A CULTURA E A EDUCAÇÃO GREGA Atividades gíminico desportivas e a educação do efebo Profa. Dra. ARANTES, Ana Cristina Docente da disciplina História da Educação Física, Esporte e Lazer UNIFIEO - Osasco UNIFMU - São Paulo [email protected] Introdução É conveniente lembrar que o ato de ensinar e de aprender, sempre esteve intimamente ligado a concepção de mundo e de homem que as civilizações apresentaram. Não se pode estudar a educação escolar ou qualquer outra área de conhecimento, sem considerar os pressupostos filosóficos da sociedade analisada e de algumas instituições que detém o poder. Assim sendo, já sabemos que a educação escolar esteve sempre atrelada a duas outras instituições: ao governo e a igreja. Neste sentido, a instituição escolar concorreu e auxiliou a seu modo, para a perpetuação e desigualdade entre as pessoas, tanto quanto qualquer outra agência humana que tivesse o poder baseado na casta, na classe social ou no nível sócio - econômico dos indivíduos. “O ideal da educação humana é para Protágoras a culminação da cultura no seu sentido mais amplo. Tudo se engloba nela, desde os primeiros esforços do homem para dominar a natureza física até o grau supremo da auto - formação do espírito humano” (JAEGER, 1995:365). Na Antigüidade, para os gregos o homem educado fisicamente é verdadeiramente educado e, portanto, belo como esclarece Sócrates “O belo é idêntico ao bom” (RUBIO, 2002). A educação não era considerada como um mero processo de crescimento que o educador alimenta, favorece e guia deliberadamente. A educação segundo Protágoras pode ser considerada como a formação da alma e os meios que utiliza como forças formativas. A Educação Física por sua vez, cultiva o corpo vivo, é ato de formação, análogo ao da escultura. A atividade esportiva exerceu grande influência sobre a formação do homem grego foi considerada como um dos três pilares da educação da criança e do jovem juntamente com as letras e a música (JAEGER, 1992, RUBIO, 2002). Porém a mulher não tinha o privilégio de praticar as atividades físicas como revelam as obras que tratam dos Jogos Olímpicos antigos. Essa afirmação pode ser um reflexo da educação escolar que não era concedida às meninas (mormente em Atenas). A presença feminina não era permitida nem sequer nos estádios aonde os jogos ocorriam. Para TSURUDA (1994) a educação formal feminina não era uma prática comum na Grécia antiga ”A educação grega era modelar, centrada na figura do herói” (p.04), Durante séculos a educação literária tradicional tratou de transmitir às crianças e aos adolescentes o modelo de conduta de Aquiles que deveriam imitar embora os gregos tivessem visão universal para a questão educacional. Interessante saber que na sociedade grega o homem deveria responder pelas atividades do mundo exterior, da vida pública e á mulher - esposa legítima - assumida através de acordos entre duas famílias, a vida deveria ser vivida no interior da casa, praticava as atividades ligadas á manutenção e a procriação dos filhos, de bens e de tecidos, o gerenciamento dos escravos, o preparo de alimentos e a guarda dos tesouros familiares. A esposa (assim como todas as demais) deveria ser possuidora de todos os bons atributos; mesmo que pertencesse a aristocracia, era considerada como uma trabalhadora e o espelho do seu marido por isso, deveria viver sempre em sintonia com ele. Mesmo por que “na civilização grega a mulher é um ser incapaz, que não pode desempenhar adequadamente as funções sem o apoio e supervisão do homem” (TSURUDA, 1994:21). Em se tratando do primeiro núcleo social a família - cabe dizer - que as idéias sobre eugenia aperfeiçoamento da raça, a criação do homem novo, esteve sempre muito presente uma vez que a criança é produto do Estado e deve servir a este. Sobre a educação sistematizada, entretanto, Esparta e Atenas diferiam virtualmente. A educação grega citada por JARDÉ (1977), apresenta duas formas distintas que servem a dois Estados com metas diferentes. O processo escolar em Esparta Na concepção espartana o homem deveria ser antes de mais nada, o resultado do cultivo permanente do corpo. Deveria ser forte, desenvolvido e eficaz em todas as suas ações. O processo de educação formal em Esparta era totalmente definido pelo Estado. Esta soberania era exercida tanto nas crianças