nietzsche e heidegger – a desconstrução da razão

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NIETZSCHE E HEIDEGGER – A DESCONSTRUÇÃO DA RAZÃO OCIDENTAL
Wanderley Jose Ferreira Jr.1
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Coordenador do projeto – Professor de Filosofia – Cursos: Administração, Letras, História, Matemática, Fisica.UnUMorrinhos; UnUCET; UnUCSEH; UnU – Cora Coralina – UEG.
RESUMO
Análise e reflexão sobre a chamada crise da Razão Moderna tomando como referências básicas algumas obras e
textos de Friedrich Nietzsche [1844-1900] e Martin Heidegger [1889-1976]. Procura-se mostrar como essa razão
moderna, que nasce com o sujeito pensante cartesiano e com o projeto matemático de natureza da ciência
moderna, vê-se abalada em seus fundamentos e conceitos fundamentais[Ser, Verdade, Razão, Universalidade,
Necessidade] pela crítica de Nietzsche e Heidegger. A pesquisa conclui procurando mostrar qual o caráter dessas
novas formas de experiências originárias que se dão numa dimensão pré-reflexiva anterior a relação cognitiva
entre sujeito e objeto. Para tanto se explicita alguns aspectos fundamentais das propostas de Nietzsche e
Heidegger de superação da hegemonia da Razão: idéia de uma transvaloração de todos os valores e de um
perspectivismo em relação ao conhecimento da verdade, como no caso de Nietsche; ou a idéia, no caso de
Heidegger, de um pensamento e linguagem originários que permitem uma via de acesso não representacional ao
ser das coisas, do pensar, da linguagem, do mundo e a nós mesmos.
Palavras-chave: Filosofia – Razão – Modernidade – Pós-modernidade.
Introdução – Momentos da pesquisa
Num primeiro momento da pesquisa, vamos retomar o nascimento da Razão moderna na filosofia [Descartes] e
na ciência, explicitando alguns aspectos básicos da filosofia cartesiana e sua metafísica da subjetividade. Nossas
referências básicas aqui serão alguns textos do filósofo Martin Heidegger, dentre os quais podemos descartar:
Ser e Tempo, A época da imagem do mundo, Nietzsche II, etc. Algumas questões nos nortearão nesse momento:
Qual o caráter dessa subjetividade [Sujeito pensante] que nasce com Descartes e inaugura a modernidade? Seria
legítima sua pretensão de, não apenas representar as coisas, mas influir sobre elas, transformando-as em meros
objetos extensos redutíveis ao cálculo, à planificação? O que garante a fidelidade entre representação e
representado? Serie legítima a resposta cartesiana de que essa garantia seria dada pelo método e mediante a
ação de um Deus bom e verdadeiro? Essa retomada do nascimento da razão moderna tendo como referência a
leitura heideggeriana da obra cartesiana certamente nos ajudará a compreender muitos dos impasses, dilemas e
desafios de nossa sociedade tecnológica atual[chamada sociedade do Conhecimento]. Isso porque o nascimento
da Razão moderna se deu a partir de algumas cisões e dicotomias irreconciliáveis [Mente X Corpo; Sujeito X
Objeto; Ciência X Mundo da Vida; Homem X Natureza; Razão X Fé] que serão mais tarde responsáveis, não
apenas pela degradação das condições de vida no planeta, mas pela inquietante alienação do homem no mundo
da produção, do consumo e do lazer, fazendo dele um estranho em sua própria casa, ou pior, a primeira e
fundamental matéria prima a serviço da fúria da técnica. Nesse sentido, nosso interesse nessa pesquisa é mostrar
como pensadores da estatura de Nietzsche e Heidegger tentaram, cada um a sua maneira, superar o dualismo
cartesiano e desconstruir a hegemonia do sujeito pensante postulando a existência de verdades e níveis de
experiências originárias pré-reflexivas que exigiriam uma reformulação profunda no conceito de consciência e
nas noções de Razão, sujeito, verdade, etc.
