Poluição por metais e compostos orgânicos associada à unidade da Bayer em Belford Roxo, Rio de Janeiro, Brasil 2000 Labunska, I., Stringer, R. e Brigden, K. Laboratórios de Pesquisa do Greenpeace, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade de Exeter, Exeter, Reino Unido. Dezembro de 2000 Nota Técnica: 23/00 Sumário executivo ..................................................................................................................... 03 1 Introdução .......................................................................................................................... 05 2 Programa de Amostragem ................................................................................................. 05 2.1 Procedimentos Gerais da Amostragem.......................................................................... 05 2.2 Descrições das Amostras ............................................................................................... 05 3 Resultados e discussão....................................................................................................... 07 3.1.1 O Rio Sarapuí e amostras associadas..................................................................... 07 3.1.1.1 Amostras de controle AM0102 e AM0103........................................................ 07 3.1.1.2 Amostra de efluente AM0100 e sedimento associado AM0101 ....................... 10 3.1.1.3 Amostras de efluente AM0098 e sedimento associado AM0099...................... 13 3.1.1.4 Amostra de sedimento AM0097 rio abaixo da planta da Bayer ........................ 14 3.1.2 O Aterro Sanitário.................................................................................................. 16 4 Conclusões ......................................................................................................................... 17 5 Referências......................................................................................................................... 17 Apêndice 1 ................................................................................................................................. 20 Metodologia analítica ............................................................................................................... 20 A1.1 Análise de compostos orgânicos ..................................................................................... 20 A1.2. Análise de Metais Pesados............................................................................................. 22 Apêndice 2 ................................................................................................................................. 25 Perfis toxicológicos para os principais compostos orgânicos.................................................... 25 A2.1 Bifenilas policloradas (PCBs).......................................................................................... 25 A2.2 Hexaclorociclohexano (HCH) ......................................................................................... 29 A2.3 Fosfatos de Tris(monocloroisopropilo) (TMCPPs) ......................................................... 32 A2.4 Benzenos clorados ........................................................................................................... 34 A2.5 DDT e metabólitos........................................................................................................... 39 A2.6 Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs)............................................................ 43 A2.7 Alquilbenzenos ................................................................................................................ 44 Apêndice 3 ................................................................................................................................. 46 Perfis toxicológicos para os principais metais pesados ............................................................. 46 A3.1. Cádmio........................................................................................................................... 46 A3.2. Cromo ............................................................................................................................ 48 A3.3. Cobre.............................................................................................................................. 51 A3.4. Chumbo.......................................................................................................................... 53 A3.5. Manganês ....................................................................................................................... 55 A3.6. Mercúrio......................................................................................................................... 56 A3.7. Zinco .............................................................................................................................. 59 2 CHEGA DE POLUIÇÃO SUMÁRIO EXECUTIVO A planta da Bayer SA em Belford Roxo, Rio de Janeiro, Brasil, fabrica compostos químicos e, além disso, abriga um incinerador de resíduos perigosos e um aterro sanitário. Em agosto de 2000, nove amostras foram coletadas dentro da planta e ao seu redor. Foram cinco amostras de sedimentos (duas das quais foram amostras controle coletadas rio acima da planta da Bayer), duas de águas residuais industriais e duas de resíduos sólidos. Os alcanos foram os compostos predominantes nas amostras de controle de sedimentos rio acima da planta da Bayer. Isso pode indicar poluição dos sedimentos por petróleo, uma vez que os alcanos são os componentes principais de produtos de petróleo refinado. Vários outros compostos orgânicos detectados nas amostras de controle, como o 1,4-diclorobenzeno, o dihidrocolesterol e o galaxolide, provavelmente entraram no rio Sarapuí através das descargas de esgoto. A presença de HCH-beta em uma das amostras de controle pode indicar uso no passado de hexaclorociclohexano técnico como agrotóxico, visto que esse isômero também foi detectado em todas as amostras de sedimentos do rio Sarapuí corrente abaixo. No entanto, o composto também estava presente em uma amostra de resíduo do aterro sanitário da Bayer. Os metais pesados encontrados nas amostras de controle estavam na faixa de variação dos níveis tipicamente esperados. Duas amostras foram coletadas no ponto de descarga da planta de tratamento da Bayer - uma de efluente e uma de sedimento. Os compostos orgânicos encontrados na amostra de efluente foram: derivados halogenados e não-halogenados da benzenamina (anilina) e do benzeno, incluindo a 4-trifluorometoxianilina, que é produzida na planta da Bayer para a indústria farmacêutica; o Fyrol PCF, um retardador de chama pertencente à classe de ésteres fosfatos de alquil clorados; vários compostos orgânicos aromáticos usados na síntese orgânica (derivados de quinolina, 2-(metiltio)benzotiazol e difenil éter); e também PAHs. Cobre, manganês, mercúrio e zinco foram também encontrados na amostra de efluente em níveis elevados. Uma ampla gama de compostos organoclorados foi encontrada na amostra de sedimento, incluindo PCBs, derivados do DDT, isômeros do HCH e traços de benzenos clorados. Além disso, essa amostra continha PAHs, benzaldeídos, benzenometanol, uma série de hidrocarbonetos cíclicos e lineares e um composto de organo-estanho. A amostra de sedimento continha níveis bastante elevados de cobre, cádmio, chumbo, mercúrio e zinco em comparação aos níveis tipicamente esperados para sedimentos de água doce. As concentrações de níquel e cromo estavam levemente elevadas nessa amostra. Esses resultados demonstram que a planta de tratamento da Bayer não fornece tratamento adequado de resíduos e é uma fonte de poluição para o rio Sarapuí. Também é possível que alguns dos contaminantes, como os PCBs, tenham se originado no incinerador. Duas outras amostras, uma de efluente e uma de sedimento, foram coletadas em outro ponto de descarga da planta da Bayer localizado próximo ao aterro sanitário, rio abaixo da descarga da 3 CHEGA DE POLUIÇÃO planta de tratamento. As análises para metais e compostos orgânicos apontaram uma poluição muito menor dessa fonte. As concentrações de chumbo estavam elevadas tanto na amostra de efluente quanto na de sedimento. No entanto, apenas dois compostos orgânicos foram detectados na amostra de efluente: o 1,4-diclorobenzeno e o 2-(metiltio)benzotiazol. A amostra de sedimento continha HCH-beta e traços de derivados de DDT. O HCH-beta aparenta ser um contaminante esperado nessa região, mas os compostos de DDT foram detectados apenas nas amostras de sedimento mais próximas aos pontos de descarga da Bayer. Ainda não está claro a fonte de compostos fenólicos e DEHP, também encontrados na amostra de sedimento. A amostra de sedimento coletada no rio Sarapuí abaixo da planta da Bayer continha um padrão de contaminantes orgânicos e de metais pesados semelhante ao da amostra de sedimento retirada próxima à descarga da planta de tratamento da Bayer, embora em concentrações menores. Os contaminantes orgânicos detectados incluem PCBs, benzenos clorados, isômeros de HCH e PAHs. Além disso, essa amostra continha benzenos alquilados e mais hidrocarbonetos alifáticos que poderiam indicar contaminação local por óleos minerais. Duas amostras foram coletadas do aterro de resíduos da Bayer. Um continha quase todos os compostos orgânicos que foram detectados nas amostras de sedimento e efluente coletadas da descarga próxima à planta de tratamento da Bayer. Esses incluem benzenos clorados e benzenaminas, benzenaminas bromadas, PCBs, um composto de organo-estanho, hidrocarbonetos alifáticos e HCH-beta. Outros compostos orgânicos encontrados nessa amostra foram inúmeros PAHs, dibenzotiofeno, bifenila, difenil éter, benzenos alquilados e dibenzofurano. As concentrações de muitos dos metais pesados nessa amostra estavam mais altas do que no restante das amostras coletadas durante esse levantamento. As concentrações de cobre, chumbo e zinco estavam particularmente altas. A segunda amostra de resíduos do aterro da Bayer continha um padrão completamente diferente de contaminantes orgânicos e metais pesados, o que significa que o aterro recebe resíduos de uma variedade de fontes. A maior preocupação está ligada aos níveis extremamente elevados de mercúrio encontrados nessa amostra. O restante dos metais considerados no estudo foram detectados em níveis tipicamente esperados para o solo. Apenas alguns poucos compostos orgânicos, na sua maioria hidrocarbonetos alifáticos, foram identificados de forma confiável nessa amostra. 4 CHEGA DE POLUIÇÃO 1 INTRODUÇÃO A Bayer S.A. é uma empresa alemã que opera nos seis continentes do mundo, embora a maior parte de suas unidades esteja localizada na Europa, nas Américas e no Extremo Oriente. O grupo está envolvido na fabricação de produtos voltados para o mercado de saúde, além de substâncias químicas e polímeros (Bayer 2000a). O Guia da Indústria Química Brasileira de 1999/2000 (ABIQUIM 1999) registra que há quatro plantas do grupo Bayer no Brasil. Três delas pertencem à Bayer S.A. e fabricam uma série de substâncias químicas, variando de compostos inorgânicos (óxido de ferro) a agrotóxicos clorados (triclorfon). A quarta unidade pertence à Bayer Polímeros e fabrica resinas ABS, MBS e SAN. Além disso, a unidade da Bayer S.A. em Belford Roxo, estado do Rio de Janeiro, também possui um incinerador de resíduos perigosos e um aterro sanitário. 2 PROGRAMA DE AMOSTRAGEM Em agosto de 2000, nove amostras foram coletadas, relacionadas à unidade da Bayer SA em Belford Roxo, no estado do Rio de Janeiro, Brasil. As amostras incluíam cinco de sedimentos, duas de águas residuais industriais e duas de resíduos sólidos. 2.1 Procedimentos Gerais da Amostragem Todas as amostras foram coletadas e armazenadas em frascos de vidro pré-lavados que haviam sido enxaguados com ácido nítrico e pentano de grau analítico para remoção de todos os resíduos de metais pesados e compostos orgânicos. As amostras de sedimentos e resíduos sólidos foram coletadas em frascos de 100ml, e as amostras de água foram coletadas em frascos de 1 litro. Todas as amostras de sedimentos, resíduos sólidos e água foram lacradas e resfriadas imediatamente após a coleta. As amostras retornaram aos Laboratórios de Pesquisas do Greenpeace para a análise. Uma descrição detalhada do preparo das amostras e dos procedimentos analíticos é apresentada no Apêndice 1. 2.2 Descrições das Amostras Uma descrição das amostras coletadas é fornecida na Tabela 1 e um mapa dos locais onde elas foram coletadas é apresentado como Figura 1. 5 CHEGA DE POLUIÇÃO Número Descrição da da Amostra Amostra AM0102 Sedimento AM0103 Sedimento AM0100 Efluente AM0101 AM0098 AM0099 AM0097 AM0104 AM0105 Sedimento Efluente Sedimento Sedimento resíduo sólido resíduo sólido Localização da Amostra Tributário do rio Sarapuí, rio acima da Bayer Rio Sarapuí, rio acima da Bayer Descarga do cano próximo à planta de tratamento de efluentes Rio Sarapuí, próximo a AM0100 Cano de descarga próximo ao aterro sanitário Adjacente a AM0098 Rio Sarapuí, rio abaixo do local Aterro sanitário Aterro sanitário Tabela 1. Descrição das amostras coletadas dentro da Bayer e ao redor dela, no Rio de Janeiro. As amostras são apresentadas em dois grupos; os associados aos rios e descargas de efluentes, aparecendo primeiro os coletados rio acima e depois os coletados mais rio abaixo; duas amostras de resíduos do aterro sanitário de dentro da planta. Figura 1. Mapa dos locais de amostra. 6 CHEGA DE POLUIÇÃO 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da análise para compostos orgânicos e da análise para metais pesados são apresentados na Tabela 2, incluindo um fracionamento dos grupos de compostos orgânicos identificados de forma confiável nas amostras. Para maiores informações sobre as fontes comuns, o comportamento ambiental e os perfis toxicológicos dos principais poluentes detectados durante este estudo, ver Apêndices 2 e 3. 3.1.1 O Rio Sarapuí e amostras associadas 3.1.1.1 Amostras de controle AM0102 e AM0103 Duas amostras de controle de sedimentos foram coletadas rio acima da planta da Bayer: a amostra AM0102 do tributário do rio Sarapuí e a AM0103 do próprio rio Sarapuí (ver Figura 1). Trinta e quatro compostos orgânicos foram isolados da amostra AM0102, e 20 deles identificados de forma confiável. Da mesma forma, 40 compostos orgânicos foram isolados da amostra AM0103, dos quais 18 identificados de forma confiável. Os hidrocarbonetos alifáticos lineares (alcanos) predominaram em ambas as amostras (14 na AM0102 e 11 na AM0103). Isso pode ser um indicativo de poluição dos sedimentos por petróleo, na medida em que os alcanos são os componentes principais de produtos de petróleo refinado (Overton 1994). O 1,4-Diclorobenzeno foi também detectado nas amostras AM0102 (apenas traços) e AM0103. Esse composto é usado na produção de sachês perfumados e aromatizadores de ambiente, por isto é freqüentemente encontrado no esgoto (Chapman et al.1996). A presença de dihidrocolesterol, um composto que ocorre em fezes humanas (Budavari 1989), na amostra AM0102 também confirma que o tributário do rio Sarapuí recebe esgoto. O galaxolide, um composto policíclico sintético de almíscar, também conhecido como Musk 50 ou HHCB, foi identificado de forma confiável na amostra de sedimento coletada do rio Sarapuí (AM0103). Os almíscares policíclicos sintéticos estão substituindo cada vez mais os almíscares nitrados sintéticos como o xileno almíscar (MX) e a cetona almíscar (MK). A produção em nível mundial de almíscares policíclicos é estimada em 6.000 toneladas por ano. Como o MX e o MK, os almíscares podem ser detectados em muitos sistemas aquáticos, especialmente os que recebem esgotos (Rimkus 1999). O galaxolide é um composto altamente persistente que tem uma estrutura bastante semelhante à da feromona natural humana. É absorvido diretamente pela pele e portanto pode impor riscos à saúde, embora os impactos potenciais à saúde desse composto ainda precisem ser estudados com maior profundidade (Kallenborn et al. 1999). Dois hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) foram identificados de forma confiável nesses sedimentos: fenantreno (nas amostras AM0102 e AM0103) e pireno (apenas na amostra 7 CHEGA DE POLUIÇÃO AM0103). Os PAHs são um grupo de compostos encontrados no carvão e no óleo. Eles também são formados durante a combustão de carvão, óleo e gás (ATSDR 1997). Número da Amostra Tipo de Amostra Localização METAIS Cádmio Cromo Cobalto Cobre Chumbo Manganês Mercúrio Níquel Zinco Número de compostos orgânicos isolados Número de compostos orgânicos identificados de forma confiável Grupos de compostos orgânicos identificados de forma confiável Benzeno, 1,2-dicloroBenzeno, 1,4-dicloroBenzeno, 1,2,4-tricloroBenzeno, 1,2,3,5-tetracloroBenzeno, 1,2,4,5-tetracloroBenzeno, 1,2,3,4-tetracloroBenzeno, pentacloroBenzeno, hexacloroBenzenoaminas, tricloroBenzenoamina, 4-(trifluorometóxi)Benzenoamina, 2,4,6-tribromoBenzenoamina, 2,6-dibromo-4-cloroBenzenoamida, 4-cloroBenzeno, isocianato-4-(trifluorometóxi)Isômeros de triclorobifenila Isômeros de tetraclorobifenila Isômeros de pentaclorobifenila Isômeros de hexaclorobifenila (além do 138 e do 153) Isômeros de heptaclorobifenila (além do 180) Isômeros de octaclorobifenila PCB-138 PCB-153 PCB-180 Firol PCF o,p'-DDE p,p'-DDE o,p'-DDD p,p'-DDD p,p'-DDT AM0102 sedimento Tributário do Sarapuí, rio acima da Bayer mg/kg <1 12 2 10 <3 93 0,15 <2 79 34 20(59%) AM0103 AM0100 sedimento efluente Rio Descarga Sarapuí, do cano rio acima próximo à da Bayer planta de tratamento mg/kg 1 23 6 27 <3 287 0,20 9 139 40 18(45%) ug/l <20 <20 <20 739 <30 236 4,2 59 292 35 17(49%) AM0101 AM009 8 sedimento efluente Através Cano de do cano descarga de próximo descarga ao aterro próximo à sanitário planta de tratamento mg/kg ug/l 30 <20 2286 <20 34 <20 1115 <20 426 57 1048 253 22 <0,5 178 <20 1884 13 79 2 64(81%) 2(100%) COMPOSTOS ORGANOHALOGENADOS * * 1 * 1 * AM0099 AM0097 AM010 4 sedimento sedimento resíduo Através Rio Do do cano Sarapuí, aterro de rio abaixo sanitário descarga da Bayer próximo ao aterro sanitário mg/kg mg/kg Mg/kg <1 1 70 426 64 455 10 10 19 30 114 53888 53 96 5480 525 401 771 0,52 1,17 3,33 37 23 683 192 527 25553 41 128 118 13(32%) 71(55%) 74(63%) 1 1 1 * * * * * 1 1 * * * * AM010 5 resíduo Do aterro sanitário mg/kg 9 52 <2 <2 7 18 244 26 21 66 11(17%) * 1 1 1 1 1 1 3 8 11 * 2, *(4) 8, *(3) 1, *(7) *(2) *(2) *(8) *(6) 5 * *(3) 2 1 1 1 1 1 * * * * 1 1 1 * 1 1 8 * * * CHEGA DE POLUIÇÃO Número da Amostra Tipo de Amostra Localização HCH-alfa HCH-beta HCH-gama HCH-delta Fenol, 2,5-dicloroNaftaleno e/ou seus derivados Antraceno e/ou seus derivados Acenafteno Fenantreno e/ou seus derivados Pireno e/ou seus derivados Fluoreno-9H e/ou seus derivados Fluoranteno AM0102 sedimento Tributário do Sarapuí, rio acima da Bayer AM0103 AM0100 sedimento efluente