Seleção de Fungos Micorrízicos Arbusculares para Estévia, Stevia Rebaudiana (bert.) Bertoni. Edilberto Princi Portugal(1), Giuliana C. Mercuri Quitério(2), Sylvio Luís Honório(3) CPQBA – UNICAMP, Divisão de Microbiologia, Caixa Postal: 6171, CEP:13081-970, Campinas, SP. E-mail: [email protected] Doutoranda em Geologia e Recursos Naturais. (3) FEAGRI - UNICAMP (1) (2) Resumo Stevia rebaudiana (Bert.) Bertoni é um arbusto que tem na produção de esteviosídeos seu principal valor econômico e social. A cultura da estévia pode ser favorecida se mudas forem obtidas em condições adequadas de ambientes protegidos, substratos favoráveis e pelo emprego de fungos micorrízicos arbusculares (MA). Micorrizas são associações simbióticas que se estabelecem entre as raízes das maiorias das espécies vegetais e fungos do solo. Como resultado, plantas micorrizadas são mais competitivas e tolerantes às condições ambientais adversas que plantas não colonizadas. O objetivo do presente experimento foi selecionar espécies de fungos MA eficientes para ao desenvolvimento e produção de esteviosídeos por Stevia rebaudiana. Para tanto, foi conduzido um experimento em casa de vegetação e testadas 7 espécies de fungos MA (Glomus intraradices, Glomus macrocarpum, Glomus etunicatum, Entrophospora sp., Acaulospora sp.), dois isolados de estévia, (CP13 e CPVG) e um tratamento de controle sem inoculação. Foram utilizados vasos (2L) com solo esterilizado, cada tratamento com 5 repetições e inteiramente casualizado. A colheita foi feita no início de florescimento, 63 dias após a semeadura. A parte aérea foi seca em estufa a 45oC, determinado o peso seco e a concentração de esteviosídeo; as raízes foram coradas para avaliação de colonização. A produção de massa seca de folhas foi significativamente superior para os tratamentos com G. intraradices (1,65g), G. etunicatum (1,60g) e Acaulospora sp (1,62g), enquanto que, numa escala intermediária, ficou Entrophospora sp (1,23g). Os menos eficientes foram CP13 (1,00g), CPVG (0,88g) e G. macromarpum (0,56g): o controle produziu apenas 0,41g. A quantidade acumulada de esteviosídeos foi significativa para G. intraradices, variando de 51% em relação ao Acaulospora sp.(IAC13) a 350% em relação ao controle. Com relação à EM para massa seca de total, folhas e acúmulo de esteviosídeos não se observou efeito negativo para os fungos estudados, destacando-se G. intraradices para todos os parâmetros. A colonização variou de 27% (G. macrocarpum) a 76% (Entrophospora sp e G. intraradices) e nenhuma colonização para o tratamento não inoculado. Os resultados demonstraram que o emprego de fungos micorrízicos pode aumentar significativamente a produção de biomassa e a concentração de esteviosídeos e que os fungos naturalmente estabelecidos na cultura podem não ser os mais eficientes para o desenvolvimento da cultura. Palavras chaves: Stevia rebaudiana, micorriza arbuscular, seleção. Introdução O estudo de plantas medicinais vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, principalmente nos aspectos relacionados à adaptabilidade e ao cultivo destas plantas em substituição ao extrativismo que ainda impera com inúmeras espécies vegetais. Entre as culturas estudadas neste sentido está a Stevia rebaudiana, um arbusto que tem na produção de esteviosídeos seu principal valor econômico e social. Este açúcar glicosídico é 300 vezes mais doce que o açúcar de cana-de-açúcar, sendo anticárie e não tóxico. Além desta aplicabilidade, a planta também é utilizada no Brasil em outras funções terapêuticas, como ação cardiotônica, diabética, diurética, hipoglicêmica, vasodilatadora, antimicrobiana, entre