ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE HEMANGIOSSARCOMA EM

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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA
ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE HEMANGIOSSARCOMA EM
CÃES
MARIANA ROVEGNO
Campinas
2012
ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE HEMANGIOSSARCOMA EM
CÃES
MARIANA ROVEGNO
Campinas
2012
Monografia
apresentada
ao
Instituto
Homeopático
Jacqueline Peker, como parte integrante do Curso de
Especialização em Acupuntura Veterinária.
Orientador: Prof. José Eduardo Silva Lobo Junior
2
Agradeço em especial ao querido Professor Eduardo Lobo, sem o qual eu não teria compreendido a
Medicina Tradicional Chinesa, e cujos ensinamentos teóricos e práticos fizeram minha formação e
esse trabalho possíveis.
Agradeço a todos os meus professores de acupuntura, por terem aberto meus olhos a essa medicina
encantadora, tendo sempre muita paciência e disposição com minhas infinitas perguntas.
Agradeço a minha família, por ter dado apoio e acreditado nessa minha vontade de expandir os
horizontes da profissão.
Agradeço ao meu querido esposo, que teve a paciência de esperar por mim em todos os momentos em
que me dediquei a esse trabalho, privando-o do nosso convívio.
Agradeço a todos aqueles que foram meus pacientes, e a todos aqueles que ainda serão.
E por fim, agradeço à cadela Oli, objeto do relato do caso a seguir, pelo seu carinho, delicadeza e
submissão, que tornaram possíveis o seu tratamento e o meu aprendizado.
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RESUMO EM PORTUGUÊS
ROVEGNO, MARIANA. Acupuntura no tratamento de hemangiossarcoma em cães. Campinas, 2012,
57 páginas.
Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto
Homeopático Jacqueline Peker, Campinas – SP.
O hemangiossarcoma é um tipo de câncer que acomete cães mais frequentemente que outras espécies.
Trata-se de um câncer altamente agressivo, com alto índice de ocorrência de metástases. O tumor
primário pode ocorrer na maioria das vezes no Baço, mas também pode estar localizado na pele ou em
outros órgãos. A terapia indicada é a cirurgia e, quando for possível a completa excisão, pode tratar-se
de uma terapia curativa. A quimioterapia é sempre indicada pelo alto índice de metástases e recidivas,
mas também apresenta índices significativos de cura. Não foram encontrados relatos na literatura
internacional sobre o uso da Acupuntura no tratamento do hemangiossarcoma, de forma que o
acupunturista se utiliza da identificação do padrão e de técnicas como fortalecimento da essência,
desestagnação de Qi e sangue, retirada de umidade e re-equibrio do organismo e órgãos acometidos
como estratégia terapêutica Nesse trabalho foi relatado um caso do uso de Acupuntura associada à
fitoterapia e ao uso de Viscum Album injetável como terapia no tratamento de hemangiossarcoma em
uma cadela Whippet de 8 anos de idade. Após a avaliação de 5 meses de tratamento, as lesões de pele
não aumentaram em número e tamanho, houve remissão de formações aparentemente císticas no
fígado e manutenção do bem estar geral do animal sem qualquer agravamento de sinais clínicos.
Observou-se que o uso da Acupuntura pode ser usado no tratamento de hemangiossarcoma canino,
mas a literatura mundial ainda carece de mais estudos e relatos do uso da acupuntura nessa patologia.
4
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 6
2.
OBJETIVOS .................................................................................................................................... 7
3.
REVISÃO DE LITERATURA (MEDICINA CONVENCIONAL -OCIDENTAL) ...................... 8
4.
3.2.
Etiologia .................................................................................................................................. 8
3.2.
Fisiopatologia e Diagnóstico ................................................................................................... 9
3.3.
Tratamento ............................................................................................................................ 12
3.4.
Prognóstico ............................................................................................................................ 13
REVISÃO DE LITERATURA (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA) ............................... 15
4.1
Etiologia e Fisiopatologia ...................................................................................................... 15
4.2.
Evolução, Sinais Clínicos e Diagnóstico ............................................................................... 18
4.3.
Tratamento ............................................................................................................................ 18
5.
RELATO DE CASO ..................................................................................................................... 25
6.
DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 42
7.
CONCLUSÃO............................................................................................................................... 44
8.
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 45
5
1.
INTRODUÇÃO
O hemangiossarcoma canino é um câncer do tecido endotelial dos vasos sanguíneos. Atinge
inicialmente o baço na maioria dos casos, mas também pode ter o coração, pele e outros órgãos
como sítios primários (Lawall et al. 2008 e Canine Cancer Awareness Inc.).
A incidência desse tipo de câncer é muito maior na espécie canina que em humanos ou outras
espécies animais (Lawall et al., 2008).
É uma doença de alta malignidade e com alta ocorrência de metástases por todo o organismo,
apresentado índices significativos de morbidade e mortalidade (Lawall et al. 2008).
O diagnóstico geralmente se dá quando a doença encontra-se em estágio avançado, e já existem
metástases instaladas, o que diminui a eficácia do tratamento cirúrgico e quimioterápico
convencional (Moroz et al. 2007). Figueira et al. (2012) relata que em 80% dos casos de
hemangiossarcoma em cães, já existem metástases no momento do diagnóstico.
Pela ausência de alternativas eficazes na medicina convencional, os proprietários e veterinários têm
buscado na Medicina Tradicional Chinesa um auxílio e uma esperança para os cães acometidos por
essa patologia.
6
2.
OBJETIVOS
Esse trabalho tem por objetivo discutir o tratamento de hemangiossarcoma em cães a luz da Medicina
Tradicional Chinesa, estabelecendo paralelo com a medicina convencional ocidental e culminando no
relato de um caso de hemangiossarcoma em cão tratado com Acupuntura.
7
3.
REVISÃO DE LITERATURA (MEDICINA CONVENCIONAL -OCIDENTAL)
3.2.
Etiologia
O hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna de células do endotélio vascular (Ferraz et al., 2008).
Também pode ser conhecido por hemangiotelioma ou angiossarcoma (Ferraz et al., 2008).
Os tumores primários desse tipo de câncer aparecem geralmente primeiro no baço, seguido de átrio
direito, tecido subcutâneo e fígado (Figueira et al., 2012). Outras localizações primárias podem ser
observadas como músculos, ossos, cavidade oral, língua, intestinos, peritônio, aorta, pulmão, rim,
bexiga, próstata, vulva, vagina e conjuntiva, mas ocorrem em menos de 1% dos casos (Ferraz et al.,
2008; Withrow e Macewen, 2001).
A Prevalência do hemangiossarcoma é de 0,3% a 2% dentre todos os tumores que atingem os cães
