UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA – CARACTERIZAÇÃO E SIMULAÇÃO Área de Engenharia Elétrica da Universidade São Francisco, Campinas - SP por Leandro Augusto Simari Ferreira Geraldo Peres Caixeta, Doutor Orientador Campinas (SP), Junho de 2008 UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA – CARACTERIZAÇÃO E SIMULAÇÃO Área de Engenharia Elétrica da Universidade São Francisco, Campinas - SP por Leandro Augusto Simari Ferreira Relatório apresentado a Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Elétrica para análise e aprovação. Orientador: Geraldo Peres Caixeta, Doutor Campinas (SP), Junho de 2008 ii SUMÁRIO LISTA DE AREVIATURAS.......................................................……………........ v LISTA DE FIGURAS.......................................................................…………....... vi LISTA DE TABELAS.................................................................……………....... vii LISTA DE EQUAÇÕES ............................................................……………...... viii RESUMO.…................................................................................................…………...…. ix ABSTRACT.......................................................................……………..........................…. x 1. INTRODUÇÃO.........................................................……….............................. 1 1.1. Objetivos …....................................................................................................... 1 1.1.1. Objetivo Geral................................................................................................. 1 1.1.2. Objetivos Específicos...................................................................................... 2 1.2. Metodologia ……............................................................................................... 2 1.3. Estrutura do trabalho …………...................................................................... 2 2. ENERGIA ELÉTRICA.............................................……………....................... 3 2.1. O fornecimento de energia elétrica ……………………................................. 3 2.2. Qualidade de energia ........................................................................................ 4 2.3. O controle da qualidade de energia .................................................................7 2.3.1. Continuidade de fornecimento .................................................................... 8 3. PERFIL DOS DISTÚRBIOS ...............................................………................ 12 3.1. Causas dos distúrbios ………......................................................................... 12 3.1.1. Tipos de distúrbios .....………………………………................................. 13 3.2. Transitórios ....................................................................…............................. 15 3.2.1. Transitório impulsivo .................................................................................. 15 3.2.2. Transitório oscilatório ................................................................................. 18 3.3. Variações de longa duração na tensão ……………………………...……... 21 3.3.1. Sobretensão ……......................................................................................... 21 3.3.2. Subtensão ………………….......................................................................... 22 3.3.3. Interrupções sustentadas ............................................................................ 25 3.4. Variações de tensão de curta duração........................................................... 26 3.4.1. Interrupções de curta duração ................................................................... 27 3.4.2.Afundamentos de tensão ………………….................................................. 29 3.4.3. Elevação de tensão ……………................................................................... 30 3.5. Desequilíbrio de tensão …….......................................................................... 32 3.6. Distorção da forma de onda ........................................................................... 35 3.6.1. Nível CC ……………………………............................................................ 35 3.6.2. Harmônicos …………….............................................................................. 35 3.6.3. Interharmônicos .......................................................................................... 43 3.6.4. Notching ……………………....................................................................... 43 3.6.5. Ruídos …………........................................................................................... 44 3.7. Flutuação de tensão …………….................................................................... 44 iii 3.8. Variações na frequência do sistema .............................................................. 47 3.9. Resumo dos distúrbios ................................................................................... 47 4. SIMULAÇÃO ..……………………………...................................................... 49 4.1. Introdução ……………................................................................................... 49 4.2. Statcom ………................................................................................................ 50 4.3. Filtro ativo ………………............................................................................... 51 4.3.1. Filtro ativo paralelo ……………………..................................................... 52 4.3.2. Filtro ativo série …....................................................................................... 52 4.3.3. Filtro ativo série/paralelo ............................................................................ 53 4.4. Caso simulado ……………………………………………………...……….. 54 4.5. Conclusão …………………………………………………………...………. 57 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS …………............................................................ 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ….………............................................... 59 iv LISTA DE ABREVIATURAS QE ANEEL DNAEE STATCOM UPS HVDC Qualidade da energia Agencia Nacional de Energia Elétrica Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica Compensador estático Uninterruptible power supply High Voltage Direct v LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Fornecimento de energia ................................................................................................. 3 Figura 2.2 - Crescimento da potência instalada .................................................................................. 7 Figura 2.3 - Custo estimado em interrupções ..................................................................................... 7 Figura 3.1 - Corrente transitória impulsiva oriunda de uma descarga atmosférica .......................... 17 Figura 3.2 - Corrente proveniente de um banco de capaciotores ..................................................... 18 Figura 3.3 - Transitório oscilatório de baixa frequência causado pelo fenômeno da ferroressonância em um transformador a vazio ........................................................................................................... 19 Figura 3.4 - Circuito equivalente para o estudo das tensões transitórias de restabelecimento quando da eliminação de uma falta ............................................................................................................... 20 Figura 3.5 - Sobretensão decorrente da eliminação de uma falta .................................................... 20 Figura 3.6 - Perfil de tensão ao longo de um alimentador em função do fator de potência ............ 23 Figura 3.7 - Potência consumida por uma lâmpadfa de 100W para diferentes valores de tensão ... 24 Figura 3.8 -Elevação de corrente num motor de indução de 5CV em função da tensão de alimentação ....................................................................................................................................... 24 Figura 3.9 - Interrupção momentânea devido a um curto-circuito e subseqüente religamento ....... 27 Figura 3.10 - Seqüência de manobras efetuadas por dispositivos automáticos de proteção ........... 28 Figura 3.11 - Diagrama unifilar de um sistema de distribuição ....................................................... 29 Figura 3.12 - Afundamento de tensão causado por uma falta fase-terra ......................................... 30 Figura 3.13 - Elevação de tensão devido a uma falta fase-terra ...................................................... 31 Figura 3.14 - Resposta do motor a alimentação desequilibrada ...................................................... 33 Figura 3.15 - Retificados alimentado por tensões equilibradas e desequilibradas .......................... 34 Figura 3.16 - Tensão de alimentação de um conversor CA/CC ..................................................... 36 Figura 3.17 - Vida útil de um transformador em função da distorção harmônica de corrente ........ 40 Figura 3.18 - Perdas elétricas de um motor de indução trifásico em função da distorção total de tensão ................................................................................................................................................ 41 Figura 3.19 - Oscilação de tensão oriundas da operação de um laminador ..................................... 45 Figura 3.20 - Motor submetido a tensões oscilantes ........................................................................ 46 Figura 3.21 - Limites da percepção visual para flutuações de tensão associadas a ondas senoidais e quadradas .......................................................................................................................................... 46 Figura 4.1 - Circuito com filtro ativo STATCOM............................................................................ 50 Figura 4.2 - Configuração básica do STATCOM ............................................................................ 51 Figura 4.3 - Filtro ativo paralelo ...................................................................................................... 52 Figura 4.4 - Filtro ativo série ........................................................................................................... 53 Figura 4.5 - Filtro ativo série/paralelo ............................................................................................. 54 Figura 4.6 - Simulação com filtro ativo desligado .......................................................................... 55 Figura 4.7 - Simulação com filtro ativo entrando em ação ............................................................. 55 Figura 4.8 - Gráfico da simulação com filtro ativo desligado ........................................................ 56 Figura 4.9 - Gráfico da simulação com filtro ativo em ação .......................................................... 56 vi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Categoria de classificação dos Distúrbios........................................................................14 Tabela 2 - Classes e características típicas de fenômenos eletromagnéticos ................................... 15 vii LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 - Queda de tensão por fase ............................................................................................. 22 Equação 2 - Distorção harmônica total para tensão ........................................................................ 37 Equação 3 - Distorção harmônica total para corrente....................................................................... 37 Equação 4 - Distorção harmônica individual para tensão................................................................ 37 Equação 5 - Distorção harmônica individual para corrente............................................................. 37 Equação 6 - Nível de distorção de tensão ........................................................................................ 40 Equação 7 - Perdas Joulicas .................................... ....................................................................... 40 Equação 8 - Nível de tensão admissível ( a plena carga) ................................................................ 41 Equação 9 - Nível de tensão admissível ( a vazio) ........................................................................... 41 Equação 10 - Grau de imunidade aos harmônicos .( motores de indução ) ..................................... 42 Equação 10 - Grau de imunidade aos harmônicos ( máquinas síncronas )....................................... 43 viii RESUMO FERREIRA, Leandro A., Qualidade de energia elétrica – Caracterização e Simulação. Campinas, 2008. 59pgs., Universidade São Francisco,Campinas, 2008. O termo Qualidade de Energia se refere a Qualidade da tensão e corrente nas instalações elétricas, e representa hoje a mais importante prioridade da industria. É imprescindível que nos processos, em particular nas plantas industriais, a operação aconteça sem nenhuma interrupção visto que o alto nível de produtividade é um fator importante a ser alcançado. Entre os problemas de qualidade de energia, comumente encontrados nas operações industriais, estão incluídos transitórios (impulsivos, oscilatórios), variações de curta duração (interrupção, afundamento/sag, elevação/swell), variações de longa duração (interrupção permanente, subtensão, sobretensão), desequilíbrio de tensão, distorção da forma de onda (harmônicas, ruídos, cortes de comutação, eventuais níveis cc, interharmônicas), flutuação de tensão e variações de frequência da rede. Este trabalho apresenta uma análise de caso em ambiente industrial, onde se procurou traçar o perfil do comportamento das diversas cargas e conhecer a natureza de cada equipamento que integra o sistema elétrico industrial para, em seguida, observar-se a rede de alta tensão. Neste sentido, buscou-se implementar neste trabalho a classicação dos fenômenos de distorção, que podem ter origem na concessionária de energia elétrica ou nos equipamentos da industria, podendo haver também casos oriundos da interação de ambas. Através desta avaliação do sistema industrial pode ser elaborada uma estratégia para evitar gastos e melhorar a qualidade de energia. Palavras-chave: Qualidade de Energia, Interrupção de energia. Distorção harmônica, Transitório eletromagnético ix ABSTRACT FERREIRA, Leandro A., Quality of electric energy applied the industry. Campinas, 2008. 