Rio Descarga Sarapuí, do cano rio acima próximo à da Bayer planta de tratamento 1 PAHs 3 AM0101 AM009 8 sedimento efluente Através Cano de do cano descarga próximo de descarga ao aterro próximo à sanitário planta de tratamento * 1 AM0099 AM0097 AM010 AM010 4 5 sedimento sedimento resíduo resíduo Rio Do Do Através aterro do cano Sarapuí, aterro rio abaixo sanitário sanitário de descarga da Bayer próximo ao aterro sanitário * * 1 1 1 * * * 4 6 2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 COMPOSTOS ORGANOSULFURADOS Dibenzotiofeno e/ou seus derivados Benzotiazol, 2-(metiltio)- 1 1 COMPOSTOS FENÓLICOS Fenol Fenol, 3-metil- 1 1 1 ÉSTERES DE FTALATO DEHP DiBP Benzenos alquilados Bifenila e/ou seus derivados Difenil éter Benzaldeído Benzenometanol 1H-indolo e/ou seus derivados Galaxolide (Musk 50) Dibenzofurano Benzamina, N-metil Lineares Cíclicos Terpenóides Derivados de quinolina Estanano, tetraciclohexilDihidrocolesterol 1 1 OUTROS COMPOSTOS AROMÁTICOS 1 5 4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS 14 11 6 1 6 OUTROS COMPOSTOS 1 19 1 14 9 1 2 1 1 1 Tabela 2. Compostos orgânicos e metais pesados identificados nas amostras coletadas dentro da Bayer e ao redor dela, no Rio de Janeiro. Para os grupos de compostos orgânicos identificados de forma confiável; # significa o número de compostos identificados de forma confiável usando o método de GC/MS; *(#) significa compostos identificados apenas em traços usando o método de monitoramento de íon seletivo (MIS), com o número de compostos em parênteses indicando quantos compostos daquele grupo foram identificados. As concentrações de metais são fornecidas em mg/kg peso seco para amostras sólidas e ug/l para amostras líquidas. As amostras estão apresentadas em dois grupos; as associados aos rios e descargas de efluentes, aparecendo primeiro as coletados rio acima e depois as coletados rio abaixo; duas amostras de resíduos do aterro sanitário 9 CHEGA DE POLUIÇÃO de dentro da planta. Dois compostos aromáticos, o benzenometanol e o benzaldeído, foram encontrados nas amostras de sedimentos AM0102 e AM0103. O benzenometanol, também conhecido como álcool benzílico, é um líquido com um leve odor aromático e um gosto ardente forte. Ele é produzido pela reação entre o carbonato de sódio ou potássio e o cloreto benzílico. Os seus principais usos incluem a fabricação de outros compostos benzílicos, farmacêutico (antimicrobiano), como solvente, na fabricação de perfumes e flavorizantes (Budavari 1989). O benzaldeído é um óleo artificial essencial de amêndoa. É usado no preparo de certos pigmentos de anilina e de outros produtos, incluindo perfumes e flavorizantes. Também é usado como solvente. O benzaldeído é narcótico em altas concentrações e pode causar dermatite de contato (Budavari 1989). Além disso, o isômero-beta do hexaclorociclohexano (HCH-beta) foi detectado na amostra AM0102. A presença de HCH-beta nesse local pode ser devido ao uso do HCH técnico como inseticida no passado, visto que o HCH pode persistir por muitos anos no meio ambiente (Martijn et al. 1993) e que o isômero-beta é o mais persistente entre os isômeros do HCH (ATSDR 1997). As concentrações de todos os metais pesados considerados nesse estudo estavam na faixa dos níveis ambientais esperados para as amostras de controle de sedimentos AM0102 e AM0103. 3.1.1.2 Amostra de efluente AM0100 e sedimento associado AM0101 Essas duas amostras foram coletadas de um ponto de descarga no rio Sarapuí próximo à planta de tratamento da Bayer. Trinta e cinco compostos orgânicos foram isolados da amostra de efluente AM0100 e 17 deles foram identificados de forma confiável. Os grupos de compostos orgânicos encontrados nessa amostra incluem derivados halogenados e não-halogenados do benzeno e da benzenamina (anilina), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), ésteres de fosfato alquil clorados, derivados da quinolina, assim como o 2-(metiltio)benzotiazol, o difenil éter e alcanos cíclicos (ver Tabela 2). A benzenamina, 4-(trifluorometóxi), também conhecida como 4-trifluorometoxianilina, é produzida pela Bayer (Bayer 2000a). Um informe técnico da Bayer para a 4trifluorometoxianilina (Bayer 2000b) lista as aplicações desse composto como "agentes farmacêuticos". Também no mesmo informe técnico o símbolo de perigo "Tóxico" é aplicado à trifluorometoxianilina. Três outros compostos aromáticos contendo nitrogênio foram detectados na amostra AM0100: a N-metilbenzenoamina, a 4-clorobenzoamida e o isocianato-4-(trifluorometoxi)benzeno. Esses compostos podem também estar associados à produção de produtos farmacêuticos ou seus intermediários, visto que a Bayer produz uma grande quantidade de compostos similares (Bayer 2000a). 10 CHEGA DE POLUIÇÃO Vários hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) também foram detectados na amostra de efluente AM0100, incluindo naftaleno e seus derivados metilados, acenafteno, pireno e fluoranteno. Os PAHs são componentes de óleo cru e podem também ser formados durante a combustão incompleta de carvão, óleo e gás (Overton 1994). Três isômeros do tris(monocloropropil) fosfato (TMCPPs) foram identificados na amostra de efluente AM0100 com um alto grau de confiabilidade. De fato, esses compostos foram os mais abundantes no cromatograma dessa amostra. Uma das aplicações dos TMCPPs é um retardador de chama nas espumas de poliuretano rígidas e flexíveis (NRC 2000). Os TMCPPs são geralmente vendidos como misturas sob vários nomes comerciais diferentes incluindo Antiblaze 80, Amgard TMCP, Fyrol PCF e Hostaflam PO 820. A mistura de isômeros de TMCPP identificados na amostra AM0100 apresenta maior semelhança com o Fyrol PCF produzido pela Akzo Nobel. É provável que o Fyrol PCF seja usado pela Bayer na produção de polímeros, e os procedimentos de tratamento empregados não eliminam esse retardador de chama dos efluentes. Alguns outros compostos orgânicos, como o difenil éter, o 1-metóxi-2-metilbenzeno, os derivados de quinolina, os alcenos cíclicos e o 2-(metiltio)benzotiazol, foram identificados de forma confiável na amostra de efluente AM0100. Esses compostos e/ou seus derivados podem ser usados como reagentes na síntese orgânica (Budavari 1989). Setenta e nove compostos orgânicos foram isolados da amostra de sedimento AM0101 coletada junto ao cano que descarrega próximo à planta de tratamento da Bayer. Sessenta e quatro compostos foram identificados de forma confiável, sendo 33 deles bifenilas policloradas (PCBs), dos congêneres tri- a octaclorados. Essa amostra foi também comparada ao padrão da mistura industrial de PCB Arocloro 1254 (conteúdo de cloro de 52 a 54%). A faixa dos congêneres de PCB detectados na amostra mostrou que a amostra contém congêneres adicionais de PCB além dos presentes no Arocloro 1254, bifenilas octacloradas. Isso poderia indicar a presença de duas misturas industriais diferentes de PCBs (também conhecidas como ascaréis) com um conteúdo maior de cloro, ou uma combinação de duas misturas técnicas (ex. Arocloro 1254 (54% cloro) e Arocloro 1260 (60% cloro)). Traços de benzenos clorados também foram encontrados na amostra de sedimento AM0101, o que poderia ser devido ao uso como solvente em óleos de transformadores contendo PCBs (Swami et al. 1992, de Voogt & Brinkman 1989). O agrotóxico clorado DDT e seus derivados foram identificados de forma confiável nessa amostra de sedimento, embora alguns deles estivessem presentes apenas em níveis muito baixos (traços) (ver Tabela 2). O DDT técnico engloba vários derivados e o p,p-DDT é geralmente o componente principal (ATSDR 1997). O padrão de derivados do DDT encontrado nessa amostra provavelmente reflete contaminação histórica, visto que o derivado mais abundante encontrado na amostra foi o p,p'-DDE, um produto da fragmentação do p,p'- 11 CHEGA DE POLUIÇÃO DDT. A mesma explicação poderia ser dada para os isômeros do hexaclorociclohexano (HCH) detectados nessa amostra. O HCH-beta foi mais abundante do que o HCH-alfa, que foi detectado apenas em níveis muito baixos (traços). Sabe-se (Safe 1993) que o HCH técnico contém HCH-alfa como um componente principal, e o HCH-beta é o mais resistente à biodegradação (ATSDR 1997). Os derivados do DDT também foram detectados mais rio abaixo na amostra de sedimento (AM0097), mas apenas em traços. Isômeros de HCH foram detectados nas duas amostras de sedimentos do rio Sarapuí abaixo da planta da Bayer (AM0101 e AM0099), em uma amostra do aterro sanitário (AM0104), e até mesmo na amostra de sedimento do tributário do Sarapuí rio acima da planta da Bayer (AM0102). Ainda não está claro a origem desses compostos para o rio Sarapuí. É possível que a planta de tratamento da Bayer tenha descarregado DDT e HCH no passado ou que a contaminação da bacia do rio seja devido à aplicação do DDT e do HCH como agrotóxicos nessa área. Os PAHs encontrados na amostra de sedimento (AM0101) em geral coincidem com os identificados na amostra de efluente (AM0100). As fontes possíveis de PAHs são descritas acima. O benzaldeído e o benzenometanol também foram detectados na amostra AM0101. No entanto, os mesmos compostos foram encontrados nas amostras de controle (AM0102 e AM0103). Portanto, isso pode indicar o transporte desses compostos da região mais acima do rio ou a descarga da planta de tratamento da Bayer. Os hidrocarbonetos alifáticos (alcanos), tanto os lineares quanto os cíclicos, identificados na amostra AM0101 poderiam indicar contaminação por produtos do petróleo. O composto de organo-estanho tetraciclohexilestanho foi identificado de forma confiável na amostra de sedimento AM0101. Há poucas informações disponíveis sobre esse composto específico. Os compostos de organo-estanho são bastante usados como biocidas em tintas antiincrustantes, fungicidas, acaricídeos, desinfetantes, estabilizadores de calor e luz para PVC rígido, catalizadores para espumas de poliuretano e para reações de transesterificação (Blunden & Chapman 1986). Os tetraorgano-estanhos não têm uso comercial de grande escala, mas são intermediários importantes na fabricação de outros organo-estanhos (Blunden & Chapman 1986). Vários metais pesados foram detectados na amostra de efluente AM0100 em níveis elevados. As concentrações de cobre foram mais de 30 vezes maiores do que os níveis tipicamente esperados para água doce (Mance et al. 1984), o manganês estava em torno de 20 vezes maior (Bowen 1966), o mercúrio estava mais de 800 vezes maior (ATSDR 1997) e o zinco em torno de 6 vezes maior (ATSDR 1997). A amostra de sedimento AM0101 também apresenta níveis bastante elevados de cobre, cádmio, chumbo, mercúrio e zinco em comparação aos níveis tipicamente esperados para sedimentos de água doce (Salomons & Forstner 1984, ATSDR 1997): 22 vezes para o cobre, 30 vezes para o cádmio, aproximadamente 20 vezes para o chumbo, aproximadamente 100 vezes para o mercúrio e aproximadamente 20 vezes para o 12 CHEGA DE POLUIÇÃO zinco. As concentrações de níquel e cromo estavam também levemente elevadas nessa amostra. Os níveis elevados de metais pesados no efluente (AM0100) indicam que os procedimentos de tratamento de resíduos empregados na planta da Bayer não são eficientes para a remoção de metais pesados. Isso leva à contaminação da água e de sedimentos do rio por metais pesados, visto que eles tendem a se juntar ao material em suspensão e a se acumular nos sedimentos de fundo (ATSDR 1997, Bryan & Langston 1992). Os metais pesados exercem uma ampla gama de efeitos tóxicos em humanos, na vida terrestre e aquática e em plantas. Vários desses metais também têm a potencialidade de se bioacumular, incluindo o cádmio, o cromo, o chumbo, o mercúrio e o zinco (ATSDR 1997, Kimbrough et al. 1999, MINDEC 1995). Além disso, certas formas de cádmio e cromo têm propriedades carcinogênicas (DHHS 2000). 3.1.1.3 Amostras de efluente AM0098 e sedimento associado AM0099 Apenas dois compostos orgânicos foram isolados e identificados de forma confiável na amostra de efluente AM0098, o 1,4-diclorobenzeno e o 2-(metiltio)benzotiazol. O 1,4diclorobenzeno foi detectado em todas as amostras desse estudo, exceto na AM0100. O 2(metiltio)benzotiazolo foi também detectado na amostra de efluente AM0100. As fontes possíveis desses compostos são descritas acima (ver seções 3.1.1.1 e 3.1.1.). A amostra de sedimento AM0099, coletada próximo ao cano onde a amostra de efluente AM0098 foi coletada, também conteve menos compostos orgânicos (um total de 41 foram isolados) do que a amostra de sedimento AM0101 coletada junto ao cano da planta de tratamento. Além disso, um número menor (13) foi identificado de forma confiável. A amostra de sedimento AM0099 continha derivados do DDT, embora em número menor do que na amostra AM0101 coletada mais rio acima, e apenas em concentrações-traço. Os isômeros alfa e beta do HCH, o benzaldeído e o 1,4-diclorobenzeno foram também detectados na amostra AM0099 assim como na amostra AM0101. Esses contaminantes poderiam, portanto, ter sido transportados de rio acima, ou poderiam indicar uma deposição local. Vários compostos orgânicos foram identificados de forma confiável na amostra AM0099 que não estavam presentes na amostra AM0101: neofitadieno, fenol, 3-metilfenol (ou meta-cresol), 1H-indolo, e ftalato de bis(2-etilhexila) (DEHP). O neofitadieno é um composto terpenóide que pode ocorrer naturalmente; o 1H-indolo é um composto que pode ser obtido a partir da fração de 240-2600C do piche de carvão; está também presente em fezes (Budavari 1989). O fenol é geralmente um composto fabricado pelo homem, embora seja encontrado na natureza em resíduos animais e em material orgânico. O principal uso do fenol é para a fabricação de plásticos, mas também é usado para fabricar caprolactam e bisfenol A (usados 13 CHEGA DE POLUIÇÃO para fabricar epóxi e outras resinas). O fenol é encontrado em materiais lançados a partir de aterros sanitários e depósitos de resíduos perigosos e tem sido encontrado em águas subterrâneas próximo a esses locais (ATSDR 1997). Os cresóis são produtos naturais que estão presentes em muitos alimentos e em urina animal e humana. Eles também estão presentes na fumaça da madeira e do cigarro, no óleo cru e no piche de carvão. Além disso, os cresóis também são fabricados pelo homem e usados como desinfectantes, para dissolver substâncias e como compostos iniciais para a fabricação de outros compostos (ATSDR 1997). É possível que os compostos fenólicos encontrados nessa amostra possam estar associados à produção da Bayer. No entanto, outras fontes não devem ser desconsideradas, visto que esses compostos não foram detectados na amostra de efluente AM0098. O DEHP foi um dos ftalatos produzidos em maiores quantidades no passado (Menzert & Nelson 1986). Foi usado principalmente como plastificador na produção de PVC mole (Cadogan et al. 1993). É também usado em tintas e pigmentos (Jobling et al. 1995). No entanto, como os ftalatos são os compostos fabricados pelo homem mais abundantes no meio ambiente (Jobling et al. 1995) e podem persistir por longos períodos de tempo, não é possível definir a origem desse composto na amostra AM0099. A faixa de variação de metais pesados detectada na amostra de efluente AM0098 e na amostra de sedimento AM0099 e as suas concentrações foram muito mais baixas do que as encontradas nas amostras AM0100 e AM0101 (ver Tabela 2). Os níveis de chumbo foram 10 vezes mais altos na amostra de efluente e aproximadamente 2 vezes mais altos na amostra de sedimento quando comparados aos níveis esperados para água doce e sedimentos de água doce respectivamente (ATSDR 1997). Os níveis de manganês foram em torno de 20 vezes mais altos na amostra de efluente do que os níveis considerados normais para água doce não-poluída (Bowen 1966). Todos os outros metais considerados nesse estudo estavam na faixa de variação dos níveis esperados. Não se sabe que parte da planta da Bayer descarrega os efluentes por esse cano. Portanto, não se sabe qual poderia ser a fonte desses metais na amostra de efluente. Um uso importante do chumbo, pelo menos no passado, foi como encanamento para a distribuição de água. Os compostos de chumbo são também usados como pigmentos de tinta, estabilizadores de PVC, agrotóxicos, polidores, lubrificantes, como esmalte para cerâmica e porcelana e em cristal de vidro com chumbo, em revestimentos de cabos e na fabricação de tetraetil de chumbo (Budavari et al. 1989, ATSDR 1997). 3.1.1.4 Amostra de sedimento AM0097 rio abaixo da planta da Bayer O padrão dos contaminantes orgânicos na amostra de sedimento AM0097 foi bastante semelhante ao da amostra de sedimento (AM0101) coletada junto ao cano da planta de tratamento rio acima. Cento e vinte e oito compostos orgânicos foram isolados da amostra AM0097, sendo 71 identificados de forma confiável e 37 foram bifenilas policloradas (congêneres triclorados a heptaclorados). Essa amostra foi comparada também a uma mistura 14 CHEGA DE POLUIÇÃO padrão de Arocloro 1254 (conteúdo de cloro de 52 a 54%) e apresentou comparabilidade bastante adequada. Os congêneres octaclorados de PCBs não foram detectados nessa amostra. Quatro isômeros de HCH (alfa, beta, gamma e delta) foram identificados de forma confiável nessa amostra, com o HCH-beta sendo o isômero mais abundante. Apenas um representante dos PAHs, o pireno, foi detectado nessa amostra de sedimento. Quatro benzenos clorados (1,4-diclorobenzeno, dois isômeros tetraclorados e pentaclorobenzeno) foram detectados na amostra AM0097 em níveis-traço. Conforme discutido acima (ver seções 3.1.1.1 e 3.1.1.2), os benzenos tri- e tetraclorados são usados como solventes em óleos de transformadores contendo PCBs e isso pode explicar a presença desses compostos na amostra de sedimento. O pentaclorobenzeno também está presente em fluidos dielétricos e pode entrar no meio ambiente pelo derramamento de transporte atmosférico (Giddings et al. 1994c). Em contraste com a amostra AM0101, mais hidrocarbonetos alifáticos e benzenos alquilados foram detectados na amostra AM0097, o que poderia mostrar a contaminação local por produtos de petróleo. A distribuição de metais pesados encontrados na amostra de sedimento AM0097 foi de modo geral semelhante à encontrada na amostra de sedimento AM0101 (ver Figura 2), mas com os contaminantes em concentrações mais baixas. Isso fornece evidências de que a contaminação por metais pesados nessa parte do Sarapuí é somente devida às entradas da planta de tratamento da Bayer porque, conforme discutido na seção 3.1.1.1, todos os metais pesados analisados nesse estudo estavam presentes em concentrações esperadas rio acima da planta da Bayer. 2500 mg/kg 2000 1500 A M 0101 1000 A M 0097 500 0 Cd Co Hg Ni Cr Cu M n Zn Pb Figura 2. Distribuição de metais pesados nas amostras de sedimentos coletadas do Rio Sarapuí, Brasil. AM0101 - amostra coletada junto ao cano de descarga da planta de tratamento da Bayer, AM0097 - amostra coletada rio abaixo da planta da Bayer. 