Capitalismo moderno, descentralização produtiva e as

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CAPITALISMO MODERNO, DESCENTRILIZAÇÃO PRODUTIVA
E AS FÁBRICAS EM TRÊS LAGOAS-MS
Walter de Assis Alves
[...] um capital aplicado no mercado interno necessariamente movimenta
um contingente maior de atividade interna e assegura renda
e emprego a um contingente maior de habitantes do país
[...] todo individuo procura empregar seu capital
tão próximo de sua residência quanto possível e,
conseqüentemente, na medida do possível,
no apoio e fomento à atividade nacional [...] 1
Quando Adam Smith enfatiza em seu livro A Riqueza das Nações que os capitalistas
primavam em fazer suas aplicações pretendendo uma proteção do capital nacional, por
certo ele nem imaginava a complexidade dos desdobramentos que norteariam as relações
econômicas condicionadas a partir do grande impulso dado pela indústria inglesa.
Seu livro, considerado um clássico da economia e germe do liberalismo, escrito em
meados do século XVIII período em que o mercantilismo europeu encontra-se em crise e as
primeiras fábricas começam a substituir as pequenas oficinas de manufatura, foi
de
inestimável valor para que os empreendedores pudessem vir a compreender as relações
econômicas e de trabalho que começavam a despontar em transformações dentro do
universo capitalista.
Dessa maneira, a reflexão de Adam Smith pautada em categorias analíticas de
desenvolvimento, que aborda a perspectiva do indivíduo aplicar seu capital de maneira a
sustentar as atividades produtivas internas, vai se perdendo ao defrontar com novas
observações procedentes da necessidade de entender a direção tomada por um capitalismo
em processo de amadurecimento.
Essa nova roupagem do capitalismo, envolto de fluxos de descentralização
produtiva, internacionalização dos mercados, vem a nutrir a integração dos países numa
circulação mundializada de créditos, o que faz da idéia do emprego de capital em mercado
interno algo não tolerado. E, é dentro desse processo de erupção do mercado mundial que
surge a perspectiva de industrialização da cidade de Três Lagoas.
464
Para compreender as questões socioeconômicas e políticas de onde refleti acerca das
conjunturas que proporcionaram o desenvolvimento desta cidade, faz-se necessário resgatar
os processos econômicos que desde Henri Ford contribuíram para a configuração do atual
momento do capital. Por certo, o dialogo com autores da história, e de outras disciplinas
como a geografia, a economia, etc., vem colaborar para tornar inteligíveis os
desdobramentos responsáveis pela sedimentação do capitalismo mundial.
David Harvey, estudando as transformações políticas e econômicas no final do
século XX faz esse retrocedimento, o seu raciocínio é conducente para a compreensão da
passagem do fordismo para o regime de acumulação flexível alicerçado em uma política
econômica de estabilização e inserção competitiva.
Em 1914, Henry Ford introduz em suas fábricas turnos de oito horas de trabalho por
dia, adicionando uma recompensa de cinco dólares para os trabalhadores da linha de
montagem de carros, fincando aí a data simbólica do início do fordismo. Ford racionalizou
velhas tecnologias e uma detalhada divisão do trabalho já preexistente, ao fazer o trabalho
chegar ao trabalhador numa posição fixa, conseguiu extraordinários ganhos de
produtividade 2 .
Por outro lado, em 1911 F. W. Taylor, importante teórico do capitalismo, publicou o
seu resultado de pesquisas, um trabalho de experiência e experimento científico que leva o
título de Organização Científica do Trabalho. 3 Seus estudos promoveram para a indústria à
idéia fundamental de uma nova organização de fábrica, a racionalização do trabalho.
Tanto Henry Ford quanto Taylor colaboraram para redimensionar os modos de
produção fabril em princípios do século XX, Taylor descrevia que:
[...] a produtividade do trabalho podia ser radicalmente aumentado através
da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos
componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas
4
segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento [...].
