente se vê de novo”. Em língua padrão, devemos dizer “quando nos VIRMOS de novo”. 5ª) PREVER ou PREVIR? É a mesma explicação dada no caso anterior. A regra que vale para os verbos primitivos (VER e VIR) vale para os verbos derivados (PREVER, REVER; INTERVIR, PROVIR). PREVER é infinitivo e PREVIR é forma do futuro do subjuntivo: “Ele pode PREVER tudo que lhe acontecerá durante este ano”; “Ele poderá ser promovido se PREVIR o resultado das negociações”.