|Estudo da soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B

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Flávia Vieira Diogo1
Valéria Aparecida da Silva Melo de Souza1
Flammarion Landre Diogo1
Jorge Kleber Chavasco2
Study of the seroprevalence
of the hepatitis B virus among
blood donors at the
Hemotherapy Nucleus of the
Santa Casa de Alfenas/MG
through the anti-HBc marker
|Estudo da soroprevalência da
infecção pelo vírus da hepatite B
entre os doadores de sangue do
Núcleo Hemoterápico da Santa Casa
de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do
marcador anti-HBc
ABSTRACT| INTRODUCTION:
The hepatitis B virus is transmitted mainly
through percutaneous and mucosal exposure
to contaminated body fluids or blood. Man
being the only natural reservoir of the HBV,
the condition of the chronic bearer will favor
the human reservoir, and consequently the
risk of the transfusional transmission will
always be related with the incidence and
prevalence of infected donors of a certain
region. The HBV marker to be searched for
in blood donors is the anti-HBc, an antibody
against the HBc which can be detected 3-5
weeks after the appearance of the HbsAg.
Anti-HVc is an antibody that generally
persists through life and indicates an episode
of HBV infection. OBJECTIVE: To
conduct a study of the seroprevalence of the
hepatitis B virus infection among blood donors
at the Hemotherapy Nucleus of the Santa
Casa de Alfenas (Alfenas, MG) through
the anti-HBc marker. MATERIAL
AND METHODS: The medical records
of 25.034 blood donors were surveyed at the
Hemotherapy Nucleus from January 2000 to
December 2006 to determine positive results
for the anti-HBc marker. RESULTS: A
total of 1.83% positive results for anti-HBc
were found. CONCLUSION: The values
found are far below the Brazilian mean, which
is 8.0% , and similar to those of the states
of Rio de Janeiro and São Paulo, which range
from 1.0% to 2.0%.
RESUMO| Introdução: O vírus da hepatite B (HBV) é transmitido
principalmente por meio de exposição percutânea ou de mucosas aos fluidos
corpóreos ou a sangue contaminado. Por ser o homem o único reservatório
natural do HBV, o estado do portador crônico irá favorecer o reservatório humano.
Por conseguinte, o risco de transmissão transfusional será sempre relacionado
com a sua incidência e a prevalência de doadores infectados numa determinada
região. O marcador para HBV a ser pesquisado em doadores de sangue é o antiHBc, um anticorpo dirigido contra o antígeno HBc, antígeno central do vírus da
hepatite B, detectado após três a cinco semanas do aparecimento do HbsAg. O
anti-HBc é um anticorpo que geralmente persiste por toda a vida, indicando um
episódio de infecção pelo HBV. Objetivo: Realizar um estudo da soroprevalência
da infecção pelo vírus da hepatite B entre os doadores de sangue do Núcleo
Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG), por meio do marcador
anti-HBc. Metodologia: Foi realizado um levantamento dos prontuários de
25.034 doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas
(Alfenas/MG) no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2006, pesquisando
os positivos para o marcador anti-HBc. Resultados: Foi encontrado 1, 83% de
positivos para anti-HBc. Conclusão: Os valores encontrados estão bem abaixo
da media brasileira que é de 8,0% e são semelhantes aos dos Estados do Rio de
Janeiro e São Paulo, ou seja, entre 1,0 e 2,0%.
Palavras-chave| Hepatite B; Bancos de sangue; Marcadores biológicos.
Keywords| Keywords: Hepatitis B;
Blood bank; Biological markers.
Farmacêutica e Bioquimica do Núcleo de Hemoterapia da Santa Casa da Santa Casa de Alfenas/MG.
Professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal/MG)
1
2
Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde 2012; 14(2): 59-64 |59
Estudo da soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B entre os doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do marcador anti-HBc | Diogo FV et al.
INTRODUÇÃO
A hepatite B continua a ser um importante problema de
saúde pública em nível mundial. A Organização Mundial
da Saúde estima que cerca de 2 bilhões de pessoas já se
infectaram pelo vírus da hepatite B (HBV) e, desses, 350
milhões são portadores crônico11 .