Apesar da relevância de seu tratado, para David Harvey, Henry Ford teve maior
representatividade no que concerne à revolução na organização produtiva do trabalho. Para
justificar tal ponto de observação, o autor questiona: o que havia de especial em Ford e ele
mesmo enfatiza que sua virtude correspondia à visão de empreendedor atento, capaz de
reconhecer que produção de massa significava consumo de massa, “[...] um novo sistema
465
de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho,
uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade
democrática, racionalizada, modernista e populista”. 5
Com essas contribuições o capitalismo redimensiona seu modo de pensar as
relações de produção, fornecendo a uma miríade de trabalhadores melhores condições,
objetivadas em representativos ganhos salariais e maior tempo de lazer. Isso vem
possibilitar o aumento do consumo de produtos fabricados em massa pelas corporações.
Por conseguinte, cria-se uma corrente de produção e consumo de produtos
industrializados mais acelerada e lucrativa, o que proporciona maior dinâmica à produção
capitalista, em especial dentro dos EUA e alguns países de capitalismo avançado. Em
síntese, tal processo obteve, a principio, projeção limitada alcançando um determinado
grupo de trabalhadores, e determinados empreendedores com capacidade e interesse em
investirem capital financeiro seguindo essa lógica fordista.
Neste contexto, segundo David Harvey, surge a necessidade de “[...] conceber um
novo modo de regulamentação para atender aos requisitos da produção fordista”, que após
o quase colapso do capitalismo na década de 1930, forçou os grupos dominantes a
buscarem novas formas de fazerem uso dos poderes do Estado. Criam-se assim obrigações
como controlar ciclos econômicos com políticas fiscais e monetárias, em setores como de
transportes e de equipamentos públicos, vitais para o crescimento da produção, o que
reflete na possível garantia do pleno emprego. Foram feitos investimentos também no setor
de seguridade social, assistência médica, educação e habitação; tendo ainda, o governo,
poderes sobre os acordos salariais e os direitos dos trabalhadores na produção. 6
Após estas reformulações na economia com o apoio do Estado, a afirmação da
heterodoxia econômica keynesiana 7 e os compromissos sociais dinâmicos da administração
Roosevelt aliados à derrota Alemã na Segunda Grande Guerra, conduzirá o modelo
americano à torna-se um paradigma de referencia do processo de reestruturação das
economias européias.
Desse modo, a partir do pós guerra tal modelo ira promover o uso próprio dos
poderes do Estado na regulamentação econômica, e o fordismo, por conseguinte, alcança a
sua maturidade como regime de acumulação plenamente acabado e distinto, sedimentando
466
a base de um longo período de expansão que vai se manter mais ou menos intacto até o ano
de 1973.
Com a erupção no mercado econômico causada pelo “choque do petróleo”, vai
eclodir um acelerado processo de transição do regime de acumulação, caracterizada por um
momento de estagflação, instabilidade e decréscimo da produtividade, tendo ainda outros
desdobramentos que favoreceram a decadência do modelo fordista.
A mola essencial da perda de força do fordismo foi: a recuperação européia e do
Japão no pós-guerra ainda na década de 1960, a saturação do mercado americano, a
formação do mercado do eurodólar; na América Latina fortalece a onda de implantação de
indústrias; o que permite uma desfocalização da dinâmica fordista, apoiada pelos poderes
do Estado, exigindo a partir de então novas regras de mercado 8 .
Esses, entre outros processos vão abalar as sólidas estruturas do fordismo, sua
rigidez passa a aparentar um impasse na tentativa de prosseguir com as novas tendências
impostas por um capital corporativo abastecido com muita capacidade excedente
inutilizável, freando o ideal de aceleração constante de um capitalismo em condições de
intensificar a competição de mercado.
Por esse “sufoco”, o mercado econômico mundial é obrigado a uma inflexão
representativa que o lança em direção a um período de racionalização, com mudanças
caracterizadas por avanços tecnológicos, automação das linhas de produção. Decrescem os
postos de trabalho nas fábricas e aumenta os empregos nos setores de serviços, juntamente
com:
[...] a busca de novas linhas de produtos e nichos de mercado, a dispersão
geográfica para zonas de controle do trabalho mais acessível, as fusões e
medidas para acelerar o tempo de giro do capital passaram ao primeiro
plano das estratégias corporativas de sobrevivência em condições gerais
de deflação 9 .
O processo de reestruturação econômica e de reajustamento social e político, que
traz a obrigação de buscar novas experiências nos domínios da indústria e da vida, começa
a tomar forma, vindo a representar os primeiros sinais da passagem do fordismo para um
regime de acumulação inteiramente novo, que a partir da década de 1980, associado com
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um sistema de regulamentação política e social bem distinta ira engolfar todos os centros
financeiros do mundo, sendo ele: o regime de acumulação flexível.
