hinduísmo

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HINDUÍSMO
O hinduísmo não tem um sistema unificado de crenças, codificado numa declaração de fé ou
um credo, mas sim é um termo abrangente, que engloba a pluralidade de fenômenos religiosos que
se originaram e são baseados nas tradições védicas.
Os problemas com uma única definição do que realmente se quer dizer pelo termo 'hinduísmo'
frequentemente são atribuídas ao fato de que o hinduísmo não tem um fundador histórico único ou
comum. O hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de salvação,
e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As formas da religião
védica são vistos não como uma alternativa ao hinduísmo, mas como a sua forma mais antiga, e
praticamente não há justificativa para as divisões estabelecidas pela maior parte dos acadêmicos
ocidentais entre o vedismo, o bramanismo e o próprio hinduísmo.
A mais antiga evidência de uma religião pré-histórica na Índia data do fim do Neolítico, no
período harapano inicial (5500-2600 a.C.). As crenças e práticas do período pré-clássico (1500-500
a.C.) são chamadas coletivamente de "religião histórica védica". O hinduísmo moderno cresceu a
partir dos Vedas, dos quais o mais antigo é o Rig Veda, que data de 1700-1100
a.C. Os Vedas centralizam o culto em divindades como Indra, Varuna e Agni, e no ritual
do soma. Sacrifícios de fogo eram realizados, chamados de yagna (yajña), e
entoavam mantras védicos, porém não construíam templos nem ícones. As tradições védicas mais
antigas mostram fortes semelhanças com o zoroastrianismo e outras religiões indo-europeias. Os
principais épicos em sânscrito, o Ramáiana e o Mahabárata, foram compilados durante um período
extenso que abrangeu os últimos séculos antes de Cristo, e os primeiros da Era Comum, e contêm
histórias mitológicas sobre os governantes e as guerras da antiga Índia, intercaladas com tratados
religiosos e filosóficos. Os Puranas posteriores recontam histórias sobre os devas e devis, suas
interações com os humanos e suas batalhas contra demônios (rakshasas).
Origens históricas e aspectos sociais
Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já que a sua existência antecede os registros
históricos. É dito que o hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que residiam nos continentes subindianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos, e harapanos. Alguns dizem que o hinduísmo
nasceu com o budismo e o jainismo, mas Heinrich Zimmer e outros indólogos afirmam que o jainismo
é muito anterior ao hinduísmo, e que o budismo deriva deste e do Sankhya que em consequência
afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas são as ideias sobre as origens dos Vedas
e a compreensão se os arianos eram ou não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do
hinduísmo data de 4.000 a 6.000 anos a.C.
Historicamente, a palavra hindu antecede o hinduísmo como religião; o termo é de
origem persa e primeiramente referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa)
do Sindhu ou rio Indo. Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião védica
desde o século XV e século XVI, por personalidades como Guru Nanak (fundador do sikhismo).
Durante o Império Britânico, a utilização do termo tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos
hindus védicos foi denominada "hinduísmo". Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para
uma cultura que vinha prosperando desde a mais remota Antiguidade.
OS VEDAS
Denominam-se Vedas ou Vêdas as quatro obras, compostas em um idioma chamado vêdico,
de onde se originou posteriormente o sânscrito clássico. Há cerca de 3 500 anos, as comunidades
na região do vale do Indo, atual norte da Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos
mais antigos de que temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças foram transmitidas oralmente de
geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas, compilação de hinos e
preces considerada como o primeiro livro sagrado da história. O conteúdo dessa literatura sagrada,
composta de 4 volumes de texto em versos, explica ao mesmo tempo a unidade e a variedade das
múltiplas correntes do hinduísmo. Graças a alguns de seus ensinamentos mais importantes, esse
conjunto de livros é sagrado para mais de 1 bilhão de pessoas que seguem seitas tão diferentes a
ponto de serem monoteístas, politeístas ou panteístas – e ainda assim integrarem a mesma religião.
Os historiadores acreditam que a primeira versão dos Vedas em papel seja do século 2 a.C.,
quando o povo hindu desenvolveu um sistema de escrita. Segundo a lenda, eles teriam sido
organizados por Vyasa, um sábio que seria a encarnação de Vishnu, deus que em todos os ciclos
de criação e destruição do Universo elabora as escrituras em 4 livros, para garantir que os cânticos
se propaguem e se eternizem. O mesmo Vyasa seria responsável por outros textos sagrados do
hinduísmo, como o Mahabharata, ditado por ele a Ganesh, o deus com cabeça de elefante, que teria
passado as palavras para o papel. Lendas à parte, os historiadores estimam que os 4 Vedas –
RigVeda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda – teriam sido compilados entre 1500 e 900 a.C. Mas,
seja qual for sua origem, é nos textos védicos que estão os principais conceitos e símbolos do
hinduísmo, os deuses, lendas e ensinamentos que dão forma e unidade à religião.
OS QUATRO VEDAS
Nome
Significados
Veda dos hinos
Rigveda
Yajurveda
Veda do sacrifício (ou
rituais)
Samaveda
Veda dos cantos
Veda dos feitiços (ou
encantamentos)
Atharvaveda
Conteúdo
é constituído por mais de dez mil e quinhentos hinos, rituais e
oferendas a divindades, e serviu de base aos restantes três
capítulos. Este contém também muitos aspectos da ciência
védica como o yoga, a meditação e os mantras.
está relacionado com rituais e sacrifícios do yoga no sentido do
acordar da mente e do acordar da consciência interior e data de
1500 – 500 a.C.
