ESTUDO EPIDEMIOLóGICO DOS CASOS DE DOENçAS

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ESTUDO
CÂNCER
EPIDEMIOLÓGICO
DE
PRÓSTATA
DOS
NA
CASOS
REGIÃO
DIAGNOSTICADOS
DO
SUBMÉDIO
DE
SÃO
FRANCISCO NO PERÍODO DE 2005 A 2009
Ana Carolina Cordeiro Penaforte; Helena dos Santos Silva Moura; Luciana Patricia Brito Lopes Gois; Denise
Ferreira Alcantara; Adauto Almeida Neto, MSc.
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Resumo : INTRODUÇÃO - O câncer de próstata no Brasil é a segunda neoplasia mais comum entre os
homens, representando cerca de 10% do total de cânceres diagnosticados. A investigação do antígeno específico
prostático (PSA), assim como o toque retal são os principais procedimentos utilizados na confirmação do
diagnóstico neoplásico. A hiperplasia prostática benigna (HPB) é o aumento não cancerígeno da próstata, cujo
desenvolvimento leva aos sintomas urinários obstrutivos ou irritativos. Estima-se que homens de idade mais
avançada tenham HPB sintomática. OBJETIVOS - Investigar os casos de câncer de próstata diagnosticados na
Região do Submédio São Francisco, no período de Janeiro de 2005 a Dezembro de 2009.MÉTODOS Desenvolveu-se um estudo descritivo-quantitativo, baseado nas informações obtidas através de dados
cadastrados no Laboratório HISTOTEC PATOLOGIA S/A, situado na cidade de Petrolina, PE. O público alvo
do estudo compõe homens, com idade acima de 30 anos, que se submeteram a procedimentos de diagnóstico
para identificação de lesões malignas e benignas da próstata (prostatectomia, ressecção trans-uretral e biópsia)
que deram entrada no laboratório, provenientes das cidades localizadas no submédio do Vale do São Francisco,
nos estados de Pernambuco e Bahia. Foram analisados os exames básicos, procedimentos de diagnóstico, a idade
e tipo de lesão. RESULTADOS - Foram examinados 2.095 laudos; dos pacientes diagnosticados com câncer,
12,78% apresentaram adenocarcinoma, enquanto 53,49%, (HPB). O diagnóstico realizado com toque retal é
mais eficiente na prevenção do câncer. (x2 deYates = 6,85; p=0,0089), ratificando a importância da prevenção. O
paciente que não realizou toque teve 21,8 vezes mais chances de desenvolver hiperplasia prostática benigna em
comparação aos indivíduos que fizeram toque (OR = 21,8; IC = 7,8495 – 60,6441; p<0,0001). CONCLUSÃO Os maiores índices de HPB e adenocarcinoma encontram-se entre os homens da terceira idade. Pacientes que
não realizaram o toque retal possuem maior probabilidade de desenvolver adenocarcinoma e outras doenças,
como a hiperplasia prostática benigna. Tais achados revelam a necessidade de serem trabalhadas as diretrizes,
prevenção e promoção de saúde na região do Submédio São Francisco.
Palavras-chave: Próstata, Adenocarcinoma; HPB; Epidemiologia.
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INTRODUÇÃO
Mundialmente câncer de próstata classifica-se como o sexto tipo de neoplasia maligna
mais prevalente entre homens, representando cerca de 10% do total de cânceres (JÚNIOR E
CESSE, 2005). No Brasil é o segundo tipo de câncer mais frequênteno sexo masculino, sendo
precedido pelo câncer de pele (não melanoma).
Conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA) a estimativa de novos casos de
câncer de próstata para o ano de 2010 foi de 52,350 para cada 100.000 homens. Na região
Nordeste, a taxa de incidência para o período de 2008 a 2009 constituiu-se de 37,97 por
100.000. No estado de Pernambuco, nos mesmos anos, de 54,01 para todas as regiões e em
sua capital, Recife, de 85,78 casos por 100.000 homens (INCA, 2010). Na Cidade de
Petrolina não há registros consolidados nos bancos de dados do INCA e DATASUS,
restringindo-se os dados de Pernambuco apenas à sua capital.
