Senhor Presidente,

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DISCURSO
PELO
PRONUNCIADO
DEPUTADO
PERONDI
DARCÍSIO
(PMDB/RS),
NA
SESSÃO DE 27 DE FEVEREIRO
DE 2003.
SENHOR PRESIDENTE,
SENHORAS E SENHORES DEPUTADOS:
Ocupo esta tribuna para fazer referência e homenagear os cientistas
estrangeiros e brasileiros que pesquisam sobre a vida. Como médico,
a vida e os progressos da ciência sempre me cativaram, mas a
motivação especial para este meu pronunciamento surgiu da leitura de
reportagem, assinada por Herton Escobar, e publicada no último
domingo no jornal Estado de São Paulo.
Há 50 anos, no dia 28 de fevereiro de 1953, os britânicos Francis Crick
e James Watson desvendaram a estrutura da molécula mais
importante da vida, o DNA.
Esta estrutura, que tem o nome de dupla hélice, é formada por tiras
ligadas por bases nitrogenadas, que são como as “letras” do código
genético, ou genoma.
Na seqüência das bases estão contidas toda a forma de vida existente
no planeta. O alfabeto genético é o mesmo para a bactéria e para a
árvore frondosa, para a girafa e para a formiga, para o homem e para
a mulher, para o arroz e para o feijão.
Nos seres humanos, o DNA está organizado em 23 pares de
cromossomos, presentes no núcleo de cada uma dos 100 trilhões de
células do nosso organismo. Cada célula possui 3 bilhões de pares de
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bases 99,9 % idênticas. Mas o mesmo código genético que é universal
para toda a vida, faz de cada indivíduo uma pessoa única. A pequena
diferença de 0,1% faz a individualidade de cada um de nós.
O gene é um trecho de DNA que controla a transmissão de
características de pais para filhos.
Frutos da descoberta dos dois cientistas Crick e Watson, a biologia
molecular e a engenharia genética são as bases da moderna
medicina, da agricultura, da pecuária e da zoologia.
A primeira aplicação comercial dessa tecnologia data de 1982, com a
produção de insulina para o tratamento de diabetes. O gene que
produz a insulina humana foi isolado e transferido para uma bactéria
que, vivendo em tanques de fermentação, ao se reproduzir, produz a
proteína insulina, que é, então, isolada e purificada para o tratamento
de
diabetes.
Esse foi um passo fundamental para o tratamento de diabéticos que
antes tinham que usar a insulina suína ou bovina, muito menos
eficiente que a humana para o tratamento da doença.
A revolucionária descoberta do DNA produziu muitos avanços no
conhecimento científico da vida. O mais importante foi a publicação,
em 2000, do manual de instruções sobre o funcionamento do genoma
humano.
Um dos principais objetivos da genômica é tratar a doença de forma
precoce. Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma
Humano da Universidade de São Paulo, admite que as informações
genéticas poderão ser usadas para personalizar o tratamento dos
pacientes. Num futuro não muito distante, cada pessoa terá seu
código genético inscrito em um chip eletrônico, que poderá ser levado
na carteira quando for consultar o médico.
A descoberta do DNA provocou grande impacto, não apenas na
medicina, mas também na agricultura. Na cronologia dos avanços da
biologia molecular aparece a aprovação nos Estádios Unidos, em
1994, do primeiro tomate transgênico - que amadurece mais devagar.
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O melhoramento genético dos alimentos ficou mais rápido e mais
eficiente. O avanço não teve reflexos apenas na produtividade. A
biologia molecular desenvolveu genes bovinos que influenciam, por
exemplo, na maciez da carne bovina – o que seria impensável há 50
anos.
A evolução mais recente da biotecnologia são os transgênicos. O
conceito é o mesmo do cruzamento tradicional, mas com genes
trazidos de outras espécies. Como o código genético é universal, é
possível pegar um gene e colocá-lo em outro e ele terá a mesma
função.
Podemos afirmar com imenso orgulho que o Brasil é hoje um dos seis
países mais avançados em Biotecnologia. Isso graças aos esforços de
dezenas de pesquisadores em diversas instituições, com destaque
para a EMBRAPA e para a USP.
Quero citar um exemplo que afeta uma das culturas mais tradicionais
para o povo brasileiro: o feijão, que vem sendo atacado pelo vírus
denominado mosaico dourado. A EMBRAPA, num futuro próximo,
fornecerá aos produtores um feijão resistente a este vírus.
A revolução biotecnológica, que promete transformar a economia
mundial neste século, é um fenômeno cultural de profunda
repercussão. Hoje, estamos ainda envolvidos com a polêmica que
envolve a dupla relação do homem - com a tecnologia e com a
natureza.
Nos encontramos entre duas visões arraigadas, embora contraditórias.
De um lado, sociedades industrializadas tendem a confiar na
tecnologia, com a esperança de que ela resolverá uma ampla gama de
problemas e melhorará a qualidade de vida.
De outro lado, as pessoas instintivamente confiam na natureza de tal
modo, que renunciam às suas esperanças na tecnologia. A guerra
dos ambientalistas contra alimentos geneticamente modificados
explora este conflito de valores.
De modo simples, poderíamos resumir esta polêmica assim:
Pesquisadores defendem os transgênicos e ambientalistas defendem
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produtos orgânicos. A diferença é que para entender a tese dos
defensores dos transgênicos, é preciso um pouco de conhecimento de
biologia. Para assumir a postura dos que são do contra, basta ter
medo, basta ter introjetado que “natural é melhor”. Os cientistas
sabem que uma fruta cultivada sem pesticidas pode não ser boa por
ser “natural”. As pessoas esquecem que uma planta não transgênica
também se defende de agressões e para isso sintetiza até substâncias
tóxicas.
Os transgênicos ainda são DNA e DNA é uma coisa natural.
Acredito na ciência, nos esforços dos cientistas e pesquisadores.
Defendo os transgênicos e luto pela liberação de seu cultivo no Brasil.
Acredito nos cientistas da EMBRAPA, responsáveis diretos pelo salto
da agricultura de qualidade no Brasil e instrumentos indispensáveis
para o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para o
enfrentamento da fome no Brasil.
Ser contra os transgênicos é ser contra a evolução da tecnologia a
serviço de uma vida melhor.
Senhoras e Senhores parlamentares faço aqui um apelo para que esta
Casa se engaje na luta em defesa da biotecnologia, os avanços nos
últimos tempos mostraram o quanto esta ciência é importante para a
melhora da qualidade de vida da população.
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