Série Floricultura - N.1 Produção de Mudas de Plantas Ornamentais Belém - Pa 2004 GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE ESTADO DE PRODUÇÃO SECRETARIA EXECUTIVA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE DIRETORIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA Produção de Mudas de Plantas Ornamentais Belém - Pa 2004 c 2004 by SECTAM ALMIR JOSÉ DE OLIVEIRA GABRIEL Governo do Estado do Pará SIMÃO ROBINSON OLIVEIRA JATENE Secretaria Especial de Estado de Produção EMANUEL ARESTI SANTANA GONÇALVES MATOS Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente PROGRAMA PARAENSE DE TECNOLOGIAS APROPRIADAS PPTA Coordenação: Claudio Cavalcanti Ribeiro Equipe Técnica: Carlos Magno da Silva Cardosa Danyelle Conceição Monteiro de Lima Lourival Souza Silva Marcilene Matos da Silva Foto da Capa: Viveiro da Floricultura Yamanaka Editoração e Arte da Capa: Brena Renata Maciel Nazaré Vitor Trindade Lôbo Ilustrações: Orlando Simões Júnior Normalização Bibliográfica: Mara Georgete de C. Raiol Ana Margarida Vianna Rodrigues Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação. (Biblioteca da SECTAM, Belém, Pará) Pará. Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Programa Paraense de Tecnologias Produção de Mudas de Plantas Ornamentais / SECTAM. PPTA. --Belém, 2002 33p. : il. -- (Série Floricultura: n.1) 1. Plantas ornamentais - Produção. I. Programa Paraense de Tecnologias Apropriadas. II. Título. III. Série. CDD-635.9 Tv. Lomas Valentinas, 2717 - Marco. Belém - Pará - Brasil. CEP 66095-770 Telefones: (91) 276-5982, 276-5100 R-234. Fax: (91) 276-1909 E-mail:[email protected] Http://www.sectam.pa.gov.br/ Agradecimentos Agradecemos a Professora Heliana Maria Silva Brasil (FCAP), a SAGRI, a FUNVERDE e ao SEBRAE/PA pelo apoio dado ao Programa Paraense de Tecnologias Apropriadas - PPTA no desenvolvimento deste trabalho. Sumário Apresentação Prezado Produtor, A Secretaria Especial de Estado de Produção através da Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente SECTAM com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico CNPq, tem a satisfação de lançar esta publicação que tem por finalidade promover a redução da distancia existente entre o setor que produz e aquele que desenvolve o conhecimento científico e tecnológico e é um produto do Programa Paraense de Tecnologias Apropriadas, PPTA. O PPTA é um dos componentes de uma estratégia maior que o Governo Almir Gabriel vem implementando ao longo desses sete anos que é verticalizar cada vez mais a produção dentro do Estado, rompendo com o modelo extrativista que nos foi imposto ao longo de todos estes séculos, a partir de uma perspectiva de sustentabilidade. O Programa teve início em 10/2000, e atua em cinco setores produtivos selecionados a partir de critérios definidos pelo Governo do Estado e seus parceiros, tendo como ponta de lança os setores de Movelaria, Fruticultura, Oleiro-Cerâmico, Floricultura e Joalheiro, contando ainda com o apoio de um Setor de Informações e um Setor Social. Aproveitamos para agradecer, em primeiro lugar ao Governador Dr. Almir Gabriel por sua visão de desenvolvimento sustentável sem a qual jamais daríamos a partida para realização deste Programa, ao Dr. Simão Jatene por sua coordenação geral na área da Produção, ao Deputado Federal e Secretário Especial de Promoção Social Dr. Nilson Pinto de Oliveira, que iniciou, na sua gestão na SECTAM, e depois na Câmara Federal todo o processo para a realização do Programa junto ao CNPq, ao Ministro de Ciência e Tecnologia Dr Ronaldo Saidemberg e ao Dr. Evandro Mirra, ex - Presidente do CNPq, pela parceria e sensibilidade em relação as demandas por nós apresentadas e a todos os nossos parceiros no Estado e da Sociedade Civil, que nos ajudaram a chegar aos resultados que ora apresentamos através desta publicação. Prof. Emanuel Matos, Secretário Executivo de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente. 7 Introdução A produção comercial de mudas de plantas ornamentais tem