15 CHEGA DE POLUIÇÃO 3.1.2 O Aterro Sanitário Duas amostras de resíduos (AM0104 e AM0105), coletadas do aterro sanitário da Bayer, apresentam composições bastante diferentes de contaminantes orgânicos e metais pesados. A amostra AM0104 foi uma borra de cor avermelhada e continha quase todos os compostos orgânicos detectados nas amostras coletadas junto à descarga próximo à planta de tratamento (efluente AM0100 e sedimento AM0101). Cento e dezoito compostos orgânicos foram isolados da amostra AM0104 e, desses, 74 foram identificados de forma confiável, incluindo 21 congêneres de bifenilas policloradas, benzenos clorados, benzenoaminas halogenadas, HCH-beta, vários PAHs, benzenos alquilados, difenil éter, alcanos lineares e tetraciclohexilestanho (ver Tabela 2). Mais isômeros de benzenos clorados e PAHs foram encontrados nessa amostra do que na amostra de sedimento AM0101. No entanto, os derivados de DDT, encontrados na amostra de sedimento AM0101, não foram detectados na amostra de resíduo AM0104. A amostra de resíduo AM0104 apresentou o maior nível de cádmio, cobre, chumbo, níquel e zinco dentre todas as amostras consideradas nesse estudo. A semelhança entre as amostras desses dois locais sugere que a amostra AM0104 poderia representar as borras da planta de tratamento de água residual. Além disso, os benzenos clorados e PCBs podem estar presentes como resultado de PCBs com combustão incompleta no incinerador ficando retidos pelos mecanismos de controle de poluição do ar e passando para a água residual da planta de tratamento nos efluentes. No entanto, presentemente não há dados suficientes para estabelecer se esse realmente é o caso. A outra amostra de resíduo coletada do aterro sanitário da Bayer (AM0105) estava claramente diferente da AM0104. Ela consistia de pequenos cilindros de uma cor cinza/amarelo/verde. É possível que fossem catalizadores esgotados ou outros materiais semelhantes. O achado mais importante sobre a amostra de resíduo AM0105 foram os níveis extremamente elevados de mercúrio presentes nessa amostra, 244 mg/kg (partes por milhão). A concentração de mercúrio na amostra AM0105 excedeu 300 a 12.000 vezes os níveis esperados para solo não-contaminado (Alloway 1990, WHO 1989). Um número muito menor de compostos orgânicos foi isolado e identificado de forma confiável do que na AM0104 (ver Tabela 2). Dos onze compostos orgânicos identificados de forma confiável, nove foram hidrocarbonetos alifáticos lineares. O 1,4-Diclorobenzeno foi detectado apenas em níveis de traços. As fontes possíveis para esses compostos foram discutidas em seções anteriores. O diisobutil ftalato (DiBP) foi também detectado na amostra AM0105. Não há dados disponíveis sobre os problemas toxicológicos associados a esse ftalato. No entanto, o 16 CHEGA DE POLUIÇÃO seu parente próximo, o di-n-butil ftalato (DnBP) – que era produzido em grandes quantidades dez a quinze anos atrás (Menzert & Nelson 1986) –, apresenta uma série de efeitos tóxicos em animais de laboratório (Chan & Meek 1994, ATSDR 1997, Wine et al. 1997, Ema et al.1995). 4 CONCLUSÕES Uma ampla gama de poluentes orgânicos e níveis elevados de metais pesados foram encontrados na amostra de efluente da planta de tratamento da Bayer, descarregando no rio Sarapuí, e na amostra de sedimento junto ao ponto de descarga. A amostra de efluente continha PAHs, benzenamina halogenada, benzeno e benzamida; também foi encontrado o retardador de chama Fyrol PCF, que foi o composto mais abundante nessa amostra. A amostra de sedimento continha benzenos clorados, PCBs, derivados do DDT, PAHs e isômeros de HCH, e indica que essa descarga é uma fonte significativa de poluição para o rio. Também é plausível que alguns dos poluentes lá coletados, como os PCBs, originaram-se de resíduos enviados para a incineração nesse local. Uma amostra de sedimento do rio Sarapuí, coletada abaixo da planta da Bayer, apresentou contaminantes similares, mas em níveis menores. A análise de efluentes do cano próximo ao aterro sanitário mostrou que não havia compostos orgânicos ou metais pesados em níveis tão altos quanto nas amostras do ponto de descarga próximo à planta de tratamento. Traços de derivados do DDT e do HCH-beta encontrados na amostra de sedimento junto ao cano próximo ao aterro sanitário podem ter sido descarregados pela Bayer nesse ponto, ou então podem ter sido transportados rio acima ligado às partículas suspensas. O uso local como inseticida também é uma possibilidade. Uma amostra de sedimento do aterro sanitário da Bayer estava altamente contaminada por metais pesados e continha uma ampla gama de poluentes orgânicos incluindo PCBs, benzenos clorados, benzenaminas halogenadas, PAHs e HCH-beta. Essa amostra foi uma borra avermelhada, que poderia ter vindo de uma planta de tratamento de água residual. Assumindo que essa amostra se origine da planta de tratamento de água residual da Bayer, a presença de PCBs e outros compostos cloro-orgânicos poderia indicar a combustão incompleta de resíduos perigosos pelo incinerador. Outra amostra de resíduo do aterro sanitário da Bayer continha mercúrio como o poluente principal em concentrações muito elevadas, indicando que o aterro sanitário recebe uma série de resíduos perigosos. 5 REFERÊNCIAS ABIQUIM (1999) The Brazilian Chemical Industry Directory 1999/2000. Publ: Abiquim (Brazilian Association of the Chemical Industry), 392pp. ATSDR (1997) Toxicological Profiles. 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A vidraria usada nos procedimentos de extração e limpeza foi limpa com detergente, enxaguada com água da torneira e água deionisada, seca na estufa por uma noite a uma temperatura de 105oC, e enxaguada três vezes com pentano com baixo teor de halofórmio. A1.1.1.1. Amostras Sólidas Na preparação para a análise de compostos orgânicos extraíveis, aproximadamente 30 g (peso úmido) foram pesadas e transferidas para um frasco de vidro de 100 ml. Acrescentou-se às amostras naftaleno deuterado (um padrão interno) com uma concentração de 4,7 mg/kg. Foram adicionados 15 ml de pentano e a seguir 5ml de acetona. Todas as amostras foram, então, submetidas a ultra-som por 2 horas. Os extratos foram decantados, filtrados por um filtro separador de fase hidrofóbica e coletados em tubos de reação. Foram então acidificados até um pH 2 com ácido nítrico 10%. Em seguida, uma segunda porção de 15ml de pentano foi adicionada, seguida de 5ml de acetona e o processo de extração foi repetido. Finalmente, ambos os extratos de cada amostra foram combinados e evaporados até um volume de aproximadamente 3ml. O extrato concentrado foi limpado por meio de uma coluna de Florisil, eluído com uma mistura de de pentano:tolueno 95:5, e evaporado até um volume de 2ml sob uma corrente de nitrogênio de grau analítico. Então, acrescentou-se 1-bromonaftaleno a uma concentração de 10mg/l para fornecer uma indicação de desempenho da GC/MS. A1.1.1.2. Amostras Aquosas Antes da extração, acrescentou-se às amostras naftaleno deuterado (um padrão interno) numa concentração de 10mg/l. Foram adicionados 20 ml de pentano, e a amostra foi agitada durante 2 horas (em um agitador) para maximizar o contato entre o solvente e a amostra. Após a separação das fases, o extrato do solvente foi filtrado com um filtro separador de fase hidrofóbica e coletado em um tubo de reação pré-lavado. A amostra aquosa foi acidificada até um pH 2 com ácido nítrico a 10%. Uma segunda porção de 20 ml de pentano foi adicionada e o processo de extração repetido. Ambos os extratos foram combinados e purificados conforme descrito acima para as amostras sólidas. 20 CHEGA DE POLUIÇÃO A1.1.2. Análise Cromatográfica Os compostos orgânicos foram identificados qualitativamente por meio de Cromatografia Gasosa - Espectrometria de Massas (GC-MS). O aparelho usado foi um cromatógrafo de gás HP-5890 Série II, com interface para um sistema de dados HP Chem-Station, e acoplado a um detector seletivo de massa HP 5972-MSD operado no modo de varredura. A identificação dos compostos foi feita por comparação por computador em relação aos dados de uma biblioteca HP Wiley 275, contendo 275.000 espectros de massa, combinada com uma interpretação técnica. Todos os extratos também foram analisados usando o método de monitoramento de íon seletivo (MIS) em relação a duas soluções padrão. As listas dos compostos contidos no Padrão I e no Padrão II são apresentadas abaixo. Todos os padrões individuais foram obtidos da Sigma Aldrich Co. Ltda, Supelco, Reino Unido. Além disso, amostras foram analisadas usando o método MIS em relação à mistura padrão de PCBs Arocloro 1254, obtida da Chem Service Inc., Reino Unido. A.1.1 Lista de compostos no Padrão I usados para a análise de MIS Composto Benzeno, 1,3-dicloroBenzeno, 1,4-dicloroBenzeno, 1,2-dicloroBenzeno, 1,3,5-tricloroFenol, 2,4-dicloroBenzeno, 1,2,4-tricloroBenzeno, 1,2,3-tricloroDiclorvos Benzeno, 1,2,3,5-tetracloroBenzeno, 1,2,4,5-tetracloroBenzeno, 1,2,3,4-tetracloroBenzeno, pentacloroHCH-alfa Benzeno, hexacloroSimazina HCH-beta HCH-gama HCH-delta o,p'-DDE p,p'-DDE o,p'-DDD p,p'-DDD o,p'-DDT p,p'-DDT Íons para monitorar 146, 148, 111, 75 146, 148, 111, 75 146, 148, 111, 75 180, 182, 145, 74 162, 164, 63, 98 180, 182, 145, 109 180, 182, 145, 109 109, 185, 79, 47 216, 214, 218, 179 216, 214, 218, 179 216, 214, 218, 179 250, 252, 248, 215 181, 183, 219, 217 284, 286, 282, 249 200, 215, 202, 173 181, 183, 219, 217 181, 183, 219, 217 181, 183, 219, 217 246, 248, 318, 176 246, 318, 246, 316 235, 237, 165, 199 235, 237, 165, 199 235, 237, 165, 199 235, 237, 165, 199 21 CHEGA DE POLUIÇÃO Os resultados são apresentados como uma lista daqueles compostos identificados seguramente e por tentativa. Espectros que coincidem 90% ou mais com os da biblioteca HP Wiley 275 ou a identificação confirmada em relação a compostos padrão (usando os tempos de retenção e os espectros de massa obtidos durante a calibração) devem fornecer identificações confiáveis. A identificação por tentativa refere-se a qualidades entre 51% e 90% em relação à biblioteca HP Wiley 275 apenas. Os compostos analisados cujos espectros coincidem em 50% ou menos são considerados como não-identificados. Composto Fenol, 2-cloroFenol, 2-metilFenol, 3-metil- e 4-metilFenol, 2,5-dicloroFenol, 2,3-dicloroFenol, 4-cloroFenol, 2,6-dicloroButadieno, hexacloroFenol, 2,3,5-tricloroFenol, 2,4,5-tricloroFenol, 3,5-dicloroFenol, 2,3,6-tricloroFenol, 3,4-dicloroAtrazina Fenol, pentacloroClordano I Clordano II PCB-153 PCB-138 PCB-180 Íons para monitorar 128, 64, 92, 39 108, 79, 90, 51 108, 107, 79, 77 162, 164, 63, 99 162, 126, 63, 99 128, 65, 130, 100 162, 164, 63, 98 225, 190, 260, 118 196, 198, 160, 97 196, 198, 97, 132 162, 164, 99, 63 196, 198, 97, 132 162, 164, 99, 63 200, 215, 202, 173 266, 268, 264, 165 373, 375, 272, 237 373, 375, 272, 237 360, 362, 290, 218 360, 362, 290, 292 394, 396, 324, 252 A.1.2 Lista de compostos no Padrão II usados para a análise de MIS A1.2. Análise de Metais Pesados A1.2.1. Preparo das amostras para a análise de metais pesados Todos os compostos foram de Alto Grau Aristar de Pureza. Toda a vidraria foi limpa com detergente, enxaguada com água de torneira e água deionizada, posta em solução de ácido nítrico a 10% durante uma noite, enxaguada com água deionizada e seca em estufa. 22 CHEGA DE POLUIÇÃO A1.2.1.1. Amostras Sólidas As amostras foram secas ao ar até pesagem constante (aproximadamente 5 dias). Elas foram, então, trituradas usando um pilão e um almofariz até ficarem homogêneas e passadas por uma peneira de 2 mm. 0,5 g da amostra foi pesado e transferido para um tubo de ensaio de 100 ml. Acrescentou-se 10 ml de água deionizada, e a seguir 7,5 ml de ácido clorídrico concentrado e 2,5 ml de ácido nítrico concentrado. As amostras foram digeridas em temperatura ambiente por uma noite antes de serem colocadas em um bloco de digestão Gerhardt Kjeldatherm (40 espaços) conectado a uma unidade de lavagem de gases Gerhardt Turbosog (com hidróxido de sódio a 10% w/v). As amostras foram então postas em refluxo a uma temperatura de 130 °C durante quatro horas. Após esfriar à temperatura ambiente, os materiais digeridos foram filtrados para balões volumétricos, diluídos com água deionizada, até alcançar um volume de 50 ml, e misturados. Um Material de Referência Padrão, BCR-143 (elementos traços em solo reformado de borra de esgoto), certificado pela Comissão das Comunidades Européias, em Bruxelas, e uma amostra branca, foram preparados com a série de amostras. Todos foram preparados em uma solução de ácido clorídrico a 15% v/v e ácido nítrico a 5% v/v. A1.2.1.2. Amostras Aquosas No recebimento, 100 ml de amostra foram transferidos a um frasco limpo de vidro e acidificados com ácido nítrico a 10% v/v. 50 ml dessa solução foram posteriormente transferidos a um tubo de ensaio de 100 ml, colocados no bloco de digestão Gerhardt Kjeldatherm, e postos em refluxo a uma temperatura de 130 °C durante quatro horas. Após esfriar à temperatura ambiente, os materiais digeridos foram filtrados para balões volumétricos, diluídos com água deionizada, até um volume de 50 ml, e misturados. A1.2.2. Espectrometria de emissão atômica com fonte de plasma indutivamente acoplado (ICP-AES) Após o preparo, as amostras foram analisadas pelo ICP-AES, usando um Espectrômetro Seqüencial Varian Liberty-100. Os seguintes metais foram quantificados diretamente: manganês, cromo, zinco, cobre, chumbo, níquel, cobalto e cádmio. Um padrão de calibração de instrumento multi-elementar foi preparado em uma concentração de 10 mg/l, matriz igualada com amostras (isto é, em ácido clorídrico a 15% v/v e ácido nítrico a 5% v/v). A calibração foi validada usando um padrão de controle de qualidade (8 mg/l), preparado internamente a partir de diferentes estoques de reagentes. Qualquer amostra que excedeu o intervalo de calibração foi diluída e re-analisada. O mercúrio (Hg) foi determinado usando Geração de Vapor Frio ICP-AES. O Hg (II) foi reduzido a Hg (0), isto é, vapor, após a redução das amostras com borohidreto de sódio a 0,6% w/v, hidróxido de sódio (0,5% w/v) e ácido clorídrico (10 molar). O vapor foi transportado até 23 CHEGA DE POLUIÇÃO o espectrômetro em uma corrente de argônio. Dois padrões de calibração foram preparados em uma concentração de 10 ug/l e 100 ug/l, matriz igualada às amostras (isto é, em ácido clorídrico a 15% v/v e ácido nítrico a 5% v/v). A calibração foi validada usando um padrão de controle de qualidade (80 ug/l), preparado internamente a partir de diferentes estoques de reagentes. Qualquer amostra que excedeu o intervalo de calibração foi diluída e re-analisada. 24 CHEGA DE POLUIÇÃO APÊNDICE 2 PERFIS TOXICOLÓGICOS PARA OS PRINCIPAIS COMPOSTOS ORGÂNICOS A2.1. Bifenilas policloradas (PCBs) As bifenilas policloradas (PCBs) são um grupo de compostos orgânicos sintéticos que contém 209 compostos individuais (conhecidos como congêneres) com efeitos prejudiciais variados. Não há fontes naturais conhecidas de bifenilas policloradas no meio ambiente. Os PCBs são líquidos ou sólidos oleosos, e possuem coloração de transparente a amarelo fraco. Os PCBs entram no meio ambiente como misturas contendo uma série de componentes individuais e impurezas. As bifenilas policloradas (PCBs) foram usadas com uma série de aplicações, incluindo óleos de transformadores, fluidos hidráulicos, plastificantes, batons “24 horas” e papel carbonado. Também foram usados em condensadores dielétricos, fluidos de transferência de calor, óleos lubrificantes e para corte, em tintas e cartuchos de impressora (ATSDR 1997). Os PCBs sempre foram vendidos como misturas químicas ao invés de compostos individuais. de Voogt & Brinkman (1989) listam 46 nomes comerciais usados para os PCBs e produtos contendo PCBs. Desses, a série Arocloro fabricada pela empresa norte-americana Monsanto foi provavelmente a mais amplamente usada. As aplicações mais importantes dos PCBs em termos de tonelagem foram os óleos de transformadores e os condensadores (de Voogt & Brinkman 1989). Em óleos de transformadores, os PCBs foram misturados com clorobenzenos (principalmente triclorobenzenos e tetraclorobenzenos) como solventes (Swami et al. 1992, de Voogt & Brinkman 1989). Os PCBs são também sintetizados como subprodutos em processos que variam de incineradores (USEPA 1998, Ballschmiter et al. 1989, Alcock et al. 1998) a processos metalúrgicos (Knutzen & Oehme 1989, Alcock et al. 1998, Thiesen et al. 1993) à fabricação de pigmentos (USEPA 1998). Os PCBs podem ser absorvidos pela pele assim como pela ingestão e inalação. Para a população geral, hoje, a comida é a principal fonte de contaminação, embora a exposição dérmica possa ser dominante entre as pessoas que manuseiam diretamente os PCBs ou materiais contendo PCBs (Lees et al. 1987). O câncer de rim foi relatado em trabalhadores com conhecida exposição a PCBs, embora não haja dados suficientes para possibilitar uma análise estatística e mais pesquisas precisam ser feitas (Shalat et al. 1989). Em uma revisão acerca da pesquisa epidemiológica sobre PCBs detectou-se que o câncer de rim e pele eram marginalmente significativos, mas os revisores consideraram o conjunto dos estudos inconclusivo (Longnecker et al. 1997). A exposição a PCBs "limpos" em um cenário ocupacional exerce efeitos no sistema nervoso central humano, com sintomas como dores de cabeça, fadiga e sinais nervosos lentos (Rogan & Gladen 1992). 