A UTILIZAÇÃO DE PREBIÓTICOS E PROBIÓTICOS COMO AGENTE TERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DO CÂNCER COLORRETAL Pablo Freitas Gonçalves (1); Dêmia Kellyani Eleoterio Veiga (4) Faculdade Maurício de Nassau, Campus: Unidade I, Campina Grande – PB; [email protected] Resumo: O câncer é uma patologia que se caracteriza por um crescimento desordenado de uma população de células que escapam da regulação normal de crescimento, replicação e de diferenciação e que possuem a capacidade de invadir tecidos circundantes ou distantes. A etiologia do câncer colorretal envolve uma complexa interação entre fatores genéticos individuais e fatores de ordem ambiental, principalmente a dieta. Trata-se de uma revisão bibliográfica conduzida a partir de pesquisas realizadas em livros, monografias, revistas e artigos científicos, publicados no período compreendido entre os anos de 2000 a 2016. A ligação entre desequilíbrio da microbiota intestinal e o desenvolvimento do câncer colorretal concentra-se na ideia de que agentes potencialmente carcinogênicos e agentes causadores de câncer de fonte não-alimentar, como tabaco, são bioativados por sistemas de enzimas das bactérias intestinais. Estas bioativações podem levar a ocorrência de câncer numa velocidade maior em intestinos com populações microbianas desequilibradas. As evidências científicas mostram-se favoráveis a utilização de prebióticos e probióticos no tratamento e prevenção do câncer colorretal, sendo que, o uso de simbióticos mostraram melhores resultados que o uso de prebióticos e probióticos de forma isolada, no tratamento deste câncer. Palavras-chave: Microbiota intestinal, Nutrição funcional, Neoplasias, Disbiose. desenvolvimento em genética e biologia INTRODUÇÃO O câncer é uma patologia que se celular. Esta etiologia envolve uma complexa caracteriza por um crescimento desordenado interação entre fatores genéticos individuais e de uma população de células que escapam da fatores de ordem ambiental, principalmente a regulação normal de crescimento, replicação e dieta. Está suficientemente documentado a de diferenciação e que possuem a capacidade estreita ligação entre microbiota intestinal e o de invadir tecidos circundantes ou distantes. maior risco para desenvolvimento de câncer Essencialmente, as neoplasias resultam da colorretal. Do mesmo modo, sabe-se que uma função estas microbiota saudável é dependente de uma anormalidades decorrentes de alterações na dieta equilibrada que forneça ao intestino estrutura nucleotídica do DNA, conhecidas substratos capazes de promover a proliferação como mutações (WISEMAN, 2011). A de bactérias benéficas, em detrimento de etiologia do câncer colorretal (CCR) tem sido colônias patogênicas. Dentre os componentes melhor alimentares responsáveis pela saúde do celular anormal, compreendida (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br sendo devido ao intestino, destacam-se os prebióticos e os tratamento do câncer colorretal, através de probióticos. Os prebióticos são nutrientes alimentos e formulações específicas como pertencentes ao grupo das fibras alimentares agente preventivo e terapêutico da neoplasia. que não sofrem processo de digestão A pesquisa retornou 50 artigos, sendo completa, mas são fermentados por bactérias selecionados 7, que atenderam a todos os intestinais. O resultado desta fermentação são critérios de seleção. substratos que propiciam proteção ao intestino RESULTADOS E DISCUSSÃO contra a ocorrência de diversas patologias, O câncer colorretal origina-se dentre as quais lesões pré-neoplásicas. Diante primariamente de pólipos colorretais, que são de sua gravidade, salienta-se a importância de projeções ou elevações da superfície da se reconhecer medidas que possam ter mucosa colorretal, originando-se de qualquer influências na diminuição do risco para o camada da parede intestinal. Dividem-se de desenvolvimento do câncer colorretal, assim acordo com a sua histologia em: neoplásicos, como interferências terapêuticas em seu hamartomatosos, tratamento (INCA, 2003). hiperplásicos. Estas alterações no epitélio METODOLOGIA colônico conhecidas como lesões benignas, A revisão bibliográfica foi conduzida a inflamatórios e evoluem para lesões malignas, denominados partir de pesquisas realizadas em livros, adenocarcinomas monografias, revistas e artigos científicos, BODGER, 2000). (ROSSI et al 2004; publicados no período compreendido