UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE- NUSAU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL ASPECTOS DA VIA DE ATIVAÇÃO LINFOCITÁRIA RELACIONADOS À INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE DELTA LARISSA DEADAME DE FIGUEIREDO NICOLETE PORTO VELHO 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE- NUSAU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL ASPECTOS DA VIA DE ATIVAÇÃO LINFOCITÁRIA RELACIONADOS À INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE DELTA Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental para Obtenção do Título de Doutora em Biologia Experimental Área de Concentração: Relação Parasita-Hospedeiro ORIENTADA: LARISSA DEADAME DE FIGUEIREDO NICOLETE ORIENTADOR: JUAN MIGUEL VILLALOBOS SALCEDO CO-ORIENTADOR: ROBERTO NICOLETE PORTO VELHO 2016 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Nicolete, Larissa Deadame de Figueiredo Aspectos da Via de Ativação Linfocitária Relacionados à Infecção Pelo Vírus Da Hepatite Delta/ Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete, Porto Velho, 2016. 93 folhas, ilustrado. Tese apresentada à Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho, 2016. FOLHA DE APROVAÇÃO Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete Aspectos da via de ativação linfocitária relacionados à infecção pelo Vírus da Hepatite Delta Tese Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental para Obtenção do Título de Doutora em Biologia Experimental Área de Concentração: Relação Parasita-Hospedeiro Orientada: Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete Orientador: Juan Miguel Villalobos Salcedo Co-orientador: Roberto Nicolete Aprovada em: Banca Examinadora Prof(a) Dr(a): _____________________________________________________________ Instiuição: __________________________________Assinatura:_______________________ Prof(a) Dr(a): _____________________________________________________________ Instiuição: __________________________________Assinatura:_______________________ Prof(a) Dr(a): _____________________________________________________________ Instiuição: __________________________________Assinatura:_______________________ Prof(a) Dr(a): _____________________________________________________________ Instiuição: __________________________________Assinatura:_______________________ Prof(a) Dr(a): _____________________________________________________________ Instiuição: __________________________________Assinatura:_______________________ DEDICATÓRIA Dedico esta tese a minha Ohana. Que é minha, só minha. Que eu achei, sozinha. Mas que sozinha, eles me acham de volta. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus e a todos que conscientemente, ou não, contribuíram para a realização deste trabalho. De maneira especial agradeço: Ao meu orientador Prof Dr Juan Miguel Villalobos Salcedo que, desde quando cheguei, forneceu oportunidades para desenvolver meu trabalho. Obrigada pela confiança. Ao Dr Roberto Nicolete que foi o supervisor científico deste trabalho, me ensinou técnicas e conceitos de Imunologia que foram aprendidos e amplamente aplicados. Obrigada pela paciência. Aos colegas do laboratório de Biotecnologia Aplicada à Saúde: João Rafael, João Gabriel e Monika obrigada pela amizade. Amália, Neuza e Sharon, além da amizade, o auxílio nos experimentos in vitro e pelos projetos paralelos que desenvolvemos. À equipe da Virologia Molecular chefiada pela Dra Deusilene de Souza Vieira, obrigada pela agradável convivência. Aos pesquisadores Dr Celso Cunha, Dra Ana Varela Coelho e Dr João Tavanez, Universidade Nova Lisboa, pela imensurável contribuição científica e agradável convivência durante o período de estágio desenvolvido em Portugal. À Dra Gabriela Gomes-Sá e seus alunos Armanda Rodrigues, Rita Pedrosa, David Mateus e Ana Sofia Bolas. Às alunas Débora Almeida e Cátia Pedrosa que me acolheram de forma carinhosa no IHMT. Às alunas Joana Martins, Rita Laires e Vera Marques que me acolheram de forma carinhosa no ITQB. À Dra Simone Kashima Haddad, e meus amigos de Ribeirão Preto: Aline, Daiane, Evandra, Mariana, Maurício, Rochele, Rodrigo, Tathiane e Virgínia, vocês são parceiros pessoais e científicos eternos. Aos professores e secretária que compõe o colegiado da PGBioExp, representados pelo coordenador Prof Dr Alexandre Almeida da Silva, pela dedicação e presteza que me atenderam ao longo destes anos. Aos colegas de pós-graduação pelos agradáveis momentos nestes anos. À Fiocruz, CNPq e Capes pelo auxílio financeiro para o desenvolvimento deste trabalho. “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho... Tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido... Tempo tempo tempo tempo... Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos... Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo... Tempo tempo tempo tempo... Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, Tempo tempo tempo tempo, és um dos deuses mais lindos... Tempo tempo tempo tempo... Que sejas ainda mais vivo no som do meu estribilho, Tempo tempo tempo tempo: Ouve bem o que eu te digo Tempo tempo tempo tempo... Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso, Tempo tempo tempo tempo, quando o tempo for propício... Tempo tempo tempo tempo... De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido, Tempo tempo tempo tempo, e eu espalhe benefícios... Tempo tempo tempo tempo... O que usaremos pra isso fica guardado em sigilo, Tempo tempo tempo tempo, apenas contigo e migo... Tempo tempo tempo tempo... E quando eu tiver saído para fora do teu círculo, Tempo tempo tempo tempo, não serei nem terás sido... Tempo tempo tempo tempo... Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos, Tempo tempo tempo tempo, num outro nível de vínculo... Tempo tempo tempo tempo... Portanto peço-te aquilo e te ofereço elogios, Tempo tempo tempo tempo, nas rimas do meu estilo... Tempo tempo tempo tempo...” Oração ao tempo Caetano Veloso SUMÁRIO RESUMO ....................................................................................................................................I ABSTRACT ............................................................................................................................. II LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................... III LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................VI LISTA DE QUADROS ........................................................................................................VIII LISTA DE TABELAS ............................................................................................................IX 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 1.1 O Vírus da Hepatite Delta - HDV ................................................................................... 1 1.2 Resposta Imune Celular e Ativação Linfocitária........................................................... 6 2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 14 3. OBJETIVOS ................................................................................................................... 15 4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 16 4.1 CASUÍSTICA.................................................................................................................. 16 4.2 Tratamento das amostras .............................................................................................. 16 4.3 Quantificação sérica de citocinas inflamatórias .......................................................... 17 4.4 Quantificação sérica de nitritos ..................................................................................... 17 4.5 Extração do RNA total e Transcrição Reversa ............................................................ 18 4.6 Expressão Gênica ............................................................................................................ 18 4.7 Clonagem do Antígeno Delta Pequeno (SDAg) ............................................................ 19 4.8 Cultivo das linhagens Celulares .................................................................................... 22 4.9 Tratamento in vitro com IFN-PEG ............................................................................... 22 4.10 Avaliação da citotoxicidade in vitro .............................................................................. 23 4.11 Análise Estatística ........................................................................................................... 24 5 RESULTADOS ............................................................................................................. 275 CAPÍTULO I – Avaliação de Potenciais Biomarcadores Séricos ...................................... 25 CAPÍTULO II – Investigação do Fator Nuclear das Células T Ativadas ......................... 43 CAPÍTULO III – Ensaios in vitro ......................................................................................... 53 6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 67 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68 APÊNDICE A – REPRESENTAÇÃO DA ANÁLISE DE CITOCINAS EM GRÁFICO DE BARRAS ........................................................................................................................... 75 ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA......................... 76 ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................. 78 ANEXO C – ARTIGOS PUBLICADOS RELACIONADOS COM A TESE ................... 