XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. A CONCORDÂNCIA EM SENTENÇAS EXISTENCIAIS: UMA ANÁLISE DIACRÔNICA Iane Siqueira Correia1 e Marcelo Amorim Sibaldo 2 Introdução As sentenças aqui estudadas, as existenciais, são sentenças que selecionam apenas um argumento e que fazem parte da classe dos verbos inacusativos. Sabendo disto, buscamos verificar como se dá a concordância entre o Sintagma Nominal-argumento e esse tipo de verbo diacronicamente, fazendo um levantamento descritivo dos aspectos históricos dos verbos existenciais ser, haver e ter, tendo como ponto de partida recortes teóricos de pesquisas que se referem ao processo de concordância nesse tipo de verbo, bem como o corpus que dará fundamentação a nossa pesquisa, a ser explicitado na próxima seção. Para a análise dos dados levaremos em consideração a chamada Sociolinguística Paramétrica, ou seja, para a quantificação e tratamento dos dados, faremos uso da Sociolinguística Variacionista (cf. LABOV, 1972) e, para a análise teórica dos dados, faremos uso da teoria gerativista de Princípios & Parâmetros (cf. CHOMSKY, 1981 e 1986). Materiais e métodos Para a execução desta pesquisa fizemos uma coleta dos verbos existenciais em 119 documentos, entre eles, atas e cartas, oficiais e particulares, dos séculos XVIII, XIX e XX, do corpus do projeto nacional Para História do Português Brasileiro (PHPB), da equipe regional de Pernambuco, sob a coordenação da Professora Valéria Gomes (UFRPE), com materiais cedidos pelos Professores Cleber Ataíde (UFRPE) e Marlos Pessoa (UFPE) e do corpus cedido pela Prefeitura Municipal de São José do Belmonte/PE que fazem parte do Projeto da UFRPE Português: História e Descrição (PHD), coordenado pelo Professor Marcelo Sibaldo. O aparato teórico que embasa esta pesquisa é a teoria gerativa, em seu modelo de Princípios e Parâmetros (cf. CHOMSKY, 1981 e 1986), e, para quantificação de dados, utilizaremos a teoria da variação e mudança linguística (cf. LABOV, 1972). Resultados e Discussão De acordo com a teoria gerativa, todas as línguas buscam preencher a posição de sujeito com a checagem do traço EPP (Princípio de Projeção Estendido), que exige que a posição de sujeito [Spec, IP] seja preenchida. Sendo assim, buscamos, através desta pesquisa, identificar a forma com que o português brasileiro (PB) satisfaz o EPP nos verbos existenciais, tendo em vista que todas as sentenças de todas as línguas devem possuir a posição de sujeito projetada. Em relação à concordância morfologicamente visível desses verbos do PB com seu argumento, o que se tem descrito, dentro do quadro teórico da Gramática Gerativa, pode ser resumido da seguinte forma: se o sintagma de determinante (DP), argumento de um inacusativo, receber nominativo em [Spec, IP], a concordância é realizada, mas se não houver alçamento para atribuição de caso nominativo, não haverá concordância, como em (a) Uns homens chegaram e (b) Chegou uns homens, respectivamente. Dessa forma, no PB, o que se assume é que a concordância depende da realização do movimento de alçamento do DP-argumento em busca da atribuição de Caso. Dessa forma, a atribuição de Caso está “correlacionada quer com a concordância, quer com as restrições sobre Definitude3.” (cf. NASCIMENTO & KATO, 1995). Estando assim, a concordância 1 O primeiro autor é graduanda em Licenciatura em Letras. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, PE. E-mail: [email protected] 2 O segundo autor é orientador deste trabalho e Professor Adjunto do curso de Licenciatura em Letras, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Unidade Acadêmica de Serra Talhada, PE. E-mail: [email protected] 3 Trata-se do Efeito de Definitude que consiste no fato de que a posição pós-verbal de sentenças existenciais só aceitam a presença de sintagmas nominais (SN) indefinidos. