99 USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL PELA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL DO MUNICÍPIO DE CORONEL FABRICIANO USE OF EQUIPMENTS OF INDIVIDUAL PROTECTION FOR THE TEAM OF NURSING OF A HOSPITAL OF THE MUNICIPAL DISTRICT OF CORONEL FABRICIANO Bruno Moraes Vasconcelos Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais- UnilesteMG - [email protected] Ana Luiza Rafael de Miranda Reis Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais- UnilesteMG Márcia Seixas Vieira Enfermeira. Docente do curso de enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais- Unileste- MG RESUMO Os Equipamentos de Proteção Individual permitem aos profissionais da equipe de enfermagem exercer os cuidados aos pacientes de forma segura, não colocando em risco a saúde do paciente e zelando pela integridade física dos mesmos. O estudo evidencia que os profissionais da área de saúde, no exercício de suas funções, estão sujeitos a riscos, tendo necessidade de utilizar os EPIs para prevenir o aparecimento de doenças e a ocorrência de acidentes de trabalho. O presente trabalho teve como objetivo verificar os tipos de riscos a que estão sujeitos os profissionais no hospital; avaliar o conhecimento da equipe de enfermagem de um hospital da região do Vale do Aço sobre o uso dos EPIs; verificar disponibilidade dos EPI’s nos setores pesquisados e analisar a adesão ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) pela equipe de enfermagem deste hospital. Através desta pesquisa de caráter quantitativo foi desenvolvido um estudo descritivo em um hospital na região do Vale do Aço, a fim de verificar a adesão da equipe de enfermagem ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual. A pesquisa demonstrou que, apesar da maioria (94,9%) dos participantes estarem cientes dos riscos que correm no exercício profissional, esses equipamentos nem sempre são utilizados, especialmente por falta de disponibilidade (83.6%), falta de hábito e disciplina (81.6%), descuido (44.0%), desconforto e incômodo (35.2%). Apenas a minoria utiliza constantemente todos os equipamentos necessários ao exercício da enfermagem e, dos utilizados, as luvas são as que possuem mais adesão. A falta de adesão aos EPI´s podem ter conseqüências graves, desde uma punição aos empregadores quanto a contaminação de pacientes e funcionários por doenças transmitidas em contato com sangue e vias aéreas. É obrigação do fabricante, do empregador e do empregado fazer valer o uso dos EPI´s. PALAVRAS-CHAVE: Enfermeiro; Equipamentos de Proteção Individual; Acidentes de Trabalho. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 100 ABSTRACT The personal protection equipments allow the professionals of a nursing team to take care of patients in a safe way, not staking the patient’s health and caring for their physical integrity. The study shows that health care professionals, while performing their duties are exposed to risks having then the urge to use PPE in order to prevent the onset of diseases and the occurrences of employment accidents. The current research aimed to verify the kind of risks the hospital professionals are exposed to, to evaluate the knowledge a nursing team from a hospital in Vale do Aço has about PPE, to verify the availability of PPEs at the wards the research took place and to analyze the adherence of the hospital nursing team to the use of Personal Protection Equipment (PPE) . Through this qualitative research a descriptive study was done at a hospital in the region of Vale do Aço aiming to verify the adherence of the nursing team to the use of Personal Protection Equipments. The research showed that although the majority (94%) of the participants is aware of the risks they are exposed in the job, these equipments are not always used, especially for not been always available (83.6%), lack of habits and discipline (81.6%), careless (44.0%), discomfort and disturbance (35.3%). Only the minority constantly uses all the necessary equipments to perform the nursing duties and from the used equipments the gloves are the most used. The lack of adherence on the use of PPEs can have serious consequences, from the punishment of the employees to the patients and employers`contamination by transmissible