é uma colecção de canções. Os seus hinos provêm do Rig Veda
mas numa versão cantada e reduzida
é o último dos Vedas e é totalmente distinto dos três anteriores
apesar de derivar do primeiro (Rig Veda). Este é composto por
quase seis mil hinos de feitiços mágicos e encantos
característicos da época (encantamentos para curar doenças,
preces para a vida longa, encantos para as mulheres, para obter
prosperidade, entre outros)
UPANISHADES
Os Upanishads derivam do mais antigo texto hindu, os Vedas, que formam a base de toda a
filosofia do hinduísmo. Originalmente eram cerca de 200 textos, mas 12 são considerados os mais
importantes. Por meio de diálogos entre mestre e discípulo, os Upanishads falam sobre a
compreensão da alma humana (Atman) e o caminho para se atingir a realidade absoluta (Brahman).
Seu autor é desconhecido, mesmo após estudiosos tentarem em vão descobrir sua identidade. Foi
o filósofo Shankara quem compilou os 10 mais importantes e acrescentou comentários que até hoje
influenciam a cultura hindu. Os Upanishads também são chamados Vedantas (o fim dos Vedas,
escrituras religiosas hindus), não apenas por serem os últimos textos a ser concluídos, mas por
reunirem os ensinamentos mais importantes. Eles tratam de filosofia e meditação e são considerados
a essência do pensamento hindu (religião seguida hoje por mais de 500 milhões de pessoas no
mundo), a busca do indivíduo por uma conexão com o universal, a realidade absoluta. Os Upanishads
e o Mahabharata se completam: os primeiros têm uma conotação filosófica e o segundo, uma
importância cultural.
O MAHABHARATA
“A Grande História dos Bharatas”, como se traduz seu título, é o principal épico religioso da
civilização indiana – e também o maior poema de todos os tempos, com cerca de 200 000 versos.
Só para ter uma idéia, isso equivale a sete vezes a soma da Ilíada com a Odisséia, os dois épicos
atribuídos ao poeta grego Homero que inauguraram a literatura ocidental. Em sânscrito, bharatas
queria dizer originalmente “saqueadores”, termo que deu nome às tribos arianas que teriam ocupado
a Índia em torno de 1700 a.C. (invasão hoje contestada por muitos historiadores). O livro só ganhou
sua forma definitiva no século II d.C., mas acredita-se que a maioria dos versos foi compilada no
século IV a.C. – apesar de serem bem mais antigos na tradição oral, como quase todos os textos
religiosos. A coletânea é creditada ao sábio Vyasa, personagem mítico considerado o autor de outras
escrituras sagradas do hinduísmo, como os Vedas e os Puranas.
BRAMANISMO
O Bramanismo surge da evolução da religião Védica. É um conjunto de concepções religiosas,
sociais e políticas, oriundo do vedismo, primitiva forma de religião dos hindus, que tem como base
os textos dos Vedas (conhecimento divino) ou o Sruti (revelação), transmitidos oralmente e
considerados de origem divina.
A Índia é conhecida mundialmente por seu sistema de castas, sendo essas introduzidas pelos
Brâmanes. Mitologicamente explica-se que as 4 castas surgiram do corpo de Brahman, de sua
cabeça saíram os Brâmanes, considerados como seres quase divinos, detentores do monopólio da
religião; dos braços de Brahman surge a casta dos Kshátriyas, que constituem os nobres e os
guerreiros; de suas pernas surgem os Vaicias, os agricultores e comerciantes; de seus pés os
Sudras, homens de cor, que realizam os trabalhos mais simples, artesões e escravos. Fora das
castas e segregados da sociedade encontramos os Parias ou Chandâlas, considerados como “os
sem berço”. Esse sistema de castas se sustenta dentro da ideia de transmigração das almas. Para
o Bramanismo todos os homens vivem dentro do que denominam “Roda de Sansara”, o ciclo de
nascimentos e mortes. A alma humana, por uma necessidade evolutiva, devido a sua imperfeição,
necessita de sucessivas encarnações sob diferentes formas de acordo com o seu Karma, a soma
dos méritos e deméritos de uma vida. Esse saldo (Karma) determina necessariamente a vida futura
e, portanto, justifica o nascimento em uma ou outra casta. A salvação (Moksha) consiste em libertarse do karma, em libertar-se do renascer. No bramanismo, reencarnar é participar das dores do
mundo, como se fosse o recomeço do sofrimento. Para alcançar a libertação do sansara são
necessários, em um primeiro momento o sacrifício e no segundo o conhecimento.
JAINISMO
Segundo historiadores da religião, o jainismo estabeleceu-se na Índia em meados do primeiro
milênio aC. O seu fundador foi Mahavira, e existem duas propostas aceitas como possíveis para o
período em que viveu: 599 a 527 aC (a data tradicional, adotada pelos jainistas) ou 540 a 470 aC
(segundo grupos acadêmicos). Mahavira nasceu perto de Patna, onde é hoje o estado do Bihar.
Tendo sido um contemporâneo do Buda, pregou na mesma região geográfica que este, embora não
conste que estes dois buscadores tenham alguma vez se encontrado. Mahavira pertencia à casta
dos guerreiros ('kshatriya'): casou e viveu no luxo, até que por volta dos trinta anos tornou-se um
mendigo errante. Segundo a tradição, entregou-se a longos processos ascéticos até obter a
Iluminação, tendo consagrado os restantes trinta ou quarenta anos da sua vida à pregação da sua
doutrina. Faleceu em Pavapuri, no Bihar, que é desde então um dos principais centros da
peregrinação jaina. Como se vê, a história de Mahavira e a do Buda são praticamente idênticas.
A não-violência é o cerne do jainismo e o ponto onde todas as doutrinas se intersectam. A
violência é a agressão intencional ou não-intencional. Os jainistas tentam evitar a agressão em todas
as suas formas, seja através de ações, palavras, ou pensamentos, a todo e qualquer ser vivo, ou aos
ecossistemas. O jainismo considera o lacto-vegetarianismo como o mínimo que deve ser feito pelos
adeptos, e os estudiosos jainas defendem o veganismo, porque a produção de leite é agressiva para
as vacas. Os jainas também não comem tubérculos. Os jainas também têm um cuidado especial
para evitar possíveis danos a pequenos insetos, por exemplo ao colocarem um pano sobre as suas
bocas para não os aspirarem ou varrendo o chão à sua frente quando andam para evitar pisá-los.
