A CIÊNCIA ECONOMIA POLÍTICA E SUA INFLUÊNCIA NO IDEÁRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO NO FINAL DO SÉCULO XIX. Alzenira F. de Azevedo Moises1 INTRODUÇÃO: A exposição que se apresenta buscará expor estudos referentes ao processo de desenvolvimento da Economia Política como uma ciência que ganha corpo no momento de derrocada da Sociedade Feudal. A princípio procuraremos nos ater aos estudos de Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx e as determinações que levaram estes autores a análises diferenciadas desta ciência na história. Concomitante a isto, abordaremos uma nova concepção de homem que se formava, tendo como base para a sua existência tanto individual como social, o trabalho. Ateremos-nos também as implicações desta nova ciência que culminou na necessidade de educação para o povo de uma forma institucionalizada no século XIX. Finalmente, procuraremos abordar a necessidade de expansão comercial de grandes potencias européia e suas influências no ideário pedagógico brasileiro, levando em consideração as suas especificidades. Assim, neste panorama histórico, analisar questões referentes a liberdade de ensino discutida amplamente pelos intelectuiais brasileiros no final do século XIX. OBJETIVOS: • Contextualizar o período histórico que permitiu e justificou a necessidade de um projeto educacional perseguido pela sociedade contemporânea. • Analisar o desenvolvimento da Ciência Economia Política como expressão das necessidades dos homens. • Investigar as Atas e Pareceres do Congresso da Instrução do Rio de Janeiro, em sua primeira seção, 2ª questão, que discutia a liberdade de ensino, na busca de levantar 1 Alzenira Francisca de Azevedo Moises, mestranda no Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Maringá, na área de concentração de Fundamentos da Educação, residente na Rua José Bonifácio, 705, zona 01/ telefone 9968-0960 / e-mail: [email protected]. elementos, para a compreensão do pensamento da sociedade brasileira e a necessidade de discutir o surgimento da escola pública. • Investigar o interesses políticos, econômicos e sociais que levaram intelectuais da década de 80, principalmente em seus anos iniciais a discutir e propor em um Programa Oficial a discussão a Liberdade de Ensino e sua inclusão em leis que entrassem em vigência nas províncias do Império. METODOLOGIA: Pesquisa bibliográfica dos aspectos políticos, econômicos, sociais e educacionais da Sociedade brasileira na penúltima década do século XIX, mais precisamente os anos iniciais. A sociedade brasileira viveu, nas décadas finais do século XIX, períodos de importantes mudanças, como a passagem do Império para a República, a adoção do voto direto e mudanças econômicas, provocadas pelas muitas transformações que ocorreram em grande parte dos países europeus. RESULTADOS: De acordo com Figueira (2001), os princípios da nova Ciência Economia política passaram a se insinuar na vida de parte dos indivíduos e a ocupar um espaço, reservado, até então para a religião. Diante disto, novas forças passam a questionar as verdades postas e que protegiam a sociedade medieval: “quando a sociedade feudal entra em crise, entra também a sua concepção de como o homem produz a sua existência.” Nesse sentido nos atemos a Marx (1987), ao explicar a divisão social do trabalho, processando-se ou não através da troca de mercadorias fez parte das mais variadas formas econômica de sociedade, mas a divisão do trabalho em manufaturas é especifica do capitalismo. A manufatura revolucionou inteiramente ao se apoderar da força individual de trabalho em suas raízes2. Dessa forma, na manufatura o enriquecimento 2 “Deforma o trabalhador monstruosamente, levando-o artificialmente a desenvolver uma habilidade parcial , à custa da repressão de um mundo de instintos e capacidades produtivas...Não só o trabalho é dividido e suas diferentes frações distribuídas entre os indivíduos, mas o próprio indivíduo é mutilado e transformado no aparelho automático de um trabalho parcial” (p.412). das forças produtivas coletivas se dá à custa do empobrecimento das forças produtivas individuais. Nesse ponto, afirma Marx que já em meados do século XVIII, as manufaturas empregavam de preferência indivíduos “meio idiotas” em operações mais simples e isso foi exposto por Smith neste texto. Em análise ao que este economista político via como forma de educação do povo, esclarece que para ele essa educação deveria ser dada em doses homeopáticas, evitando-se assim, a ignorância completa do povo em geral através de um ensino popular oferecido em partes pelo Estado. Para ele, a história da manufatura propriamente dita, decompôs o ofício manual, especializou as ferramentas, formou os trabalhadores parciais, ou seja, desenvolveu a força produtiva do trabalho para o capitalista e não para o trabalhador individual. Produziu novas condições de domínio do capital sobre o trabalho, revelando de um lado o progresso histórico necessário ao desenvolvimento econômico da sociedade e, “do outro, tornou-se meio refinado e civilizado de exploração”. A partir de uma detalhada análise, juntamente com demais estudiosos, Marx percebeu o processo de extração da mais valia pelo capitalista e que com o desenvolvimento das forças produtivas levando a objetivação do trabalho humano na máquina, este já não era mais necessário. Identificou as contradições inerentes a este processo. As crises dadas não mais pela escassez, mas a superprodução gerada através de uma produção coletiva e apropriação de poucos indivíduos. Nesta análise argumenta que a produção coletiva, já teria todas as condições para uma apropriação também coletiva, mas isto não acontecia3. Os homens passam a reivindicar a sua parte em toda esta produção, nos