59pgs., San Francisco University, Campinas, 2008. The Power Quality term refers to the voltage and current quality in the electric facilities, and nowadays it represents the one of the main priority of industry. It is indispensable that in the processes, particularly in the industrial plants, the operation takes place without any interruption since the high level of productivity is the most important subject to be reached. In the Power Quality problems, commonly faced in the industrial operations, it can be included transients (impulsive, oscillatory), short duration variations (interruption, sag, swell), long duration variations (sustained interruptions, undervoltage, overvoltage ), voltage unbalances, waveform distortions (harmonics, noise, notching, DC offset, interharmonics), voltage uctuations and power frequency variations. This work presents a case study about an industrial environment analysis, in which it is tried to describe the electrical prole of several loads and to identify the nature of each equipment of the industrial electrical system and later on, to observe the behavior at high tension system. It is tried to implement in this work a classification of the distortion phenomena that can started on the power utility or on the industry equipment or on both. Through this assessment of the industrial system can be developed a strategy to avoid costs and improve quality of energy. . Keywords Quality of Energy, Interruption of energy. Harmonic distortion, Transitional electromagnetic x 1. INTRODUÇÃO Qualidade de Energia Elétrica designa uma área de estudos pertinente aos Sistemas de Energia Elétrica, que corresponde ao termo composto da língua inglesa "Power Quality ", e tem sido usada para agregar em um único tema uma série de conceitos utilizados em engenharia elétrica. Este tema vem sendo, em anos recentes, objeto de preocupação e de esforços coordenados de diagnósticos e de análise para que se atinja o maior entendimento possível sobre o mesmo. Protagonistas desta atitude têm sido, tanto concessionárias de energia elétrica, quanto grandes consumidores, bem como universidades, centros de pesquisa e fabricantes de equipamentos. Em face disso a matéria tem merecido ampla divulgação através de um número infindável de artigos, informes técnicos e comentários em publicações nacionais e internacionais. O estudo, a caracterização, a compreensão, em resumo, a abordagem de alguns dos fenômenos que afetam a Qualidade de Energia Elétrica, já vinham apresentando avanços significativos. Contudo, quase sempre foram tratados de forma independente e sem levar muito em conta as inevitáveis inter-relações entre os sistemas supridor e consumidor. Por outro lado, restaram ainda fenômenos que não foram analisados profundamente ou sob esta ótica unificadora. Quando ocorre um fenômeno que afeta a qualidade de energia elétrica, surgem inevitavelmente, até em seus aspectos mais primários, dificuldades, tais como: conceituação apropriada, nomenclatura adequada, definição de assuntos pertinentes, simbologia padronizada, regulamentação alicerçada, assim como os limites a serem observados para aferir a relevância de um problema de qualidade de energia nos diferentes cenários que possam vir a interessar. Em face do exposto, é natural e até imprescindível a priorização do tema, sobretudo em projetos de novas unidades industriais, bem como nos de modernização das já existentes. Não passíveis de serem alcançadas, quando fornecedor de energia, consumidor e fabricantes de equipamentos conscientizam-se da necessidade de entendimento mútuo para tal. 1.1. Objetivos 1.1.1. Objetivo Geral Este trabalho busca uma harmonia entre conservação de energia elétrica e qualidade de energia elétrica, procurando-se entender claramente a definição de Qualidade de Energia Elétrica, suas causas, problemas e soluções necessárias. 1 1.1.2. Objetivos Específicos Seguido de uma breve explanação do assunto, com o intuito de nivelar o embasamento teórico, a estrutura do documento procurar atender os seguintes objetivos: • Apresentar os conceitos e o perfil dos principais distúrbios da rede de energia e como surgem esses distúrbios. • Analisar em um estudo de simulacão no software EMTDC/PSCAD. Analizando o efeito que os disturbios causam a rede 1.2. Metodologia O estudo teórico de qualidade de energia aplicada a industria, foi possível através de: • Pesquisa bibliográfica: foi necessário o embasamento em literaturas sobre qualidade de energia. • Pesquisa webgráfica: boa parte de tudo o que foi estudado até o momento proveio de sites da Internet, trabalhos científicos publicados, monografias, artigos etc. • Por fim o estudo de caso baseado em simulações. 1.3. Estrutura do trabalho No capitulo 1 faz-se uma introdução ao trabalho, que desenvolve o estudo de qualidade de energia, e os itens que caracterizam os problemas na rede de energia elétrica. O capitulo 2, aborda o fornecimento de energia elétrica, o que é qualidade de energia elétrica e o controle da qualidade de energia elétrica. No capitulo 3, é apresentado o perfil dos distúrbios. No capitulo 4, tem-se um estudo de caso com o auxilio do software EMTDC/PSCAD, simulando problemas na rede de energia e analizando seus efeitos. Finalmente no capitulo 5, tem-se as conclusões e perspectivas futuras. 2 2. ENERGIA ELÉTRICA 2.1. O fornecimento de energia elétrica A energia elétrica é gerada instantaneamente e é transportada pela rede de linhas aéreas e/ou de cabos subterrâneos até alcançar seus centros consumidores. A Figura 2.1 esquematiza de uma forma simplificada todo este processo desde a sua fonte geradora (1), passando por uma subestação de elevação da tensão (2), pelo seu transporte por longas linhas de transmissão (3) até uma outra subestação (4), onde o nível de tensão é rebaixado. A subestação abaixadora então distribui a energia através de linhas do sistema de distribuição (5), encarregam-se de direcionar a energia elétrica até as residências, centros comerciais e industriais (6). No entanto, para manter o nível de tensão dentro de certos limites operacionais aceitáveis, tanto ao nível de transmissão como de distribuição, são necessárias medidas de controle e de acompanhamento tanto dos órgãos de fiscalização como das concessionárias fornecedoras de energia. Isto se deve ao fato de que, tanto os sistemas de distribuição como de transmissão estão constantemente sujeitos a ocasionais variações de tensão. Estas variações, mesmo dentro de limites pré-estabelecidos, podem causar operações incorretas de sensíveis equipamentos elétricos nos diversos setores [4]. Figura 2.1- O fornecimento da energia [4] Para avaliar o quanto um sistema está operando fora de suas condições normais, duas grandezas elétricas básicas podem ser empregadas. São elas: a tensão e a freqüência. A freqüência em um sistema interligado situa-se na faixa de 60 ± 0,5Hz. Por outro lado, em relação a tensão, três aspectos principais devem ser observados: • Forma de onda, a qual deve ser o mais próximo possível de senóide; 3 • Simetria do sistema elétrico e • Magnitudes das tensões dentro de limites aceitáveis. Entretanto, existem alguns fenômenos, aleatórios ou intrínsecos, que ocorrem no sistema elétrico fazendo com que os aspectos acima citados sofram alterações, deteriorando a qualidade do fornecimento de energia elétrica. Dentre os fenômenos podemos citar: afundamentos e/ou elevações de tensões, as interrupções, distorções harmônicas, flutuações de tensão, oscilações, ruídos, sobretensões, subtensões, etc. Para este contexto, cabe salientar que até bem pouco tempo atrás, a maioria dos consumidores industriais entendia que gerenciar a energia elétrica significava controlar a demanda, o fator de potência, e administrar os contratos junto a concessionária. Pouco se falava em supervisão de grandezas como tensões, correntes, potências e muito menos, em distorções harmônicas ou transientes. Por esta razão, as empresas que hoje pretendem apenas acompanhar a tensão e a corrente em tempo real logo manifestarão uma grande preocupação com o número de interrupções no fornecimento, e o tempo médio destas interrupções. Pouco tempo depois, estes mesmos usuários desejarão acompanhar a forma de onda da tensão entregue pela concessionária, de modo a analisar, por exemplo, transitórios, correntes harmônicas e afundamentos de tensão. No entanto, esta almejada análise depende da definição apropriada de indicadores que representem o desempenho dos serviços prestados pelas concessionárias envolvidas. No que segue, comentários básicos que dizem respeito a uma “boa qualidade da energia” e sobre os índices de continuidade associados ao assunto serão apresentados. 2.2. Qualidade de energia Como são de conhecimento, as interrupções, que podem ser provocadas tanto por fenômenos aleatórios como pela falta de manutenção preventiva dos sistemas elétricos, causam a diminuição da produtividade dos consumidores ocasionando a interrupção na operação dos equipamentos. Para o consumidor residencial, o que ele tem em mente como baixa qualidade da energia elétrica é realmente a falta de energia [5]. Desde que essa falta não seja muito demorada, não haverá grandes aborrecimentos ou mesmo perdas econômicas por parte do consumidor. Se faltar tensão em sua casa durante três minutos, em princípio, não tem problema nenhum. Se faltar durante três horas, passa a ser diferente. Para o consumidor industrial, no entanto, se faltar energia durante meio segundo, a fábrica pára e o processo industrial tem que ser reiniciado, o que causa grandes prejuízos financeiros.[3] Suponha que o processo seja a fabricação de tecido: a interrupção 4 momentânea de tensão pode partir os fios do tecido. Para reiniciar o processo, será preciso emendar todos os fios que se partiram, e isso leva um certo tempo, com perda de produção. Se fosse um processo de estamparia, por exemplo, o tecido seria refugado uma vez que a estampa ficaria fora dos padrões. Nos processos de laminação de aço, quando as máquinas param, os operários têm que "desentupir" o laminador, cortando os varões de aço com maçaricos, além de manipulá-los sob altas temperaturas, etc. Como dado ilustrativo, constata-se pelos registros dos eventos, que uma interrupção na energia elétrica ou uma queda de 30% na tensão fornecida por um curto período pode zerar os controladores programáveis acarretando em inúmeras situações não desejáveis ao sistema integrado. Em virtude destas interrupções operacionais, destaca-se então, uma das principais razões para os estudos relacionados a QE: o valor econômico. Sendo que há impactos econômicos consideráveis nas companhias, em seus consumidores/clientes e fornecedores de equipamentos. No ramo industrial, sente-se um impacto econômico direto já que, nos últimos tempos, houve uma grande revitalização das indústrias com a automação e a inclusão de modernos equipamentos. Tem-se então que, para se estabelecer padrões de qualidade adequados é necessário definir a real expectativa dos consumidores, isto é, identificar o quanto a sociedade está disposta a pagar pelos custos dos mesmos, pois a melhoria do nível de qualidade implica em aumento dos custos. Cabe, para o momento, definirmos o que seria então um problema de QE. Não existe uma convenção ou consenso sobre este conceito. Por causa da rápida evolução dos sistemas nos últimos anos, este conceito também vem sofrendo alterações periodicamente. O conceito de “Qualidade da Energia” está relacionado a um conjunto de alterações que podem ocorrer no sistema elétrico. Entre muitos apontamentos da literatura, podemos então apresentar o assunto como qualquer problema manifestado na tensão, corrente ou desvio de freqüência, que resulta em falha ou má operação de equipamento dos consumidores. Tais alterações podem ocorrer em várias partes do sistema de energia, seja nas instalações de consumidores ou no sistema supridor da concessionária. Como causas mais comuns pode-se citar: perda de linha de transmissão, saída de unidades geradoras, chaveamentos de bancos de capacitores, curto-circuito nos sistemas elétricos, operação de cargas com características não-lineares, etc. Quanto ao nível da QE requerido, este é que possibilita uma devida operação do equipamento em determinado meio para o qual foi projetado. Usualmente, há padrão muito bem definido de medidas para a tensão, de onde convencionalmente associa-se a QE a qualidade de tensão, já que o fornecedor de energia pode somente controlar a qualidade da tensão, mas não tem controle sobre a corrente que cargas particulares e ou específicas podem requerer. Portanto, o 5 padrão aceito com respeito a QE é direcionado a manter o fornecimento de tensão dentro de certos limites. No passado, os problemas causados pela má qualidade no fornecimento de energia não eram tão expressivos, visto que, os equipamentos existentes eram pouco sensíveis aos efeitos dos fenômenos ocorridos e não se tinham instalados, em grandes quantidades, dispositivos que causavam a perda da qualidade da energia. Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico, principalmente da eletrônica de potência, consumidores e concessionárias de energia elétrica têm-se preocupado muito com a qualidade da energia. Isto se justifica, principalmente, pelos seguintes motivos [4]: • Os equipamentos hoje utilizados são mais sensíveis as variações na qualidade da energia. Muitos deles possuem controles baseados em microprocessadores e dispositivos eletrônicos sensíveis a muitos tipos de distúrbios; • crescente interesse pela racionalização e conservação da energia elétrica, com vistas a otimizar a sua utilização, tem aumentado o uso de equipamentos que, em muitos casos, aumentam os níveis de distorções harmônicas e podem levar o sistema a condições de ressonância; • Maior conscientização dos consumidores em relação aos fenômenos ligados a qualidade da energia, visto que aqueles, estão se tornando mais informados a respeito de fenômenos como interrupções, subtensões, transitórios de chaveamentos, etc., passando a exigir que as concessionárias melhorem a qualidade da energia fornecida; • Integração dos processos, significando que a falha de qualquer componente tem conseqüências muito mais importantes para o sistema elétrico; • As conseqüências da qualidade da energia sobre a vida útil dos componentes elétricos. A título de esclarecimento, a Figura 2.2 ilustra a capacidade de potência instalada e a previsão de crescimento na capacidade instalada no Brasil, até o ano 2009. 6 Figura 2.2 - Crescimento da potência instalada [7] Para exemplificar os impactos econômicos da qualidade da energia, a Figura 2.3 [8] mostra os custos associados a interrupções elétricas de até 1 minuto para diferentes setores econômicos. Figura 2.3 - Custo estimado - Interrupção de até 1 min Dentro do exposto, fica evidente a importância de uma análise e diagnóstico da qualidade da energia elétrica, no intuito de determinar as causas e as conseqüências dos distúrbios no sistema, além de apresentar medidas técnicas e economicamente viáveis para solucionar o problema. 