80 i RESUMO A infecção pelo vírus da hepatite Delta (HDV) apresenta distribuição mundial, sendo a Região Ocidental da Amazônia Brasileira considerada área de alta endemicidade, o que a torna um problema de saúde pública no estado de Rondônia. O HDV é um subvírus que depende do vírus da hepatite B (HBV) para sua infecção, contudo, pacientes HBV/HDV positivos apresentam um risco três vezes maior de desenvolver carcinoma hepatocelular e duas vezes mais chances de mortalidade por cirrose quando comparados aos pacientes infectados somente com HBV. Recentemente, preconiza-se que o tratamento de pacientes crônicos de Delta seja realizado associando Interferon alfa peguilado (IFN-PEG) com medicamentos que atuam contra o HBV, a chamada terapia combinada. O ambulatório de hepatites virais do Cepem vem alcançado resultados excelentes com muitos pacientes atingindo uma Resposta Virológica (RV), o que reforça a importância do papel da resposta imune do hospedeiro para a resolução do quadro infeccioso. Estudar o perfil imune de pacientes que completaram o tratamento com sucesso é um dos passos iniciais para se elucidar a relação do HDV com seu hospedeiro e entender quais mecanismos de exaustão da resposta imune celular contribuem para o escape do vírus. Assim, foram constituídos quatro grupos com pacientes que concordaram participar do estudo, os quais foram divididos pelo seguinte perfil: Pacientes que terminaram o tratamento e apresentam RV (TTO; n=14); Pacientes que possuem anticorpos contra o HDV, mas são PCR negativos (PCR – ; n=11); Pacientes que são PCR positivos, mas não iniciaram o tratamento (PCR+; n=10); Pacientes HBV Monoinfectados com vírus replicante (Mono; n=11) para servirem de controle de infecção crônica. O sangue periférico dos pacientes foi coletado e o RNA das células mononucleares foi extraído por Trizol e armazenado a -80ºC. O soro foi utilizado para avaliação do perfil de produção de Óxido Nítrico, quantificado indiretamente pela reação de Griess e das citocinas (TNF-ɑ, IFN-γ, IL-12, IL-10 e IL-2) por Elisa e, posteriormente, analisados estatisticamente pelo teste ANOVA. Dentre os resultados obtidos, destacaram-se significativamente os níveis de IL-2 (p=0,0003) e sua correlação positiva com a IL-12 (p=0,03), pelo teste de Pearson, além da menor produção de Óxido Nítrico observada nos indivíduos tratados (p=0,0369). Com o objetivo de desvendar quais os possíveis mecanismos que estariam levando ao aumento da IL-2, a via de ativação nuclear de linfócito T (NFAT) foi investigada. Esta via está relacionada com: produção de IL-2, expansão clonal de linfócitos T, ativação de células NK, geração de células de memória e possível controle gênico na expressão de IL-15. Apesar dos achados envolvendo a produção de IL-2 não estarem relacionados com o aumento significativo na expressão de NFAT, há indícios que pacientes PCR – podem utilizar a via da IL-15 para o controle da infecção. O próximo passo deste estudo foi validar in vitro as condições observadas nos pacientes, na tentativa de mimetizar a resposta celular em ensaios de co-cultivo, frente aos estímulos antigênicos na ausência e presença do tratamento. Foi observado que os antígenos levaram à morte celular e que o tratamento com INF-PEG, além de diminuir os danos às células, direciona a resposta para um padrão T H1, com produção de IFNγ, IL-2 e IL-12. Contudo, quando há presença do HBsAg essa resposta não ocorre, sugerindo que o mecanismo de exaustão pode ter sido desencadeado exclusivamente por este antígeno. Com esses resultados esperamos avançar no entendimento de como alguns eventos relacionados à resposta imunológica do hospedeiro podem levar a uma RV eficiente. Sob a luz desses achados, o protocolo de tratamento poderá ser otimizado, aumentando dessa forma o sucesso terapêutico. Palavras-chave: HDV. Tratamento. IFN-PEG. IL-2. Padrão de resposta TH1. ii ABSTRACT The Hepatitis Delta Virus (HDV) infection has a worldwide distribution, including the Brazilian Northwest Region as an endemic area, becoming this disease as a public health problem in the state of Rondonia. The HDV is a subviral satellite agent depends upon HBV envelope proteins for its assembly and ability to infect new cells. However, HBV/HDV positive patients have a three times greater risk of developing hepatocellular carcinoma and two times more of cirrhosis mortality than patients infected with HBV only. Recently, the most accepted therapeutic protocol for the chronic delta patients is performed with pegylated interferon (PEGIFN) and drugs that act against HBV, named combined therapy. This new approach has achieved excellent results with many patients driving to a Virologic Response (VR), which reinforces the importance of the host´s immune response to solve the infection. Focusing effectiveness of combined therapy in combatting the virus, the immune response appears to be important for infection control. To elucidate the balance of HDV and host's immune system we formed four groups of patients who agreed to participate in the study, divided by the following profile: Patients who completed treatment and have VR (TTO; n=14); Patients with antibodies against HDV, but with PCR negative (PCR – n = 11); Patients who possess positive PCR, but not started treatment (PCR +; n = 10); Patients HBV monoinfected with replicating virus (Mono; n = 11) as the calibrator for the chronic infection. The individuals had their peripheral blood collected and the RNA extracted from PBMC preparations by Trizol and stored at -80° C. The sera were used to evaluate the profile of nitric oxide production, measured indirectly by Griess reaction and cytokines (TNF-ɑ, IFN-γ, IL-12, IL-10 and IL-2) by Elisa, the data were statistically analyzed. Among the results obtained, the levels of IL-2 were significantly (p = 0.0003) with IL-12 positive correlation (p = 0.03) by Pearson test. In addition, the Nitric Oxide production was lower in treated individuals (p = 0.0369). With the objective of uncovering what the possible mechanisms that would be leading to increased IL-2, nuclear activation of T lymphocyte (NFAT) pathway was investigated. This pathway is related to: IL-2 production, clonal expansion of T lymphocytes, NK cell activation, generation of memory cells and possible gene control on expression of IL-15. Despite these findings involving the production of IL-2 are not related to the significant increase in the expression of NFAT, there is evidence that patients PCR – can use via the IL-15 for the control of infection. The next step of this study was to validate in vitro the conditions observed on cellular response of patients, which could mimic such co-cultivating tests response to antigenic stimuli front in the absence and presence of the treatment. It was observed that antigens led to cell death and that treatment with INFPEG, as well as reduce damage to cells, directs the response to a TH1 pattern, with production of IFN-γ, IL-2 and IL-12. However, in the presence of HBsAg this response does not occur, suggesting that the mechanism of exhaustion may have been triggered by this antigen. With these results we hope to advance in the understanding of how some events related to the host's immune response can lead to an efficient VR. In light of these findings, the treatment protocol can be optimized, thereby attempting to establish a prognostic indicator of the infection. Keywords: HDV. Treatment. IFN-PEG. IL-2. TH1 response iii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ag-S Antígeno delta pequeno sintético ACTB Actina Humana B2M Beta 2-Microglobulina BSA Albumina de soro bovino CD Cluster of Differentiation cDNA Ácido Desoxirribonucleico complementar CEPEM Centro de Pesquisas em Medicina Tropical Cq Quantification cycle CT Cycle Threshold CTL Linfócito T citotóxico DCs Células Dendríticas ELISA Ensaio Imunosorbente Ligado à Enzima (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) GST Glutationa S-transferase GAPDH Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase HBsAg Antígeno de Superfície do Vírus da Hepatite B HBV Vírus da Hepatite B HCV Vírus da Hepatite C HDAgs Antígenos da Hpatite Delta sem diferenciação entre pequeno e HDV Vírus da Hepatite Delta HEPES Ácido hidroxietil piperazina etanosulfônico IFN-PEG Interferon Alfa Peguilado IFNα Interferon alfa IFNγ Interferon gama IL Interleucinas IPTG Isopropil-β-D-tiogalacto-piranosídeo JAK via Janus Kinase J+T Co-cultivo de células Jurkat e THP-1 LB meio Luria Broth LCMV Vírus da Coriomeningite Linfocítica longo LDAg Antígeno Longo do vírus da Hepatite Delta iv LPS Lipopolissacarídeo MAP quinase Proteíno-quinases ativadas por mitógenos (Mitogen Activated Protein Kinases) MONO Pacientes HBsAg positivos e anti-HDV negativos utilizados como um grupo no presente estudo. MTT sal de tetrazólio (3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil brometo tetrazólico – Nome IUPAC) NFAT Fator nuclear de células T ativadas NK célula Natural Killer NO Óxido Nítrico PBMC Células Mononucleares do Sangue Periférico PBS Tampão Salina Fosfato PCR Pacientes com presença de anticorpos IgG contra o HDV e PCR negativo para o RNA viral do HDV utilizados como um grupo no presente estudo. PCR+ Pacientes com presença de anticorpos IgG contra o HDV e PCR positivo para o RNA viral do HDV utilizados como um grupo no presente estudo. PD-1 Receptor de Morte Programada PolR2A Polimerase RNA II qRT-PCR Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real Quantitativo RNA Ácido Ribonucleico RNAm Ácido Ribonucleico mensageiro RT Transcrição Reversa RVS Resposta Virológica Sustentada SDAg Antígeno Pequeno do vírus da Hepatite Delta SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecilsulfato de STAT Sinal Transdutor e Ativador de Transcrição (Signal Transducer sódio and Activator of Transcription) TA Temperatura Ambiente TCD4+ Linfócito T CD4 ativado TCD8+ Linfócito T CD8 ativado TCR Receptor de Células T TLRs Receptores tipo “Toll” TNFα Fator de Necrose Tumoral alfa v Treg Célula T Reguladora TTO Pacientes que tiveram o tratamento para Hepatite Delta finalizado após 48 semanas de tratamento associado com IFN-PEG e Entecavir utilizados como um grupo no presente estudo. YTA ágar de triptona de levedura vi LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. ESQUEMA DE REPLICAÇÃO DO HDV ............................................................ 2 FIGURA 2. ESQUEMA DE REVERSÃO DD SUPRESSÃO IMUNOLÓGICA .................... 7 FIGURA 3 EXAUSTÃO DE CÉLULAS T EM INFECÇÕES VIRAIS ................................... 9 FIGURA 4. MODELOS DIFERENCIADOS NA SINALIZAÇÃO DE IL-15 E IL-2............ 11 FIGURA 5. ESQUEMA DO VETOR DE CLONAGEM ........................................................ 20 FIGURA 6 PERFIL DE TNF-α E IFN- .................................................................................. 31 FIGURA 7 PERFIL DE IL-12..................................................................................................32 FIGURA 8. PERFIL DE IL-10.................................................................................................33 FIGURA 9. PERFIL DE IL-2................................................................................................... 34 FIGURA 10. GRÁFICO DA CORRELAÇÃO ENTRE IL-2 VS IL-12. ................................. 35 FIGURA 11. QUANTIFICAÇÃO INDIRETA DO NO .......................................................... 35 FIGURA 12. CURVA DE EFICIÊNCIA PARA O GENE GAPDH ....................................... 45 FIGURA 13. EXPRESSÃO GÊNICA DAS PROTEÍNAS DA FAMÍLIA NFAT ................. 46 FIGURA 14. EXPRESSÃO GÊNICA DOS RECEPTORES DE IL-2 .................................... 46 FIGURA 15. CORRELAÇÃO ENTRE IL-2 E SEU RECEPTOR .......................................... 47 FIGURA 16. EXPRESSÃO GÊNICA DE IL-15 E IL-15RA .................................................. 48 FIGURA 17. CORRELAÇÃO ENTRE IL-15 E NFAT2.........................................................48 vii FIGURA 18. ANÁLISE DOS DIFERENTES PLASMÍDEOS RECOMBINANTES ............ 55 FIGURA 19. LISADOS OBTIDOS APÓS A INDUÇÃO DA EXPRESSÃO PROTEICA ... 56 FIGURA 20. INTEGRIDADE DO ANTÍGENO SDAG ......................................................... 57 FIGURA 21. MORTE CELULAR APÓS ESTIMULAÇÃO COM OS ANTÍGENOS .......... 58 FIGURA 22. MORTE CELULAR CELULAR DAS CÉLULAS EM CO-CULTIVO APÓS ESTIMULAÇÃO COM OS ANTÍGENOS ............................................................................. 