25 CHEGA DE POLUIÇÃO Em uma revisão sobre a toxicidade dos PCBs, Safe (1984) lista os seguintes sintomas: indução de enzimas; níveis de vitamina A diminuídos; diminuição dos elementos linfóides do sangue; atrofia do timo e do baço; imunosupressão; acne; alopécia (perda de cabelos em áreas do couro cabeludo); edema; hiperceratose (engrossamento da pele); blefarite (inflamações das pálpebras); hiperplasia (crescimento anormal de qualquer tecido) do revestimento epitelial dos dutos biliares extra-hepáticos, da vesícula biliar e do trato urinário; hepatomegalia (aumento do fígado); danos ao rim, incluindo necrose; hemorragia; hepatotoxicidade (alteração do metabolismo das porfirinas interferindo na formação das hemáceas); promoção de tumores; alteração dos níveis de esteróides e hormônios tireoidianos; alterações do sistema reprodutivo feminino e masculino, incluindo irregularidades menstruais, concepção reduzida (dificuldade em engravidar), indução de aborto em fases iniciais da gravidez, sangramentos menstrual e puerperal excessivos, anovulação, atrofia testicular, espermatogênese diminuída, teratogênese e alterações do desenvolvimento embrionário. Além disso, níveis baixos de PCBs causaram distúrbios comportamentais em macacos (Rice 1999). Os Arocloros 1221, 1254 e 1268 todos reduziram as taxas de fertilização in vitro de ratos, com o PCB 1254 sendo a mistura mais potente (Kholkute et al. 1994). O Arocloro 1254 também comprometeu a resposta do sistema imunológico de minhocas (Roch & Cooper 1991). Embora grande parte da pesquisa toxicológica esteja ligada a misturas de PCBs, os congêneres individuais têm efeitos distintos e agem por meio de vários mecanismos diferentes. Alguns dos PCBs são chamados coplanares, visto que as moléculas podem assumir uma forma plana, podendo agir toxicologicamente como as dioxinas. Alguns congêneres, ou seus metabólitos, exibem disrupção endócrina (atuam no organismo como se fossem hormônios, alterando o metabolismo), incluindo estrogenicidade e antiestrogenicidade. Em geral, os PCBs com substituição orto são estrogênicos, e os PCBs coplanares são anti-estrogênicos, como é a 2,3,7,8-TCDD (Li et al. 1994). De acordo com uma revisão recente (Brouwer et al. 1999), os PCBs podem afetar não apenas os níveis hormonais de estrógenos, mas também os níveis de hormônios androgênicos, tireoidianos, hipofisários, corticosteróides e vários outros hormônios. Além disso, efeitos nos hormônios tireoidianos em populações selvagens de pássaros e leões-marinhos em cativeiro, que se alimentam de peixes, foram correlacionados à exposição a PCBs (Brouwer et al. 1999). Os PCBs com substituição orto (não semelhantes à dioxina) também apresentaram os maiores efeitos na função neuroquímica. Descobriu-se que eles reduziam a síntese de dopamina e posteriormente estabeleceu-se que os efeitos eram causados pelos congêneres e não pelos seus metabólitos. O 2,2'-diclorobifenil (PCB 4) foi o congênere mais potente (Seegal & Shain 1992). O PCB 77 semelhante à dioxina (3,3',4,4'-TeCB) também causou alterações comportamentais e neuroquímicas, a longo prazo, em animais de laboratório, incluindo alterações na função 26 CHEGA DE POLUIÇÃO dopamínica. Esse congênere, no entanto, não se acumulou no tecido cerebral da mesma forma que alguns congêneres com substituição orto, indicando que opera através de um outro mecanismo, ou que um metabólito é o agente ativo (Seegal & Shain 1992). O extenso conjunto de informações em relação ao ciclo de contaminação de PCBs no planeta foi acumulado em resposta a preocupações sobre o impacto ambiental desses compostos. Os PCBs são altamente persistentes. Embora haja evidências de biodegradação em sedimentos contaminados (ver: Brown & Wagner 1989) e haver alguns mamíferos marinhos que aparentam ser capazes de degradar seletivamente alguns dos congêneres clorados mais baixos (Boon et al. 1987), o potencial de desintoxicação desses processos parece ser limitado. De fato, Cummins (1988) sugeriu que se não forem evitados maiores escapes de PCBs no ambiente a extinção eventual de mamíferos marinhos é uma hipótese bastante real. Os níveis de PCBs em material biológico podem ser várias vezes mais concentrados que o do ambiente. Os PCBs são bioacumulados a um fator de 6.000 vezes para peixes e 47.000 para invertebrados (Jones et al. 1988). Train (1979) relata fatores de bioacumulação entre 2.500 e 100.000 vezes. Os efeitos da exposição crônica a PCBs em mamíferos marinhos inclui deformidade física e distúrbios na reprodução (Reijinders 1986). Mais recentemente, eles foram envolvidos nos surtos de doenças entre populações de focas e golfinhos (ver revisão por Gilbertson 1989) sugerindo que eles podem ter uma influência de romper a proteção imunológica. Os PCBs são controlados pela maioria dos instrumentos legais internacionais relacionados a organoclorados, inter alia, o de Barcelona, Helsinki, Basiléia, Bamako, a Convenção sobre Poluição Industrial de Oslo- Paris (OSPAR), a Convenção sobre Poluição Transfronteiriça de Longo Alcançe de Rotterdam (LRTAP) e a Comissão Internacional Sobre os Grandes Lagos. Além disso, os PCBs são alvos para um banimento global de produção de acordo com a Convenção do UNEP sobre POPs que será assinada em Estocolmo, em maio de 2001. Dentro da Comunidade Européia (CE), as aplicações dos PCBs foram primeiramente restringidas pela Diretiva 76/769/EEC, que lida com o mercado e o uso de substâncias e preparações perigosas (EC 1976). Essa Diretiva, e sua emenda (CE 1991), restringiram as aplicações de PCBs e seus substitutos, as terfenilas policloradas (PCTs). As regulamentações da CE sobre a disposição de PCBs, conforme delineadas na Diretiva de 1996, dita que a eliminação gradativa dos PCBs deve se completar até 2010. Além disso, legislações nacionais deveriam ser adotadas até março de 1998. Vários países perderam esse prazo e na metade de 1999, a CE iniciou uma ação pela Corte de Justiça Européia contra a Alemanha, a Grécia, a Espanha, Portugal e o Reino Unido por falharem em implementar a Diretiva (ENDS 1999). 27 CHEGA DE POLUIÇÃO O Ato dos Estados Unidos para Controle de Substâncias Tóxicas (TOSCA - Toxics Substances Control Act) designa resíduos contendo mais do que 50ppm de PCBs como perigosos (Rogan 1995). Referências Alcock, R.E., Behnisch, P.A., Jones, K.C. & Hagenmaier, H. (1998) Dioxin-like PCBs in the environment human exposure and the significance of sources. Chemosphere 37(8): 1457-1472 ATSDR (1997) Toxicological Profiles. 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OJ L 262: 201-203 EEC (1991) Council Directive 91/339/EEC of 18 June 1991 amending for the 11th time Council Directive 76/769/EEC on the approximation of the laws, regulations and administrative provisions of the Member States relating to restrictions on the marketing and use of certain dangerous substances and preparations. OJ L 186, 12.7.1991: 64-65 ENDS (1999) UK in dock over PCBs directive. ENDS Report 294, July 1999, p. 43 Gilbertson, M. (1989) Effects on fish and wildlife populations. In: Kimbrorugh R.D. & Jensen, A.A. [editors]. Halogenated biphenyls, terpehenyls, naphthalenes, dibenzodioxins and related products. Elsevier, Amsterdam. Kholkute, S.D., Rodriguez, J. & Dukelow, W.R. (1994) The effects of polybrominated biphenyls and perchlorinated terphenyls on in vitro fertilization in the mouse. Archives of Environmental Contamination and Toxicology 26: 208-211 Knutzen, J. & Oehme, M. 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Nature 324: 456-457 Rice, D.C. (1999) Behavioral impairment produced by low-level postnatal PCB exposure in monkeys. Environmental Research Section A 80: S113-S121 Roch, P. & Cooper, E.L. (1991) Cellular but not humoral antibacterial activity of earthworms is inhibited by Aroclor 1254. Ecotoxicology and Environmental Safety 22: 283-290 Rogan, W.J. & Gladen, B.C. (1992) Neurotoxicology of PCBs and related compounds. NeuroToxicology 13: 2736 Rogan, W.J. (1995) Environmental poisoning of children- lessons from the past. Environmental Health Perspectives 103, 6: 19-23 Safe, S. (1984) Polychlorinated biphenyls (PCBs) and polybrominated biphenyls (PBBs): Biochemistry toxicology and mechanism of action. CRC Critical Reviews of Toxicology 13(4), 319-395 Seegal, R.F. & Shain, W. (1992) Neurotoxicity of polychlorinated biphenyls. The role of ortho-substituted congeners in altering neurochemical function. 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Publ: USEPA EPA/600/P-98/002a A2.2 Hexaclorociclohexano (HCH) As misturas de hexaclorociclohexano são produzidas pela reação fotoquímica entre cloro e benzeno (Safe 1993). O hexaclorociclohexano (HCH) de grau técnico engloba várias formas diferentes de isômeros. O conteudo isomérico aproximado é HCH-alfa (60-70%), HCH-beta (7-10%), HCH-gama (14-15%), HCH-delta (7%), HCH-epsilon (1-2%). O lindano é o isômero gama do hexaclorociclohexano e é produzido comercialmente pela purificação do HCH técnico (Safe 1993). Esse composto tem sido produzido no mundo para uso como inseticida para controlar gafanhotos, pestes do algodao e do arroz, larvas de elaterídeo e outras pestes do solo (Safe 1993). O lindano tem sido usado para a proteção de sementes, para o tratamento de aves e animais de granja e para o controle de insetos domésticos. Também é usado na escabiose e como pediculicida, geralmente em loções, cremes e xampus. O HCH-alfa, -beta e -gama são os isômeros mais importantes em termos de impacto ambiental. A estabilidade e lipofilia relativamente alta do HCH e o seu padrão de uso global resultaram em contaminacao ambiental significativa por esse hidrocarboneto clorado. Uma vez introduzido no meio ambiente, o HCH pode persistir por muitos anos (Martijn & Schreuder 1993). O isômero beta é mais persistente do que os outros (ATSDR 1997). A ingestão humana de compostos de HCH ocorre principalmente através do consumo de alimentos (Toppari et al. 1996, Safe 1993). A natureza geralmente menos difundida dos 29 CHEGA DE POLUIÇÃO isômeros alfa e gama em comparação ao HCH-beta é devida à eliminação mais rápida desses isômeros do corpo. Assim como muitos organoclorados persistentes, os níveis de HCH no corpo tendem a aumentar com a idade (ASTDR 1997). Os isômeros de hexaclorociclohexano já foram detectados no ar, nas águas de superfície e subterrânea, em solo e sedimentos (Etl-Gendy et al. 1991), em plantas (Xu 1994), em pássaros, peixes e mamíferos (Smith 1991, Xu 1994, Abd-Allah 1994, Norstrom & Muir 1994). Em humanos, o lindano se concentra principalmente no tecido adiposo (Safe 1993). Foi relatado que o lindano e outros compostos organoclorados podem ser transferidos pela rota solo→minhoca→pássaro/mamífero (Hernandez, et al. 1992, Romijn et al. 1994), causando, assim, intoxicação secundária. O lindano, isômero-gama do hexaclorociclohexano, é toxico para animais, humanos e espécies aquáticas. A intoxicação animal aguda pelo lindano causa aumento da freqüência respiratória, inquietação com um aumento na freqüência urinária, espasmos musculares intermitentes do corpo inteiro, salivação, ranger de dentes e o conseqüente sangramento na boca, movimentos para trás com a perda do equilibrio e giro do corpo, retração da cabeca, convulsões, respiração ofegante, dentes cerrados, e colapso e morte normalmente no prazo de um dia (Smith 1991). Efeitos crônicos na saúde podem ocorrer momentos após a exposição ao lindano e podem durar meses ou anos. O lindano causa câncer de fígado, pulmão, glândulas endócrinas e outros tipos em animais (Smith 1991). A superexposição repetida pode causar dano hepático. Os efeitos tóxicos crônicos podem também incluir expectativa de vida reduzida, problemas reprodutivos, redução da fertilidade, e mudanças na aparência ou no comportamento. As ações diferenciadas dos isômeros do hexaclorociclohexano podem produzir efeitos variados em diferentes regiões dos sistemas nervosos e em diferentes espécies de animais (Nagata et al. 1996). O hexaclorociclohexano pode ser introduzido no meio ambiente a partir de descargas industriais, aplicações de inseticidas ou derramamentos, e pode causar danos significativos. Os efeitos tóxicos agudos podem incluir a morte de animais, pássaros, ou peixes, e a morte ou diminuição da taxa de crescimento de plantas (Bunton 1996, Smith 1991). A carga de inseticida em águas de superfície geralmente não atinge concentrações agudamente tóxicas à fauna aquática. No entanto, o lindano tem alta toxicidade crônica para a vida aquática. Os efeitos das baixas concentrações de inseticidas com freqüência aparecem apenas após períodos de exposição relativamente longos. A exposição crônica a inseticidas, como o lindano, (Schulz et al. 1995) pode apresentar riscos para macroinvertebrados de água doce, mesmo em concentrações muito baixas. Os efeitos da baixa concentração podem depender da espécie e da substância e, portanto, não é possível prevê-los a partir de dados de toxicidade de concentrações mais elevadas. O hexaclorociclohexano, como composto tóxico, persistente e bioacumulativo, está sujeito à legislação da Comunidade Européia. Os valores limite e as metas de qualidade para as 30 CHEGA DE POLUIÇÃO descargas de hexaclorociclohexano são estabelecidos pela Diretiva do Conselho da Comunidade Econômica Européia 84/491/EEC (EEC 1984) como emendas. Os usos do hexaclorociclohexano (incluindo o lindano) foram severamente restritos pelo Protocolo de Poluentes Organicos Persistentes (POPs) do LRTAP, adotado em 1998 e que tem 36 partes contratantes, englobando não apenas a Europa, mas também o Canadá e os Estados Unidos (UNECE 1998). O Protocolo de POPs é parte da Convenção de 1979 sobre a Poluição do Ar Transfronteiriça de Longa Distância (LRTAP, do inglês “Long Range Transboundary Air Pollution”), que está sob o auspício do Conselho Econômico das Nações Unidas Para a Europa. O lindano tambem está incluído no Anexo III da Convenção de Rotterdam sobre o procedimento de Consentimento Previamente Informado (procedimento PIC, do inglês “Prior Informed Consent”), junto com outros 27 compostos (FAO/UNEP 1998). Sob o procedimento PIC os paises não podem exportar qualquer composto químico para qualquer outro país sem primeiro receber permissão explícita. Para evitar as barreiras de comércio injustas resultantes da implementação da Convenção, qualquer país que recusar a importação de qualquer composto químico deve também interromper sua produção doméstica desse composto e não pode importá-lo de nenhum outro país que faz parte da Convenção. 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Os TMCPPs não ocorrem naturalmente, mas são fabricados a partir do óxido de propileno e do oxicloreto de fósforo (IPCS 1998). Os TMCPPs são usados como retardadores de chama em espumas de poliuretano rígidas e flexíveis, embora ambos possam ser usados para acabamentos têxteis (não vestuário) (NRC 2000). De acordo com o Programa Internacional Sobre Segurança Química, (IPCS 1998), a demanda internacional anual para TMCPPs excedeu 40.000 toneladas métricas em 1997. As misturas de TCPP são vendidas sob vários diferentes nomes comerciais incluindo Antiblaze 80, Amgard TMCP, Fyrol PCF, e Hostaflam PO 820. O tris(1-cloro-2-propil) fosfato não é imediatamente biodegradado em inoculações de borra de esgoto, embora seja rapidamente metabolizado por peixes (IPCS 1998). Esses compostos são relativamente estáveis e apenas passam pela hidrólise lenta sob condições de alcalinidade baixa ou ácidas. Pouco ou nada mais se sabe sobre os produtos da degradação dos TMCPPs, 32 CHEGA DE POLUIÇÃO além das condições de combustão, que leva à produção de ácido clorídrico e hidrocarbonetos clorados (Akzo Nobel 1999). Traços de tris(1-cloro-2-propil) fosfato foram detectados em efluentes industriais e domésticos, mas não em águas e sedimentos de superficie (IPCS 1998). Também três isômeros de TMCPP foram detectados em amostras do ar de alguns locais comuns de trabalho em ambientes fechados, como em escritório, em creches e em escolas (Carlsson et al. 1997). O tris(1-cloro-2-propil) fosfato é de toxicidade baixa a moderada por via oral (LD50 em ratos é 101-4200 mg/kg peso corporal), dérmica (LD50 em ratos e coelhos > 5000 mg/kg peso corporal) e de inalação (LD50 em ratos é > 4,6 mg/litro) (IPCS 1998). Os estudos sobre a irritação nos olhos e na pele em coelhos indicaram que o tris(1-cloro-2-propil) fosfato não é irritante ou que é pouco irritante. A toxicidade reprodutiva, a imunotoxicidade e o potencial carcinogênico do tris(1-cloro-2propil) fosfato ainda não foram estudados. Não há dados sobre a toxicidade subcrônica e crônica dos TMCPPs para vias dérmicas, de inalação e orais de exposição (NRC 2000). O Conselho Nacional de Pesquisa (NRC, do inglês “National Research Council”) recomenda estudos adicionais sobre os efeitos da emissão de vapores de TMCPPs no ar e em solução salina de tecidos tratados (NRC 2000). Além disso, não há estudos disponíveis sobre os efeitos desse retardador de chama em humanos. No entanto, valores de toxicidade aguda para outros organismos no meio ambiente estão disponiveis, com os valores de LD50 variando de 3,6 a 180 mg/litro. Informações sobre a toxicidade aquática mostram que mudanças ocorrem em algas, dáfnias e peixes em concentrações de 6, 32 e 9,8 mg/litro, respectivamente (IPCS 1998). Apesar da falta de informações sobre o potencial carcinogênico dos TMCPPs identificados, estudos sobre um composto bastante similar, o tris(2-cloroetil) fosfato, mostraram que ele apresenta propriedades carcinogênicas quando testado em camundongos e ratos (IPCS 1998). Referências Akzo Nobel (1999) Fyrol PCF safety data sheet Carlsson, H., Nilsson, U., Becker, G., and Ostman, C. (1997) Organophosphate flame retardants and plasticizers in the indoor environment: analytical methodology and occurrence. Environmental Science and Technology 31(10):2931-2936 ICPS (International Program on Chemical Safety) (1998) Environmental Health Criteria 209: Flame retardants: Tris(chloropropyl) phosphate and tris(2-chloroethyl) phosphate. Geneva: World Health Organization NRC (National Research Council) (2000) Toxicological risks of selected flame-retardant chemicals. National Academy Press. Washington DC, ISBN 0-309-07047-3, 512p. 33 CHEGA DE POLUIÇÃO A2.4 Benzenos Clorados A produção de benzenos clorados é uma operação de produtos múltiplos obtido através da cloração direta do benzeno na fase líquida usando um catalisador cloreto ferrico. Somente controle limitado pode ser aplicado na mistura final. Tanto as mudanças tecnológicas como as preocupações ambientais têm afetado severamente a produção de clorobenzenos. Atualmente somente monoclorobenzeno e 1,2 e 1,4 diclorobenzeno são produzidos em grandes quantidades (Bryant 1993, CEC 1986). A produção de 12 benzenos clorados é possível, com os seguintes padrões de substituição: 1 cloro: monoclorobenzeno, 2 cloros: 1,2-di-, 1,3-di- e 1,4-diclorobenzenos 3 cloros: 1,2,3-tri-, 1,2,4-tri- e 1,3,5-triclorobenzenos 4 cloros: 1,2,3,4-tetra-, 1,2,3,5,-tetra- e 1,2,4,5-tetraclorobenzenos 5 cloros: pentaclorobenzeno 6 cloros: hexaclorobenzeno Mono (MCB) e di-clorobenzenos (DCB) O clorobenzeno, o 1,2-diclorobenzeno e o 1,3-diclorobenzeno são líquidos incolores e o 1,4 diclorobenzeno forma cristais incolores a temperatura ambiente (Wareo1988a e b). Um dos primeiros usos do clorobenzeno foi como intermediário para o explosivo ácido pícrico durante a 1a Guerra Mundial (CEC 1986). Atualmente é empregado como solvente e como intermediário na síntese química. Nos Estados Unidos na década de 80 era predominantemente utilizado para a produção de orto-clorobenzeno e para-clorobenzeno. Estes compostos são utilizados como intermediários para químicos, plásticos, antioxidantes, corantes e pigmentos, produtos farmacêuticos e químicos agrícolas. O fungicida Benomil o carbofurano e o grupo Paration de inseticidas são todos derivados do clorobenzeno. Um dos usos anteriores dos clorobenzenos foi também na produção de DDT. A produção de clorobenzeno tem diminuído devido ao desenvolvimento de outras alternativas para a produção da anilina e o fenol, bem como a restrição do do uso de DDT (Bryant, 1993) Os clorobenzenos se bioacumulam em algas, peixes e invertebrados aquáticos. A exposição humana causa depressão do SNC e irritação no trato respiratório, em animais, estudos têm reportado necrose hepática, toxicidade renal bem como efeitos no pâncreas, sangue e glândulas adrenais (Ware 