(Figueira et al., 2012), e ocorre mais nessa espécie que em qualquer outra, quer seja humana ou animal
(Lawall et al., 2008, Ferraz et al., 2008). Segundo Withrow e Macewen, 2001, o hemangiossarcoma
representa 5% de todos os tumores malignos não cutâneos do cão, 12 a 21% de todos os neoplasmas
mesenquimais, e 2,3% a 3,6% de todos os tumores de pele. Aproximadamente 45% a 51% dos
tumores malignos de baço também são hemangiossarcomas (Withrow e Macewen, 2001).
A forma cutânea representa 14% de todos os casos de hemangiossarcoma e menos de 0,2% de todas as
neoplasias malignas (Marcasso et al., 2010).
Os indivíduos mais predispostos parecem ter entre 8 e 13 anos de idade (Ferraz et al., 2008), entre as
raças, as de grande porte, entre elas o Pastor Alemão, Golden Retriever, Boxer, Dálmata, Beagle,
Basset Hound e Pointer Inglês parecem ser mais comumente acometidos (Ferraz et al., 2008 e Figueira
et al., 2012). A ocorrência de qualquer forma de hemangiossarcoma é rara em cães jovens (Schultheis,
2004).
As causas são desconhecidas, no entanto alguns autores relacionam a ocorrência da forma cutânea à
exposição aos raios ultravioleta do sol, de forma crônica, nas partes do corpo com menor pigmentação
e/ou pêlos claros, sendo que raças como Beagle, Bulldogs brancos, Pointer Inglês, Whippets, Pit Bulls,
Boxers, Greyhounds e Dálmatas foram relatadas como as mais susceptíveis, no entanto as raças
Poodle e Pastor Alemão parecem ser mais frequentemente acometidas (Ferraz et al., 2008; Figueira et
al., 2012 e Marcasso et al., 2010). De forma geral, os animais de pêlo curto e pele clara são mais
8
predispostos, com localização mais comum no tórax e abdômen ventral (Figueira et al., 2012;
Withrow e Macewen, 2001).
Estudos em humanos e cães demonstraram que a expressão de fatores de crescimento de endotélio
vascular, de fibroblasto, angiopoietina-1 e seus receptores estão aumentados em pacientes com
hemangiossarcoma (Withrow e Macewen, 2001).
Frequentemente são observados rupturas e sangramentos, sendo essas as causas dos sintomas mais
severos, podendo levar o animal à morte súbita quando os sangramentos ocorrerem em grande
quantidade nas cavidades torácica ou abdominal (Ferraz et al., 2008).
As metástases são frequentes nesse tipo de câncer por sua natureza agressiva. A disseminação das
células cancerígenas é facilitada pela via hematógena e pode ocorrer implantação transabdominal
(Ferraz et al., 2008). Segundo Ferraz et al. (2008), as metástases mais comuns ocorrem em fígado,
omento, mesentério e pulmões, mas qualquer tecido pode ser afetado, incluindo coração, pele (Ferraz
et al., 2008), cérebro (Withrow e Macewen, 2001) e coluna vertebral (Figueira et al., 2012).
Marcasso et al. 2010 relataram um caso de um cão com hemangiossarcoma primário em região dorsal,
com infiltração tumoral em vértebras lombares com compressão medular. O animal foi eutanasiado
pela impossibilidade de retirada do tumor. Ao exame histopatológico da massa, verificou-se a
presença de células de elevada anaplasia, fusiformes e dispostas em lúmens, com pequena quantidade
de hemácias em seu interior e figuras de mitose frequentes, classificando-se o tumor como
hemangiossarcoma. O hemangiossarcoma ósseo tem tendência mais lítica que proliferativa.
3.2.
Fisiopatologia e Diagnóstico
O diagnóstico baseado nos sinais clínicos é bastante dificultado, pois esses são geralmente
inespecíficos e dependem da localização do tumor e das metástases (Ferraz et al., 2008 e Withrow e
Macewen, 2001). Segundo Ferraz et al., 2008, podem ser observados sintomas como fraqueza,
abdômen distendido, pulso e respiração aumentados, mucosas pálidas e perda de peso. Os episódios de
fraqueza comumente duram horas ou até mesmo dias até o restabelecimento do cão. Com frequência
os animais apresentam ascite. Em caso de acometimento cardíaco, pode haver efusão pericárdica e
tamponamento cardíaco com diminuição do fluxo do retorno venoso. A auscultação fica abafada,
podendo ocorrer arritmia e sinais de falha cardíaca direita. Os animais podem apresentar colapso ou
intolerância evidente ao exercício, podendo ocorrer morte súbita.
9
As lesões na pele podem ter coloração acinzentada ou vermelho escura, aparência nodular,
consistência macia, ausência de cápsula ou úlcera e estar na derme ou infiltrado no tecido adjacente
(Marcasso et al., 2010). Ferraz et al. (2008) relatam que os nódulos cutâneos são geralmente discretos,
firmes, elevados, na forma de pápula vermelha escura ou roxa, nódulos ou massas subcutâneas
hemorrágicas. Em geral não se observa ulceração e tumores mais agressivos podem afetar a
musculatura, provocando claudicação aguda, inchaço rígido do músculo e edema distal. Pela sua
aparência, as lesões cutâneas podem ser facilmente confundidas com hematomas traumáticos
(Withrow e Macewen, 2001).
No caso dos tumores viscerais, as hemorragias intracavitárias ou hemólise microangiopática podem
causar anemia regenerativa normocítica normocrômica caracterizada por policromasia, anisocitose,
hipocromasia, reticulositose e presença de hemácias nucleadas no sangue periférico (Ferraz et al.,
2008). A ocorrência de vasos neoplásicos tortuosos e a malha de fibrina que são observadas nesses
tumores podem causar a fragmentação dos eritrócitos (Lawall, 2008). Pode ser ainda identificada
leucocitose neutrofílica, no entanto, a anemia é o achado hematológico mais comum (Ferraz et al.,
2008). A presença de neutrófilos imaturos e eritrócitos nucleados no sangue periférico é
frequentemente observada e também pode estar presente nos pacientes com anemia hemolítica
imunomediada, que ocorrem devido à hemorragia ou necrose do tumor, hemólise intravascular ou
inflamação associada à neoplasia. A ocorrência de acantócitos e esquistócitos também está associada
ao hemangiossarcoma (Lawall, 2008).
Também podem ocorrer hemorragias espontâneas, trombocitopenia e coagulação intravascular
disseminada (Ferraz et al., 2008 e Withrow e Macewen, 2001). Segundo Ferraz et al. (2008), a
trombocitopenia pode ser observada em 30 a 60% dos cães com HSA. Já Withrow e Macewen (2001)
descrevem que a trombocitopenia pode ser identificada em 75% a 97% dos casos. As causas de
hemácias nucleadas no sangue incluem infiltração de células malignas na medula óssea, hematopoiese
extramedular, hipoxemia e hipoesplenismo associado com infiltração neoplásica (Ferraz et al., 2008).
A bioquímica hepática mostra-se inespecífica, podendo apresentar sinais de hipoalbuminemia,
hipoglobulinemia e elevação das enzimas hepáticas (Withrow e Macewen, 2001).
Exames de ultrassonografia e Raio X podem evidenciar massas em tórax e abdômen, imagens
inespecíficas para os diversos tipos de tumores (Withrow e Macewen, 2001).
Nos casos de tumores no coração, o exame de eletrocardiograma pode evidencias sinais compatíveis
com efusão pericárdica como diminuição na amplitude do sistema QRS e alternância elétrica
(Withrow e Macewen, 2001).
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O diagnóstico definitivo é dado através do exame histopatológico com material de biópsia ou excisão
das lesões ou do tumor primário ou metástase (Withrow e Macewen, 2001; Ferraz et al. 2008) . Se o
exame histopatológico não for conclusivo, deve-se recorrer à imunohistoquímica, corando a amostra
com antígeno relacionado ao fator VIII, específico de células epiteliais (Ferraz et a., 2008).