59 FIGURA 23. INTERRUPÇÃO DA MORTE CELULAR CELULAR DAS CÉLULAS EM CO-CULTIVO APÓS TRATAMENTO COM IFN-PEG........................................................ 60 FIGURA 24. ENSAIO DE CITOTOXICIDADE .................................................................... 61 FIGURA 25. CONCENTRAÇÃO DE IL-2 E IFN- NO SOBRENADANTE DOS EXPERIMENTOS IN VITRO .................................................................................................. 62 FIGURA 26. CONCENTRAÇÃO DE IL-12 NO SOBRENADANTE DOS EXPERIMENTOS IN VITRO ................................................................................................. 63 FIGURA 27. REPRESENTAÇÃO DOS POSSÍVEIS MECANISMOS ENVOLVIDOS EM PACIENTES QUE RESPONDERAM À TERAPIA COM IFN-PEG .................................... 65 viii LISTA DE QUADROS QUADRO 1. ATIVIDADES DO IFN-Α NO SISTEMA IMUNE.............................................6 QUADRO 2. PACIENTES QUE FORAM SELECIONADOS PARA PARTICIPAÇÃO NO PRESENTE ESTUDO E PARÂMETROS UTILIZADOS PARA AGRUPÁ-LOS................26 ix LISTA DE TABELAS TABELA 1. QUANTIFICAÇÃO DE CITOCINAS................................................................27 Introdução 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 O VÍRUS DA HEPATITE DELTA - HDV Aspectos Gerais da Infecção pelo HDV Primeiramente descrito por (RIZZETTO et al., 1977), o vírus da hepatite Delta (HDV) é um vírus de RNA, hepatotrópico e dependente do antígeno de superfície do vírus da hepatite B, o HBsAg (Karayiannis 1998). Uma de suas singularidades é que para completar a montagem dos vírions e consequentemente infectar novas células o HDV depende de todas as subunidades que compõem o antígeno de superfície do HBV (Large -L, Middle - M e Small -S), o que faz com que seja classificado como subvírus ou vírus satélite dependente. Partículas do HDV desprovidas da proteína L do HBV não são infectantes, enquanto as desprovidas da proteína S do HBV não montam as partículas virais, consequentemente, pessoas vacinadas contra a hepatite B se imunizam indiretamente contra o vírus Delta (TAYLOR, 2006). Mesmo com a disponibilidade de vacinação contra o HBV, existem aproximadamente 240 milhões de pessoas que são portadores crônicos com HBsAg positivo (revisado por OTT et al., 2012), o que faz com que a infecção pelo Delta tenha condições de progredir anualmente neste grupo de indivíduos, uma vez que sua transmissão ocorre pelas vias sexual, parenteral e vertical. Outro aspecto que dificulta as medidas de controle do HDV se refere à subnotificação dos infectados, pois, mesmo que os números estejam estimados em 20 milhões de portadores, diversas áreas não possuem estudos de prevalência (revisado por ALVES; BRANCO; CUNHA, 2013). No Brasil, as áreas endêmicas correspondem aos estados da região Amazônica Ocidental (Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima) com prevalência de 41,9% entre os portadores do HBsAg (BRAGA et al., 2012). Com relação aos aspectos virológicos, o HDV é o único vírus da família Deltaviridae gênero Delta vírus e se apresenta como um vírus pequeno, esférico, de RNA polaridade negativa, cujos 1700 nucleotídeos que compõe a fita apresente uma complementariedade entre as bases de 74%, o que faz com que se torne um genoma viral circular (NIRO; SMEDILE, 2012). O genoma de RNA é transcrito pela RNA polimerase II humana e possui somente uma fase de leitura aberta (ORF) que codifica o Antígeno Delta (HDAg) em duas isoformas distintas: o Antígeno Delta Pequeno (SDAg) e o Antígeno Delta Longo (LDAg). Ambos HDAg são formados durante o processo de replicação do vírus, sendo que o SDAg é formado pela leitura convencional do antigenoma, resultando em uma proteína composta por 194/195 aminoácidos. A produção do LDAg é mediada por uma enzima humana, a Adenosina Deaminase tipo 1 (ADAR-1S), a qual atua no RNA viral e converte o stop códon Introdução 2 (UAG) do SDAg em um códon de Triptofano (UGG). Consequentemente, o LDAg apresenta uma adição de 19/20 aminoácidos na sua porção carboxi-terminal (HUANG; LO, 2014). Essas proteínas são imprescindíveis no processo de replicação viral (Figura 1) e a proteína LDAg é quem coordena a montagem dos novos vírus, pois interage diretamente com o HBsAg (ALDABE et al., 2015). Figura 1. Esquema de Replicação do HDV Ligação ao Receptor NTCP presente nos Hepatócitos Humanos; (2) desnudamento da partícula viral; (3)Translocação da partícula para o Núcleo; (4) Transcrição do antigenoma no nucléolo; (5) Produção do RNA genômico no nucleoplasma; (6) Transcrição do RNAm; (7) Tradução do HDAg e retorno ao nucleoplasma; (8) Montagem da Partícula; (9) Associação com o HBsAg no citoplasma e montagem do vírion; (10) Liberação do Vírion. (Modificado de ALDABE et al., 2015). Observando o ciclo do vírus, nota-se que o indivíduo portador de HDV também possua o HBV, obrigatoriamente. Existem duas formas de se adquirir a infecção: a coinfecção e a superinfecção. A primeira forma consiste em uma infecção simultânea do HDV e do HBV resultando em interferência viral, ou seja, ocorre estagnação da replicação dos vírus B e D em 95% dos casos. Porém, quando o título viral de HBV adquirido é alto existem condições para a síntese do HDV se tornar intensa, o que leva às formas fulminates (FARCI; NIRO, 2012). Introdução 3 A surperinfecção é quando ocorre uma infecção do HDV em pacientes que já eram portadores do HBV (sintomáticos, assintomáticos, que possuam ou não replicação viral). Indivíduos superinfectados oferecem condições biológicas para que o HDV se dissemine acarretando replicação viral e, deste modo, seja o tipo de infecção mais comum (GUNSAR, 2009). O prognóstico na superinfecção é que o período de progressão para a cronicidade varie de dois a seis anos, enquanto em crianças a evolução para a cronicidade ocorra mais rapidamente. (FARCI; NIRO, 2012; GUNSAR, 2009). Além do tipo de infecção, os antígenos virais circulantes (HBsAg e HDAgs) também são importantes para os eventos desencadeados. Um destes antígenos, o HBsAg, mesmo não sendo parte do genoma do HDV, compõe o envelope viral e por analogia pode modular alguns eventos imunológicos do hospedeiro. Dentre os achados mais recentes, destacam-se estudos que compararam monócitos/macrófagos isolados do sangue periférico de indivíduos sadios ou pacientes portadores de HBV. As células vindas do grupo de infectados demonstraram a baixa expressão de receptor tipo “Toll” 2 – TLR-2 (WANG et al., 2013) e do tipo 9 – TLR-9 (HUANG et al., 2014). Apesar de serem TLRs distintos, em ambos estudos os autores sugerem que o HBsAg tem a capacidade de interferir em diversos processos, uma vez que é capaz de interferir na sinalização das MAP quinases. Pouco HDAg está circulante no soro dos pacientes, pois o antígeno possui um fator de localização nuclear, o que deixa essa proteína preferencialmente restrita ao núcleo e ao nucléolo dos hepatócitos infectados (HUANG et al., 2012). Mesmo no interior do núcleo é possível observar a interação dos HDAg com sua célula-alvo (hepatócitos), Cao e colaboradores (2009), através de estudos de co-imunoprecipitação, demonstraram que o SDAg é capaz de interagir com mais de 100 proteínas celulares, dentre as quais estão subunidades da RNA polimerase II, partículas de ribonucleoproteínas heterogêneas (hnRNPs), helicases, proteínas de ligação ao RNA, além de fatores de transcrição. Essa quantidade exacerbada de proteínas do hospedeiro que podem se ligar ao SDAg é justificada pelos processos pós-traducionais que o antígeno viral pode sofrer (revisado por (GRECO-STEWART; PELCHAT, 2010). Os HDAgs podem sofrer muitas modificações, tais como: a fosforilação de serina e treonina, metilação de arginina, acetilação da lisina e a prenilação de cisteína. Estas modificações contribuem para as interações intermoleculares que envolvem o SDAg e os diversos alvos com os quais ele se liga. As modificações pós-traducionais têm mostrado desempenhar um papel no ciclo replicativo do HDV, sendo que muitas das proteínas celulares envolvidas neste processo têm sido identificadas (revisado por (GRECO-STEWART; PELCHAT, 2010). Introdução 4 Muitos eventos relacionados com a doença acabam dependendo da resposta imune do hospedeiro. Estudos iniciais mostraram que as células NK, tem um papel importante para impedir o desenvolvimento do HDV e das lesões hepáticas. Em contrapartida, o aparecimento de um padrão de resposta TH2 além da produção excessiva de IL-10 são indicativos de mau prognóstico, uma vez que este perfil está diretamente relacionado com pacientes que não respondem ao tratamento. Apesar de serem dados iniciais, infere-se que o vírus é capaz de gerar uma resposta contrária ao padrão TH1, a qual seria necessária para eliminação do mesmo e geração de células TCD4+ e TCD8+ de memória (revisado por HUGHES; WEDEMEYER; HARRISON, 2011). Este fato foi importante para mostrar que o vírus causa um sítio inflamatório, o qual leva ao aparecimento de carcinoma, não por uma resposta inflamatória celular, mas devido à produção excessiva de TNF-. Esta citocina é produzida pela ativação do fator de transcrição nuclear κB – NF-κB, o qual é ativado pelo LDAg (PASCARELLA; NEGRO, 2011). Por fim, o HDV, assim como outros vírus, também consegue suprimir a sinalização de IFN- nos hepatócitos, atuando nas vias Janus quinase (JAK) e transdutores de sinal e ativadores de transcrição (STAT), de uma maneira ainda não totalmente elucidada (revisado por PASCARELLA; NEGRO, 2011). Sabe-se que, possivelmente o HDAg está envolvido no processo de inibição da produção de IFN-, mas que o vírus não deve atuar diretamente na cascata da sinalização JAK/STAT, pois estas proteínas localizam-se no citoplasma e o antígeno viral concentra-se no núcleo da célula infectada, sugerindo um mecanismo secundário de inibição (PUGNALE et al., 2009). Diagnóstico do Vírus Delta A Organização Mundial da Saúde sugere que qualquer indivíduo com resultado positivo para o HBsAg também seja testado para a presença do HDV. O diagnóstico é a detecção de anticorpos contra o HDV (anti-HDV), realizado através de ensaios imunoenzimáticos, ou pela detecção do RNA viral sérico pela técnica do RT-PCR (WHO, 2001). Os anticorpos contra HDV não são imunoprotetores, contudo, a importância da sua identificação é justificável, pois a presença de IgG anti-HDV com ausência de IgM anti-HDV e/ou de RNA viral, é indicativo de uma cicatriz sorológica no indivíduo. Contudo, assim como o material genético, os anticorpos não são perenes e tendem a desaparecer após alguns anos, quando o indivíduo infectado encontra-se em recuperação, devido à cura espontânea ou tratamento (OLIVERO; SMEDILE, 2012; WEDEMEYER; MANNS, 2010). Introdução 5 Tratamento dos pacientes com HDV Revisado por Rizzeto (2016) é possível notar que nenhum medicamento específico contra vírus pode ser desenvolvido até o momento, devido à ausência de opções terapêuticas e à falta de alvos nos componentes virais, tais como enzimas e/ou receptores exclusivos do HDV utilizados para a replicação. Assim, os medicamentos mais promissores, que se encontram em testes clínicos, são aqueles que atuam de forma indireta sobre o vírus delta. O primeiro exemplo, que já iniciou os testes em