1988a, Meek et al. 1994a). Ware (1988b) cita anemia, lesões cutâneas, vômitos, dores de cabeça e de olhos, irritação do trato respiratório, anorexia, perda de peso atrofiamento do fígado, perturbação na crase sanguínea, porfiria e quebras cromossomais em humanos após a exposição a DCB entretanto sem distinguir entre os isômeros. Experimentos 34 CHEGA DE POLUIÇÃO em humanos tem demonstrado danos no fígado e nos rins como os efeitos mais freqüentes, embora altas doses possam causar perturbações do sistema nervoso central e morte por depressão respiratória. Os di-clorobenzenos se bioacumulam em algas, invertebrados aquáticos e peixes (Ware, 1988). O 1,2-Diclorobenzeno é usado principalmente na produção de pigmentos e agrotóxicos após sua conversão em 1,2-dicloro-4nitrobenzeno e dicloroanilina. Outros usos incluem a produção de di-isocianato de tolueno na fase solvente, produção de desodorantes e desinfetantes e em menor escala como líquido refrigerante. Segundo Meek et al. (1994b), seu maior uso é como desengraxante para a indústria metalmecânica. Animais de laboratório expostos a estes compostos exibem sintomas de problemas hepáticos, renais e no sangue bem como degradação linfóide do timo, medula e mineralização multifocal de músculos esquelético e cardíaco (Ware 1988b, Meek et al. 1994b). A toxicidade no desenvolvimento fetal somente observou-se em concentrações que tenham sido tóxicas para a fêmea. A informação de toxicidade em humanos é bastante restrita, entretanto aberrações cromossômicas, anemia e leucemia tem sido registradas. (Meek et al. 1994b). O 1,2-diclorobenzeno é encontrado no ar, nos alimentos, no leite materno e na água potável (Meek et al. 1994b). Este composto é tóxico para plantas superiores, e induz mitose anormal (processo de divisão celular) em cebolas (Ware 1988b) A importância do 1,3-diclorobenzeno está crescendo como matéria prima na produção de pigmentos, agrotóxicos e produtos farmacêuticos sem ter alcançado, entretanto, importância comercial (Bryant 1993). O metabolismo do 1,2-diclorobenzeno em mamíferos é como o descrito para os compostos anteriormente citados, porém geralmente pouco se sabe do 1,3diclorobenzeno comparado com os diclorobenzenos de produção mais comercial. O 1,4diclorobenzeno pode ser absorvido através da inalação de vapores, através da pele e pelo consumo de alimentos contaminados. Os sintomas de contaminação em humanos incluem, danos ao fígado, rins e pulmões. Uma vez absorvido, o 1,4-diclorobenzeno se armazena no tecido adiposo e já tem sido detectado em tecido humano (CEC 1986, Ware 1988b). Triclorobenzenos A legislação ambiental tem diminuído o uso e descarga dos triclorobenzenos no meio ambiente, pelo menos na Europa e nos Estados Unidos (Harper et al. 1992, Bryant 1993). Por isso não chama a atenção de que tenham sido realizados menos estudos com triclorobenzenos em comparação com outros clorobenzenos. A toxicidade dos três parece ser similar: causam danos no fígado, nos rins e nas tireóides. Existem algumas indicações de uma ligeira toxicidade em fetos quando expostos a doses elevadas. Não existe evidência sobre mutagenicicidade e existe pouquíssima informação sobre sua classificação carcinogênica (Giddings et al. 1994a). 35 CHEGA DE POLUIÇÃO Os três isômeros são tóxicos para o fitoplâncton (Sicko-Goad et al. 1989a-d, Sicko-Goad & Andresen 1993a e b). O 1,2,3-triclorobenzeno tem sido detectado no ar, na água potável e no leite materno (Giddings et al. 1994a) bem como em águas industriais contaminadas (Harper et al. 1992) e em sedimento (Labunska et al. 1998). Entretanto, não foi encontrado em tecido adiposo humano em estudos realizados no Canadá (Hermanson et al. 1997). Pouco se conhece sobre a sua toxicidade além dos danos causados no fígado, rim e tireóides (Giddings et al. 1994a). Existe mais informação disponível sobre o 1,2,4-triclorobenzeno. Segundo Giddings et al. (1994a), somente o 1,2,4-triclorobenzeno possui aplicação industrial no Canadá. Como mencionado anteriormente, é tóxico para o fígado, rins e tireóides causando aumento de peso destes órgãos bem como um aumento na secreção de porfirina. Em alguns casos tem se observado danos mais severos ao fígado como necroses e outros tipos de degenerações (Hermanson et al. 1997). Giddings et al. (1994a) observaram 1,3,5-triclorobenzeno no ar, na água, em alimentos e no leite materno, embora não tenha sido encontrado no tecido adiposo no Canadá (Hermanson et al. 1997). Pode ser encontrado associado a operações industriais (Harper et al. 1992). Tetraclorobenzenos. Giddings et al. (1994) fizeram uma revisão sobre a toxicidade e os dados disponíveis sobre a exposição para os tetraclorobenzenos. A ingestão de 1,2,4,5-tetraclorobenzeno foi estudada em truta arco-íris. Não é suficientemente volátil para evaporar-se da água com facilidade e se acumula em peixes entrando no organismo através das guelras. A bioacumulação depende do ritmo de atividade e da absorção do oxigênio nos peixes, sendo que somente a baixa solubilidade previne que ocorra uma toxicidade significativa (Brauner et al. 1994). A maior exposição da população em geral é provavelmente através dos alimentos. Foi observado que todos os isômeros afetam o fígado, rins, tireóides e pulmões, sendo o 1,2,4,5tetraclorobenzeno o mais tóxico deles. Não é possível classificar estes compostos quanto a sua carcinogenicicidade uma vez que faltam ainda muitas informações. Além dos efeitos mencionados o 1,2,4,5-tetraclorobenzeno tem causado mudanças na medula, no timo, na linfa e em parâmetros hepatológicos em animais (Giddings et al. 1994b). Um aumento nas aberrações cromossômicas foi observado em trabalhadores expostos ao 1,2,4,5-tetarclorofenol num complexo industrial produtor de agrotóxicos (Giddings et al. 1994b). Em ratos o 1,2,3,4e o 1,2,4,5-tetraclorobenzeno causa redução no número de filhotes nascidos com vida, mesmo em fêmeas com concentrações muito baixas (Giddings et al. 1994b). PENTACLOROBENZENO 36 CHEGA DE POLUIÇÃO Estudos têm demonstrado perda de peso e efeitos no fígado, timo, rins, glândulas adrenais e no trato digestivo de animais expostos a este composto. Também foi observada anemia e má formação de espermatozóides. Existem certos indícios de que causa problemas de toxicidade e de desenvolvimento fetal. Promove a redução dos níveis de hormônios tireóideanos impactando, assim, as glândulas tireóides. Ainda não existem dados suficientes para poder designar-lhe um nível de carcinogenicidade. Acumula-se ao longo da cadeia alimentar e é tóxico para as algas (Sicko-Goad et al. 1989d). HEXACLOROBENZENO O hexaclorobenzeno (HCB) é utilizado entre outras coisas, como intermediário na síntese orgânica especialmente de compostos clorados (Budavari et al. 1989). É formado também involuntariamente como subproduto da síntese de compostos organoclorados (Newhook e Meek 1994, Sala et al 1999). A UNECE (1998) lista o HCB juntamente com PCDD/Fs e PAHs como os POPs mais importantes emitidos por fontes fixas. O HCB é tóxico para a vida aquática, plantas terrestres e seres humanos. Está, também, listado na IARC no grupo 2B, o que significa que pode ser cancerígeno em humanos e promotor de tumores. O hexaclorobenzeno pode trazer danos ao desenvolvimento fetal, ao fígado, ao sistema imunológico, as tireóides, aos rins e ao sistema nervoso central (SNC), sendo o fígado e o SNC os mais sensíveis aos efeitos deste composto. A porfiria é um sintoma da toxicidade do HCB. A exposição a níveis elevados ou de maneira sucessiva pode danificar o sistema nervoso e causar irritabilidade, dificuldades de coordenação motora, debilidade muscular e tremores e feridas na pele. A exposição repetida, principalmente, quando produz efeitos na pele, pode levar a mudanças permanentes na pigmentação, espessamento, causar feridas e provocar o aumento e crescimento de pêlos principalmente na face e nos antebraços (ATSDR 1997, Newhook e Meek 1994). Pesquisas recentes (van Birgelen, 1998) demonstraram que o HCB possui uma toxicidade similar às dioxinas demonstrando a necessidade da realização de estudos epidemiológicos principalmente em lactantes de países com níveis de exposição ao HCB. Uma vez no meio ambiente, o HCB se liga fortemente as partículas do solo e dificilmente ocorre a separação (Bahnick e Doucette 1988). O HCB é biacumulativo e se biomagnifica ao longo da cadeia alimentar. Devido a sua toxicidade aguda e crônica e a sua persistência no meio ambiente, o HCB foi selecionado como um dos 12 poluentes orgânicos persistentes (POPs) para ser submetido a uma ação internacional no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Segundo a convenção que está em discussão atualmente o HCB deverá ser totalmente eliminado (UNEP 1995, 1997), e espera-se que seja assinado em Estocolmo em maio de 2001. O HCB também encontra-se em outras listas de substâncias prioritárias a serem banidas como a Convenção OSPAR e os tratados do Mar do Norte. Referências 37 CHEGA DE POLUIÇÃO ASTDR (1997) ATSDR’s toxicological profiles on CD-ROM. U.S. Department of Health and Human Services, Public Health Service, CRC Press Inc Bahnick, D.A. & Doucette, W.J. 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Toxicol. 24: 236-242 Sicko-Goad, L. & Andersen, N.A. (1993b) Effect of lipid composition on the toxicity of trichlorobenzene isomers to diatoms. II. Long-term effects of 1,2,3-trichlorobenzene. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 24: 243-248 Sicko-Goad, L., Evans, M.S., Lazinsky, D., Hall, J. & Simmons, M.S. (1989d) Effect of chlorinated benzenes on diatom fatty acid composition and quantitative morphology. IV. Pentachlorobenzene and comparison with trichlorobenzene isomers. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 18: 656-668 Sicko-Goad, L., Hall, J., Lazinsky, D. & Simmons, M.S. (1989b) Effect of chlorinated benzenes on diatom fatty acid composition and quantitative morphology. II. 1,3,5-Trichlorobenzene. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 18: 638-646 Sicko-Goad, L., Hall, J., Lazinsky, D. & Simmons, M.S. (1989c) Effect of chlorinated benzenes on diatom fatty acid composition and quantitative morphology. III. 1,2,3-Trichlorobenzene. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 18: 647-655 Sicko-Goad, L., Lazinsky, D., Hall, J. & Simmons, M.S. (1989a) Effect of chlorinated benzenes on diatom fatty acid composition and quantitative morphology. I. 1,2,4-Trichlorobenzene. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 18: 629-637 UNECE (1998) Protocol to the 1979 Convention on long-range transboundary air pollution on persistent organic pollutants. Publ UNECE, 61pp. UNEP (1995) Decision 18/32 of the UNEP Governing Council: Persistent Organic Pollutants. UNEP Governing Council, 25th May 1995. UNEP (1997) Decisions adopted by the Governing Council at its nineteenth session: 13c. International action to protect human health and the environment through measures which will reduce and/or eliminate emissions and discharges of persistent organic pollutatns, including the development of an international legally binding instrument. UNEP Governing Council, 7th February 1997. US EPA (1989). EPA Factsheets for Regulated Chemicals. Hexachlorobenzene. Washington, DC. 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A EniChem Synthesis S.p.A (Itália) é listada por algumas fontes (Dinham 1993, FAO/UNEP 1991), embora acredita-se que a produção esteja encerrada. Outros fabricantes, sobre os quais não se há certeza quanto à situação atual, são: P.T. Montrose Pesticido Nusantara (Indonésia) (Dinham 1993, FAO/UNEP 1991), e All-India Medical (RSC 1991). Acredita-se que produtores sem marca estejam operando na China, no México, na Rússia, na Coréia do Sul e nos Estados da antiga União Soviética (WWF 1998). 39 CHEGA DE POLUIÇÃO O DDT é um inseticida que foi amplamente usado pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial para o controle de insetos transportadores de doenças. Esses insetos são conhecidos como vetores, e, portanto, o DDT é freqüentemente descrito como sendo usado para o “controle de vetores”. Durante um tempo também foi usado na agricultura (ver, por exemplo, Carson 1962, Copper 1991), mas, devido ao seu comportamento ambiental foi banido quase que universalmente. Conseqüentemente, hoje ele é permitido quase que exclusivamente para o controle de vetores. No entanto, acredita-se que parte do DDT fabricado para o controle de vetores seja, na verdade, usado ilegalmente na agricultura. O termo “DDT” refere-se ao DDT técnico, uma mistura de vários compostos, e pode nem sempre ter a mesma composição. O componente principal é o p,p’-DDT, embora também contenha uma mistura variável de outros compostos. Esses são apontados por diferentes fontes como contendo 15-20% de o,p’-DDT (ATSDR 1997, DHHS 1998), 4% de p,p’-DDE (Smith 1991, DHHS 1998) e traços de outros compostos (ATSDR 1997, DHHS 1998). O DDT não é facilmente absorvido pela pele, sendo as formas em pó absorvidas com menos facilmente do que as formulações de óleo. O DDT é facilmente absorvido pelo trato gastrointestinal, com um aumento de absorção na presença de gordura (ASTDR 1997). A exposição por inalação de pós pode também ocorrer, embora estes possam, na realidade, ficar presos na parte superior do trato respiratório e ser ingerido ao invés de passar pelos pulmões (ATSDR 1997, Smith 1991). Para indivíduos que não trabalham com o DDT, a alimentação é a principal fonte de exposição. O DDT é bioacumulativo. O ingrediente principal, p,p’-DDT, sofre degradação no meio ambiente ou no corpo para p,p’-DDE e quantidades menores de outros compostos. O p,p’DDE é mais persistente no corpo e no meio ambiente do que o p,p-DDT (Smith 1991) e é responsável pela maior parte dos efeitos tóxicos observados, a não ser que tenha havido exposição recente ao DDT técnico. O DDT varia de moderadamente a pouco tóxico por via oral em espécies de mamíferos estudadas (RSC 1991, Meister 1992, ASTDR 1997). O principal alvo do DDT é o sistema nervoso e altas doses podem causar tremor, aumento da suscetibilidade ao frio e ao medo, com convulsões ocorrendo em doses maiores. A morte pode ocorrer pela parada respiratória, embora animais que sobrevivem um dia ou mais após a última dose normalmente se recuperem totalmente (Smith 1991). Também causou efeitos crônicos no sistema nervoso, no fígado, nos rins e nos sistemas imunológicos em animais experimentais (ASTDR 1997, WHO 1979). Há evidências de que o DDT cause efeitos reprodutivos em animais testados, incluindo redução na fertilidade (ASTDR 1997). As doses nas quais foram observados efeitos em animais testados são muito maiores do que as que podem tipicamente ser encontradas por humanos (WHO 1979, Smith 1991). A exposição ocupacional e alimentar humana ao DDT pode diferir quanto à dose e à natureza química. A exposição ocupacional seria ao DDT técnico (predominantemente o p,p’-DDT) enquanto que a 40 CHEGA DE POLUIÇÃO exposição alimentar, especialmente nos países onde o DDT não é mais usado, seria predominantemente ao p,p’-DDE, embora haja vários produtos de degradação aos quais as pessoas também estariam expostas (Longnecker et al. 1997, ATSDR 1997). Vários compostos do grupo DDT são causadores de alterações endócrinas, apresentando diferentes modos de ação. Vários são levemente estrogênicos. Desses, o o,p’-DDT é o mais ativo. O p,p’-DDE, o composto provavelmente presente em concentrações mais altas na maioria dos humanos, é antiandrogênico (Longnecker et al. 1997). Os efeitos agudos prováveis em humanos devido à exposição baixa à moderada podem incluir náusea, diarréia, aumento da atividade das enzimas hepáticas, irritação (dos olhos, do nariz ou da garganta), distúrbio da marcha, mal-estar e excitabilidade; em doses maiores, podem ocorrer tremores e convulsões (ASTDR 1997). A IARC classificou o p,p’-DDT como possivelmente carcinogênico para humanos (grupo 2B) e o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos o considera como “provável candidato a carcinógeno humano” (DHHS 1998). No entanto, os impactos mais graves do DDT são no meio ambiente. O DDT, ou melhor, seu metabólito, p,p’-DDE, causa diminuição da espessura da casca de ovos de pássaros pela perturbação do metabolismo do cálcio. Esta alteração da casca do ovo causado pelo p,p’-DDE resulta em ovos quebrados, ou se o ovo não foi quebrado, o embrião pode morrer de desidratação, visto que muita água é perdida através da casca mais fina (Hickey & Anderson 1968, Newton 1995, Provini & Galassi 1999). Testes com 15 diferentes poluentes tóxicos apontaram que apenas o p,p’-DDE tem a habilidade de afinar a casca em um período de tempo prolongado (Haegele & Tucker 1974, Peakall & Lincer 1996). Embora o DDT cause principalmente o declínio populacional pelos danos à reprodução, pode também matar diretamente pássaros altamente expostos (Carson 1962, Fry 1994, Copper 1995, Newton et al. 1982, Garcelon & Thomas 1997). A análise de francelhos e gaviões nos anos 60 e 70 sugere que alguns foram mortos diretamente pela exposição ao p,p’-DDE (Newton et al. 1982). Algumas populações de pássaros que haviam sofrido previamente os impactos do p,p’- DDE na diminuição da espessura da casca e na quebra dos ovos não correm mais riscos. Estudos no Reino Unido sobre a garça-real, Ardea cinerea L., (Newton et al. 1993) mostram que os níveis de DDE em garças ou nos seus ovos diminuíram significativamente. Um estudo sobre as garças-reais na França apontou que os níveis de p,p’-DDE nos ovos estavam menores do que os níveis associados com efeitos reprodutivos no ambiente selvagem ou em estudos laboratoriais (de Cruz et al. 1997). No entanto, alguns efeitos dos organoclorados em aves marinhas foram observados recentemente apesar do padrão decrescente que vem ocorrendo com muitos organoclorados. No Ártico, os níveis atuais de p,p’-DDE em falcões peregrinos da tundra canadense, em 41 CHEGA DE POLUIÇÃO esmerilhões da Fenoscândia e em águias-do-mar ainda estão causando alterações significativas na casca dos ovos (de Wit et al. 1997). O DDT é controlado sob inúmeros instrumentos legais internacionais, especialmente a Convenção de PIC, o Protocolo LRTAP de POPs, a Convenção de Barcelona, a Convenção de Helsinki, o IJC e a Convenção de POPs do UNEP, que deverá ser assinada em Estocolmo em maio de 2001. Ele também está incluído, é claro, em grupos mais amplos de agrotóxicos organoclorados ou organohalógenos sob várias Convenções sobre comércio de lixo e sob a Convenção de OSPAR. O uso do DDT na agricultura já foi quase todo banido, mas o seu uso é freqüentemente mantido por motivos de saúde pública. De acordo com FAO/UNEP (1991), o DDT está banido no Chile, em Cuba, na CE, em Liechtenstein, no México, no Panamá, na República da Coréia, em Singapura, em Sri Lanka, na Suécia, em Togo e na USSR e foi retirado do mercado no Canadá e na Polônia. O seu uso foi drasticamente restrito na Argentina, em Belize, na China, na Colômbia, na República Dominicana, no Equador, no Japão, em Quênia, nas ilhas de Maurício, nos Estados Unidos, na Venezuela e na Iuguslávia. Em muitos desses países, o uso é apenas permitido para o controle de vetores de doenças críticas, e seria usado apenas sob a ordem de departamentos de saúde governamentais. Além disso, o DDT está banido (exceto para uso como medicamento) nos países que são partes da Convenção de Helsinki de 1992. Infelizmente, o DDT é freqüentemente desviado ilegalmente dos programas de saúde do governo para o uso na agricultura, com uma certa regularidade. Sabe-se ou suspeita-se que isso tenha ocorrido em Bangladesh, Belize, Equador, Índia, Quênia, Madagascar, México e Tanzânia (WWF 1998). Referências ATSDR (1997) ATSDR’s toxicological Profiles on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry, US Public Health Service, Publ: Lewis Publishers. Carson, R. (1962) Silent Spring. Publ: Penguin, London, ISBN 0-14-027371-9, 323pp. De Cruz I., Mougin C. & Grolleau G. (1997). Chlorinated hydrocarbons in eggs of grey heron (Ardea cinerea L.) in France (Lac de Grandlieu). Chemosphere 35 (5): 1003-1009. de Wit C.A., de March B.G.E. & Muir D.C.G. (1997). An overview of the AMAP assessment of persistent organic pollutants in the Arctic: Biological effects. In: The AMAP International Symposium on Environmental Pollution of the Arctic. Extended Abstracts, volume 1. Tromso, Norway June 1-5, 1997. DHHS (1998) 8th Report on Carcinogens. 