Os dados histopatológicos, juntamente com os dados clínicos e dos exames de imagem, permitem
obter o estadiamento do tumor, conforme escala internacional TNM (Brasil, 2004) adaptado por
Withrow e Macewen (2001) especificamente para hemangiossarcomas:
T - Tumor Primário
TX O tumor primário não pode ser avaliado
T0 Não há evidência de tumor primário
T1 Tumor menor que 5 cm de diâmetro e confinado ao sítio primário
T2 Tumor ≥ 5 cm ou rompido, invadindo tecido subcutâneo
T3 Tumor invadindo estruturas adjacentes, incluindo musculatura.
N - Linfonodos Regionais
NX Os linfonodos regionais não podem ser avaliados
N0 Ausência de metástase em linfonodos regionais
N1 Envolvimento de linfonodos regionais
N2 Envolvimento de linfonodos distantes
M - Metástase à Distância
MX A presença de metástase à distância não pode ser avaliada.
M0 Ausência de metástase à distância
M1 Metástase à distância
11
3.3.
Tratamento
O tratamento de eleição para o hemangiossarcoma é a cirurgia com retirada total do tumor primário,
sendo essa a terapia com maior índice de cura (Withrow e Macewen, 2001; Ferraz et al., 2008). Para
viabilizar o procedimento é essencial realizar exames pré-operatórios como hemograma completo,
avaliação bioquímica hepática e renal e coagulograma, uma vez que esses pacientes estão mais
sujeitos a coagulação intravascular disseminada (Ferraz et al., 2008). A cirurgia deve respeitar a
margem de segurança de 2 a 3 centímetros, tendo como objetivo principal a completa excisão do
tumor e tecidos adjacentes acometidos (Ferraz et al., 2008).
Como o hemangiossarcoma é um câncer altamente agressivo e com alto índice de metástases, a
quimioterapia é sempre indicada em complementação ao procedimento cirúrgico (Ferraz et al., 2008).
A maioria dos protocolos quimioterápicos para esse tipo de câncer utiliza a doxorrubicina sozinha ou
em associação com vincristina, ciclofosfamida e metotrexato (Withrow e Macewen, 2001). A
quimioterapia de combinação é mais efetiva do que um fármaco isolado, uma vez que cada fármaco
atua destruindo uma fração das células tumorais. O uso combinado potencializa a destruição das
células tumorais e diminui os efeitos tóxicos e possibilidades de resistência (Lawall, 2008).
No caso das neoplasias cutâneas no estágio I (tumores limitados à epiderme), o tratamento cirúrgico
com excisão completa é considerado curativo. Enquanto para tumores nos estágios II e III (II –tumores
localizados na hipoderme e III – tumores invadem musculatura adjacente), deve-se proceder a
quimioterapia no pós-operatório (Lawall, 2008).
A doxorrubicina pode causar reação alérgica grave quando administrada rapidamente por via
endovenosa, com edema de face e prurido, sendo indicado o uso de um anti-histamínico durante a sua
administração. As reações adversas podem ocorrer em até 24 horas após o tratamento e são bastante
graves incluindo anorexia, vômito e diarreia sanguinolenta (Ferraz et al., 2008). Dentre os efeitos
adversos
que
podem
ser
observados,
destacam-se
a
mielossupressão,
gastroenterocolite,
cardiotoxicidade, cistite hemorrágica e alterações dermatológicas. Os efeitos tóxicos gastrointestinais
podem se evitados com o uso do subsalicilato de bismuto. Na ocorrência de vômito, pode-se utilizar
metoclopramida ou proclorperazina. (Lawall, 2008).
Durante o tratamento quimioterápico o paciente deve ser acompanhado cuidadosamente, com a
realização periódica de contagem de células sanguíneas, incluindo plaquetas, previamente a cada
tratamento. A doxorrubicina é cardiotóxica imediata e cumulativa, portanto não deve ser utilizada em
pacientes com cardiomiopatias (Ferraz et al., 2008). Como reações cardíacas adversar ao tratamento
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com a doxorrubicina podem ocorrer arritimias e insuficiência cardíaca congestiva secundária a
cardiomiopatia difusa, ambas em consequência das lesões miocárdicas provocadas pelos radicais livres
(Ferraz et al., 2008). Com o uso da quimioterapia, a sobrevida dos cães com HSC tende a ser de 140 a
180 dias (Vail et al., 1995).
Também é citado nas publicações técnicas-científicas o uso de imunomoduladores como a
fosfatidiletanolamina (MTP-PE), capaz de estimular macrófagos e monócitos a reconhecer e destruir
células neoplásicas humanas e caninas (Figueira et al., 2012). Esses imunomoduladores podem ser
encapsulados em lipossomos aumentando a sua endocitose e captação tecidual, prolongando sua meia
vida na circulação. Segundo Vail et al. (1995) esse protocolo associado à cirurgia e quimioterapia
prolongou a vida dos pacientes em 4 meses. A L-MTP-PE (fosfatidiletanolamina encapsulada em
lipossomos) também promove o aumento na concentração plasmática de TNF-α e IL-6 e outras
citocinas. A atividade anti-tumoral do complexo em cães foi documentada por Vail et al. (1995) em
casos de HSA. O L-MTP-PE parece ter contribuído ainda para a menor ocorrência de metástases. O
tratamento com o L-MTP-PE se inicia no primeiro dia da quimioterapia e se estende por 8 semanas.
A radioterapia é utilizada apenas como terapia paliativa, devido a sua dificuldade de aplicação em
animais, a alta taxa de metástases e a localização dos tumores (Vail et al., 1995).
O tratamento completo se baseia em cirurgia agressiva, associada à quimioterapia (principalmente
doxorrubicina) além de radioterapia e imunoterapia (Marcasso et al., 2010).
3.4.
Prognóstico
O prognóstico depende da localização do tumor, se houve rompimento ou não, se existem nódulos
linfáticos envolvidos e se existem metástases (Ferraz et al., 2008). Geralmente o prognóstico é mau,
apesar de qualquer forma de tratamento, com recidiva local, sendo comum a ocorrência de metástases
e com tempo de sobrevida médio de quatro meses após o diagnóstico (Figueira et al., 2012).
Brown, Patnail e Macewen (1985) concluíram em uma análise retrospectiva de 104 casos, que a
sobrevida de cães com hemangiossarcoma primário foi menor que quatro meses, mesmo com
ressecção cirúrgica.
O prognóstico só é bom quando o hemangiossarcoma estiver confinado à derme e for possível a
excisão cirúrgica completa (Marcasso et al., 2010).
13
Como forma de prevenção, é recomendada a realização de Ultrassom de abdômen e Raio X em
animais senis uma vez ao ano (Lawall, 2008).
14
4.
REVISÃO DE LITERATURA (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA)
4.1 Etiologia e Fisiopatologia
Em todo o material consultado sobre a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não foi encontrada
menção específica ao hemangiossarcoma, bem como sua etiologia, diagnóstico e tratamento. No
entanto, como a MTC aborda a sintomatologia do animal no momento do tratamento e a identificação
do desequilíbrio basal que originou determinada patologia, vamos discorrer a seguir sobre a visão do
câncer e suas diversas origens, manifestações e forma de tratamento dos padrões sob a ótica da
Medicina Tradicional Chinesa.
O primeiro conceito que permeia toda a MTC é o conceito de Qi. Qi, segundo Maciocia, (2007), é o
substrato material do universo e também o substrato material e mental-espiritual da vida humana. Qi é
uma energia que se manifesta simultaneamente sobre os níveis físico e espiritual. Existem diversos
tipos de Qi, desde o mais material até o mais sutil (Maciocia, 2007). Dentre as diversas formas de Qi,
Maciocia (2007) nos permite destacar as substâncias vitais:
- Jing (Essência) – é armazenada nos rins e inclui a energia pré-celestial adquirida dos progenitores e a