outras descritas na literatura. Culturas de estévia, que por natureza apresentam grande variabilidade genética, podem ser favorecidas se mudas forem obtidas em condições adequadas de ambientes protegidos, substratos favoráveis ao desenvolvimento da cultura e de fungos micorrízicos arbusculares (MA). Essas condições poderão refletir, no final, em aumento na produção de biomassa e de esteviosídeos. Micorrizas são associações simbióticas que se estabelecem entre as raízes das maiorias das espécies vegetais e fungos do solo. Estas associações caracterizam-se pela translocação de nutrientes em movimentos bidirecionais. De um lado, o fluxo de carboidratos para o fungo e de outro lado, os nutrientes inorgânicos para as plantas. Como resultado, plantas micorrizadas além de mais competitivas e tolerantes às condições ambientais adversas, podem apresentar maior produção de biomassa e, no caso de plantas medicinais, maiores teores nos princípios ativos. A Divisão de Microbiologia do CPQBA-UNICAMP desenvolve dentre as suas linhas de pesquisa, trabalhos que visam estudar a interação microrganismos e plantas medicinais, buscando melhor adaptabilidade da cultura no campo, desenvolvimento e produtividade em termos de biomassa e princípios ativos. Para que isto ocorra, são também realizadas pesquisas com o desenvolvimento de substratos adequados para a produção de mudas inoculadas com os microrganismos e cultivo em ambiente protegido com sistemas de hidroponia e aeroponia. O objetivo do presente experimento foi selecionar espécie de fungo MA que se mostrasse eficiente em associação com a estévia, propiciando maior aumento de biomassa e produção de esteviosídeos. Revisão Bibliográfica Stevia rebaudiana (Bert.) Bertoni, Ordem Capanular, pertence a família Compositae (Asteraceae) sendo conhecida desde épocas remotas pelos índios Guaranis por Kaá-hê-ê, que significa erva-doce. A estévia, como é conhecida no Brasil, é uma espécie herbácea, ereta, de raiz pivotante perene e parte aérea anual, alcançando até aproximadamente 90cm de altura. É uma espécie de dias curtos, suas folhas são pequenas, medindo 3 a 5cm de comprimento e 1 a 1,5cm de largura, simples, sésseis e com disposição oposta em vértices alternados. Possui flores com pétalas brancas reunidas em capítulos terminais ou axilares. Os frutos são do tipo aquênio, com cinco vértices quase uniformes, delgados e plumosos, de cerca de 2,5mm de comprimento (1). É uma espécie nativa do continente sul-americano, habitando pastagens arenosas e úmidas nas encostas da serra do Amambaí, nordeste do Paraguai, nos limites da fronteira com o Brasil. Pouco exigente em tipo de solo, preferindo aqueles levemente ácidos, argiloarenosos ou argilosos, úmidos e bem drenados (1). O interesse pela estévia está no fato de suas folhas possuírem diversos compostos glicosídeos, não calóricos (Esteviosídeos e Rebaudiosídeos), alguns com poder adoçante cerca de 300 vezes maior que a sacarose (Figura 1). Por serem estáveis em altas temperaturas e por não fermentarem, tais substâncias ocupam lugar de destaque como substitutos de edulcorantes sintéticos como a sacarina, ciclamatos e aspartame, sendo antidiabético, antiglicêmico e anticárie, com a vantagem de não serem tóxicos (1; 2). O esteviosídeo é produzido nas folhas e inflorescências, sendo que a maior concentração encontra-se na área foliar, com cerca de 6% em relação ao peso total do material seco (2). Além da estévia, estima-se que 95 % de todas as espécies de plantas caracterizadas em gênero formam micorriza. A condição micorrízica é uma regra, não uma