O tempo
Os jainas consideram que o tempo é infinito e cíclico. Ele é visto como uma grande roda
dividida em duas partes idênticas: uma realiza um movimento ascendente (Utsarpini), enquanto que
a outra um movimento descendente (Avasarpini). Cada uma destas partes divide-se em seis eras
(ara). Durante o período ascendente os seres humanos progridem ao nível do saber, estatura e
felicidade, enquanto que o período descendente caracteriza-se pela degradação do mundo, pelo
esquecimento da religião e pela perda de qualidade de vida pelos humanos. Segundo os jainas,
vivemos atualmente num período de movimento descendente, numa era de infelicidade (Dukham
Kal), que começou há 2500 anos e que durará 21 mil anos.
O universo e os cinco mundos
Segundo o jainismo, o universo divide-se em cinco mundos, sendo cada um deles habitado
por determinado tipo de seres. O universo é eterno, não tendo sido criado por nenhum ser superior.
No topo do universo está a morada suprema (siddhashila), que é o local onde habitam as almas que
alcançaram a libertação (estas almas são denominadas Siddhas). Abaixo encontram-se trinta céus,
habitados por seres celestiais, alguns dos quais caminham para a morada suprema. O mundo médio
(madhyaloka) inclui vários continentes separados por mares. No centro deste mundo encontra-se o
continente Jambudvipa, considerado o único continente no qual as almas podem alcançar a
libertação. Os seres humanos habitam este continente, bem como um segundo continente ao lado
deste e parte do terceiro continente. O mundo inferior (adholoka) consiste em sete infernos, onde os
seres são atormentados por demónios e onde se atormentam uns aos outros. Abaixo do sétimo
inferno encontra-se a base do universo (nigoda), habitada por inúmeras formas inferiores de vida.
Karma
À semelhança do hinduísmo e do budismo, o jainismo partilha da crença no karma, embora
de uma forma diferente. O karma no jainismo não é apenas um processo em que determinadas ações
produzem reações, mas também uma substância física que se agrega a uma alma. As partículas de
karma existem no universo e associam-se a uma alma devido às ações dessa alma (por exemplo,
quando uma alma mente, rouba ou mata esta provoca a agregação de karma na sua alma). A
quantidade e qualidade destas partículas determinam a existência que a alma terá, a sua felicidade
ou infelicidade. Só é possível a uma alma alcançar a libertação quando desta se retirarem todas as
partículas de karma.
O processo que permite a libertação das partículas de karma de uma alma denominase nirjara e inclui práticas como o jejum, o retiro para locais isolados, a mortificação do corpo e
a meditação. Os seguidores do jainismo utilizam para isso um ritual mortuário chamado Sallekhana
(também conhecido como Santhara, Samadhi-Marana, Samnyasa-Marana),que consiste em praticar
a eutanásia através do jejum. Devido à natureza prolongada da sallekhana, é dado tempo ao
indivíduo suficiente para refletir sobre sua vida e pedir perdão dos seus pecados aos deuses. O voto
de sallekhana é tomado quando se sente que a vida tem servido o seu propósito. O objetivo é limpar
karmas antigos e impedir a criação de novos. Existe uma prática hindu similar conhecido como
Prayopavesa.
Os doze "Anuprekshas" - a "Matéria de Pensamento Profundo" –
1. Todas as coisas mundanas são temporárias.
2. Apenas a alma é o único refúgio
3. Este mundo é sem começo e deformado.
4. Nada ajuda a alma além de si mesma.
5. Corpo e mente são, essencialmente, separados da alma.
6. A alma é essencialmente pura, e o corpo e a mente são impuros.
7. O cativeiro da alma é devido a influência do karma sobre ela.
8. Todos os seres devem parar a influência do karma.
9. A liberação é alcançada quando se está absolutamente livre do karma.
10. A alma liberada preenche o espaço.
11. Neste mundo, ter um nascimento como ser humano e meditar na natureza da alma é a maior
bênção.
12. Ter as três jóias comum descritas pelo onisciente é apenas moralidade.
BUDISMO
O budismo é uma religião e filosofia não teísta que abrange uma variedade de tradições,
crenças e práticas baseadas nos ensinamentos atribuídos a Sidarta Gautama, mais conhecido como
Buda ("O Iluminado"). De acordo com a tradição budista, Buda viveu e ensinou na parte leste do
subcontinente indiano em algum momento entre os séculos VI e IV a.C. Ele é reconhecido pelos
adeptos como um mestre iluminado que compartilhou seu conhecimento para ajudar os seres a
alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando o Nirvana e escapando do que é visto como
um ciclo de sofrimento do renascimento.
Dois principais ramos do budismo são identificados: o Mahayana e Teravada. O Teravada
(Escola dos Anciãos), mais tradicional e próximo ao budismo inicial, se espalhou mais pelo sudoeste
da Ásia, em países como Sri Lanka, Tailândia, Laos e Camboja, enquanto o budismo Mahayana
(Grande Veículo), que se aproximou mais das tradições dos países por onde se espalhou, e engloba
escolas como o Zen, Terra Pura e o budismo tibetano, se espalhou mais pelo Tibete, China e Japão.
Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, tornandoo a quinta maior religião do mundo. As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho
da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas
Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o
Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista).
Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um budista
de um não budista.