características peculiares, entre as quais o fato de trabalhar com um número muito grande de espécies e variedades, que se sucedem no tempo em função de novos lançamentos e do modismo imposto pelo consumidor. Por isso, é de suma importância a manutenção de um campo de matrizes de qualidade e sempre atualizado. Outra característica importante é a mão-de-obra necessária à produção; são muitos empregos gerados, mas que encarecem o produto final, por isso, o produtor, também conhecido como viveirista, precisa buscar meios de diminuir outros custos, para poder colocar as mudas a preços competitivos no mercado. Atualmente, uma das dificuldades do setor é justamente a concorrência com os produtos vindos do Sudeste, cujos produtores, melhor organizados, utilizam meios modernos de comercialização e distribuição. Aliás, as formas de associativismo devem ser conhecidas e buscadas pelos produtores paraenses, assim como a atualização no conhecimento de técnicas de cultivo. Para o sucesso no empreendimento é preciso, portanto, estar atento ao que ocorre fora da propriedade, mas, evidentemente, o maior empenho deve ser pela qualidade do produto. Essa qualidade passa pela correta ocupação da área de cultivo, pela implantação da infra-estrutura, pelo correto emprego de insumos, pela capacitação da mão-de-obra, além de outros itens que serão abordados adiante. 9 Infra - estrutura As características do solo e o uso atual do terreno precisam ser considerados quando do planejamento da atividade. A parte mais plana e de solo bem drenado fica reservada para a sementeira, propagador e viveiros, enquanto a parte do terreno de solo mais pesado ou pedregoso pode abrigar o barracão, composteira e, se for o caso, até mesmo residências. A luz do sol, sem a qual o vegetal não se desenvolve, precisa chegar às mudas na quantidade certa para cada estágio de desenvolvimento, por isso, serão necessárias áreas cobertas e áreas livres. A trajetória do sol pelo terreno durante o dia condiciona a disposição das construções; a maior dimensão da sementeira e viveiros deve ser paralela a linha Norte-Sul. Não se pode esquecer que, qualquer que seja o material usado, há sempre a necessidade de manutenção e, algumas vezes, de substituição de partes ou reconstrução de uma benfeitoria. Embora a infra-estrutura seja dimensionada em função do que se deseja produzir é sempre interessante se prever uma futura expansão. Sementeira e propagador A propagação vegetativa, ou seja, a obtenção de mudas através de partes da planta que não as sementes, é a maneira usada para multiplicar a maioria das plantas ornamentais comercializadas para uso em jardins, mas algumas, como as palmeiras, por exemplo, são propagadas por sementes, portanto é interessante construir tanto a sementeira quanto o propagador. Aliás, a diferença entre um e outro está apenas na altura do leito, que pode ser de 15 a 20cm na sementeira e de no mínimo 25cm no propagador. 11 Tanto a sementeira quanto o propagador podem ser construídos ao nível do terreno, mas isso dificulta o manuseio das mudinhas e é incômodo para o trabalhador, por isso, é preferível construí-los de modo que o leito fique a uns 80cm de altura, para que o trabalho possa ser feito de pé; o custo da construção aumenta, mas ganha-se em eficiência. Ambos, propagador e sementeira, podem ser construídos em madeira de lei, resistente a água, ou em alvenaria, isolados ou dentro de um viveiro, desde que permita controlar a luminosidade. A sementeira, quando isolada, pode ser coberta com telha de barro ou mesmo palha de palmeira, desde que esse teto possua uma leve inclinação, ficando a parte mais baixa para o lado poente, protegendo assim as mudinhas do sol forte do início da tarde. Modernamente usa-se apenas uma bancada protegida por "sombrite", sobre a qual se distribuem bandejas plásticas ou de isopor, com células de tamanhos adequados a cada semente. Tanto o leito da sementeira quanto as bandejas são preenchidos com um substrato capaz de oferecer água em quantidade suficiente para a germinação, mas que deixe escoar o excesso. 