exceção. O termo micorriza refere-se a uma associação simbiótica entre plantas e fungos que colonizam o tecido cortical das raízes durante o período de crescimento ativo da planta. Esta associação caracteriza-se pelo movimento de carbono produzido pela planta para o fungo e nutrientes adquiridos pelo fungo para a planta. A B Figura 1. Visualização da estrutura química da molécula de esteviosídeo (A) e de rebaudiosídeo A (B). Em solos pobres em nutrientes e deficientes em água, essas hifas incrementam a absorção dos mesmos possibilitando melhor desenvolvimento da cultura. Desse modo, plantas micorrizadas são mais competitivas e suportam melhor as condições ambientais adversas que plantas não micorrizadas. Isto pode ser observado em solos tropicais, mais precisamente, em pastagens no cerrado, onde a inoculação de Acaulospora scrobiculata promoveu o desenvolvimento da gramínea (Panicum maximum) e da leguminosa (Centrosema pubescens) estando elas consorciadas ou não (3). Plantas introduzidas em solos com uma população baixa de fungos micorrízicos ou contendo espécies ineficientes podem ter uma melhor possibilidade de desenvolvimento se inoculadas com fungos micorrízicos eficientes (4; 5; 6). Levantamento sobre a ocorrência de espécies de plantas tropicais brasileiras, naturalmente infectadas com micorriza arbuscular foi descrito por St. John (7). Todas as espécies foram coletadas no campo e eram nativas, economicamente importantes ou ornamentais. As coletas foram feitas na região da Amazônia Central, próximo a Manaus, outras em Belém (Pará) e também em várias partes da região cacaueira do sul da Bahia; em todas estas regiões a vegetação nativa típica é a floresta úmida de baixio. Entre as espécies descritas estão caju, manga, pau d’arco, oiti, mandioca, mamona, bambu, braquiária, capim limão, abricó, matamatá, cravo-da-índia, jambo, pimenta-do-reino, guaraná entre outras. Existem trabalhos conduzidos no Brasil demonstrando a ocorrência de fungos micorrízicos VA em regiões de reservas biológicas. Bonomi e Trufem (8), observaram a presença de fungos MA em uma região de cerrado, na Reserva biológica de Mogi-Guaçu, SP. Neste levantamento identificaram 24 espécies de fungos na rizosfera de 62 espécies de plantas, pertencentes a 32 famílias fanerogâmicas. Entre as espécies vegetais podemos citar Copaifera langsdorffii (copaíba), Stryphnodendron adstringens (barbatimão) e outras tantas variedades utilizadas para reflorestamento, paisagismo e fornecimento de madeira. As espécies de fungos mais freqüentes foram Gigaspora calospora, G. heterogama e G. nigra. Trufem (9) também realizou um trabalho no Parque Estadual da Ilha do Cardoso no estado de São Paulo coletando amostras da rizosfera de 535 plantas. As espécies fúngicas mais abundantes foram Glomus intraradices, Glomus macrocarpum, Scutellospora gilmorei, Acaulospora elegans e Acaulospora mellea. As espécies vegetais que apresentaram maior diversidade de espécies fúngicas foram Diodia radula, Cordia radula, Cordia verbenácea e Symphyopappus cuneatus. Em 1979, Ferraz (10) avaliou a ocorrência de fungos micorrízicos em algumas culturas da Amazônia, como o guaraná (Paulinia cupana H.B.K. var. sorbolis, pimenta-doreino (Piper nigrum L.), malva (Urena lobata L.) e juta (Corchorus capsulares L.). Observou-se a predominância de espécies fúngicas do gênero Acaulospora e a ocorrência de infecção radicular em todas as espécies descritas com ênfase para guaraná (89%) e malva (57%). Fungos micorrízicos arbusculares também estão sendo empregados para a aclimatação de plantas micropropagadas. Costa e Lovato (11), estudando a aclimatização de porta enxerto micropropagado de videira em substratos inoculados ou não com fungos micorrízicos arbusculares, concluíram que a presença dos fungos propiciou incrementos em altura e biomassa total das plantas. A presença e influência dos fungos MA em plantas medicinais foi avaliada por GUPTA et al.