SIDARTA GAUTAMA
Sidarta Gautama nasceu em 563 a.C. em Lumbini, aos pés do Himalaia, em uma região que
hoje pertence ao Nepal. Era um aristocrata, da casta ksatrya, a dos guerreiros e governantes. Seu
pai, Shudodhana, era o rei do clã dos sakyas. Vem daí o outro nome pelo qual Sidarta se tornaria
conhecido: Sakyamuni, ou “o sábio silencioso dos sakyas”. O pai de Sidarta, temendo que se
cumprisse uma profecia segundo a qual ele se tornaria um homem santo, cercou-o de luxos e
prazeres, acreditando que se o mantivesse ignorante sobre o sofrimento do mundo, iria afastá-lo do
caminho espiritual. Sidarta tinha um palácio para o inverno, outro para o verão e um terceiro para a
época das chuvas. Na adolescência, vivia cercado por belas moças, ocupadas em diverti-lo em seus
aposentos decorados com sugestiva arte erótica. Aos 16 anos, escolheu-se uma noiva para ele, a
bela Yashodhara, com quem teria um filho, Rahula.
Pouca coisa mudaria na sua vida até os 29 anos. Apesar de todo o luxo, Sidarta sentia-se
infeliz. Certo dia, contra a vontade do pai, saiu para passear fora do palácio e se surpreendeu com
quatro cenas que o tirariam para sempre daquela vida de prazeres. Primeiro, viu um velho arqueado,
de pele enrugada, movendo-se com dificuldade. Depois, avistou um doente que sofria dores terríveis.
Mais tarde, cruzou seu caminho um cortejo fúnebre. Um morto era carregado por amigos e parentes
que choravam sua perda. Foi um choque e tanto para alguém que sempre vivera protegido, sem se
dar conta de que tudo que nasce também se degenera, envelhece e morre. “A imagem que temos
de Sidarta Gautama pelas antigas escrituras é a de um jovem às voltas com problemas existenciais,
angustiado por questões ligadas ao mistério da vida”, diz o monge brasileiro Nissin Cohen, que
traduziu para o português o Dhammapada, uma das mais importantes escrituras budistas. A quarta
visão do passeio de Sidarta foi um mendigo errante, esmolando por comida. Apesar da sua pobreza,
tinha porte ereto, feições radiantes e expressão de profunda serenidade. Sidarta determinou-se a
também abraçar uma vida santa e a buscar uma resposta para o sofrimento que viu no mundo. Uma
decisão como essa não era tão incomum na Índia daquela época. Acreditava-se que somente quando
se abandona a vida doméstica e os laços afetivos para tornar-se um eremita ou andarilho é que se
conseguem as respostas para a busca espiritual. Essa busca tinha um objetivo específico. A maioria
da população indiana acreditava em alguma forma de renascimento ou transmigração, em um ciclo
interminável que começa no nascimento, passa para a velhice, a morte e recomeça em novo
nascimento. O ideal que todos desejavam era algo capaz de pôr fim a esse ciclo, que pudesse libertar
o espírito desse movimento circular.
Sidarta abandonou o palácio enquanto todos dormiam. Saiu de fininho, sem ao menos se
despedir da mulher e do seu pequeno filho. O príncipe logo aprendeu a dormir no chão e a esmolar
por comida. Além da mendicância, a vida de filósofo-andarilho (ou sramana) incluía práticas de
meditação. Na sua busca, ele se aproximou de dois famosos mestres e rapidamente chegou aos
últimos estágios de absorção contemplativa propostos por eles. Mas ainda não atingira a suprema
realização que buscava. Dedicou-se então à automortificação. As práticas ascéticas são comuns às
formas primitivas da maior parte das religiões, inclusive no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. O
que está por trás da autoflagelação é a idéia de que um rígido controle dos sentidos desenvolve a
autodisciplina e transfere o máximo de energia corporal para a atividade mental.
Durante seis anos, Sidarta experimentou privações e dores. Mudou radicalmente a
alimentação, ampliando o período entre as refeições. De uma por dia, passou a uma a cada dois
dias, três, quatro, até alimentar-se somente a cada 15 dias. Depois, diminuiu a quantidade
até chegar à ração diária de um único grão de arroz. Simultaneamente, fazia experiências
psicológicas, analisando em si mesmo certas emoções que, acreditava, só poderia eliminar
completamente se as observasse em profundidade. Para analisar o medo e meditar sobre a
impermanência, passava noites deitado entre cadáveres e esqueletos num cemitério. Ainda assim,
não alcançara sua realização final. O próprio Sidarta descreve os efeitos dos jejuns: “Quando eu
pensava estar tocando a pele do meu abdomem, era a minha coluna que eu segurava”. Abandonou
essas práticas quando já era quase só pele e ossos. Sua experiência provou que a autoflagelação
embota a mente em vez de favorecê-la.
Ele intuiu, então, que o caminho para a libertação não estava nos excessos de ascetismo,
nem nos da sensualidade, mas em um ponto de equilíbrio entre eles. Vem daí a expressão “caminho
do meio”, um dos pilares do Budismo. Sidarta voltou a comer. Segundo conta-se, uma porção de
arroz e leite oferecida por uma jovem que o encontrou quase morto à beira de um rio. Dias depois,
recuperado, preparou um assento de capim sob uma figueira – que ficaria conhecida como a árvore
bodhi, ou árvore da iluminação – na região de Bodhgaya, no norte da Índia. Decidiu então que ou
atingiria a iluminação ali ou morreria. Mesmo para um alto praticante como ele, surgiram obstáculos.
Alguns relatos os descrevem na forma de tentações e demônios, como Mara, deus indiano da morte.
São imagens que simbolizam os obscuros medos reprimidos, fragmentos de memória, dúvidas,
fantasias e outros conteúdos mentais tão persistentes e familiares a quem já tenha tentado alguma
prática meditativa. Sidarta transpôs esses obstáculos e, serenamente, dominou todos os estágios de
meditação. Como fez isso? As escrituras dizem apenas que ele permaneceu imóvel diante das
investidas de Mara. Mas há uma pista nas técnicas para lidar com esses conteúdos mentais. Uma
delas é a meditação de ponto único. Nela, a observação concentra-se em um objeto específico (a
respiração, por exemplo), controlando ou suspendendo temporariamente o fluxo dispersivo de
pensamentos.