quanto nos adultos. “Esta concepção educativa do direito e da legislação estatal pressupõe a aceitação da influência do Estado sobre a educação dos seus cidadãos, como nunca aconteceu em parte alguma da Grécia (...) “ a ama, a mãe, o pai, o pedagogo rivalizam na formação da criança, quando lhe ensinam e lhe mostram o que é justo e injusto, belo e feio. Como um tronco retorcido, buscam endireitá-la com ameaças e castigos. Depois vai à escola e aprende a ordem, bem como o conhecimento da leitura, da escrita, e o manejo da lira” (JAERGER, 1995:160). adiante, escreve o autor (..) “mais tarde o jovem é levado à escola de ginástica, onde os pedótribas lhe fortalecem o corpo, para que seja servo fiel de um espírito vigoroso e para que nunca fracasse na vida por culpa da debilidade do corpo” (p.161). Ainda sobre as práticas físicas orientadas explica o estudioso que “a finalidade da ginástica pela qual se devem reger em detalhes os exercícios físicos, não é alcançar a força física de um atleta, mas desenvolver a coragem de um guerreiro”. Portanto, como muito acreditam e como o próprio Platão parecia a princípio entender, a ginástica não tem a missão de educar exclusivamente o corpo e a música somente a alma. É a alma que ambos educam primordialmente e são, na visão do autor, necessárias ao bom desenvolvimento do educando. Esta afirmação de concretiza quando mais a frente escreve “uma educação meramente ginástica cultiva demais a dureza e a fereza do homem e uma excessiva educação musical torna o homem muito mole e delicado” (JAERGER,1995:799). Esta citação parece ser corroborada por FARIA Jr (s.d) quando, explicando sobre o processo de educação formal - eminentemente militar e aristocrática ao aprendizado do ofício militar afirma que embora as suas origens cavalheirescas tivessem sido conservadas, muitos outros traços e (de) maior riqueza, deveriam ser considerados a começar pelo gosto e a prática dos desportos hípicos e atléticos. (p. 385). Quanto à criança a partir dos sete anos de idade era um cidadão pertinente ao Estado, orientada por magistrado especial (paidonómos). Agrupada em classes, deveria seguir um programa uniforme e estabelecido pelo Estado. O currículo espartano tinha como meta à formação de bons soldados. Assim sendo, as atividades físicas que fortificavam o corpo tais como as corridas, o lançamento do disco e do dardo, eram consideradas como fundamentais para a formação do indivíduo. Visando um cidadão ágil e forte, as privações (fome, dor, cansaço e a flagelação) e as intempéries, (o frio ou o calor excessivo), também faziam parte do curriculum escolar. De igual forma fazia parte do ritual escola dormir em catres muito simples forrados das folhas que colhiam além de alimentar-se frugalmente. Vestindo roupas leves, meninos e meninas praticavam atividades físicas semelhantes. Estas atividades tinham o objetivo precípuo de “torná-las fortes capazes de procriar filhos vigorosos e robustos” (JARDÉ, 1977:209). As jovens espartanas de acordo com TSURUDA (s/d) mesmo que submissas tinham uma alimentação melhor e uma preparação física mais adequada que as suas companheiras de outras cidades na mesma época. Assim, a educação moral e prática da atividade física era estimulada com o fito de fortalecer o corpo feminino pois o corpo forte geraria crianças fortes. A formação e a constituição da família era, em última análise, um problema do Estado - é nela que eram gerados os futuros cidadãos da polis. Nas escolas desta cidade - Estado os estudos de literatura ainda que fizessem parte do currículo, não representavam sua principal preocupação. Entretanto, as obras que contivessem cunho moral e que dignificassem o homem e contassem os feitos eram implementadas tais como os poemas de Homero e os cantos guerreiros como os de Tirteu. “Parte da formação do cidadão residia no processo de purificação do espírito, vigente na idéia de que não era possível a perfeição sem a beleza do corpo. (...) Não há educação sem o esporte, não há beleza sem esporte, apenas o homem educado fisicamente é verdadeiramente educado e portanto belo” (RUBIO, 2002:13). O ideal de beleza “ Mas, então, esplêndido como uma flor, você passará o tempo nos ginásios; Descendo á Academia, apostará corrida debaixo das oliveiras sagradas, com um rapaz ajuizado e da mesma