(12), em menta (Mentha arvensis) em condições de campo e por FREITAS et al. (13), em casa de vegetação. Esses autores observaram efeito significativo da presença do fungo nos teores do óleo e de mentol. A interação positiva entre a inoculação do fungo Glomus macrocarpum e o aumento de 39% no teor de artemisinina em relação ao controle não inoculado foram observados por QUITÉRIO e PORTUGAL (14), no estudo de seleção de fungos micorrízicos arbusculares para artemísia (Artemisia annua), apesar de não ter havido diferença significativa na produção de biomassa da parte aérea. Material e Métodos O experimento foi conduzido na casa de vegetação do CPQBA-UNICAMP e a espécie Stevia rebaudiana (Bert.) Bertoni estudada foi obtida por meio de sementes fornecidas pela empresa Steviafarma Industrial S.A. – Maringá – PR. Os fungos micorrízicos utilizados no ensaio foram fornecidos pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC): Acaulospora sp. (IAC13); Entrophospora sp. (IAC23); Glomus etunicatum (IAC42); Glomus intraradices (IAC43); Glomus macrocarpum (IAC50). Dois isolados de plantas de estévia mantidas no campo experimental do CPQBA: provável Acaulospora sp. (CP13) e provável Glomus sp.(CPVG). O solo, tipo Latossolo vermelho escuro com 65 a 70% de argila, coletado no campo experimental do CPQBA-UNICAMP, foi peneirado, seco e esterilizado em autoclave por 2h. A Tabela 1 mostra o resultado da análise química do solo. Após o preparo do solo, este foi acondicionado em vasos plásticos com capacidade de 2L. O delineamento experimental constou de 8 tratamentos, sendo os 7 fungos listados acima e um controle não inoculado, com 5 repetições por tratamento e inteiramente casualizado. O inóculo dos fungos MA (1.000 esporos/vaso) foi aplicado no centro do vaso a uma profundidade de 2cm, de maneira a formar um círculo de 5cm de diâmetro, aproximadamente. As sementes de estévia foram semeadas na superfície do vaso. Após 20 dias da semeadura foi feito o desbaste para 2 plantas e a colheita feita no início do florescimento, 63 dias após a semeadura. A parte aérea foi seca a 45oC em estufa elétrica, com circulação forçada de ar até peso constante e pesada. Em seguida, as folhas foram separadas dos ramos, pesadas, moídas e analisadas quanto ao teor de esteviosídeos por HPLC. Tabela 1. Análise química do solo utilizado no ensaio para seleção de fungos MA para estévia. Análise realizada pelo Instituto Agronômico de Campinas. Amostr Sigla Descrição Unidade a Amostra Sigla Descrição Unidade 37 CTC Cap. Tr. Cat. mmolc/dm3 76,9 4,9 V Sat. Bases % 45 Solo Solo mg/dm3 18 B Boro mg/dm3 0,33 K Mat. Orgânica Solução CaCl2 Fósforo resina Potássio mmolc/dm3 4,6 Cu Cobre mg/dm3 8,1 Ca Cálcio mmolc/dm3 18 Fe Ferro mg/dm3 23 Mg Magnésio Ac. Potencial Soma Bases mmolc/dm3 12 Mn Manganês mg/dm3 25,7 mmolc/dm3 42 Zn Zinco mg/dm3 1,6 mmolc/dm3 34,6 M.O. pH P H+Al S.B. g/dm3 Para determinação do teor de esteviosídeos na parte aérea das plantas de estévia foi empregado o procedimento descrito por KOLB et al. (15) com algumas adaptações, principalmente com relação à limpeza da amostra. Essa limpeza constituía em eluir-se uma alíquota de 3 mL da amostra em sistema de filtração Sep-Pak NH2 (500 mg, Waters) e filtrar novamente em uma unidade filtrante descartável (Millex HV 13mm de