diseases by contact with blood and air ways. It is the fabricant`s, employee`s and employer`s obligation to assure the use of PPEs. KEY WORDS: Team of nursing. Equipments of Individual Protection. Work of accidents. INTRODUÇÃO A preocupação com os profissionais da área de saúde, embora já houvesse se manifestado no século XVII, na Itália, com relação às parteiras que se expunham a dermatites e a estresse por ficarem horas agachadas, com as mãos estendidas (RAMAZZINI apud NISHIDE; BENATTI, 2004), só passou a ser alvo de mais interesse a partir da década de 1980, quando foi reconhecido que o próprio trabalho causava doenças e acidentes. Historicamente, os enfermeiros não eram considerados como categoria profissional sujeita a alto risco de acidentes de trabalho, mas a preocupação com a epidemia de HIV/AIDS enfatizou a necessidade do uso rotineiro de luvas ao lidar com fluidos corporais. A partir daí cresceu o reconhecimento dos riscos biológicos devido à exposição a fluidos corporais, a ferimentos percutâneos e a contatos com membranas, mucosas ou pele através de rachaduras ou dermatites (NISHIDE; BENATTI, 2004). Os profissionais da equipe de enfermagem são responsáveis por prestarem os cuidados adequados aos pacientes e por promoverem e preservarem a saúde (SÊCCO; GUTIERREZ; MATSUO, 2002). Durante o exercício da profissão pode haver o contato físico com enfermos, com substâncias tóxicas, equipamentos e materiais contaminados, submetendo a equipe de enfermagem aos riscos de contrair doenças infecto-contagiosas e de acidentes no ambiente hospitalar, que por sua vez é considerado insalubre por admitir pacientes com diversas patologias e utilizar procedimentos que podem Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 101 gerar danos à saúde dos profissionais (BALSAMO; FELLI, 2006; SÊCCO; GUTIERREZ; MATSUO, 2002; ODA et al. apud CONSIGLIERI; HIRATA, 2002). Os riscos ocupacionais a que a equipe de enfermagem se expõe relacionam-se, em maior número, ao cuidado direto aos pacientes (presença de sangue, secreções, fluidos corporais por incisões, sondagens e cateteres), à dependência de cuidados por parte dos pacientes, ao elevado número de procedimentos e de intervenções terapêuticas que necessitam de uso de materiais perfurocortantes e de equipamentos, aumentando possibilidade do profissional adquirir infecções e doenças não confirmadas. Os riscos a que os profissionais estão sujeitos estão relacionados com os riscos dos pacientes que atendem (NISHIDE; BENATTI, 2004). Daí a importância da orientação e educação dos profissionais de enfermagem em controlar os agentes de risco, utilizar os EPI´s e participar dos controles administrativos, programas de exames médicos e sempre adotar medidas de segurança (FUNDEN apud NISHIDE; BENATTI, 2004; GIR et al., 2004). De acordo com a Norma Regulamentadora – NR 6, “[...] considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI) todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”. Este equipamento deve ser aprovado por órgão competente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e é de fornecimento gratuito e obrigatório aos empregados que dele necessitarem. Fabricante e importador, empregado e empregador têm obrigações com relação a seu uso (BRASIL, 2004, p. 13). Os equipamentos que fazem parte da prática profissional de enfermagem podem ser assim descritos: máscaras para proteção respiratória; óculos para amparar os olhos contra impactos, radiações e substâncias; luvas para proteger contra riscos biológicos e físicos; avental ou capote descartável e gorro para evitar aspersão de partículas dos cabelos e do couro cabeludo no campo de atendimento. Todos esses EPI´s são utilizados para prevenir o usuário de adquirir doenças em virtude do contato profissional – paciente e contra riscos de acidentes de trabalho visando à conservação da sua própria saúde (ALMEIDA-MURADIAN, 2002; PEREIRA et al., 2002; TAVARES; SALES, 2007). A adesão ao uso dos EPI`s traz consigo benefícios à saúde do trabalhador e aos empregadores sendo eles: maior produtividade, diminuição do número de licenças – saúde e redução dos gastos hospitalares com equipamentos e materiais. Lembrando que o uso dos EPI´s deve ser adequado às necessidades do procedimento avaliando