entre os De acordo com o Instituto Nacional do anos de 2000 a 2016. A busca dos artigos Câncer (INCA, 2007) os fatores nutricionais científicos foi efetuada através das bases de relacionados dados Electronic desenvolvimento do câncer colorretal são: Library Online, PubMed e Biblioteca Virtual dieta com base em gordura animal, baixa em ingestão eletrônicas: Saúde. Scientific Utilizou-se os seguintes ao de aumento frutas, do vegetais risco e de cereais descritores: Câncer Colorretal, Alimentos (alimentos ricos em fibra), além do consumo funcionais, excessivo de álcool e tabagismo. Dentre estes Neoplasias, Prebióticos, Probióticos e Simbióticos. agentes, os metabólicos dos ácidos graxos Neste trabalho considerou-se importante para seleção dos artigos, aqueles que (sais biliares) gerados pelo metabolismo de gorduras e proteínas animais seriam os abordassem as questões relativas a utilização elementos determinantes de prebióticos, probióticos e simbióticos no epiteliais, podendo (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br de culminar alterações com o desenvolvimento de células neoplásicas no e permitindo maior contato de agentes cólon. nocivos A ligação entre desequilíbrio e carcinógenos eventualmente da presentes na luz com a mucosa colônica. A microbiota intestinal e o desenvolvimento do microbiota intestinal auxilia a conversão de câncer colorretal concentra-se na ideia de que fibras da dieta em AGCC e gases. O ácido agentes e butírico ou butirato é o alimento preferido dos agentes causadores de câncer de fonte não- colonócitos e é produzido pela ação da alimentar, como tabaco, são bioativados por fermentação das bactérias intestinais sobre a sistemas de enzimas das bactérias intestinais. fibra da dieta, particularmente os prebióticos. Estas bioativações podem levar a ocorrência Reconhece-se que os AGCC exercem papel de câncer numa velocidade maior em fundamental na fisiologia normal do cólon, no intestinos microbianas qual constituem a principal fonte de energia desequilibradas (MATHAI, 2002). O maior para os enterócitos e colonócitos, estimulam a volume de massa fecal teria efeito diluente e o proliferação celular do epitélio, o fluxo trânsito intestinal mais rápido reduziria o sanguíneo visceral e intensificam a absorção tempo de contato de carcinógenos com o de sódio e água, ajudando a reduzir a carga epitélio. A ingestão diária de polissacarídeo osmótica não-amido (fibra prebiótica) aumenta o peso (ALMEIDA et al, 2009). A formação de das fezes, onde ocorre relação inversa entre AGCC pela fermentação colônica, beneficia o peso das fezes e incidência de câncer de cólon epitélio intestinal, prevenindo a apoptose e (MARQUES; WAITZBERG, 2000). consequentemente a atrofia da mucosa. No potencialmente com carcinogênicos populações de carboidrato acumulado O mecanismo de ação das fibras no entanto, em células com carcinoma, o ácido epitélio colônico envolve eventos físicos: graxo butirato tem demonstrado estimular a alteração do tempo de trânsito intestinal, diferenciação, além de inibir a proliferação diluição do bolo fecal, aderência física ou celular e induzir apoptose e inibir a química de agentes mutagênicos e efeitos angiogênese (DAVIS; MILNER, 2009). Além secundários: da disso, o butirato protege as células do colón fermentação bacteriana e alteração do pH contra o dano ao DNA, que em nível luminal (COPPINI et al, 2000). Ainda molecular, tem demostrado afetar a expressão segundo Coppini et al (2000), a carência de gênica via fosforilação e acetilação de fibras aumenta o tempo de trânsito intestinal, proteínas histonas, particularmente H3 e H14. elevando a concentração do conteúdo luminal A hiperacetilação das histonas interrompe as geração de (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br produtos interações iônicas com a espinha dorsal alimentado somente com dieta basal. Este adjacente do DNA, criando cromatinas menos achado sugere que tanto a inulina de cadeia densas ou eucromatina e permite aos fatores longa de transcrição ativar genes específicos de protetores proteção contra danos (DAVIS, MILNER, desenvolvimento de câncer de cólon. O 2009). consumo de alimentos prebióticos fornecem quanto o nos FOS exercem estágios efeitos iniciais do Os prebióticos em concentrações altas e substratos para as bactérias benéficas e neste em tempo prolongado em contato com a processo alguns nutrientes são formados mucosa, de como