12 Viveiros O viveiro, ou seja, o local onde as mudas, vindas do propagador ou sementeira, são colocadas para se desenvolverem embalagens individuais, pode ser a céu aberto ou em ambiente protegido. No primeiro caso, convém se fazer uma cobertura temporária, para que as mudas possam se adaptar gradativamente ao sol. Embora possa ser construído com ripas e caibros de madeira, os conhecidos ripados, o ideal é que seja feita uma armação em madeira de lei, tratada contra o excesso de umidade, ferro galvanizado ou vigas prémoldadas de concreto, para receber cobertura de telas plásticas de diferentes tamanhos de malha, uma deixando passar mais luz que outra, para facilitar a distribuição das mudas segundo suas necessidades. A cobertura pode receber, ainda, um filme plástico transparente sobre a tela, para que possa haver controle da água de irrigação. Nesse caso, a altura do teto precisa ser de no mínimo três metros, para permitir a ventilação que retira o excesso de calor. 13 Depósito de adubo orgânico Em um viveiro comercial é interessante que o produtor de mudas seja ele próprio o produtor do composto orgânico que usa nos substratos. A compostagem decomposição de restos de materiais de origem animal e vegetal em local aberto é o processo mais comumente empregado, já que pelo menos uma parte do material é gerado na própria área, como folhas e restos de capina. Mesmo que o composto orgânico ou esterco de animais sejam adquiridos, há necessidade de se destinar um local apropriado para a estocagem, que precisa ter piso de cimento ou barro batido (impermeável), cobertura de telha de barro e possuir cancelas e rampas para facilitar o transporte em carrode-mão. Barracão O barracão deve ser dividido de modo que haja espaço para guardar ferramentas, fertilizantes, defensivos, sacos de polietileno e demais equipamentos e utensílios, sem que um venha prejudicar a qualidade do outro. A sala onde ficarem as sacas de fertilizantes, sobre um estrado de madeira, jamais poderá abrigar as ferramentas, caso contrário, logo enferrujariam. A sala destinada aos defensivos, pulverizadores e outros produtos tóxicos precisa ser dotada de um combogô ou balancim, para que fique arejada, já que a porta deve ficar fechada, a fim de se evitar acidentes. 14 É interessante manter no barracão ou na residência um pequeno escritório, onde serão anotados todos os dados relativos à produção e à comercialização. Sistema de irrigação A distribuição da água deve satisfazer as necessidades das diversas espécies em todas as fases da produção sem que haja desperdício e, conseqüentemente, aumento de custo. Assim sendo, os métodos de irrigação dirigida como a microaspersão e o gotejamento têm sido muito utilizados, mas exigem uma quantidade maior de tubos e mangueiras, que elevam bastante o custo de implantação. A perfeita distribuição de aspersores entre as fileiras de mudas, a partir de rede suspensa ou ao nível do solo, permite uma irrigação eficiente. É cada vez mais difundido o uso da fertirrigação, ou seja, o uso de fertilizantes dissolvidos e distribuídos na própria água de irrigação. Seja qual for o método utilizado, a água precisa ser de boa qualidade, quer proveniente de rios ou córregos, ou ainda, o que é mais comum na região, de poços tubulares (artesianos). Em qualquer situação, a captação da água exige a instalação de bomba hidráulica, que a levará até uma caixa d'água. A distribuição da água pelo sistema de tubos exigirá outra bomba de menor potência. 