Grécia: berço das olimpíadas Jorge Antonio de Queiroz e Silva Entre os dias 13 e 29 de agosto de 2004, Atenas, capital da Grécia, será sede das olimpíadas. A esperança é de um grande acontecimento, até porque foi lá que houve a primeira olimpíada, na cidade de Olímpia, daí a origem da palavra olimpíadas. Ruínas da cidade Olímpia. Existem dúvidas sobre o ano da primeira realização olímpica. A informação é de 776 a. C., quando foram registrados jogos em um disco de pedra no Templo de Hera (rainha do Olimpo esposa de Zeus). Neste local houve um encontro entre os reis de Elida e Esparta, responsáveis por um acordo de paz durante o período dos jogos. As competições no mundo helênico tinham conotação política, pois representavam a esperança da paz duradoura, e religiosa, uma vez que eram oferecidas a Zeus (identificado como pai, rei dos homens e dos deuses). Zeus Hera No começo, as competições tinham duração de um dia e se restringiam à corrida no estádio; posteriormente foram prolongadas com introdução de outros jogos. Antonio Carlos Amaral (1997) comenta: “Os jogos começavam com um juramento dos atletas e sacrifícios religiosos, devendo os concorrentes serem gregos de nascimento e livres de qualquer acusação ou condenação. As provas duravam cinco dias: corrida a pé, lançamento do disco e do dardo, salto (os gregos não conheciam o salto a distância), boxe e pancrácio (algo parecido com a luta livre moderna). As competições encerravamse com corridas de carros e de cavalos”. O curioso é que os atletas chegavam em Olímpia com um mês de antecedência e recebiam uma formação (espiritual, física e moral) rigorosa. Esse ideal começou a declinar a partir das invasões ao território grego. Vejamos como as tradições olímpicas passaram por transformações que deformaram a aspiração helênica. Luta Boxe Num primeiro momento, Filipe II, rei da Macedônia, e depois seu filho, Alexandre Magno, fortaleceram o domínio na região influenciando a cultura. Num segundo momento, os romanos subjugaram os macedônios e, conseqüentemente, os gregos. Tentaram estabelecer a retomada do ideal olímpico, mas o empenho não foi suficiente. A Revista Grécia Terra dos Deuses (n. 1, Editora Escala, 2003) traz a inteligente afirmação: “Os dois povos tinham idéias bem diferentes a respeito do esporte. Para os gregos, importava a participação de qualquer pessoa com saúde e disposição para correr ou arremessar discos, mesmo que não fosse uma campeã. Na visão dos romanos, entretanto, importava mais o espetáculo em si – quer dizer, as competições esportivas valiam mais como uma festa para se assistir”. Mas foi o imperador romano, Teodósio, em 393 d. C., que proibiu os jogos olímpicos por considerá-los pagãos. Na verdade ele era um prepotente e fanático religioso. Por intermédio do Édito de Tessalônica, declarou o cristianismo como religião oficial do império e nomeou-se chefe da religião constituída. Somente após 1503 anos é que ocorreu o renascimento dos jogos Olímpicos. Barão Pierre de Coubertin, cognominado pai dos jogos Olímpicos Modernos, propagou o retorno das olimpíadas. Barão Pierre de Coubertin Em 1896, viu seu sonho se realizar. Atenas mais uma vez foi o cenário desse rememorável acontecimento. Daí em diante o congraçamento entre os povos por meio das Olimpíadas não parou mais. Várias nações passaram a ser sede dos jogos. Coubertin relata: “A idéia do renascimento dos Jogos Olímpicos não foi uma fantasia passageira: foi a culminação lógica de um grande momento. O século XIX presenciou o prazer pelos exercícios físicos renascer em todos os lugares... Ao mesmo tempo as grandes invenções, as ferrovias e o telégrafo conectaram distâncias e a humanidade passou a viver uma nova existência. As pessoas se misturaram, conheceram-se melhor e imediatamente passaram a se comparar. O que um conseguia o outro desejava conseguir também. Exibições universais trouxeram para uma localidade produtos de todo o mundo, congressos científicos ou literários reuniram as variadas forças intelectuais. Então como poderiam os atletas não buscar se reunirem, já que a rivalidade é a base do atletismo e na realidade a razão de sua existência?". Jorge Antonio de Queiroz e Silva é do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. E-mail: [email protected]