A hepatite B é uma inflamação do fígado causada pelo vírus
(HBV) que apresenta um mecanismo único entre os vírus
que infectam o homem e que permitem a produção de
diferentes tipos de partículas virais, sendo a principal causa
de hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular, com
aproximadamente um milhão de óbitos anualmente8.
O HBV é transmitido principalmente por meio de
exposição percutânea ou de mucosas aos fluidos corpóreos
ou a sangue contaminado, e as maiores concentrações de
vírus são verificadas no sangue e secreção serosa8.
Nos trabalhadores de ambiente hospitalar, verificouse que, dentre os marcadores sorológicos do vírus da
hepatite B pesquisados, o anti-HBc foi o mais prevalente,
tendo sido detectado em 8,1% dos indivíduos do grupo
exposto.7 Por ser o homem o único reservatório natural
do HBV, o estado do portador crônico irá favorecer
o reservatório humano, por conseguinte, o risco de
transmissão transfusional será sempre relacionado com
a sua incidência e a prevalência de doadores infectados
numa determinada região15.
Após o período de incubação do HBV, os pacientes
infectados apresentarão quadro de hepatite B aguda
ictérica ou anictérica. Destes, 90-95% evoluirão para a cura,
menos de 1% apresentará hepatites fulminantes e cerca
5-10% persistirão HBsAg positivos por mais de seis meses,
caracterizando o estado de portador crônico do HBV6.
O padrão epidemiológico de prevalência da infecção
crônica pelo HBV de uma região tende a ser definido
pela prevalência dos marcadores sorológicos HBsAg,
anti-HBc e anti-HBs. Consideram-se áreas de alta
endemicidade aquelas com prevalência superior a
8%14. Com a introdução do teste de AgHBs na triagem
sorológica de doadores de sangue, o índice de HBV póstransfusional diminuiu de forma significativa, mas não
totalmente. Em janeiro de 1995, o National Institute of
Health (NIH) chegou à conclusão de que o anti-HBc era
um teste com potencial para prevenir casos de hepatite B
pós-transfusional6,10,17.
O diagnóstico da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV)
baseia-se na detecção de três marcadores sorológicos: a) do
antígeno de superfície do HBV (HBsAg); b) do anticorpo
60| 2012; 14(2): 59-64 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde
(IgG e IgM) contra o antígeno do nucleocapsídeo viral
(anti-HBc); e c) do anticorpo contra o HBsAg (antiHBs). Apenas o HBsAg e o anti-HBc são obrigatórios
na triagem sorológica de doadores de sangue. O antiHBs tem importância na definição da infecção pelo
HBV, cuja evolução resultou em cura, e na avaliação de
resposta vacinal. Nos casos de cura da infecção, o HBsAg
é negativo e o anti-HBc e anti-HBs é positivo. Nos casos
de resposta vacinal, apenas o anti-HBs é positivo4.
O marcador para HBV a ser pesquisado em doadores de
sangue é o anti-HBc, um anticorpo dirigido contra o HBc,
detectado após três a cinco semanas do aparecimento do
HbsAg. O anti-HBc IgM aparece na fase aguda da doença
e, gradativamente, vai aparecendo também o anti-HBc IgG,
enquanto o anti-HBc IgM vai desaparecendo. Após um
período de quatro a seis meses, todo o anti-HBc presente
no sangue é tipo IgG e geralmente persiste por toda a vida,
indicando um episódio de infecção pelo HBV 8,14.
No Brasil, em algumas regiões, principalmente na Região
Norte, o índice de infecção é alto, chegando a 54,8% no
Estado do Acre6,14.
No Estado do Pará, o marcador anti-HBc foi observado em
37,7% dos indivíduos1,13. Dessa forma, torna-se de suma
importância a triagem sorológica desses marcadores nos
doadores de sangue para detecção de possíveis transmissores
dessa importante e grave patologia. Nessa pesquisa avaliou-se
o perfil dos doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da
Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do marcador
anti-HBc, para se conhecer a soroprevalência da infecção
pelo vírus da hepatite B na região do sul de Minas Gerais.