15 A bomba que capta a água no poço pode ser elétrica ou a diesel, mas a de distribuição é elétrica, inclusive para permitir a abertura e fechamento automático do sistema. A fim de ajudar na eliminação do calor excessivo ou manter a umidade das estacas antes do enraizamento é conveniente se instalar nebulizadores em uma rede suspensa de tubos, que também seria ligada e desligada automaticamente, porém em intervalo de tempo diferente da irrigação, bastando para isso que cada sistema seja conectado a um determinado programador elétrico de tempo ("timer"). Campo de matrizes Campo de matrizes é o local onde são cultivadas as plantas que fornecem o material para a produção das mudas, sejam sementes, ramos, folhas etc. Dependendo das espécies ou variedades, esse campo tanto pode estar a céu aberto como sob telado e as matrizes podem ser plantadas diretamente no solo ou mantidas em vasos. Além de bastante diversificado, o campo de matrizes deve ter um número tal de uma determinada planta capaz de permitir a obtenção do número desejado de mudas num determinado tempo; por exemplo, não será de um único "pé" de mini-duranta que se obterá estacas suficientes para produzir mil mudas em um mês. As plantas matrizes devem receber todos os tratos necessários para que sejam vigorosas e livres de pragas e doenças. Ao se introduzir novas espécies é conveniente que as mudas adquiridas passem por um período de quarentena numa área isolada das demais, para o caso de estarem atacadas por pragas ou doenças, estas não se espalhem pelo campo. 16 Substratos Chama-se de substrato para a mistura de diversos materiais orgânicos (esterco, composto orgânico, húmus de minhoca, serragem, carvão vegetal, casca de arroz carbonizada, fibra de coco) e minerais (terra preta, areia, argila expandida), utilizada para produção de mudas ou envasamento. Além da fixação das raízes, o substrato tem a função de disponibilizar água e nutrientes para as plantas. De acordo com a quantidade com que cada componente entra na mistura, o substrato tornase mais adequado para determinada fase do processo ou para determinada exigência da muda. Assim é que o leito do propagador, onde as estacas ficam o tempo suficiente para enraizar, alimentando-se de suas próprias reservas, muitas vezes é preenchido apenas por um material areia grossa ou por casca de arroz carbonizada ou, ainda, argila expandida. Plantas epífitas, como algumas samambaias, orquídeas e bromélias são cultivadas permanentemente sobre um material orgânico, como o caroço de açaí, a piaçaba ou casca de árvores. Os sacos de polietileno (saco plástico), nos quais as mudas se desenvolverão, precisam receber um substrato que forneça nutrientes e reserve água, mas que seja leve, para facilitar o transporte. Muitas mudas já são produzidas e comercializadas em bandejas plásticas, que estão disponíveis no mercado com células de vários tamanhos, assim como já são comercializados substratos prontos para uso. Preferencialmente antes de se fazer a mistura, cada componente deve ser peneirado, para a retirada de todos os objetos indesejáveis (raízes, pedaços de madeira, sacolas plásticas, cacos de vidros etc.) e para permitir que a mistura fique mais homogênea. 17 É bom frisar que a matéria orgânica deve estar totalmente curtida, porém, de qualquer modo, é prudente que não se utilize o substrato imediatamente após o preparo. Convém que os substratos, principalmente os compostos por terra e esterco, sofram um processo de desinfecção, para se evitar a proliferação de pragas, doenças e ervas daninhas. Atualmente a solarização é muito usada e bastante apropriada para as regiões Norte e Nordeste do país. Propagação por sementes Considerando que a planta mãe faz parte do campo de matrizes, a propagação por sementes começa pela escolha dos frutos, que devem ser de boa aparência, bem conformados e totalmente maduros. A obtenção da semente depende do tipo de fruto. Se o fruto for seco, basta separar as sementes dos restos do fruto, mas se for carnoso, deixa-se o fruto macerar em água, para depois amassá-lo em uma peneira de palha menor que as sementes, a fim de facilitar a separação. O semeio pode ser feito imediatamente ou as sementes precisarão secar à sombra, para poderem ser armazenadas, em sacos de pipoca ou papel alumínio, na parte inferior da geladeira. 