2.3. O controle da qualidade de energia elétrica A qualidade do setor elétrico de distribuição em específico é a performance das concessionárias no fornecimento de energia elétrica; seus parâmetros são: a conformidade, o atendimento ao consumidor e a continuidade. Esses parâmetros são pontos básicos para a definição dos diversos critérios de localização e arranjo das subestações, de critérios de escolha dos materiais e equipamentos de controle e proteção, regulação, e configuração da rede de distribuição. 7 A conformidade está relacionada com os fenômenos associados a forma de onda de tensão, tais como: flutuações de tensão, distorções harmônicas e variações momentâneas de tensão. O atendimento abrange a relação comercial existente entre as concessionárias e o consumidor, considera a cortesia, o tempo de atendimento, as solicitações de serviços, o grau de presteza e o respeito aos direitos do consumidor. A continuidade corresponde ao grau de disponibilidade de energia elétrica ao consumidor. O ideal é que não haja interrupção no fornecimento de energia elétrica, ou, se houver, que seja a mínima possível e informada ao consumidor em tempo hábil, a fim de prevenir possíveis prejuízos decorrentes da falta de energia. Dentre os parâmetros de qualidade podemos considerar a continuidade o de maior relevância, porque afeta o cotidiano das pessoas e causa grandes transtornos por comprometer serviços essenciais. [7] 2.3.1. Continuidade de fornecimento O controle da qualidade depende da definição apropriada de indicadores que representem o desempenho dos serviços prestados pelas concessionárias de energia. No que se refere a continuidade, os indicadores utilizados permitem o controle e monitoração do fornecimento de energia elétrica, a comparação de valores constatados ao longo de períodos determinados e, a partir de metas de qualidade definidas, a verificação do resultados atingidos . Os indicadores, além de refletirem os níveis de qualidade, possibilitam a imposição de limites aceitáveis de interrupção de fornecimento. Esses índices são ainda utilizados pelas concessionárias de energia elétrica como valores de referência para os processos de decisão nas etapas de planejamento, projeto, construção, operação e manutenção do sistema elétrico de distribuição. Em um contexto nacional, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) tem o papel de promover a qualidade da energia, regulamentar os padrões e garantir o atendimento aos mesmos, estimular melhorias, zelar direta e indiretamente pela observância da legislação, punir quando necessário, e também definir os indicadores para acompanhamento do desempenho das concessionárias. Cabe também ao órgão regulador estabelecer metas de melhoria de continuidade mediante contratos e/ou negociação com as concessionárias. A Portaria 046/78, do antigo DNAEE (Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica), estabeleceu os primeiros dispositivos do controle da continuidade, os quais, com a evolução do setor tornaram-se insuficientes. A implantação do novo modelo do setor elétrico configurou um 8 monopólio natural regulado no segmento de distribuição, reforçando ainda mais a necessidade de apuração dos controles sobre a qualidade. A regulação pelo preço em vigor incentiva a assimetria de informação, pois as concessionárias não têm estímulos para fornecer dados relativos aos seus custos. Como o nível de qualidade implica em custos, a tendência das concessionárias é manter esse nível no menor patamar possível, de modo a maximizar seus ganhos, correspondentes a margem entre o preço do serviço e o custo. Esses fatos, aliados a evolução dos recursos tecnológicos, tornaram imperativa a revisão desta portaria. Com a finalidade de atingir este objetivo foi editada a Resolução no 024/2000 da ANEEL, que introduziu novos avanços, e reformulou os procedimentos de controle de qualidade sobre os aspectos da continuidade. Entre as medidas mais significativas estão a criação de procedimentos auditáveis, a uniformização do método de coleta de dados e registros dos mesmos, a forma de apresentação e a periodicidade do envio destes a ANEEL, de modo a possibilitar a análise e acompanhamento dos mesmos. Outra melhoria foi a introdução dos indicadores individuais, que tornou possível a avaliação das ocorrências de interrupção por unidade consumidora, o acompanhamento da agência reguladora e também do próprio consumidor. Atualmente esses índices podem ser solicitados as concessionárias. Entretanto, a partir de janeiro de 2005 tornou-se obrigatório a inclusão destes dados na fatura. A apuração dos dados de interrupção para os indicadores são realizadas com periodicidade mensal, trimestral e anual. Foram introduzidos novos critérios de formação de grupo de consumidores de características semelhantes e contíguos, geralmente pertencentes a uma determinada área de uma concessionária, que possibilitou o atendimento homogêneo. Esses conjuntos foram propostos pelas concessionárias a ANEEL, que após análise e aprovação, gerou uma resolução específica para cada concessionária com dados validados. Na resolução, estabeleceram-se padrões de referência baseados no levantamento de dados históricos de cada concessionária e a comparação destes entre as diversas empresas. O desenvolvimento de técnicas de comparação de desempenho entre as empresas de distribuição permitiu a formulação desses novos padrões e o estabelecimento de metas de melhoria dos índices de continuidade. As metas para os indicadores de continuidade individuais, coletivos (para cada conjunto de unidades consumidoras), ou globais (para o total da concessionária) foram definidas através de 9 negociação entre as concessionárias e a ANEEL. Foram estabelecidas por concessionárias, com base nos valores históricos dos indicadores para os agrupamentos de consumidores, na análise comparativa de desempenho das empresas e nas metas de contratos de concessão, quando existentes. Essas metas são possíveis de renegociação quando das revisões tarifárias. Dos avanços obtidos pela resolução, podemos ainda ressaltar a exigência do envio dos indicadores a ANEEL, a imposição de penalidade por descumprimento das metas, o estabelecimento de prazos para o aviso de interrupção aos consumidores com a antecedência necessária e a obrigatoriedade da informação dos indicadores na fatura. Também se determinou a disponibilização do serviço de atendimento gratuito e permanente para o registro de reclamações dos consumidores e as solicitações de providências para serviços emergenciais. Os índices de continuidade adotados pelo órgão regulador são [7]: • Coletivos a) DEC: Duração equivalente de interrupção por unidade consumidora b) FEC: Freqüência equivalente de interrupção por unidade consumidora • Individuais a) DIC: Duração de interrupção individual por unidade consumidora b) FIC: Freqüência de interrupção individual por unidade consumidora c) DMIC: Duração máxima de interrupção contínua por unidade consumidora. Os indicadores coletivos são particularmente úteis a agência reguladora para atender suas necessidades de avaliação das concessionárias, enquanto os individuais servem mais especificamente ao interesse dos consumidores para avaliar o seu atendimento pela distribuidora. Nas apurações dos indicadores acima todas as concessionárias devem considerar interrupções iguais ou maiores que 3 (três) minutos, e quando já estiver previsto no contrato de concessão, apuração com interrupções iguais ou maiores que 1 (um) minuto, será apurado das duas formas. A partir de 2005 todas as empresas deverão considerar somente as interrupções com intervalos iguais ou 10 maiores que 1 (um) minuto, isto permite uma adequação de todas as distribuidoras ao padrão único de 1 (um) minuto no decorrer deste prazo, já que historicamente a maioria delas trabalhavam com interrupções iguais ou maiores a 3 (três) minutos. 11 3. PERFIL DOS DISTÚRBIOS 3.1. Causas dos distúrbios Alguns distúrbios relacionados a qualidade da energia originam-se do próprio sistema da empresa. No entanto, as causas destes distúrbios estão, geralmente, além do controle das empresas. Como por exemplo, ações provocadas pela ação da natureza como: relâmpagos, contato de galhos de árvores, ventos fortes, contatos de animais, gelo, etc. Além destes, temos os eventos de causas aleatórias como: atividades de construção, acidentes envolvendo veículos motores, falhas de equipamentos. Somando-se ainda, as operações normais da empresa como chaveamentos, operações com bancos de capacitores e atividades de manutenção também podem gerar situações que venham a provocar determinados distúrbios sobre o sistema. Para limitar estes tipos de distúrbios sobre o sistema a um menor número possível de clientes, o sistema de distribuição das empresas emprega um considerável número de dispositivos tais como circuitos disjuntores, circuitos automáticos de religamento, barramentos e seccionadores para auxiliar no isolamento do defeito. Uma grande percentagem dos distúrbios relacionados a qualidade da energia, na realidade, originam-se, de uma maneira geral, de dentro das instalações industriais/comerciais. Dos distúrbios originados de dentro das instalações dos usuários podemos destacar como principais fontes [6]: a) nas instalações comerciais: os sistemas de aquecimento ou resfriamento de motores; elevadores; refrigeradores, lâmpadas fluorescentes; condutores inadequados e aterramentos impróprios; maquinário de escritório (copiadoras, fax, impressoras a laser, etc.); circuitos sobrecarregados e interferência magnética. b) nas instalações industriais: reguladores de velocidade ajustável;capacitores para correção do fator de potência; motores elétricos de grande porte; geradores de emergência; condutores inadequados e aterramentos impróprios; circuitos sobrecarregados e interferência magnética. 12 3.1.1. Tipos de distúrbios Os distúrbios de energia podem ser originados tanto nos sistemas e /ou equipamentos das empresas concessionárias como dos consumidores. Estes distúrbios podem ser classificados em categorias que podem variar quanto ao efeito, duração e intensidade. A Tabela 1 que segue, ilustra as categorias mais comuns dos distúrbios, suas causas e algumas soluções práticas [6]. Dentre as soluções, aparecerá a utilização do UPS, que é uma fonte de alimentação ininterrupta, (Uninterruptible Power Supply) que entra em ação, alimentando os dispositivos a ele ligado, quando há interrupção no fornecimento de energia. 13 Tabela 1 – Categoria de Classificação dos Distúrbios Distúrbio Interrupções Transientes Sag / Swell Descrição Interrupção total da alimentação elétrica Distúrbio na curva senoidal, resultando em rápido e agudo aumento de tensão Subtensões (sags) ou sobretensões (swells) curtas (meio ciclo até 3 segundos) Sags respondem por cerca de 87% de todos os distúrbios elétricos Ruídos Harmônicos Variações de Tensão de Longa Duração Causas Efeitos Soluções Curto-circuitos, descargas atmosféricas, e outros acidentes que exijam manobras precisas de fusíveis, disjuntores, etc. Queda do sistema UPS Danificação de componentes Geradores de emergência (interrupções de longa duração) Descargas atmosféricas Travamento, perda de memória e erros de processamento Manobras da concessionária Perda de produção Manobras de grandes cargas e bancos de capacitores Queima de placas eletrônicas, danificação de materiais de isolação e de equipamentos Queda/Partida de grandes equipamentos Perda de dados e erros de processamento Curto-circuitos Desligamento de equipamentos Falha em equipamentos ou manobras da concessionária Sinal indesejado de alta freqüência que altera o padrão normal de tensão (onda senoidal) Interferência de estações de rádio e TV Alteração do padrão normal de tensão (onda senoidal), causada por freqüências múltiplas da fundamental (5060Hz) UPS, Reatores eletrônicos, inversores de freqüência, retificadores e outras cargas não-lineares. Variações de tensão com duração acima de 1 minuto Supressores de transientes UPS com supressores de transientes Transformadores de isolação UPS Reguladores de tensão Oscilações em motores com redução de vida útil Travamentos, perda de dados e erros de processamento UPS Recepções distorcidas (audio e video) Filtros de linha Sobreaquecimento de cabos e equipamentos Filtros de harmônicas Diminuição da performance de motores Reatores de linha Operação errônea de disjuntores, relés e fusíveis Transformadores de isolação Equipamentos e fiação sobrecarregados Desligamento de equipamentos UPS Utilização imprópria de transformadores Sobreaquecimento de motores e lâmpadas Fiação subdimensionada ou conexões mal feitas Redução de vida útil ou de eficiência dos equipamentos Operação de equipamentos eletrônicos 14 Transformadores de isolação Melhorias na fiação e no aterramento Verificar conexões e fiações elétricas Transferência de equipamentos para outros circuitos A Tabela 2 mostra as categorias e características típicas de fenômenos eletromagnéticos que contribuem para a perda da qualidade da energia em um determinado sistema elétrico. Grande parte destes fenômenos já receberam comentários iniciais quando da apresentação da Tabela 1. Esta Tabela (2) estará referenciada a todos os demais capítulos que dizem respeito a cada fenômeno em específico. A mesma é uma síntese de todos os distúrbio que eventualmente possam a vir a ocorrer sobre determinado sistema elétrico, trazendo as principais características pelas quais os fenômenos são definidos. Tabela 2 – Classes e Características típicas de fenômenos eletromagnéticos nos Sistemas elétricos 15 3.2. Transitórios O termo transitório tem sido aplicado a análise das variações do sistema de energia para denotar um evento que é indesejável, mas momentâneo, em sua natureza. Ou ainda, entende-se por transitórios eletromagnéticos as manifestações ou respostas elétricas locais ou nas adjacências, oriundas de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia elétrica. Geralmente, a duração de um transitório é muito pequena, mas de grande importância, uma vez que os equipamentos presentes nos sistemas elétricos estarão submetidos a grandes solicitações de tensão e/ou corrente [6]. Os fenômenos transitórios podem ser classificados em dois grupos, os chamados transitórios impulsivos, causados por descargas atmosféricas, e os transitórios oscilatórios, causados por chaveamentos. Oioioioi oioioi oioioioi oioioi oioioioi oioioi oioioioi oioioi oioioioi oioioi oioioio. Subtítulo Nível 5 3.2.1. Transistório impulsivo Um transitório impulsivo é uma súbita alteração não desejável no sistema, que se encontra em condição de regime permanente, refletido nas formas de ondas da tensão e corrente, ou ambas, sendo unidirecional na sua polaridade (primeiramente positivo ou negativo). Normalmente é causado por descargas atmosféricas com freqüências bastante diferentes daquela da rede elétrica. A Figura 3.1 ilustra uma corrente típica de um transitório impulsivo, oriundo de uma descarga atmosférica. Os transitórios impulsivos são normalmente caracterizados pelos seus tempos de aumento e decaimento, os quais podem ser revelados pelo conteúdo espectral do sinal em análise. Como exemplo, um transitório impulsivo 1,2x50-μs 2000-V nominalmente aumenta de zero até seu valor de pico de 2000 V em 1,2 μs e decai a um valor médio do seu pico em 50 μs. Como anteriormente citado, a causa mais comum de transitórios impulsivos é a descarga atmosférica. Devido a alta freqüência do sinal resultante, a forma dos transitórios impulsivos pode ser alterada rapidamente pelos componentes do circuito e apresentar características significantes quando observadas de diferentes partes do sistema de energia. 