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Num segundo momento da investigação vamos analisar e avaliar o teor, os limites e as possibilidades da crítica
arrasadora que Nietzsche faz a todo sistema da moral ocidental, que pretende fundar-se sobre um consenso
tradicional e na justificação das ações pelo apelo à consciência de um suposto Sujeito pensante, enquanto sujeito
consciente de si. Ora, seria legítimo denunciar, como o faz Nietzsche, que a consciência é falsa, não passando de
um epifenômeno que de forma alguma esgotaria as possibilidades da realidade e do pensamento? Estaríamos
todos nós, homens do presente, vivendo sob a sombra da morte de Deus? Morte que transfigura toda verdade e
Bem em ilusões inventadas pelos fracos, que avaliam a vida a partir da fraqueza, do cansaço e da doença. Ainda
nesse segundo momento da pesquisa vamos redirecionar nossa atenção para a obra de Heidegger e sua crítica à
razão moderna, tomando como fio condutor a questão: qual tipo de razão, consciência, relação sujeito-objeto é
proposta pela fenomenologia-hermenêutica de Heidegger como alternativa ao modelo de razão cartesiana
alicerçada no eu penso, ou seja, no paradigma da subjetividade? O fato é que já na origem da fenomenologia
com Husserl vamos observar o surgimento de uma Razão que reconhece a impossibilidade de uma apreensão e
manipulação total da realidade, uma vez que o ser jamais aparece em sua totalidade à consciência, mas apenas
em perfis, em recortes. Já em Ser e Tempo [1927], Heidegger estabelece uma ruptura com os cânones da razão
ocidental aos desconstruir a noção de mundo cartesiana e a concepção tradicional verdade, além de anunciar que
a questão guia da filosofia, a questão do sentido e da verdade do ser[Cf. Heidegger, ], só poderia ser explicitada a
partir da existência finita do homem e no horizonte do tempo. Mais, o homem seria o lugar em que se dá a
revelação do ser
das coisas e do próprio mundo. Contudo, Heidegger reconhece que
originariamente a
existência humana vela o sentido do ser na manipulação cotidiana do ente, mas é justamente desse estado de
velamento do ser na banalidade da existência cotidiana e de seu esquecimento na história da metafísica, que a
analítica existencial pretende desvelar as estruturas ontológicas do ser no mundo que é o homem. Isso significa
que talvez a determinação fundamental da existência humana não seja a Razão e o conhecimento racional, mas o
homem como Dasein [Ser-aí] cuja constituição ontológica fundamental é ser um "ser-no-mundo".
Num terceiro momento da pesquisa vamos analisar algumas das alternativas apontadas por Nietzsche
[Experimentalismo/perpectivismo] e Heidegger para superar os limites e cisões da Razão moderna e
consequentemente a hegemonia do sujeito pensante. Sabemos que cada um desses pensadores, por caminhos
diversos, postula os limites e a dependência da razão de camadas existenciais pré-cognitivas e pré-reflexivas,
inconscientes, instintivas, simbólicas. Para Nietzsche, por exemplo, a relação do homem com o mundo e consigo
mesmo deve ser concebida de várias perspectivas e através de diversos meios e órgãos, em relação aos quais a
razão, a consciência, não tem nenhum privilégio. Por sua vez, Heidegger considera que a luz da razão só ilumina
o que já se encontra na abertura originária instaurada pela existência humana ao eclodir no e para o mundo. O
fato é que a desconstrução operada por Nietzsche e Heidegger em alguns dos fundamentos e princípios da Razão
moderna reforça o caráter histórico, finito e temporal da razão e seus conceitos/representações. Nesse sentido, o
terceiro momento da pesquisa
inicia-se com a exposição de alguns traços fundamentais do pensamento
nietzscheano – dentre os quais podemos destacar: a idéia de uma transvalorização de todos os valores como
crítica do conhecimento e a proposta de um perspectivismo e experimentalismo no conhecimento aliada a uma
estética da existência baseada na idéia de além-homem e vontade de potência. Entre as obras de Nietzsche que
serão analisadas nesse momento podemos destacar: Origem da tragédia no espírito do música, Nascimento da
filosofia na época trágica entre os gregos, Crepúsculo dos Ídolos, Gaya Ciência, Verdade e Mentira no sentido
extra-moral, Assim falou Zaratustra, Humano, demasiado humano e Vontade de potência. Nossa intenção é
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concluir esse momento dedicado às alternativas apontadas pela transvaloração e o perspectivismo nietzscheano
indagando sobre os limites e possibilidades de tais propostas, para tanto vamos recorrer à obra de Heidegger
intitulada Nietzsche II, na qual o filósofo situa Nietzsche como herdeiro da tradição metafísica inaugurada por
Descartes. Nietzsche na realidade teria consolidado a hegemonia do sujeito pensante cartesiano na idéia de
super-homem e na metafísica da vontade de poder.