Assim, Sidarta tornou-se um Buda numa noite de lua cheia no mês de maio, quando tinha 35
anos. Buda não é um nome próprio, mas uma palavra em sânscrito que significa “o Desperto” ou “o
Iluminado”. Esse título passou a definir a condição de Sidarta Gautama e ficou ligado ao seu nome,
da mesma maneira como o título de Cristo (“Salvador”) associou-se ao nome de Jesus.
O detalhamento dessa experiência sob a figueira tornou-se o corpo dos seus ensinamentos,
cuja essência é não fazer o mal, praticar o bem e purificar a mente. Buda ampliou o conhecimento
sobre a mente humana e acreditava ter descoberto uma verdade profunda que lhe permitiu viver
grande transformação interior e conquistar a imunidade ao sofrimento. Depois da sua iluminação,
passou 45 anos ensinando outras pessoas a fazer o mesmo e organizou comunidades de monges
só homens. No início, o próprio Buda não era favorável à admissão de mulheres em sua ordem.
Parece que sua preocupação era com a dispersão que a presença delas pudesse representar em
uma comunidade que tinha como um de seus pilares o total controle dos desejos. Mas acabou
mudando de idéia.
A grande novidade trazida por Buda em sua época foi a idéia de que a vida espiritual, como
capacidade de conhecer a si mesmo, não tem nada a ver com as restrições de casta impostas pelos
brâmanes. Foi um salto e tanto para a estrutura social da Índia, que aceitou prontamente essa religião
tolerante. Buda diz que todos os seres humanos têm vislumbres de iluminação. Isso acontece nos
momentos em que aquele insistente e auto-referente “eu” não interfere, quando a mente não se
prende ao passado, não sonha com o futuro e se envolve apenas com o momento presente. Esses
vívidos momentos de ligação com o aqui-e-agora contrastam com a mente habitual. Eles surgem
como relances fugidios, mas podem também ser voluntariamente induzidos pelo processo meditativo.
Aí está o fim do sofrimento, a iluminação, o nirvana.
A essência dos ensinamentos budistas está nas práticas meditativas, que se fundam em tradições
anteriores ao próprio Buda. Na meditação busca-se cessar a atividade mental ininterrupta, na qual
pensamentos e fantasias bloqueiam a experiência direta e intuitiva. Na maior parte do tempo
alimentamos pensamentos que podem nos deixar ansiosos, frustrados, com mágoa, raiva,
ressentimento ou medo. Tragada por esse vórtice de sensações, nossa atenção perde o foco. É por
isso que, muitas vezes, comemos sem sentir o sabor do alimento, olhamos uma pessoa sem vê-la
de fato. Por quase meio século, Buda viveu cercado de multidões às quais receitava antídotos para
essa dispersão, como a chamada “atenção plena”, prática que consiste em dispensar o máximo de
atenção a tudo o que se faz – e que está na base de várias técnicas meditativas.
Buda morreu por volta de 483 a.C., depois de um acesso de disenteria que teria sido causado
pela ingestão de carne de porco. Há algo menos divino – ou tão demasiadamente humano – do que
morrer de dor de barriga? Sua doutrina foi transmitida através de numerosas linhagens de mestres
que se espalharam por vários países. Quando morreu, seus ensinamentos estavam bem
estabelecidos na região central da Índia. Havia muitos seguidores leigos, mas o coração da
comunidade eram os monges mendicantes, os bhiksus. Sua doutrina se espalhou por uma poderosa
rede de mosteiros e tomou diversas formas, adaptando-se a diferentes situações históricas e
culturais. Essa característica flexível do Budismo seria determinante para sua difusão. Por ser ele
mesmo mutável e impermanente, o Budismo tem um mecanismo interno que barra o
fundamentalismo – risco presente em outras religiões, cuja história está manchada de sangue.
“Não deveis aceitar nada por ouvir falar, tampouco porque está nas escrituras”, disse Buda
em um discurso. Como sua ênfase é a compaixão, o Budismo não define a si mesmo como solução
melhor que qualquer outra. O Budismo primitivo, a rigor, nem era uma religião, mas um conjunto de
práticas morais e mentais. No que diz respeito à meditação, essas práticas podem ser vistas como
simples técnicas, que não implicam em compromisso com nenhum tipo de religiosidade.
Como resultado da sua expansão, cerca de 300 anos depois da morte de Buda, o Budismo já
se dividia em 18 escolas. Seus ensinamentos, mantidos por transmissão oral, agora estavam
escritos. Vários concílios foram organizados para dar homogeneidade às escrituras das diversas
escolas. Um deles, realizado no século III a.C., resultou no chamado Cânone Páli, o registro mais
antigo dos ensinamentos budistas. Pouco depois, o Budismo dividiu-se em duas tradições, cada uma
delas afirmando-se como possuidora do verdadeiro sentido da palavra de Buda. A tradição
Theravada, ou “à maneira dos antigos”, que se baseava exclusivamente nos textos escritos na língua
páli, espalhou-se pelo sudeste da Ásia. Para o praticante Theravada, Buda não era um deus, mas
sim um grande sábio. O objetivo do caminho Theravada é iluminação individual.
A outra tradição é a Mahayana (literalmente “Grande Veículo”), que se instalou sobretudo na
China, Coréia e Japão. A base de seus ensinamentos também está na prática da meditação. No
Budismo Mahayana, porém, Buda já não é apenas um sábio, mas uma divindade reverenciada.
