Volume 2 Número 32 01 de outubro de 2004 GBETH Newsletter de Tumores Hereditários de Estudos o r i e l i s Uma o Bra publicação semanal do Grup Publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] Editor Erika Maria M Santos Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico Jose Cláudio C da Rocha Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Conselho Científico Beatriz de Camargo Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Paulo Eduardo Pizão Samuel Aguiar Jr Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos Câncer de Próstata Gustavo Cardoso Guimarães Departamento de Cirurgia Pélvica - Hospital do Câncer A.C. Camargo Carcinoma of the prostate: inherited susceptibility, somatic gene defects and androgen receptors Montironi R, Scarpelli M, Beltran AL Virchows Arch 2004;444:503-8 O câncer de próstata é a neoplasia mais freqüente em homens. Múltiplos fatores contribuem para o desenvolvimento do câncer de próstata: dieta, susceptibilidade hereditária, alterações em genes e em receptores androgênicos. Acredita-se que a hereditariedade esteja envolvida em 9% dos casos de câncer de próstata, entretanto, a identificação de genes de predisposição com alta penetrância é difícil. Em razão da idade avançada ao diagnóstico (mediana de 60 anos), a disponibilidade de duas gerações para estudos moleculares é limitada. A alta freqüência de câncer de próstata leva ao diagnóstico de casos hereditários que em realidade são fenocópias, casos esporádicos em famílias com altas taxas de câncer de próstata. Além disso, o câncer de próstata hereditário (HPC) não é associado a síndromes de predisposição ao câncer e não possui características clínicas e patológicas que permitam a distinção de tumores esporádicos. GENES ASSOCIADOS À SUSCEPTIBILIDADE HEREDITÁRIA AO CÂNCER DE PRÓSTATA O HPC é caracterizado por um padrão autossômico dominante de herança ou ligado ao X, com diagnóstico em idade precoce. A partir de agrupamentos familiares de câncer de próstata, grupos têm realizado análise Câncer de Próstata 2 de ligação para identificar genes candidatos. dano celular ou genômico. Os genes RNASEL Há pelo menos sete loci de susceptibilidade e MRS1 codificam proteínas que têm funções identificados em três cromossomos diferentes. A críticas na resposta do hospedeiro a infecções. região do cromossomo 1q24-25, designada como Mutações nestes genes podem reduzir a o locus do gene hereditary porstate cancer (HPC1), habilidade em erradicar infecções, o que leva a é o mais estudado, com resultados controversos, inflamação crônica. pois alguns estudos não demonstraram associação entre o HPC1 e o aumento no risco de POLIMORFISMOS câncer de próstata. Outros loci no cromossomo Talvez, o fenômeno mais importante 1 são o 1q42.2-q43 (predisposing for PCa ou PCaP) na susceptibilidade herdada ao câncer de e o 1p36 ( gene cancer, prostate and brain ou próstata seja o polimorfismo em genes de baixa CAPB). Também foram identificados loci nos penetrância. As vias que estão sob investigação cromossomos 16 (16q23.2), 17 (17p11 ou gene são as envolvidas na ação androgênica, reparo hereditary prostate cancer 2, também chamado de DNA, metabolismo de carcinógenos e ELAC2), 20 (20q13 ou HPC20) e no cromossomo inflamação. X (Xq27-28 ou HPCX). O gene de receptor de andrógeno (AR), As mutações envolvidas na iniciação do está localizado no cromossomo Xq11-12, e é câncer de próstata estão em genes envolvidos membro superfamília de receptor hormonal de com a resposta ao dano de DNA, apoptose e esteróides e hormônio tireoideano. É um fator de imunidade inata. Os tipos de alterações mais transcrição que media a ação do androgênio nas freqüentes são substituições de base, deleções e células prostáticas. O domínio aminoterminal inserções. contém um número variável de repetições de Os genes responsáveis por menos de 10% trinucleotídeos. A redução da atividade de dos HPCs são: RNASEL (um gene