16 Figura 3.1 – Corrente Transitória Impulsiva oriunda de uma descarga atmosférica Por se tratarem de transitórios causados por descargas atmosféricas, é de fundamental importância se observar qual o nível da tensão no ponto de ocorrência da descarga. Em sistemas de distribuição o caminho mais provável para as descargas atmosféricas é através de um condutor fase, no primário ou no secundário, causando altas sobretensões no sistema. Uma descarga diretamente na fase geralmente causa “flashover” na linha próxima ao ponto de incidência e pode gerar não somente um transitório impulsivo, mas também uma falta acompanhada de afundamentos de curta duração e interrupções. Altas sobretensões transitórias podem também ser geradas por descargas que fluem ao longo do condutor terra. Existem numerosos caminhos através dos quais as correntes de descarga podem fluir pelo sistema de aterramento, tais como o terra do primário, o terra do secundário e as estruturas do sistema de distribuição. Os principais problemas de qualidade da energia causados por estas correntes no sistema de aterramento são os seguintes [6]: • Elevação do potencial do terra local, em relação a outros terras, em vários kV. Equipamentos eletrônicos sensíveis que são conectados entre duas referências de terra, tal como um computador conectado ao telefone através de um “modem”, podem falhar quando submetidos aos altos níveis de tensão. • Indução de altas tensões nos condutores fase, quando as correntes passam pelos cabos a caminho do terra. Em se tratando de descargas em pontos de extra alta tensão, o surto se propaga ao longo da linha em direção aos seus terminais podendo atingir os equipamentos instalados em subestações de manobra ou abaixadoras. Entretanto, a onda de tensão ao percorrer a linha, desde o ponto de incidência até as subestações abaixadoras para a tensão de distribuição, tem o seu valor de máximo 17 consideravelmente atenuado, e assim, consumidores ligados na baixa tensão não sentirão os efeitos advindos de descargas atmosféricas ocorridas a nível de transmissão. Contudo, os consumidores atendidos em tensão de transmissão e supostamente localizados nas proximidades do ponto de descarga, estarão sujeitos a tais efeitos, podendo ocorrer a danificação de alguns equipamentos de suas respectivas instalações. 3.2.2. Transistório oscilatório Também como para o caso anterior, um transitório oscilatório é uma súbita alteração não desejável da condição de regime permanente da tensão, corrente ou ambas, onde as mesmas incluem valores de polaridade positivos ou negativos. É caracterizado pelo seu conteúdo espectral (freqüência predominante), duração e magnitude da tensão (Tabela 2). Estes transitórios são decorrentes da energização de linhas, corte de corrente indutiva, eliminação de faltas, chaveamento de bancos de capacitores e transformadores, etc.. Um transitório com um componente de freqüência primário menor do que 5 kHz, e uma duração de 0,3 a 50 ms, é considerado um transitório oscilatório de baixa freqüência. Estes transitórios são freqüentemente encontrados nos sistemas de subtransmissão e de distribuição das concessionárias e são causados por vários tipos de eventos. O mais comum provem da energização de uma banco de capacitores, que tipicamente resulta em uma tensão transitória oscilatória com uma freqüência primária entre 300 e 900 Hz. O pico da magnitude pode alcançar 2,0 p.u., mas é tipicamente 1,3 a 1,5 p.u. com uma duração entre 0,5 e 3 ciclos dependendo do amortecimento do sistema. A Figura 3.2 ilustra o resultado da simulação da energização de um banco de 600 kVAr na tensão de 13,8 kV. Figura 3.2 – Transitório proveniente do chaveamento de um banco de capacitores 18 Transitórios oscilatórios com freqüências primárias menor do que 300 Hz também podem ser encontrados em sistemas de distribuição. Estes são geralmente associados com a ferroressonância e a energização de transformadores. Transitórios envolvendo capacitores em série podem ser incluídos nesta categoria. Estes ocorrem quando o sistema responde pela ressonância com componentes de baixa freqüência na corrente de magnetização do transformador (segunda e terceira harmônica) ou quando condições não usuais resultam em ferroressonância. Oscilações de ferroressonância podem aparecer no TPC devido a possibilidade de uma capacitância entrar em ressonância com algum valor particular de indutância dos componentes que contem núcleo de ferro. Esta situação não é desejável no caso dos TPCs, uma vez que informações indesejáveis poderiam ser transferidas aos relés e aos instrumentos de medição. A Figura 3.3 ilustra o fenômeno da ferroressonância envolvendo um transformador a vazio. Figura 3.3 – Transitório oscilatório de baixa frequência causado pelo fenômeno da ferroressonância em um transformador a vazio Um transitório com componentes de freqüência entre 5 e 500 kHz, com uma duração medida em microssegundos (ou vários ciclos da freqüência principal), é referenciado como transitório oscilatório de média freqüência. Estes podem ser causados pelo chaveamento de disjuntores para a eliminação de faltas e podem também ser o resultado de uma resposta do sistema á um transitório impulsivo. A título de ilustração, toma-se como referência as Figuras 3.4 e 3.5, as quais ilustram um circuito equivalente para o estudo de tensões transitórias de restabelecimento (TRV) e a resposta do sistema a operação do disjuntor respectivamente. 19 Figura 3.4 – Circuito equivalente para o estudo das tensões transitorias de restabelecimento quando da eliminação de um falta Figura 3.5 – Sobretensão decorrente da eliminação de uma falta Transitórios oscilatórios com um componente de freqüência maior do que 500 kHz e com uma duração típica medida em microssegundos (ou vários ciclos da freqüência principal) são considerados transitórios oscilatórios de alta freqüência. Estes transitórios são freqüentemente resultados de uma resposta local do sistema a um impulso transitório. Podem ser causados por descargas atmosféricas ou por chaveamento de circuitos indutivos. A desenergização de cargas indutivas pode gerar impulsos de alta freqüência. Apesar de serem de curta duração, estes transitórios podem interferir na operação de cargas eletrônicas. Filtros de alta-frequência e transformadores isoladores podem ser usados para proteger as cargas contra este tipo de transitório. Considerando o crescente emprego de capacitores pelas concessionárias para a manutenção dos níveis de tensão, e pelas indústrias com vistas a correção do fator de potência, tem-se tido uma preocupação especial no que se refere a possibilidade de se estabelecer uma condição de ressonância, devido as oscilações de altas freqüências, entre o sistema da concessionária e a indústria, e assim ocorrer uma amplificação das tensões transitórias, bem superiores as citadas anteriormente, podendo atingir níveis de 3 a 4 p.u. 20 Um procedimento comum para limitar a magnitude da tensão transitória é transformar os bancos de capacitores do consumidor, utilizados para corrigir o fator de potência, em filtros harmônicos. Uma indutância em série com o capacitor reduzirá a tensão transitória na barra do consumidor a níveis aceitáveis. No sistema da concessionária, utiliza-se o chaveamento dos bancos com resistores de préinserção.Com a entrada deste resistor no circuito, o primeiro pico do transitório, o qual causa maiores prejuízos, é significativamente amortecido. Conforme apresentado, algumas técnicas podem ser utilizadas na tentativa de se reduzir os níveis dos transitórios causados seja por chaveamentos ou por descargas atmosféricas. Entretanto, em alguns casos, como por exemplo, os transitórios oriundos de surtos de chaveamento em redes de distribuição, podem ter seu grau de incidência e magnitudes reduzidas através de uma reavaliação das filosofias de proteção e investimentos para melhorias nas redes. Esta última medida visa o aumento da capacidade da rede, portanto, evitando que bancos de capacitors venham a ser exigidos [6]. 3.3. Variações de longa duração na tensão Dos problemas relacionados as variações na tensão, citamos os efeitos de longa duração por um período superior a 1 min, que podem ser caracterizados como desvios que ocorrem no valor eficaz da tensão, na freqüência do sistema. Estas variações podem estar associadas a sobre ou subtensão e faltas sustentadas. No caso de sobre ou subtensão, geralmente, não resultam de falhas do sistema, mas são causadas por variações na carga e ou operações de chaveamento sobre o mesmo. 3.3.1. Sobretensão Podemos designar uma sobretensão como sendo um aumento no valor eficaz da tensão CA, maior do que 110% (valores típicos entre 1,1 e 1,2 p.u.) na freqüência do sistema, por uma duração maior do que 1 min (Tabela 2). Sobretensões, usualmente resultam do desligamento de grandes cargas ou energização de um banco de capacitores. Taps dos transformadores incorretamente conectados também podem resultar em sobretensões no sistema. Geralmente, são instalados nas indústrias bancos de capacitores, normalmente fixos, para correção do fator de potência ou mesmo para elevação da tensão nos circuitos internos da instalação. Nos horários de pico, quando há grandes solicitações de carga, o reativo fornecido por estes bancos é desejável. Entretanto, no horário fora de pico, principalmente no período noturno, 21 tem-se um excesso de reativo injetado no sistema, o qual se manifesta por uma elevação da tensão. Com relação as conseqüências das sobretensões de longa duração, estas podem resultar em falha dos equipamentos. Os dispositivos eletrônicos podem sofrer danos durante condições de sobretensões, embora transformadores, cabos, disjuntores, TCs, TPs e máquinas rotativas, geralmente, não apresentam falhas imediatas. Entretanto, tais equipamentos, quando submetidos a repetidas sobretensões, poderão ter as suas vidas úteis reduzidas. Relés de proteção também poderão apresentar falhas de operação durante as sobretensões. Uma observação importante, diz respeito a potência reativa fornecida pelos bancos de capacitores, que aumentará com o quadrado da tensão, durante uma condição de sobretensão. Dentre algumas opções para a solução de tais problemas, destaca-se a troca de bancos de capacitores fixos por bancos automáticos, tanto em sistemas das concessionárias como em sistemas industriais, possibilitando um maior controle do nível da tensão e a instalação de compensadores estáticos de reativos. 3.3.2. Subtensão Já a subtensão apresenta características opostas, sendo que agora, um decréscimo no valor eficaz da tensão AC para menos de 90% na freqüência do sistema, também com uma duração superior a 1 min, é caracterizado (Tabela 1). As subtensões são decorrentes, principalmente, do carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são submetidos a determinados níveis de corrente que, interagindo com a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão acentuadas. Outros fatores que contribuem para as subtensões são: a conexão de cargas a rede elétrica, o desligamento de bancos de capacitores e, conseqüentemente, o excesso de reativo transportado pelos circuitos de distribuição, o que limita a capacidade do sistema no fornecimento de potência ativa e ao mesmo tempo eleva a queda de tensão. A queda de tensão por fase é função da corrente de carga, do fator de potência e dos parâmetros R e X da rede, sendo obtidos através da equação (1) [6]. ΔV = Ι ( R cos φ + Xsen φ ) Onde: ΔV - queda de tensão por fase; I - corrente da rede; R - resistência por fase da rede; 22 (1) X - reatância por fase da rede; cosφ - fator de potência. A partir da equação (1) pode-se concluir que aqueles consumidores mais distantes da subestação estarão submetidos a menores níveis de tensão. Além disso, quanto menor for o fator de potência, maiores serão as perdas reativas na distribuição, aumentando a queda de tensão no sistema. Para evidenciar a influência do fator de potência na tensão, a Figura 3.6 ilustra o perfil de tensão ao longo de um alimentador. Dentre os problemas causados por subtensões de longa duração, destacam-se: Redução da potência reativa fornecida por bancos de capacitores ao sistema; Possível interrupção da operação de equipamentos eletrônicos, tais como computadores e controladores eletrônicos; • Redução de índice de iluminamento para os circuitos de iluminação incandescente, conforme ilustra a Figura 3.7; • Elevação do tempo de partida das máquinas de indução, o que contribui para a elevação de temperatura dos enrolamentos e • Aumento nos valores das correntes do estator de um motor de indução quando alimentado por uma tensão inferior a nominal, como mostra a Figura 3.8. Desta forma tem-se um sobreaquecimento da máquina, o que certamente reduzirá a expectativa de vida útil da mesma. Figura 3.6 – Perfil de tensão ao longo de um alimentador em função do fator de potência 23 Figura 3.7 – Potência consumida por uma lâmpada incandedescente de 100W para diferentes valores de tensão Figura 3.8 – Elevação de corrente num motor de indução de 5CV em função da tensão de alimentação Para minimizar estes problemas, as medidas corretivas geralmente envolvem uma compensação da impedância Z, ou a compensação da queda de tensão IR + jIX, causada pela impedância. As opções para o melhoramento da regulação