humanos, chama-se Myrcludex B. Trata-se de um peptídeo que possui como alvo o co-transportador de taurocolato de sódio humano (NTCP), o qual fica indisponível para realizar a ligação com a proteína de superfície HBsAg e evita-se, com isso, a entrada do HBV no hepatócito. Como o HDV utiliza o mesmo envelope, o medicamento indiretamente também evita sua entrada. Outro medicamento em fase clínica é o BZA-5B, um inibidor de atividade da farnesil transferase. Esta enzima humana é responsável pela adição de um resíduo de cisteína (farnesilação) em proteínas que possuem grupos isoprenilados. Essas modificações póstransducionais de proteínas, cujo processo é importante para mediar as interações proteínamembrana. O HDV utiliza esse mecanismo na montagem do vírus com o envelope do HBV (ABBAS; ABBAS, 2015). Além dos ensaios experimentais, têm-se a realidade da prática clínica, cujos relatos de sucesso terapêutico são atribuídos ao uso prolongado de interferon alfa recombinante, sendo que o Interferon Alfa Peguilado (IFN-PEG) é o mais utilizado. Este imunomodulador parece ter mais eficiência quando administrado conjuntamente com algum fármaco que impede a replicação do vírus B (HEIDRICH; MANNS; WEDEMEYER, 2013). Esses estudos, contudo, deixavam duas lacunas importantes. A primeira era com relação à população estudada. Embora o vírus apresente com uma distribuição mundial, os pacientes utilizados no estudo são predominantemente caucasianos, enquanto em nossa região, observase uma tendência mais heterogênea quanto às etnias, sendo que caucasianos, ameríndios e negros constituem a população da Região Amazônica Ocidental. A segunda é com relação ao genótipo de HDV que predomina e, que poderia interferir na terapia combinada. Sabe-se que os diferentes genótipos podem levar a cursos clínicos distintos, sendo o HDV-3 associado às formas mais graves da doença (BARROS et al., 2011). Apesar da evidente participação do genótipo nos casos de hepatite fulminante, não se verificou a influência do mesmo no curso dos tratamentos, a exemplo de outras infecções (Ex: HCV and DEV) que precisam de uma terapia diferenciada de acordo com o genótipo viral (NAKAMOTO et al., 2015). Introdução 6 Assim, o estudo publicado pelo nosso grupo (ANEXO C) mostra que a terapia combinada pode ser adotada como um protocolo clínico viável no Brasil, com Resposta Virológica dos pacientes tratados. 1.2 RESPOSTA IMUNE CELULAR E ATIVAÇÃO LINFOCITÁRIA Como previamente descrito, o protocolo terapêutico para pacientes com HDV envolve administração de IFN-PEG. O medicamento utilizado é um imunomodulador, cuja modificação no medicamento comercial é uma conjugação do reagente bis- monometoxipolietilenoglicol (PEG) com interferon alfa-2A, o qual é produzido através da tecnologia de DNA recombinante. A função desta conjugação é melhorar a farmacocinética do medicamento (FERENCI, 2003), contudo, não altera seu mecanismo de ação que é mimetizar os efeitos produzidos pelo IFN-, o qual é secretado naturalmente por diversas células do organismo com função de induzir um estado antiviral, além de atuar na transição da resposta inata para adaptativa (Quadro 1). QUADRO 1 – Atividades do IFN- no Sistema Imune (BRASSARD; GRACE; BORDENS, 2002) Células NK IMUNIDADE INATA Atividade LAK Priming Macrófago Célula TCD4+ IMUNIDADE ADAPTATIVA Célula TCD8+ Célula B Aumento da Proliferação Aumento da Atividade Citolítica Aumento da Secreção de IFN- Aumento do Tráfego Celular Aumento da Atividade Aumento da atividade para IL-2 e IFN- Aumento da Diferenciação Aumento da Atividade de NO Aumento da Expressão de MHC classe II Aumento da Secreção de IFN- Balanço de TH1 vs TH2 Aumento do Tráfego Celular Aumento da Atividade CTL Estimulação de Células de Memória Aumento da Resposta à apresentação MHC classe I Aumento do Tráfego Celular Aumento da Secreção de IgG Diminuição da Secreção de IgE Aumento do Tráfego Celular O fato dos pacientes responderem ao tratamento com IFN-PEG sugere a importância do Sistema Imunológico do hospedeiro para que a infecção viral seja resolvida ou ocorra uma progressão da doença. Estudos que desvendem estes mecanismos ainda estão emergindo, contudo, assim como acontece na monoinfecção pelo HBV, alguns autores sugerem que a exaustão de células T possa ser um dos mecanismos de escape do HDV (PACKER et al., 2014; WANG et al., 2007). Introdução 7 Essa hipótese é reforçada se olharmos como acontece o mecanismo de exaustão celular produzido pelo HBV (KONDO et al., 2013). Investigações sugerem que o excesso de HBsAg circulante pode levar à diversos mecanismos de supressão da resposta imune e que a retirada do antígeno leva à recuperação do Sistema Imune (Figura 2). Sabendo que essa proteína é utilizada pelo HDV, este vírus poderia compartilhar esses mecanismos. Figura 2. Esquema de reversão da Supressão Imunológica Esquema de reversão da supressão imunológica. A redução do HBsAg pode resultar na recuperação de vários tipos de imunossupressão culminando com a resolução da infecção (KONDO et al., 2013). As células T são componentes centrais da Resposta Imune Adaptativa, que é indispensável para a manutenção do Sistema Imunológico e sua homeostase. Dentre as diversas funções das células T, existe a vigilância imune para eliminar as células transformadas e suprimir as infecções virais. Ao exercer estas funções dois processos podem ocorrer, pelos quais as células T podem perder sua capacidade de reagir aos antígenos e que, apesar de distintos, podem estar correlacionados. São eles: anergia e exaustão. A Anergia ocorre quando as células T recebem ativação e co-estimulação insuficientes para responder ao reconhecimento do processo antigênico (revisado por BALKHI et al. 2014). Já a exaustão é um processo em que T células reativas a antígenos tumorais, ou virais, perdem a sua capacidade para matar as célulasalvo, devido a uma exposição antigênica crônica (SCHIETINGER; GREENBERG, 2014). Os linfócitos T reativos ao antígeno podem se tornar mais vulneráveis à exaustão durante a vigilância imunológica, uma vez que essas células T podem entrar em um ambiente Introdução 8 antigênico extremamente rico e serem estimuladas repetidamente provocando a exaustão. O processo de exaustão é capaz de afetar tanto as células de memória quanto as T efetoras, levando a consequências debilitantes sobre as funções imunológicas. Como essa exposição recorrente a vírus e antígenos tumorais pode não cessar, o pool de células T perde a sua capacidade de reativação(revisado por BALKHI et al., 2014). Normalmente o que ocorre durante a infecção inicial é que as células T naïve são preparadas pelo antígeno, pela co-estimulação e pelo processo inflamatório a diferenciar-se em células T efetoras. Com o término da infecção e o desaparecimento de antígenos, um subconjunto destas células T efetoras funcionais se diferenciam novamente, para se tornarem células T de memória, as quais são altamente polifuncionais capazes de co-produzir e responder mais fortemente a citocinas como IFN-γ, TNF-ɑ e IL-2 (revisado por WHERRY, 2011). Deste modo, as células T respondem a uma infecção viral integrando sucessivos sinais celulares e moleculares que levam a variados níveis de diferenciação. Contudo, quando ocorrem infecções virais persistentes, há excesso de sinais antigênicos e mudanças dos componentes inflamatórios presentes no ambiente (KAHAN; WHERRY; ZAJAC, 2015). O processo de exaustão de células T é caracterizado por uma importante diminuição das funções efetoras, incluindo queda da atividade citolítica e da secreção de citocina do tipo padrão TH1, seguida de hiperexpressão de moléculas inibidoras, tais como receptor de morte programada 1 (PD-1) e produção de IL-10 e TGF-β que criam um microambiente de supressão (WHERRY, 2011). Os estudos de expressão gênica têm demonstrado que o perfil molecular de exaustão de células T esgotadas é semelhante entre processos tumorais e infecções virais crônicas. As alterações na síntese de citocinas constitui um componente principal do fenótipo de exaustão, com a perda de secreção de IL-2 ,IFN-γ e TNF-ɑ de forma sequencial, como pode ser observada na Figura 2 (modificada de WHERRY, 2011). Introdução 9 Figura 3 Exaustão de Células T em Infecções Virais Como antígeno e/ou a carga viral aumenta em infecções crônicas, as células TCD4+ auxiliadoras diminuem, sendo sua presença inversamente proporcional à cronicidade da infecção (duração). A gravidade da exaustão de células T está correlacionado com o aumento da expressão do receptor inibitório, carga viral elevada (ou antígeno), perda de auxílio de células T CD4+ e infecção prolongada . A atividade de cada propriedade é apresentada em uma escala de alta (+++) para baixo (-) e a sigla 'CTL' indica o potencial citotóxico (modificado de WHERRY, 2011). Uma das mais importantes citocinas, cuja produção é comprometida, durante a exaustão de células T, é a IL-2, sendo a mesma fundamental para a sobrevivência das células T e ativação da resposta imune celular robusta contra infecções. (revisado por BALKHI et al., 2014). Os mesmos autores sugerem, ao final do artigo, que estudar as possíveis vias que modulam a transcrição de IL-2 (NF-κB, NFAT, e AP1) em células T durante o processo de exaustão celular podem auxiliar no entendimento da baixa expressão desta citocina em infecções virais crônicas. A importância das Citocinas IL-2 e IL-15 para a Resposta Imune Celular A resposta do Sistema Imune aos patógenos envolve a participação dos Linfócitos T como mediadores da Resposta Imune Celular. Essas células podem defender o hospedeiro matando as células infectadas ou liberando citocinas que irão interferir na sobrevivência do microorganismo. A apresentação de antígenos leva à migração de Linfócitos T Efetores para os tecidos periféricos, onde vários eventos ocorrem ao mesmo tempo e culminam com: a geração das células T de Memória e o controle da resposta inflamatória excessiva pelas células T reguladoras – Treg; a eliminação do patógeno (DELVES; ROITT, 2000). Contudo, os Introdução 10 mecanismos que levam a esses eventos favoráveis podem falhar e fazer com que a presença do patógeno se torne crônica (SCHENTEN; MEDZHITOV, 2011). Neste contexto, sabe-se que as citocinas são responsáveis por regular o Sistema Imune e que muitas vezes algumas citocinas se ligam em receptores heterodímeros, cujas subunidades podem ser compartilhadas entre as citocinas (WALDMANN, 2006). Por exemplo, os receptores das citocinas IL-2 e a IL-15 são heterodiméricos. Essas citocinas compartilham as subunidades CD132 e CD122, mas possuem o CD25 (ou IL-2RA) e o IL-15RA como subunidades exclusivas (representados também com a letra grega ). Nos estudos que investigam estas citocinas é possível observar que o compartilhamento destas subunidades desencadeia vias de sinalização que levam à: produção de IFN-γ, geração de Linfócitos T Citotóxicos (TCLs); estimulação e proliferação de células T; indução, geração e persistência de células Natural Killer (NK) (WALDMANN, 2006). Outro estudo que mostra a dependência destas citocinas foi realizado por Feau