supressor transativação e a afinidade por androgênio são de tumor no locus 1q24-25); MSR1 (localizado associadas ao aumento no número de repetições. no cromossomo 8p22); CYP17 (localizado no Repetições CAG mais curtas têm sido associadas cromossomo 10q24.3, codifica o citocromo a risco aumentado de câncer de próstata. P450c17α, uma enzima que cataliza reações na síntese de esteróides sexuais); HPC2/ELAC2 (gene supressor de tumor); BRCA2 e o CHEK2 ALTERAÇÕES SOMÁTICAS E METILAÇÃO Muitas alterações somáticas, deleções (regulador do p53 na via de sinalização do dano gênicas, amplificações, rearrajos cromossômicos ao DNA). e alterações na metilação do DNA são detectáveis Aumento no risco de câncer de próstata tem sido associado a infecções sexualmente transmissíveis, independentemente do patógeno, o que sugere que a inflamação inicia a carcinogênese. As células inflamatórias liberam oxidantes microbiológicos que podem causar nas células neoplásicas ao diagnóstico. A Tabela 1 apresenta as alterações somáticas mais comuns observadas no câncer de próstata. Os genes GSTP1 e E-cadherin estão metilados no câncer de próstata. O GSTP1 protege as GBETH Newsletter 2004; v 2 n 32 Câncer de Próstata 3 células da próstata contra dano genômico crescimento ou citocinas podem causar ativação mediado por carcinógenos ou oxidantes. Está inapropriada dos AR. Fatores de crescimento hipermetilado em mais de 90% dos tumores de atuam como ligantes para receptores de tirosina próstata, evitando a expressão da proteína. O quinase e ativam cascatas de quinase intracelular. Tabela 1 - Alterações somáticas em câncer de próstata Gene Localização Alteração AMACR (Alpha-methylacyl-CoA racemase) 5p13.2 Expressão aumentada EZH2 (Enhancer of zeste homolog 2) 7q35 Expressão aumentada NKX3.1 (NK3 transcrption fator homolog A) 8p21 Expressão diminiuída KLF-6 (Kruppel-like factor 6) 10p15 Expressão diminiuída PTEN (Phosphatase and tensin homolog) 10q23.3 Expressão diminiuída KA11 11p11.2 Expressão diminiuída CDKN1B (Cyclin-dependent kinase inhibitor) 12p12 Expressão diminiuída RB (Retinoblastoma suceotibility gene) 13q Expressão diminiuída Hepsin 19q11-13.2 Expressão aumentada gene E-cadherin é considerado um supressor da Receptores de tirosina quinase podem estar invasão neoplásica e está metilado em 50% dos envolvidos na progressão do câncer de próstata. casos. A expressão reduzida do E-cadherin tem O receptor tirosina quinase Her2/Neu (também sido detectada em diversos tumores de próstata conhecido como erbB2) está expresso em níveis primários e metastáticos. baixos em células epiteliais. Alguns estudos demonstraram a superexpressão de Her2/ Neu em pacientes com câncer de próstata. A RECEPTORES DE ANDROGÊNIO (AR) Muitas alterações somáticas nos AR foram detectadas em tumores de próstata que progridem na vigência de tratamento hormonal. Mutações nos domínios de AR ou na amplificação no gene AR podem aumentar a sensibilidade aos androgênios. Níveis aumentados na proteína AR associados a amplificação do gene AR estão implicados no aumento da habilidade das células em utilizar baixos níveis de andrógenos produzidos pela glândula adrenal que ainda estão disponíveis após a instituição da terapia anti-androgênica. Mutações no AR pode levar às células a responder a esteróides e até anti-androgênios. superexpressão aumenta a ativação do AR na ausência de andrógenos. Além disso, o Her2/ Neu induz a expressão do PSA (prostate specific antigen), e está indução pode ser parcialmente inibida pelo bloqueio da via do peptídeo antígeno múltiplo (MAP). CONCLUSÕES O conhecimento sobre as alterações genéticas no câncer de próstata tem aumentado. Os objetivos atuais são encontrar ligações entre fatores genéticos e ambientais e definir alvos para detecção, diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. Alterações na expressão ou função em vias regulatórias que envolvem fatores de GBETH Newsletter 2004; v 2 n 32