de tensão são: • instalar reguladores de tensão para elevar o nível da tensão; • instalar capacitores “shunt” para reduzir a corrente do circuito; • instalar capacitores série para cancelar a queda de tensão indutiva (IX); • instalar cabos com bitolas maiores para reduzir a impedância Z; • mudar o transformador de serviço para um de capacidade maior reduzindo assim a impedância Z; e • instalar compensadores estáticos de reativos, os quais tem os mesmos objetivos que os capacitores, para mudanças bruscas de cargas. Existe uma variedade de dispositivos usados para regulação de tensão. Tais dispositivos são tipicamente divididos em três classes: 24 • Transformadores de tap variável: Existem transformadores de tap variável com acionamento mecânico ou eletrônico. A maioria destes são do tipo autotransformador, embora existam numerosas aplicações de transformadores de dois e três enrolamentos com comutadores de tap. Os do tipo mecânico são para cargas que variam lentamente, enquanto que os eletrônicos podem responder rapidamente as mudanças de tensão. • Dispositivos de isolação com reguladores de tensão independentes: Dispositivos de isolação incluem sistemas UPS (Uninterruptible Power Supply), transformadores ferroressonantes (tensão constante), conjuntos M-G, etc. Estes são equipamentos que isolam a carga da fonte de suprimento através de algum método de conversão de energia. Assim, a saída do dispositivo pode ser separadamente regulada e manter constante a tensão, desprezando as variações provenientes da fonte principal. • Dispositivos de compensação de impedância: Capacitores “shunt” ajudam a manter a tensão pela redução da corrente de linha ou através da compensação de circuitos indutivos. Estes capacitores podem ser fixos ou chaveados dependendo do tipo e da necessidade do sistema. Capacitores em série são relativamente raros, mas são muito úteis em algumas cargas impulsivas como britadeiras, etc. Estes capacitores compensam grande parte da indutância dos sistemas. Se o sistema é altamente indutivo, a impedância é significativamente reduzida. Se o sistema não é altamente indutivo, mas tem uma alta proporção de resistência, os capacitores série não serão muito efetivos. Compensadores estáticos de reativos podem ser aplicados tanto em sistemas das concessionárias como industriais. Eles ajudam a regular a tensão pela rápida resposta ao suprir ou consumir energia reativa. Existem três tipos principais de compensadores estáticos: o reator controlado a tiristor, o capacitor chaveado a tiristor e o reator a núcleo saturado. Estes equipamentos são muito usados em cargas geradoras de oscilações (flicker), tais como fornos a arco e em outras cargas que variam randomicamente. 3.3.3. Interrupções sustentadas Quando o fornecimento de tensão permanece em zero por um período de tempo que excede 1 min, a variação de tensão de longa duração é considerada como uma interrupção sustentada. As interrupções maiores do que 1 mim são geralmente permanentes e requerem intervenção humana para reparar e retornar o sistema a operação normal no fornecimento de energia (Tabela 2). 25 As interrupções sustentadas podem ocorrer de forma inesperada ou de forma planejada. A maioria delas ocorre inesperadamente e as principais causas são falhas nos disjuntores, queima de fusíveis; falha de componentes de circuito alimentador, etc. Já as interrupções planejadas são feitas geralmente para executar manutenção na rede, ou seja, serviços como troca de cabos e postes, mudança do tap do transformador, alteração dos ajustes de equipamentos de proteção, etc. Seja a interrupção de natureza sustentada ou inesperada, o sistema elétrico deve ser projetado e operado de forma a garantir que: • número de interrupções seja mínimo; • uma interrupção dure o mínimo possível e • número de consumidores afetados seja pequeno. Ao ocorrer uma falta de caráter permanente, o dispositivo de proteção do alimentador principal executa 3 ou 4 operações na tentativa de se restabelecer o sistema, até que o bloqueio definitivo seja efetuado. A duração desta interrupção pode atingir de vários minutos a horas (em média 2 horas), dependendo do local da falta, do tipo de defeito na rede e também da operacionalidade da equipe de manutenção. Em redes aéreas, a localização do defeito não demora muito tempo, ao passo que em redes subterrâneas necessita-se de um tempo considerável, o que contribui para o comprometimento da qualidade do fornecimento. Entretanto, a probabilidade de ocorrer uma falta em redes subterrâneas é muito menor do que em redes aéreas. A conseqüência de uma interrupção sustentada é o desligamento dos equipamentos, exceto para aquelas cargas protegidas por sistemas “no-breaks” ou por outras formas de armazenamento de energia. Como já foi colocado anteriormente, no caso de interrupções de curta duração, o desligamento de equipamentos acarreta grandes prejuízos as indústrias. No caso de interrupção sustentada o prejuízo é ainda maior, visto que o tempo de duração da interrupção é muito grande, comparado com o da interrupção de curta duração, retardando a retomada do processo produtivo. 3.4. Variações de tensão de curta duração Estas variações podem ser designadas como instantâneas (afundamentos e elevações de 0,5 a 30 ciclos), momentâneas (interrupções de 0,5 a 3 s e afundamentos/elevações de 30 ciclos a 3 s), ou temporárias (interrupções e afundamentos/elevações de 3 s a 1 min), conforme definido na Tabela 2. Variações de tensão de curta duração são causadas por condições de faltas, energização de grandes cargas que requerem altas correntes de partida, ou a perda intermitente de conexões nos cabos do sistema. Dependendo da localização da falta e das condições do sistema, a falta pode ou 26 causar um decréscimo da tensão (afundamento) ou um aumento da tensão (elevação), ou ainda, a completa perda da tensão (interrupção). A condição de falta pode estar próxima ou longe do ponto de interesse. Em ambos os casos, o impacto da tensão durante a condição de falta, é uma variação de curta duração até que os dispositivos de proteção operem para limpar a falta 3.4.1. Interrupções de curta duração Uma interrupção ocorre quando o fornecimento de tensão ou corrente de carga decresce para um valor menor do que 0,1 p.u. por um período de tempo que não excede 1 mim. As interrupções podem ser resultantes de faltas no sistema de energia, falhas nos equipamentos e mal funcionamento de sistemas de controle. As interrupções são medidas pela sua duração desde que a magnitude da tensão é sempre menor do que 10% da nominal. A duração de uma interrupção, devido a uma falta sobre o sistema da concessionária, é determinado pelo tempo de operação dos dispositivos de proteção empregados. Religadores programados para operar instantaneamente, geralmente, limitam a interrupção a tempos inferiores a 30 ciclos. Religadores temporizados podem originar interrupções momentâneas ou temporárias, dependendo da escolha das curvas de operação do equipamento. A duração de uma interrupção devido ao mal funcionamento de equipamentos é irregular. Algumas interrupções podem ser precedidas por um afundamento de tensão, quando estas são devidas a faltas no sistema supridor. O afundamento ocorre no período de tempo entre o início de uma falta e a operação do dispositivo de proteção do sistema [6]. A Figura 3.9 mostra uma interrupção momentânea devido a um curto-circuito, sendo precedida por um afundamento. Observa-se que a tensão cai para um valor de 20%, com duração de 3 ciclos e, logo após, ocorre a perda total do suprimento por um período de 1,8 s até a atuação do religador. Figura 3.9 – Interrupção momentânea devido a um curto-circuito e subsequente religamento 27 Seja, por exemplo, o caso de um curto-circuito no sistema supridor da concessionária. Logo que o dispositivo de proteção detecta a corrente de curtocircuito, ele comanda a desenergização da linha com vistas a eliminar a corrente de falta. Somente após um curto intervalo de tempo, o religamento automático do disjuntor ou religador é efetuado. Entretanto, pode ocorrer que, após o religamento, o curto persista e uma seqüência de religamentos pode ser efetuada com o intuito de eliminar a falta. A Figura 3.10 ilustra uma seqüência de religamentos com valores típicos de ajustes do atraso. Figura 3.10 – Sequência de manobras efetuadas por dispositivos automáticos de proteção Sendo a falta de caráter temporário, o equipamento de proteção não completará a seqüência de operações programadas e o fornecimento de energia não é interrompido. Assim, grande parte dos consumidores, principalmente em áreas residenciais, não sentirão os efeitos da interrupção. Porém, algumas cargas mais sensíveis do tipo computadores e outras cargas eletrônicas estarão sujeitas a tais efeitos, a menos que a instalação seja dotada de unidades UPS (Uninterruptible Power Supply), as quais evitarão maiores conseqüências na operação destes equipamentos, na eventualidade de uma interrupção de curta duração. Alguns dados estatísticos revelam que 75% das faltas em redes aéreas são de natureza temporária. No passado, este percentual não era considerado preocupante. Entretanto, com o crescente emprego de cargas eletrônicas, como inversores, computadores, videocassetes, etc., este número passou a ser relevante nos estudos de otimização do sistema, pois é, agora, tido como responsável pela saída de operação de diversos equipamentos, interrompendo o processo produtivo e causando enormes prejuízos as indústrias [2]. Atentos a este problema, algumas concessionárias têm mudado a filosofia de proteção com o objetivo de diminuir o número de consumidores afetados pelas interrupções. Na filosofia de 28 proteção coordenada, o dispositivo de proteção do alimentador principal, seja o religador ou o disjuntor, sempre opera uma ou duas vezes antes da operação do dispositivo oposto, geralmente, um fusível. Como pode ser observado na Figura 3.11, nesta filosofia, todos os consumidores do alimentador sentiriam as curtas interrupções, fazendo aumentar o índice de freqüência de interrupção por consumidor (FEC), o qual é monitorado pelas concessionárias. Figura 3.11 – Diagrama unifilar de um sistema de distribuição, nova filosofia de proteção 3.4.2. Afundamento de tensão Dependendo da localização da falta e das condições do sistema, a falta pode causar um decréscimo temporário de 10-90% no valor eficaz da tensão do sistema (0,1 e 0,9 p.u., na freqüência fundamental), podendo permanecer por um período de meio ciclo até 1 min (Tabela 2). Afundamentos de tensão são usualmente associados á faltas no sistema (curtos-circuitos ocorridos nas redes de distribuição), mas podem também ser causados pela energização de grandes cargas ou a partida de grandes motores e pela corrente de magnetização de um transformador. Dependendo da sua duração estes eventos podem estar associados a três categorias, sendo estas: instantâneas, momentâneas e temporárias, as quais coincidem com as três categorias das interrupções e elevações já comentadas. Estes tempos de permanência sobre o sistema correspondem aos tempos de operação típicos dos dispositivos de proteção das concessionárias, tão bem como as divisões recomendadas pelas organizações técnicas internacionais. A Figura 3.12 ilustra uma subtensão de curta duração típica, causada por uma falta faseterra. Observa-se um decréscimo de 80% na tensão por um período de aproximadamente 3 ciclos, até que o equipamento de proteção da subestação opere e elimine a corrente de falta [6]. Neste caso, de acordo com a Tabela 2, a subtensão é de caráter instantâneo. Entretanto, as características e o número de subtensões diante de uma determinada falta dependem de vários fatores como: a natureza da falta, sua posição relativa a outros consumidores ligados na rede e o tipo de filosofia de proteção adotada no sistema. 29 Figura 3.12 – Afundamento de tensão causado por uma falsa fase-terra. Nesta situação, observa-se a concessionária afetando os consumidores. Porém, pode ocorrer uma situação em que o curto-circuito se localize dentro de uma instalação industrial ou comercial e, desta forma, venha a causar subtensões em consumidores localizados em outros pontos da rede. Ressalta-se que, neste caso, as quedas de tensão são de níveis menores devido a impedância do transformador de entrada que limita a corrente de curto-circuito. Acrescenta-se ainda que, em transformadores de conexão Δ-Y, a corrente de seqüência zero, oriunda de faltas assimétricas, é eliminada do circuito. Como efeito destes distúrbios tem-se, principalmente, a má operação de equipamentos eletrônicos, em especial os computadores, que tem sido alvo de preocupações em órgãos de pesquisa em qualidade da energia. Entretanto, determinar os níveis de sensibilidade de tais equipamentos torna-se uma tarefa difícil, devido ao grande número de medições necessárias para a coleta de dados, e ainda, as dificuldades de se ter equipamentos de medição em condições reais de campo. 3.4.3. Elevação de tensão Outro distúrbio pode ser caracterizado por um aumento da tensão eficaz do sistema (aumento este entre 10-80% da tensão, na freqüência da rede, com duração de meio ciclo a 1 min, Tabela 2) ocorrendo freqüentemente nas fases sãs de um circuito trifásico, quando da ocorrência de um curto circuito em uma única fase. O termo sobretensão momentânea é empregado por vários autores como sinônimo para o termo “elevação de tensão” [6]. 