e colaboradores (2005). Os autores estudaram Células Dendríticas maduras (DCs) murinas e humanas, derivadas de precursores plasmocitoides e mieloides. Estas células, além de serem Células Apresentadora de Antígeno (do inglês APCs) também produzem IL-2 em condições bem específicas, a qual induz a proliferação alogênica de TCD4+ e TCD8+ em infecções, como as causadas pelo Citomegalovírus (CMV) e HCV. Os autores relatam que as DCs produzem IL-2 quando existem estímulos prévios das células T, mas também em um microambiente rico em IL-15. Eles sugerem que a IL-15 seria capaz de induzir modificações pós-transcricionais que levam a produção de IL-2, pois na ausência da primeira citocina a quantidade de IL-2 secretada é muito menor (FEAU et al., 2005). Apesar dessas similaridades, as subunidades específicas não estão expressas de maneira homogênea, pois a IL-2R é amplamente encontrada em células T e B ativadas, enquanto IL15RA ocorre em monócitos e DCs ativados. Além disso, a expressão de IL-15 só ocorre quando a mesma está ligada ao IL-15 R através de apresentação trans, conforme ilustrado na Figura 3 (modificada de JABRI; ABADIE, 2015). Introdução 11 Figura 4. Modelos diferenciados na sinalização de IL-15 e IL-2 A IL-2 se liga à célula-alvo através de uma apresentação cis. Ou seja, a citocina IL-2 é produzida e secretada por um tipo celular, encontrando-se solúvel no microambiente e posteriormente se ligando ao receptor heterodímero de IL-2, formado pelas subunidades (,β, ou CD25, CD122 e CD132). A citocina A IL-15 se liga ao Receptor de IL-15 subunidade α (IL‑15Rα) através de uma complexação que intracelularmente ocorre no retículo endoplasmático (RE). Deste modo, é expresso na superfície celular por uma apresentação do tipo trans e posteriormente se liga à célula-alvo pelos receptores CD 122 e CD 132 (modificada de JABRI; ABADIE, 2015). As diferenças de apresentação explicariam porque em algumas situações a IL-2 e a IL-15 podem possuir papéis antagônicos. Como um exemplo, existem relatos que, em humanos, a hiperexpressão de IL-2 está relacionada com morte celular induzida por ativação, enquanto a hiperexpressão de IL-15 inibe este evento, sugerindo uma ação antiapoptose e geração de células TCD8+ de memória (JABRI; ABADIE, 2015). Fator Nuclear de Células T Ativadas (NFAT) NFAT é uma família de proteínas composta por cinco membros, denominados sequencialmente (NFAT-1, NFAT-2, NFAT-3, NFAT-4 e NFAT-5). Todos são fatores de transcrição nuclear, contudo os NFAT-1, NFAT-2 e NFAT-4 são aqueles responsáveis por desencadear eventos de importância imunológica (MACIAN, 2005). A ativação deste fator de transcrição ocorre após a defosforilação mediada pelo influxo de cálcio intracelular. Apesar de presentes em vários tipos celulares, os eventos que o NFAT é capaz de desencadear são mais estudados em linfócitos T, uma vez que a sinalização induzida pelo receptor de célula T (TCR) é a mais amplamente conhecida (revisado por MACIAN, 2005). Introdução 12 Outra curiosidade a respeito do NFAT é o fato de ser um fator de transcrição monomérico, ou seja, sem subdivisões em sua estrutura proteica, o que o torna capaz de interagir com outros fatores de transcrição conhecidos gerando sinergismos positivos ou negativos. Consequentemente, o NFAT acaba sendo uma via que influencia de alguma forma na produção de diversas citocinas, dentre elas: IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-10, IL-15, TNF-ɑ, IFN-γ, GM-CSF, CD40L e FasL (KIANI et al., 2001; LEE et al., 2009; MACIAN, 2005). O NFAT também apresenta função relevante na diferenciação dos Linfócitos T auxiliares. A apresentação de antígenos pelas APCs faz com que células T auxiliares naïve liguem-se através do TCR ao MHC. Como consequência, ocorrerá a diferenciação em células T efetoras gerando uma população linfocitária com padrão de resposta T H1 ou TH2 (MURPHY; REINER, 2002). Os fatores responsáveis pelo desvio da resposta imunológica do hospedeiro para um tipo de padrão específico são o tipo de antígeno, a intensidade do estímulo e o tipo da APC envolvida na apresentação inicial. Além destes fatores, existe o papel das citocinas que desencadeiam sinais e eventos específicos nestes linfócitos que irão se diferenciar (MURPHY; REINER, 2002). Em células TH1, o NFAT atua conjuntamente com o STAT-4 para induzir a expressão de IFN-γ, o que resulta em ativação de macrófagos e outros eventos subsequentes que culmina com o processo inflamatório (KIANI et al., 2001). No caso da resposta T H2, o NFAT induz a expressão de IL-4, principal interleucina envolvida neste padrão (AGARWAL; AVNI; RAO, 2000). Outra característica importante deste fator de transcrição é a regulação da síntese de IL-2 em linfócitos T auxiliares efetores e de memória (SERFLING; BERBERICH-SIEBELT; AVOTS, 2007). Quando o NFAT é translocado até o núcleo para transcrição de alguns genes, um dos sítios de ligação desta proteína resulta na expressão de IL-2. Experimentos demonstraram que linfócitos de memória produzem interleucina via NFAT enquanto os naïve não (DIENZ et al., 2007). Posteriormente, descobriu-se que a IL-2 secretada pelos linfócitos T efetores também era regulada principalmente pela via NFAT (SERFLING; BERBERICHSIEBELT; AVOTS, 2007). Consequentemente, a regulação de NFAT e produção de IL-2 relacionam-se com proliferação e diferenciação celular de células NK e linfócitos T e B, eliminação de células T autorreativas e manutenção de células T reguladoras - TREG (WALDMANN, 2006). Já estudos envolvendo IL-15, demonstraram que a citocina é capaz de desencadear a migração do NFAT-1 para o núcleo celular e desencadear eventos que envolvem a regulação Introdução 13 de quimiocinas imprescindíveis para adesão de leucócitos (BARLIC et al., 2004; MACIAN, 2005). Com relação à participação do NFAT em hepatites virais, estudos demonstraram o aumento do fator de transcrição NFAT-2 em células da linhagem Jurkat que expressam o core de HCV (DOMÍNGUEZ-VILLAR et al., 2007). Os autores sugerem que as proteínas do core do HCV são suficientes para causar a translocação do NFAT para o núcleo. Como resultado desta translocação, os linfócitos entram em um estado semelhante ao de anergia, o que influenciaria na persistência viral observada em pacientes infectados. No mesmo ano, Wherry e colaboradores (2007) separaram populações de linfócitos murinos TCD8+ expostos cronicamente ao LMCV. As populações de TCD8+ foram separadas em efetoras, anérgicas ou exausta e foram analisadas conforme sua assinatura gênica. Os autores descobriram que um balanço na proporção entre NFAT:AP-1 leva à ativação do Linfócito, entretanto, quando ocorre a ativação de NFAT sem a presença de AP-1 a célula entra em estado de anergia e o aumento exacerbado do NFAT-2 pode levar à exaustão. A participação deste fator de transcrição em infecções virais crônicas torna-se evidente e a ausência de estudos em outras hepatites virais, torna-se um importante alvo para nossa investigação. Justificativa 14 2. JUSTIFICATIVA A hepatopatia crônica causada pelo HBV não está diretamente associada aos danos hepáticos causados pelo vírus, uma vez que ele não é citopático e a patogênese da doença é mediada pela imunidade do hospedeiro, na qual a resposta celular e humoral estão envolvidas. Diversos estudos conduzidos com esse vírus mostram uma forte correlação entre a resposta de linfócitos T, os hepatócitos e o clearance do HBV, sendo a maioria das investigações concentradas em alterações em subpopulações de linfócitos no sangue periférico de pacientes com infecção crônica (CIUPE et al., 2007; LI et al., 2014; MIZUKOSHI et al., 2004). Foi demonstrada intensa participação e desequilíbrio em eventos periféricos, tais como produção de citocinas, ou diminuição da resposta celular por mecanismos de exaustão. Em se tratando da infecção pelo HDV, a mesma apresenta distribuição mundial, sendo a região ocidental da Amazônia brasileira considerada área de alta endemicidade, o que a torna um problema de saúde pública no estado de Rondônia. Além da alta prevalência do vírus associa-se o fato que este pode determinar quadros de Doença Hepática Crônica devido à atividade necro-inflamatória contínua no local da infecção, que são os hepatócitos. Pacientes HBV/HDV positivos apresentam um risco três vezes maior de desenvolver carcinoma hepatocelular e duas vezes mais chances de mortalidade por cirrose quando comparados pacientes infectados somente com HBV (PASCARELLA; NEGRO, 2011). Aliado a este efeito citotóxico inerente ao HDV, observa-se que fatores relacionados ao hospedeiro podem levar a padrões paradoxais da resposta imunológica, uma vez que em alguns casos o paciente desenvolve uma resposta inflamatória exacerbada e, em outros casos, estudos demonstram que há geração de um padrão de resposta TH2 atípico com aumento de IL-10. Visto alguns dados publicados e revisados recentemente nota-se uma enorme lacuna a ser preenchida, incluindo estudos que sugerem como a resposta imune celular do hospedeiro poderia participar, ao mesmo tempo, da patogênese e do controle da infecção. Deste modo, acreditamos que o presente trabalho contribuirá na tentativa de elucidar qual o perfil da secreção linfocitária de interleucinas indispensáveis para resposta TH1 imprescindíveis para a resolução da infecção viral e, consequentemente, para os mecanismos de inflamação tecidual, além de sugerir possíveis efeitos que demonstrem exaustão do Sistema Imune. Por fim, será um estudo que poderá auxiliar no entendimento da resposta imune celular do hospedeiro e que potencialmente auxiliará no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas, tão necessárias para o controle da infecção pelo HDV. Objetivos 15 3. OBJETIVOS Objetivo Geral Avaliar aspectos da ativação leucocitária, relacionados com a via NFAT, na infecção pelo HDV. Objetivos Específicos Selecionar pacientes portadores de HBV sem coinfecção e pacientes HBV/HDV através de diagnóstico sorológico; Separar a população estudada em: Pacientes monoinfectados com HBV, pacientes HBV/HDV divididos entre: aqueles que não iniciaram o tratamento antiviral e são PCR positivos; aqueles que não iniciaram o tratamento antiviral e são PCR negativos e anti-HDV IgG positivos; aqueles que concluíram o tratamento clínico; Observar o perfil de resposta inflamatória através da quantificação de citocinas por Elisa; Comparar a expressão gênica da via NFAT em pacientes HBV sem coinfecção e pacientes HBV/HDV em PBMC; Analisar estatisticamente os resultados obtidos para os indivíduos HBV positivos sem coinfecções e compará-los com os resultados obtidos para HBV/HDV; Clonagem, expressão e Purificação do SDAg; Ensaios in vitro de citotoxicidade que envolvam células na presença do SDAg tratadas ou não com IFN-PEG; Correlação dos dados in vivo com os dados in vitro. Material e Métodos 16 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 CASUÍSTICA Os pacientes foram escolhidos conforme o seguinte delineamento experimental: 11 pacientes portadores somente de HBV com carga viral acima de 100 UI/mL; 11 portadores de HBV/HDV que nunca realizaram tratamento clínico e estão PCR negativo para HDV; 14 portadores de HBV/HDV que foram tratados com esquema terapêutico de 48 semanas. Durante todo período foi administrado uma vez por semana, via subcutânea, 180µg de IFN-PEG mais o análogo de nucleotídeo entecavir, na dose de 0,5 mg, via oral, diariamente. Após 24 semanas, ou mais, que o tratamento foi finalizado a coleta dos indivíduos foi realizada; 10 portadores de HBV/HDV que não iniciaram o tratamento antiviral e são PCR positivos para HDV. Aspectos Éticos A pesquisa foi realizada de acordo com os princípios estipulados pela Assembleia Médica Mundial de 1975 e do Ministério de Saúde (Resolução 196/1996) sob aprovação no CEP (Parecer: 146.474 de 14/11/2012 CAAE 08485112.4.0000.5300-ANEXO A). As amostras de sangue foram colhidas somente após a assinatura, pelos pacientes, do termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO B). 