Concluiremos esse terceiro momento da investigação explicitando as possibilidades e perspectivas abertas pela
reflexão heideggeriana na busca de experiências não objetificantes do ser, da verdade e das coisas, ou seja, que
fogem ao domínio da racionalidade técno-científica. Mas qual seria o caráter do pensamento apto a ultrapassar
os limites da Razão ocidental e seu domínio técno-científico sobre toda realidade? Que tarefas e desafios são
colocados ao homem atual, também convertido à condição de matéria prima? O fato é que ao recusar os
princípios fundamentais da razão ocidental [Princípio do eu, Princípio de não-contradição, Princípio da razão
suficiente], Heidegger abriria perspectivas para uma nova experiência das coisas e da própria verdade no pensar
e no dizer, que prescindem da mediação da representação e do esquema sujeito-objeto. Nossas referências
básicas aqui serão algumas obras da chamada segunda fase do pensamento heideggeriano, dentre as quais
podemos destacar: Einführung in die Methaphysik [Introdução á Metafísica] [1935],
Der Ursprung des
Kunstswerke [A Origem da obra de arte] [1935/36], Die Frage nach dem Ding [A pergunta pela coisa]
[35/36], Überwindung der Methaphysik [Ultrapassamento da Metafísica] [1936], Beiträge zur Philosophie
[Considerações sobre Filosofia] [1936], Die Zeit des Weltbildes [A época da imagem do mundo] [1938], Das
Ereignis [1941/42], Über den Humanismus [Sobre o humanismo] [1947],
Methaphysik und Nihilismus
[Metafísica e Niilismo] [1946], Das Ding [A coisa] [1950], Hölzwege[Caminhos do bosque] [1950], Was
Heisst Denken?[Que significa pensar] [1951], Aus der Erfahrung des Denkens [Da experiência do pensar]
[1954], Vorträge und Aufsätze[ensaios e conferencias] [1954], Nietzsche II [1961], Die Technik und Kehre[A
técnica e a viragem] [1962], Das Ende der Philosophie und die Aufgabe des Denkens [Fim da filosofia e a
tarefa do pensamento][1966]. A leitura de tais obras[muitas ainda não traduzidas para o português] certamente
nos auxiliará na compreensão de que para além da relação dicotômica sujeito/objeto centrada no ego humano,
haveria a possibilidade de uma nova forma de relação com as coisas, na qual a realidade se desdobraria numa
multiplicidade complexa de âmbitos e significações irredutíveis ao pensamento calculador de um suposto sujeito
cognoscente puro
Material e Métodos
A metodologia da pesquisa empregada até o momento foi fundamentalmente a pesquisa bibliográfica
mediante analise e interpretação de textos.
Resultados e Discussão
É importante rememorar aqui os três momentos constitutivos da pesquisa – 1º - Momento: Origem da Razão
Moderna; 2º -
A crítica de Nietzsche e Heidegger à
razão moderna, apontando para os limites e
possibilidades dessas críticas. 3º - Alternativas apontadas por Nietzsche e Heidegger para superar os limites e
rupturas da razão moderna e a conseqüente hegemonia do sujeito pensante. Deste já informamos que essa
terceira parte da investigação só será realizada se for concedida a prorrogação dessa pesquisa por mais doze
meses. O que será solicitado junto a pró-reitoria de pesquisa no tempo devido e em formulário próprio.