18 As sementes maiores possuem mais reservas nutritivas, favorecendo o desenvolvimento das mudinhas, portanto, as menores e chochas devem ser descartadas. Sementes de algumas espécies perdem rapidamente a capacidade de germinar, enquanto outras só germinam após um período de repouso. Sementes de casca muito dura, como a da cana-da-índia, germinam mais rapidamente se tiverem a casca arranhada ou se forem colocadas em água por umas 24 horas. Dependendo do tamanho da semente, pode-se fazer o semeio direto no saco plástico ou em tubetes, colocando-se três sementes por embalagem para posterior escolha da melhor mudinha e eliminação das demais. Optando-se pela sementeira, ou no caso de sementes muito pequenas, estas devem ser espalhadas sobre o substrato ou dispostas em sulcos rasos. As sementes devem ser enterradas no máximo a uma profundidade igual a duas vezes o seu maior diâmetro. O substrato deve ser mantido constantemente umedecido. Quando as mudas estiverem com 3 a 4cm de altura ou dois pares de folhas definitivas, faz-se a repicagem passagem da muda da sementeira para uma embalagem individual na qual permanecerá até a venda iniciando por molhar bem o substrato para que possa aderir às raízes. 19 Em seguida retiram-se as melhores mudas com o auxílio de uma espátula para separar as raízes sem danificá-las. Ao carregar as mudinhas estas devem ser seguras pelas folhas e nunca pelo caule ou raiz. Usa-se colocar as mudas em uma bandeja, com água caso saiam com a raiz nua, para transporta-las até os saquinhos, cujo substrato deve ter sido previamente molhado. Com um pedaço de madeira roliço faz-se um furo no substrato para conter a muda na mesma profundidade que estava na sementeira, procurando não enrolar as raízes. O substrato em torno das raízes precisa ser acalcado para fixar a muda, porém sem danificá-la. A irrigação deve ser na forma de chuva fina. Propagação vegetativa Consiste em se usar outra parte do vegetal que não a semente para multiplicá-lo, com base na capacidade que possui de se regenerar naturalmente, a partir de gemas distribuídas nos caules aéreos, subterrâneos e folhas suculentas. Modernamente, através do processo de propagação "in vitro", realizado em laboratórios de biotecnologia, obtémse de uma única gema, inúmeras mudas (plântulas), que, após um período de aclimatação, são vendidas aos viveiristas, os quais se incumbem de repicá-las das bandejas para embalagens individuais e de mantê-las até que atinjam o tamanho ideal para a comercialização. 20 Por outro lado, existem métodos como a alporquia e a mergulhia, que em função do número reduzido de mudas que fornecem são inviáveis de serem empregados num viveiro comercial, a não ser quando se trata de obter mudas para compor o campo de matrizes. Divisão de touceira Algumas espécies perfilham formando touceiras. Para multiplicálas basta separar os perfilhos, seja manualmente ou com o auxílio de um canivete afiado. Depois de separados, os perfilhos passam por uma "toilet" que consiste em reduzir as folhas e as raízes à 1/3 de seu tamanho, eliminando-se, também, qualquer raiz machucada. Em seguida, os perfilhos são plantados nos sacos plásticos e mantidos em ambiente sombreado e úmido. As bromélias terrestres, como o abacaxi-de-salão, produzem perfilhos tanto na base da planta quanto na base do fruto, além da própria coroa. Entre as plantas que entouceram algumas possuem bulbos como o lírio, a açucena e o junquilho que são órgãos de reserva de água e nutrientes. Nesse caso, o bulbo principal que pode ser semelhante ao da cebola, do alho ou da palma-de-santa rita produz inúmeros bulbilhos, que podem ser plantados com ou sem parte das folhas. 