Este novo momento do capitalismo terá seus desdobramentos espraiados numa
perspectiva global e, Jorge Mattoso em sua tese aponta que: “[...] em paralelo ao processo
de ajuste e reestruturação econômica ocorrido nos países capitalistas centrais durante a
década de 1980, ampliou a marginalização de amplas áreas do globo com o virtual colapso
das economias periféricas [...]”. 10
Essa situação leva o Brasil a perceber a necessidade de tomar atitudes frente às
mudanças neoliberais, o Governo brasileiro, por conseguinte, tenta impor resistência acerca
desse novo modelo, haja vista que sua situação se complica a cada instante por força de
uma crise causada pela divida externa nacional. 11
Em um primeiro momento, o país investe em setores de produção inteiramente
novos, aliado a substituição de importações por uma onda de industrialização nacional e
proteção do desenvolvimento desta indústria 12 , o que não durou muito tempo. A elevação
da inflação, a queda do desenvolvimento favorecendo a estagnação da produtividade
tornando os ciclos de crescimento praticamente inexistentes, “[...] interrompendo o
processo de assalariamento e de formalização das relações de trabalho [...]”. 13
O que irá impor como resultado novas estratégias à economia nacional na tentativa
de uma estabilidade socioeconômica. Com a solidificação do mercado mundial, percebe-se
a necessidade duma reabertura econômica pautada na diminuição do nível de proteção do
mercado nacional, na tentativa de reinserção do país na economia mundial, mesmo que esta
seja feita pelas portas dos fundos. 14
Em meio à crise que adentra a década de 1990, vai-se impor ao governo brasileiro a
criação de novas medidas para tentar alavancar à economia nacional, neste cenário surge o
pacote de investimentos em infra-estrutura que termina por beneficiar a região CentroOeste do Brasil, como mostra a matéria de Adriana Setti e Daniel Teich, para a revista
Veja:
Enquanto o Brasil falava da crise e olhava para a cotação do dólar [...]
começou a se desenhar sem o mesmo alarde uma idéia do que realmente
poderá levar o país adiante outra vez. Ela consiste num pacote de
investimentos que vão permitir a implantação de novas indústrias, o
barateamento do transporte e a criação de atividades numa região de
grande potencial: o Centro-Oeste brasileiro. Ali estão saindo do papel
468
alguns dos projetos de infra-estrutura mais importantes do país nesta
década. 15
A matéria prossegue apontando os benefícios que permitirá levar adiante a
perspectiva de progresso para a região central do país. Com uma idéia de criação e
reutilização de infra-estruturas estagnadas por anos de investimentos feitos na região.
Dentre as obras temos: a implantação do Gasoduto Brasil-Bolívia que transporta gás
natural de Santa Cruz de la Sierra para regiões do Estado de São Paulo, compreendendo 11
municípios do Mato Grosso do Sul e 61 do Estado de São Paulo, e projetando Alcançar
Porto Alegre com mais de 3.157 Km de duto; a Ferrovia Novoeste, que vai de Bauru-SP a
Corumbá-MS, retomando suas atividades após a privatização em 1996; a Ferronorte,
projeto privado que ficou parado por anos e que tem iniciado suas atividades com um
trecho de 110 Km, interligando Aparecida do Taboado-MS a malha ferroviária paulista em
Santa Fé do Sul-SP.
Nesta perspectiva a matéria aponta ainda que concluído esses projetos “[...] será
possível transportar por ferrovias cangas do Paraná e Rondônia até São Paulo. Assim como
a Novoeste e o Gasoduto Bolivia-Brasil, essas ferrovias se encontram com a Hidrovia
Tietê-Paraná, resultado de investimentos feitos por sucessivos governos estaduais no
decorrer dos últimos trinta anos”. 16
Fechando o ciclo de investimentos em infra-estrutura na região tem-se a construção
de uma Usina Termelétrica - que faz parte de um projeto composto pela intenção de
construção de 29 usinas no país -, com capacidade de gerar 400 MW de energia, no dizer de
Carlos Alberto Coutinho, Diretor do consórcio Odebrecht-Promon que participa na
construção da usina “Ao estabelecer como prioridade a construção de termelétricas, o
Brasil parte para recuperar o tempo perdido”. 17
Esses trinta anos de investimentos na região Centro-Oeste do Brasil, agrega a
expectativa fincada juntamente com a placa inaugural do Distrito industrial de Jupiá em
1975, que justamente a três décadas de sua instalação vem alimentando o ideal de
progresso conduzido por meio de uma possível industrialização 18 .