diâmetro). Utilizou-se um sistema cromatográfico LC-DAD Shimadzu constituído por bomba LC-10AT; detetor de arranjo de diodos SPD-M10A; interface SCL-10A; forno para coluna CTO-10ª, software para processamento dos dados Class-vp versão 6.13 e coluna Carbohydrate Analysis 300 x 3,9 5,0 μm (Waters) com pré-coluna. A temperatura do forno foi ajustada à 30oC, o eluente era água pH 4,0 com ácido acético e acetonitrila (22:78) e a vazão de 0,5mL.Min-1. O detetor com 190 a 370 nm e λleitura: 210nm. O solvente foi água:acetonitrila (1:1), curva analítica de 100 a 800µg.mL-1 com padrão de esteviosídeo, tempo de retenção de 13 minutos e os resultados expressos em % p/p. Foi utilizado um padrão secundário, fornecido pela empresa Steviafarma Industrial S.A., como sendo 100% esteviosídeo. Tanto a análise cromatográfica por HPLC quanto a espectrométrica por ressonância magnética nuclear (RMN) confirmaram a pureza e a autenticação do mesmo. Para se determinar a taxa de colonização micorrízica nas raízes da estévia, foi necessário o clareamento das raízes, seguido de um processo de coloração do tecido fúngico, conforme descrito por ABBOTT e ROBSON (16). Para a determinação da porcentagem de colonização micorrízica, a metodologia empregada foi a da Placa Quadriculada descrita por GIOVANETTI e MOSSE (17). O ensaio foi analisado estatisticamente com a utilização do programa Sistat 8.0 da Systat Software Inc e aplicou-se o teste Tukey para comparar os contrastes entre as médias dos tratamentos. Para efeito de análise estatística, os resultados percentuais obtidos de teores de esteviosídeos e de colonização micorrízica em raízes foram transformados em ARCO SENO x / 100 . A determinação da Eficiência Micorrízica (EM - expressa em porcentagem) foi calculada de acordo com a seguinte fórmula: EM = ( A B) / B*100 , onde: A – Parâmetro (Biomassa ou esteviosídeo) da planta micorrizada; B – Parâmetro (Biomassa ou esteviosídeo) da planta não micorrizada. Resultados Os resultados de todos os parâmetros avaliados estão demonstrados na Tabela 2 e para cada um deles foram feitos gráficos para melhor visualização. De acordo com os resultados, podemos observar produção significativa para matéria seca total e folhas (Tabela 2, Figura 2) com a inoculação dos fungos MA G. intraradices (IAC43), G. etunicatum (IAC42), Acaulospora sp. (IAC13) e Entrophospora sp. (IAC23). Tabela 2. Porcentagem de colonização de fungos MA e sua influência na produção de biomassa seca total e folhas, teor e quantidade acumulada de esteviosídeos em plantas de estévia. Biomassa total (g/planta) 2,80 a 2,64 a 2,61 a 2,14 ab 1,57 bc 1,34 bcd 0,81 cd 0,58 d Fungos IAC43 IAC42 IAC13 IAC23 CP13 CPVG IAC50 CTRL Biomassa folhas (g/planta) 1,65 a 1,60 a 1,62 a 1,28 ab 1,00 bc 0,88 bcd 0,56 cd 0,41 d Esteviosídeo (%)* Esteviosídeo (mg/planta) 4,39 a 2,39 d 2,95 c 2,73 c 2,17 d 2,40 d 3,00 c 3,92 b 72,205 a 38,258 bc 47,731 b 34,956 bcd 21,657 cde 21,024 de 16,811 e 16,046 e Colonização micorrízica (%)* 75,56 a 68,37 a 57,43 a 75,77 a 56,01 a 61,35 a 27,42 b 0,00 b Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Legenda: IAC13-Acaulospora sp; IAC23-Entrophospora sp; IAC42-Glomus etunicatum; IAC43-Glomus intraradices; IAC50-Glomus macrocarpum; CP13-provável Acaulospora sp; CPVG-provável Glomus sp; CTRL-Controle não inoculado * Para efeito de análise estatística os dados foram transformados em ARCO SENO x / 100 . 