21 Outras plantas possuem tubérculo, órgão de reserva semelhante à batata inglesa , como o tinhorão e a dália, que também se multiplicam naturalmente, permitindo o mesmo procedimento usado com os bulbos. O tubérculo principal também pode ser dividido em pedaços menores, que obrigatoriamente abriguem gemas. Devido ao corte, esses pedaços terão que ser tratados com fungicidas e postos para secar à sombra durante um a dois dias, para então serem colocados no propagador, sobre um substrato que retenha pouca umidade. Outras plantas, como a grama pancuan e o clorófito, se espalham pelo chão ou pendem dos vasos, por possuírem caules compridos - os estolões - nos quais surgem perfilhos - os estolhos - bastando separá-los para obter novas mudas. Estaquia Esse método é o mais simples e o mais usado para obtenção de mudas de plantas de fácil enraizamento, entretanto, o uso de hormônios, para facilitar a brotação de raiz, tem propiciado a multiplicação até mesmo em espécies de difícil enraizamento natural. Estacas de caule As estacas de caule podem ser retiradas da parte terminal (estacas ponteiras ou herbáceas), mediana (semilenhosa) ou basal (lenhosa). Apenas o conhecimento da planta permite definir o tipo de estaca que lhe é mais adequado. O jasmim, por exemplo, enraíza mais facilmente se a estaca for ponteira, já o bougainvile, se for semilenhosa e os crotos enraízam bem independentemente da parte do ramo do qual foram retiradas. 22 As estacas simples podem variar de tamanho, porque o importante é que contenham no mínimo três nós ou gemas, mas preferencialmente quatro, para que dois fiquem enterrados, a fim de garantir o enraizamento, e pelo menos um livre, para a brotação do ramo. O uso de hormônio enraizador (AIB) possibilita o uso de estacas pequenas, de 3 a 5cm. O corte para a retirada das estacas é feito com tesoura amolada e limpa, em bisel nas duas extremidades. As folhas da parte que ficará enterrada são eliminadas e as demais são reduzidas à metade, exceto as apicais. As estacas permanecem imersas em água até serem levadas ao propagador. Se houver a necessidade do uso de hormônio, a extremidade inferior da estaca, molhada, é passada pelo pó antes de ser colocada no propagador. Estacas maiores e lenhosas podem ficar imersas em solução de hormônio, de acordo com o que prescreve o rótulo do produto. 23 Estacas de folhas Plantas suculentas ou de folhas carnosas (kalanchoe ou pirarucu, babosa) possuem gemas nas nervuras ou na bainha, bastando fixa-las no substrato do propagador pelo talo (pecíolo). As begônias rex podem ser recortadas em vários pedaços, desde que cada um possua uma nervura. Em qualquer caso, o substrato precisa ser bem leve, como a casca de arroz carbonizada, e irrigado na superfície, de modo que as folhas não fiquem molhadas, o que favoreceria o apodrecimento. Após o enraizamento e quando a muda atingir 4 a 5cm, destaca-se da folha matriz e se transfere para a embalagem individual. Estacas de rizoma Plantas que possuem rizoma caule subterrâneo relativamente grosso que cresce horizontalmente logo acima ou sob a terra , como a espada-de-são jorge e as helicônias, são facilmente multiplicadas por pedaços desse rizoma que contenham de uma a quatro gemas; as folhas ou brotações devem ser reduzidas e as raízes eliminadas. 24 Enxertia A enxertia é um processo que permite reproduzir uma planta frágil ou rara (o enxerto ou cavaleiro) sobre outra mais resistente e abundante (o porta-enxerto ou cavalo), da mesma espécie ou gênero botânico. Hoje em dia já se faz a micro-enxertia, quando ambas as plantas estão na fase de repicagem, entretanto, como é um processo que exige prática, ou o viveirista contrata um enxertador ou começa fazendo enxertos em caules mais resistentes, da grossura de um lápis para mais. A muda que servirá de porta-enxerto pode ser obtida através de sementes ou por estaquia e já deve estar na embalagem definitiva. Os ramos dos quais serão retiradas as ponteiras ou borbulhas virão do campo de matrizes envoltos em papel jornal umedecido. Se houver necessidade podem ficar guardados na prateleira mais baixa da geladeira dentro de saco plástico, para manter a umidade do papel e, conseqüentemente, dos ramos. Aliás, a enxertia, principalmente por borbulha, deve ser feita pela manhã, bem cedo ou no final da tarde, quando é mais fácil do vegetal "soltar a casca". Muito importante para o sucesso da enxertia é a limpeza e amolação da tesoura de poda e do canivete de enxertia, por isso, o enxertador precisa ter sempre à mão um esmeril, uma barra de sapólio, uma estopa ou flanela, álcool ou solução de água sanitária. Não pode faltar, também, a fita ou grampos plásticos (semelhantes a prendedores de roupa) apropriados para enxertia. É primordial em qualquer processo que haja a coincidência da casca do enxerto com a casca do porta-enxerto, para que seja possível a cicatrização entre ambos, sem a qual o enxerto não vinga. 