4.2 TRATAMENTO DAS AMOSTRAS Os pacientes que concordaram em participar da pesquisa tiveram 15mL de sangue periférico coletado na ausência ou presença de anticoagulante o qual foi submetido a centrifugação a 1400 g por 10 min a Temperatura Ambiente (TA) para separação do soro. O soro foi aliquotado em dois tubos de 1,5 mL, sendo um deles estocado a -20ºC para realização da quantificação de citocinas inflamatórias e nitritos (item 4.3). A porção sanguínea figurada coletada na presença de anticoagulante foi ressuspensa em PBS 1X e separada por centrifugação em gradiente de densidade (Ficoll-Paque® d= 1,077 GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia) para obtenção da camada de células mononucleadas de sangue periférico (PBMC). As células presentes na interfase plasma-Ficoll-Paque® foram cuidadosamente coletadas, lavadas duas vezes a 200 g com PBS (1X), ressuspensas em 1 mL de PBS (1X) e contadas em câmara de Neubauer com com corante vital Azul de Trypan (0,3%). Material e Métodos 17 Da quantidade total de células obtidas, 1x10 7 células tiveram seu RNA preservado em Trizol® (Invitrogen Life Technologies, Carlsbad, Caliofórnia, EUA) a uma temperatura de 80ºC para posterior extração de RNA Total. 4.3 QUANTIFICAÇÃO SÉRICA DE CITOCINAS INFLAMATÓRIAS Empregando o método de ELISA com os reagentes, padrões e soluções comerciais (BD OptEIA™, BD Biosciences Franklin Lakes, NJ, EUA) foi realizada a quantificação das citocinas: IL-2, IL-10, IL-12, IFN- e TNF-α empregando anticorpos específicos e biotinilados e citocinas-padrão para construção da curva-padrão de quantificação, de acordo com instruções do fabricante (BD OptEIA™, BD Biosciences Franklin Lakes, NJ, EUA). Os anticorpos de captura foram diluídos em tampão de diluição nas proporções indicadas na bula e distribuídos em uma placa de 96 poços, sendo o volume de 100 μL/poço. Procedeu-se a incubação das placas por 16 horas a 4°C e posterior lavagem com solução PBS 1X acrescida de 0,05% de Tween – tampão de lavagem, também fornecida pelo fabricante. Após as sucessivas lavagens e secagem da placa, foram adicionados 300 μL/poço de tampão de bloqueio seguido de incubação à temperatura ambiente no mínimo por 1 hora. Após o bloqueio, os poços foram novamente lavados três vezes com o tampão de lavagem e adicionados 100 µL das amostras, branco ou curva-padrão para a quantificação das citocinas. Depois de duas horas repetiu-se o procedimento de lavagem da placa, posteriormente adicionando 100 μL/poço dos anticorpos de detecção biotinilados, na concentração indicada pelo fabricante. Após uma hora de incubação foi repetido novo ciclo de lavagem, para adição de 100 μL/poço da solução de substrato, com incubação por 30 minutos à temperatura ambiente. A reação foi bloqueada adicionando-se 50 μL/poço de stop solution. A densidade ótica (D.O.) foi avaliada em leitor de microplacas com filtro de 450 nm (ASYS UVM340 Biochrom, Cambridge, Inglaterra) e a concentração de citocinas foi calculada a partir da equação da reta, com os valores extrapolados da curva de calibração. 4.4 QUANTIFICAÇÃO SÉRICA DE NITRITOS A produção de Óxido Nítrico pelas células do Sistema Imune foi calculada de maneira indireta, sendo que o metabólito final da reação (nitrato/nitrito) foi quantificado pelo método de Griess em placas de 96 poços. Um volume 100 uL/poço de amostra ou padrão ou branco foi distribuído e incubado com 100 uL/poço do reagente de Griess preparado no momento do uso na proporção 1:1:1:1 de água destilada: ácido fosfórico5%: solução A: solução B. O preparo das soluções A e B foi realizada conforme segue: A solução A foi preparada pesando-se 0,5 g Material e Métodos 18 de sulfonilamida e diluindo em 25 mL de ácido fosfórico 5%, e a solução B é composta de 0,05 g de NEDD (cloridrato de N-(1-naftil)etilenodiamina) diluída em 25mL de água. Ambas foram preparadas no dia da quantificação. Após 15 minutos observou-se a formação de cor proporcional a quantidade de nitrito presente no soro. A leitura foi realizada a 540 nm (ASYS UVM340 Biochrom, Cambridge, Inglaterra) e a concentração de nitrito foi calculada a partir da curva de calibração. 4.5 EXTRAÇÃO DO RNA TOTAL E TRANSCRIÇÃO REVERSA O RNA total, do material obtido das PBMCs, foi extraído pelo método do TRIzol® Reagent, conforme especificações do fabricante (Life Technologies, Carlsbad, California EUA). Após precipitação, o RNA extraído foi diluído em tampão adequado e estocado a -80ºC. O RNA foi quantificado e avaliado quanto à integridade e pureza por meio de leitura em espectrofotômetro NanoDrop® (ThermoScientific, Wilmington, Delaware - EUA). Posteriormente, o RNA total do PBMC foi transcrito em cDNA utilizando-se o kit Superscript III (Life Technologies, Carlsbad, California – EUA). A reação foi preparada para utilização de random primers conforme as instruções do fabricante, sendo que foram utilizados 3,5 g de RNA com o volume final de 25 L ajustados com água DEPC. 4.6 EXPRESSÃO GÊNICA Para a quantificação relativa de alguns genes envolvidos na via NFAT utilizou-se PCR quantitativa em tempo real (qRT-PCR). A metodologia empregada para esta análise foi a TaqMan Gene Expression Assay (Life Technologies, Foster City, California, EUA) para os genes de interesse genes listados a seguir: NFATc1 (Hs00905451_m1); NFATc2 (Hs00542678_m1); NFATc3 (Hs00542571_m1); CD25 (Hs00190046_m1); (Hs0000907779_m1); IL-2 CD122 (Hs00174114_m1); (Hs01081697_m1); IL-15 CD132 (Hs00953624_m1); IL15RA (Hs00542604_m1). Os genes de referência (endógenos ou constitutivos) utilizados foram: ACTB (Hs99999903_m1); GAPDH (Hs02758991_g1); B2M (Hs00984230_m1); PolR2A (Hs00172187_m1). Os ensaios foram realizados em duplicata, com desvio máximo permitido entre as duplicatas de até 0,5 Ct (meio Cycle Threshold). 4.6.1 Eficiência de Amplificação Além de ensaios para definir as concentrações ideais de reagentes, também foi confeccionado um pool de cDNA das amostras analisadas neste trabalho, e posteriormente foram realizadas diluições seriadas com a seguintes concentrações de cDNA: puro; 1:10; 1:100; Material e Métodos 19 1:1000 e 1:10.000. Assim, garantiu-se que a eficiência de amplificação dos genes envolvidos fosse a mesma, e as quantidades por reação ficaram padronizadas para: 10L de TaqMan Universal PCR Master Mix (2X); 0,8 L de sonda gene específica FAM (20X); 0,8 L de sonda endógeno específica VIC; 1,0 L de cDNA puro (na concentração de 1µg) e água para volume final de 20L. Para garantir a ausência de resultados falso-negativos, cada amostra possuía um controle endógeno dentro do ensaio com o objetivo de validar os resultados cujos genes não estavam sendo expressos, isso foi possível pois os genes de interesse foram marcados com fluorocromo FAM e os genes endógenos foram marcados com fluorocromo VIC. Deste modo, os genes endógenos serviram como um controle interno da reação (LIVAK; SCHMITTGEN, 2001). 4.6.2 Cálculo da Expressão Relativa A expressão dos genes endógenos foi utilizada para obtenção da média geométrica dos valores obtidos (VANDESOMPELE et al., 2002). Posteriormente, calculou-se o Ct para obtenção da expressão relativa dos genes em estudo (PFAFFL, 2001). Rapidamente, deve-se lembrar de que a fase exponencial da reação de PCR origina uma curva de amplificação linear e se pode estabelecer o quantification cycle (Cq), onde a cada novo ciclo de reação, o dobro de amplicon é formado. Com a garantia da eficiência de reação e a determinação de um mesmo Ct, para todas as corridas realizadas, é possível explicar a fórmula conforme segue: Ct = Cq do gene alvo média geométrica dos Cqs dos genes endógenos (referência) Ct = Ct do gene alvo – Ct da mediana dos calibradores* Expressão relativa = 2-Ct * Neste ensaio, utilizamos como calibradores indivíduos crônicos não tratados para o HBV 4.7 CLONAGEM DO ANTÍGENO DELTA PEQUENO (SDAG) Esses experimentos foram realizados no período de 1 de outubro a 26 de outubro de 2014 no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, sob supervisão do Dr Celso Vladimiro Cunha. 4.7.1 Ligação do gene Ag-S no Vetor pGEX-6P-2 Uma quantidade 10 ng/µL do vetor pGEX-6P-2 Figura 2 (GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia) foi linearizado com as enzimas de restrição XhoI e BamHI Material e Métodos 20 (Fermentas/ThermoScientific, Vilnius – Lituânia). O cDNA Ag-S, que codifica o antígeno pequeno do vírus da hepatite Delta, foi sintetizado conforme sequência publicada por (DINGLE et al., 1998) e disponível no GenBank sob número de acesso U88619.1. Procedeu-se à reação de ligação do inserto a 40 ng/µL com o vetor a 10 ng/µL (proporção de 4:1) em presença de T4 ligase (1 U) e 2 L tampão de ligação (10X) fornecido pelo fabricante (Fermentas/ThermoScientific, Vilnius – Lituânia) e água para o volume final de 20L. Os componentes foram homogeneizados e incubados por 2 horas em TA, após esse período, retirou-se 10 L da mistura para dar continuidade ao processo de clonagem e os 10 L restantes foram armazenados em -20ºC até o final dos experimentos. Figura 5. Esquema do Vetor de Clonagem O vetor de Clonagem pGEX foi utilizado para clonagem do SDAg. A figura ressalta as enzimas que podem ser utilizadas e os locais de abertura do vetor. 