Estudo da atividade antimicrobiana do óleo essencial de Eugenia involucrata Adrieli Gorlin Toledo (PIBIC/CNPq/Unioeste), Fabiana Gisele da Silva Pinto (Orientador), Juliete Gomes de Lara de Souza, Camila Beatriz Santana, e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde/Cascavel, PR. Ciências Biológicas/Microbiologia Palavras-chave: Concentração Inibitória Mínima (CIM), Concentração Bactericida Mínima (CBM), Produtos naturais. Resumo A flora brasileira é considerada uma das mais abundantes em biodiversidade, sendo vista como um vasto meio para obtenção de recursos naturais. Em vista disso, a valorização e conservação das espécies vegetais, o aumento da resistência bacteriana e a incidência de patógenos na saúde pública, tem impulsionado estudos com produtos naturais, tais como os óleos essenciais. Diante disso, este trabalho objetivou avaliar os componentes químicos e a atividade antimicrobiana do óleo essencial da espécie Eugenia involucrata (cerejeira-do-mato) frente à diversas cepas microbianas. Para execução dos ensaios experimentais, foram utilizados microrganismos padrões identificados e para a determinação da atividade antimicrobiana foi feita a Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM). Os resultados comprovaram que o óleo essencial das folhas de E. involucrata, apresentou atividade antimicrobiana para três bactérias Gram-positivas: o Staphylococcus epidermidis com CIM e CBM nas concentrações de 109 µg/mL, para Enterococcus faecalis com CIM de 3500 µg/mL e CBM de 7000 µg/mL e o Bacillus subtilis com CIM de 27 µg/mL e CBM de 54 µg/mL. Na caracterização química foram identificados 21 compostos, todos sesquiterpenos. Os compostos em maior quantidade são o Elixeno (isômero Elemeno) (36,55%), (-)Espatulenol (14,09%), Germacreno D (9,05%) e β-Cariofileno (6,24%), muito comuns dentro desse gênero e que podem ser considerados como potenciais antimicrobianos. Introdução A flora brasileira se apresenta como uma das mais abundantes em biodiversidade de espécies vegetais, tornando o país pioneiro na busca por princípios ativos, para fins terapêuticos, principalmente devido ao aumento da resistência microbiana. Nesse seguimento, investigações com plantas medicinais são indispensáveis no meio cientifico, sendo considerados os óleos essenciais uma alternativa viável aos problemas de saúde e na indústria alimentícia, bem como promissores em estudos relacionados à ação antimicrobiana (Oliveira et al., 2012; Bassolé & Juliani, 2012). Na investigação de plantas nativas, a família Myrtaceae, tem como um de seus maiores representantes o gênero Eugenia, o qual compreende cerca de 400 espécies distribuídas por todo o Brasil. Uma das características da família é a presença de compostos bioativos, bem como a produção de óleo essencial. A espécie Eugenia involucrata é uma planta nativa, popularmente conhecida por cerejeira-do-mato e cereja-do-rio-grande. Essa espécie é muito utilizada no setor econômico devido à presença de frutos comestíveis, como também na recuperação de áreas degradas. Na medicina popular, suas folhas são aproveitadas na forma de chás, com ação antidiarreica e digestiva. (Marin et al., 2008; Sobral et al., 2015). Tendo em vista, a importância em estudar espécies nativas para fins terapêuticos, principalmente para validação cientifica e como alternativa para a decorrente resistência bacteriana, essa pesquisa tem como objetivo investigar a atividade antimicrobiana do óleo essencial da espécie E. involucrata. Material e Métodos A coleta das folhas de E. involucrata foi realizada no parque ecológico Paulo Gorski, localizado no município de Cascavel, região oeste do estado do Paraná. Para obtenção do óleo essencial a partir das folhas