reserva de energia obtida a partir dos alimentos.
- Qi propriamente dito, que é a energia no estado em que pode ser utilizada pelo organismo, ela é a
força motriz do organismo e pode ser chamada de Yuan Qi quando associada à mobilização da
essência; Gu Qi, quando se refere à energia pura extraída dos alimentos, Zong Qi, quando for
resultado da interação da energia dos alimentos com o ar; Zhen Qi, quando se tratar do Qi verdadeiro,
além do Yin Qi e Wei Qi (ou Qi defensivo).
-Xue, equivale ao sangue da medicina ocidental, está intimamente ligado ao Qi, sendo que o Qi
proporciona vida e movimento ao Xue.
- Jin Ye, são todos os outros fluídos corpóreos, representando a forma mais material de Qi.
Essas substâncias são protagonistas na etiologia do câncer sob a percepção da Medicina Tradicional
Chinesa, uma vez que Qi, a energia que se apresenta sob as diversas formas descritas anteriormente,
15
circula livremente pelo organismo, qualquer distúrbio como trauma, patógeno ou emoções, pode
bloquear esse fluxo. A estagnação do Qi evolui para estagnação das suas outras formas (como Xue e
Jin Ye), podendo levar à formação de nódulos, massas e tumores (Schoen, 2006).
Esse bloqueio no fluxo de Qi é em geral causado por uma deficiência, que pode ser motivada por
diversos fatores. Lobo Junior, 2012 destaca as seguintes causas para a formação de tumores:
- Existência de Fleuma que é a umidade sob a ação do calor, formando uma substância pegajosa e
aderente nas estruturas. A fleuma se inicia num quadro de estagnação dos líquidos que acabam por se
transformar na umidade patogênica. Essa umidade, sob a ação do calor, se condensa obstruindo
severamente o fluxo energético levando a formação de nódulos e tumores.
- Contato com Toxinas exógenas, que são principalmente resíduos de poluentes. Essas toxinas alteram
a fisiologia normal, promovendo estagnações que evoluem para formação de tumores.
- Deficiências de Qi e Sangue estão normalmente relacionadas às funções dos órgãos que estão
deficientes e não promovem a correta circulação energética, levando os líquidos a se estagnar e formar
os tumores.
-Estagnação de Qi e sangue – pode ser uma evolução do processo de deficiência do órgão e de sangue
e Qi, mas também pode ser resultado de uma interrupção ou lesão brusca, emoções intensas ou fatores
externos mais agressivos.
Desoutter, 2008 diz ainda que o Jing (essência), por ser o responsável pela reprodução, crescimento e
desenvolvimento, exerce controle no processo de diferenciação e proliferação celular. Uma
perturbação nesse processo de controle, por uma deficiência do Jing, pode levar a um crescimento e
multiplicação celular exagerados, resultado em câncer.
Desoutter, (2008), adiciona outras causas para a formação de tumores, como deficiência do Jing,
deficiência dos Zang Fu por fatores internos (emoções), dieta inapropriada, exaustão física, deficiência
do Qi e do Sangue pela idade e fatores patogênicos externos.
Peiwen Le, 2003, destaca o papel dos fatores externos ao impedir o correto funcionamento dos Zang
Fu, obstruindo a circulação de Qi e sangue, evoluindo para estagnação e acúmulo de fleuma, o que
resulta na formação de tumores.
Entre os fatores patogênicos externos, podemos ressaltar o vento patogênico invadindo os pulmões.
Para Peiwen Li (2003), os poluentes e demais carcinógenos ambientais podem levar a ocorrência de
tumores de pulmão e esôfago.
Outro fator patogênico externo envolvido na formação de tumores é o frio, que afeta o baço e
estômago. O yang do baço é consumido, resultando em falha na sua função de aquecer o jiao médio,
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levando a dor no abdômen, vômito e diarreia, sintomas frequentemente associados a tumores do
sistema digestivo. Se o vento atingir os rins e o baço, o baço não será capaz de prover nutrição ao
portão da vitalidade, que por sua vez não aquecerá o organismo. Os sintomas observados podem ser
dor e frio na região lombar, ascite e edema. Esses são sintomas comuns associados ao câncer de fígado
e rins. O frio causa estagnação por natureza ao diminuir o movimento, causando contraturas e tensões,
levando à dor. Essa estagnação resultante pode levar à formação de tumores e essa é a gênese de
muitos casos de dores associadas aos tumores (Peiwen Li, 2003).
De forma adversa, o Calor seca os líquidos orgânicos, diminuindo a movimentação do Qi e do sangue,
levando à estagnação que evolui para formação de tumores. O calor tóxico aumenta inicialmente a
movimentação do sangue, e pode gerar padrões de sangramento (Peiwen Li, 2003). Da mesma forma,
a secura, gerada ou não pelo calor, também atrapalha a função dos Zang Fu, em especial o pulmão,
podendo levar a um quadro de deficiência desse órgão.
Conforme ressaltado anteriormente, a umidade também é um fator patogênico externo importante, pois
atinge o baço, e consome o yang e a função de transporte e transformação do órgão fica prejudicada.
Esse acúmulo causa diarreia, edema e ascite. A umidade túrbida invadindo o baço e rins resulta em
urina túrbida, frequente e possível micção dolorosa e descarga vaginal profusa. Para pacientes
oncológicos em estágios avançados que apresentarem esses sintomas, o prognóstico é ruim (Peiwen
Li, 2003).
Para Peiwen Li (2003), uma dieta inadequada afeta o estômago e baço, afetando a função de transporte
e transformação. Esses órgãos em desequilíbrio tendem a permitir o acúmulo de umidade, que
associada ao calor transforma-se em fleuma. A dieta pode influenciar na maior ocorrência de tumores.
Da mesma forma que os fatores patogênicos externos afetam as funções dos órgãos, as emoções
também são relevantes no estudo da etiologia dos tumores. Peiwen Li (2003) diz que as emoções
danificam os órgãos e provocam desbalanço em suas funções, permitindo o acúmulo de fleuma no
caso de preocupação excessiva danificando o baço e estômago, tristeza e depressão danificando o
fígado impedindo o livre fluxo de Qi, entre outros.
Desoutter (2008) afirma que a principal causa de formação de nódulos é a deficiência de Baço, uma
vez que esse é o órgão responsável por governar e transformar os líquidos do corpo. Esse acúmulo
pode ainda ser resultado de uma falha na função pulmonar de mobilizar e descender os líquidos
orgânicos, ou falha na função renal de transformar e excretar os líquidos orgânicos.
As pessoas se tornam naturalmente deficientes com a idade avançada, o que aumenta a chance de
ocorrência de tumores pela deficiência do rim e enfraquecimento dos Zang Fu. As deficiências de
sangue e Qi decorrentes da idade também estão associadas à formação de tumores (Peiwen Li, 2003).
17
4.2.
Evolução, Sinais Clínicos e Diagnóstico
No início os tumores são apenas incômodos, por tratar-se de um aumento patológico de tamanho,
essas estagnações estão geralmente associadas ao baço, conforme pontua Lobo Junior (2012). Com o
decorrer da doença, o organismo desenvolve uma resposta imune não efetiva que acaba por prejudicar
o organismo, desencadeando a síndrome neoplásica (Lobo Junior, 2012). Nesse momento observamos
sinais clínicos diversos, como manifestações gastrintestinais, hematológicas, endócrinas, neurológicas,
cutâneas entre outras, o que na MTC é chamado de Síndrome do calor tóxico (Lobo Junior, 2012).
A síndrome do calor tóxico pode apresentar os seguintes sintomas, segundo Lobo Junior (2012):