idade, coroado com uma verde cana, recendendo a hera, serenidade e choupo branco no cair das borbulhas, alegre na estação primaveril quando o plátano troca doces murmúrios como o olmo. Se fizer o que digo, e atentar nesses conselhos, terá sempre peito robusto, cores brilhantes, ombros largos, língua curta, quadris grandes e membro pequeno” (Aristofanes, As nuvens). E sobre as mulheres ginastas (um diálogo de Aristófanes, Lisístrata) “Ateniense : bom dia, Lampito, cara amiga espartana. Você está uma beleza, menina. Pele maravilhosa. Resplandecente ! E forte. puxa. È capaz de estrangular um touro. Espartana: O touro que se cuide, eu posso mesmo E isso aqui, que tal ? Agora, em Esparta, nós todas estamos praticando uma ginástica formidável para as nádegas”. Acrescenta-se a esse diálogo com preocupação estética a atividade desportiva citada por CARRILLO, (2000:1) na inscrição encontrada em Esparta que adverte e educa aqueles que duvidavam dos atributos atléticos femininos “Eu Cyniska, descendente dos reis e Esparta, coloco esta pedra para recordar a corrida que ganhei com meus pés rápidos, sendo a única mulher de toda a Grécia a ganhar “ A educação integral de Atenas O olimpismo ou a educação olímpica é definido como um “método” ou processo ensino aprendizagem caracterizado pela idéia (de um programa) no qual se busca a unidade entre corpo e alma. Esse método que tem por meta o pleno desenvolvimento humano (WONG & CHEUNG, 2004), vale-se da implementação do esporte na escola. Para os atenienses, assim como para todos os gregos a educação era modelar, assentada nos poemas épicos tais como Ilíada e Odisséia. Durante séculos, a educação literária tradicional, segundo TSURUDA (1994), centrou-se na memorização e no canto acompanhado da lira, transmitiu ás crianças e aos adolescentes gregos o ideal de vida e o modelo de conduta de Aquiles, Ulisses e de Telêmaco dentre outros. Convém ressaltar que os aspectos negativos também eram analisados com o fito de serem evitados pelos aprendizes. Somando-se as qualidades de coragem, espírito de sacrifício e de urbanidade o homem aristocrático grego deveria reunir as qualidades de ser hospitaleiro, freqüentar banquetes, assumir a prática esportiva, o debate político e as guerras. “Viver pouco, morrer jovem e ser cantado pela posteridade”. Ter honra (timê) e vergonha (aidós) como valores primordiais (TSURUDA, 1994). Para os atenienses, a virtude mais importante era a liberdade; a educação formal não era dirigida pelo Estado. Exigia-se apenas que os filhos recebessem, da família, orientação elementar. Embora não houvesse ação direta, as escolas eram supervisionadas pelos os magistrados que vigiavam a sua ordem e organização. As escolas eram particulares e seus professores pagos pelas famílias dos estudantes. A escolarização elementar, ao que tudo indica, tinha caráter democrático; a disciplina, entretanto, era muito rígida e o aluno recebia punição severa quando se cometia pequenas faltas. Objetivando a apresentação do conhecimento aprendido, ao final do ano, os estudantes passavam por exames podendo ser recompensados. Em Atenas, o bom cidadão era aquele que sabia ler e nadar. O currículo ateniense A educação escolar em Atenas era composta por três partes (letras, música e ginástica), e possuía professores especializados. O gramatista (grammatistés), ensinava a ler e a escrever ministrando também os primeiros cálculos. Sentado sobre um tamborete o aluno grafava sobre tábuas pequenas revestidas de cera. A escrita era feita com um estilete de metal ou marfim cuja ponta permitia sua impressão e um segundo usado para apagar os caracteres escritos. O estudante lia poemas de Homero, Sólon e Hesidoro poesias que traziam em sue bojo cunho moral, narrativas e feitos heróicos. O citarrista (kitharistés), ensinava o aluno a tocar a lira e a flauta a cantar e a declamar. Os exercícios ginásticos eram realizados na palestra; local aberto cercado de pórticos e decorados com estátuas de Hermes e de Herácles padroeiro dos jovens e dos atletas. O orientador das atividades físicas denominava-se pedótriba (paidotribes), e era assim como os demais profissionais da educação formal, vigiado por um magistrado. Segundo BRANDÃO (1989), este “professor” assumia um papel bastante relevante na educação escolar. A ginástica