30 Como para o item anterior, elevações são usualmente associadas á condições de faltas no sistema, mas não são tão comuns como afundamentos de tensão. Um meio ilustrativo de como uma elevação pode ocorrer é do aumento temporário da tensão em fases não faltosas durante uma falta envolvendo uma fase com conexão a terra. A Figura 3.13 ilustra uma elevação de tensão causada por uma falta fase-terra. Este fenômeno pode também estar associado a saída de grandes blocos de cargas ou a energização de grandes bancos de capacitores, porém, com uma incidência pequena se comparada com as sobretensões provenientes de faltas fase-terra nas redes de transmissão e distribuição. As elevações são caracterizadas pela sua magnitude (valor eficaz) e duração. A severidade deste distúrbio durante uma condição de falta é uma função da localização da falta, impedância do sistema e do aterramento. Em um sistema não aterrado com impedância de seqüência zero infinita, as tensões fase á terra das fases não aterradas serão 1,73 por unidade durante uma condição de falta envolvendo uma fase com conexão á terra. Próxima a subestação em um sistema aterrado, haverá um pequeno ou nenhum aumento nas fases não faltosas porque o transformador da subestação é usualmente conectado em delta-estrela, provendo um baixo caminho de impedância de seqüência zero para a corrente de falta. A duração da elevação está intimamente ligada aos ajustes dos dispositivos de proteção, a natureza da falta (permanente ou temporária) e a sua localização na rede elétrica. Em situações de elevações oriundas de saídas de grandes cargas ou energização de grandes bancos capacitores, o tempo de duração das elevações depende do tempo de resposta dos dispositivos reguladores de tensão das unidades geradoras, do tempo de resposta dos transformadores de tap variável e da atuação dos dispositivos compensadores de reativos e síncronos em sistemas de potência e compensadores síncronos que porventura existam. Figura 3.13 – Elevação de tensão devido a uma falta fase- terra 31 Como conseqüência das elevações de curta duração em equipamentos, podese citar falhas dos componentes, dependendo da freqüência de ocorrência do distúrbio. Dispositivos eletrônicos incluindo ASDs (Adjustable Speed Drivers), computadores e controladores eletrônicos, podem apresentar falhas imediatas durante estas condições. Contudo, transformadores, cabos, barramentos, dispositivos de chaveamento, TPs, TCs e máquinas rotativas podem ter a vida útil reduzida. Um aumento de curta duração na tensão em alguns relés pode resultar em má operação enquanto outros podem não ser afetados. Uma elevação de tensão em um banco de capacitores pode, freqüentemente, causar danos no equipamento. Aparelhos de iluminação podem ter um aumento da luminosidade durante uma elevação. Dispositivos de proteção contra surto como um circuito de fixação da amplitude (clamping circuit) podem ser destruídos quando submetidos a elevações que excedam suas taxas de MCOV (Maximum Continuous Operating Voltage). Dentro do exposto, a preocupação principal recai sobre os equipamentos eletrônicos, uma vez que estas elevações podem vir a danificar os componentes internos destes equipamentos, conduzindo-os a má operação, ou em casos extremos, a completa inutilização. Vale ressaltar mais uma vez que, a suportabilidade de um equipamento não depende apenas da magnitude da elevação, mas também do seu período de duração. 3.5. Desequilíbrio de tensão Desequilíbrio de tensão é muitas vezes definido como o desvio máximo dos valores médios das tensões ou correntes trifásicas, dividido pela média dos mesmos valores, expresso em percentagem. O desequilíbrio também pode ser definido usando-se a teoria de componentes simétricos. A razão entre os componentes ou de seqüência negativo ou zero, com o componente de seqüência positivo pode ser usado para especificar a percentagem do desequilíbrio. As origens destes desequilíbrios estão geralmente nos sistemas de distribuição, os quais possuem cargas monofásicas distribuídas inadequadamente, fazendo surgir no circuito tensões de seqüência negativa. Este problema se agrava quando consumidores alimentados de forma trifásica possuem uma má distribuição de carga em seus circuitos internos, impondo correntes desequilibradas no circuito da concessionária. Tensões desequilibradas podem também ser o resultado da queima de fusíveis em uma fase de um banco de capacitores trifásicos. Tais fatores fazem com que a qualidade no fornecimento de energia, idealizada pela concessionária, seja prejudicada e desta forma alguns consumidores têm em suas alimentações um desequilíbrio de tensão, o qual se manifesta sob três formas distintas [6]: 32 a) amplitudes diferentes; b) assimetria nas fases; e c) assimetria conjunta de amplitudes e fases. Destas, apenas a primeira é freqüentemente evidenciada no sistema elétrico. A instalação elétrica de um consumidor, sujeito a desequilíbrios de tensão, pode apresentar problemas indesejáveis na operação de equipamentos, dentre os quais destacam-se: a) Motores de Indução: Para as análises dos efeitos de tensões desequilibradas aplicadas a um motor de indução, considera-se somente os efeitos produzidos pelas tensões de seqüência negativa, somados aos resultados da tensão de seqüência positiva. Os efeitos das tensões e correntes de seqüência zero não são comumente considerados, visto que a maioria dos motores não possui caminho para a circulação destas correntes, seja pela conexão estrela isolada ou em delta destes motores. Sabe-se que, quando tensões de seqüência negativa são aplicadas ao estator do motor, surge um correspondente campo magnético que gira no sentido contrário ao campo da seqüência positiva, ou seja, contrário ao sentido de rotação do rotor. Assim, tem-se estabelecido uma indesejável interação entre os dois campos, o que resulta num conjugado pulsante no eixo da máquina. A Figura 3.14 ilustra a curva do conjugado desenvolvido por um motor de indução (20cv, 220V, Y), bem como a curva de conjugado de carga, quando alimentado por tensões desequilibradas. Figura 3.14 – Resposta do motor a alimentação desequilibrada. 33 b) Máquinas síncronas: Como no caso anterior, a corrente de seqüência negativa fluindo através do estator de uma máquina síncrona, cria um campo magnético girante com velocidade igual a do rotor, porém, no sentido contrário ao de rotação definido pela seqüência positiva. Conseqüentemente, as tensões e correntes induzidas nos enrolamentos de campo, de amortecimento e na superfície do ferro do rotor, terão uma freqüência igual a duas vezes a da rede. Tais correntes aumentarão significativamente as perdas no rotor, principalmente no enrolamento de amortecimento, que possui baixa impedância onde, conseqüentemente, a corrente será mais elevada. No enrolamento de campo, estas correntes com freqüência duplicada distorcerão o campo magnético produzido pela corrente de excitação que, por sua vez, deformará a forma de onda da tensão gerada, interferindo, portanto, na atuação do regulador de tensão. c) Retificadores: Uma ponte retificadora CA/CC, controlada ou não, injeta na rede CA, quando esta opera sob condições nominais, correntes harmônicas características (de ordem 5, 7, 11, 13, etc). Entretanto, quando o sistema supridor encontra-se desequilibrado, os retificadores passam a gerar, além das correntes harmônicas características, o terceiro harmônico e seus múltiplos. A presença do terceiro harmônico e seus múltiplos no sistema elétrico é extremamente indesejável, pois possibilita manifestação de ressonâncias não previstas, visto que não é prática a instalação de filtros de terceiro harmônico em instalações desta natureza e, isto pode causar danos a uma série de equipamentos. A Figura 3.15 mostra o espectro harmônico de um conversor de 6 pulsos a diodo, alimentado por tensões equilibradas e desequilibradas respectivamente. Figura 3.15 – Retificador alimentado por tensões equilibradas e desequilibradas, espectro harmônico. 34 3.6. Distorsão da forma de onda Distorção da forma de onda é definido como um desvio da forma de onda puramente senoidal na freqüência fundamental, que é caracterizado principalmente pelo seu conteúdo espectral. Há cinco tipos principais de distorções da forma de onda - Tabela 2: a) nível CC; b) harmônicos; c) inter-harmônicas; d) notching e e) ruído. 3.6.1. Nível CC A presença de um componente CC na tensão ou corrente em um sistema de energia CA é denominado nível CC. Este pode ocorrer como resultado de um distúrbio ou devido a operação ideal de retificadores de meia-onda. O nível CC em redes de corrente alternada pode levar a saturação de transformadores, resultando em perdas adicionais e redução da vida útil. Pode também causar corrosão eletrolítica dos eletrodos de aterramento e de outros conectores. 3.6.2. Harmônicos Tecnicamente, um harmônico é um componente de uma onda periódica cuja freqüência é um múltiplo inteiro da freqüência fundamental (no caso da energia elétrica, de 60 Hz). Harmônicos são fenômenos contínuos, e não devem ser confundidos com fenômenos de curta duração, os quais duram apenas alguns ciclos. Distorção harmônica é um tipo específico de energia suja, que é normalmente associada com a crescente quantidade de acionamentos estáticos, fontes chaveadas e outros dispositivos eletrônicos nas plantas industriais [4]. Estas perturbações no sistema podem normalmente ser eliminadas com a aplicação de filtros de linha (supressores de transitórios). Um filtro de harmônicos é essencialmente um capacitor para correção do fator de potência, combinado em série com um reator (indutor). A Figura 3.16 mostra a tensão num barramento CA de alimentação de um conversor de seis pulsos, na qual evidencia-se as deformações na forma de onda. A distorção harmônica vem contra os objetivos da qualidade do suprimento promovido por uma concessionária de energia elétrica, a 35 qual deve fornecer aos seus consumidores uma tensão puramente senoidal, com amplitude e freqüência constantes. Entretanto, o fornecimento de energia a determinados consumidores que causam deformações no sistema supridor, prejudicam não apenas o consumidor responsável pelo distúrbio, mas também outros conectados a mesma rede elétrica. A natureza e a magnitude das distorções harmônicas geradas por cargas não lineares dependem de cada carga em específico, mas duas generalizações podem ser assumidas: a) os harmônicos que causam problemas geralmente são os componentes de números ímpares e b) a magnitude da corrente harmônica diminui com o aumento da freqüência. Como comentado, altos níveis de distorções harmônicas em uma instalação elétrica podem causar problemas para as redes de distribuição das concessionárias, para a própria instalação e para os equipamentos ali instalados. As conseqüências podem chegar até a parada total de importantes equipamentos na linha de produção acarretando em prejuízos econômicos. Dentre eles, de maior importância estão a perda de produtividade e de vendas devido a paradas de produção, causadas por inesperadas falhas em motores, acionamentos, fontes ou simplesmente pelo "repicar" de disjuntores. Para a quantificação do grau de distorção presente na tensão e/ou corrente, lança-se mão da ferramenta matemática conhecida por série de Fourier [4]. As vantagens de se usar a série de Fourier para representar formas de onda distorcidas é que, cada componente harmônica pode ser analisada separadamente e, a distorção final é determinada pela superposição das várias componentes constituintes do sinal distorcido . Figura 3.16 – Tensão de alimentação de um conversor CA/CC 36 Conhecidos os valores de tensões e/ou correntes harmônicas presentes no sistema, utiliza-se de um procedimento para expressar o conteúdo harmônico de uma forma de onda. Um dos mais utilizados é a “Distorção Harmônica Total”, a qual pode ser empregada tanto para sinais de tensão como para correntes. As equações (2) e (3) apresentam tais definições: nmáx DHVT = ∑V n >1 V12 nmáx DHVT = 2 n ∑I n >1 I 2 1 2 n × 100(%) (2) × 100(%) (3) onde: DHVT - distorção harmônica total de tensão DHIT - distorção harmônica total de corrente Vn - valor eficaz da tensão de ordem n In - valor eficaz da corrente de ordem n V1 - valor eficaz da tensão fundamental I1 - valor eficaz da corrente fundamental n - ordem da componente harmônica A “Distorção Harmônica Individual” é utilizada para a quantificação da distorção individual de tensão ou corrente, ou seja, para determinar a porcentagem de determinado componente harmônico em relação a sua componente fundamental. As equações (4) e (5) expressam tais definições. DHV I = Vn × 100 (%) V1 (4) DHV I = In × 100 (%) I1 (5) 37 onde: DHVI - distorção harmônica individual de tensão. DHVI - distorção harmônica individual de corrente. Para fins práticos, geralmente, os componentes harmônicos de ordens elevadas (acima da 50ª ordem, dependendo do sistema) são desprezíveis para análises de sistemas de potência. Apesar de poderem causar interferência em dispositivos eletrônicos de baixa potência, elas usualmente não representam perigo aos sistemas de potência. Com o rápido desenvolvimento da eletrônica de potência e a utilização de métodos que buscam o uso mais racional da energia elétrica, o conteúdo harmônico presente nos sistemas tem-se elevado. O problema é ainda mais agravado pela utilização de equipamentos e cargas mais sensíveis a qualidade da energia. É de grande importância citar os vários tipos de cargas elétricas com características não lineares, denominadas de “Cargas Elétricas Especiais” [4], que têm sido implantadas em grande quantidade no sistema elétrico brasileiro. Estas, de um modo geral, podem ser classificadas em três grupos básicos [1]: a) Cargas de conexão direta ao sistema • motores de corrente alternada; • transformadores alimentadores; • circuitos de iluminação com lâmpadas de descarga (como as multi vapor metálico: mercúrio e sódio); • fornos a arco, etc. b) Cargas conectadas através de conversores • motores de corrente contínua controlados por retificadores; • motores de indução controlados por inversores com comutação forçada; • motores síncronos controlados por cicloconversores (conversão estática direta CA/CA em uma dada freqüência para outra freqüência inferior); • fornos de indução de alta freqüência, etc. c) Reguladores • fornos de indução controlados por reatores saturados; • cargas de aquecimento controladas por tiristores; • velocidade dos motores CA controlados por tensão de estator; 38 • reguladores de tensão a núcleo saturado; • computadores; • eletrodomésticos com fontes chaveadas, etc. As distorções harmônicas causadas pela operação de tais equipamentos e dispositivos, causam alguns efeitos indesejáveis ao sistema elétrico. Estes efeitos podem ser divididos em três grandes grupos. Nos dois primeiros estariam enquadrados, por exemplo, os problemas de perda da vida útil de transformadores, máquinas rotativas, bancos de capacitores, etc. No terceiro grupo estariam englobadas questões diversas que poderiam se traduzir numa operação errônea ou na falha completa de um equipamento. Nesta categoria estariam incluídos efeitos como: torques oscilatórios nos motores CA, erros nas respostas de equipamentos, aumento ou diminuição do consumo de kWh, etc. Para ressaltar tais efeitos, descreve-se abaixo como as distorções harmônicas de tensão e corrente podem alterar a operação de alguns dispositivos comumente encontrados nas redes elétricas. Cabos Dentre os efeitos de harmônicos em cabos destacam-se: • Sobreaquecimento devido as perdas Joule que são acrescidas; • Maior solicitação do isolamento devido a possíveis picos de tensão e imposição de correntes pelas capacitâncias de fuga, provocando aquecimento e conseqüentemente uma deterioração do material isolante. Outro aspecto importante que deve ser destacado refere-se ao carregamento exagerado do circuito de neutro, principalmente em instalações que agregam muitos aparelhos eletrônicos, como microcomputadores, onde há uma predominância muito grande do terceiro harmônico. Este se caracteriza por ser de seqüência zero, portanto, propaga-se pelo neutro podendo dar origem a tensões perigosas quando estas correntes circulam por malhas de terra mal projetadas. Com relação ao nível de distorção de tensão, abaixo do qual os cabos não são expressivamente afetados, este é dado pela equação (6). 