25 Garfagem É um tipo de enxertia no qual um pedaço de ramo ponteiro é introduzido em uma fenda aberta no topo do cavalo ou mesmo lateralmente. O processo se faz na seguinte ordem: 1°) retiram-se as folhas do cavalo e se decepa o caule a uma altura de 10 a 15cm da base; 2°) eliminam-se as gemas e faz-se um corte vertical de 2 a 3cm de profundidade no cavalo; 3°) eliminam-se as folhas laterais da ponteira ficando apenas as terminais e na extremidade oposta fazem-se dois cortes inclinados de modo a se formar um bico de gaita, do mesmo comprimento da chanfradura feita no cavalo; 4°) introduz-se o enxerto no cavalo, fazendo coincidir, em cima ou lateralmente, a casca de um com a casca do outro; 5°) procede-se o amarrio, de baixo para cima, firmando bem, porém sem "engasgar" o caule. 26 Se a operação for feita no período mais quente e seco do ano, convém se fazer uma câmara úmida, que consiste em envolver a área do enxerto por um saco plástico transparente, dentro do qual se borrifou água limpa. Um viveiro dotado de nebulizador elimina a necessidade desse artifício. A câmara úmida poderá ser retirada logo que se perceber que o enxerto esta começando a se desenvolver, porém, a fita deve ficar por um pouco mais de tempo, para garantir que a soldadura não quebrará. Existem fitas que se soltam naturalmente após certo tempo. Borbulhia Nesse processo, em vez de uma parte do ramo com várias gemas, retira-se uma borbulha ou escudo, contendo uma única gema, da planta que se quer multiplicar. A vantagem é que se o enxerto não pegar, a operação pode ser repetida no mesmo cavalo logo após a constatação da perda do enxerto, posto que o cavalo não é decepado de imediato. O caule da muda que servirá de cavalo deve ter diâmetro superior a 0,5cm. A altura da enxertia no caule é variável, mas a princípio fica entre de 5 a 8cm da base para se evitar possível contaminação por respingos. As borbulhas devem ser retiradas de hastes já bem formadas (maduras), de preferência, que já tenham florido. A haste da qual se retirarão as borbulhas terão as folhas eliminadas, deixando-se, porém, um pedaço do pecíolo para proteger a gema; o corte deve ser feito da ponta para a base da haste, com uma lasca do lenho para dar mais firmeza à borbulha; as pontas da borbulha precisam ser aparadas em corte reto; as partes internas da borbulha e do corte no cavalo (onde está o câmbio) não podem ser tocadas, molhadas ou sujas. 27 O processo deve seguir o andamento abaixo: 1) poda-se o excesso de brotação do cavalo deixando um ou dois ramos eretos; 2) com o canivete faz-se o corte em forma de T, com o cuidado para não ferir o lenho; 3) levanta-se a casca na intercessão dos cortes do T, usando-se a espátula do canivete; 4) introduz-se a borbulha de cima para baixo, de modo que haja coincidência entre as cascas do cavalo e da borbulha no traço horizontal do T; 5) amarra-se firmemente de baixo para cima com fita plástica; 6) quando a gema ficar saliente já terá ocorrido a soldadura, devendo-se retirar a fita; 7) a borbulha permanecendo verde, faz-se a decapitação do cavalo logo acima do ponto do enxerto. O tempo para que haja a soldadura é variável, mas aos 20 dias após a enxertia, já se terá a certeza do pegamento. O corte no cavalo pode ter também a forma de U ou Ð e , ou pode-se mesmo tirar um anel da casca, mas nesse caso, a borbulha também terá que ser da mesma forma. 