frescas, utilizou-se o equipamento tipo Clevenger através da metodologia padrão de arraste por vapor d’água. Os constituintes do óleo essencial de E. involucrata foram identificados por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (GC-MS) e pela determinação do índice de retenção Kovats (KI). A determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM) foi realizada segundo a metodologia de microdiluição em caldo, descrita por Weber et al. (2014) e utilizou-se os microrganismos padrões: Bacillus subtilis (CCCD B005), Enterococcus faecalis (ATCC 19433), Escherichia coli (25922), Klebsiella pneumoniae (ATCC 13883) Proteus mirabilis (ATCC 25933), Pseudomonas aeruginosa (ATTC 27853), Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Staphylococcus epidermidis (ATCC 12228) e Salmonella Enteritidis ATCC 13076). As concentrações testadas do óleo essencial variaram de 7.000µg/mL a 1,68 µg/mL. Os ensaios foram realizados em triplicata. Resultados e Discussão O óleo essencial de E. involucrata não apresentou atividade antimicrobiana frente as bactérias Gram-negativas testadas. Contudo, apresentou efeito inibitório e bactericida para as bactérias Gram-positivas: S. epidermidis, E. faecalis e B. subtilis, com exceção do S. aureus. Dentre as concentrações do óleo essencial testadas, o S. epidermidis apresentou CIM e CBM na concentração de 10 9 µg/mL, o E. faecalis com CIM de 3500 µg/mL e CBM de 7000 µg/mL e o B. subtilis com CIM de 27 µg/mL e CBM de 54 µg/mL. Uma característica de óleos essenciais é sua composição hidrofóbica, a qual consegue desestruturar os lipídios da membrana celular microbiana, tornando-a permeável e promovendo a perda do conteúdo celular interno, bem como promovendo alterações nos sistemas enzimáticos que envolvem produção de energia e síntese de compostos estruturais pela célula ou também por inativação e destruição do seu material genético (Burt, 2004). O óleo essencial de E. involucrata não apresentou atividade inibitória e bactericida para as bactérias Gram-negativas: S. Enteritidis, K. pneumoniae, P. mirabilis e P. aeruginosa e para a Gram-positiva: S. aureus. Diante disso, pode-se observar em nosso estudo que bactérias Gram-positivas são mais susceptíveis a ação antimicrobiana que bactérias Gram-negativas, com exceção de S. aureus. Segundo Tadeg et al. (2005) este fato pode estar relacionado a presença de uma membrana fosfolipídica externa, quase impermeável a compostos lipofílicos em bactérias Gram-negativas, enquanto que bactérias Gram-positivas não contém essa barreira adicional e embora apresentem uma parede celular com maior espessura, está não é tão complexa, sendo predominantemente composta por peptideoglicanos, permitindo assim um contato direto do óleo essencial com a parede celular bacteriana. A análise dos componentes químicos do óleo essencial de E. involucrata (Tabela 1), foi realizada por GC-MS e revelou a presença de sesquiterpenos, grupo muito comum em óleos essenciais. No total foram identificados 21 compostos todos sesquiterpenos, contabilizando 91,97% do óleo essencial, sendo os existentes em maior quantidade: Elixeno (isômero Elemeno) (36,55%), (-)-Espatulenol (14,09%), Germacreno D (9,05%) e β-Cariofileno (6,24%). Tabela 1 – Composição química do óleo essencial das folhas da espécie E. involucrata. Nº Composto TR Área (%) IK Sesquiterpenos hidrocarbonetos 69,96 1 2 3 4 5 6 -Cubebeno - Copaeno -Bourboneno -Elemeno -Gurjuneno -Cariofileno** 25,83 27,05 27,39 27,67 28,37 28,88 0,38 1,76 1,06 1,50 0,59 6,24 1343 1371 1379 1385 1401 1419 IK* 1345 1374 1380 1392 1407 1418 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 -Copaeno -Cariofileno Aromadendreno Germacreno D** -Selineno Elixeno (isômero Elemeno)** -Muuroleno -Cadineno -Cadineno Sesquiterpenos oxigenados -Elemeno -Muuroleno (-)-Espatulenol** Globulol -Cadinol Outros NI Total de Sesquiterpenos Total de compostos 29,32 30,38 30,55 31,44 31,84 32,04 32,18 32,75 32,97 1,63 1,34 3,19 9,05 2,03 36,55 0,44 1,18 3,02 1424 1450 1454 1476 1485 1490 1494 1508 1513 1428 1454 1456 1480 1486 1500 1512 1523 25,32 31,21 35,25 35,58 38,25 20,19 2,95 1,71 14,09 1,07 0,37 1331 1470 1572 1580 1651 1339 1476 1577 1583 1656 1432 - 29,65 1,82 1,82 90,15 91,97 NI: não identificado; **Compostos Majoritários; TR: Tempo de Retenção; IK: valores dos Índices de Kovats calculados; IK*: valores dos Índices de Kovats encontrado na literatura. Os óleos essenciais são produtos naturais com grande potencial biológico, dentre os compostos presentes no óleo essencial de E. involucrata, o β-Cariofileno, um componente comum nessa planta tem como função defesa contra microrganismos (Al-bayati, 2008). Portanto, propõe-se que a atividade antimicrobiana frente ao S. epidermidis, E. faecalis e B. subtilis presente no óleo essencial de E. involucrata esteja relacionada a este composto. Apesar dos vários estudos relacionando a atividade antimicrobiana com os compostos presentes em maior quantidade no óleo essencial (Espatulenol, Germacreno D e β-Cariofileno), devem-se considerar as possíveis ações sinérgicas ou antagônicas que os óleos apresentam (Burt, 2004). Ressalta-se que estudos detalhados devem ser feitos afim de determinar o potencial biológico de compostos isolados presentes no óleo, bem como dos efeitos sinérgico ou antagônico que os mesmos podem apresentar. Conclusões O óleo essencial das folhas de E. involucrata apresentou atividade antimicrobiana para a maioria das bactérias Gram-positivas (S. epidermidis, E. faecalis e B. subtilis), com exceção da S. aureus e das bactérias Gram-negativas. O óleo apresentou melhor resultado de CIM e CBM frente ao B. subtilis. Na caracterização do óleo essencial foram identificados 21 compostos, todos sesquiterpenos, sendo 15 compostos pertencentes ao grupo de sesquiterpenos hidrocarbonetos e 5 pertencentes aos sesquiterpenos oxigenados. Os compostos encontrados em maior quantidade foram o Elixeno (isômero Elemeno) (36,55%), (-)Espatulenol (14,09%), Germacreno D (9,05%) e β-Cariofileno (6,24%), muito comuns dentro desse gênero e que podem ser considerados como potenciais antimicrobianos. Agradecimentos Ao CNPq. Referências Al-bayati, F.A. (2008). Synergistic antibacterial activity between Thymus vulgaris and Pimpinella anisum essential oils and methanol extracts. Journal of Ethnopharmacology 116, 403–406. Bassolé, I.H.N. & Juliani, H.R. (2012). Essential oils in combination and their antimicrobial properties. Molecules 17, 3989-4006. Burt, S. (2014). Essential oils: their antibacterial properties and potencial applications in foods – a review. International Journal of Food Microbiology 94, 223- 253. Oliveira, V.B., Yamada, L.T., Fagg, C.W. & Brandão, M.G.L. (2012). Native foods from Brazilian biodiversity as a source of bioactive compounds. Food Research International 48, 170-179. Marin, R., Apel, M.A., Limberger, R.P., Raseira, M.C.B., Pereira, J.F.M., Zuanazzi, J.Â.S. & Henriques, A.T. (2008). Volatile components and antioxidant activity from some myrtaceous fruits cultivated in Southern Brazil. Latin American Journal of Pharmacy 27, 172-177. Sobral, M., Proença, C., Souza, M., Mazine, F. & Lucas, E. (2015). Myrtaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB10338. Acesso em 7 de Maio de 2015. Tadeg, H., Mohammed, E., Asres, K., Gebre-Mariam, T. (2005). Antimicrobial activities of some selected traditional Ethiopian medicinal plants used in the treatment of skin disorders. Journal of Ethnopharmacology 100, 168-175.