repórter regional reportagem e fotos Paula Ignacio NO CAMINHO DA ILUMINAÇÃO Considerado um dos maiores templos budistas da América Latina e localizado a apenas uma hora do Centro de São Paulo, o Templo Zu Lai remete a antigas construções chinesas e acolhe atualmente cinco Mestras Monjas além dos discípulos residentes. Eles receberam Revista Regional para esta reportagem especial o As imagens de Buda servem para nos lembrar dos ensinamentos que deixou, como praticar o pensamento correto, ação correta e palavra correta, por exemplo Templo Zu Lai é bastante conhecido por aqueles que praticam o budismo no Brasil, mas poucas pessoas fora da cidade de São Paulo já ouviram falar sobre o local ou têm acesso às atividades diárias ligadas a vida monástica. A construção é fruto de doações, em especial da comunidade chinesa no Brasil. Sua arquitetura se baseia nos antigos palácios da Dinastia Tang (séculos VI a VIII D.C), período de abertura chinesa a filosofia budista praticada anteriormente na Índia. Ao adentrar o Templo, somos presenteados com uma linda imagem escultórica de Buda, apenas uma das muitas que podemos encontrar ali. De acordo com o discípulo Aristides dos Santos Dias, as imagens ajudam a lembrar sobre o caminho da iluminação seguido por Buda. “Tudo aqui no Templo tem um sentido e significados muito profundos. O incenso que acendemos logo na entrada da Grande Sala de Cerimônias, por exemplo, nos lembra de como nossas vidas também queimam, e assim como o incenso oferta o seu melhor perfume enquanto acaba, nós também devemos ofertar o que temos de melhor ao mundo enquanto nossa vida passa” - diz. Há muitos preceitos seguidos e praticados por todos aqueles que acreditam no caminho da iluminação, que envolve principalmente atividades como a meditação, pensamentos bons, palavras corretas e ações corretas que não prejudiquem a si mesmo e aos outros. “Não adianta recitar os mantras, participar das cerimônias e meditar, aqui praticamos o Budismo Humanista, que também visa o lado prático de tudo o que aprendemos com essa filosofia, o que envolve atividades culturais, educativas e ações sociais” – revela Aristides. O Templo atualmente abriga cinco monjas chinesas, dentre elas a Abadessa 64 Revista Regional Escultura do Mestre Hsing Yün, idealizador do Templo e autor do livro Significados Profundos do Budismo e Mestra Miao Yen. Muito simpática, quase não entende o português, mas tivemos a ajuda da sorridente Jasmine Chen, responsável pela cozinha e colaboradora do livro “Sabor e Saúde – As melhores receitas vegetarianas do Templo Zu Lai” para uma conversa muito sincera e interessante. Residente do Templo desde o início da sua construção, a Mestra Miao Yen é bastante reservada e não gosta de falar muito sobre a própria trajetória, pois para ela, mais interessante é o desapego do ego e a divulgação dos preceitos do Budismo, e não sua história. A monja veio de Taiwan para o Brasil quando o Templo começou a ser construído, e colabora com suas atividades desde então. “Ela é considerada a nossa grande mãe, é a ela que sempre recorremos quando precisamos de palavras de sabedoria” - conta Aristides. Atividades A Mestra é responsável pelo projeto “Filhos de Buda”, local onde crianças carentes de um bairro próximo recebem todos os dias auxílios como reforço escolar, aulas e atividades artísticas, além de entrarem em contato com os principais preceitos budistas. “Todos os sábados as crianças vêm ao Templo, e aprendem um pouco mais sobre o respeito à natureza, preservação ambiental e práticas de paz e generosidade” - diz Miao Yen. “Essas crianças são muito carentes, e o bairro onde vivem é muito violento. De nada adiantaria dar apenas A construção típica chinesa enriquece o local Escultura do Arhat chamado Kanakavatsa, considerado bem humorado. Sempre sorridente, quando questionado sobre a felicidade, dizia que esta era fruto da boa utilização dos sentidos Estátua de Kalika, o adestrador de elefantes. No Budismo, o elefante é símbolo da força que suporta as mais duras tarefas e da capacidade de percorrer longas distâncias Rahula, o arhat em profunda contemplação Revista Regional 65 repórter regional O Budismo praticado no Templo é o Mahayana, cujas bases foram trazidas da Índia para a China durante o século II D.C bons sapatos e roupas para elas, é fundamental que recebam educação de qualidade e aprendam a ter consciência da consequência que seus atos têm na sociedade em que vivem. Os cinco preceitos do budismo as ajudam a compreender o valor das suas ações e a melhorar o ambiente em que vivem, tornando o bairro melhor. Quando elas aprendem que pensar, falar e praticar o bem melhora suas vidas, a prática da generosidade envolve a todos a sua volta, automaticamente” – conclui a Abadessa. Cuidando para que práticas como o desapego material sejam conscientizadas, as Mestras só saem do Templo para divulgar o Budismo que praticam. O Templo Zu Lai também recebe monges