28 Manutenção das mudas Enquanto permanecer no viveiro, as mudas precisam receber tratos culturais que lhes garantam um crescimento vigoroso. Exceto para as bromélias e suculentas, a irrigação deve ser repetida sempre que necessário para manter a superfície do substrato umedecida. Para as duas primeiras, o tempo entre duas regas deve ser maior e a quantidade de água menor. Se foi feita a solarização do substrato, provavelmente não haverá necessidade de se fazer capina manual nas embalagens, mas deve-se estar sempre atento para que não exista concorrência entre a muda e o mato. Da mesma forma, se o substrato tiver sido preparado com composto orgânico, húmus de minhoca ou esterco, as mudas estarão suficientemente supridas de macro e micro-nutrientes, evidentemente, dependendo do tempo de permanência no viveiro. Alguns viveiristas usam acrescentar durante o preparo do substrato 30g de NPK 10-10-10 para cada carrinhode-mão da mistura (aproximadamente 20 L), para prevenir possíveis deficiências desses nutrientes. 29 Essa prática pode acarretar aumento de custo seja pelo uso desnecessário, seja pela perda natural do fertilizante antes que a muda possa aproveitá-lo, ou mesmo pela morte da muda em função da concentração dos fertilizantes nas raízes (salinização). No caso de palmeiras e outras plantas de crescimento lento ou que serão vendidas com maior tamanho e que, portanto, permanecerão por mais tempo no viveiro, a adubação complementar pode ser feita quando do processo de troca da embalagem, que já se tornou pequena, por outra maior, quando haverá necessidade de se preparar um novo substrato para preencher o espaço entre o torrão e a parede do novo saco , ao qual, se for o caso, poderá ser acrescido o fertilizante químico. Em qualquer situação é prudente consultar um técnico, que prescreverá os produtos e a forma de aplicação. Além da fertirrigação, já comentada, existem produtos formulados para aplicação por pulverização nas folhas. Indispensável é a assistência do técnico se houver a necessidade de combater pragas ou doenças. Os defensivos agrícolas são geralmente produtos tóxicos ao homem e aos animais domésticos e silvestres e, também, às próprias plantas se não forem convenientemente usados. A vistoria constante das mudas com a separação daquelas que apresentem qualquer evidência de ataque de insetos, manchas nas folhas, ramos secos e estejam murchas mesmo irrigadas, previne que o problema se alastre. 30 Exposição e venda Mesmo que o viveiro fique próximo do centro consumidor, é prudente se manter uma área para exposição independente da área de produção, para onde seriam levadas apenas amostras do que o viveiro é capaz de fornecer. Dessa forma se estaria evitando danos às mudas ainda em fase de crescimento e possível contaminação involuntariamente trazida pelos compradores. As mudas produzidas e comercializadas em bandejas são facilmente dispostas, em prateleiras, no caminhão baú, já as produzidas em embalagens individuais são normalmente acondicionadas em caixas de madeira, para evitar que tombem durante o transporte. Mesmo que a venda seja feita para o atacadista é importante que o viveirista tenha informações do seu produto até que ele chegue ao consumidor final, para que, não sofrendo perda de qualidade, a sua imagem não seja prejudicada no mercado, posto que a manutenção da qualidade, a pontualidade da entrega e a propaganda são fatores primordiais na concorrência entre fornecedores. 31 Bibliografia 1001 Plantas & Flores. Natureza. São Paulo: Europa, n.1, 2000. p.7-11. Edição Especial. COSTA, Carlos Augusto Cordeiro; BRASIL, Heliana Maria Silva. Faça o adubo para suas plantas. Belém: FCAP. Serviço de Documentação e Informação, 2000. KÄMPL, Ateline Normann. Produção comercial de plantas ornamentais. Guaíba: Agropecuária, 2000. 254 p. KÄMPL, Ateline Normann; FERMINO, Maria Helena. Substratos para plantas: a base da produção vegetal em recepientes. Porto Alegre: Gênesis, 2000. 312p. PIPPI, Enio da Motta. Técnicas de jardinagem: uma parceria com a natureza. Porta Alegre: Agropecuária, 1995. 188 p. STESCHENKO, Wolfgang Sérgio; MOREIRA, Nanci Saraiva. Jardinagem e paisagismo. São Paulo: SENAC, 1995. (Série Verde). 33