3,00 A A A 2,50 AB Massa seca (g) 2,00 A BC 1,50 BCD A A AB BC 1,00 BCD CD D CD D 0,50 0,00 CTRL Total Folhas IAC50 CPVG CP13 IAC23 IAC13 IAC42 IAC43 Tratamentos Figura 2. Efeito da inoculação de fungos MA na produção de biomassa de estévia. Os dois isolados de estévia, CP13 e CPVG, foram significativamente inferiores aos fungos citados acima, exceto para Entrophospora sp. e produziram 44 e 52% menos biomassa que o tratamento com G. intraradices, respectivamente. Dos fungos testados, G. macrocarpum foi o menos eficiente, 71% inferior ao tratamento com G. intraradices e estatisticamente igual ao controle, que produziu apenas 20% da biomassa produzida pelo melhor tratamento (IAC43). Os valores de eficiência micorrízica (EM) pelas diferentes espécies de fungos para biomassa total e folhas, encontram-se na Figura 3. Nenhum dos fungos testados mostrou efeito negativo. Destacam-se os fungos IAC43, IAC42 E IAC13 que aumentaram a produção de massa seca total em 381, 354 e 350%, respectivamente. Os isolados de estévia, CP13 e CPVG proporcionaram aumentos de 170 e 130%, na ordem e o IAC50 apenas de 38%. Essas observações se repetem para produção de massa seca de folhas, destacando-se novamente o G. intraradices (IAC43) com 302% de aumento. Quanto ao teor de esteviosídeos, os resultados mostram a eficiência do fungo G. intraradices (IAC43) em relação ao demais tratamentos de inoculação e ao controle (Tabela 2, Figura 4), sendo o único fungo a mostrar eficiência micorrízica (EM) positiva de 12% em relação ao controle (Figura 5). 400 Eficiência Micorrízica (%) 350 300 250 200 150 100 50 0 IAC50 CPVG EM-Biomassa Total EM-Folhas CP13 IAC23 IAC13 IAC42 Fungos Figura 3. Eficiência micorrízica (EM) em relação a biomassa total e folhas. IAC43 80 5,00 A 4,50 70 B A 4,00 3,50 C 50 C 3,00 C D 40 D B 2,50 D BC 2,00 BCD 30 Teor (%) Quantidade (mg/planta) 60 1,50 20 DE E CDE 1,00 E 10 0,50 0 0,00 CTRL IAC50 Quantidade (mg/planta) CPVG Teor (%) CP13 IAC23 IAC42 IAC13 IAC43 Tratamentos Figura 4. Quantidade acumulada e teor de esteviosídeos em plantas de estévia inoculadas ou não com fungos MA. IAC50 400 300 IAC43 CPVG 200 100 0 -100 IAC13 CP13 IAC42 EM-Quantidade acumulada IAC23 EM-Teor Figura 5. Eficiência micorrízica (EM) em relação ao teor e quantidade acumulada de esteviosídeos. Os valores de quantidade acumulada de esteviosídeos nas folhas de estévia estão demonstrados na Tabela 2 e Figura 4. Neste caso, fica evidente a ação significativamente benéfica da inoculação do fungo G. intraradices (IAC43), com um acúmulo 51% superior ao segundo melhor tratamento (Acaulospora sp – IAC13) e de 350% em relação ao controle. Com relação a EM para quantidade acumulada de esteviosídeos (Figura 5) não observou-se efeito negativo dos fungos MA estudados, destacando-se, além do IAC43 citado acima com 350%, também o IAC13 com 197% e o IAC42 com 138%. A taxa de colonização do sistema radicular de estévia pelos fungos MA (Tabela 2, Figura 6) esteve acima de 50% para a maioria dos fungos e foi estatisticamente semelhante, exceto para G. macrocarpum (IAC50) que apresentou uma taxa de 27% e que foi estatisticamente semelhante ao controle (0%). 80 A 70 A A 60 Colonização (% ) A A A 50 40 30 B 20 10 B 0 CTRL IAC50 CP13 IAC13 CPVG IAC42 IAC43 IAC23 Tratamentos Figura 6. Porcentagem de colonização de fungos MA em raízes de estévia. Trabalhos conduzidos com plantas medicinais ainda são poucos, se comparados às plantas de maior valor econômico. Entretanto, a maioria deles tem demonstrado a eficiência da inoculação de fungos MA no desenvolvimento da cultura e na concentração dos princípios ativos. A inoculação de Salvia officinalis, Artemísia dracunculus, Thymus vulgaris e Ocimum basilicum por Glomus mosseae permitiu maior produção de matéria seca da parte aérea e raiz quando comparada ao tratamento não inoculado, como