Desde o ano de 1990, a taxa de morte provocada pelo câncer de próstata demonstrou
níveis de queda de 1% ao ano. A redução específica por idade foi superior em homens com
menos de 75 anos, a detecção precoce e a melhora nos tratamentos foram fatores chave nesse
processo. Já os homens com mais de 75 anos, ainda correspondem a dois terços das mortes
por câncer de próstata constituindo-se a incidência de mortes por tal causa proporcional ao
avançar da idade (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005).
A incidência é subestimada, pois muitos tumores permanecem assintomáticos durante
toda a vida do individuo sendo diagnosticados em procedimentos de necropsia (GOLDMAN
E AUSIELLO, 2005). Estudos de necropsia revelam que 30% dos homens acima de 50 anos
que morrem por outras causas apresentam focos de adenocarcinoma na próstata (INCA,
2010;FONSECA et al., 2001). Esse número aumenta para 70% em homens acima de 80 anos
de idade (GONÇALVEZ, PADOVANI E POPIM, 2008).
Mais de 60% dos pacientes portadores de câncer de próstata são assintomáticos e o
diagnóstico só é estabelecido devido a um alto nível de Antígeno Prostático Específico (PSA)
nos testes de rastreamento.
Embora o toque retal apresente baixa sensibilidade e especificidade para diagnosticar
o câncer prostático, a biópsia de um nódulo ou uma área de consistência revela um câncer em
torno de 50% das vezes, sugerindo que a biopsia de próstata deve ser realizada em todos os
homens com nódulos palpáveis. Já os não palpáveis seriam descobertos pela utilização de
ultra-sonografia transuretal durante exame físico, ou mediante estudo de hiperplasia prostática
benigna (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005). O nível de PSA apresenta uma sensibilidade
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bem melhor, contudo uma baixa especificidade, uma vez as patologias benignas, como
Hipertrofia Prostática Benigna (HPB) e prostatite, causarem níveis falso-positivos do PSA
sérico (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005; SHIMIZU, 2004).
Os fatores de risco para o câncer de próstata incluem aumento de idade, histórico
familiar , raça afro-americana e fatores nutricionais. (GONÇALVEZ, PADOVANI E POPIM,
2008).
Além do adenocarcinoma prostático, outros transtornos também podem acometer à
glândula prostática. (MARÇAL E CORTINA, 2009). Constituem-se a infecção ou
inflamação, denominada prostatite e o tumor benigno representado pela HPB. Esta, por sua,
vez pode ser considerada a mais prevalente das doenças prostáticas, representando
aproximadamente de 50% das evidências histológicas (MARÇAL E CORTINA, 2009).
Estudar tal tema enfrenta como limitação a ausência literária de registros nacionais
mais amplos até o presente momento, embora estudos neste ramo científico venham
crescendo consideravelmente apoiados, principalmente, pelo Ministério da Saúde, após o
lançamento do Programa Nacional da Saúde do Homem, lançado no país em setembro de
2001 (BRASIL,2002).
O Câncer Prostático
O câncer é definido como um complexo e heterogêneo grupo de estados patológicos
cujas células proliferam-se descontroladamente, invadindo tecidos vizinhos (OLIVEIRA,
2004; SPENCE E PATRICK, 2003). Embora existam numerosos estudos que correlacionem a
incidência de determinados cânceres com o estilo de vida, os hábitos, dietas, profissões, lugar
geográfico, etc., sabe-se, entretanto, que nos ramos etiológicos não se pode considerar o
surgimento do câncer como ocasionado por uma única causa e sim analisar-se a associação de
fatores (GONÇALVEZ, PADOVANI E POPIM, 2008; JÚNIOR E CESSE, 2005).
O câncer de próstata ocorre quando as células da próstata sofrem mutações e começam
a se multiplicar sem controle, gerando atipias. Estas células podem se espalhar (metástase) a
partir da próstata em direção a outras partes do corpo, especialmente ossos e linfonodos. Esse
câncer pode causar dor, dificuldade ao urinar, disfunção erétil e outros sintomas
(HARRINSON et al., 2002).