Isso pode ser percebido na configuração de discursos de representantes da sociedade
local da época, estampada no Jornal do Povo, conduzidas por matéria de Benedito Costa
em seu periódico Fato em Foco: “Três Lagoas que apesar dos esforços despendidos ainda é
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relativamente pouco conhecida, será em breve tão logo entre em funcionamento as
indústrias já planejadas, uma das principais cidades do Centro-Oeste e possivelmente a sua
primeira cidade verdadeiramente industrial”. 19
Tal expectativa vai permaneceu viva no discurso de parte da elite hegemônica local.
Após um período de arrefecimento, e realimentada na segunda metade da década de 1990
com fôlego renovado e bem mais próximo de tornar-se realidade, aja vista que alguns
investimentos já começam a atracar em seu porto nesses anos 20 , causando um certo
“alvoroço” nos personagens envolvidos diretamente com a política e a economia de Três
Lagoas.
A fala de Carlos Silvestrin, diretor executivo da Agência de Desenvolvimento TietêParaná que reúne empresários interessados no fomento econômico da região, enfatiza de
modo um pouco exaltado esse novo despertar em busca do desenvolvimento industrial, diz
ele: “Poucos lugares no mundo conseguiram reunir tantas condições simultâneas para atrair
investimentos e promover o desenvolvimento” 21 . Enaltecendo os feitos governamentais que
proporcionaram os recursos destinados a conceder a possibilidade de realização do projeto
de desenvolvimento econômico que tanto tempo permeou a fala dos seus maiores
interessados, que é a classe políticos e empresarial local.
Dentro desse processo de industrialização percebemos estarem abarcados fatores
que compõem as políticas internacionais de acumulação flexível. Se avaliarmos a origem
das fábricas que estão instaladas em Três Lagoas, podemos perceber que em sua maioria
são fábricas provenientes de capital nacional.
Por certo, exceto os investimentos da multinacional canadense International Paper,
não temos informação de mais nenhuma empresa de capital estrangeiro na cidade, mas com
um olhar apurado podemos fazer uma maior apreciação do processo, percebendo então a
existência de uma parceria internacional na composição do maquinário utilizado
principalmente nas indústrias têxteis instaladas na cidade.
A Barmag do Brasil Ltda, procedente do Sauer Group Alemão, diz contribuir com o
projeto do pólo têxtil do Mato Grosso do Sul, facilitando a instalação de novas máquinas.
Essa empresa fornece texturizadeiras AFK, que permitem o monitoramento do controle de
qualidade on line, ou seja, uma equipe de técnicos alemães está conectada diretamente com
470
as suas máquinas, seja onde elas estiverem, controlando a qualidade dos produtos
fabricados.
Outra máquina que esta atuando nas fábricas de Três Lagoas é a AFK-Multi, com
tecnologia de grande aceitação nos Estados Unidos e na Ásia. Por conseguinte, A Barmag
tem participado fornecendo máquinas de fiação e texturização modernas para diversos
projetos, tanto para plantas novas como modernização das fábricas já existente. 22
A produção é nacional, mas a tecnologia utilizada para tanto é importada de países
europeus, formando então uma parceria, em busca de investir capital mundializado nestas
áreas em que além de facilidades fiscais, outros fatores como a presença de trabalhadores
sem tradições trabalhistas associativas e a quase inexistência de sindicatos, a média salarial
também é bastante débil em relação às áreas já industrializadas.
Sobre o investimento de capital mundializado em países ditos periféricos, François
Chesnais e Claude Serfati considera que essa tendência da abertura para a elevação da taxa
de exploração da força de trabalho. No mais, esses autores - que vêem a necessidade de
uma releitura de Marx para melhor compreender a nova roupagem que toma o capitalismo apontam que, por meio de pressões coletivas exercidas pelo Estado, industriais e grupos
financeiros vendem um modelo de desenvolvimento para países periféricos forjando modos
de vida e consumo que degradam a biosfera e a natureza, em favor de um bem comum o
progresso global. 23
A lógica norteadora da industrialização de Três Lagoas é, portanto, condicionada
pela nova política econômica nacional, envolto em transformações decorrente dos
processos de modernização econômica, reestruturação produtiva organizacional das
empresas e abertura comercial, que por sua vez, provem das tendências de matrizes
neoliberais.