segundo no ensina JARDÉ (1977), outro autor que escreve sobre educação afirma que esta ”era reservada aos adolescentes. O menino que freqüentava a escola gramatista desde os sete anos de idade, não ira à palestra antes dos doze anos e só passava a exercitar-se assiduamente, quando completava quatorze. Era a sua preparação para a efebia” (p.210). Os cidadãos ricos prosseguiam seus estudos freqüentando as escolas dos retores que ensinavam eloqüência e política. Precisava-se ser racional, defender seus direitos e argumentar. O homem educado era um orador. "O caráter de classe da educação grega aparecia na exigência de que o ensino estimulasse a competição, as virtudes guerreiras, para assegurar a superioridade militar sobre as classes submetidas e as regiões conquistadas. O homem bem educado tinha que ser capaz de mandar e de fazer-se obedecer" (GADOTTI, 1993:30). Os gregos (atenienses) idealizaram um currículo que mesclava a educação e a cultura. Visando a formação do homem integral, implementaram sessões de ginástica para a formação do corpo (domínio motor), aulas de filosofia e de ciências para a formação das habilidades mentais e aquelas de música e de artes para a formação do senso estético e moral (domínio sócio - afetivo). Os exercícios físicos eram praticados nos ginásios - principalmente pelos cidadãos - homens livres, nascidos de pai e mãe atenienses, os únicos a terem direito de possuir terras, gozar de plenos direitos políticos. Os demais, homens de outra proveniência - metecos ou estrangeiros com permissão de fixar-se na cidade deveriam exercitar-se em outros locais. Estes eram protegidos pelas leis, pagavam impostos, prestavam serviço militar mas, não tinham direito da posse terra e participar de decisões governamentais. ARANTES & MEDALHA (1989) sobre o currículo grego escreveram que“ na Grécia Antiga currículo era reconhecido como Trivium composto de gramática, retórica e dialética; Quadrivium, composto de aritmética, geometria, música e astronomia; os quais em conjunto formavam o Septivium também denominado as sete artes liberais” (p.47). O Estado ateniense, assim como nas demais cidades gregas, onde não se conhecia uma regulamentação legal dos referentes á educação, seguia, segundo Platão, direção contrária aos preceitos familiares e o legislador por sua vez, não podia opor-se a estas contradições. O movimento, a personalidade e o jogo As questões de descendência e linhagem familiar já estavam regulamentadas. As bases filológicas, eugenésicas para uma procriação e infância melhor já representavam certa preocupação pois a primeira infância foi tida como uma fase decisiva de educação moral. De acordo com a obra Paidéia: a formação do homem grego, as normas médicas e a explícita necessidade do movimento desde a mais tenra idade, já se encontram prescritas no postulados daquele povo. “Os balanços do corpo, com ou sem esforço próprio, exercem sobre o homem uma ação revigorante como acontece com o passeio, com o balanço, com os cruzeiros por mar, a equitação e outros tipos de movimento” (JAERGER,1995:1350). Platão recomenda que as mães passeiem durante a gestação e que façam massagem as suas crianças até dois anos de idade. “O movimento deve ser uma constante na vida das crianças que de modo nenhum deve - se obrigar a permanecer quietas. A imobilidade não faz parte da natureza da criança; “o indicado para sossegar a criança não é o silêncio mas o canto, pois o movimento exterior liberta-a do medo interior e a sossega” (JAERGER, 1995:1351). A educação opressiva que traz sensação de medo não é recomendada. Deve-se educar a criança na alegria, pois ela oferece as bases para a harmonia e pleno equilíbrio do caráter. Sobre as atividades recomendadas por Platão para as crianças de 03 a 06 anos, encontram-se os jogos “é logo neste período que devem ser combatidos, por meio de castigos, o amolecimento e o excesso de sensibilidade da infância” (Mas), “os castigos não devem suscitar a cólera da criança à qual se aplicam, nem deixar impunes os seus excessos. Nesta idade, são as crianças, quando se juntam que devem inventar os seus jogos, sem que lhes sejam prescritos” (op.cit. p.1353). Orientados inicialmente pelas mulheres, meninos e meninas até os seis anos de idade devem estar entregues ao regime de co-educarão. A educação