39 ∞ ∑ (Vn) 2 ≤ 10% (6) n−2 Transformadores Um transformador, quando submetido a distorções de tensão e corrente, experimentará um sobreaquecimento causado pelo aumento das perdas Joulicas, além de intensificar as fugas tradicionalmente manifestadas nos isolamentos. As perdas Joulicas são dadas pela equação (7). 2 ΔPJ = ΔPj1 (1 + DHI T ) (7) onde: ΔPJ1 = representa as perdas a corrente fundamental ΔPJ = representa as perdas incluindo a distorção harmônica Este aumento das perdas faz com que a vida útil deste equipamento seja reduzida, uma vez que a degradação do material isolante no interior do transformador ocorrerá de forma mais acentuada. Como ilustração, a Figura 3.17 mostra um perfil da vida útil de um transformador de corrente que se estabelece através de seus enrolamentos. Os resultados consideram que os componentes harmônicos, para cada situação, são superpostos a uma corrente fundamental igual a nominal do equipamento. Figura 3.17 – Vida útil de um transformador em função da distorção de corrente. Segundo a literatura, os transformadores possuem um nível de tensão admissível dado pelas equações (8) e (9). 40 ∞ ∑ (Vn) 2 ≤ 5% ( a plena carga) (8) 2 ≤ 10% ( a vazio) (9) n=2 ∞ ∑ (Vn) n=2 Motores de Indução Um motor de indução, operando sob alimentação distorcida, pode apresentar, de forma semelhante ao transformador, um sobreaquecimento de seus enrolamentos. Este sobreaquecimento faz com que ocorra uma degradação do material isolante que pode levar a uma condição de curtocircuito por falha do isolamento. A Figura 3.18 mostra uma estimativa do acréscimo das perdas elétricas num motor de indução, em função da distorção total de tensão presente no barramento supridor. Figura 3.18 – perdas elétricas de um motor de indução trifásico em função da distorção total de tensão. Em relação a análise de desempenho de um motor de indução submetido a tensões harmônicas, verifica-se uma perda de rendimento e qualidade do serviço, devido ao surgimento de torques pulsantes. Estes podem causar uma fadiga do material, ou em casos extremos, para altos valores de torques oscilantes, interrupção do processo produtivo, principalmente em instalações que requerem torques constantes como é o caso de bobinadeiras na indústria de papel-celulose e condutores elétricos. 41 Com a utilização dos reguladores automáticos de velocidade, estes efeitos se pronunciam com maior intensidade, pois os níveis de distorção impostos pelos inversores superam os valores normalmente encontrados nas redes CA, muito embora, hoje, com novas técnicas de chaveamento, estes níveis têm sido reduzidos consideravelmente. Os motores de indução, de acordo com o seu porte e impedância de seqüência negativa, possuem um grau de imunidade aos harmônicos conforme sugere a equação (10). ∞ 2 ⎛ Vn ⎞ ⎜ ⎟ ≤ 1,3%.a.3,5% ∑ n=2 ⎝ n ⎠ (10) Máquinas Síncronas Pelo fato de estarem localizados distantes dos centros consumidores, as unidades geradoras, responsáveis por grandes blocos de energia, não sofrem de forma acentuada as conseqüências dos harmônicos injetados no sistema. Entretanto, em sistemas industriais dotados de geração própria, que operam em paralelo com a concessionária, tem sido verificado uma série de anomalias no que se refere a operação das máquinas síncronas. Dentre estes efeitos destacam-se: • Sobreaquecimento das sapatas polares, causado pela circulação de correntes harmônicas nos enrolamentos amortecedores; • Torques pulsantes no eixo da máquina; e • Indução de tensões harmônicas no circuito de campo, que comprometem a qualidade das tensões geradas. Assim, é importante que uma monitoração da intensidade destas anomalias seja efetuada, com o propósito de assegurar operação contínua das máquinas síncronas, evitando transtornos como perda de geração. No caso de instalações que utilizam motores síncronos, as mesmas observações se aplicam. De forma semelhante aos motores de indução, o grau de imunidade das máquinas síncronas aos efeitos de harmônicos é função do porte da máquina e da impedância de seqüência negativa. Esta condição pode ser assegurada quando obedecida a equação (11). 42 ∞ 2 ⎛ Vn ⎞ ⎜ ⎟ ≤ 1,3%.a.2,4% ∑ n=2 ⎝ n ⎠ (11) 3.6.3. Interharmônicos São formas de ondas de tensões e correntes que apresentam componentes de freqüência que não são múltiplos inteiros da freqüência com a qual o sistema é suprido e designado a operar (50 ou 60 Hz). Estas interharmônicas podem aparecer como freqüências discretas ou como uma larga faixa espectral. Podem ser encontradas em redes de diferentes classes de tensões. As principais fontes são os conversores de freqüência estáticos, cicloconversores, motores de indução e equipamentos a arco. Sinais “carrier” em linhas de potência também podem ser considerados como interharmônicos. Os efeitos deste fenômeno não são bem conhecidos, mas admite-se que os mesmos podem afetar a transmissão de sinais carrier (portadores) e a induzir a oscilações visuais no display de equipamentos como tubos de raios catódicos. 3.6.4. Notching Notching é um distúrbio periódico de tensão causado pela má operação dos dispositivos eletrônicos quando a corrente é comutada de uma fase para outra. Durante este período há um momentâneo curto circuito entre duas fases levando a tensão próxima a zero tanto quanto é permitido pelas impedâncias do sistema. Desde que ocorre continuamente, pode ser caracterizado pelo espectro harmônico da tensão afetada. Os componentes de freqüência associados com o fenômeno notching podem ser altos e não ser prontamente caracterizados pelos equipamentos de medidas normalmente usados para análise de harmônicos. 43 3.6.5. Ruídos Com respeito aos ruídos, estes podem ser definidos como sinais elétricos não desejáveis com um conteúdo do espectro abaixo de 200 kHz, superposto a tensão e corrente do sistema de energia nos condutores de fase ou obtidos sobre os condutores neutros, ou ainda, nos sinais da linha. Pode ser causado em sistemas de energia por equipamentos eletrônicos, circuitos de controle, equipamentos a arco, cargas com retificadores de estado sólido e fontes chaveadas e, via de regra, estão relacionados com aterramentos impróprios. O problema pode ser atenuado pelo uso de filtros, isolamento dos transformadores e condicionadores de linha. 3.7. Flutuação de tensão Flutuações na tensão são variações sistemáticas dos valores eficazes de tensão, ou uma série de mudanças aleatórias, cujas magnitudes normalmente não excedem faixas de valores préestabelecidos (faixa compreendida entre 0,95 e 1,05 p.u., Tabela 2). Cargas industriais que exibem variações contínuas e rápidas na magnitude da corrente de carga podem causar variações na tensão que são freqüentemente referidas como flicker ou oscilação. Para ser tecnicamente correto, flutuação de tensão é um fenômeno eletromagnético enquanto flicker é o resultado indesejável da flutuação de tensão em algumas cargas. Tais flutuações são geralmente causadas por cargas industriais e manifestamse de diferentes formas, a destacar: • Flutuações Aleatórias A principal fonte destas flutuações são os fornos a arco, onde as amplitudes das oscilações dependem do estado de fusão do material, bem como do nível de curto-circuito da instalação. • Flutuações Repetitivas Dentre as principais fontes geradoras de flutuações desta natureza tem-se: 44 - Máquinas de solda; - Laminadores; - Elevadores de minas e - Ferrovias. A Figura 3.19 ilustra o comportamento do valor eficaz da tensão no barramento supridor de um laminador, durante um período de 5 segundos. Figura 3.19 – Oscilações de tensão oriundas da operação de um laminador. • Flutuações Esporádicas A principal fonte causadora destas oscilações é a partida direta de grandes motores. Os principais efeitos nos sistemas elétricos, resultados das oscilações causadas pelos equipamentos mencionados anteriormente são: - Oscilações de potência e torque das máquinas elétricas; - Queda de rendimento dos equipamentos elétricos; - Interferência nos sistemas de proteção e - Efeito flicker ou cintilação luminosa. Em relação aos efeitos em motores elétricos, o conjugado desenvolvido é diretamente proporcional ao valor RMS da tensão e, estando os motores submetidos a tensões flutuantes, estes passam a apresentar torques oscilantes no eixo [4]. A Figura 3.20 mostra as curvas de conjugado eletromagnético e de carga de um motor de indução quando da presença de tensões oscilantes aplicadas ao estator, onde se verifica oscilações no conjugado motor, de amplitudes consideráveis. 45 Figura 3.20 – Motor submetido a tensões oscilantes. Entretanto, o fenômeno flicker consiste no efeito mais comum provocado pelas oscilações de tensão. Este tema merece especial atenção, uma vez que o desconforto visual associado a perceptibilidade do olho humano as variações da intensidade luminosa é, em toda sua extensão, indesejável. A intensidade do efeito flicker está associada aos seguintes fatores: • Amplitude das oscilações; • Freqüência da moduladora e • Duração do distúrbio ou ciclo de operação da carga perturbadora. Estes fatores, em conjunto com a perceptibilidade do olho humano, dão origem a curvas que representam os limiares da percepção visual para flutuações de tensão, conforme ilustra a Figura 3.21 Figura 3.21 – Limites de percepção visual para flutuações de tensão associadas a ondas senoidais e quadradas 46 Como pode ser observado na figura anterior, variações da ordem de 0,25% da tensão nominal são perceptíveis quando ocorrem em baixas freqüências (1 a 15 Hz). Entretanto, para as variações graduais, o que ocorre é uma acomodação visual, provocando um nível de irritação visual de menor intensidade e tolerável pelo ser humano. 3.8. Variações na frequência do sistema Variações na freqüência de um sistema elétrico são definidas como o desvio no valor da freqüência fundamental deste, de seus valores nominais especificados (50 ou 60 Hz). A freqüência do sistema de potência está diretamente relacionado a velocidade de rotação dos geradores que suprem o sistema. Há estreitas variações na freqüência com o balanço dinâmico entre cargas e mudanças na geração. A amplitude da variação e sua duração depende das características da carga e da resposta do sistema de controle de geração as alterações na carga. Variações na freqüência que ultrapassem dos limites para a operação em regime permanente podem ser causadas por faltas no sistema de transmissão, desconexão de um grande bloco de carga ou pela saída de operação de uma grande fonte de geração. Nos modernos sistemas interconectados de energia, variações significantes de freqüência são raras. Variações consideráveis e freqüentes podem mais comumente ocorrer para cargas que são supridas por geradores de sistemas isolados das concessionárias. Em sistemas isolados, como é o caso da geração própria nas indústrias, na eventualidade de um distúrbio, a magnitude e o tempo de permanência das máquinas operando fora da velocidade, resultam em desvios da freqüência em proporções mais significativas. 3.9. Resumo dos distúrbios A seguir, é apresentado as definições aceitas para muitos dos termos encontrados na literatura nacional e internacional relacionados a qualidade da energia. [6]. Afundamento (Dip ou Sag): qualquer decréscimo na tensão de pequena duração (menor do que 1 minuto). Carga Crítica (Critical Load): dispositivos ou equipamentos identificados como importantes ou essenciais para a segurança de pessoas ou para a situação econômica do comércio/indústria. 47 Distorção da Forma de Onda (Waveform Distortion): qualquer variação na qualidade da energia representada nas formas de ondas das tensões e correntes trifásicas. Distorção Harmônica (Harmonic Distortion): alteração na forma padrão da tensão ou corrente (onda senoidal) devido a um equipamento gerando freqüências diferentes das de 60 ciclos por segundo. Elevação (Swell): qualquer aumento de tensão de pequena duração (menor do que um minuto) . Interrupção (Interruption ou Outage): completa perda da energia elétrica Interrupção Momentânea (Momentary Outage): uma pequena interrupção na energia permanecendo entre 1/30 (dois ciclos) de um segundo a 3 segundos. Distúrbio (Disturbance): uma variação de tensão. Comumente, após a operação incorreta de determinado equipamento elétrico, por razões desconhecidas, o seu mal funcionamento será relacionado ao distúrbio de tensão. Oscilação ou Tremulação (Flicker): variação de tensão de pequena duração, mas longa o necessário para ser percebida pelos olhos humanos como uma oscilação de tensão. Ruído (Noise): qualquer sinal elétrico indesejado de alta freqüência que altera a forma de tensão padrão (onda senoidal). Sobretensão (Overvoltage): aumento do nível de tensão acima do normal (10% ou mais), com duração superior a um minuto. Subtensão (Drop ou Undervoltage): queda ou diminuição de tensão devido a partida de grandes motores ou perda de alimentadores ou transformadores sob carga. Algumas vezes é empregado para descrever afundamentos de tensão (voltage sags) ou subtensões (undervoltages). Tensão Nominal ou Normal (Nominal ou Normal Voltage): tensão nominal ou normal contratada para um sistema de determinada classe de tensão. Transitório (Transient, Spike ou Surge): um aumento inesperado no nível de tensão que tipicamente permanece por menos do que 1/120 de um segundo. 