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. correlacionada à ordem S(ujeito)-V(erbo) ou V(erbo)-S(ujeito), ou seja, se a ordem for SV, o sujeito estaria em [Spec, IP] e ocorreria alçamento para checagem de Caso nominativo, e se a ordem for VS, devido às restrições de Definitude, o Verbo atribui o Caso partitivo ao seu argumento, que permanece in situ (cf. BELLETTI, 1988). No entanto, foi verificado nos nossos dados que, diferentemente de verbos inacusativos (apesar de compartilharem a mesma estrutura sintática), há uma diferença constatada no PB, no sentido de que, em construções existenciais, há o uso categórico do argumento in situ. Isso pode ser explicado pelo fato de essas sentenças não selecionarem um DP sujeito, mas sim, um pro expletivo, e, assim, não atribuiriam Caso nominativo a nenhum DP visível, já que o pro possui traços de 3ª pessoa do singular, por default. Como falado anteriormente, só haveria concordância morfologicamente visível com o DP pós-verbal, se houvesse o alçamento do DP-argumento para [Spec, IP], a fim de que possa haver a atribuição de Caso. Se o sintagma determinante (DP), argumento de um existencial, receber nominativo em Spec/IP, a concordância é realizada, mas se não houver alçamento para atribuição de Caso, não haverá concordância, o que foi o caso das construções analisadas, veja um exemplo: (1) seprohibe haver negras captivas regateyras de fazendas secas... (Século XVIII) No exemplo acima não há concordância entre verbo e sujeito, ficando assim o verbo impessoal. Dentre os dados analisados, apenas uma ocorrência com o verbo ser apresentou concordância entre o verbo e o sujeito, como é mostrado na Tabela 1 uma perspectiva geral da concordância nesses séculos. Ao verificar as construções encontradas, observamos que a satisfação de EPP, nesses casos impessoais, se dá a partir de um sujeito expletivo nulo. Com isso, percebemos que, de fato, toda língua busca satisfazer de alguma forma o EPP. No entanto, em relação ao verbo haver, o PB, assim como o inglês, tende a usar expletivo em [Spec, IP]. Todos os verbos de existência supõem um constituinte locativo, participando da eventualidade que esses verbos expressam. Nas construções em que o locativo se encontra realizado, este pode estar posicionado antes do verbo (cf. (2)), geralmente iniciando a oração, ou depois dele, em posição pós-verbal (cf. (3)), como em: (2). ... actualmente não ha vaga no respectivo quadro... (3) Fiz um retiro aqui no Itaquí li que tem coisas bem interessantes... (século XX) De forma geral, então, assumimos a proposta de Ribeiro (1996), que admite que o argumento interno dos verbos existenciais é expresso por uma Small Clause (SC), com sujeito e predicado, pois, como não há o alçamento do DP argumento para a atribuição de Caso, um pro expletivo ocupa a posição de sujeito [Spec, IP], ficando assim impessoal. Baseando-nos pela estrutura proposta por Ribeiro (1996), as construções existenciais teria a seguinte estrutura sintática: (4) [IP pro hai [VP ti [SC vaga no respectivo quadro]]] Recapitulando, segundo Ribeiro (1996, p. 357), as SCs selecionadas por estes verbos tem “valor semântico aspectual” e são auxiliares verbais, consequentemente, não atribuem papel temático de Agente, Tema ou Origem. Assim, verificamos também que, nesses verbos (NASCIMENTO & KATO, 1995 apud LYONS, 1977), o argumento interno das existenciais será uma pequena oração. Em relação ao Sintagma de Determinante (DP) pós-verbal, assumimos a proposta de Belletti (1988), que sustenta que há atribuição de Caso partitivo aos argumentos pós-verbais dos verbos inacusativos, no caso aqui, os existenciais. Com isso, adotamos aqui que a ordem [V DP] pode ser explicada através desta proposta. Agradecimentos Agradeço ao CNPq/UFRPE pela credibilidade e apoio financeiro concedido durante três anos de minha pesquisa. Referências BELLETTI, A. The case of unaccusatives. Linguistic Inquiry, 19, 1988 CHOMSKY, N. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris, 1981. CHOMSKY, N. Knowledge of Language: Its Nature, Origin and Use. New York: Praeger, 1986. LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia, University of Pennsylvania Paress, 1972. LYONS, J. Semantics. Cambridge University Press, Cambridge. V.1. 1977. NASCIMENTO & KATO, M. O Estatuto dos Nominais Pós-Verbais dos Verbos Inacusativos. Revista Est. Ling., Belo Horizonte, ano 4, v.1, p. 31-74, jan./jun. 1995. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. RIBEIRO, I. A formação dos tempos compostos: a evolução histórica das formas TER, HAVER E SER. In: Tabela 1. Quantitativo da concordância das existenciais