1998 Summary. 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Não há uso conhecido para o acenaftileno, benz[a]antraceno, benzo[a]fluoranteno, benzo[e]pireno, benzo[j]fluoranteno, benzo[k]fluoranteno, benzo[g,h,i]perileno, benzo[a]pireno, criseno, dibenzo[a,h]antraceno, indeno[1,2,3-c,d]pireno, ou pireno exceto como compostos de pesquisa. O antraceno é usado como intermediário na produção de pigmentos, na fabricação de fibras sintéticas, e como diluente para preservante de madeira. Também é usado em cortinas de fumaça, como cristais de monitoramento de radiação, e em pesquisa de semicondutores orgânicos. O antraceno é usado para sintetizar o agente quimioterapêutico, Amsacrina. O acenaftaleno é usado como pigmento intermediário na fabricação de produtos farmacêuticos e de plásticos, e como inseticida e fungicida. O fluoreno é usado como intermediário químico em muitos processos químicos, na formação de poliradicais para resinas, e na fabricação de pigmentos. O fenantreno é usado na fabricação de tintas e explosivos e em pesquisas na área biológica. O fluoranteno é usado como material de revestimento para proteger o interior do aço, e em tubulações maleáveis de ferro para água potável e reservatórios (ATSDR 1997). Os principais produtos fabricados a partir do naftaleno são repelentes de traças, na forma de bolinhas de naftalina ou cristais, e sachês perfumados para sanitários. Também é usado na fabricação de tinturas, resinas, agentes de curtição de couro, e do inseticida carbaril (ATSDR 43 CHEGA DE POLUIÇÃO 1997). Os derivados alquil mais simples do naftaleno, 1-metilnaftaleno e 2-metilnaftaleno são usados para a fabricação de outros compostos, como pigmentos, resinas, e a vitamina K para o 2-metilnaftaleno. Junto com o naftaleno, estes PAHs estão presentes na fumaça do cigarro, na fumaça de madeira, no piche, e no asfalto, e em alguns locais que contêm resíduos perigosos (ATSDR 1997). Os PAHs causam danos à saúde humana. Indivíduos expostos a misturas de PAHs e outros compostos através da respiração e do contato na pele, durante longos períodos de tempo, podem desenvolver câncer (ATSDR 1997). Muitos dos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos carcinogênicos são derivados de um esqueleto de benz[a]antraceno angular. O antraceno, em si, não é carcinogênico, mas o benz[a]antraceno aparenta ter carcinogenicidade, ainda que baixa. A adição de um outro anel de benzeno em determinadas posições resulta em agentes com forte carcinogenicidade, como o dibenz[a,h]antraceno ou o benzo[a]pireno. Além disso, a substituição de grupos do metil em carbonos específicos do anel também aumenta a carcinogenicidade. Portanto, o 7,12-dimetilbenz[a]antraceno (DMBA) é um dos carcinógenos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos sintéticos mais poderosos conhecidos (Williams 1986). Estudos em animais de laboratório demonstraram a capacidade do benz[a]antraceno, benzo[b]fluoranteno, benzo[j]fluoranteno, benzo[a]pireno, criseno, dibenzo[a,h,]antraceno, e indeno[1,2,3-c,d] pireno induzir tumores de pele (isto é, são carcinógenos completos) após exposição dérmica intermediária. O antraceno, fluoranteno, fluoreno, fenantreno e pireno não agem como carcinógenos completos (ATSDR 1997). A exposição pré- e pós-natal a PAHs poderia produzir efeitos adversos na reprodução e no desenvolvimento em fetos humanos. A maioria dos PAHs e seus metabólitos atravessam a placenta devido à sua solubilidade em lipídeos (ATSDR 1997). A exposição a uma grande quantidade de naftaleno pode danificar ou destruir algumas células vermelhas do sangue humano. Pessoas, especialmente crianças, desenvolveram esse problema após ingerir bolinhas de naftalina ou sachês perfumados contendo naftaleno. Anemia também ocorreu em crianças usando fraldas armazenadas com bolinhas de naftalina. (ATSDR 1997). Referências ATSDR (1997) Toxicological Profiles. Agency for Toxic Substances and Disease Registry, U.S. Public Health Service (CD-ROM) Williams G.M., Weisburger J.H. (1986). Chemical carcinogens. In Toxicology: the basic science of poisons. Klaasen C.D., Ambur M.O. and Doull J. [Eds], MacMillan Publishing Co., New York: 99-173. A2.7 ALQUILBENZENOS Os alquilbenzenos são compostos aromáticos de um único anel que contêm uma ou mais cadeias laterais alifáticas. Embora haja teoricamente milhares de alquilbenzenos, os principais produtos de partida e, portanto, aqueles aos quais o homem apresenta a maior chance de estar 44 CHEGA DE POLUIÇÃO exposto incluem o tolueno (metilbenzeno), etilbenzeno, cumeno (isopropilbenzeno), e três xilenos (1,2-, 1,3-, e 1,4-dimetilbenzeno). A ocorrência desses compostos no meio ambiente é devido à sua presença no óleo cru e em produtos de petróleo. Os alquilbenzenos também são produzidos com a degradação dos detergentes sulfonados de alquilbenzeno linear (LAS, do inglês “linear alkylbenzene sulphonate”). Os alquilbenzenos são altamente resistentes à degradação e podem se acumular em sedimentos (Preston & Raymundo 1993). Os alquilbenzenos são úteis como marcadores de esgoto (Chalaux et al. 1995) e, devido à sua estabilidade em sedimentos, são úteis no rastreamento do transporte de contaminantes de suas fontes. Os hidrocarbonetos monoaromáticos (derivados do benzeno) e poliaromáticos (PAHs) são considerados os mais tóxicos, e sabe-se que estão presentes nas concentrações mais elevadas durante a fase inicial do derramamento de óleo cru (Overton 1994). A toxicidade aguda dos alquilbenzenos inalados é melhor descrita como uma depressão do sistema nervoso central (Andrews & Snyder, 1986). A toxicidade aguda não varia muito dentro do grupo. Em modelos animais, foi demonstrado que concentrações relativamente similares de vapores de alquilbenzeno inalados são letais. Os distúrbios no tempo de reação e os distúrbios de fala são os dois efeitos sobre o sistema nervoso central mais comumente apontados (Klaassen et al. 1996). Todos os alquilbenzenos mencionados acima causam irritações nos olhos e nas membranas mucosas, podem causar irritação e ardência na pele, e todos são narcóticos em concentrações altas. O próprio benzeno é um carcinógeno conhecido. A exposição crônica pode levar à depressão da medula óssea, que, em certos casos pode progredir para leucemia (Budavari et al. 1989). Referências Andrews, L.S. & Snyder, R. (1986) Toxic effects of solvents and vapors. In Toxicology: the basic science of poisons. Klaasen C.D., Ambur M.O. and Doull J. [Eds], MacMillan Publishing Co., New York: 636-668 Budavari, S.M., O’Neil, J., Smith A., and Heckleman P.E. [Eds] (1989) The Merck index: an encyclopaedia of chemicals, drugs and biologicals. 11th Edn Merck and Co, Inc., New Jersey, USA Chalaux N., Takada H., Bayona J.M. (1995) Molecular markers in Tokyo Bay sediments – sources and distribution. Marine Environmental Research, Vol., 40, No.1, pp.77-92 Klaassen, C.D, Amur, M.O. & Doull, J. [Eds] (1996) Toxicology: The basic science of poisons. 5th Edition, McGraw-Hill Companies Inc. IBSN 0-07-105476-6 Overton, E.B. (1994). Toxicity of petroleum. In: Basic Environmental Toxicology. Cockerham & Shane [Eds], Chapter 5: 133-156 Preston, M.R. & Raymundo, C.C. (1993) The associations of linear alkyl benzenes with the bulk properties of sediments from the River Mersey estuary. Environmental Pollution, Vol.81, pp. 7-13. 45 CHEGA DE POLUIÇÃO APÊNDICE 3 PERFIS TOXICOLÓGICOS PARA OS PRINCIPAIS METAIS PESADOS A3.1. Cádmio A3.1.1. Comportamento e Contaminação Ambiental O cádmio tem mais motilidade em ambientes aquáticos do que a maioria dos outros metais. É também bioacumulativo e persistente no meio ambiente (t1/2 de 10-30 anos) (USPHS 1997). É encontrado em água de superfície ou subterrânea como o íon +2 hidratado, ou como um complexo iônico com outras substâncias inorgânicas ou orgânicas. Enquanto as formas solúveis podem migrar na água, o cádmio, em complexos insolúveis ou adsorvido a sedimentos, é relativamente imóvel. De forma semelhante, o cádmio no solo pode existir em forma solúvel em água de solo, ou em complexos insolúveis com componentes inorgânicos e orgânicos do solo (USPHS 1997, WHO 1992). Além disso, o cádmio é fácilmente disponível para a ingestão em grãos, especialmente o arroz, e vegetais, havendo ainda uma associação clara entre a concentração de cádmio no solo e as plantas que crescem naquele solo (Elinder e Jarup 1996, Cabrera et al. 1994, WHO 1992). Quando presente em uma forma biodisponível, sabe-se que tanto organismos aquáticos quanto terrestres bioacumulam o cádmio. Estudos mostram acúmulo em animais aquáticos em concentrações centenas ou, até mesmo, milhares de vezes mais altas do que na água (USPHS 1997). Os fatores de bioconcentração relatados variam de 113 a 18.000 para invertebrados e de 3 a 2.213 para peixes. Há, também, relatos de acúmulo de cádmio em gramíneas, culturas alimentares, minhocas, aves, gado, cavalos, e vida selvagem (USPHS 1997, WHO 1992). As evidências de biomagnificação são inconclusivas. No entanto, a absorção do cádmio do solo por culturas alimentares pode resultar em altos níveis de cádmio na carne de gado e em aves (especialmente no fígado e nos rins). Esse acúmulo de cádmio na cadeia alimentar tem implicações importantes para a exposição humana, não importando se ocorre uma biomagnificação significativa (USPHS 1997). A3.1.2. Toxicidade O cádmio não tem função bioquímica ou nutricional, e é altamente tóxico para plantas e animais (USPHS 1997, WHO 1992, Alloway 1990). Em humanos e animais, há fortes evidências de que o rim é o principal alvo da toxicidade do cádmio, após exposição por tempo prolongado (USPHS 1997, Elinder e Jarup 1996, Goyer 1996, Roels et al. 1993, Iwata et al. 1993, WHO 1992, Mueller et al. 1992). Os danos renais incluem proteinúria (excreção de proteínas de baixo peso molecular) e um decréscimo na taxa de filtração glomerular. O último resulta em uma diminuição na reabsorção de enzimas, aminoácidos, glicose, cálcio, cobre, e fosfato inorgânico. Além disso, estudos mostraram que mesmo quando a exposição ao cádmio 46 CHEGA DE POLUIÇÃO cessa, a proteinúria não diminui, e a disfunção tubular renal e a filtração glomerular reduzida pioram (USPHS 1997, Jarup et al. 1997, Elinder e Jarup 1996, Goyer 1996, Iwata et al. 1993, WHO 1992, Nriagu 1988). Outros efeitos tóxicos do cádmio, baseados em achados de estudos toxicológicos ocupacionais, em animais e epidemiológicos, são sumarizados a seguir: A inalação de altos níveis de fumaça ou poeira de óxido de cádmio é extremamente irritante para o tecido respiratório, e exposições agudas a altos níveis podem ser fatais. Os sintomas não-fatais típicos podem incluir traqueobronquite grave, pneumonite, e edema pulmonar (inchaço dos alvéolos pulmonares resultando na dificuldade em respirar), que podem se desenvolver poucas horas após a exposição (USPHS 1997, Goyer 1996, WHO 1992). Em níveis mais baixos, a inflamação dos pulmões pode causar enfisema (perda da elasticidade da árvore respiratória levando à dificuldade de respirar) e dispnéia (falta de ar) (USPHS 1997, Goyer 1996, WHO 1992). Estudos em animais confirmaram que a exposição por inalação ao cádmio leva a problemas respiratórios (USPHS 1997, WHO 1992). Vários estudos epidemiológicos tentaram determinar uma relação entre exposição ocupacional respiratória ao cádmio e câncer de pulmão e próstata. Estes estudos, juntamente com estudos epidemiológicos em animais, fundamentam o papel do cádmio na carcinogênese (IARC 1998, Goyer 1996). O cádmio, e certos compostos de cádmio, são, portanto, listados pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como carcinogênicos (IARC 1998). O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos no seu 8º Relatório Sobre Carcinógenos, antecipa o cádmio e certos compostos de cádmio como Prováveis Candidatos a Carcinógenos Humanos (USPHS 1998). Além desses efeitos tóxicos, tem sido sugerido também um papel para o cádmio no desenvolvimento de hipertensão (alta pressão sangüínea) e doenças do coração (USPHS 1997, Goyer 1996, Elinder e Jarup 1996). A exposição acentuada via oral pode resultar em sérias irritações no epitélio gastrointestinal, náusea, vômitos, salivação, dor abdominal, cólica e diarréia (USPHS 1997). Quanto à toxicidade em plantas, efeitos adversos no crescimento e na produtividade da planta foram relatados. Alloway (1990) apontou crescimento atrofiado e sinais tóxicos nas folhas de alface, repolho, cenoura e rabanete (resultante de um conteúdo de cádmio de aproximadamente 20 mg/kg na porção aérea das plantas). Outros estudos mostraram reduções nas taxas de fotossíntese e transpiração (WHO 1992). Quanto à toxicidade do cádmio em organismos aquáticos, inúmeros achados foram relatados. Por exemplo, algumas espécies de fitoplâncton são bastante sensíveis ao cádmio, com inibição do crescimento observada em concentrações a partir de 1 ug/l (Bryan e Langston 1992). Efeitos adversos foram também encontrados em vôngolis, onde correlações entre o aumento nos níveis de cádmio e a habilidade reduzida de utilizar a glicose foram encontradas. 47 CHEGA DE POLUIÇÃO Reduções nas taxas de reprodução e nos números populacionais em copépodes e isópodes foram apresentadas em concentrações a partir de 5 ug/l, e a exposição a níveis similares resultou em mudanças na função imunológica em alguns peixes, e distúrbios no crescimento em indivíduos jovens de peixes e invertebrados (Bryan e Langston 1992, Thuvander 1989). Além disso, a toxicidade de concentrações baixas de cádmio no sedimento também foi sugerida após observações na Baía de São Francisco. Lá, as populações de certas espécies de moluscos diminuíram, à medida em que as concentrações de cádmio aumentaram de 0,1 a 0,4 mg/kg (Bryan e Langston 1992). Referências Alloway, B.J. (1990). Heavy metals in soils. John Wiley and Sons, Inc. New York, ISBN 0470215984 Cabrera, C., Ortega, E., Gallego, C., Lopez, M.C., Lorenzo, M.L. and Asensio, C. (1994). Cadmium concentration in farmlands in southern Spain: possible sources of contamination. The Science of the Total Environment 153: 261-265 Elinder, C.G. and Jarup, L. (1996). Cadmium exposure and health risks: recent findings. Ambio 25, 5: 370-373 Goyer, R.A. (1996). Toxic effects of metals. In Casarett & Doull's Toxicology. The Basic Science of Poisons, Fifth Edition, Klaassen, C.D. [Ed]. McGraw-Hill Health Professions Division, ISBN 0071054766 IARC (1998). Cadmium and certain cadmium compounds. In: IARC monographs on the evaluation of the carcinogenic risk of chemicals to humans. Chemicals, industrial processes and industries associated with cancer in humans. IARC monographs, Vol. 1 to 29 Iwata, K., Saito, H., Moriyama, M. and Nakano, A. (1993). Renal tubular function after reduction of environmental cadmium exposure: a ten year follow-up. Archives of Environmental Health 48, 3: 157-163 Jarup, L., Persson, B. and Elinder, C.G. (1997). Blood cadmium as an indicator of dose in a long-term follow-up of workers previously exposed to cadmium. Scandinavian Journal of Work Environment and Health 23, 1: 3136 Mueller, P.W., Paschal, D.C., Hammel, R.R., Klincewicz, S.L. and MacNeil, M.L. (1992). Chronic renal effects in three studies of men and women occupationally exposed to cadmium. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 23: 125-136 Nriagi, J.O. (1988). A silent epidemic of environmental metal poisoning. Environmental Pollution 50: 139-161 Roels H., Bernard A.M., Cardenas A., Buchet J.P., Lauwerys R.R., Hotter G., Ramis I., Mutti A., Franchini I., Bundshuh I., Stolte H., De Broe M.E., Nuyts G.D., Taylor S.A. and Price R.G. (1993). Markers of early renal changes induced by industrial pollutants. III. Application to workers exposed to cadmium. British Journal of Industrial Medicine 50: 37-48 Thuvander, A. (1989). Cadmium exposure of rainbow trout, Salmo gairdneri Richardson: effects on immune functions. J. Fish Biol. 35: 521-529 USPHS (1997). Toxicological profile for cadmium on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. USPHS (1998). 