4.7.2 Transformação de Células Competentes A cepa utilizada para os experimentos de clonagem foi a BL21 (MCLAB, São Francisco, Califórnia, EUA). Os 10L da mistura de ligação, obtida no subitem anterior, foram adicionados a um tubo tipo eppendorf de 2,0 mL, contendo 100L de bactérias competentes. Os tubos foram agitados levemente e foram colocados em gelo por 10 minutos. Após este tempo os tubos foram colocados em banho-maria a 42ºC durante 2 minutos, para efetuar o choque térmico. O tubo foi novamente colocado em gelo e 900 L de meio LB -Luria Broth (temperatura ambiente) foram adicionados, para um volume final de 1000 L, deste modo, Material e Métodos 21 havia uma proporção de plasmídeo de 1:100 no tubo. Após este período, o tubo foi incubado por 1 hora a 37ºC a 250 rpm no aparelho Eppendorf Thermomixer (Eppendorf, Hamburgo, Alemanha). Após este período de incubação, as alíquotas do produto de transformação foram plaqueadas em meio ágar LB contendo ampicilina (Merck, Whitehouse Station, Nova Jérsei, EUA) a uma concentração final de 100 L/mL de para a seleção dos clones transformados. As colônias cresceram overnight a 37ºC e, posteriormente, foram selecionados seis clones para dar continuidade ao processo. Estas seis colônias foram devidamente enumeradas e crescidas separadamente em 10 mL de meio LB líquido a 37ºC por doze horas. Depois deste período de crescimento metade do volume foi devidamente numerado e armazenado (5mL), enquanto a outra metade (5mL) foi centrifugada a 2280x g para obtenção do pellet que foi utilizado para a extração do DNA plasmidial com o kit QIAprep Spin Miniprep Kit (Qiagen, Germantown, Maryland, EUA). Para confirmar a correta inserção do cDNA do Ag-S no vetor, os quatro diferentes grupos extraídos foram digeridos com a enzima HincII (Fermentas/ThermoScientific, Vilnius – Lituânia). A enzima Hinc II possui sítios de restrição que clivam o vetor pGEX-6P-2, conforme pode ser visualizado no site do fabricante (https://www.gelifesciences.com/gehcls_images/GELS/Related%20Content/Files/131477444 3672/litdoc28918451AB_20110831091708.pdf). Se a inserção do Ag-S for realizada na orientação correta e com sucesso, os fragmentos gerados possuirão tamanhos de 896 e 1183 pb. 4.7.3 Expressão e Purificação do Antígeno Delta Pequeno Colônias de E coli BL21 resistentes a ampicilina, que possuíam a orientação correta do fragmento, foram utilizadas para a expressão da proteína, conforme as recomendações do kit Microspin GST Purification Kit (GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia). Rapidamente, após a transformação as bactérias foram colocadas em meio 2x YTA e deixadas para crescer em agitação de 250 rpm overnight. Após este período de crescimento, 0,5mL da suspensão bacteriana foi adicionada a 4,5 mL de meio LB mais ampicilina, ou seja, realizou-se uma diluição 1:10 para um volume final de 5 mL de meio. O crescimento de foi acompanhado até que a Densidade Ótica em 600nm atingisse valores entre 0,6 a 0,8. Ao atingir estes valores, duas alíquotas foram separadas, uma delas foi utilizada para controle e à outra foi adicionado o agente indutor IPTG (Isopropil-β-D-tiogalacto-piranosídeo) na concentração de 1 mM durante 3 horas. Após a indução, o tubo foi centrifugado a 2280xg e o precipitado foi ressuspenso em Material e Métodos 22 5mL de PBS e o material ressuspenso foi sonicado durante 60 minutos, alternando 1 minuto de sonicação e 5 minutos em banho de gelo. Após uma hora, o material foi aquecido até 30 ºC e posteriormente centrifugado. O sobrenadante foi recolhido e teve seu volume reduzido ao total de 1 mL, sendo que uma alíquota de 20 L foi retirada para verificação da expressão em gel de poliacrilamida corado com Comassie Blue. O volume restante foi levado para a purificação com colunas comerciais Microspin GST Purification Kit (GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia). Depois de preparadas, aplicou-se o sobrenadante nas colunas, as quais ficaram incubando durante 15 minutos à temperatura ambiente e posteriormente foram centrifugadas a 735xg. Em seguida, a coluna foi lavada duas vezes com PBS 1X. Adicionou-se 100 L de tampão de eluição e após 15 minutos a temperatura ambiente, as colunas foram novamente centrifugadas durante 1 minuto a 735xg e o eluído (que contém a proteína de fusão) foi purificado através da digestão com 2 unidades da protease PreScission (GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia). 4.8 CULTIVO DAS LINHAGENS CELULARES As linhagens utilizadas para os experimentos in vitro foram THP-1 (ATCC TIB-202) e Jurkat (ATCC TIB-152). Ambas foram expandidas e mantidas em meio RPMI completo (acrescido de 10% de Soro Bovino Fetal e 0,1% de antibiótico Gentamicina) em estufa de CO 2 a 5% e 37ºC. Para a realização dos ensaios as mesmas foram lavadas com meio RPMI completo e coletadas após a centrifugação (400 x g, 15 min, 10ºC). A suspensão foi acertada para 8x106 céls/mL para a linhagem de linfócitos (Jurkat) e 2x106 para a linhagem de monócitos (THP-1). A contagem foi realizada em câmara de Neubauer na presença do corante vital azul de Tripan 0,3% e procedeu-se com os experimentos em microplacas. 4.9 TRATAMENTO IN VITRO COM IFN-PEG As células cultivadas e expandidas no item 4.8 foram distribuídas em placas de 24 poços na presença de HBsAg (Diasorin The Diagnostic Specialist – Salugge, Itália), SDAg (clonado e purificado conforme item 4.7) ou ambos. Quando os antígenos foram incubados simultaneamente, utilizou-se duas concentrações da mistura HBsAg+SDAg (100 ng/mL e 25 ng/mL) para verificar se haveria indícios de concentração dependência nos efeitos celulares. Como controle positivo utilizamos LPS na concentração de 500 ng/mL e como controle negativo utilizamos PBS 1X. As placas foram incubadas 24 horas a 37ºC em estufa de em estufa de CO2 a 5%. Material e Métodos 23 Após esse período, em metade das placas foi adicionado IFN-PEG (HoffmannLaRoche, Rio de Janeiro, Brasil) diluído para a concentração de 100 ng/mL. Essas placas foram chamadas de Tratamento As placas, cujo tratamento não foi adicionado, foram retiradas da estufa e adicionados 20L de PBS 1X – volume correspondente ao IFN-PEG. Novamente, incubou-se o material por 24 horas a 37ºC em estufa de CO2 a 5%. Transcorridas as 48 horas totais do experimento, as placas de 24 poços foram fotografadas e seu sobrenadante recolhido e estocado para análise de citocinas (item 4.3). Resumidamente, para os experimentos in vitro seguiu-se o fluxograma abaixo. 4.10 AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE IN VITRO Concomitante ao tratamento in vitro, foi realizado o ensaio de citotoxicidade utilizando o sal de tetrazolium-MTT para avaliar se o HBsAg e /ou SDAg seriam tóxicos para as células Material e Métodos 24 com as quais estavam sendo incubadas e se o tratamento com IFN-PEG poderia reverter esse efeito citotóxico. A redução do MTT é um método colorimétrico rápido, frequentemente usado para medir proliferação celular e citotoxicidade (MOSMANN, 1983). Neste ensaio, o MTT é acumulado pelas células por endocitose e a redução do anel tetrazólico deste sal resulta na formação de cristais de formazan de cor azul que se acumulam em compartimentos endossomais e/ou lisossomais, sendo depois transportados para fora das células por exocitose. Assim, após as 48 horas das culturas celulares, contendo ou não o tratamento com IFN-PEG, foram removidos os sobrenadantes e as células foram incubadas com uma solução de MTT (5 mg/ml) em PBS 1X, durante 4 horas a 37°C em estufa de CO2 a 5%. Após esta incubação, os cristais de formazan, resultantes da redução do MTT, originaram composto colorido e sua a absorbância foi medida num leitor automático de placas de cultura (ASYS UVM340 Biochrom, Cambridge, Inglaterra) a um comprimento de onda de 570 nm. Os valores da viabilidade celular foram expressos em porcentagem relativa à absorbância determinada nas células-controle mortas com solução de SDS 10% (m/v). 4.11 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para avaliar a diferença significativa entre os grupos estudados foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis, seguido do pós-teste de Dunn. Em todas as análises, foram considerados como resultados significativos aqueles cujo P valor foi menor do que 0,05. Para verificar a presença de correlação entre as citocinas avaliadas e também entre o perfil de expressão gênica, realizou-se o teste de correlação de Pearson e foram considerados resultados significativos aqueles cujo p valor foi menor do que 0,05. Para os dados in vitro foi aplicado o teste two-way ANOVA com pós-teste de Bonferroni e foram considerados resultados significativos aqueles cujo p valor foi menor do que 0,05. CAPÍTULO I – AVALIAÇÃO DE POTENCIAIS BIOMARCADORES SÉRICOS Resultados - Capítulo I 27 5 RESULTADOS 5.1 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES Neste trabalho, foram selecionados indivíduos reagentes para HBsAg (monoinfectados com HBV), positivos para anti-HDV podendo ou não ter a PCR do respectivo vírus positivo. Os pacientes foram agrupados conforme Quadro 2. QUADRO 2 – Pacientes que foram selecionados para participação no presente estudo e parâmetros utilizados para agrupá-los HDV Tratamento Finalizado HDV PCR Negativo HBV Monoinfectados GRUPO Identificação Sexo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 M M M F M M F F F F F M F M F M M M M F F M M F F M F F M F M M M M HBV Replicando + + + + + + + + + + + - AntiHDV + + + + + + + + + + + - PCR Delta - Tratamento + + + + + + + + + + + + + + + + Resultados - Capítulo I 28 GRUPO Identificação Sexo HDV PCR + QUADRO 2 – Pacientes que foram selecionados para participação no presente estudo e parâmetros utilizados para agrupá-los (continuação) 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 F M F M M F M M M F HBV Replicando + + + + + + + - AntiHDV + + + + + + + + + + PCR Delta + + + + + + + + + + Tratamento - Dentre os pacientes analisados, nota-se que somente o 1153 e o 3953 estavam sendo tratados para HBV, contudo, no momento da coleta eles ainda possuíam carga viral para o HBV detectável. Para ser incluído ao grupo TTO, os pacientes deveriam ter concluído o tratamento e no período da coleta os mesmos apresentavam PCR negativo para HDV, carga viral de HBV abaixo do limite de detecção de (75 UI/mL de sangue) e ausência de anticorpos IgG contra o vírus delta. 5.2 PERFIL DE CITOCINAS O soro dos pacientes coletados tiveram suas citocinas quantificadas pela técnica de Elisa, conforme descrito nos itens 4.3, onde se realizou um screening para as citocinas IL-2, IFN-, TNF-, IL-12 e IL-10e conforme demonstrado na Tabela 1. Os resultados foram obtidos em pg/mL. TABELA1 – Quantificação de Citocinas CITOCINAS (pg/mL) HBV Monoinfectados Pacientes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 TNF- 0,00 0,00 0,00 6,63 1,34 3,56 4,50 1,19 0,00 3,02 0,54 IFN-γ 18,46 36,08 0,15 0,00 0,15 2,31 0,00 0,27 9,62 1,58 0,15 IL-12 1222,78 627,00 809,00 1450,00 1454,67 1568,00 1416,67 1541,00 894,00 1087,00 82,67 IL-10 17,81 7,29 14,27 4,38 9,48 3,96 6,25 3,23 0,00 26,25 5,63 IL-2 9,50 0,00 0,00 0,00 0,00 1,50 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Nitritos (M) nq 96,08 236,18 194,65 54,35 nq 235,16 209,96 47,90 nq nq Resultados - Capítulo I 29 TABELA1 – Quantificação de Citocinas (continuação) CITOCINAS (pg/mL) Nitritos (M) TNF- IFN-γ IL-12 IL-10 IL-2 12 0,00 0,00 1459,67 11,21 0,00 104,76 13 4,21 8,00 114,67 4,38 6,50 nq 14 41,33 nq nq nq nq 139,45 15 0,45 0,50 80,67 11,56 0,00 90,67 16 39,57 5,88 112,67 9,27 5,75 nq 17 16,33 nq nq nq nq 67,28 18 0,00 0,00 854,68 37,70 0,00 3,91 19 10,78 nq nq nq nq 90,53 20 1,49 1,85 109,00 3,65 5,83 126,80 21 1,39 3,92 99,33 3,23 2,33 110,98 22 3,56 3,69 112,67 5,00 6,00 105,78 23 0,00 0,00 1529,33 4,38 22,17 81,20 24 1,04 1,15 715,00 1,56 12,75 24,11 25 1,49 0,58 1434,67 5,73 84,53 132,10 26 0,00 2,54 1513,33 7,08 21,33 16,95 27 0,89 4,46 1422,33 29,58 39,67 44,18 28 0,84 3,54 1098,00 3,33 30,92 17,82 29 1,68 0,12 1500,67 2,19 27,44 40,93 30 1,29 0,88 1464,67 11,25 32,58 185,57 31 0,69 36,92 83,67 4,06 0,00 74,96 32 0,15 2,85 1540,33 6,25 93,83 13,57 33 1,34 3,81 660,67 6,25 25,36 23,23 34 0,94 1,73 90,33 13,65 1,00 61,59 35 0,00 0,00 1239,67 6,00 0,00 84,92 36 0,00 0,00 60,78 67,49 nq nq 37 0,89 1,38 92,00 9,69 1,67 133,43 38 7,38 10,12 1578,67 15,42 4,50 43,40 39 2,77 2,77 820,48 7,40 14,75 7,56 40 4,70 9,62 1325,00 11,15 0,00 nq 41 2,62 514,33 4,90 0,00 97,61 nq 42 0,79 0,65 1564,00 1,46 0,00 210,78 43 9,06 62,85 1526,33 4,69 4,33 82,92 44 0,59 0,00 1442,00 302,60 0,00 122,71 45 1,24 2,31 89,33 0,00 0,00 86,80 46 1,39 0,77 94,67 4,48 3,08 102,00 Legenda da Tabela: As amostras de cada paciente estão identificadas individualmente e também agrupadas em HBV Mono (Pacientes Monoinfectados com HBV); PCR – (Pacientes HBV/HDV PCR negativo para HDV); TTO (Pacientes HBV/HDV que finalizaram o tratamento) e PCR + (Pacientes HBV/HDV que são PCR positivos para o HDV) nq = Amostras não quantificadas HDV PCR + HDV Tratamento Finalizado HDV PCR Negativo Pacientes É possível notar que nem todas as amostras coletadas foram quantificadas, estas estão identificadas com a sigla nq (não quantificadas), isto ocorreu devido a quantidade de soro Resultados - Capítulo I 30 disponível para as análises. As amostras consideradas 0,00 são aquelas que foram quantificadas, contudo, os valores da DO obtidos são iguais ao do branco da reação. O perfil obtido para cada grupo será detalhado nos itens subsequentes. 