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A Hiperplasia Prostática Benigna
A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) define-se por um aumento não cancerígeno
da próstata, que afeta exclusivamente a zona de transição prostática e acarreta aos indivíduos
sintomas associados às disfunções do trato urinário inferior (SCHULZ, BURCHARDT E
CRONAUER, 2003). Sua incidência é proporcional ao avanço da idade masculina, sendo
mais comum após a quinta década de vida (FONSECA et al., 2001). Embora não possua um
caráter maligno a HPB constitui-se uma doença que afeta negativamente a qualidade de vida
dos homens em função de sua sintomatologia, como obstrução infravesical, jato urinário
fraco, esforço miccional, jato urinário interrompido, entre outros (SIMPSON, 1997).
A prevenção do câncer de Próstata
O diagnóstico precoce de câncer de próstata umenta a sobrevida dos pacientes,
contudo, por falta de cuidados preventivos, o perfil de morbimortalidade por câncer de
próstata tem se elevado em todo o mundo (GOMES et al., 2008; MIRANDA et al., 2004).
Prevenção em saúde é conceituada como um termo ligado diretamente a uma ação
antecipada que se baseia no conhecimento da história natural, na tentativa de tornar
improvável o progresso posterior da doença (GOMES et al., 2008). As ações preventivas em
oncologia dividem-se em primárias e secundárias. Aquelas encontram- se relativas às doenças
cujas causas são conhecidas, tornando a prevenção voltada para ações orientadas, a fim de
evitar que o indivíduo adoeça. Já as secundárias envolvem uma abordagem terapêutica
adequada, a fim de prevenir possíveis incapacidades provocadas pelo avançar da patologia.
(GOMES et al., 2008).
O modelo de atenção prevalente atualmente é baseado no foco hospitalar, contudo, tal
assistência – curativa e individual – não tem resolvido os problemas de saúde da população.
Percebe-se, então, a importância de se fortalecer a temática prevenção e promoção de saúde
através da inserção de comportamentos preventivos empreendidos pelo próprio indivíduo a
fim de manter ou aumentar a própria saúde, considerando os aspectos sociais, psicológico,
ambientais e culturais peculiares a cada nível sócio-econômico através da adequação dos
programas de educação em saúde (CESTARI E ZAGO, 2005).
Em função do aumento significativo da importância das neoplasias no perfil de
mortalidade da população brasileira, o Ministério da Saúde propôs a criação da Política
Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que visa reduzir a incidência e a mortalidade
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por câncer no Brasil através de ações contínuas que levem à conscientização da população
quanto aos fatores de risco de câncer, além de promover detecção precoce de cânceres e
proporcionar acesso a tratamento igualitário e de qualidade à população em geral (BRASIL,
2002).
A fim de reforçar o Programa Nacional de Saúde do Homem foi lançado, ainda, o
Programa Nacional de Controle do Câncer de Próstata como cumprimento da lei 10.289 de
setembro de 2001(BRASIL, 2002). Sendo o câncer de próstata a quarta causa de morte por
neoplasia no Brasil, correspondendo a um total de 6% dos óbitos dentro deste grupo. Tal
programa baseia-se no pressuposto que a detecção precoce do câncer de próstata reduzirá os
altos custos decorrentes do tratamento contra o câncer no país incentivando ações de
promoção, prevenção e educação em saúde e a realização de exames de toque retal e PSA
(BRASIL 2002; GOMES et al., 2008)
Um consenso da maioria literária sobre este assunto é que o câncer de próstata
constitui-se uma patologia que pode ser detectada precocemente através de métodos
diagnósticos de triagem. O diagnóstico precoce em indivíduos sem sintomas, baseado no
dueto do exame do toque retal e PSA sérico anuais para homens a partir dos 50 anos,
garantem alta especificidade com baixo custo. As ações preventivas contribuem, ainda, para a
diminuição da morbimortalidade da doença cancerígena, sendo o prognóstico mais favorável
quanto mais precoce for o diagnóstico. E, ainda, maiores transtornos podem ser evitados
através do fortalecimento das Ações Preventivas de Saúde (MIRANDA et al., 2004).