8th Report on Carcinogens 1998 Summary World Health Organisation (1992). Cadmium. Environmental Health Criteria 135. ISBN 9241571357 A3.2. Cromo A3.2.1. Comportamento e Contaminação Ambiental Embora existam muitos estados de oxidação do cromo na natureza, apenas as formas trivalente (III) e hexavalente (VI) são consideradas de importância biológica. Em ambientes aquáticos, o 48 CHEGA DE POLUIÇÃO cromo (VI) está presente predominantemente em forma solúvel. Essas formas solúveis podem ser estáveis o suficiente para sofrerem o transporte entre meios; no entanto, o cromo (VI) eventualmente será convertido em cromo (III), por meio de espécies redutoras como substâncias orgânicas, sulfeto de hidrogênio, enxofre, sulfeto de ferro, amônio e nitrito (USPHS 1997, Kimbrough et al. 1999). Essa forma trivalente geralmente não migra significativamente em sistemas naturais. Ao contrário, ela é rapidamente precipitada e adsorvida a partículas suspensas e sedimentos de fundo. No entanto, mudanças nas propriedades químicas e físicas de um ambiente aquático podem resultar em mudanças no equilíbrio cromo (III)-cromo (VI) (Richard e Bourg 1991). Já foi mostrado que os cromos (III) e (VI) acumulam-se em muitas espécies aquáticas, especialmente em peixes que se alimentam no fundo, como o peixe Ictalurus nebulosus (“brown bullhead – cabeça de touro marrom”); e em moluscos bivalves, como a ostra Crassostrea virginica, o mexilhão Mytilus edulis e o molusco Mya arenaria (Kimbrough et al. 1999). Em solos, o cromo (III) é relativamente imóvel devido à sua forte capacidade de adsorção nesse meio. Em contraste, o cromo (VI) é altamente instável e móvel, visto que não é facilmente adsorvido em solos em condições naturais (Mukherjee 1998). As reações de redox (oxidação do cromo (III) para cromo (VI) e redução do cromo (VI) para cromo (III)) são processos importantes que afetam a especificidade e, conseqüentemente, a biodisponibilidade e toxicidade do cromo nos solos. A oxidação pode ocorrer na presença de óxidos de manganês e ferro, em solos frescos e úmidos (anaeróbicos), e sob condições levemente acídas. A redução pode ocorrer na presença de sulfeto e ferro (II) (condições anaeróbicas), e é acelerada pela presença de matéria orgânica no solo (Mukherjee 1998). A importância disso está no fato de que, enquanto o cromo (III) é um elemento traço essencial em animais, o cromo (VI) é não-essencial e tóxico em baixas concentrações. Portanto, visto que os processos de oxidação podem resultar na formação de cromo (VI), atividades antropogênicas que liberam o cromo (III) ou o cromo (VI) são igualmente indesejáveis. Mesmo se o cromo (III) é descarregado no meio ambiente, não há garantia de que ele permanecerá nesse estado químico (Mukherjee 1998, Outridge e Sheuhammer 1993, UNEP 1991, Richard e Bourg 1991). A3.2.2. Toxicidade e Essencialidade O cromo (III) é considerado um metal traço, necessário para o metabolismo de glicose, proteínas e gordura em mamíferos. Os sinais de deficiência em humanos incluem perda de peso e tolerância diminuída à glicose (USPHS 1997, Goyer 1996). As exigências mínimas diárias de cromo (III) para uma boa saúde não são conhecidas, mas estima-se, para humanos, que uma ingestão diária de 50-200 ug/dia seja segura e adequada. No entanto, embora seja um nutriente alimentar essencial, doses muito altas podem ser prejudiciais (USPHS 1997). 49 CHEGA DE POLUIÇÃO O cromo (VI) é não-essencial e tóxico. Os compostos são corrosivos e reações alérgicas na pele ocorrem logo após o contato, independente da dose. Exposições breves a níveis elevados podem resultar na ulceração da pele exposta, em perfurações no trato respiratório e na irritação do trato gastrointestinal. Danos ao rim e ao fígado também foram relatados (USPHS 1997). Além disso, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica os compostos de cromo (VI) como carcinógenos conhecidos (1998). A exposição ocupacional prolongada a níveis de cromo aéreo mais altos do que os presentes no ambiente natural foi associada ao câncer de pulmão. Os indivíduos que apresentam maior risco incluem os que trabalham em indústrias de produção de cromato e os envolvidos na fabricação e no uso de pigmentos de cromo; riscos semelhantes podem existir em trabalhadores que lidam com ligas de cromo, em soldadores de aço inoxidável, e em chapeadores de cromo (Kimbrough 1999, USPHS 1998). A toxicologia aquática do cromo também depende da espécie química, uma vez que o cromo (III) é biologicamente muito menos disponível e tóxico do que o cromo (VI). Isto foi observado em lepas Balanus sp. (um crustáceo parecido com as cracas) e no poliqueta Neanthes arenaceodentata. Experimentos mostram que o número de nascimentos produzidos pelo Neanthes arenaceodentata foram reduzidos pela exposição a 39 ug/l de cromo (VI) dissolvido (Bryan e Langston 1992). Referências Bryan, G.W. and Langston, W.J. (1992). Bioavailability, accumulation and effects of heavy metals in sediments with special reference to United Kingdom estuaries: a review. Environmental Pollution 76: 89-131 Goyer, R.A. (1996). Toxic effects of metals. In Casarett & Doull's Toxicology. The Basic Science of Poisons, Fifth Edition, Klaassen, C.D. [Ed]. McGraw-Hill Health Professions Division, ISBN 0071054766 IARC (1998). Chromium and certain chromium compounds. In: IARC monographs on the evaluation of the carcinogenic risk of chemicals to humans. Chemicals, industrial processes and industries associated with cancer in humans. IARC monographs, Vol. 1 to 29 Kimbrough D.E, Cohen Y., Winer A.M., Creelman L. and Mabuni C. (1999). A critical assessment of chromium in the Environment. Critical Reviews in Environmental Science and Technology 29, 1: 1-46 Mukherjee, A.B. (1998). Chromium in the environment of Finland. The Science of the Total Environment 217: 919 Outridge, P.M. and Schuehammer, A.M. (1993). Bioaccumulation and toxicology of chromium: implications for wildlife. Reviews of Environmental Contamination and Toxicology 130: 31-77 Richard, F.C. and Bourg, A.C.M. (1991). Aqueous geochemistry of chromium: a review. Wat. Res. 25, 7: 807816 UNEP (1991). Tanneries and the environment. A technical guide to reducing the environmental impact of tannery operations. Technical Report Series No. 4. United Nations Environment Programme Industry and Environment Office USPHS (1997). Toxicological profile for chromium on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. U.S. Public Health Service USPHS (1998). 8th Report on Carcinogens 1998 Summary 50 CHEGA DE POLUIÇÃO A3.3. Cobre A3.3.1. Comportamento e Contaminação Ambiental O cobre pode existir em águas naturais em forma dissolvida ou como o íon cúprico (+2) ou complexada com ânions inorgânicos ou ligantes orgânicos (como carbonatos, cloretos, ácidos húmicos ou fúlvicos). Pode também estar presente como precipitado insolúvel (ex. hidróxido, fosfato ou sulfeto) ou adsorvido a material particulado. Além disso, pode ser adsorvido a sedimentos de fundo ou existir como particulados sedimentados. As concentrações relativas de cada uma dessas formas é dependente de uma série de parâmetros químicos, incluindo pH, salinidade, alcalinidade, e a presença de ligantes orgânicos, ânions inorgânicos e outros íons metálicos. No entanto, estudos têm mostrado freqüentemente que a concentração de íon +2 livre é baixa, comparada aos níveis de cobre associados a sedimentos suspensos e de fundo (USPHS 1997, Mance et al. 1984). Em solos, o cobre tem uma alta afinidade para a sorção (adsorção e absorção) por ligantes orgânicos e inorgânicos (ex. ácidos húmicos e fúlvicos, hidróxidos de ferro, alumínio e manganês). No entanto, o cobre pode também existir como íons e complexos solúveis. Em uma forma solúvel, o cobre é muito mais biodisponível, e é muito mais provável que ele migre pelo meio ambiente, do que estiver ligado à matéria orgânica ou presente como precipitado insolúvel. Portanto, o sulfato ou o cloreto de cobre, presente na cinza de incineradores de lixo sólido municipal ou em resíduos de minas, é muito mais biodisponível e migratório do que o cobre orgânico encontrado em borra de esgoto (USPHS 1997, Alloway 1990, Mance et al. 1984). O cobre é um dos elementos mais importantes e essenciais para plantas e animais. No entanto, se plantas e animais são expostos a concentrações elevadas de cobre biodisponível, a bioacumulação pode ocorrer, com possíveis efeitos tóxicos. A3.3.2. Toxicidade e Essencialidade O cobre é um nutriente essencial que é incorporado em uma série de sistemas de enzimas de animais e de plantas; ex. em humanos, os sistemas enzimáticos envolvidos na formação da hemoglobina, no metabolismo do carboidrato, na formação da melanina, e na ligação cruzada entre colágenos, elastina e ceratina do cabelo (USPHS 1997). A deficiência humana é caracterizada pela anemia, resultante da síntese deficiente de hemoglobina (Goyer 1996). No entanto, no extremo oposto, vômitos, hipotensão, icterícia, coma e até mesmo morte, podem resultar de intoxicação aguda (USPHS 1997). Portanto, embora o cobre seja essencial para a boa saúde, uma dose única muito grande, ou a exposição crônica elevada pode ser prejudicial. A inalação de poeira e vapores pode irritar o nariz, a boca e os olhos, e causar dores de cabeça, tontura, náusea e diarréia. A exposição oral a níveis elevados pode causar vômito, diarréia, cólica estomacal e náusea (USPHS 1997). A 51 CHEGA DE POLUIÇÃO homeostase do cobre desempenha um papel importante na prevenção da sua toxicidade em humanos, animais terrestres e organismos aquáticos. O cobre é facilmente absorvido do estômago e do intestino delgado. Após as exigências metabólicas serem atendidas, há vários mecanismos para prevenir o excesso de cobre, como a excreção da bile, aumento no armazenamento no fígado ou na medula óssea (USPHS 1997). No entanto, falhas nesse mecanismo homeostático podem ocorrer em humanos e animais após a exposição a níveis elevados de cobre. Essa doença rara, conhecida como doença de Wilson, é caracterizada pela retenção excessiva de cobre no fígado e excreção deficiente do cobre na bile. Isso pode resultar em danos ao fígado e aos rins e anemia hemolítica (USPHS 1997). Além desses efeitos, danos no desenvolvimento e na reprodução, após a exposição a níveis elevados de cobre, já foram vistos em animais. No entanto, esses efeitos não foram relatados em humanos (USPHS 1997). A toxicidade aquática do cobre é bem estudada, e há evidências experimentais de que um número considerável de espécies são sensíveis a concentrações dissolvidas a partir de 1-10 ug/l (Bryan e Langston 1992). Por exemplo, estudos mostram que para níveis de 2 ug/l, a taxa de sobrevivência de vieiras jovens de baías foi afetada de forma significativa; e, nos embriões de ostras e mexilhões, concentrações de 5 ug/l induziram a anormalidades. Uma concentração semelhante resultou em um aumento na mortalidade em populações dos crustáceos isópodes Idothea baltica (UNEP 1993, Bryan e Langston 1992, Giudici et al. 1989). Outros estudos apontaram reduções na sobrevivência, no crescimento e na fertilidade de anfípodes e copépodes (Conradi e DePledge 1998, UNEP 1993), e sensibilidade embriônica em peixes expostos a níveis de 25 ug/l (UNEP 1993, Mance et al. 1984). Além disso, um estudo sobre a diversidade de espécies em comunidades bênticas dos fiordes da Noruega levou à conclusão de que os animais mais sensíveis haviam desaparecido dos locais onde os níveis de cobre em sedimentos excediam a 200 mg/kg. No Reino Unido, essas concentrações excedem em uma série de estuários, incluindo o Fal e o Tamar. Lá, muitas espécies de bivalves, incluindo alguns mexilhões, moluscos e vôngolis estão ausentes, e, no melhor dos casos, a distribuição está bastante limitada. A toxicidade do sedimento de superfície contendo acima de 2000 mg/kg de cobre em bivalves jovens aparenta ser o motivo (Bryan e Langston 1992). Referências Alloway, B.J. (1990). Heavy metals in soils. John Wiley and Sons, Inc. New York, ISBN 0470215984 Bryan, G.W. and Langston, W.J. (1992). Bioavailability, accumulation and effects of heavy metals in sediments with special reference to United Kingdom estuaries: a review. Environmental Pollution 76: 89-131 Conradi, M. and DePledge, M.H. (1998). Population responses of the marine amphipod Corophium volutator (Pallas, 1766) to copper. Aquatic Toxicology 44: 31-45 Giudici, M., Milgiore, L. and Guarino, S.M. (1989). Effects of chronic exposure to cadmium or copper on Idothea baltica (Crustacea: Isopoda). Marine Pollution Bulletin 20, 2: 69-73 Goyer, R.A. (1996). Toxic effects of metals. In Casarett & Doull's Toxicology. The Basic Science of Poisons, Fifth Edition, Klaassen, C.D. [Ed]. McGraw-Hill Health Professions Division, ISBN 0071054766 Mance, G., Brown, V.M. and Yates, J. (1984). Proposed environmental quality standards for List II substances in water. Copper. Water Research Centre Technical Report TR210 52 CHEGA DE POLUIÇÃO UNEP (1993). Preliminary assessment of the state of pollution of the Mediterranean Sea by zinc, copper and their compounds and proposed measures. Mediterranean Action Plan UNEP (OCA)/MED/WG.66/Inf.3, Athens 3-7 May 1993 USPHS (1997). Toxicological profile for copper on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. U.S. Public Health Service A3.4. Chumbo A3.4.1. Comportamento e Contaminação Ambiental Quando o chumbo é lançado no meio ambiente, ele tem um longo tempo de residência comparado à maioria dos outros poluentes. Como resultado, ele tende a se acumular em solos e sedimentos, onde, devido à baixa solubilidade, pode permanecer acessível à cadeia alimentar e ao metabolismo humano por muito tempo (Sauve et al. 1997, USPHS 1997, Alloway 1990). No entanto, assim como com todos os metais, a espécie química é crítica quando se avalia a biodisponibilidade e a potencial ameaça ao meio ambiente. Dois estados de oxidação do chumbo, o +2 e o +4, são estáveis, mas a química ambiental é dominada pelo íon Pb+2, seus compostos e complexos. Em geral, o íon +2 livre é mais tóxico do que complexos inorgânicos, e portanto qualquer fator que aumente a complexação e diminui a concentração do íon livre pode afetar a toxicidade do chumbo negativamente. Formas orgânicas tóxicas estão também presentes no meio ambiente, a partir de fontes diretas (fabricação, transporte e armazenamento de gasolina com chumbo e as conseqüentes emissões de exaustão de carro) além da possível metilação química/biológica de chumbo inorgânico em sedimentos anaeróbicos (Sadiq 1992, Forsyth et al. 1991). Conforme mencionado anteriormente, o chumbo tem uma tendência a formar compostos com ânions que têm uma baixa solubilidade, como hidróxidos, carbonatos e fosfatos. Portanto, a quantidade de chumbo que permanece em solução em águas de superfície (também dependente do pH e da salinidade) é freqüentemente baixa. Além disso, uma fração significativa de chumbo insolúvel pode ser incorporada em material particulado de superfície de escoamentos, ou como íons sorvidos (absorvidos e adsorvidos) ou cobertura de superfície em sedimento, ou pode ser transportada como parte de matéria orgânica viva ou não-viva. Em solos e sedimentos, o destino do chumbo é afetado por processos similares, que freqüentemente levam à formação de complexos organometálicos relativamente estáveis. A maior parte do chumbo é retida nos solos e sedimentos e muito pouco é transportado em água de superfície ou água subterrânea. No entanto, o retorno para águas de superfície como resultado da erosão de particulados do solo contendo chumbo ou através da conversão de sulfato de chumbo relativamente solúvel na superfície do solo/sedimento, pode ocorrer (USPHS 1997, Sadiq 1992, Alloway 1990). Assim como pode acontecer com o movimento vertical do chumbo para águas subterrâneas através da lixiviação (USPHS 1997). 53 CHEGA DE POLUIÇÃO Plantas e animais podem acumular chumbo a partir da água, de solos e sedimentos, sendo as formas orgânicas mais facilmente absorvidas do que as inorgânicas. A3.4.2. Toxicidade O chumbo é um dos metais tóxicos mais presentes entre os existentes. Ele não tem função nutricional, bioquímica ou fisiológica conhecida, e visto que não há necessidade biológica demonstrada, e que ele é tóxico para a maioria dos organismos vivos, a principal preocupação no momento é em que dose o chumbo pode se tornar tóxico (Goyer 1996). Os efeitos tóxicos do chumbo são os mesmos, independente de se ele é ingerido ou inalado, e os níveis no sangue a partir de <10-100 ug/dl em crianças, e 10-100 ug/dl em adultos foram associados a uma série de efeitos adversos. Esses efeitos incluem distúrbios no sistema nervoso, anemia e síntese de hemoglobina diminuída, doença cardiovascular, além de distúrbios no metabolismo ósseo, na função renal e na reprodução. O efeito de uma exposição relativamente baixa no desenvolvimento cognitivo e comportamental em crianças é extremamente preocupante (Pirkle et al. 1998, USPHS 1997, Bernard et al. 1995, Goyer 1993, Nriagu 1988). Em 1975, o Centro de Controle de Doenças (CDC) em Atlanta recomendou que o nível permissível de chumbo no sangue fosse de 30 ug/dl (tanto para adultos quanto para crianças). Esses níveis foram reduzidos em 1985 para 25 ug/dl, e novamente em 1991, definindo um nível de chumbo no sangue de 10 ug/l como um nível para ação ou intervenção (USPHS 1997). Ainda mais importante é a recomendação atual de que talvez não haja níveis aceitáveis de chumbo no sangue que não produzam efeitos tóxicos, especialmente no sistema nervoso central em desenvolvimento (USPHS 1997, Goyer 1993). Estudos em animais reproduziram muitos dos efeitos tóxicos listados acima, e animais que se alimentavam próximos a plantas de fundição, mineração e reciclagem freqüentemente ingeriram níveis de chumbo que resultaram em envenenamento e morte (Henny et al. 1991, Blus et al. 1991, USPHS 1997, WHO 1989, Collivignarelli et al. 1986). O chumbo é também tóxico para toda a biota aquática, e, embora não seja considerado um dos metais de maior mobilidade no meio ambiente, ainda há evidências consideráveis mostrando a biodisponibilidade de chumbo associado a sedimentos para espécies que se alimentam de depósitos (Bryan e Langston 1992). Além disso, o chumbo pode ser acumulado diretamente de águas salgadas e doces, especialmente em organismos filtradores que utilizam as brânquias como a principal rota de ingestão de nutrientes (Sadiq 1992). Estudos toxicológicos apontaram efeitos sub-letais em peixes, incluindo mudanças na morfologia, no metabolismo e em atividades enzimáticas. O comportamento de evitação (comportamento através do qual alguns animais aquáticos são capazes de evitar áreas com concentrações anormais de substâncias nocivas) também foi observado em peixes adultos expostos a níveis que variam de 10-100 mg/l (WHO 1989). Estudos envolvendo invertebrados (ostras, ouriços do mar, lesmas, copépodes e pulgas d´água) freqüentemente apontam uma redução no crescimento, na 54 CHEGA DE POLUIÇÃO fertilidade, e uma supressão da reprodução, e mortalidade, em concentrações de ug/l (partes por bilhão) (WHO 1989). Referências Alloway, B.J. (1990). Heavy metals in soils. John Wiley and Sons, Inc. New York, ISBN 0470215984 Bernard, A.M., Vyskocil, A., Kriz, J., Kodl, M. and Lauwerys, R. (1995). Renal effects of children living in the vicinity of a lead smelter. Environmental Research 68: 91-95 Blus, L.J., Henny, C.J., Hoffman, D.J. and Grove, R.A. (1991). Lead toxicosis in tundra swans near a mining and smelting complex in Northern Idaho. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 21: 549-555 Bryan, G.W. and Langston, W.J. (1992). Bioavailability, accumulation and effects of heavy metals in sediments with special reference to United Kingdom estuaries: a review. Environmental Pollution 76: 89-131 Collivignarelli, C., Riganti, V. and Urbini, G. (1986). Battery lead recycling and environmental pollution hazards. Conservation and Recycling 9, 1: 111-125 Forsyth, D.S., Dabeka, R.W. and Cleroux, C. (1991). Organic and total lead in selected fresh and canned seafood products. Food Additives and Contaminants 8, 4: 477-484 Goyer, R.A. (1993). Lead toxicity: current concerns. Environmental Health Perspectives 100: 177-187 Goyer, R.A. (1996). Toxic effects of metals. In Casarett & Doull's Toxicology. The Basic Science of Poisons, Fifth Edition, Klaassen, C.D. [Ed]. McGraw-Hill Health Professions Division, ISBN 0071054766 Henny, C.J., Blus, L.J., Hoffman, D.J., Grove, R.A. and Hatfield, J.S. (1991). Lead accumulation and osprey production near a mining site on the Coeur d'Alene River, Idaho. