שׁ ְפ ָרה ה ִ פּוּ ָע Sifrá e Puá Êxodo 1:9 Disse ele [Faraó] ao seu povo: Eis que o povo de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. 15 Falou o rei do Egito às parteiras das hebreias, das quais uma se chamava Sifrá e a outra Puá, 16 dizendo: Quando ajudardes no parto as hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, matá­lo­eis; mas se for filha, viverá. 17 As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes ordenara, antes conservavam os meninos com vida. 18 Pelo que o rei do Egito mandou chamar as parteiras e as interrogou: Por que tendes feito isto e guardado os meninos com vida? 19 Responderam as parteiras a Faraó: É que as mulheres hebreias não são como as egípcias; pois são vigorosas, e já têm dado à luz antes que a parteira chegue a elas. 20 Portanto Deus fez bem às parteiras. E o povo se aumentou, e se fortaleceu muito. 21 Também aconteceu que, como as parteiras temeram a Deus, ele lhes estabeleceu as casas. 22 Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida. O Livro de Êxodo é uma grande narrativa de salvação . Deus salva seu povo da opressão e da escravidão egípcia. É bastante expressivo que os primeiros nomes citados nesse relato fundamental da obra de Deus na história sejam os de Sifrá e Puá 1, duas parteiras da classe social e econômica mais baixa daquela sociedade. As duas mulheres desacatam a ordem do rei egípcio e, com esse ato de rebeldia, desencadeiam uma série de acontecimentos históricos que, a seu tempo, colocados lado a lado com a história de Jesus, constituiriam o relato paradigmático da salvação para toda a história. A fidelidade e ousadia de Sifrá e Puá a Deus surpreendem e ao mesmo tempo causam constrangimento. O rei do Egito, também chamado de faraó, talvez o governante mais poderoso da época, não tem sequer seu nome mencionado. Mas o nome dessas duas desconhecidas mulheres hebreias2 é revelado e, justamente por isso, elas deixam de ser desconhecidas: Sifrá e Puá. São parteiras. Seu trabalho é trazer bebês ao mundo. Quando o faraó ordena que matem esses bebês, elas desobedecem sua ordem de modo simples e sem alarde — um gesto inesquecível. A salvação surge das condições em que nos encontramos, quando a vida é confrontada com a morte. Trabalhando diariamente em tempos e lugares nos quais a vida humana irrompe do ventre e entra para a história, Sifrá e Puá se recusam a obedecer a ordem de matar bebês. O desejo de promover vida versus a ordem de matar . ● A ordem para matar vem do caráter anônimo e impessoal do privilégio e do poder é uma decisão parida no ventre do pecado, do mal, da morte e do demônio; ● O desejo de promover vida vem de duas mulheres que vivem à margem da sociedade, porém são identificadas de modo extremamente pessoal: Sifrá e Puá, representantes dos oprimidos e impotentes e destacadas, sobretudo por serem tementes a Deus. No estilo bíblico de escrever a história e participar dela, líderes mundiais são apenas coadjuvantes. Os papéis decisivos são desempenhados por pessoas como Sifrá e Puá. Enquanto não entendermos e aceitarmos isso, esse posicionamento da ação, essa fundamentação no que é pessoal e comum, não poderemos participar integralmente da ação principal da salvação. 1. Um exemplo de Fidelidade. (v.15­17) 15 Falou o rei do Egito às parteiras das hebreias, das quais uma se chamava Sifrá e a outra Puá, 16 dizendo: Quando ajudardes no parto as hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, matá­lo­eis; mas se for filha, viverá. 17 As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes ordenara, antes conservavam os meninos com vida. temeram a Deus. Sifrá e Puá eram tementes a Deus (Ex 1:17). Temer a Deus, não significa ter medo dele, é antes de tudo respeitar Sua vontade. Anos mais tarde, Moisés receberia no Sinai esta vontade por escrito: Não matarás [Ex 20:13] . De alguma forma, porém, Sifrá e Puá conheciam esta palavra em seus corações. O profeta Jeremias diz: "Esta é a 1 Sifrá e Puá significam respectivamente “beleza” e “esplendor” A expressão “escravo hebreu” (21:2) tem um significado bem mais amplo que “escravo israelita” . A palavra provavelmente tinha uma conotação negativa e preconceituosa, semelhante ao termo atual “cigano”. 