12 Expresso, 1 de junho de 2013 ECONOMIA INVESTIMENTO Milionários? Sejam bem-vindos Visto dourado O programa de ‘vistos de residência dourados’ já trouxe para Portugal cerca de ¤20 milhões. Indianos, chineses, angolanos, russos, brasileiros e venezuelanos estão entre os principais investidores Textos Ana Sofia Santos Ilustração Helder Oliveira m seis meses, o programa de vistos de residência dourados para estrangeiros que invistam em Portugal conseguiu atrair para a economia nacional cerca de ¤20 milhões. Fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) dá conta que “já foram atribuídas 26 autorizações de residência para atividade de investimento” e que “neste momento existem 59 processos em fase de análise”. O ministério de Paulo Portas refere ainda que “as nacionalidades dos interessados variam bastante” e indica que o primeiro ‘visto de residência dourado’ foi atribuído a um cidadão indiano. Os restantes candidatos são oriundos de geografias variadas, sendo as mais representativas, além da Índia: China, Brasil, Angola, Moçambique, Rússia, Ucrânia, Venezuela, África do Sul, e até Nova Zelândia e Nepal. As duas dezenas de milhões trazidos por estrangeiros de países terceiros distribuem-se pelos três tipos de investimento que permitem obter o visto de residência português: transferência de capital igual ou superior a ¤1 milhão (pode ser investimento no capital social de uma empresa); criação de, pelo menos, dez postos de trabalho (os trabalhadores devem estar inscritos na Segurança Social); ou através da compra de imóveis no valor de ¤500 mil ou mais. Estas são as portas de acesso a Portugal através do investimento. No entanto, para manterem o ‘visto dourado’, os cidadãos de fora da União Europeia e que também não têm origem no espaço Schengen, devem assegurar que durante cinco anos cumprem as regras. Nomeadamente, a não alteração das condições da candidatura que geraram a autorização de residência e a permanência em Portugal de, no mínimo, sete dias no primeiro ano e de 14 dias nos dois anos seguintes. Depois de cinco anos com ‘visto dourado’ os estrangeiros podem, até, candidatar-se à cidadania portuguesa — o que constitui um atrativo adicional. Aliás, foi o carácter “competitivo” dos ‘vistos dourados’ portugueses que determinou a abertura, prevista para julho, de um escritório em Lisboa da con- E sultora estratégica Henley & Partners. Espalhada por mais de 20 jurisdições de todo o mundo, a Henley está sediada na ilha de Jersey e dá assessoria para a obtenção de cidadania e residência através do investimento. Vistos e resorts de mãos dadas O diretor-geral da Henley & Partners Portugal (HPP), Andrew Coutts, está confiante no sucesso do projeto. A prova é o facto de ser investidor de capital da sociedade recém-criada através do Grupo ILM, que Coutts fundou há 14 anos em Portugal para prestar serviços de consultoria estratégica nos sectores da hotelaria, lazer, turismo e património. Para Coutts, o programa de ‘vistos dourados’ está “bem estruturado e é viável”. Por isso captou a atenção dos quadros seniores da Henley, que acumulam “muitos anos de expe- riência a analisar legislação nesta área”. A HPP vai reunir advogados especialistas em vistos de residência e em fiscalidade, bem como consultores da área do imobiliário. Aliás, este sector, em particular dos resorts de luxo, vai andar de mãos dadas com a atividade da Henley em Portugal. Coutts está a trabalhar em parcerias com grupos ligados ao turismo residencial de gama alta, já que o investimento nesta área é uma das formas de um estrangeiro ser elegível para um ‘visto dourado’. Porém, para o diretor-geral da HPP as possibilidades de investimento imobiliário em Portugal não se esgotam em residências de luxo. “Existem outras propriedades que podem atrair capital estrangeiro e gerar novos negócios, em áreas como a produção de vinho”, refere Coutts. Na semana passada, a Henley Portugal, bem como o regime nacional de atração de investidores estrangeiros de países terceiros, foram apresentados no Fórum Internacional de Cidadania organizado pela consultora e na embaixada portuguesa, em Londres. A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep) participou em ambos os eventos. “Temos um dos mais atrativos e competitivos sistemas de autorização de residência”, garante o administrador executivo da Aicep, Pedro Pessoa e Costa, frisando que todas candidaturas são “escrutinadas e acompanhadas com cuidado por parte das autoridades portuguesas”. Não só para assegurar que o investimento se mantém no país como também para acautelar que o dinheiro trazido para Portugal tem uma origem legítima. Somado com o recente regime de autorizações de residência para investidores, Portugal reúne várias características que cidadãos de países terceiros valorizam na escolha de um outro destino de residência, entre os quais: segurança, estabilidade política, localização estratégica, clima, cultura e acesso ao espaço Schengen. APOSTAR EM PORTUGAL Andrew Coutts, britânico, de 50 anos, está há mais de duas décadas em Portugal. Começou por trabalhar para uma consultora e, em 1999, fundou o Grupo ILM, que dá assessoria estratégica nos sectores da hotelaria, lazer, turismo e património. Coutts acredita que a sua experiência pessoal pode servir de inspiração aos estrangeiros interessados em Portugal. É o diretor-geral da Henley & Partners Portugal, que vai prestar “um serviço chave na mão”: além da burocracia dos ‘vistos dourados’, a sua equipa vai ajudar também nos projetos de investimento, o que inclui a procura de propriedades, por exemplo. [email protected] A jornalista viajou a Londres a convite da Henley & Partners EUROPEUS SEDUZEM ESTRANGEIROS COM ‘VISTOS DOURADOS’ Espanha Vai dar autorizações de residência a investidores estrangeiros que comprem mais de ¤2 milhões de dívida pública espanhola. No anteprojeto de lei estão previstos também vistos dourados para estrangeiros que adquiram imóveis acima de ¤500 mil. Reino Unido Os estrangeiros têm que investir, pelo menos, um milhão de libras (¤1,2 milhões) e, assim, ter o visto de residência. Por exemplo, 500 mil libras podem ser aplicadas em títulos do tesouro e o restante em imobiliário. Áustria Tem um programa de obtenção da cidadania através do investimento. Mediante um donativo de ¤2 milhões para a caridade ou de ¤10 milhões aplicados na economia, desde que gerem emprego, exportações ou que tragam tecnologia para o país. Alemanha O visto de residência está ao alcance de quem invista, no mínimo, ¤250 mil e que, dessa forma, crie postos de trabalho. A autorização pode tornar-se permanente ao fim de cinco anos. Suíça País de acolhimento de sonho para muitos estrangeiros, não tem um regime que dê o visto de residência via investimento. Porém, pessoas abastadas podem obter uma espécie de ‘visto dourado’ mediante o pagamento de impostos anuais significativos.