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 21: 415424 Nriagu, J.O. (1988). A silent epidemic of environmental metal poisoning. Environmental Pollution 50: 139-161 Pirkle, J.L., Kaufman, R.B., Brody, D.J., Hickman, T., Gunter, E.W. and Paschal, D.C. (1998). Exposure of the U.S. population to lead, 1991-1994. Environmental Health Perspectives 106, 11: 745-750 Sadiq, M. (1992). Toxic metal chemistry in marine environments. Marcel Dekker Inc., New York, Basel, Hong Kong. ISBN 0824786475 Sauve, S., McBride, M.B. and Hendershot, W.H. (1997). Speciation of lead in contaminated soils. Environmental Pollution 98, 2: 149-155 USPHS (1997). Toxicological profile for lead on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. U.S. Public Health Service World Health Organisation (1989). Lead- environmental aspects. Environmental Health Criteria 85. ISBN 9241542853 A3.5. Manganês O manganês é um metal traço essencial, embora a exposição humana e animal a níveis elevados possa causar problemas graves. Trabalhadores com exposição crônica a níveis elevados de manganês no ar sofreram distúrbios mentais e emocionais, além de apresentarem movimentos do corpo mais lentos e descoordenados. Essa combinação de sintomas é uma doença chamada manganismo. Os sintomas podem ser reduzidos por tratamento médico, mas devido aos níveis elevados de manganês que se acumulam no cérebro, qualquer lesão nesse órgão é freqüentemente permanente (ATSDR 1997). Não se sabe ao certo se a ingestão de níveis elevados de manganês pode causar manganismo ou não. A exposição a baixos níveis de manganês em trabalhadores em duas fundições de aço foi associada a sinais precoces de danos neurológicos (Wennberg 1991). Em um relatório, humanos expostos à água potável contaminada desenvolveram sintomas similares aos vistos em mineradores de manganês ou trabalhadores de plantas de aço, mas não se sabe ao certo se os efeitos foram causados pelo 55 CHEGA DE POLUIÇÃO manganês isoladamente. Outro relatório apontou que pessoas que bebiam água com níveis de manganês acima da média aparentavam ter uma freqüência mais alta de sintomas como fraqueza, rigidez muscular e tremor das mãos. No entanto, esses sintomas não são específicos ao manganês, e podem ter sido causados por outros fatores (ATSDR 1997). Estudos em animais têm mostrado que níveis elevados de manganês na comida ou na água podem causar mudanças no cérebro, o que sugere que tais níveis possam causar lesões cerebrais. Além disso, estudos em animais indicaram que o manganês também pode ser um intoxicante reprodutivo, especialmente para machos, danificando os testículos e causando impotência. Referência ATSDR (1997) ARSDR's Toxicological profiles on CD ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry, U.S. Public Health Service. CRC Publishers Wennberg A., Iregren A., Struwe G., Cizinsky G., Hagman M., Johanson L. (1991) Manganese exposure in steel smelters a health-hazard to the nervous-system. Scandinavian Journal of Work Environment & Health, 17(4), 255-262 A3.6. Mercúrio A3.6.1. Comportamento e Contaminação Ambiental Devido ao fato de o mercúrio ser o único metal que pode existir como líquido e vapor em temperatura ambiente, o seu comportamento ambiental difere do da maioria dos outros elementos tóxicos (USPHS 1997, WHO 1989). O mercúrio pode existir em três estados de valência, Hg (0), Hg (I) e Hg (II). Na atmosfera, o mercúrio elementar é sem dúvida a forma mais comum e, como vapor, é responsável pela propagação global do mercúrio. Além disso, em um grau muito menor, o mercúrio pode estar associado a material particulado, que é removido por deposição seca ou úmida. As fontes de entrada na atmosfera podem ser mais significativas em áreas onde outras fontes, como os rios contaminados, são menos importantes ou não-existentes (USPHS 1997, WHO 1993). No ambiente aquático, o mercúrio é mais comumente encontrado no estado mercúrico (II), e o seu destino, uma vez que o composto é lançado, é dominado pela adsorção rápida a material orgânico solúvel e particulado; seguido pela floculação, precipitação e o acúmulo final no sedimento de fundo. Devido à força com a qual o mercúrio se liga ao sedimento, a troca com a coluna de água é geralmente pequena, embora possa ser acelerada em águas salinas, e na presença de altas concentrações de sulfetos (condições anóxicas) (USPHS 1997, Bryan e Langston 1992). A dragagem ou a resuspensão de partículas do leito pode causar a disponibilização de mercúrio por curto período de tempo, embora os níveis de metais dissolvidos possam retornar rapidamente aos valores pré-perturbação. O acúmulo de mercúrio proveniente de sedimentos pode, portanto, ser uma rota dominante para a ingestão por 56 CHEGA DE POLUIÇÃO organismos aquáticos e é responsável por concentrações relativamente altas em organismos detritívoros, tanto em sistemas de água doce quanto marinhos (Bryan e Langston 1992). O mercúrio inorgânico pode ser metilado por microorganismos, inerentes aos solos, sedimentos de água doce e salgada. A forma mais comum de mercúrio orgânico é o metilmercúrio (MeHg), que é solúvel, móvel, e rápido para penetrar na cadeia alimentar aquática. A retenção seletiva de MeHg em cada passo da cadeia alimentar, em relação ao mercúrio inorgânico, é relacionada à sua alta solubilidade em lipídios, à sua meia-vida biológica longa, e ao aumento na longevidade dos predadores de topo de cadeia (Bryan e Langston 1992). Como resultado, o MeHg fornece um dos raros exemplos de biomagnificação metálica em cadeias alimentares (USPHS 1997, WHO 1989). Por exemplo, concentrações em peixes carnívoros no topo das cadeias alimentares em água doce e água salgada (como o lúcio, o atum, e o peixe-espada) são biomagnificadas 10.000-100.000 vezes comparando-se às concentrações encontradas em águas ambientes (USPHS 1997). A importância dessa bioacumulação é que ela geralmente é a fonte mais importante de exposição humana nãoocupacional ao mercúrio. A3.6.2. Toxicidade O mercúrio é um metal traço extremamente tóxico e não-essencial que não tem função bioquímica ou nutricional. Os mecanismos biológicos para a sua remoção são pobres, e, conforme mencionado anteriormente, o mercúrio é o único metal que sabe-se que se biomagnifica, isto é, acumula-se progressivamente através da cadeia alimentar (WHO 1989). A exposição aguda a níveis elevados de sais de mercúrio, ou a exposição crônica a doses baixas, é diretamente tóxica ao rim (Zalups e Lash 1994). Além disso, náusea e diarréia podem resultar da ingestão de grandes quantidades de sais de mercúrio inorgânico, e alguns efeitos no sistema nervoso também foram relatados (USPHS 1997, WHO 1989). A exposição ao MeHg também resultou em danos permanentes ao sistema nervoso central, aos rins e ao feto em desenvolvimento. Os níveis de MeHg que resultam nesses efeitos não são geralmente encontrados pela população geral, no entanto foram encontrados pela população de Minamata, no Japão, que estava exposta a níveis elevados de MeHg por comerem peixes e frutos do mar contaminados coletados da Baía (USPHS 1997). Sintomas como danos cerebrais, insensibilidade das extremidades, e paralisia, juntamente com a perda de audição, de fala e de visão foram relatados (D'Itri 1991). No entanto, mesmo hoje, ainda não foram caracterizados todos os sintomas neurológicos causados pela ingestão de MeHg em peixes e moluscos, e o número total de pessoas que sofreram da doença de Minamata ainda não foi determinado (D'Itri 1991). O problema da metilação de descargas passadas e presentes de mercúrio inorgânico continua, e o tempo longo de retenção de mercúrio por sedimentos atrasa a eliminação da contaminação por muitos anos (Harada 1997, Barbosa 1997, Akagi et al. 1995, Bryan e Langston 1992, D'Itri 1991). 57 CHEGA DE POLUIÇÃO Os estudos sobre a toxicidade aquática do mercúrio são numerosos, e novamente mostram que o MeHg é muito mais tóxico do que qualquer uma das formas inorgânicas. Estudos em invertebrados mostraram reduções significativas na taxa de crescimento do mexilhão Mytilis edulis em concentrações de 0,3 ug/l, com o crescimento quase cessando em 1,6 ug/l, e efeitos letais agudos observados em 25 ug/l (WHO 1989). Além disso, mudanças na atividade de filtração no consumo de oxigênio, na pressão osmótica sangüínea, na ativiade ciliar e valvular também foram relatados (Naimo 1995). Na ostra americana Crassostrea virginica, anormalidades embriônicas foram evidentes em concentrações de 5-10 ug/l. com taxas de sobrevivência de moluscos e lepas, copépodes, camarões e crustáceos, todos expostos e bastante afetados pelos níveis elevados de mercúrio (Bryan e Langston 1992). O mercúrio inorgânico é tóxico para peixes em baixas concentrações. Os 96-h LC50s variam entre 33-400 ug/l para peixes de água doce e são mais altos para peixes de água salgada; com compostos orgânicos sendo mais tóxicos para ambos (Bryan e Langston 1992, WHO 1989). Estudos apontaram uma ampla gama de efeitos adversos na reprodução em peixes expostos a níveis elevados incluindo a suspensão do desenvolvimento do oócito nos ovários e espermatogênese nos testículos de peixes de água doce. Reduções na taxa de sobrevivência do embrião e filhotes do Fundulus heteroclitus também foram relatadas, juntamente com reduções no crescimento e um aumento nas taxas de deformidades em trutas (WHO 1989). Falta de movimento e consumo de alimentos reduzido, cegueira e taxa respiratória reduzida também foram encontrados em uma espécie de truta (“rainbow trout – truta arco-íris”), peixes de água doce e um tipo de peixe semelhante à carpa, expostos a níveis elevados de mercúrio (WHO 1989). Altas incidências de anormalidades também foram observadas em aves marinhas, anormalidades que aparentam estar correlacionadas com os resíduos de mercúrio em tecidos. Mesmo em locais aparentemente afastados da contaminação, concentrações elevadas de mercúrio foram encontradas no fígado e nos rins de aves aquáticas que se alimentavam de peixes, como a Fulmarus glacialis. Níveis comparáveis aos suspeitos de produzirem efeitos sub-letais, especialmente mudanças patológicas no rim; e que foi demonstrado que levam à morte em outras espécies (Bryan e Langston 1992). Referências Akagi, H., Malm, O., Kinjo, Y., Harada, M., Branches, F.J.P, Pfeiffer, W.C. and Kato, H. (1995). Methylmercury pollution in the Amazon, Brazil. The Science of the Total Environment 175: 85-95 Barbosa, A.C. (1997). Mercury in Brazil: present or future risks? Journal of the Brazilian Association for the Advancement of Science 49,1/2: 111-116 Bryan, G.W. and Langston, W.J. (1992). Bioavailability, accumulation and effects of heavy metals in sediments with special reference to United Kingdom estuaries: a review. Environmental Pollution 76: 89-131 D'Itri, F.M. (1991). Mercury contamination: what we have learned since Minamata. Environmental Monitoring and Assessment 19: 165-182 Harada, M. (1997). Neurotoxicity of methylmercury; Minamata and the Amazon. In Mineral and Metal Neurotoxicology. Yasui, M., Strong, M.J., Ota, K. and Verity, M.A.[Eds]. CRC Press Inc., ISBN 0849376645 Naimo, T.J. (1995). A review of the effects of heavy metals on freshwater mussels. Ecotoxicology 4: 341-362 58 CHEGA DE POLUIÇÃO USPHS (1997). Toxicological profile for Mercury on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. U.S. Public Health Service World Health Organisation (1989). Mercury. Environmental Health Criteria 86. ISBN9241542861 World Health Organisation (1993). Guidelines for drinking water quality. Volume 1: Recommendations. ISBN 9241544600 Zalups, R.K., Lash, L.H. (1994). Advances in understanding the renal transport and toxicity of mercury. Journal of Toxicology and Environmental Health 42: 1-44 A3.7. Zinco A3.7.1. Comportamento e Contaminação Ambiental O zinco ocorre no meio ambiente principalmente no estado de oxidação +2, seja como íon de zinco livre (hidratado), ou como complexos e compostos dissolvidos e insolúveis (USPHS 1997). Em solos, ele freqüentemente permanece fortemente sorvido, e no ambiente aquático ele se prenderá predominantemente ao material suspenso antes de se acumular no sedimento (USPHS 1997, Bryan e Langston 1992, Alloway 1990). No entanto, a re-solubilização em fase aquosa, mais biodisponível, é possível, sob certas condições físico-químicas, como na presença de ânions solúveis, na ausência de matéria orgânica, minerais da argila e hidróxidos de ferro e manganês, baixo pH e salinidade aumentada (USPHS 1997). O zinco em uma forma solúvel (como sulfato ou cloreto, presente em cinza de incinerador, ou em resíduos de minas) tem uma chance muito maior de migrar pelo meio ambiente do que se estiver preso a matéria orgânica como precipitado insolúvel (como em borra de esgoto) (USPHS 1997). O zinco é um elemento essencial, presente nos tecidos de animais e plantas mesmo em concentrações normais, ambientes. No entanto, se plantas e animais são expostos a concentrações elevadas de zinco biodisponível, a bioacumulação pode ocorrer, com possíveis efeitos tóxicos (USPHS 1997). A3.7.2. Toxicidade e Essencialidade O zinco é um metal essencial para a nutrição, tendo papéis enzimáticos, estruturais e regulatórios em muitos sistemas biológicos (Goyer 1996, Aggett e Comerford 1995). A deficiência em humanos pode resultar em conseqüências sérias para a saúde incluindo crescimento retardado, anorexia, dermatite, depressão e sintomas neuropsiquiátricos (Agget e Comerford 1995). No extremo oposto, a exposição excessiva pela alimentação, tanto em humanos quanto em animais, pode causar distúrbio gastrointestinal e diarréia, dano pancreático e anemia (USPHS 1997, Goyer 1996). Devido à essencialidade do zinco, recomenda-se um nível de ingestão diário de 15 mg/dia para homens, e 12 mg/dia para mulheres. No entanto, ingerir alimentos contendo grande quantidade de zinco pode induzir os sintomas listados acima. Por exemplo, estudos em animais envolvendo doses 1.000 vezes mais altas do que o nível recomendado, ao longo de um 59 CHEGA DE POLUIÇÃO período de um mês, resultou em anemia e danos ao pâncreas e ao rim; e ratos que ingeriram grandes quantidades de zinco tornaram-se inférteis (USPHS 1997). Humanos ingerindo suplementos alimentares acima das doses recomendadas (400-500 mg/dia) sofreram gastroenterites sérias (Abernathy e Poirier 1997); e humanos que beberam água de canos galvanizados, durante um período prolongado, sofreram de irritabilidade, rigidez e dor muscular, perda de apetite e náusea (UNEP 1993). Estudos em ambientes aquáticos mostraram que, embora o zinco não seja considerado extremamente tóxico aos organismos, ele é às vezes lançado no ambiente aquático em quantidades apreciáveis. E, em quantidades consideráveis, o zinco pode causar ruptura nas membranas celulares externas ou nas paredes celulares de organismos, resultando em rápida mortalidade (UNEP 1993). No entanto, muitos estudos agora apontam que o zinco não é prejudicial apenas em concentrações altas, mas também em concentrações sub-letais mais baixas, especialmente após exposição prolongada. Por exemplo, estudos mostram que em concentrações a partir de 15 ug/l, as taxas de fixação de carbono em populações naturais de fitoplâncton diminuíram. Outros observaram que o crescimento de cultura de diatomáceas foi inibido em concentrações de 20 ug/l (Bryan e Langston 1992). Efeitos na fertilização e no desenvolvimento embriônico em uma espécie de arenque (“Baltic spring-spawning herring”) em baixa salinidade foram detectados em concentrações de apenas 5 ug/l (UNEP 1993) e a fertilidade de sucessivas gerações do copépode harpaticóide Tisbe holothuria foi reduzida pela exposição contínua a concentrações de apenas 10 ug/l (Verriopoulos e Hardouvelis 1988). Em concentrações levemente mais elevadas, estudos investigando os efeitos do zinco nas crias de uma espécie de camarões (Artemia salina) apontaram que, embora concentrações aumentadas de zinco não tenham afetado o desenvolvimento antes do surgimento, o estágio larval do desenvolvimento foi altamente sensível ao zinco e fortemente afetado por ele (Bagshaw et al 1986). Além disso, a inibição do desenvolvimento de larvas foi observada em equinodermes (como ouriços e estrelas-do-mar) Paracentrotus lividus em uma concentração de zinco de apenas 30 ug/l (UNEP 1993). O crescimento da concha de mexilhões Mytillus edulis foi afetado em uma concentração de 200 ug/l. Com o consumo de oxigênio, as taxas de alimentação e filtração foram reduzidas em concentrações variando de 750 a 2000 ug/l. Efeitos adversos na larva de moluscos foram observados em níveis a partir de 40 ug/l (UNEP 1993). Estudos em plantas mostram que, embora seja um elemento essencial para plantas de grande porte, em concentrações elevadas, o zinco é considerado fitotóxico, afetando diretamente a produção de cultivares e a fertilidade do solo. Concentrações do solo variando de 70-400 mg/kg são classificadas como críticas, acima das quais a toxicidade é considerada provável (Alloway 1990). Foi a observação da fitotoxicidade do zinco em solos corrigidos por borra de esgoto que levou inúmeros países a formular diretrizes para o uso das borras (Alloway 1990). Referências 60 CHEGA DE POLUIÇÃO Abernathy, C.O. and Poirier, K.A. (1997). Uncertainties in the risk assessment of essential trace elements: the case of zinc. Human and Ecological Risk Assessment 3, 4,: 627-633 Aggett, P.J. and Comerford, J.G. (1995). Zinc and human health. Nutrition Reviews 53, 9: S16-S22 Alloway, B.J. (1990). Heavy metals in soils. John Wiley and Sons, Inc. New York, ISBN 0470215984 Bagshaw, J.C, Rafiee, P., Matthews, C.O. and Macrae, T.H. (1986). Cadmium and zinc reversibly arrest development of Artemia lavrae. Bull. Environ. Contam. Toxicol. 37: 289-296 Bryan, G.W. and Langston, W.J. (1992). Bioavailability, accumulation and effects of heavy metals in sediments with special reference to United Kingdom estuaries: a review. Environmental Pollution 76: 89-131 Goyer, R.A. (1996). Toxic effects of metals. In Casarett & Doull's Toxicology. The Basic Science of Poisons, Fifth Edition, Klaassen, C.D. [Ed]. McGraw-Hill Health Professions Division, ISBN 0071054766 UNEP (1993). Preliminary assessment of the state of pollution of the Mediterranean Sea by zinc, copper and their compounds and proposed measures. Mediterranean Action Plan UNEP (OCA)/MED/WG.66/Inf.3, Athens 3-7 May 1993 USPHS (1997). Toxicological profile for zinc on CD-ROM. Agency for Toxic Substances and Disease Registry. U.S. Public Health Service Verriopoulos, G. and Hardouvelis, D. (1988). Effects of sub-lethal concentrations of zinc on survival and fertility in four generations of Tisbe. Marine Pollution Bulletin 19: 162-166 61 CHEGA DE POLUIÇÃO