METODOLOGIA|
Para a realização deste trabalho, foram analisados resultados
das pesquisas sorológicas do marcador de hepatite B (antiHBc) obtidos após triagem de rotina. Esta pesquisa foi
autorizada pelo Comitê de Ética da Universidade José do
Rosário Vellano (Unifenas). O levantamento dos dados foi
realizado por meio dos registros encontrados nos arquivos
do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas
(Alfenas/MG), no período de janeiro de 2000 a dezembro
de 2006, para avaliar a soroprevalência do marcador antiHBc do vírus hepatite B, correspondendo aos soros dos
doadores das seguintes cidades conveniadas com o Núcleo
Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas: Alfenas, Alterosa,
Areado, Botelhos, Bandeira do Sul, Campos Gerais,
Campo do Meio, Campestre, Carvalhópolis, Conceição
da Aparecida, Divisa Nova, Guaranésia, Guaxupé,
Estudo da soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B entre os doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do marcador anti-HBc | Diogo FV et al.
Tabela 1 – Prevalência do marcador anti-HBc total em doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas, Alfenas/MG referente
ao período de 2000 a 2006 Ano
Doadores
Total
Positivos para anti-HBc
Masculinos
Femininos
Masculino
Feminino
nº
%
nº
%
nº
Total
%
nº
%
nº
%
6,00
1,80
2000
2707,00
2374,00
87,70
333,00
12,30
46,00
1,70
40,00
1,68
2001
3079,00
2745,00
89,15
334,00
10,85
33,00
1,07
28,00
1,02
5,00
1,50
2002
4094,00
3538,00
86,42
556,00
13,58
91,00
2,22
74,00
1,80
17,00
3,06
2003
3857,00
3346,00
86,75
511,00
13,25
67,00
1,74
50,00
1,49
17,00
3,33
2004
3774,00
3259,00
86,35
515,00
13,65
61,00
1,62
46,00
1,22
15,00
2,91
2005
3906,00
3437,00
87,99
469,00
12,01
86,00
2,20
61,00
1,77
25,00
5,33
2006
3617,00
3087,00
85,35
530,00
14,65
72,00
1,99
48,00
1,55
24,00
4,53
Total
25034,00
21786,00
87,10
3248,00
12,90
456,00
1,83
347,00
76,10
109,00
23,90
Juruaia, Monte Belo, Muzambinho, Machado, Nova
Rezende, Poço Fundo e Serrania. Os testes sorológicos
foram realizados pelo Setor de Sorologia do Núcleo
Hemoterápico, utilizando técnica de determinação do
anti-HBc total por Elisa Hepanostika® anti-HBc UniForm II (Organon Teknika). O levantamento foi feito pela
equipe responsável por este trabalho, a qual teve acesso ao
banco de dados do Banco de Sangue.
Os dados obtidos foram analisados separadamente e
calculada a proporção da frequência de portadores do
marcador anti-HBc em doadores de sangue masculinos
e femininos, preservando a identidade dos participantes.
RESULTADOS|
Foi realizado um levantamento das fichas de 25.034
doadores de sangue do NHSCA no período de janeiro
de 2000 a dezembro de 2006. Foi detectado um total
de 21.786 doadores masculinos, ou seja, 87,10% e 3.248
doadores femininos, representando 12,90% dos doadores.
Dos 25.034 doadores, 1,83% foi positivo para presença
do marcador anti-HBc, ou seja, 347. Os dados estão
representados na Tabela 1.
triagem dos doadores, pois torna a doação mais segura no
que diz respeito à infecção pelo HBV.
A prevalência média no Brasil do VHB é em torno de 8%.
Na Região Sul, é da ordem de 7,6%; em São Paulo e no
Rio de Janeiro 1,0 a 2,1%; no Nordeste 1,2%; e na Região
Amazônica 21,4 % 2,3,4,13. Estima-se que 6% da população
do planeta são portadores de hepatite. Em nosso estudo, a
prevalência de reatividade para anti-HBc entre os anos de
2000 a 2006 foi de 1,83% (456 entre os 25.034 doadores)
conforme o Gráfico 1. Na população geral, a soroprevalência de anti-HBc foi determinada em 1,2% para a
Região Nordeste, 5,5% na Região Sudeste, 7,6% na Região
Sul e 21,4% na Região Norte, sendo esta última considerada
uma área de alta endemicidade para a hepatite B5,6.