gímnica é ampliada praticando-se a dança, os exercícios em círculo tendo em vista a futura educação militar. Os jogos são para Platão um meio para o desenvolvimento do “Ethos” adequado; é nele que se concede liberdade plena à capacidade inventiva das crianças de 3 a 6 anos de idade. Depreende-se em todas as páginas da obra “Paidéia: a formação do homem grego”, que as manifestações humanas devem consagrar o homem político. Todas as atividades, recomendações e prescrições têm apenas uma meta qual seja, a formação do homem integral ou guerreiro visando a polis. A prática da Educação Física nas escolas Em Atenas, embora se valorizasse a atividade física, havia maior preocupação na formação de um homem político. A “Educação Física”, para Platão, deveria ser ministrada por professores nomeados, “inclinava-se a desenvolver extraordinariamente o conceito de ginástica, ao longo prazo, visavam os exercícios militares”. Os professores pagos e ensinavam o tiro e a lança, o uso da esgrima com armas ligeiras e pesadas, de tática e de todo o tipo de movimentos de corpos de exército. A atividade física orientada também compreendia a instalação de acampamentos e a prática da equitação. Para Platão, todas estas atividades eram entendidas como “ginástica”. O grande filósofo desejava que se cultivasse o estilo do homem distinto e livre e as atividades ginásticas serviriam como um meio para atingir essa meta. A “Educação Física” fazendo parte dos estudos secundários compreendia a corrida a pé, o salto em distância, o lançamento de disco e do dardo, a luta, o boxe, o pancrácio e a ginástica. A dança era incluída na educação musical junto com o aprendizado da lira. Evidentemente que os “professores” ensinavam através da repetição e da inculcação do modelo. Cabia ao aluno repetir, alcançar o ideal que invariavelmente, estava sempre muito acima das suas capacidades pessoais. Ao que tudo indica, não havia individualidade. Cada um deveria cumprir com o esperado e se espelhar no professor. Quanto menos se errasse quanto mais próximo à perfeição, (divinamente humana), mais se assemelhava ao mestre. Dentro da linha tradicional, privilegiou-se o mais dócil e o mais hábil. Parece ser inconcebível naquele tempo que cada era fosse considerado como uma síntese resultante de um processo histórico de vida. O processo de crescimento e de desenvolvimento individual dependia não somente da hereditariedade (patrimônio genético), mas também da experiência advinda do meio ambiente. Ao que os fatos indicam, a educação tradicional valia-se da quantidade de conteúdos exercitados e avaliados segundo os padrões impostos pelos superiores; os aspectos pessoais não foram considerados. Inserida no currículo escolar, e praticada no ginásio, a ginástica (e o esporte) eram praticados pelos cidadãos elite das cidade - Estado. Para que o recomendado pela Paidéia ocorresse foram criados especialistas nessas questões. Assim, o gymnastai - figura honorífica corresponderia aos atuais presidentes ou dirigentes dos clubes e pelo menos, deveriam ter pelo menos 30 anos de idade. O pedótriba - instrutor ou técnico cuja autoridade pode ser inferida pois a orientação do efebo dava-se através do uso de uma vara que lhe conferia autoridade.Com o passar do tempo, o ginásio ampliou suas funções, servindo além das atividades atléticas para toda a orientação esportiva da criança e da juventude, ponto de reunião dos gregos serviu a Platão, Aristóteles e Prodicus a divulgação dos méritos e benefícios da prática dos exercícios físicos. A competição exacerbada, entretanto, já se tinha como algo não recomendado a todos pois, poderia levar o atleta á fadiga, as perturbações fisiológicas, ao espírito pesado, estatura, disforme e inclinação pronunciada à violência (RUBIO, 2002). A disputa gímnico - desportiva O “atletismo” ou a atividade atlética é um fenômeno que pode ser encontrado em muitas civilizações orientais desde o terceiro milênio. Mas, é somente na Grécia que o esporte representava mais que o cotidiano. As atividades atléticas faziam parte da educação; ou era a própria educação formava cidadãos responsáveis adestrava - se para a guerra. Os cretenses inventaram as corridas, luta livre, pugilato e corrida de carros. Depois, vieram às mencionadas por Homero; lançamento de disco, tiro com arco, luta