observado por CAMPRUBI et al. (18). Resultados semelhantes foram observados por SAILO e BAGYARAJ (19) quando estudaram a influência de 11 diferentes espécies de fungos micorrízicos em Coleus forskohlii, com destaque para Glomus bagyarajii, seguido por Scutellospora calospora como os melhores em termos de produção de biomassa, absorção de fósforo e conteúdo do alcalóide forskolin. Castanospermina, alcalóide do tipo indolizidino, sintetizado pela Castanospermum australe e efetivo contra o vírus da AIDS, teve seu conteúdo aumentado nas folhas, bem como o conteúdo de P e o desenvolvimento da plantas, quando inoculadas com Glomus intraradices e Gigaspora margarita, como constatado por ABU-ZEYAD et al. (20). A concentração e a qualidade de óleo essencial também pode ser afetada pela presença de fungos MA. KAPOOR et al. (21) estudando Coriandrum sativum observou que a concentração de óleo foi 28% superior ao controle com a inoculação de Glomus macrocarpum e de 43% com a presença de Glomus fasciculatum. Observaram também alterações qualitativas no óleo, com aumento nas concentrações de geraniol e linalol nas plantas inoculadas com G. macrocarpum e G. fasciculatum, respectivamente. Os mesmos autores (22) estudando os mesmos fungos, citados acima, obtiveram resultados semelhantes para Anethum graveolens e Trachysoermum ammi onde a micorrização permitiu incremento na concentração de óleo essencial de 90% para A. graveolens e de 72% para T. ammi, sendo que o fungo micorrízico G. macrocarpum foi mais efetivo que G. fasciculatum. Também os níveis de alguns constituintes foram positivamente alterados dependendo do fungo presente. A inoculação de Schizonepeta tenuifolia com fungo MA promoveu significativamente o desenvolvimento da planta, acúmulo de P e S e aumento na síntese de óleo volátil nas mudas (23). Estudos sobre a influência de fungos MA na produção e qualidade de óleos essenciais de menta (Mentha arvensis) tanto em campo (12) como em casa de vegetação (13), demonstraram o efeito significativo da presença do fungo nos teores do óleo e de mentol. Estudos desenvolvidos no CPQBA-UNICAMP buscando a seleção de fungos micorrízicos arbusculares para artemísia (Artemisia annua) encontrou no fungo Glomus macrocarpum uma interação positiva com aumento de 39% no teor de artemisinina em relação ao controle, apesar de não ter havido diferença significativa na produção de biomassa da parte aérea (14). É interessante observar que os isolados de estévia (CP13 e CPVG), naturalmente estabelecidos nas raízes das plantas cultivadas no campo experimental do CPQBA, são hábeis em colonizar e desenvolverem-se no sistema radicular dessas plantas. Entretanto, a contrapartida em termos de biomassa e principalmente na concentração de esteviosídeos foi muito limitada. Os resultados demonstraram que o emprego de fungos micorrízicos pode aumentar significativamente a produção de biomassa e a concentração de esteviosídeos e que os fungos naturalmente estabelecidos na cultura podem não ser os mais eficientes para o desenvolvimento da cultura. Na Figura 7, tem-se uma visão geral das plantas inoculadas com os fungos micorrízicos arbusculares em relação ao controle. Na Figura 8, é possível visualizar detalhes da colonização micorrízica nas raízes de estévia. Figura 7. Visão geral dos tratamentos no momento da colheita. A B Figura 8. 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Endereço para correspondência CPQBA – UNICAMP Divisão de Microbiologia Caixa Postal: 6171 CEP:13081-970 Campinas, SP. E-mail: [email protected] Data de Recebimento: 04/07/2006 Data de Aprovação: 18/09/2006