Gráfico 1 – Reatividade ao anti-HBc total dos doadores de sangue submetidos à triagem sorológica
DISCUSSÃO|
O Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas recebe
doadores de 20 cidades do sul de Minas Gerais, já que
possui contrato com cada uma delas para fornecimento
de sangue e hemocomponentes, tornando os dados desta
pesquisa de extrema importância para o conhecimento da
prevalência da hepatite B na região.
O exame para detecção do anti-HBc é o mais usado na
O resultado pode refletir uma baixa circulação do vírus
na população analisada, embora outros testes devam ser
realizados para descartar possíveis falsos resultados. A
prevalência média em porcentagem para a presença do
marcador anti-HBc total, entre homens e mulheres do
Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde 2012; 14(2): 59-64 |61
Estudo da soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B entre os doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do marcador anti-HBc | Diogo FV et al.
Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas/MG,
referente ao período de 2000 a 2006, assim como o desvio
padrão e intervalo de confiança são mostrados na Tabela 2.
Tabela 2 – Média, desvio padrão (em %) e intervalo de confiança a 95%
do número de positivos para o marcador anti-HBc, entre os anos de 2000 a
2006, em pacientes do sexo feminino, masculino e feminino/masculino
Média
DP
IC95
Mulheres
3,21
1,37
±0,05 (3,16-3,26)
Homens
1,50
0,29
±0,004 (1,496-1,504)
Mulheres/
Homens
1,79
0,4
±0,005 (1,785-1,795)
Segundo o estudo de Sbeghen e Paraboni14, com 2.108
candidatos, na doação de sangue no município de
Erechim/RS, 5,6% apresentaram reatividade ao antiHBc total. Resultados semelhantes foram encontrados
por Valente et al.16, cuja positividade foi de 8,7% para o
marcador anti-HBc, entre os anos de 1996 a 2001, em um
hemocentro de Ribeirão Preto/SP.
A Tabela 2 mostra os dados utilizados para o cálculo
do teste de Qui-quadrado de Pearson, assim como
informações referentes aos números absolutos e
porcentagem dos resultados dos testes para os doadores
do sexo masculino e feminino.
Tabela 3 – Resultados dos testes para o marcador anti-HBc total em doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas/MG,
referentes ao período de 2000 a 2006
Amostra
Positivo
Mulheres
Nº
%
Nº
%
Nº
%
347
1,59
109
3,36
456
1,83
21786
100
3248
100
Total
25034
O maior índice de positividade entre doadores do
sexo masculino pode estar relacionado com aspectos
comportamentais adotados por esses indivíduos, tais
como uso de drogas, promiscuidade e a não utilização de
preservativo, também podendo indicar que eles podem
ser mais expostos aos vírus estudados, provavelmente
devido ao comportamento sexual, ou simplesmente
representam um viés amostral, em virtude de a maior
oferta de doadores ser feita por homens12.
Entretanto, posteriormente, foi realizada a análise da
força de associação (phi) para verificar a associação entre
o sexo do doador e o resultado do teste, para verificar
a relevância clínica, que se demonstrou não importante
clinicamente (< 1%). Esse fato mostra que a alta
significância estatística é trivial.
Adicionalmente, para testar se o gênero do doador ou se
o gênero do doador positivo para anti-HBc está associado
ao ano de coleta, foi realizado o teste de Qui-quadrado
de Pearson. O gênero do doador está relacionado com
o ano de coleta (p < 0,0001). Já com relação ao gênero
do doador positivo para anti-HBc, não há indícios da
associação com o ano de coleta (p = 0,1011).
Os dados estão registrados na Tabela 1 e Tabela 4.