com as armas, lançamento de dardo e salto em distância (Odisséia). As corridas de carro foram criadas em honra de Enómano (ZISSIMOU, sd). Os jogos realizados em honra dos falecidos tinha o propósito de mantê-los vivos na memória dos jovens competidores O evento encerrava-se com um banquete para mais uma vez imortalizar a figura e os feitos dos atletas mortos. Os quatro jogos pan helênicos mais importantes foram realizados nas cidades a saber (a) Delfos Jogos Píticos; em honra de Apolo, (b) Neméia - Jogos Neméicos em honra de Herácriles ou Hércules,(c) Istimia - Ístimicos realizados em Corinto cujo patrono era Poseidon o rei dos mares,(d) Olímpia - Olímpicos na cidade de Olímpia cujo patrono era Zeus . RUBIO (2002), afirma que outras celebrações ocorriam eram os Jogos Heranos dedicados a deusa Hera esposa de Zeus, com a participação exclusiva de mulheres; os jogos Fúnebres que homenageavam Pátroclo, considerados como os precursores dos Jogos Olímpicos e as Panatéias em honra a Athenas. Na ilha de Creta, conta-se que Héracles propôs um concurso pedestre para que se exercitassem na corrida, originando o primeiro gênero de competição o atletismo. Na tentativa de manter a lenda as obras literárias e épicas mesclavam mito e homem afirmando que os atletas tomavam a força dos heróis. Segundo FARIA Jr (s.d) “nos tempos homéricos, os jogos, ás vezes livres e espontâneos, constituíam o aspecto dominante da vida dos cavaleiros. Outras vezes, os jogos constituíam manifestação solene, organizada e regulamentada, como nos jogos fúnebres em honra a Pátroclo, os quais incluíam o boxe, a luta, a corrida, a justa, o arremesso de peso e do dardo o tiro de arco e a corrida de carros (p. 385). Pequena história sobre os Jogos Olímpicos Os jogos foram criados por Hércules ou Heráclito. Ideos foi o primeiro homem que demarcou o tamanho do estádio, o estádio de Olímpia; pôs seus irmãos como competidores e coroou o vencedor da prova como folhas de oliveira. Ideos também marcou a periodicidade do evento tendo como critério inicial a quantidade de irmãos que possuía (cinco) ZISSIMOU (sd). Os Jogos Olímpicos localizavam-se a setenta metros de altitude, em um vale entre os Rios Alfeo e Cladeo. Embora habitado desde 2800 aC. foi transformado em santuário no século XII aC. Neste tempo, a Gea (Terra) foi tocada por Zeus, figura masculina, deus dos deuses e deus dos mortais. Não há data precisa sobre o início dos Jogos, há indícios que se iniciaram no século X aC. mas desde o século VIII, ou no ano de 776 aC. já se inscreviam o nome dos jovens vencedores das provas em tábuas especiais e catálogos olímpicos. Olímpia era um lugar simples; um bosque rodeado por muretes, edificações comuns com altares e templos. A administração dos jogos foi disputada pelas cidades de Pisa e Elis e, antes dos romanos, somente os gregos poderiam participar do evento. Os efebos - os jovens atletas que vencessem das provas em Elis Olímpia, eram coroados com folhas de oliveira. Nas demais cidades aonde os eventos se realizavam, os vencedores recebiam como prêmio coroa de louros como em Delfos ou outros tipos de adorno feitos com folhas de pinus (preferencialmente) como os jogos realizados em Neméia. Convém ressaltar que o termo Olimpíada deve ser entendido como o tempo limitado entre o término de um evento e o início do próximo. Este “espaço” funcionou também como medição do tempo para os gregos. Quanto á divulgação dos jogos era feita pelos emissários, pessoas designadas que saíam de Olímpia e a cada quatro anos estes eventos tomavam o lugar dos enfrentamentos entre as cidades de modo a garantir o desenvolvimento pacífico dos mesmos bem como auxiliar no deslocamento dos espectadores que chegavam de todos os lados (incluindo posteriormente a Magna Grécia - Nápoles, Siracusa, Agrigento, Sicília, depois Marselha, Alexandria e Turquia. O tempo da realização dos Jogos era considerado como um tempo da trégua sagrada (ekekhelría). As mulheres desnecessário dizer, estavam excluídas destas provas. Os competidores e os aspectos nutricionais “O esforço físico é o alimento para os membros e para os músculos, o sono é para estranhas. Pensar é para o homem o passeio da alma” (JAEGUER,1995:1040). Os atletas espartanos devido ao tipo de exigências a que eram submetidos, foram sempre os grandes