Nesse sentido, para o tempo de vigência atual do projeto – 12 meses - está prevista a realização da primeira e
segunda fase apontadas acima. Procuramos nessa primeira fase da pesquisa fazer uma leitura atenta [seguida
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de fichamento] de alguns textos específicos do filósofo Martin Heidegger e de epistemólogos como A. Koyré
e Ilya Prigogine, que tematizam a origem da ciência e da razão moderna, particularmente no plano da
filosofia e da ciência.No momento estamos, portanto, na fase de redação de uma primeira versão do texto
sobre os aspectos fundamentais do surgimento do sujeito/razão moderna com a metafísica cartesiana e o
projeto matemático de natureza da ciência moderna. Nessa primeira fase da pesquisa analisamos alguns
textos de Heidegger que nos levaram a seguinte constatação - Descartes ao estabelecer o eu penso [cogito]
como princípio fundador, transforma o homem em sujeito - o homem deixa de ser uma parte da totalidade do
ente ao lado de Deus e do mundo, para tornar-se aquela instância na qual se reduzem e da qual parte todas as
proposições critérios que decidem o que realmente existe. Cabe ressaltar que para tal constatação e
explicitação de alguns aspectos básicos da filosofia cartesiana e sua metafísica da subjetividade, foram de
fundamental importância a leitura de obras como Ser e Tempo, A época da imagem do mundo, Nietzsche II,
etc. Em tais obras fica claro que ao buscar um fundamento seguro para o conhecimento, Descartes teria
colocado o mundo e toda tradição ocidental em suspensão[epoché], enclausurando o sujeito, enquanto puro
pensamento [res cogitans] na certeza de si mesmo. Algumas questões serviram como fios condutores nesse
primeiro momento de leitura e analise do material bibliográfico - qual o caráter dessa subjetividade [Sujeito
pensante] que nasce com Descartes e inaugura a modernidade? Seria legítima sua pretensão de, não apenas
representar as coisas, mas influir sobre elas, transformando-as em meros objetos extensos redutíveis ao
cálculo, à planificação? Ora, até o momento o que podemos constatar com nossas leituras é que, com
Descartes, o sujeito se reduz ao ego humano e todo resto passa a ser objeto de representação dessa
subjetividade ávida em dominar todo real. Nesse sentido, para a razão cartesiana a realidade não se refere a
um suposto mundo de coisas em si, mas aquilo que pode ser representado conforme os princípios imanentes
de um suposto sujeito puro e desencarnado.
Estamos começando a leitura, análise e fichamento das obras referentes à primeira parte do segundo momento
da investigação, na qual vamos analisar e avaliar o conteúdo, os limites e as possibilidades da crítica
arrasadora que Nietzsche faz a todo sistema da moral ocidental. Ainda nesse segundo momento da pesquisa
vamos redirecionar nossa atenção para a obra de Heidegger e sua crítica à razão moderna.
Como já ressaltamos, devido a extensão do tema proposto – a desconstrução da razão no âmbito da critica
nietzschiana e heideggeriana, e considerando o tempo demandado para a realização das pesquisas, leituras e
redações de textos, acreditamos que será necessária uma prorrogação da pesquisa por mais doze meses para
realizarmos as leituras e fichamentos dos textos referentes ao terceiro momento da pesquisa e no qual esta
prevista a analise de algumas das alternativas apontadas por Nietzsche [Experimentalismo/perpectivismo] e
Heidegger para superar os limites e cisões da Razão moderna e consequentemente a hegemonia do sujeito
pensante. A realização dessa terceira parte seria de fundamental importância para que fossem ressaltados,
além dos aspecto negativos, os aspectos positivos da crítica nietzschiana e heideggeriana a Razão moderna.
Esperamos assim, contar com a prorrogação do projeto por mais doze meses para que essa terceira parte da
investigação seja realizada com o mínimo de rigor.
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Conclusões
Os seis primeiros meses de pesquisa foram dedicados a pesquisa bibliográfica geral e a redação da
primeira parte da pesquisa e início da segunda parte. Para a segunda fase de desenvolvimento do
projeto está prevista a confecção de um artigo científico. Está prevista ainda a apresentação de parte da
pesquisa em simpósio interno da própria unidade na qual se desenvolve a pesquisa e em outras
unidades que leciono[UnCSEH, UnCET e Cora Coralina].
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