ideais apregoados na Revolução Francesa (1789). Neste ínterim, o modo de produção capitalista encontra formas de sobreviver e a educação, neste momento é chamada em seu socorro. Segundo Schelbawer (1998) a crise na superprodução vivenciada pelas sociedades européias trouxe conseqüências profundas nas nações emergentes pelo grau de 3 Queremos deixar claro que quando Marx e seus colaboradores elaboram essa teoria, já haviam condições matérias postas para tais formulações. transformações que impuseram a vida dos homens. Afirma que: No Brasil, essas transformações puderam ser percebidas pela crise instaurada tanto no regime de trabalho, como no regime político, a qual culminaria, anos mais tarde, com a abolição da escravatura e a Proclamação da República, respectivamente. Foi neste contexto quase pode perceber as razões que levaram os homens, na sua quase totalidade, a ver, na educação popular, a saída para os problemas que emergiam ou acreditavam emergir das transformações em curso; bem como refletir sobre as condições de impedimento para que os desejos de efetivar a escola primária de ensino obrigatório, como uma função do Estado e o Sistema Nacional de Educação, não fossem alcançados (p 131, 132). Já Barros (1959), ao estudar a universidade brasileira nos últimos anos do império, tomou como base o período de 1870 a 1889. Fez relações das idéias que repercutiram no Brasil e acontecimentos na Europa como: a terceira República na França, a guerrafranco alemã, trouxeram reflexões no pensamento brasileiro. Para ele a data de 1889, não pode ser tomada como marco na mudança das idéias, mas como o fim do império. De acordo com Barros (1959), o seu final teria como marco 1870, com todas essas idéias impulsionando o império brasileiro não significou uma mudança na mentalidade, mas a necessidade de um governo que atendesse as aspirações de liberdade e ao espírito científico moderno. A ilustração brasileira possui uma diferença marcante da Europa, com um século de atraso. Barros (1959) diz que sob o influxo dos “autores populares” do século XIX, desenvolvesse no Brasil um movimento de ilustração semelhante ao Iluminismo Europeu no século XVIII. “A nossa ilustração guardou a crença nas idéias, a confiança total na ciência e a certeza de que a educação intelectual é o único caminho para melhorar os homens, dando-lhes o destino moral. Para esse autor esses traços do Iluminismo presentes em autores brasileiros assumiram uma dimensão histórica que seria fundamental para a imagem do país no mundo. O que os homens queriam realmente nas décadas de setenta e de oitenta se propunha realmente a “ilustrar o país” pela ciência e a cultura, fazendo da escola focos de luz, ‘donde haveria de sair uma nação transformada”. Esperava-se a transformação da sociedade pela ilustração, onde a crença generalizada, no período, era de que, um país é o que a sua educação o faz ser. Nesse sentido, as idéias é que movem o mundo e a escola é a instituição que as organiza e as desenvolve, essa idéia se matem no século XIX, e chega ao Brasil. (p 131, 132). CONCLUSÕES:De acordo com Barros(1959) estes intelectuais acreditaram muito mais no poder criado da educação do que em seu poder renovador e deixou como legado para o povo brasileiro a confiança em uma educação ‘que renove a face da nação, transforme os seus homens, que seja capaz de resolver sem ódios os problemas humanos essenciais e que facilite a caminhada para a construção de uma sociedade livre e justa’. O crescimento obtido na rede de ensino era considerado vegetativo, o crescimento do ensino particular que cada vez mais pede ajuda do estado e exige por parte deste, menos controle. Nos primórdios da Ilustração brasileira que o sistema brasileiro de ensino tinha apenas algumas faculdades isoladas, solicitando-se a ‘Liberdade de Ensino’. Não porque o estado fosse liberal ou que houvesse tolerância do imperador. O controle e o rigor do Imperador estavam muito longe de atender aos ideais da Declaração dos Direitos do Homem. “Nesse caso, liberdade de ensino era um meio de libertar o país”. E de um certo modo, não só os liberais à solicitavam, como os ultramontanos e os positivistas. Solicitava-se o afastamento do estado do domínio da educação, em nome do princípio liberal de que o estado não tinha uma doutrina estruturada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Informações e documentação Referências – Elaboração – NBR 6023. Rio de Janeiro, 2002. Atas e Pareceres do Congresso da Instrução do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Tipografia Nacional, 1884. BARROS, Roque Spencer Maciel de Barros. A ilustração brasileira e a idéia de universidade. História e Filosofia da Educação, Boletim nº. 241, nº. 2, São Paulo, 1959. COLLICHIO, Terezinha A Ferreira, Dois Eventos importantes para a História da educação brasileira: A Exposição Pedagógica de 1883 e as Conferências da Glória: in. R. Fac. Educação, São Paulo, 13 (2) : 5 – 14, jul./dez,1987. ECONOMISTAS POLÍTICOS / Introdução In - Adam Smith [et.al]; seleção de textos, introdução, tradução de notas de Pedro de Alcântara Figueira. São Paulo: Musa Editora, 2001. KARL, Marx. O Capital: crítica da economia política. 11 ed. São Paulo; Bertand Brasil -DIFEL, 1987, V1 RICARDO, David. Sobre o valor. Princípios de economia política e tributação, São Paulo: Abril Cultural, 1983. SCHELBAWER, Analete Regina – Idéias que não se realizaram : o debate sobre a educação do povo no Brasil de 1870 a 1914, Maringá: Eduem, 1998. SANDRONI, Paulo. Novo dicionário de economia. São Paulo: Círculo do Livro; Editora Best Seller, 1994. SMITH, Adam. A Riqueza das nações. São Paulo; Abril Cultural, 1983. v.I, livro 1 ____________. A Riqueza das nações; São Paulo, Abril Cultural, 1983. vII