Diarreia e caquexia;

Manifestações neurológicas que são geradas pela secura decorrente da evaporação da água;
orgânica pelo calor tóxico, afetando o rim e nervos e ossos que são associados ao movimento
água;

Manifestações dermatológicas e sanguíneas, também decorrentes da deficiência de fluidos
corpóreos. A pele é afetada indiretamente pela falta de nutrição e Qi;

Manifestações endócrinas por excesso de calor no Triplo Aquecedor.
A língua do paciente oncológico é geralmente púrpura com os bordos mais claros, grande e seca. Se já
existe calor no organismo teremos uma língua vermelho-vivo, geralmente seca (Lobo Junior, 2012).
O pulso apresenta-se, na maioria das vezes, rápido e superficial no caso da síndrome de calor tóxico,
sinal de calor deficiente (Lobo Junior, 2012).
Segundo Lobo Junior (2012), o ponto BP21 está sensível na maioria das vezes e pode ser usado como
auxiliar ao diagnóstico, esse ponto é chamado ponto de Controle Geral, sendo o ponto de Conexão do
Baço (Maciocia, 2007) que, conforme observado anteriormente, frequentemente está deficiente nos
pacientes com câncer.
4.3.
Tratamento
A forma de tratamento abordada a seguir é baseada nos princípios básicos indicados para os diversos
tipos de câncer, uma vez que não foi encontrada literatura específica para hemangiossarcoma.
18
O tratamento com quimioterapia, radioterapia e cirurgia debilita muito o organismo do paciente,
podendo levar tanto à destruição do tumor quanto à destruição do paciente, segundo Peiwen Li (2003).
Segundo Peiwen Li (2203), a medicina chinesa leva em consideração a condição geral do paciente
através da regulação do yin e yang e tratando a doença através da identificação de padrões. A
ocorrência de efeitos adversos é mínima, e é uma terapia menos invasiva e geralmente mais aceita
pelos pacientes do que as técnicas ocidentais.
A medicina tradicional chinesa pode trabalhar de forma sinérgica com a medicina ocidental, pois
dissipa o fator patogênico e não danifica a energia vital, além de não beneficiar os fatores patogênicos,
ajudando a prevenir ou eliminar o desenvolvimento de determinados tipos de tumores ou permitindo
que o paciente viva mais e sem dor ou sofrimento (Peiwen Li, 2003).
Segundo Peiwen Li (2003) a estratégia de tratamento com a Medicina Chinesa para o câncer seria
através das abordagens a seguir:

Dar suporte à energia vital (Qi) e cultivar o JING;

Revigorar o sangue e transformar a estase sanguínea;

Retirar o vento e aliviar a toxicidade;

Transformar a fleuma e suavizar as massas.
Já Desoutter (2008) identifica acrescenta as seguintes estratégias para o tratamento do câncer:

Desobstruir os meridianos;

Dissolver as toxinas e parar a dor;

Tonificar o Qi e nutrir o sangue;

Tonificar o baço e pacificar o estômago;

Tonificar o fígado e os rins;

Sustentar o Jing e tonificar o Yuan Qi;
A forma de abordagem do paciente se baseia no padrão identificado no momento do tratamento, e não
no tipo de tumor especificamente. É importante ressaltar que o padrão observado nem sempre se
mantém durante todo o curso da doença (Peiwen Li, 2003).
Segundo Peiwen Li (2003), nas fases inicial e intermediária da doença, em que o paciente ainda está
com uma constituição robusta e a energia vital não foi consumida, o tratamento deve ser voltado para
dissipar o fator patogênico. Com a evolução do câncer, a energia vital se torna debilitada e deficiente,
sendo necessário suplementá-la e retirar a toxicidade gerada pelo tumor. Nos estágios terminais, não
há mais condições do organismo lutar contra a toxicidade do câncer, e a estratégia terapêutica passa a
ser apenas o suporte à energia vital.
19
Peiwen Li (2003) diz ainda que para os pacientes que foram submetidos à cirurgia para retirada do
tumor, ou que sofreu quimioterapia ou radioterapia, a estratégia terapêutica deve ser suportar a energia
vital e regular as funções do baço e estômago.
No caso de reaparecimento do tumor após cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, o tratamento deve
ser suportar a energia vital e dissipar o fator patogênico (Peiwen Li, 2003).
O tratamento com agulha é indicado para todos os estágios do câncer e é especialmente efetivo em
tratar a imunodeficiência, os efeitos colaterais que ocorram durante a radioterapia ou quimioterapia,
tratar a dor relacionada ao câncer, e recuperar as deficiências e depleções nos estágios mais avançados
(Peiwen Li, 2003).
Segundo Peiwen Li (2003) os pontos usados mais frequemente no tratamento do câncer são:

Pontos para suportar a energia vital:
a. Aquecer o yang e aumentar o Qi para melhorar a resposta imune (VC4; VG14; VC6;
VG4; E36; VC8; B43; pontos Shu dorsais) – esses pontos melhoram a resposta imune,
estimulam a fagocitose dos macrófagos, aumentam a taxa de transformação dos
linfócitos. Estudos adicionais sugerem que esses pontos inibem o crescimento dos
tumores, reduzem, seu tamanho, fortalecem o corpo e melhoram os sintomas de
deficiência;
b. Regular e suplementar o baço e rins para inibir o desenvolvimento de tumores (E36;
B20; B21; VC21; BP6; PC6; BP4; F13; BP10; B23; VG4; VC6; VC4; R3) – Esses
pontos fortalecem o rim, suportando a energia vital, cultivando o Qi original e
consolidando a essência. Esses pontos podem ser usados para efeitos colaterais das
técnicas ocidentais;
c. Estimular o Qi e nutrir o Yin (BP6; E36; R3; R1; B23; B18; F3; R6; VC6; IG11) –
Esses pontos aumentam o Qi, alimentam o Yin, geram fluidos orgânicos e umedecem
a secura. Podem ser usados para ataque de calor e toxinas como resultado da
quimioterapia e radioterapia. Auxiliam na melhora dos sintomas de deficiência de
Yang, Qi e deficiência de sangue em estágios avançados de câncer.
d. Suplementar o sangue (VG14; VB39; B17; BP10; B23; VC4; VG4; VG15; B11; R3;
E36; B20; BP6; F3; VC6; PC6; B18; B21). – Agulhas nesses pontos ajudam a nutrir o
sangue, suplementar os rins e gerar medula, sendo muito efetivas para tratar a
leucopenia causada pela radioterapia ou quimioterapia. Estudos identificaram que
esses pontos são capazes de proteger ou ativar a função hematopoiética da medula
óssea em condições normais ou patológicas.

Pontos para dispersar os fatores patogênicos:
20
a. Revigorar o sangue e transformar a estase sanguínea (BP6; IG4; BP10; F11; B40; P5;
E36; B20; F3; E44; F14; VB 34; VG14; B22; VG20)- Esses pontos são usados para os
tumores causados por estagnação de Qi e estase de sangue. O uso de agulha nesses
pontos dispersa e dissipa o tumor, alivia a dor, revigora o sangue, transforma a estase
sanguínea, dissipa os nódulos e libera a estagnação. Estudos indicaram que o uso
desses pontos para revigorar o sangue e transformar a estase sanguínea pode facilitar a
entrada das células imunocompetentes no tumor e tecidos adjacentes para inibir o seu
crescimento através da melhora da circulação adjacente. Esses pontos também
melhoram o metabolismo local, inibem a agregação plaquetária e previnem o
crescimento e a ocorrência de metástases do tumor ao promoverem a fibrinólise, além
de aliviar a dor pela oxigenação dos tecidos adjacentes.
b. Mover o Qi e aliviar a dor (PC6; IG4; E36; B40; F3; E44; F14; VB 34; B22) – esses
pontos favorecem a movimentação do Qi e do sangue consequentemente , aliviando a
estagnação e reduzindo a dor.
c. Transformar a fleuma, suavizar as massas e dissipar os nódulos (E40; BP4; F2; BP9;
P10; C3; TA10; PC5; TA5; F4; F11; B20; B13 e pontos neo -formados) – Esses
pontos são indicados para acúmulo de fleuma túrbida. O agulhamento desses pontos
transforma a fleuma, suaviza as massas e dissipa os nódulos. Estudos indicaram que o
uso desses pontos pode livrar os vasos linfáticos e promover a circulação da linfa,
auxiliando o sistema imune através do aumento da fagocitose dos macrófagos.
d. Retirar o calor e a toxicidade (BP6; F4; BP10; F1; P11; B40; P5; E36; IG3; E44; F14;
VB34; VG14; B22 e pontos neo-formados) – Esses pontos são utilizados para
pacientes com câncer complicado pelo fator patogênico externo calor tóxico ou
infecção por excesso de calor yang. Esses pontos eliminam o calor, drenam o fogo,
resfriam o sangue e aliviam a toxicidade, regulam Yin e Yang e dissipam nódulos.
Segundo Lobo Junior (2012), o tratamento do câncer envolve um conjunto de terapêuticas, sendo que
a cirurgia é extremamente indicada, sempre que possível, acompanhada da acupuntura, dietética e
fitoterapia.
Lobo Junior (2012) divide a doença em fases e assim indica um tratamento para cada fase, conforme a
seguir:

Fase inicial – fase da estagnação. A técnica mais indicada é o ciclo de controle (técnica das 4
agulhas) segundo os cinco movimentos, em que se tonifica a avó para controlar o neto. A escolha do
movimento em desequilíbrio a ser controlado deve ser feita segundo a localização do tumor primário.
No caso dos tumores de pele, deve-se observar sobre qual meridiano está a formação. Além da técnica
21
citada, outros pontos podem beneficiar esse paciente, como: E40 para remoção de umidade e; BP9
para mover as águas; TA 17 para retira fleuma em especial do pescoço; TA10 para remove massas;
B20 para tonifica o baço impedindo o acúmulo de umidade; F14 parar movimenta o sangue.

Síndrome Paraneuplásica – fase do calor tóxico. Nesse momento a principal estratégia é drenar
a toxicidade e o calor com o uso de B40, IG11, VG14 que são os pontos mais indicados. Também
podem ser usados IG4, F3, E36 que possuem efeitos imunológicos e retiram vento e calor. Técnica de
injeção de sangue nesses pontos melhora resposta imune inespecífica, e promove esfriamento do
sangue por sangria.

Fase das metástases. As metástases são disseminadas pelo organismo através do meridiano do
Triplo Aquecedor. A acupuntura não é a técnica mais efetiva nessa fase, mas pode auxiliar o paciente
através de uma tonificação geral do organismo com o uso dos pontos F3, BP3, C7, P9; pontos Shu
(B18, B23, B20, B15, B13); pontos Mu (F14, VB25, VB24, VC17, P1) e pontos que tonificam o
sangue como VB39, BP10 e B17.