o conforto, o tamanho do equipamento e o tipo de risco envolvido para não resultar em despesas para a instituição e comprometer a execução do procedimento. Em contra partida a não adesão aos equipamentos, quando necessário, pode resultar em prejuízos afetando as relações psicossociais, familiares e de trabalho, contribuindo para que os acidentes de trabalho continuem ocorrendo (BALSAMO; FELLI, 2006; BRANDÃO, apud MARZIALE; NISHIMURA; FERREIRA, 2004; TAVARES; SALES, 2007). Além da conscientização dos trabalhadores à adesão aos EPI´s, os profissionais contam com programas focados na prevenção primária dos Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 102 acidentes de trabalho, realizado por meio das análises da prática profissional, identificação dos riscos ocupacionais a que estão expostos os trabalhadores e os métodos utilizados para evitar os acidentes (ORENTEIN et al. apud MARZIALE; NISHIMURA; FERREIRA, 2004). A escolha desse tema deu-se em função dos trabalhadores da área de saúde suprirem a maior parte do cuidado direto e indireto com pacientes nos hospitais, preocupando-se muito com o cuidado e pouco com os riscos a que estão expostos. Este é um estudo de interesse dos profissionais de enfermagem, que lidam com pessoas possivelmente portadoras de patologias variadas e que devem oferecer-lhes assistência sem comprometer sua própria saúde. Este estudo proporciona aos profissionais de enfermagem conscientização sobre a necessidade de adesão a hábitos e procedimentos necessários para a proteção de sua saúde. Interessa aos empregadores, que estão obrigados por lei a fornecer os equipamentos necessários, uma vez que estes devem cumprir a lei para não sofrerem sanções e processos trabalhistas. Assim, ao cuidarem da saúde de seus funcionários, recebem em troca maior produtividade, dedicação e eficiência por parte dos mesmos. Interessa aos autores deste trabalho, futuros enfermeiros, pois estão adquirindo conhecimentos indispensáveis à sua futura profissão. E interessa a sociedade, já que a preocupação com a saúde de seus membros contribui para preservação de sua capacidade de trabalho, beneficiando à sociedade como um todo. Nesse contexto, os objetivos que direcionaram os estudos foram: verificar os tipos de riscos a que estão sujeitos os profissionais no hospital; avaliar o conhecimento da equipe de enfermagem de um hospital da região do Vale do Aço sobre o uso dos EPIs; verificar disponibilidade dos EPI’s nos setores pesquisados. Buscou - se como objetivo geral, analisar a adesão ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) pela equipe de enfermagem deste hospital. METODOLOGIA Foi desenvolvida uma pesquisa de caráter quantitativo através de um estudo descritivo e realizado uma pesquisa de campo. O método quantitativo é aquele que usa a análise estatística para o tratamento dos dados (FIGUEIREDO, 2004). Para inclusão na amostra que compôs o universo da pesquisa foram considerados todos os membros da equipe de enfermagem que realizam assistência direta a pacientes de um hospital na região do Vale do Aço e que aceitaram participar do estudo nos turnos vespertino e noturno, com o objetivo de abordar todas as letras que compõem a escala de funcionários, de acordo com a jornada de trabalho. A equipe é formada por 76 profissionais, sendo nove auxiliares, 59 técnicos e oito enfermeiros. Participaram da pesquisa 59 (77,6%) dos profissionais, os demais membros da equipe de enfermagem não participaram por motivos de ausência (férias e afastamento) e por não querer Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 103 contribuir com a pesquisa. Dos 59 participantes, são: sete auxiliares (11,9%), 48 técnicos (81,3%) e quatro enfermeiros (6,8%) - totalizando 100%. Para coleta de dados, utilizou-se questionário estruturado, subdividido em três partes: identificação do participante, dados referentes aos riscos ocupacionais, ao conhecimento da utilização de EPIs e dados referentes ao uso de EPIs, aplicado no mês de janeiro de 2008, no próprio ambiente de trabalho dos profissionais. Sendo as áreas de clínica médica, pronto atendimento, UTI, CME e bloco cirúrgico. A autorização prévia do Diretor do Departamento de Assistência Hospitalar da instituição pesquisada foi necessária. Os