O Tratamento do Câncer de Próstata
O tratamento do câncer de próstata, segundo o consenso formulado pelo Ministério da
Saúde Brasileiro, deve ser individualizado de acordo com as necessidades de cada paciente
levando em consideração fatores como idade, o estadiamento do tumor, grau histológico,
tamanho da próstata, expectativa de vida, equilíbrio psicosocial do paciente, entre outros. As
opções tradicionais para o tratamento contra o câncer de próstata constituem-se cirurgia radica
(prostatovesiculectomia radical retropúbica - PTR), radioterapia e tratamento hormonal
(BRASIL,2002).
A PTR, indicada em casos de câncer de próstata localizado, embora não apresente
evidência em 85% dos pacientes, pode trazer desvantagens como risco para incontinência
urinária, disfunção erétil, estenose de uretra ou colovesical e lesão de reto. Além de
complicações próprias de cirurgia de grande porte, sendo estas, relacionadas por estudos,
6
diretamente proporcionais à experiência do cirurgião, podendo ser transitórias, ou não
(NASSIF et al., 2009).
A radioterapia além de ser indicada para pacientes com contra-indicação cirúrgica, é
opção em tratamento da doença localizada. Subdividindo-se em externa e interna a depender
do prognóstico do paciente, suas complicações restringem-se à incontinência urinária,
disfunção erétil e estenose de uretra, ou colovesical (BRASIL,2002).
A enfermagem, dentro deste processo, deve buscar oferecer uma assistência holística
ao paciente tornando funcional a diretriz da integralidade inerente ao Sistema Único de Saúde
(SUS), buscando fortalecer o individuo portador de câncer e tornando-o mais confiante de si,
bem como de sua capacidade de recuperação durante o processo de tratamento
(GIOVANELLA et al., 2002).
O presente estudo teve como propósito principal investigar a incidência de casos de
câncer de próstata na Região do Submédio São Francisco, no período de Janeiro de 2005 a
Dezembro de 2009, evidenciando características como faixa etária, procedimento utilizado
para remoção da lesão e realização dos procedimentos básicos de triagem, que possibilitasse
de traçar características e, assim, obter subsídios para orientação da população que compõe
grupo de risco, propondo formas de diagnóstico precoce e de prevenção.
.
MATERIAS E MÉTODOS
Utilizou-se metodologia quantitativa, que considera o tamanho da pesquisa e sua
numeração associada à estatística descritiva.
Os dados coletados foram provenientes de laudos médicos junto ao Laboratório
HISTOTEC PATOLOGIA S/A, referência a Região do Submédio São Francisco entre os
anos de 2005 e 2009. Segundo o critério de inclusão, foram examinados 2.095 laudos
referentes à pacientes de 13 cidades do Submédio São Francisco, com diagnósticos, ou não,
de câncer de próstata atendidos no laboratório HISTOTEC, submetidos à prostatectomia
retropúbica, ressecção transuretral e biopsia trans-retal prostática.
Foi utilizado o software BioEstat 5.0, a fim de se analisar estatisticamente os dados
obtidos nos resultados. Foram executados os testes Tendência Qui-quadrado, para a relação da
realização do toque retal com o aumento da idade; Teste G, para estabelecimento da
correlação de procedimentos por faixa etária; Teste Qui-quadrado com correção de Yates,
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comparando proporções entre adenocarcinoma x toque retal e Teste Odds Ratio para
identificação do fator de risco.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da UPE – Nº 029/2011,
sob o registro CAAE: 0018.0.097.000-11.
RESULTADOS
Frequência da relação do toque retal x adenocarcinoma prostático e outras doenças
De um total de 2.095 pacientes observou-se que 72 foram submetidos ao toque retal e
339 ao PSA. Em relação aos que não realizaram procedimentos de triagem verificou-se que
2016 e 1746 não fizeram toque retal e PSA, respectivamente. Do total da amostra, 267
pacientes obtiveram laudos positivos para adenocarcinoma e 1117 para a hiperplasia nodular
fibro-adenomatosa ou HPB, como expresso na Tabela 1.
Tabela 1.Quantitativo de exames de triagem e diagnóstico histopatológico.