Fase final – Síndrome Wei. A Syndrome Wei, segundo Ming (1982), inclui fraqueza dos
membros, dificuldade de movimento e subsequente atrofia muscular. Essa atrofia pode ser observada
quando músculos, tendões e ossos ficam privados de nutrição adequada. Nessa fase os animais
encontram-se caquéticos, com dificuldade de comer, e a acupuntura deve ser utilizada para tonificar o
organismo com um todo através do estímulo ao Qi e sangue. O paciente pode se beneficiar de uma
terapia envolvendo os pontos E36, IG10, IG11, B23, cinturão renal, B20, BP3 que tonificam o baço e
ajudar o Qi pós celestial e B17, VB39, BP10 que estimulam o sangue.
O uso da medicina tradicional chinesa no tratamento do câncer tem sido principalmente estudado e
documentado no auxilio ao controle dos efeitos adversos do uso da quimioterapia e/ou radioterapia.
Peiwen Li, 2003, relatou extensamente a terapia para os efeitos adversos na função da medula óssea,
fígado, rins, pulmões, coração e ascite, prostatites, náusea, vômito, anorexia, perda de cabelo/pêlo e
úlceras na mucosa oral. Dundee et al, 1991, relataram o efeito benéfico do uso da eletroacupuntura no
ponto PC6 como antiemético durante o tratamento do câncer com quimioterapia. Vickers et al, 2004,
estudaram o uso da acupuntura no tratamento da fadiga posterior à quimioterapia com uma ou duas
aplicações semanais durante 4 semanas. Os pontos usados foram E36, BP8, BP9, VC6, VC4 e IG11.
Os resultados evidenciaram melhora de pelo menos 30% na sensação de fadiga dos pacientes tratados.
A Acupuntura e demais técnicas da MTC são também muito eficazes no tratamento das complicações
associadas ao câncer, como já evidenciado anteriormente nos protocolos de Lobo Junior (2012).
Peiwen Li (2003) relata extensamente as estratégias de tratamento de complicações como dor, muito
comum nos estágios avançados de câncer. Segundo a MTC, a dor é causada pela obstrução do Qi e
Sangue nos Zang Fu, canais e meridianos “onde o fluxo livre é impedido, há dor”. Estudos têm
22
demonstrado que a Acupuntura é eficiente na inibição da dor causada pelo câncer e estimula o sistema
analgésico endógeno a liberar grande quantidade de endorfinas, encefalinas e outros opióides
endógenos. A Acupuntura é um método muito conveniente para o tratamento da dor por não ter efeitos
colaterais como dependência. Alguns estudos ainda indicam que a acupuntura tem efeitos no controle
da dor superiores a alguns opióides analgésicos (Peiwen Li, 2003).
Outras
complicações
associadas
ao
câncer
são
as
hemorragias,
bastante
comuns
nos
hemangiossarcomas, como visto anteriormente. Podem ocorrer por ulceração devido à necrose tumoral
ou por ocorrência de coagulação intravascular disseminada, bastante documentado nos quadros de
hemangiossarcoma visceral (Peiwen Li, 2003). Na Medicina tradicional Chinesa, a hemorragia
pertence aos padrões de sangue. O sangue é gerado e transformado no Baço, armazenado no fígado,
governado pelo coração e transportado e distribuído pelos pulmões. Quando os vasos sanguíneos estão
danificados, ou o sangue se move freneticamente, ele extravasará dos vasos resultando nos padrões de
sangue (Peiwen Li, 2003). Dessa forma, o tratamento através da tonificação do sangue é bastante
importante.
A dispneia também é uma complicação observada em casos avançados de Câncer, e Vickers et al.
(2005) apresentaram dados de um estudo com o uso da acupuntura no tratamento dessa dispneia em
pacientes humanos com câncer em estágio avançado. Os pacientes apresentam câncer de pulmão ou
câncer primário de mama com metástase pulmonar. Esse estudo, no entanto, não foi capaz de
demonstrar vantagens no uso da acupuntura nesses pacientes para aliviar a dispneia após uma única
aplicação de agulhas.
Petti et al. (1998), Fujiwara et al. (1991), Yu et al. (1998) e Cohen et al. (2005) relataram os efeitos
imunomoduladores da acupuntura. Petti e colaboradores (1998) avaliaram 90 pacientes com desordens
dolorosas tratados com acupuntura. Foi identificado um aumento considerável das beta-endorfinas
endógenas, que perdurou por mais de 24 horas. Trinta minutos após a aplicação das agulhas, 80% dos
pacientes apresentou aumento significativo de linfócitos CD3 e CD4 e aumento de CD8 24 horas após
o tratamento. Ainda no mesmo estudo, foi observado o aumento da fagocitose dos monócitos em 45%
dos pacientes 30 minutos após a acupuntura, índice que subiu para 100% dos pacientes 24 horas após
o tratamento. Petti et al. (1998) ainda observaram aumento na porcentagem das células NK (natural
killer) em 40% dos pacientes 30 minutos após o tratamento e em 50% após 24 horas. Fujiwara et al.
(1991) descreveram estímulo da medula óssea após tratamento com acupuntura, em camundongos. Yu
et al. (1998) observaram ainda que o estímulo com eletroacupuntura no ponto E36 (Estômago 36)
estimulou aumento dos níveis de interferon gama e beta-endorfinas esplênicas. Cohen et al. (2005),
por fim, fizeram uma revisão da literatura disponível sobre o uso da acupuntura no tratamento de
pacientes com câncer, e relataram que a acupuntura possui atividade imunomoduladora, com aumento
23
dos níveis de interferon gama, interleucinas 2 e atividade citotóxica das células NK, bem como
aumento na produção de cortisol. Cohen e colaboradores concluíram que existem fortes indícios da
ação da acupuntura no controle da dor, hematopoiese e estímulo da imunidade.
24
5.
RELATO DE CASO
Nesse trabalho vamos relatar o caso de uma cadela da raça Whippet, com diagnóstico de
Hemangiossarcoma, tratada pela Medicina Tradicional Chinesa.
A cadela Oli, da raça Whippet, 8 anos de idade, chegou à Clinica Veterinária Vetclinic, na cidade de
Vinhedo (estado de São Paulo), no início de novembro de 2011.
Histórico: A cadela havia sido levada a outro colega em virtude de algumas lesões cutâneas
avermelhadas, com aparência de hematomas. O colega fez excisão cirúrgica e encaminhou o material
para exame histopatológico onde foi diagnosticado Hemangiossarcoma. Não tivemos acesso aos
detalhes do referido laudo. A cadela foi previamente tratada com quimioterapia antes do início do
tratamento com acupuntura.
Sinais Clínicos: Ao chegar à Vetclinic, a cadela apresentava estado geral bom com diversas lesões de
pele aparentando máculas ou hematomas, algumas lesões levemente saltadas em locais com pele
ressecada e com presença de descamação. As lesões concentravam-se nas laterais do tórax e na parte
medial dos membros pélvicos. O animal apresentava pulso forte, cheio e rápido.
25
Figura 1: Cadela Oli, 11 de novembro de 2011.
Figura 2: lesão na lateral do tórax do lado esquerdo, cadela Oli, 11 novembro de 2011.
26
Exames Complementares: Foram realizados exames de hemograma, função hepática, renal e urinálise
no início de novembro 2012:
Figura 3: Resultado do hemograma da cadela Oli realizado em 10 de novembro de 2011
Medida
Resultado
Limites para cães com
Unidade
mais de 1 ano de idade
Hemácias
8,64
5 a 8,5
Milhões/mm3
Hemoglobina
21,0
12 a 18
%
Hematócrito
60,8
37 a 45
g%
VCM
70,4
60 a 77
µ3
HCM
24,3
21 a 26
µ µ3
CHCM
34,5
32 a 36
%
Figura 4 : Resultado do Leucograma da cadela Oli realizado em 10 de novembro de 2011
Medida
Resultado
Limites para cães com
Unidade
mais de 1 ano de idade
Leucócitos
6,5
6 a17
Mil/ mm3
Bastonetes
0
0a2
%
Segmentados
72,1
60 a 77
%
Eosinófilos
4,5
2 a 10
%
Basófilos
0
0a1
%
Monócitos
0
2a8
%
23,4
12 a 30
%
Linfócitos totais
27
1,5
1 a 4,8
Mil/ mm3
166.000
200.000 a 500.000
/µl
Linfócitos absolutos
Contagem de plaquetas
Figura 5: Resultado do Urinálise da cadela Oli realizado em 10 de novembro de 2011
Medida
Resultado
Limites para cães
Quantidade
5 mL
informativo
Odor
Suigeneres
Suigeneres
Aspecto
Turvo
Límpido
Densidade
1,005
1,025 a 1,035
pH
9
5,5 a 7,5
Leucócitos
negativo
negativo
Nitrito
negativo
negativo
Proteínas
+
negativo
Glicose
negativo
negativo
Corpos cetônicos
negativo
negativo
Urubilinogenio
negativo
negativo
Bilirrubina
negativo
negativo
Sangue
+++
negativo
Hemoglobina
negativo
negativo
28
Figura 6: Resultado de função renal e hepática da cadela Oli realizado em 10 de novembro de 2011
Exame
Resultado
Limites
de unidade
especificação em cães
Uréia
< 20
8,8 a 25,9
Mg/dl
Creatinina
2,32
0,5 a 1,6
Mg/dl
ALT
12,0
7,0 a 80, 0
U/I
Fosfatase Alcalina
< 20
20,0 a 150,0
U/I
Potássio (K)
4,75
3,7 a 5,8
mEq/L
Foram realizados ainda exames de imagem, tal como ultrassonografia de abdômen e ecocardiograma,
realizados em 10 de novembro de 2011.
Figura 7: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) - Bexiga
29
Figura 8: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) - Baço
Figura 9: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) –Alças Intestinais
30
Figura 10: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) – Rim Esquerdo e Baço
Figura 11: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) – Fígado e Vesícula Biliar
31
Figura 12: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) – Fígado, Ves. Biliar e
imagem nodular hipoecóica.
Figura 13: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) – Estômago
32
Figura 14: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (nov/11) – Rim direito
As imagens do exame de ecocardiograma não apresentaram alterações e estão demonstradas no Anexo
I.
Diagnóstico:
Os resultados da dosagem de plaquetas indica que o animal já começa a apresentar diminuição de
plaquetas (trombocitopenia), quadro bastante relatado em casos de hemangiossarcoma (Ferraz et al,
2008). O resultado do hemograma indica concentração de hemácias (aumento do valor do
hematócrito), o que pode ser resultado de um quadro de pequena desidratação.
O resultado da urinálise, no qual o animal apresentou densidade urinária baixa, pH elevado, presença
de proteína e de muito sangue na urina são indicativos de lesão renal, possível Insuficiência Renal.
O aumento de creatinina ao exame de sangue reforça o diagnóstico de insuficiência renal no momento
do exame.
33
O exame de ultrassonografia evidenciou formações hipoecóicas no fígado, sugestivas de cistos ou
tumores.
Pelo diagnóstico da Medicina Ocidental, o animal já foi encaminhado com diagnóstico de
hemangiossarcoma, e no momento dos exames apresentava sinais de insuficiência renal e possíveis
cistos ou tumores no fígado.
Pela Medicina Tradicional Chinesa, através dos dados de pulso (forte, cheio e rápido) foi possível
chegar ao quadro de Calor Tóxico, gerado pelo câncer. Além disso, o animal apresentava estagnação
de Qi e Sangue no fígado e deficiência de rim.
Terapêutica utilizada:
Nas primeiras sessões, o tratamento foi voltado ao tratamento da insuficiência renal, drenagem do
calor tóxico e uso de pontos gerais para tratamento de tumores. As sessões estão apresentadas a seguir,
sendo que cada item corresponde ao protocolo de um atendimento. Os atendimentos eram feitos uma
vez por semana:

Agulha nos pontos B23, B52 e VG4; BP10, Bai Hui, B40, IG11, VG14, B17, B20, VB20, P9.
Aplicação de 1 mL de Viscum Album D06 no ponto VG14

Agulha nos pontos: BP6; Bai Hui, B10, VB20, TA10, BP10, VC18, VG4. Aplicação de
Viscum Album D06 por via endovenosa e seguida de retirada de sangue e aplicação nos
pontos VG14, Bai Hui e P9.

Agulha nos pontos B40, IG11, VG14, B17, VB39, BP10, Yin Tang, C7, Bai Hui. Aplicação
de Viscum Album D06 por via endovenosa, seguida de retirada de sangue e aplicação no
ponto VG14.

Agulha nos pontos VB20, TA10, E40, F14, B20, Bai Hui, VB39, BP10, B17, P9. Aplicação
de Viscum Album D06 por via endovenosa, seguida de retirada de sangue e aplicação no
ponto VG14.