participantes foram abordados pelos pesquisadores nas instalações do hospital e responderam ao questionário após formalizarem sua autorização pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Aos participantes foi assegurado o sigilo a respeito de sua identificação O estudo contemplou a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde que regulariza pesquisas com seres humanos. Foi feita a análise dos dados obtidos, transformando-os em percentagens, às quais estão sendo apresentadas sob forma de tabelas. Os dados obtidos foram discutidos à luz da teoria levantada. RESULTADO E DISCUSSÃO Os resultados da pesquisa realizada com profissionais do hospital do município de Coronel Fabriciano - MG foram expressos em formas de tabelas e discutido com base na literatura. Quanto à categoria profissional, a maioria são técnicos de enfermagem sendo 81,3% dos entrevistados, conforme TAB. 1. TABELA 1 Categoria profissional dos entrevistados. Categoria profissional Freqüência Técnico de enfermagem 48 Auxiliar de enfermagem 7 Enfermeiros 4 Total 59 % 81,3 11,9 6,8 100% Informaram estar sujeitos à exposição a riscos biológicos, 94,9% dos entrevistados; a riscos físicos, 79,7%; a riscos ergonômicos, 69,5%, conforme TAB. 2. TABELA 2 Riscos a que os entrevistados estão sujeitos no exercício de sua atividade profissional. Riscos Freqüência % Riscos biológicos 56 94,9 Riscos físicos 47 79,7 Riscos ergonômicos 41 69,5 Riscos Químicos 29 49,2 Riscos ambientais 18 30,5 Obs.: Os participantes assinalaram mais de uma opção como resposta. Barboza e Soler (2004) confirmam que as condições de trabalho do ambiente hospitalar não são sempre adequadas e especificam os riscos Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 104 ocupacionais a que estão expostos os profissionais que ali atuam desencadeados por fatores biológicos, físicos, químicos, ergonômicos, ambientais. São os fatores biológicos: exposição a fluidos e secreções corpóreas, sangue e materiais contaminados, fluídos orgânicos. Os fatores relacionados aos riscos físicos: exposição à radiação, temperaturas elevadas, ruídos sonoros, manipulação de equipamentos como autoclaves, secadoras e termodesinfestadora. Fatores ergonômicos: sobrecargas de peso durante transporte de equipamentos, materiais e pacientes, postura inadequada e flexão de coluna como agravante para lesões durante organização de materiais. Relacionados aos fatores químicos: uso prolongado das luvas de procedimento, contato com detergentes e substâncias como aldeído, formol, vapores e gazes nocivos em grande quantidade. Finalizando, os fatores relacionados aos riscos ambientais: Escadas, pisos irregulares e escorregadios, e temperatura ambiente inadequada. (XELLEGATI; ROBAZZI, 2003; MOURA, 2006; MARZIALE; RODRIGUES, 1998). Na TAB. 3, quando perguntados se já tinham sofrido acidentes e se durante o acidente faziam o uso dos EPI´s, 86,4% dos entrevistados não sofreram acidentes. Dos 13,6% que tiveram acidentes no exercício de sua profissão, apenas 11,9% faziam uso de EPIs no momento do acidente. TABELA 3 Uso do EPI no momento do acidente por entrevistados que já sofreram acidentes de trabalho. Entrevistados que já sofreram acidentes Não Sim Total Freqüência % 51 8 86,4 13,6 59 100,0 Faziam uso do EPI no momento do acidente Não responderam Sim Não Freqüência 51 7 1 59 % 86,4 11,9 1,7 100,0 Xavier (2003) apud Barboza; Soler e Ciorlia (2004) relatam que é comum haver acidentes com instrumentos perfurocortantes em hospitais e suas causas é a imperícia, o desrespeito às normas de segurança, insuficiência de orientação, falha de supervisão ou de orientação, condições inadequadas e estressantes de trabalho e uso inadequado ou insuficiente dos equipamentos de proteção. Consiglieri e Hirata (2002) alertam para o fato de que muitos dos acidentes que ocorrem são devidos à falta de observação das normas de segurança. A TAB. 4 apresenta os procedimentos realizados durante a prática profissional de competência da equipe de enfermagem. Os procedimentos nos quais a equipe de enfermagem mais utiliza EPI´s são: limpeza e desinfecção de materiais, (83,1%), tratamento básico de feridas, (74,6%), sondagem, banho de leito e aspiração de vias aéreas (72,9%). Os riscos ocupacionais aos quais a equipe de enfermagem está sujeita relacionam-se, em maior número, ao cuidado direto com os pacientes (presença de sangue, secreções, fluidos corporais por incisões, sondagens e cateteres), ao elevado número de procedimentos e de intervenções terapêuticas que necessitam de uso de materiais perfurocortantes e de procedimentos invasivos relacionados à investigação diagnóstica de diversas patologias expondo os trabalhadores a infecções e a doenças não confirmadas. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 105 TABELA 4 Procedimentos durante os quais os entrevistados utilizam EPI. Procedimentos freqüência Limpeza e desinfecção do material 49 Tratamento básico das feridas 44 Sondagem 43 Banho de leito 43 Aspiração das vias aéreas 43 Arrumação do leito 39 Glicemia capilar 29 Administração medicamentos via endovenosa 29 Mudanças posturais 25 Administração medicamento via intramuscular 15 Preparo de medicamento em ampola 10 Aferição dos sinais vitais 5 Outros 16 % 83,1 74,6 72,9 72,9 72,9 66,1 49,2 49,2 42,4 25,4 16,9 8,5 27,1 Obs.: Alguns dos participantes assinalaram mais de uma resposta. Os riscos a que os profissionais estão sujeitos relacionam-se aos riscos dos próprios pacientes atendidos (NISHIDE; BENATTI, 2004). Nesse sentido, fato dos profissionais não utilizarem sempre os EPI’s contraria o artigo 166 da CLT que obriga os empregados ao uso desse tipo de equipamento, conforme Brasil (2004). As TABs 5, 6 e 7 apresentam dados referentes à frequência do uso dos EPI´s pela equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem). Solicitados a informar a freqüência do uso dos equipamentos de proteção individual aconselhados para os profissionais de enfermagem durante a prática profissional, a categoria profissional (enfermeiros) informou que usa sempre as luvas, máscara e gorro e nem sempre óculos e capote (TAB. 5). Tabela 5 Freqüência de uso dos EPIs pelos enfermeiros. TIPO DE EPI CATEGORIA PROFISSIONAL Enfermeiro (4) Sempre Nem sempre Não uso frequência % Frequência % Frequência % Máscara 4 100 Óculos 4 100 Luvas 4 100 Capote 4 100 Gorro 4 100 Na categoria Técnico de enfermagem, há uma adesão maior ao uso de luvas do que aos demais EPI`s, assim 74,6% dos profissionais responderam utilizá-las sempre e 6,8% nem sempre. Quanto à máscara ficou constatada uma equivalência de uso, 33,9% para ambos. Os demais EPIs, óculos, capote e gorro nem sempre são utilizados (TAB. 6). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 106 Tabela 6 Freqüência de uso dos EPIs pelos Técnicos de enfermagem. TIPO DE EPI CATEGORIA PROFISSIONAL Técnico de enfermagem (48) Sempre Nem sempre Não uso frequência % frequência % frequência % Máscara 20 33,9 20 33,9 8 13,6 Óculos Luvas Capote Gorro 13 44 18 11 22 74,6 30,5 18,6 28 4 23 23 47,5 6,8 39 39 7 11,9 7 14 11,9 23,8 A TAB. 7 está direcionada a categoria profissional dos auxiliares de enfermagem. Tabela 7 Freqüência de uso dos EPIs pelos Auxiliares de enfermagem. TIPO DE EPI CATEGORIA PROFISSIONAL Auxiliar de enfermagem (7) Sempre Nem sempre Não uso frequência % frequência % frequência % Máscara 2 3,4 5 8,5 Óculos Luvas Capote Gorro 2 6 2 1 3,4 10,2 3,4 1,7 5 1 4 3 8,5 1,7 6,8 5,1 1 3 1,7 3,1 Os EPI`s que têm o maior número de adesão na sua utilização com a freqüência de sempre utilizarem, são as luvas. Os EPI´s: máscara, óculos e capote nem sempre são utilizados pelos auxiliares de enfermagem. Já o gorro o número de profissionais que nem sempre utilizam é equivalente aos que não utilizam (TAB 7). Apesar da necessidade do uso dos EPI’s ser teoricamente aceita por todos, muitos profissionais de enfermagem não fazem uso dos mesmos porque pensam não correrem risco de contrair doenças ou porque não gostam de usar EPI`s, confirmando o relato de Souza (2002): os profissionais de enfermagem conhecem as medidas de segurança para prevenção de acidentes, mas nem sempre as aplicam, tornando um agravante que contribui para que acidentes de trabalhos ainda continuem acontecendo (BALSAMO; FELLI, 2006; GIR et al., 2004; MOURA, 2006). Os profissionais de saúde sabem promover cuidados adequados a seus pacientes, mas têm apenas uma preocupação geral com sua própria saúde. (OLIVEIRA E MUROFUSE, 2001). Quando questionados dos motivos pelos quais eles não utilizam os Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 107 EPI´s devidamente, os participantes confirmaram vários dos motivos citados por Gir et al. (2004) para não usarem EPI: falta de necessidade porque nunca sofreram acidentes e incômodo durante a utilização do equipamento. As outras respostas confirmam o relato de Moura (2006): os profissionais entrevistados não gostam de usar EPI, tanto que não fazem uso dos mesmos constantemente. Os motivos que tiveram maior índice estão apresentados na tabela oito: falta de disponibilidade dos EPI´s e desconforto/incômodo na utilização dos mesmos. TABELA 8 Motivos pelos quais os entrevistados não usam os EPI’s Motivos do não uso do EPI EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Máscara Acho desnecessário Óculos Luvas Capote Gorro Fq. % Fq. % Fq. % Fq. % Fq. % 2 4,4 2 4,4 1 2,2 3 6,6 4 8,8 1 2,2 6 13,2 6 13,2 5 11,0 Alergia ao material Desconforto/ incômodo 5 11,0 5 11,0 Descuido 3 6,6 6 13,2 Esquecimento 2 4,4 6 13,2 3 6,6 3 6,6 1 2,2 Falta de hábito/ disciplina 4 8,8 8 17,6 2 4,4 13 28,6 10 22,2 Falta disponibilidade do EPI 8 17,6 8 17,6 2 4,4 12 26,4 8 17,6 2 4,4 15 33,0 28 61,6 17 37,4 18 39,6 Uso de óculos de grau Não respondeu 23 50,6 Obs.: Alguns dos entrevistados assinalaram mais de uma resposta. Esses dados contrariam o que diz o artigo 166 da CLT, conforme Brasil (2004), pois o referido artigo obriga a empresa ao fornecimento gratuito do EPI necessário ao trabalho realizado. E confirmam o que obtiveram Marziale e Nishimura (2004) em pesquisa realizada em São Paulo em 2002: o material é fornecido nos hospitais em quantidade insuficiente. CONCLUSÃO Os Equipamentos de Proteção Individual tem uso regulamentado por legislação própria, sendo considerado tal uso obrigação do fabricante, do empregador e do empregado. Os profissionais da área de saúde prestam cuidados a pessoas possivelmente portadoras e transmissoras de doenças. Tem contato com materiais perfurocortantes, fluidos corporais e sangues, expondo-se a várias situações de riscos físicos, biológicos, químicos, ergonômicos, mecânicos, Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.1-N.1-Nov./Dez. 2008. 108 psicológicos e sociais, prejudicando a organização do trabalho, a qualidade da assistência prestada e repercutindo na saúde do trabalhador. A maior parte demonstrou saber que está exposta a riscos biológicos, físicos e ergonômicos no exercício de sua função. Os riscos químicos e ambientais não são de conhecimento da maioria dos entrevistados. A maioria respondeu utilizar os equipamentos de proteção individual e uma minoria, 13,6% já sofreu acidente de trabalho. Destes, apenas 1,7% não usavam EPI no momento do acidente. Contudo, apesar de todos relatarem que usam EPIs principalmente no tratamento básico de feridas, arrumação do leito, sondagem, banho de leito, limpeza e desinfecção do material e aspiração das vias aéreas, nem todos os usam de forma constante. As luvas são os equipamentos de proteção individual mais utilizados. Já o capote, o gorro, os óculos e a máscara não são tão aceitos pelos profissionais. Um motivo relevante e preocupante para a falta de uso dos EPI’s necessários ao trabalho de enfermagem é a falta de disponibilidade dos mesmos. Mas outros fatores também podem ser considerados agravantes, visto que mesmo quando há disponibilidade do equipamento de proteção, o mesmo não é utilizado por motivos pessoais, como: desconforto/incômodo, esquecimento, descuido, falta de hábito/disciplina sendo que estes fatores que contribuem para uma proteção inadequada. Verifica-se, portanto, que tanto empregadores quanto empregados descumprem a legislação vigente, colocando a saúde dos trabalhadores que cuidam da saúde dos pacientes em risco. Sugere-se a necessidade de maior conscientização dos profissionais de enfermagem a respeito da necessidade do uso dos Equipamentos de Proteção Individual, a fim de que a resistência a esse uso seja superada e os profissionais possam exercer suas funções tornando-os isentos de riscos à própria saúde. REFERÊNCIAS ALMEIDA-MURADIAN, Ligia Bicudo de. Equipamentos de proteção individual e coletiva. In: HIRATA, Mário Hiroyuki; MANCINI FILHO, Jorge. Manual de biossegurança. Barieri: Manole, 2002. 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