do sexo masculino, mas atualmente por coincidência são apenas mulheres. Os discípulos e voluntários residentes ficam em uma ala separada. “Aqui acordamos cedo para a cerimônia matinal que acontece todos os dias, e cuidamos para que tudo esteja sempre em ordem e limpo. Todos colaboram e temos bastante trabalho, além da nossa tarefa de divulgação e abertura ao público. Divulgamos o Budismo Mahayana, que é uma vertente do Budismo mais humanista, onde abrimos as portas do Monastério para divulgar práticas de paz e generosidade” – conta o discípulo. Existem outras vertentes de Monastérios que preferem manter as portas fechadas, onde os monges ficam restritos ao Templo e suas atividades. “O Templo Zu Lai faz parte do Monastério Fo Guang Shan (Montanha da Luz de Buda), cuja sede fica em Taiwan. Existem Templos desse Monastério nos cinco continentes, e aqui no Brasil o Zu Lai é o primeiro. Faz parte da filosofia Fo Guang Shan a abertura para a difusão do conhecimento budista, e é essa que seguimos aqui” – revela Aristides. Quem pode ser monge De acordo com a filosofia praticada no Templo, a pessoa que segue o Budismo e procura se aprofundar nas práticas do Mahayana e nos estudos em geral pode cursar a Universidade Budista. “No Templo, temos o curso para iniciados no Budismo, oferecido pelo Instituto Zu Lai. São três meses de muitos estudos, aulas de sânscrito, mandarim, meditação, Tai Chi Chuan, História e Filosofia Orientais. Sempre com abordagens teóricas e práticas, pois o estudante deve morar no local durante o período de estudos. Assim consegue perceber se sua verdadeira vocação está de fato voltada para o monastério. Mas confesso que é muito difícil encontrar pessoas com essa vocação. Para se tornar monge de fato, é preciso muita disciplina, abstinência sexual e afastamento do mundo material”. 66 Revista Regional O Incensário a porta do templo também foi trazido da China Detalhes das peças encontradas no Templo Grande parte das peças e materiais utilizados na construção foi trazida da China Arhat carregando saco. O título Arhat significa merecedor, honrado, digno. A diferença entre o Buda e os Arhats é que Buda alcançou a iluminação por si mesmo, enquanto estes o seguiram Abadessa e Monja residente, a Mestra Miao Yen foi muito simpática e atenciosa. Ela é considerada a grande mãe de todos os voluntários e discípulos no Templo Arte oriental na arquitetura e paisagismo Todas as peças e materiais que compõem a construção foram trazidos diretamente da China. De acordo com Aristides, na época em que o Templo Zu Lai foi construído não havia materiais como as telhas chinesas aqui no Brasil, e talvez ainda não seja possível encontrá-las. “A maior parte das esculturas e peças dos templos budistas não é feita por aqui. Para o projeto do Templo, tivemos a colaboração de arquitetos do mundo todo, incluindo China, Japão, Taiwan e Brasil. As esculturas encontradas nos jardins também foram importadas”. Criadas por artesãos e artistas chineses, lindas esculturas em pedra podem ser encontradas ao longo de toda a entrada principal do Templo, equilibradas com o paisagismo do lugar. São especialmente imagens de Arhats. O termo “Arhat” sugere aqueles que encontraram a iluminação não por si mesmos como Buda o fez, mas seguindo seus ensinamentos. As figuras são as mais variadas, e incluem histórias como o do Arhat Kalika, um adestrador de elefantes que se tornou monge, e do Arhat Angaja, que carrega consigo um saco e desprendese de todas as preocupações mundanas como fama, posse, perda, ruína ou qualquer outro agente externo. A Grande Sala de Cerimônias do Templo conta com uma imagem grande de Buda e outras 5 mil pequenas imagens desse, fixadas nas paredes e iluminadas por pequenas lâmpadas. Toda a construção recebeu um lindo acabamento e há ainda um pequeno lago rodeado por árvores e pedras onde é possível sentar e praticar meditação. “Tudo é aberto ao público, ficamos felizes em poder receber as pessoas e divulgar as práticas do Dharma” – diz o discípulo. Práticas de generosidade e paz que só visam trazer mais consciência e paz para as vidas das pessoas. “Os cinco preceitos incluem aspectos como abster-se de fazer mal aos outros seres vivos, não apropriar-se de algo que não foi livremente oferecido, abster-se de conduta sexual imprópria (a atividade sexual não é má, mas depende da intenção e das consequências que pode gerar), abster-se da falsidade e de obscurecer a mente com entorpecentes, o que intoxica tanto o corpo quanto a consciência. Essas práticas só nos beneficiam e podem ajudar a beneficiar os outros também” – conclui Aristides. MAIS: O Templo Zu Lai permanece aberto ao público de terças às sextas-feiras, das 12h às 17h. Aos sábados, domingos e feriados, das 09h30 às 17h. Estrada Fernando Nobre, 1461 - Cotia - SP - Telefone: (11) 4612-2895 Detalhes do paisagismo do Templo LINK: Para mais informações, acesse: www.templozulai.org.br Revista Regional 67