Neste sentido a globalização vem determinar “[...] tanto para as economias centrais
quanto para as periféricas, imperativos de adaptação competitiva que tendem a
homogeneizar mundialmente as estratégias industriais e econômicas de cada país, região,
cidade” 24 . Cartilha que vem sendo seguida pelo Brasil nas últimas décadas, na perspectiva
de ter acesso a uma fatia desse mercado, e assim participar do clube dos investidores de
economia globalizada, mesmo que em posição inferior, estando nas franjas do capitalismo,
471
servindo mais aos interesses dos países do centro do que aos seus próprios, colocando suas
riquezas naturais e sua população a serviço dos grandes exploradores do mercado mundial.
Com a internacionalização dos grandes conglomerados empresariais - numa
linguagem dos economistas -, as empresas transnacionais passam a investir seu capital nas
regiões em que os trabalhadores não têm tradições trabalhistas associativas e os sindicatos
são quase inexistentes, a média salarial também é mais baixa em relação às áreas já
industrializadas, o que facilita a exploração da força de trabalho por parte desses
empreendedores.
Avaliando as abordagens trabalhadas podemos propor novos problemas como forma
de colaborar para tornar inteligíveis as relações sociais que se dá dentro desse novo modelo
forjado por meio dos ideais capitalistas e introduzido nessa região de industrialização
recente, o caso da cidade de Três Lagoas.
Mediante os desdobramentos que passam a dinamizar a rotina dessa cidade,
podemos abrir um dialogo crítico e refletir sobre essa intromissão advinda dos anseios de
modernização e desenvolvimento, e implantadas na vida de pessoas pertencentes a uma
sociedade como a de Três Lagoas que até então se apresenta com pouca influência do
acelerado modo de vida imposto pelo desenvolvimento econômico e tecnológico advindo
das famigeradas metrópoles centrais do globo.
Dentro dessa perspectiva, abarcando as várias faces de uma luta intensa do
capitalismo para tentar se projetar e manter-se no controle das estruturas socioeconômicas e
políticas num mundo globalizado. Impondo-se de forma egoísta, contra qualquer elemento
de interferência dentro do movimento condutor do desejo de empreender veemente a
expropriação das sociedades globais, seguindo seu percurso virulento em todas as direções,
como um “polvo de grandes tentáculos” abraçando qualquer forma de vida humana, das
mais variadas culturas.
Onde há riquezas a serem exploradas, lá estão os tentáculos do capitalismo, com seu
discurso de redentor e provedor do progresso. Sem cerimônias ele entra, e transforma tudo,
num reconstruir pleno, pautado em novas formas de vida social, de desenvolvimento; vindo
de países centrais, dos ricos para os pobres, dos dominadores para os dominados, fazendo
calar as aspirações os desejos individuais e coletivos em prol de “um bem comum”, exposto
pelo discurso capitalista burguês como: o desenvolvimento e progresso da humanidade.
472
NOTAS
1
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. In: CARNEIRO,
Ricardo (org.). Os clássicos da economia, v. 1, São Paulo: Ática, 1997, p. 49.
2
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 15º ed. São
Paulo: edições Loyola, 2006, p. 121.
3
Segundo estudos feitos por Simone Weil sobre a condição operária, dentro das fábricas da Renault em 1937
na França, na condição de operária, observa os desdobramentos da racionalização do trabalho, ela não parte
do ponto de vista da produção para compreender o processo de trabalho fabril sedimentado por Taylor, seu
norte é a observação do trabalhador inserido no processo de racionalização, a sujeição da classe trabalhadora à
arbitrariedade dos quadros dirigentes da sociedade. A autora, na apreciação que faz da biografia de Taylor que
para ela não era um cientista, freqüentado salas de aula somente até a que corresponde ao ginásio, “[...] era
um contramestre do gênero daqueles que atualmente encontramos nos sindicatos profissionais para chefes,
que se julgam nascidos para servir como cães de fila aos patrões [...]”. WEIL, Simone. A racionalização: 23
de fevereiro de 1937. In: Bosi, Ecléa (org.) A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 141.