2 aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Senhor: "Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo..." Jeremias 31:33 . Apesar do contexto de Jeremias tratar de forma imediata da restauração pós­exílica, dentro da meta­narrativa bíblica da salvação é possível afirmar que sempre foi a intenção de Deus que a Lei [que representa a Vontade de Deus] produzisse mais resultados “de dentro pra fora” do que o contrário. não fizeram como o rei do Egito lhes ordenara. POLICARPO ­ MÁRTIR POR VOLTA DE 156 D.C. Policarpo foi discípulo de João. Viveu na cidade de Esmirna. Negou sistematicamente prestar adoração a César e por isto foi sentenciado a ser queimado vivo. Um de seus alunos ­ Justino ­ após a morte de Policarpo decidiu deixar Esmirna com sua família. Sua atitude pode ter parecido covarde, mas Justino deu seguimento ao ministério de Policarpo e, posteriormente teve a oportunidade de sofrer o martírio em Roma. 2. Um exemplo de Perseverança (v.18­19) 9 Disse ele [Faraó] ao seu povo: Eis que o povo de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. 18 Pelo que o rei do Egito mandou chamar as parteiras e as interrogou: Por que tendes feito isto e guardado os meninos com vida? 19 Responderam as parteiras a Faraó: É que as mulheres hebreias não são como as egípcias; pois são vigorosas, e já têm dado à luz antes que a parteira chegue a elas. Sifrá e Puá foram convocadas à presença do rei. Mas, por que apenas duas parteiras? Ou (1) estas eram as únicas parteiras entre os hebreus, ou (2) foram as únicas a desobedecer a ordem de Faraó, ou então (3) as únicas cujos nomes foram lembrados. A primeira alternativa, entretanto, indicaria que o número de israelitas não ia além de uns poucos milhares ­ o que contradiz Êxodo 1:9 "Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós" ; Êxodo 12.37 informa que 600 mil homens deixaram o Egito além das mulheres e crianças). Talvez a terceira sugestão seja a melhor. Mesmo quando o rei descobriu a desobediência das parteiras, elas não voltaram atrás . Não somos informados se as parteiras estavam mentindo ou se os rápidos partos dos bebês israelitas eram um fato biológico. E mesmo que tivessem mentido, não foi pela mentira que foram elogiadas, e sim por se terem recusado a tirar a vida aos recém­nascidos, respeitando assim, a vontade de Deus. 3. Um exemplo de recompensa. (v.20­21) 20 Portanto Deus fez bem às parteiras. E o povo se aumentou, e se fortaleceu muito. 21 Também aconteceu que, como as parteiras temeram a Deus, ele lhes estabeleceu as casas. 22 Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida. Deus fez bem às parteiras. O narrador bíblico diz que Deus protegeu Sifrá e Puá das mãos do rei. FÉ envolve risco! FÉ não é a ausência de medo, de insegurança, de preocupações. FÉ é a decisão de confiar em Deus, de obedecer a Deus e estar pronto para as conseqüências dessa decisão. Vejamos dois exemplos de FÉ: Daniel 3:17,18 “Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar­nos, e ele nos livrará das suas mãos , ó rei. Mas, se ele não nos livrar , saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer" Ester 4:16 "Vá reunir todos os judeus que estão em Susã, e jejuem em meu favor. Não comam nem bebam durante três dias e três noites. Eu e minhas criadas jejuaremos como vocês. Depois disso irei ao rei, ainda que seja contra a lei. Se eu tiver que morrer, morrerei ". como as parteiras temeram a Deus, ele lhes estabeleceu as casas. “Estabelecer casa” é um eufemismo para “ter filhos” . Mesmo vivendo em dias tão cruéis e perigosos, Sifrá e Pua receberam de Deus o privilégio de estabelecer família. Ter filhos , no contexto do Antigo Testamento, é um sinal de esperança ­ um indício que vale a pena investir num futuro, ainda que ele não pareça muito auspicioso aos nossos olhos humanos. Esta esperança escatológica nos faz olhar para as circunstâncias e ver que, além delas, está o Deus de Toda a Terra (Isaías 54:5).