Assim como os chamados bodhisatvas, seres considerados iluminados, que adiam sua entrada no
nirvana para poder ajudar na iluminação de outros. Foi no âmbito das escolas Mahayana que mais
se desenvolveram os aspectos sobrenaturais e imaginários do Budismo. Sidarta, ou Buda
Sakiyamuni, jamais se apresentou como um enviado, salvador ou reencarnação de quem quer que
fosse. Nos seus discursos não há referência sequer ao fato de que existe reencarnação. Ele não
disse palavra a favor ou contra a idéia de Deus.
O conceito de buda já não se restringia a Sidarta, o Buda Sakyamuni. Passou a definir um
princípio fundamental de iluminação espiritual. Sakyamuni já não era mais “o” buda, mas sim “um”
buda. As tradições orientais sustentam que houve muitos budas no passado e que ainda haverá
muitos outros no futuro. Ampliando o conceito de que há tantos budas quanto grãos de areia, esse
Budismo pop expandiu-se amigavelmente pelo Oriente, incorporando uma infinidade de arquétipos
ou divindades locais. (Ao contrário das religiões abraâmicas, que demonizaram os deuses das
culturas dominadas. Leia mais sobre isso na pág. 55.) Isso explica por que existem tantas imagens
diferentes do Iluminado. Quando ele é representado como um asceta esquelético, refere-se ao
Sidarta da fase pré-Buda. Quando mostrado como um meditador sereno, é o Buda Sakyamuni.
Se a figura for a de um sujeito gorducho e sorridente, quase sempre trata-se de uma divindade
local, geralmente símbolo de prosperidade, na China e no Japão. O mesmo ocorre com os
dhianybudas, ou budas da meditação, aos quais se atribuem significados ocultos. Ou com as 21
belas figuras da jovem Tara – representação do aspecto feminino e compassivo de Buda, cultuada
na tradição tibetana. Também vêm do Tibete as famosas imagens de budas em abraços sexuais com
suas consortes, um símbolo da unidade entre iluminação e sabedoria.
Apesar do grande florescimento que teve em sua terra natal, o Budismo foi varrido da Índia
em decorrência das invasões dos hunos no século V d.C. e dos islâmicos nos séculos XII e XIII. A
corrente que mais se expandiu foi a Mahayana, por ser menos ortodoxa que a Theravada. O maior
desenvolvimento do Budismo aconteceu na China, onde chegou no século I d.C., e, depois, na Coréia
e no Japão. Seu encontro com as tradições chinesas deu origem à escola de meditação Ch’an e,
mais tarde, no Japão, ao Zen Budismo. “Zen” é uma palavra japonesa derivada do chinês ch’an, que
vem do sânscrito dhyana – técnica que, segundo a psicologia do yoga, conduz a um elevado estado
de consciência em que o homem une-se com o universo. Os chineses preferiram encontrar essa
união no trabalho cotidiano, em vez de na meditação solitária numa floresta, como o próprio Sidarta.
O Zen é um dos mais importantes herdeiros da vertente Mahayana -– só equiparado pela
corrente Vajrayana, que se desenvolveu no Tibete. Chamado de “Caminho do Diamante”, o
Vajrayana tem suas origens encravadas em textos budistas do século II, registrados nos chamados
tantras, escrituras esotéricas sobre a transformação da mente através de meditações, visualizações
e ritos. Essa linha surgiu no norte da Índia há cerca de 2 000 anos e hoje é seguida pela tradição
tibetana.
O Budismo só penetraria no Ocidente a partir do século XIX, com o estudo das culturas da
Índia e a publicação de O Mundo como Vontade e Idéia. Nesse livro, o alemão Arthur Schopenhauer
(1788-1860), que influenciaria muitos outros filósofos, como Friedrich Nietzsche, mergulha nos
ensinamentos budistas. O Budismo também chegou à Europa e à América junto com os imigrantes
chineses e, depois, japoneses. Mas foi somente com a chegada de mestres Zen, nos anos 30 do
século XX, que algumas das principais idéias budistas começariam a ter maior difusão ocidental.
Para a mentalidade judaico-cristã, que tem sua solução religiosa na pessoa externa de um pai divino,
um grande motivo de estranhamento – e de fascínio – causado pelo Budismo talvez seja a idéia de
um caminho espiritual que depende, em última instância, apenas do esforço de cada pessoa. O
Budismo sustenta que o mundo é uma projeção da mente e que, portanto, o homem não poderá
encontrar no exterior aquilo que não possua dentro de si mesmo.
Nos anos 40 e 50, os livros sobre Zen escritos pelo inglês Alan W. Watts (1915-1973)
influenciaram os escritores da geração beat, como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, gurus dos
movimentos que iriam chacoalhar os anos 60, como a contracultura e os hippies. Com a invasão do
Tibete pela China, em 1959, e a Guerra do Vietnã, nos anos 60, mestres budistas desses países
migraram para o Ocidente, onde abriram vários centros de meditação. Estava traçado o caminho que
levaria o Budismo para a Califórnia e os estúdios de Hollywood, atraindo adeptos de classe média
alta, além de muitos artistas e terapeutas. Diferentemente do que aconteceu na primeira metade do
século XX, quando Zen era sinônimo de Budismo no Ocidente, nas últimas décadas o ramo que mais
se difundiu foi o Budismo tântrico do Tibete. Algo que ajudou muito nessa divulgação foi a figura
sorridente do Dalai Lama, líder do Tibete no exílio, que já era famoso bem antes de ganhar o Prêmio
Nobel da Paz em 1989, de dançar no palco com a banda de punk-rap Beastie Boys em shows pela
libertação do Tibete, ou de percorrer o mundo falando de espiritualidade. Inclusive no Brasil, onde
um dos organizadores de suas visitas é o gaúcho Alfredo Aveline, ou lama Padma Santem (lama é a
palavra em tibetano para “mestre espiritual”). Aveline dá uma pista de como essa linha espiritual pode
ajudar o homem do século XXI, ao falar da importância do desapego como uma forma de evitar o
sofrimento: “A impermanência paira sobre sua cabeça nas relações, no emprego, na sua saúde, no
seu endereço, no seu celular, na sua aparência, nas suas aptidões, no afeto. Essa é a vida a que
todos estão submetidos. No Budismo, o objetivo é ultrapassar essas limitações. Não estamos
dizendo que buscamos distância dessa experiência limitada, mas nosso objetivo é libertarmo-nos
dos processos sutis que a criam para ajudar os outros seres a fazer o mesmo e superar as frustrações
inevitáveis do processo”.