Faixa Etária
30-39
40-49
50-59
69-69
70-79
80-89
acima de 90
TOTAL
Toque Retal
Fez
0
0
11
23
27
10
1
72
Não fez
3
28
274
719
677
289
26
2016
PSA
Fez
0
5
54
119
116
41
4
339
Não fez
0
23
231
623
588
258
23
1746
Diagnóstico
Adenocarcinoma
0
1
30
86
97
50
3
267
HNFA
2
5
49
146
173
65
8
448
Do total de pacientes analisados que foram submetidos ao toque retal, apenas 17
tiveram diagnóstico positivo para adenocarcinoma e 55 outras doenças prostáticas. Os
pacientes que não realizaram toque, 250 desenvolveram adenocarcinoma prostático e 1765
outras doenças. Através do Teste Qui-Quadrado confirmou-se que quem não faz o toque está
propenso a desenvolver adenocarcinoma (x2 deYates = 6,85; p=0,0089) (Gráfico 1).
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Adenocarcinoma
Outras doenças
Gráfico 1. Frequência da realização do toque retal em relação ao desenvolvimento de
adenocarcinoma e outras doenças.
Distribuição do Câncer de Próstata segundo o ano do diagnóstico
Verificou-se maior concentração dos diagnósticos realizados ocorreu no ano de 2005,
abrangendo 28,39% dos pacientes, seguido do ano 2006 com 26,23% e de 2009 com 24%. Os
restantes foram diagnosticados em 2007 com 13,88% e 2008 com 6,7%.
Distribuição do Câncer de Próstata segundo a idade dos pacientes
Observou-se maior concentração de pacientes com câncer na faixa de 70 a 79 anos,
representando 36,3% da amostra e 32,2% de 60 a 69 anos de idade. Os demais somaram
18,8% com 80 a 89 anos, 11,27%, 50 a 59 anos, 1,1% acima de 90 anos e 0,4% de 40 a 49
anos de idade.
Os índices de adenocarcinoma e HPB são crescentes nos homens com faixa etária a
partir da terceira e década de vida, atingindo sua a maior incidência na sexta e sétima década
de vida para hiperplasia e adenocarcinoma respectivamente (Gráfico 2).
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Gráfico 2 . Frequência de HPB e adenocarcinoma segundo faixa etária
Comparando os dados referentes ao adenocarcinoma com outras doenças prostáticas, a HPB
se destaca entre os pacientes com diagnóstico positivo (Tabela 2).
Tabela 2.Comparação entre o adenocarcinoma e a HPB.
Adenocarcinoma
HPB
Pacientes
12,78%
53,49%
Diagnosticados
Outras patologias
33,90%
Distribuição do Câncer de Próstata segundo o diagnóstico
Esta investigação revelou que dos laudos examinados no quinquênio de 2005 a 2009,
12,78% dos pacientes apresentaram diagnóstico de adenocarcinoma prostático, 53,49%
detectaram HPB e 33,9% outras patologias, evidenciando uma grande quantidade de
indivíduos acometidos por hiperplasia.
Distribuição do Câncer de Próstata segundo o procedimento utilizado
Verificou-se que a maioria dos pacientes, 43,15%, foi submetida à biopsia transuretral,
28,87% à prostatectomia radical e 27,96% realizaram ressecção transuretral (RTU).
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Distribuição do Câncer de Próstata segundo a realização ou não dos exames preventivos
de diagnóstico
Verificou-se que apenas 3,4% dos pacientes haviam realizado toque retal enquanto
96% não realizaram. O exame dos laudos evidenciou, também, que 16,3% foram positivos e
83,4% negativos para a variável PSA (gráfico 3). Mediante o grande quantitativo de pacientes
que não haviam sido submetidos aos exames preventivos aplicou-se o teste Odds Ratio que
evidenciou que os pacientes que não realizaram o toque tiveram 21,8 vezes mais chances de
desenvolver hiperplasia prostática benigna em comparação aos indivíduos que fizeram toque
(OR = 21,8; IC = 7,8495 – 60,6441; p<0,0001).