vencedores em grande parte das contendas. Os sucesso obtido nos jogos 46 atletas (um total de 81 ganhadores entre os períodos de 702- 576 a .C.), esclarece FARIAS Jr, eram devido não somente ás qualidades e sues atletas mas também ao tipo de treinamento (e de alimentação- grifo nosso), a que eram submetidos. “Com o fito de alcançarem resultados cada vez melhores novas técnicas de regimes alimentares especiais foram introduzidas no treinamento atlético aumentou-se o consumo de carne por exemplo”. MCARDLE et al (2001) escreve em sua obra “Nutrição para o desporto e exercício” que poetas e filósofos sobre o treinamento de atletas afirmaram que os mesmos consumiam várias carnes de animais bois, cabras, touros e aves. Consumiam também queijos moles, e trigo, figos secos misturas especiais e bebidas alcoólicas. Ainda em se tratando segundo de alimentação FLANDRIR & MONTANARI (1998) citando Longo afirmam que “para um grego, os homens são em primeiro lugar, “comedores de pão” e, de qualquer forma, consumidores de cereais- cevada e trigo cozidos, de uma maneira ou de outra. Essa alimentação à base de cereal distingue os gregos não apenas dos povos não agricultores, mas, também, daqueles que cultivam e consomem outros tipos de cereais” (p. 266). O binômio alimentação e a atividade física competitiva, JAEGUER (1995) acrescenta que “os gregos sempre consideraram o atleta como um protótipo da força física, e, um vez que os guerreiros são chamados a ser atletas das lutas mais importantes, parece que o mais lógico e natural será tomar como exemplo para eles o método já tão desenvolvido da formação de atletas. Platão, porém não toma forma alguma por modelo as demais regras que os atletas têm de observar quanto a alimentação, estas regras tomam os atletas excessivamente sensíveis e sujeitam-nos em demasia à sua dieta; e principalmente o seu hábito de dormir muito não é o mais indicado para quem deve ser a vigilância em pessoa (p.795). Este tipo de alimentação aplicada ao cidadão somada aos esforços físicos, deve orientar o homem comum não à aptidão física necessária a um competidor mas, contribuir para o desenvolvimento da coragem muito importante para um guerreiro (JAEGUER, 1995:799). A medida em que ocorria a evolução da prática motora visando o resultado, a moralidade esportiva também sofreu alterações. De acordo com FARIAS Jr, (s,d) com os sofistas a educação intelectualizou-se e o deporto reconfigurou-se; perdeu o lugar de honra que ocupava na cultura grega arcaica mas deixou de ser o objetivo principal da juventude grega. A cidade de Esparta também é responsável pela introdução dos óleos para as massagens e a nudez completa do praticante. A nudez para competir Etmológicamente o termo gimnós significa desnudo ou ginásio; local onde se pratica exercícios físicos sem roupa. O corpo humano era visto com respeito e veneração. Significava a encanação do atleta e do herói que era representado nas pinturas, na escultura ou na cerâmica. A princípio usavam tapa sexo mas, segundo Pausânias, (ZISSIMOU, s.d) Orsipo de Mégara 720aC. perdeu a sumária indumentária no percurso da corrida. Mesmo assim continuou correndo chegando em primeiro lugar e assim foi coroado. A partir de então em todas as provas os participantes se apresentassem nus. Depois, uma nova prática gímnico desportiva A partir dos sofistas ou quando o valor das atividades gímnico assumiram um outro valor, reconhecia-se então dois tipos de ginástica (a) orquéstica “com objetivo de atingir o bom estado físico e desenvolver a agilidade, a beleza das formas, a euritmia que cada um dos membros dá a seu próprio movimento” e a (b) paléstrica, relacionada tanto com todos os aspectos que dependem da luta e a ela se aplicam, como o desejo de sucesso e uma forma elegante de se comportar, quanto para adquirir vigor e saúde, como se lê nas Leis de Platão” (FARIAS Jr, s.d :387). Referências ARANTES, A: C. & MEDALHA, J. Uma visão histórica de currículo: definições, abordagem histórica e modelos específicos em educação física. Revista paulista de Educação Física. São Paulo, 3(5): 45-50, jul. Dez. 1989. p. 45- 50. CARRILLO, L. F. D. Mujer y olimpismo. Revista digital.Buenos Aires, ano 5, no.24.ano 2000 p. 1-4. BARROS, G. N. As olimpíadas na Grécia antiga. 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