Dizem que Buda previu que sua ordem duraria muito menos se tivesse a participação de
mulheres. Se realmente fez isso, talvez esteja aí um raro equívoco cometido pelo Iluminado. Hoje o
que se vê é uma presença cada vez maior de mulheres na pregação da sua doutrina. Às vezes, numa
mesma semana na capital paulista, quatro mulheres budistas de diferentes escolas e linhagens
costumam atrair grande público para suas palestras: a inglesa Lama Caroline, da escola tibetana
Gelupa; a americana Lama Tsering, da escola tibetana Ningma; a monja chinesa Chueh Chen, da
escola Ch’an; e a brasileira monja Coen, formada nas tradições japonesas do Soto Zen. Quem quiser
entender por que o Budismo exerce tanta atração no Ocidente precisa ver como elas consquistam
sua audiência, geralmente de jovens, em torno da idéia da compaixão.
“Houve uma geração que quebrou todos os seus valores e hoje mergulha na busca espiritual”, diz a
monja Cláudia Coen, que todos os dias orienta grupos de meditação em São Paulo. “Como as
técnicas funcionam independentemente da religião de quem as pratica, tem despertado o interesse
também de judeus, cristãos e muçulmanos.”
Mas, afinal, o que fez o Budismo ser tão bem-aceito no Ocidente? Numa palavra, poder-se-ia
dizer que é seu caráter de auto-ajuda, conceito que, nesse caso, nada tem a ver com manuais de
comportamento, mas sim com a certeza de que todas as respostas para os problemas do homem
estão dentro dele mesmo.
Budismo para principiantes
A essência da doutrina deixada por Sidarta Gautama baseia-se em uma série de conceitos mais
filosóficos, éticos e psicológicos do que religiosos. Aqui estão os principais deles:
AS QUATRO NOBRES VERDADES
Sofrimento
É a característica básica da nossa existência. Tudo é sofrimento: nascimento, doença e morte;
encontrar algo não apreciado; não obter o que se deseja, separar-se de algo desejado.
Origem do sofrimento
Sua causa está nos anseios, nos desejos, no apego e na sede de satisfação dos sentidos. Tudo
isso prende as pessoas ao ciclo da existência (samsara).
Cessação do sofrimento
Pela eliminação dos desejos e do apego pode-se extinguir o sofrimento.
Caminho que leva à cessação do sofrimento
Para os budistas da linha Theravada, o meio de pôr fim ao sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo.
Para os budistas da linha Mahayana, são as Seis Perfeições.
O NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO
1. Compreensão correta, baseada no entendimento das Quatro Nobres Verdades e na consciência
de que não existe um “eu” individual: tudo está interligado.
2. Atitude correta, favorável à renúncia e à boa vontade, buscando não prejudicar os seres
sensíveis.
3. Fala correta: evitar mentir, caluniar e bisbilhotar.
4. Ação correta: evitar, sobretudo, matar, roubar e praticar sexo ilícito (estupro e pedofilia, por
exemplo).
5. Modo de vida correto: evitar profissões que causem sofrimento aos outros, como caçador ou
fabricante de armas.
6. Esforço correto: pensar antes de agir, cultivando pensamentos, palavras e ações nobres.
7. Atenção correta: percepção contínua do corpo, dos sentimentos e dos objetos de pensamento.
8. Concentração correta: o cultivo de uma mente tranqüila, que encontra seu ponto mais elevado na
absorção meditativa.
AS SEIS PERFEIÇÕES
1. Generosidade
2. Paciência
3. Ética
4. Esforço entusiástico
5. Concentração
6. Sabedoria
De acordo com os textos mais antigos, após ter alcançado o estado medidativo de jhana,
Gautama estava no caminho certo para a iluminação. Mas o seu ascetismo extremo não funcionou
e Gautama descobriu o que os Budistas chamaram de o Caminho do Meio, o caminho para a
moderação, afastado dos extremismos da autoindulgência e da automortificação. Em um famoso
incidente, depois ter ficado extremamente fraco devido à fome, é dito que ele aceitou leite e pudim
de arroz de uma garota chamada Sujata. Tal era a aparência pálida de Sidarta, que Sujata teria
acreditado, erroneamente, que ele seria um espírito que lhe realizaria um desejo.
De acordo com o budismo, durante a sua iluminação, Sidarta compreendeu as causas do
sofrimento e os caminhos necessários para eliminá-lo. Estas descobertas tornaram-se conhecidas
como as Quatro Nobres Verdades, que são o coração dos ensinamentos budistas. Com a realização
dessas verdades, um estado de suprema liberação, ou nirvana, é acreditado ser possível ao alcance
de qualquer ser. O Buda descreve o nirvana como um estado perfeito de paz mental livre de toda
ignorância, inveja, orgulho, ódio e outros estados aflitivos. Nirvana é também conhecido como o fim
do ciclo samsárico, em que nenhuma identidade pessoal ou limites da mente permanecem.
De acordo com a história do Āyācana Sutta (Samyutta Nikaya VI.1) – uma escritura, escrita
em páli – e outros canônes, imediatamente após a sua iluminação, o Buda debateu se deveria ou
não ensinar o darma aos outros. Ele estava preocupado que os humanos, tão fortemente
influenciados pela ignorância, inveja e ódio, poderiam nunca reconhecer o caminho, que é profundo
e difícil de ser compreendido. No entanto, segundo o mito, Brahmā Sahampati tê-lo-ia convencido a
ensinar a doutrina, argumentando que pelo menos alguns iriam entendê-lo. O Buda, após isso,
concordou em ensinar o darma.