Agulha nos pontos VB39, BP10, TA10, B17, TA17, P9, VC9, IG11, VG14. Aplicação de
Viscum Album D06 no ponto VG14.
Desde a primeira consulta com o acupunturista, foi indicado o uso das fitoterapias Ganoderma e
Monascus, da Fitofórmula, na dose de 1/2 envelope da preparação em pó, duas vezes ao dia.
Evolução:
Após a utilização desses protocolos, foram realizados novamente os exames de hemograma,
leucograma e bioquímica sérica.
34
Figura 15: Resultado do hemograma da cadela Oli realizado em 26 de dezembro de 2011
Medida
Resultado
Limites para cães com
Unidade
mais de 1 ano de idade
Hemácias
8,37
5 a 8,5
Milhões/mm3
Hemoglobina
20,1
12 a 18
%
Hematócrito
58,8
37 a 45
g%
VCM
70,3
60 a 77
µ3
HCM
24,0
21 a 26
µ µ3
CHCM
34,2
32 a 36
%
35
Figura 16 : Resultado do Leucograma da cadela Oli realizado em 26 de dezembro de 2011
Medida
Resultado
Limites para cães com
Unidade
mais de 1 ano de idade
Leucócitos
5,9
6 a17
Mil/ mm3
Bastonetes
0
0a2
%
Segmentados
75,6
60 a 77
%
Eosinófilos
1,9
2 a 10
%
Basófilos
0
0a1
%
Monócitos
0
2a8
%
Linfócitos totais
22,5
12 a 30
%
Linfócitos absolutos
1,3
1 a 4,8
Mil/ mm3
281.000
200.000 a 500.000
/µl
Contagem de
plaquetas
Figura 17: Resultado de função renal e hepática da cadela Oli realizado em 26 de dezembro de 2011
Exame
Resultado
Limites
de unidade
especificação em cães
Uréia
23,4
8,8 a 25,9
Mg/dl
Creatinina
0,872
0,5 a 1,6
Mg/dl
ALT
29,4
7,0 a 80, 0
U/I
Fosfatase Alcalina
< 20,0
20,0 a 150,0
U/I
36
Conforme demonstrado na figura 16, houve uma sensível recuperação nos valores de plaquetas,
retornando ao limite fisiológico. Na figura 17 podemos observar a sensível diminuição da creatinina,
partindo de 2,32 em 11 de novembro de 2011 para 0,872 em 26 de dezembro de 2011, retornando,
assim, ao valor fisiológico.
Em 27 de dezembro de 2011, repetiu-se o exame de ultrassonografia do abdômen da cadela Oli,
conforme demonstrado a seguir:
Figura 18: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (dez/11) – Fígado e Vesícula Biliar
com presença de conteúdo hiperecóico sugestivo de lama biliar.
37
Figura 19: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (dez/11) – Fígado e Vesícula Biliar
com presença de conteúdo hiperecóico sugestivo de lama biliar.
Figura 20: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (dez/11) – Fígado e Vesícula Biliar
38
Figura 21: Imagens de Ultrassonografia de abdômen da cadela Oli (dez/11) – Fígado e vasos hepáticos
Foi possível observar, na reavaliação do exame ultrassonográfico, que não foram encontradas as lesões
císticas ou tumorais em fígado, evidenciando uma regressão do quadro visualizado anteriormente.
Nesse segundo exame, em 27 de dezembro de 2012, foi encontrada presença de precipitados em
vesícula biliar, sugestivo de lama biliar, ou condensação de fleuma túrbida na Vesícula Biliar, por
estagnação de Qi seguida de secura dos líquidos orgânicos em consequencia do quadro de calor tóxico.
Vale ressaltar, que na análise clínica da cadela Oli em dezembro de 2011, o pulso continuava forte,
superficial, dessa vez, em corda, evidenciando que ainda havia presença de calor tóxico.
Durante esse período de tratamento, as lesões de pele se mantiveram constantes em número, sendo
que, na sua maioria dos casos, elas diminuíram de intensidade na sua colocação. Foi possível verificar
uma sensível melhora na aparência da lesão de tórax esquerdo reduzindo a vermelhidão, conforme
demonstrado a seguir:
39
Figura 22: lesão na lateral do tórax do lado esquerdo, cadela Oli, 11 novembro de 2011.
Figura 23: lesão na lateral do tórax do lado esquerdo, cadela Oli, 09 de dezembro de 2011.
40
Figura 23: lesão na lateral do tórax do lado esquerdo, cadela Oli, 09 de março de 2012.
O tratamento da cadela Oli continuou a ser acompanhado por nosso grupo até abril de 2012, e os sinais
clínicos mantiveram-se constantes, com manutenção do bom estado geral do paciente e limitação da
intensidade e disseminação das lesões de pele.
41
6.
DISCUSSÃO
Uma vez que o hemangiossarcoma é um tipo de câncer com alto índice de metástases e de difícil
diagnóstico prematuro (Ferraz et al., 2008), o tratamento com a medicina convencional torna-se menos
efetivo do que em outros tipos de câncer. Isso ocorre principalmente porque no momento do
diagnóstico o animal geralmente já apresenta metástases (Figueira et al., 2012).
Dessa forma, os tratamentos alternativos que têm como objetivo re-equilibrar o paciente e dar-lhe
condições de defender-se da patologia têm se mostrado como uma opção de tratamento.
No caso da Medicina Chinesa, o tratamento é holístico e visa fortalecer o indivíduo e sua essência,
retirar as condições geradoras dos tumores (estagnações) e promover o re-equilíbrio do organismo.
A falta de literatura sobre o tratamento de hemangiossarcoma pela Medicina Tradicional Chinesa,
permite aos acupunturistas tratar os pacientes apenas pela identificação e tratamento dos padrões e
através da técnica geral utilizada em casos de tumores (Peiwen Li, 2003).
No caso apresentado, observamos que a cadela foi encaminhada ao tratamento com a Medicina
Tradicional Chinesa após sofrer cirurgia para retirada de uma das lesões de pele e quimioterapia.
Como não foi observado retrocesso na doença, a mesma foi encaminhada para medicina alternativa.
Observamos que após o início do tratamento, em novembro de 2011, a cadela permaneceu sob a
supervisão do mesmo acupunturista até abril de 2012, totalizando 5 meses de tratamento. Durante esse
período, houve regressão das lesões em fígado, que não obtiveram diagnóstico definitivo de
metástases. O animal recuperou os índices fisiológicos de plaquetas e creatinina sanguínea e houve
melhora no aspecto visual das lesões de pele, principalmente da lesão localizada na lateral esquerda do
tórax. Nesse período não foram observadas novas lesões e o animal manteve uma condição clínica
boa, sem emagrecimento, apatia ou anorexia, comuns em pacientes com câncer.
Os animais com hemangiossarcoma, conforme literatura, apresentam sobrevida baixa, a despeito do
uso das diversas técnicas de tratamento da medicina ocidental. No caso relatado, o animal superou a
maior parte dessas estatísticas, mantendo-se clinicamente estável por um período de 5 meses, enquanto
a sua expectativa poderia ser de até 4 meses, segundo relatado por Figueira et al. (2012) e Bronwn et
42
al. (1985), boa parte desses benefícios devem ser creditados à atividade imunomoduladora da
acupuntura (Cohen et al., 2005).
43
7.
CONCLUSÃO
Através da literatura apresentada e indícios observados no tratamento da cadela Oli, o uso da
acupuntura associada a outras técnicas da Medicina Tracional Chinesa, no tratamento de cães
acometidos por hemangiossarcoma, é promissor, podendo levar o animal a uma melhor qualidade de
vida, retardamento da evolução do câncer e ampliação da expectativa de vida.
Mais estudos devem ser realizados, no entanto, para evidenciar os efeitos específicos da acupuntura
nesse tipo de câncer, dada a falta de literatura existente.
44
8.
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ANEXO I
Imagens Ecocardiograma cadela Oli
Data 10 de novembro de 2011
48
49
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51
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53
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