Gráfico 3. Frequência da realização dos exames preventivos PSA e Toque retal
DISCUSSÃO
A incidência e a prevalência do câncer de próstata no estado de Pernambuco segundo
os dados do INCA associado à ausência de estudos sobre este tema na região do Submédio
São Francisco motivaram a busca do perfil epidemiológico dos homens acometidos pelo
câncer de próstata nesta localidade.
Entre os cinco anos analisados a incidência de casos de câncer de próstata na região do
Submédio São Francisco foi de 12,78%. Quinn e Babb (2002) relataram que na Inglaterra,
em 1997, foram detectados 19.300 casos de câncer de próstata, contabilizando 17% de todas
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as neoplasias malignas, tornando-o o segundo mais comum entre os homens daquele país.
Ainda o mesmo autor revela que na Inglaterra e no País de Gales, o adenocarcinoma ocorre
com mais freqüência entre os homens que vivem em áreas mais ricas quando comparados aos
de áreas mais carentes.
Moller (2001) em estudo realizado entre os anos de 1943 e 1996 observou que a
incidência do câncer de próstata até a idade de 50 anos mostrou-se baixa, aumentando para
cerca de 600 por 100 000 homens em torno dos 82 anos. Ainda o mesmo autor relata que a
taxa de incidência de adenocarcinoma prostático na Dinamarca nos períodos iniciais do
estudo (1945 a 1985) foi crescente, com taxas decrescentes da ocorrência de casos no último
período analisado para todas as faixas etárias.
Rujter et al. (1999) relatam no numero de homens diagnosticados com câncer de
próstata um aumento de 30%, nos ultimos 25 anos, e afirmam que tal ascendência deve-se a
associação dos fatores aumento da expectativa de vida e melhorias nas técnicas para detecção
precoce do câncer. Para Quinn e Babb (2002), o aumento da incidência de câncer de próstata
desde 1960 deve-se, também, à detecção precoce através do aumento da utilização do PSA em
meados da década de 90. Como conseqüência, houve a detecção precoce dos casos
assintomáticos, além da identificação histológica de tumores após autópsia e investigação
e/ou tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna (HPB), doença prostática bastante
prevalente. Dhanasekaran et al. (2001), embora concordem com tais autores ressalta que
níveis séricos de PSA podem estar presentes tanto em condições malignas como em não
malignas.
O perfil dos pacientes atendidos revelou uma maior concentração da faixa etária entre
70 e 79 anos, o que corrobora os dados literários que apontam o câncer de próstata com uma
incidência de 30% em homens com idade superior a 50 anos, elevando-se progressivamente
até 80% em torno dos oitenta anos como ressalta Gonçalvez, Padovani e Popim (2008).
Martins et al. (2000) obtiveram como resultados uma incidência do câncer prostático
crescente com a idade variando de 0.5% na faixa dos 50-59 anos à 25% em homens com 80
anos ou mais. Contrapondo os dados encontrados, ressalta-se que em estudos realizados nos
EUA, por Nelson, Marzo e Isacs (2003), referenciado por Papalattu (2004), foram publicadas
várias séries de autópsias demonstrando que até um terço dos homens com idades entre 30 e
40 anos confirmaram histologicamente adenocarcinoma prostático.
Embora o objetivo principal desta pesquisa tenha sido identificar a freqüência de casos
de adenocarcinoma prostático, um achado relevante foi o do número de laudos positivos para
12
outras doenças, entre elas a HPB que teve maior destaque por corresponder a 53,49% da
amostra.
Fonseca et al. (2001) relataram que o crescimento da próstata inicia-se na quarta
década de vida, sendo que de 51 a 60 anos a evidência histológica de HPB é de 50% e após os
80 anos esse número eleva-se para 90%.
No presente estudo, os números de pacientes acometidos de hiperplasia tiveram sua
máxima em torno da sexta década de vida com índices em queda a partir da oitava década de
vida.
Para Simpson (1997) a hiperplasia é uma condição pouco diagnosticada que afeta
significativamente a qualidade de vida dos homens, principalmente, em função de sua relação
à sintomatologia associada à infecção do trato urinário inferior.