O “Caminho do Meio” foi ensinado por Sidarta Gautama, o Buda (O Desperto) há mais de 2.500
anos atrás. Este caminho, procura evitar todos os extremos, levando o homem a viver uma vida
baseada na prudência, retidão, sabedoria e meditação. Também conhecido como Nobre Caminho
Óctuplo, não pode ser considerado simples mandamentos budistas, pois não foram inventados por
Buda. Ele apenas explicou, detalhou e divulgou para todos os interessados, qual a via que leva o
homem à libertação da dor e do sofrimento.
A base do ensino de Siddharta Gautama são as Quatro Verdades Nobres e o Nobre Caminho
Óctuplo. As Quatro Verdades Nobres são quatro afirmações que descrevem a natureza do
sofrimento dos seres no universo:
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A Natureza do Sofrimento (Dukkha)
"(..) esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é
sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor,
angústia e desespero são sofrimentos; a união com aquilo que é desprazeroso é
sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que queremos
é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.(..)"

A Origem do Sofrimento (Samudaya)
"(..) esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma
renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e
ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não
ser/existir. (...)"

A Cessação do Sofrimento (Nirodha)
"(..) esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação
sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação
dele, a independência dele.(...)"

O Caminho (Mārga) para a Cessação do Sofrimento
"(..) esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este
Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta,
ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração
correta. (...)"
O Nobre Caminho Óctuplo
É o método em oito etapas criado por Buda para conduzir o praticante até a sua iluminação
espiritual. É simbolizado pela roda de oito raios, o dharmachakra.
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Primeiro passo: a perfeita compreensão. Consiste no estudo da doutrina budista.
Segundo passo: a perfeita aspiração. O praticante deve adquirir a firme intenção de perseverar
no caminho budista até alcançar a iluminação espiritual.
Terceiro passo: a perfeita fala. O praticante deve falar de um modo agradável, verdadeiro, cortês
e tranquilo.
Quarto passo: a perfeita conduta. Implica em seguir os cinco mandamentos budistas: não ser
agressivo, não roubar, não ser sensualmente impuro, não mentir e não consumir substâncias
intoxicantes.
Quinto passo: o perfeito meio de subsistência. O praticante deve possuir um meio de subsistência
que não seja contra a doutrina budista. Por exemplo: ser assaltante contraria o segundo
mandamento budista, logo não é um meio de subsistência compatível com a doutrina budista.
Sexto passo: o perfeito esforço. O praticante deve se esforçar para melhorar sua conduta e sua
personalidade segundo os ideais budistas.
Sétimo passo: a perfeita atenção. O praticante deve examinar sua conduta e seus pensamentos
constantemente, procurando verificar eventuais erros que esteja cometendo.
Oitavo passo: a perfeita contemplação. O praticante deve meditar frequentemente sobre os
ensinamentos de Buda[2].
Os oito itens do caminho normalmente são apresentados em três divisões (ou treinamentos
elevados), como mostrado abaixo:
Divisão
Item
Descrição
1. Visão correta
Enxergar a realidade como ela é, não como ela parece ser
2. Intenção correta
Intenção de renúncia, libertação e inofensividade
3. Fala correta
Falar de forma verdadeira e não agressiva
4. Ação correta
Agir de forma não agressiva
5. Viver
corretamente
Viver de forma não agressiva
6. Esforço correto
Se esforçar para melhorar
7. Atenção correta
Estar atento para enxergar as coisas com a consciência clara;
estar consciente da realidade presente dentro de si mesmo, sem
qualquer desejo ou aversão
8. Concentração
correta
Correta meditação e concentração, como os primeiros
quatro jhanas
Sabedoria
Conduta
Ética
Concentração
5 PRECEITOS DO BUDISMO
Os cinco preceitos constituem o código de éticas básico budista, realizado por seguidores
leigos (upāsaka e upāsikā) do Buda Gautama no teravada, bem como nas tradições mahayana. Os
preceitos em ambas as tradições são essencialmente idênticas:
1) Não cometer violências contra qualquer ser vivo. Alguns budistas interpretam este preceito como
uma condenação ao consumo de carne.
2) Não roubar.
3) Não ser sensualmente impuro. Neste preceito, Buda é vago, pois a definição do que é
"sensualmente impuro" pode variar de acordo com o contexto cultural do praticante. Por exemplo,
existem países nos quais a poligamia é uma prática habitual e legalizada, enquanto que em outros
países a bigamia é crime. Alguns budistas interpretam este preceito de modo estrito, condenando o
estupro, o incesto, o adultério e o homossexualismo.
4) Não mentir.
5) Não ingerir substâncias intoxicantes. De novo, a definição do que seja "substância intoxicante"
varia de acordo com a sociedade em questão. Geralmente, as seitas budistas interpretam este
preceito como uma condenação ao álcool e a drogas como a maconha, a cocaína, o crack etc.
Embora a definição do que seja "droga" possa variar ao longo do tempo e de acordo com cada
sociedade.
4 QUALIDADES INCOMENSURÁVEIS (Mahayama)
Dentro do treinamento da mente no contexto do budismo tibetano (Dalai Lama), são ensinadas
as quatro qualidades incomensuráveis, que, resumidamente, são:
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Amor - desejar que todos os seres tenham a liberação de dukkha (sofrimento);
Compaixão - desejar que todos os seres tenham a liberação das causas que geram dukkha;
Alegria - perceber as potencialidades de todos e se alegrar com isso;
Equanimidade - desejar a liberação para todos, sem distinção de amigos e inimigos, pessoas
que se gosta, pessoas que não se gosta.
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