48 4. SIMULAÇÃO 4.1. Introdução Esta etapa do trabalho apresenta a simulação realizada através do software EMTDC / PSCAD (Electromagnetic Transient and Direct Current / Power System Computer Aided Design), que é uma ferramenta de simulação profissional para análise de sistemas, tendo sua aplicação principal na simulação de transitórios eletromagnéticos voltados aos sistemas elétricos de potência. PSCAD é a interface gráfica do usuário enquanto que o EMTDC é o software de simulação. O EMTDC / PSCAD é considerado um dos mais apropriados meios de simulação de respostas instantâneas no domínio do tempo. A interface gráfica do PSCAD aumenta sensivelmente o alcance do EMTDC. Essa permite ao usuário construir esquematicamente o circuito, processar a simulação, analisar os resultados e administrar os dados num ambiente completamente integrado. A versão do software utilizado nessa simulação foi PSCAD 4.2.1 Student. Para a simulação, foi utilizado o exemplo de aplicação criado originalmente no centro de pesquisa da HVDC de Manitoba pelo Dr. M. Reformat, em Manitoba, Canadá. Os resultados foram reproduzidos e comparados com o exemplo de aplicação original onde comprovou-se a eficácia dos filtros ativos na eliminação de harmônicos. O objetivo dessa simulação não é desenvolver nada inovador a respeito de filtros ativos, mas sim aplicar a teoria já existente e comprovar seu funcionamento na filtragem de tensões harmônicas indesejáveis na rede de energia. Este caso ilustra o uso de um STATCOM fornecendo uma filtragem ativa para o lado C.A. de um sistema conversor de 6 pulsos. O filtro ativo é conectado através de uma linha de 20 kVA, a um transformador trifásicoY-Δ de 200 V, 50 hertz , com um conversor de carga de 6 pulsos.[10], conforme veremos na figura 4.1. 49 Figura 4.1 – Circuito com filtro ativo STATCOM Apesar de hoje já existir sistema de 24 pulsos, foi utilizado aqui um conversor de 6 pulsos como ponto de partida para futuros estudos e implementações de mecanismos de controle e melhorias da qualidade de energia. Esse ponto de partida se justifica pelo fato de já existir o modelo desenvolvido em 1991, também em EMTDC, e que servirá para validar as simulações aqui implementadas. O circuito apresenta um sistema combinado de um filtro passivo e uma pequena taxa de filtro ativo, ambos ligados em série aos outros. O filtro passivo remove as cargas produzidas de harmônicos da mesma forma que um filtro convencional faz. Por outro lado, o filtro ativo desempenha um papel importante na melhoria das características da filtragem do filtro passivo. Isso resulta em uma grande redução do exigido na classificação do filtro ativo e na eliminação de todas as limitações enfrentados por usar apenas o filtro passivo, o que conduz a uma prática e sistema econômico.[10] 4.2. Statcom O Statcom é um equipamento de eletrônica de potência que é utilizado na compensação de potência reativa. Suas características principais são: a capacidade de aumentar o fluxo de potência em uma linha de transmissão e assegurar uma maior estabilidade para o sistema elétrico.Tem como função prover suporte de tensão em areas críticas do sistema de potência. O predecessor do compensador síncrono estático, ou seja, o compensador síncrono rotativo, foi muito usado no 50 passado para a compensação "shunt" de reativos. O compensador rotativo apresenta várias características funcionais desejáveis, tais como: a capacidade de injetar elevadas correntes capacitivas durante períodos transitórios de subtensão e o fato de possuir uma impedância interna indutiva, cujos valores típicos não causam ressonância com a rede de transmissão. Contudo, o compensador rotativo possui uma série de desvantagens, tais como: (1) um tempo de resposta lento, (2) instabilidade rotacional, (3) baixa impedância de curto circuito e (4) necessita de manutenções freqüentes. Além do mais, ele não atende aos requisitos modernos de flexibilidade no controle em tempo real de fluxo de potência, dentro dos novos conceitos de sistemas FACTS. O Statcom é, dentro de certos limites, o equivalente eletrônico do compensador síncrono ideal. Sua principal função é injetar corrente reativa no sistema de potência de forma controlada. Para fazer isso, é necessário que o STATCOM trabalhe como uma fonte de tensão controlada. O STATCOM possui, em sua composição básica, um inversor, um capacitor, um transformador e um sistema de controle, estando conectado ao sistema em paralelo, tal como é mostrado na Figura 4.2 [11] Figura 4.2 – Configuração básica do STATCOM 4.3. Filtro Ativo O filtro ativo é composto por elementos ativos que fornecem o conteúdo harmônico necessário a uma carga não-linear, limpando a rede da circulação destes harmônicos. Há dois tipos: paralelo e série. Estes filtros foram inicialmente propostos por Akagi: o filtro paralelo em 1984 e o filtro série em 1988, sendo este último em conjunto com filtro paralelo [12]. 51 4.3.1 . Filtro ativo paralelo De acordo com a figura 4.3, o filtro ativo paralelo é representado pelo inversor fonte de tensão e seu controle. Este inversor funciona com malha de controle e tem a função básica de “curto-circuitar” as correntes indesejadas, geradas pela carga [12]. Analisando de outra perspectiva, o filtro paralelo (ou shunt) irá fornecer as correntes harmônicas desejadas para o correto funcionamento da carga não-linear. Figura 4.3 – Filtro ativo paralelo Vale dizer que as correntes não desejadas, na maioria dos casos são harmônicos, mas podem, em alguns casos, ser correntes na freqüência fundamental (exemplo corrente reativa ou de desequilíbrio). Assim, o grande desafio no projeto de um filtro ativo paralelo baseado em conversores deste tipo, está na determinação instantânea da referência de corrente a ser sintetizada. 4.3.2. Filtro ativo série O filtro série é mostrado na figura 4.4. Nesta figura, a fonte de tensão está representada por uma fonte de tensão distorcida. O filtro ativo em série, entre a carga e a fonte, impede, desta forma que as parcelas não desejáveis de tensão sejam aplicadas na carga. Vale lembrar que o filtro ativo série não é capaz de eliminar harmônicos de correntes geradas pela carga uma vez que este filtro está inserido em série com esta carga. Este consiste no conceito dual do que o ocorre com o filtro paralelo. Para se ter esta compensação, tanto de tensão e corrente é necessário utilizar um filtro ativo série/paralelo [12]. 52 Figura 4.4 – Filtro ativo série 4.3.3. Filtro ativo série/paralelo Para a compensação simultânea da tensão e da corrente, há uma combinação de filtros ativos série/paralelo, a qual foi convencionada como UPQC (“Unified Power Quality Conditioner”) [12]. A figura 4.5 mostra uma situação típica para o emprego do UPQC. Este é um cenário onde se tem um grupo de cargas críticas, muitos sensíveis as distorções harmônicas e requerem um suprimento de energia de boa qualidade. Porém, estas cargas estão conectadas a um barramento onde se encontram outras cargas (iL), não lineares, geradores de alto conteúdo de correntes harmônicas e desbalanceadas. Além disso, admite-se que a tensão de suprimento (vs) deste barramento também seja desbalanceada e distorcida, independentemente destas cargas não lineares. O UPQC está inserido em paralelo, próximo a carga não-linear e em série com a tensão de suprimento, de tal forma que a tensão do filtro série vc compense a tensão vs e torne a tensão v senoidal e balanceada. Por outro lado, a corrente ic do filtro paralelo compensa os harmônicos e desbalanços da corrente iL, impedindo que estas componentes indesejadas da corrente fluam pelo sistema, distorcendo ainda mais a tensão de suprimento. Há ainda a possibilidade de haver filtros híbridos ativo/passivo. Duas possibilidades são existentes: ativo série / passivo paralelo e ativo paralelo / passive paralelo. 53 Figura 4.5 - UPQC - Filtros ativos série/paralelo 4.4. Caso Simulado No circuito simulado ( figura 4.1), o filtro passa-alta assume ser ideal e o filtro ativo atua como um resistor. Estritamente falando, o filtro ativo não age como uma pura resistência devido a uma característica de fase do filtro passa-alta. Melhoria das características de filtragem do sistema seriam estragadas especialmente se a menor freqüência estiver perto da frequência limite do filtro passa-alta. Por isso, o uso do filtro passa-alta, cuja frequência limite é muito inferior a menor freqüência, é preferível. Importante notarmos que a mais baixa frequência a ser considerada, é a fundamental . Por outro lado, variações de cargas são causas de flutuação. Se a frequência limite do filtro passa-alta é inferior a frequência de variação da carga, as saídas do filtro ativo irão gerar uma tensão fundamental para compensar a variação da carga, o que aumenta o crédito do filtro ativo. Assim, a frequência de corte do filtro passa-alta deve ser projetado para ser mais elevado do que a freqüência da variação de carga. Nas seguintes experiências, foi utilizado o filtro passa-alta com frequência de corte de f, = 10 Hz . K = 2, Ω = 1 pu, e uma única fase do retificador de diodo em ponte estava ligado ao capacitor dc para o fornecimento de comutação e condução das perdas o filtro ativo. A figura 4.6 mostra experimentos onde o filtro ativo não está ativado. Nota-se uma grande quantidade de quinta-harmônica na fonte de corrente. Na figura 4.7, o filtro ativo entra em ação e a fonte de corrente se tornou senoidal após o início. Os resultados das simulações mostrado nas figuras 4.6 e 4.7, concordam com os resultados dos gráficos mostrados nas figuras 4.8 e 4.9. Devido ao fato de que a saída de tensão do filtro ativo era cerca de 2,5 V, a avaliação exigida do filtro ativo foi de apenas 1,5% da harmônica produtora de carga. 54 Figura 4.6 – Simulação com o filtro ativo desligado Figura 4.7 - Simulação com o filtro ativo entrando em ação 55 Figura 4.8 – Gráfico da simulaçao com o filtro ativo desligado Figura 4.9 – Gráfico da simulação com filtro ativo em ação Espectros de frequência das fontes de correntes is e a tensão do terminal vT foram medidos antes e depois de ligar o filtro ativo. Apesar do quinto e sétimo harmônicos estarem contidos em is, antes de começar, eles foram eliminados após o filtro ativo entrar em ação. 56 4.5. Conclusão Para esta simulação, foi proposto um sistema combinado de um filtro passivo e um filtro ativo, que estão ligados em série. A teoria desenvolvida neste trabalho foi verificada analiticamente e experimentalmente. As características do sistema proposto estão resumidos a seguir: • As características de filtragem são independentes da fonte de impedância. • Ressonâncias paralela e em série entre a fonte e o filtro passivo pode ser amortecida pelo filtro ativo. • A avaliação exigida do filtro ativo utilizado nessas condições é muito menor que um filtro ativo convencional utilizado sozinho. Nas simulações, a avaliação exigida do filtro ativo é de apenas 1,5% de uma carga produtora de hamônica, porque o filtro passivo tem um maior fator de qualidade (Q = 50 - 100) e pode ser usado em sistemas práticos, a avaliação exigida do filtro ativo ligado em série seria reduzida de acordo com a proporção inversa da qualidade do fator do filtro passiva. 57 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foi apresentado, de forma sucinta, um assunto atual e de grande relevância para as empresas: o problema da qualidade de energia elétrica. Mercê da utilização crescente e generalizada de equipamentos de eletrônica de potência, que “poluem” os sistemas elétricos, e da necessidade de automatização dos sistemas de produção, que obriga cada vez mais a utilização de controladores eletrônicos, extremamente sensíveis ao meio electromagnético em que estão inseridos, a atenção dada a qualidade da energia elétrica é crucial tendo em vista a garantia da qualidade dos produtos e serviços e a redução dos custos de produção. Estudos realizados no Brasil comprovam que a maioria das empresas não têm as suas instalações elétricas preparadas para lidar com os problemas de qualidade de energia elétrica, tendo em vista a realidade dos equipamentos utilizados nos processos produtivos. Além disso, verificou-se que, na maior parte dos casos, os responsáveis pelas instalações elétricas nas empresas não associam os problemas que ocorrem na rede ao fato das instalações não estarem adequadas aos problemas de qualidade de energia a que estão sujeitas. Muitos dos problemas de qualidade de energia podem fazer com que alguns equipamentos funcionem de forma incorreta e levar a interrupção de processos de fábrica, acarretando em prejuízos muito elevados. Tais problemas podem ser resolvidos quando as suas causas são identificadas e se adotam as medidas apropriadas para a sua correção. . No momento encontram-se em execução projetos para o desenvolvimento de equipamentos para monitorização e compensação por filtros ativos de potência de problemas de qualidade de energia elétrica. Espera-se ainda poder realizar trabalhos de levantamento dos problemas de qualidade de energia em indústrias brasileiras. O grande desafio para futuros trabalhos, é a aplicação de dispositivos de controle capazes de atender as necessidades na correção dos distúrbios inerentes ao setor industrial, visto que haverá uma implementação cada vez maior na automatização do processo de produção. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Bergeron, R. et all. Análise da Norma IEC 1000-4-7 para Medição do Nível de Harmônicos. Eletricidade Moderna, No 266, pág. 125- 133, Maio 1996. [2] Bueno, A. F. M.; Ribeiro, T. N. “Problemas na Qualidade da Energia Suprida - Um Estudo de Caso, Diagnóstico e Proposta de Solução”, I Seminário Brasileiro de Qualidade da Energia Elétrica, Uberlândia, pp. 23-27, Junho 1996. [3] GCOI/SCEL/GTEE. “Critérios e Metodologias para o Atendimento a Consumidores com Cargas Especiais”, XII Seminário Nacional de produção e transmissão de energia elétrica, Recife, 1993. [4] Souza, S. A ;Oleskovicz, M; Coury, D. V. . Caracterização de componentes harmônicos em um sistema elétrico. VII CBQEE conferência brasileira sobre qualidade de energia elétrica, 2007, Santos –SP. [5] http://www.sorocaba.unesp.br/noticias/artigos/?a=38 - acessado em 26/03/2007 [6] Oliveira, J. C. (2000). Projeto SIDAQEE (2000). Qualidade da energia elétrica: definição e análise dos itens de qualidade. Cap. II, Universidade Federal de Uberlândia, Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Departamento de Engenharia Elétrica, Grupo de Qualidade e Racionalização da Energia Elétrica. [7] Agencia nacional de energia elétrica http:// www.aneel.com.br./ - acessado em 26/03/2007 [8] http://www.labplan.ufsc.br/sbqee - acessado em 27/03/2007 [9] http://www.sorocaba.unesp.br/noticias/artigos/?a=38 - acessado em 26/03/2007 [10] H. Fujita e H. Akagi,"Uma abordagem prática para compensação harmonica em power systems - Conexão da Série Passiva e Active Filters ", IEEE Trans.Em nd.Applications,vol.27,no.6,Nov/Dez 1991, pp. 1020-1025 Revisado por J. E. Nordstrom - setembro 2000. [11] Miguel, J. M; Henriques, Luis ; Aredes, Mauricio; Watanabe, Edson, “Simulação de um compensador síncrono estático de potência” Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE – Programa de Engenharia Elétrica [12] Watanabe, E. H e Aredes, M., Teoria de Potência Ativa e ReativaInstantânea e Aplicações – Filtros Ativos e FACTS, XII Congresso Brasileiro de Automática), Uberlândia, Brasil, Setembro 14-18, 1998. 59