4
HARVEY. op. cit., 2006, p. 121.
5
6
Ibidem.
Ibidem, p. 124.
7
A observação de John Maynard Keynes – em que o fordismo vai se aliar fortemente – para a retomada dos
avanços da economia e tentar reverter o desastre das falências e desempregos sem precedentes, têm como
mote agregar um conjunto de estratégias administrativas científicas articulados a poderes estatais que
permitissem estabilizar o capitalismo freando a grande depressão econômica dos anos 1930.
8
HARVEY. op. cit., 2006, p.137-140.
9
Ibidem, p. 140.
10
MATTOSO, Jorge. A desordem do trabalho. São Paulo: Ed. Scritta, 1995, p. 59-60.
11
Ibidem, p. 60-61.
12
Essas informações foram retiradas da matéria de Edward J. Amadeo publicado na Gazeta Mercantil em
março de 1997, nas páginas 21 a 23. Apud: COCO, Giuseppe. Trabalho e Cidadania: Produção e direitos na
era da globalização. São Paulo: Cortez, 2000. p.60-62.
13
MATTOSO, Jorge. op.cit., 1995, p. 126.
14
COCO, Giuseppe. op. cit., 2000, p. 60--62.
15
SETTI, Adriana; TEICH, Daniel H. Novas Artérias no Coração do Brasil. Revista Veja, 17 fev. 1999. p.32
16
Ibidem, p. 32.
17
Termelétrica de TL, no MS, faz parte de programa prioritário do Governo Federal. Odebrecht Informa,
jul/set de {2000] p. 42.
18
A busca pela industrialização na cidade vem sendo arrastada desde meados da década de 1970, depois de
ser concluída a construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias (Usina de Jupiá), que consiste no
marco inaugural do primeiro distrito industrial da cidade, Distrito Industrial de Jupiá. Não cabe agora
determos nessa discussão, que será referenciada em outro momento de reflexão sobre o processo de
industrialização de Três Lagoas.
19
COSTA, Benedito. Fato em Foco. Jornal do Povo, Três Lagoas, 19 fev. 1975, p. 01.
473
20
A fábrica de plástico Plásticitro e a fábrica de papéis e embalagens Citro Caixas, dos irmãos Wilson e
Marcos Citro, juntamente com a fábrica de biscoitos Mabel, em 1999, já estavam com sua produção em
funcionamento na cidade de Três Lagoas. CONSELHO aprova incentivos para indústrias. Jornal do Povo.
Três Lagoas-MS, 10 de mai. 1997, p. 15
21
SETTI, Adriana; TEICH, Daniel H. op. cit. 17 fev. 1999. p.34.
22
PARCEIROS de Três Lagoas. Dossiê MS, Revista Textilia. n. 39, 2001, p. 98.
23
CHESNAIS, François e SERFATI, Claude. “Ecologia” e condições físicas da reprodução social: Alguns
fios condutores marxistas.In: Critica Marxista, n. 16, 2003. p.39-75.
24
Giuseppe Coco, traz sua colaboração para pensarmos questões pertinentes as transformações da
constituição material na passagem do fordismo ao pós-fordismo. A inserção dos mercados em uma acirrada
competição mundializada, que vem determinar a passagem do desenvolvimentismo nacional para as políticas
econômicas de estabilização e de inserção competitiva na globalização. COCO, Giuseppe. op. cit. 2000, p.
127.
REFERENCIAS
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. In:
CARNEIRO, Ricardo (org.). Os clássicos da economia, v. 1, São Paulo: Ática, 1997, p.
24-54.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. 15º ed. São Paulo: edições Loyola, 2006.
MATTOSO, Jorge. A desordem do trabalho. São Paulo: Ed. Scritta, 1995.
CHESNAIS, François e SERFATI, Claude. “Ecologia” e condições físicas da reprodução
social: Alguns fios condutores marxistas.In: Critica Marxista, n. 16, 2003. p. 39-75.
WEIL, Simone. A racionalização: 23 de fevereiro de 1937. In: Bosi, Ecléa (org.) A
condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996,
p. 135-176.
COCO, Giuseppe. Trabalho e Cidadania: Produção e direitos na era da globalização. São
Paulo: Cortez, 2000.
474
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