vitamina K, vitamina B12, tiamina e proliferação compensatória celular colônica riboflavina, além de gases e AGCC (BEYER, (MARQUES, WAITZBERG, 2000). O papel 2005). Um dado importante em relação aos desempenhado pelos prebióticos (inulina e fruto-oligossacarídeos (FOS) e a inulina, oligofrutose) na redução da formação das refere-se criptas aberrantes, marcador pré-neoplásico Manning; Gibson (2004) estimaram que o precoce do potencial maligno no processo de consumo individual fosse de 4-8g/dia de FOS carcinogênese do cólon, sugere que elas para que haja aumento significativo do também tenham potencial para suprimir tal número evento, humano. Gostner et al (2006) realizaram um poderia por microbiota afetar meio o da do processo modificação cólon da (MARQUES, WAITZBERG, 2000). os de quantidade Bifidobactérias duplo-cego, administrada. no intestino placebo-controlado e cruzado, no qual o consumo de 30g de Em um estudo realizado com intuito de determinar estudo à efeitos fruto- partir da beterraba possuindo propriedades oligossacarídeos (FOS) da chicória e inulina prebióticas) por 4 semanas levou a um de cadeia longa na apoptose associada com a aumento carcinogênese, Bifidobactérias e a um aumento de 47% no Hughes; do isomalte (açúcar modificado produzido a Rowland (2001) de de 65% na alimentaram 18 ratos divididos em 3 grupos total Bifidobactérias com: dieta basal; dieta basal com FOS (5%) administração de sacarose. proporção comparadas de à ou dieta basal com a inulina (5%), durante 3 Já os probióticos agem protegendo o semanas. A média do número de apoptose foi hospedeiro contra a atividade carcinogênica, consideravelmente maior no cólon dos ratos por meio de três mecanismos: alimentados com FOS (p=0.049 ) e com (1) os probióticos teriam capacidade de inibir inulina (p=0.017) em comparação ao grupo as bactérias responsáveis por converter (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br substâncias pré-carcinogênicas, como Segundo Denipote et al (2010), a hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e administração conjunta de prebióticos e nitrosaminas, em carcinogênicos; probióticos (2) inibição direta à formação de células superior tumorais e separadamente. (3) capacidade de ligação e/ou inativação CONCLUSÕES (simbióticos) do que quando possui efeito administrados carcinogênica (ORRHAGE et al, 1994; As evidências científicas mostram-se ROWLAND, 1998). Além do efeito protetor favoráveis a utilização de prebióticos e ao câncer colorretal, os probióticos parecem probióticos no tratamento e prevenção do ainda otimizar o sistema imunológico e inibir câncer colorretal, sendo que, o uso de o crescimento de tumores já existentes. A simbióticos mostraram melhores resultados administração que o uso de prebióticos e probióticos de de Lactobacillus casei relaciona-se com a indução de uma resposta forma isolada, no tratamento deste câncer. antitumoral mediada por células T e a Com tudo, os estudos em humanos ainda ativação de macrófagos, assim como a são escassos, necessitando de mais estudos supressão da formação de tumores de cólon para uma prática terapêutica segura. em AGRADECIMENTOS camundongos. Já a ingestão de Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus acidophilus e Bifidobacterium longum, aumentam o número de células que produzem Agradeço primeiramente a Deus por tudo que tens me proporcionado. Agradeço a orientadora e minha família IgA, aumentam a produção de macrófagos, por todo o suporte e auxilio. anticorpos específicos contra determinados REFERÊNCIAS patógenos e fortalece a barreira da mucosa ALMEIDA, L.B. et al. Disbiose intestinal. intestinal (PIMENTEL, BARBALHO, 2007). Revista Brasileira de Nutrição Clínica. Os mecanismos efeitos anti-tumorais responsáveis 2009; 24(1): 58-65. Lactobacillus BEYER, P.L. Digestão, absorção, transporte e incluem a inibição da atividade das enzimas excreção de nutrientes. In: MAHAN, L.K.; relacionadas a carcinogênese produzidas pelas ESCOTT-STUMP, S. Krause – Alimentos , bactérias intestinais. Já o efeito anti-tumoral Nutrição e Dietoterapia. São Paulo: Roca, do L. Casei Shirota pode ser explicado por 2005. meio BODGER, K. Colorectal câncer. J R Coll de efeito dos pelos imunopotencializador (PIMENTEL, BARBALHO. 2007). (83) 3322.3222 [email protected] www.conbracis.com.br Physicians. London, 2000; 34:197-201. COPPINI, L.Z. et al. 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