Simpson et al. (1994), em estudo anterior sobre a freqüência de consultas médicas
entre uma população de homens acometidos de HPB revelaram que dos 364 pacientes, 89%
não haviam consultado seu médico sobre os sintomas urinários, sendo que a maioria dos
mesmos não associava tais sintomas a possíveis lesões prostáticas. Concluiu, portanto, que há
uma grande necessidade de educar a população masculina tanto sobre a HPB como ao
reconhecimento de queda do fluxo urinário como um sintoma da hiperplasia e não só do
envelhecimento.
De acordo com os procedimentos utilizados para diagnosticar o adenocarcinoma e
outras doenças percebeu-se que os procedimento invasivos constituíram-se maioria. Djavan
(2005) cita que tais procedimentos são meramente invasivos com altas taxas de morbidade
perioperatória e defende a HOLEP (Holmiun Laser Enucleação da Próstata), relatando que
este oferece menos riscos quando comparado à RTU ou prostatectomia radical.
Sabe-se que o toque retal é considerado um dos principais alvos da prevenção
secundária ao câncer de próstata, contudo, são escassos os estudos que abordam tal exame em
relação à sua eficiência (GOMES et al., 2008).
Varzim (2004) em pesquisa com amostragem de 60.000 pacientes identificou que,
quando associados os exames de rastreamento do câncer, toque retal e PSA, o dueto garantiu
83% de sensibilidade, 94% de especificidade, 47% de valor preditivo positivo e 73% de valor
preditivo negativo.
No presente estudo foi possível observar um grande quantitativo de homens que não
haviam sido submetidos ao toque retal. Gomes et al. (2008) descrevendo sobre Walsh e
Wortington e seu livro sobre doenças da próstata “Um guia para os homens e mulheres que os
amam”, abordam o toque retal como um teste diagnóstico subjetivo ao afirmar que muitos
13
homens quando tem o câncer detectado por esse procedimento já se encontram em um estado
avançado da doença, além de questionar a dependência do mesmo à qualidade do médico que
o realiza.
Já no âmbito da influência das questões culturais e a prevenção, Gomes et al (2008)
abordam a temática do toque problematizado pela masculinidade, uma vez que este cria
barreiras ou comprometimento do ser masculino.
Para Miranda et al. (2004), a frequência da realização desse procedimento não varia
conforme o grau de escolaridade e conhecimento. Fundamentado nos resultados de sua
pesquisa, realizada com professores do colegiado de medicina de uma universidade pública
brasileira onde, 20,7% da amostra, mesmo tendo acesso à informação, nunca havia realizado
exames preventivos contra o câncer de próstata.
Guerra, Gallo e Mendonça (2005) relatam que o quadro de risco atual do câncer no
Brasil revela a necessidade da realização de pesquisas sobre estes temas como bases para o
desenvolvimento de políticas de saúde adequadas que visem o controle do câncer no país.
É notório o conceito deque, quando se faz o diagnóstico precoce e a prevenção
propriamente dita, há chance maior de sucesso no combate ao câncer à médio e longo prazo.
CONCLUSÃO
Conforme já citado pela literatura os maiores índices de adenocarcinoma prostático e
HPB encontram-se entre os homens da terceira idade, contudo faz-se necessário ressaltar que
tais doenças tem seu início entre a terceira e quarta década de vida, o que ratifica a
necessidade da realização anual dos exames preventivos de triagem diagnóstica.
Os pacientes que não realizam toque retal possuem menor probabilidade de
diagnóstico precoce de doenças prostáticas.
Ao acessar os laudos médicos, observou-se que há uma carência de informações
precisas e relevantes acerca do diagnóstico confirmado. No caso do câncer de próstata,
faltaram informações sobre o uso do tabaco, ocupação anterior à aposentadoria, nível de
escolaridade e estado civil. Tais dados incompletos prejudicaram uma análise mais
abrangente.
Esses registros indicam que os pacientes, em sua maioria, procuraram o serviço de
saúde quando já havia presença de sintomas. Isso sinaliza para uma falta de orientação da
população masculina a respeito do câncer de próstata e da hiperplasia prostática benigna, em
relação a incidência, prevalência e idade, enquanto fatores de risco.
14
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Instituto
Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev. Câncer da
próstata: consenso - Rio de Janeiro: INCA, 2002.
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