Tabela 4 – Associação estatística entre variáveis de interesse
Homens
Negativo 21439 98,41 3139 96,64 24578 98,17
Total
Nesta pesquisa, houve uma maior positividade para os
marcadores da hepatite B, em doadores do sexo masculino
(76,10%). Este resultado é semelhante aos descrito em
outras regiões do Brasil, 82,7% no Nordeste, 76,6% no
Centro-Oeste e 71,7% no Sul6,10.
100
Variáveis
Ano de coleta/gênero
Ano de coleta/reativo
Gênero/reatividade
p valor
<0,0001*
0,1011**
<0,0001*
*Altamente significante; ** Não significante a 5% (alfa=0,05)
Para testar se o gênero do doador está associado ao
resultado do teste, foi realizado o teste de Qui-quadrado.
A associação entre o sexo e o resultado do teste para o
marcador anti-Hbc foi de alta significância estatística
(p< 0,0001). Esse fato, que demonstra uma possível
relação entre o sexo e a exposição ao vírus da hepatite
B, é corroborado pelo estudo realizado por Sbeghen e
Paraboni14, com 119 candidatos que, na doação de sangue,
foram positivos para anti-HBc. Foi relatada associação
entre sexo masculino maior e reatividade para anti-HBc.
62| 2012; 14(2): 59-64 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde
Outros estudos também evidenciam o predomínio de
homens, como a pesquisa sorológica para VHB em pacientes
com suspeita clínica em Goiânia- GO (61,1%)9 e em
candidatos à doação de sangue no Hemocentro de Ribeirão
Preto/SP, onde o percentual de homens foi de 76,4% e 93%
dos indivíduos positivos para sorologia para VHB e VHC,
respectivamente16.
Como não foram realizados os testes AgHBs e anti-HBs,
não se pode afirmar que essas pessoas não apresentariam
Estudo da soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B entre os doadores de sangue do Núcleo Hemoterápico da Santa Casa de Alfenas (Alfenas/MG) por meio do marcador anti-HBc | Diogo FV et al.
reatividade a algum desses marcadores, ou seja, não
se pode dizer que eram portadores de hepatite B, ou
mesmo que estavam imunes ao vírus da hepatite B pela
da vacinação ou infecção passada (cicatriz sorológica).
Apesar de resultados isolados de anti-HBc poderem
significar apenas falsa reação positiva, levando ao descarte
desnecessário de bolsas de sangue, podem também estar
detectando infecção passada, com baixos níveis de antiHBs. A presença de anticorpos anti-HBc, apesar de
serem marcadores de infecção prévia, obriga o descarte
imediato da bolsa, o que ocasiona custos elevados, porém
necessários para o fornecimento de sangue e derivados
totalmente seguros, pois alguns estudos evidenciaram que
pacientes que receberam transfusão sanguínea positiva
para o anti-HBc tiveram infecção pelo VHB6,10.
A realização de testes confirmatórios ou complementares
é facultativo aos serviços de hemoterapia, mas,
quando não são realizados, os doadores positivos
deverão ser encaminhados a serviços especializados
de acompanhamento. Acreditamos que, no futuro,
por diminuição do número de doadores e aumento
da demanda de sangue para transfusão, o exame para
detectar a presença do HBsAg deverá ser feito de rotina,
juntamente com o anti-HBc, para não haver descarte
desnecessário das bolsas que apresente somente o teste de
anti-HBc positivo e, também, visando à identificação de
pessoas com a infecção instalada para encaminhamento e
acompanhamento médico.
CONCLUSÃO|
Os resultados deste trabalho nos permitem concluir que
o índice de infecção pelo HBV, baseado na pesquisa do
marcador anti-HBc, na região do Sul de Minas, é de 1,83 %,
dentro dos valores encontrados nos Estados de São Paulo e
Rio de Janeiro, bem abaixo da média nacional que é de 8,0%.
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Correspondência para/Reprint request to:
Jorge Kleber Chavasco
Universidade Federal de Alfenas
Rua Gabriel Monteiro da Silva, nº 700
Alfenas - MG
CEP.: 37130-000,
Tel.: (35) 3299-1305
e-mail: [email protected]
Recebido em: 29-9-2011
Aceito em: 15-3-2012
64| 2012; 14(2): 59-64 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde
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