5.3 DIFERENÇAS NO PERFIL DE CITOCINAS ENTRE OS GRUPOS Após a quantificação, as citocinas foram agrupadas para que houvesse uma análise comparativa e estatística entre os grupos do estudo. Os gráficos de escolha para análise dos resultados foi do tipo dot plot, onde cada ponto representa um único paciente, contudo, no Apêndice A pode ser observado os mesmos resultados com a forma de representação gráfica de barras, evidenciando a média e o desviopadrão. Independente da representação gráfica foi aplicado o teste estatístico não paramétrico de Kruskal-Wallis, seguido pelo pós teste de Dunn para avaliar diferença estatística entre os grupos analisados. Primeiramente, é possível observar que, dentre todas as citocinas analisadas, o TNF-ɑ e o IFN-γ são as citocinas com o menor nível de produção detectado no soro dos pacientes, conforme pode ser visto na Figura 6. A média de valores obtidos para o TNF- é de 0,74 pg/mL para os pacientes tratados, enquanto nos demais grupos as médias foram: 3,14 (PCR+); 6,33 (PCR-); 1,89 (mono). Assim, as maiores médias foram observadas no grupo de pacientes PCR- , porém sem significado estatístico (Figura 6A). Com relação ao IFN-γ, os valores médios obtidos para os grupos TTO, PCR+, PCR – e Mono são 4,18; 10,05; 2,98 e 6,25, respectivamente. Apesar de não haver significado estatístico, é possível notar a produção desta citocina é ao menos o dobro em alguns grupos (Figura 6B). A B Resultados - Capítulo I 31 Figura 6. Perfil da produção de TNF-a e IFN-g Perfil de TNF-ɑ (A) e IFN-γ (B) dos pacientes coletados. Não houve resultado estatístico entre os grupos analisados (Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de Dunn). Outra citocina analisada foi a IL-12, conforme mostrado na Figura 7. Resultados - Capítulo I 32 Figura 7. Perfil da produção de IL-12 Perfil de IL-12 dos pacientes coletados. Apesar do teste estatístico não ter sido significativo (KruskalWallis seguido do pós-teste de Dunn), nota-se que o grupo de pacientes tratados apresenta um valor médio 1,5 vezes maior que o grupo de monoinfectados. Apesar da sugestiva diminuição desta citocina entre o grupo de pacientes delta PCR negativo (concentração média de citocina de 367,92 pg/mL) frente aos demais grupos de pacientes (1099,44 – TTO; 904,68 – PCR+; 1104,80 – Mono) não foi observada diferença com significado estatístico entre eles. A IL-10 também foi analisada seguindo os mesmos parâmetros estatísticos e não houve diferença entre os grupos (Figura 8). Devido a quantificação de um paciente ficar muito acima dos demais, o eixo y foi segmentado para melhor visualização de todos os grupos. Resultados - Capítulo I 33 Figura 8. Perfil da produção de IL-10 Perfil de IL-10 dos pacientes coletados. A análise estatística não revelou diferença significativa (KruskalWallis seguido do pós-teste de Dunn) Pode-se sugerir que, grupos quando retiramos o paciente que teve superexpressão de IL10 no grupo PCR +, a média de produção de IL-10 foi relativamente homogênea com valores de 7,79 (TTO); 6,57 (PCR+); 10,75 (PCR – ) e 8,96 (Mono). Com relação a IL-2, nota-se que a citocina encontra-se aumentada em diferentes níveis nos grupos analisados (Figura 9), sendo que a maior produção média observada ocorreu no grupo de pacientes TTO (32,31 pg/mL) seguida dos pacientes PCR – (8,62 pg/mL), os pacientes PCR + e Mono apresentaram valores médios mais baixos (2,83 e 1,00 pg/mL, respectivamente). A análise estatística revela um p significativo (0,0003) entre os pacientes. Resultados - Capítulo I 34 Figura 9. Perfil da produção de IL-2 Perfil de IL-2 dos pacientes coletados. A análise estatística revela um p=0,0003 pelo teste de KruskalWallis seguido pelo pós teste de Dunn. Nota-se que a produção de IL-2 sugere um aumento proporcional à ausência de HDV 5.4 CORRELAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS O teste estatístico de Pearson bicaudal foi utilizado para correlacionar os dados obtidos entre todas as citocinas analisadas nos soros dos pacientes. Deste modo, os valores dos pacientes foram pareados e em seguida foram realizadas análises para cada par de citocinas quantificadas ou seja: IL-2 vs IL-12; IL-2 vs IL-10; IL-2 vs IFN-γ; IL-2 vs TNF-α e assim sucessivamente. Cada indivíduo teve seu resultado devidamente pareado para observar se as produções de citocinas obedeciam algum padrão. A única análise que retornou uma tendência foi a correlação entre IL-2 e IL-12 (p=0,03), conforme demonstrado na Figura 10. Como o valor de r2 possui valor positivo, significa que os valores obtidos são proporcionais, ou seja, infere-se que quanto maior a quantidade de IL-2, maior será a quantidade de IL-12 no soro do mesmo paciente. Resultados - Capítulo I 35 Figura 10. Gráfico da correlação entre IL-2 vs IL-12. O teste de Pearson mostra, além de um p valor significativo (0,03), uma relação proporcional entre as citocinas analisadas, devido ao r2 ser positivo. 5.5 QUANTIFICAÇÃO DE NITRITOS Os níveis de nitritos produzidos foram quantificados pela técnica de Griess para todos os grupos, como medida indireta da produção de NO celular. Os valores médios foram de 153, 47 uM para o grupo Mono, seguido de 102,00 uM para o grupo PCR +. Os grupos PCR – e TTO apresentaram valores médios de 90,53 uM e 61,59 uM, respectivamente (Figura 11). A análise estatística foi significativa (p= 0,0369). Figura 11. Quantificação Indireta do NO Quantificação de nitritos (M) presente no soro dos pacientes que compõem os diferentes grupos. O teste de Kruskal-wallis, seguido pelo pós teste de Dunn retornou um p valor significativo (0.0369). Discussão – Capítulo I 36 DISCUSSÃO A prática clínica é extremamente complexa dentro do Brasil, sendo que várias leis permeiam o âmbito da saúde. A Lei nº 12.401, de 28 de abril de 2011 versa sobre a “Assistência Terapêutica e da Incorporação de Tecnologia em Saúde” e estabelece dentro do artigo 19N, a seguinte definição: “Protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento que estabelece critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS.” Deste modo, a caracterização e todos os procedimentos realizados com os pacientes inseridos neste estudo, está em cumprimento com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Tratamento da Hepatite Viral Crônica B e suas Coinfecções (BRASIL, 2010) e revela a importância do trabalho realizado no Ambulatório de Hepatites Virais do Cepem, pois a caracterização clínica que realizamos dos pacientes monoinfectados ou portadores de Hepatite Delta é um tópico tratado dentro do referido protocolo. O grupo de profissionais médicos do Cepem, além de cumprir com as determinações do Protocolo, também trouxe benefícios aos portadores desta infecção, pois as modificações que estão sendo realizadas no protocolo clínico aumentam as chance do paciente controlar a infecção de maneira efetiva. Isto ocorreu, pois os pacientes tratados que foram utilizados para compor o grupo TTO, fazem parte de um Estudo Clínico () que tenta incrementar o tratamento oferecido atualmente para o HDV. O Ministério da Saúde preconiza o tratamento com Interferon Peguilado Alfa em monoterapia e a associação com a Lamivudina, em pacientes com a carga viral do HBV acima de 2.000 UI/mL (BRASIL, 2011). Entretanto, os estudos clínicos mais recentes defendem que os sucessos alcançados com o tratamento são de uma terapia combinada para HBV e HDV. Assim, o Estudo Clínico consistiu no tratamento de Hepatite D Crônica com IFN-PEG combinado com análogo de nucleosídeo (Entecavir) durante 48 semanas. Após a confirmação da negativação para ambos os vírus, os pacientes foram acompanhados por mais seis meses e, somente após a confirmação dessa resposta virológica sustentada é que eles foram inseridos no presente trabalho. A hipótese principal envolve estes pacientes RV e a tentativa de colocarmos em perspectiva alguns mecanismos imunológicos que possam estar envolvidos para o possível sucesso terapêutico (BORZACOV et al., 2016). Discussão – Capítulo I 37 O fato da terapia combinada ter aumentado a eficácia no tratamento das coinfecções das hepatites B e C (HOOFNAGLE; DI BISCEGLIE, 1997), levou a investigar se a associação do IFNα convencional com Lamivudina (ou ribavirina) também seria benéfica para o tratamento da hepatite crônica Delta. Um pequeno aumento na resposta sustentada foi obtida em pacientes tratados com estes dois medicamentos (28%) quando comparados com aqueles que foram tratados com IFN somente (17%), porém, não se demonstrou uma diferença estatisticamente significativa (CANBAKAN et al., 2006). A associação entre IFN-PEG e antivirais orais, usados no tratamento da infecção pelo HBV, mostrou-se mais eficaz que a monoterapia. Não se sabe os mecanismos envolvidos nesta abordagem, mas sugere-se que a supressão da replicação por períodos prolongados diminui as chances de descompensação hepática (HEIDRICH; MANNS; WEDEMEYER, 2013). Deste modo, em nosso trabalho, o grupo de pacientes cujo tratamento foi finalizado não apresentou carga viral detectável. Com relação ao grupo PCR+, devemos destacar que os pacientes que possuem o HDV replicando apresentam níveis baixos ou indetectáveis na quantificação da carga viral de HBV e valores facilmente detectáveis de antígeno delta (GHAMARI et al., 2013). Isto ocorre, pois o HDV inibe a replicação do HBV, fazendo com que haja utilização da maquinaria celular somente pelo vírus satélite. Nossos resultados condizem com o descrito por (GHAMARI et al., 2013), uma vez que os pacientes deste grupo possuem carga viral de HBV indetectável. Outro ponto a ser destacado é que faltam estudos sobre os efeitos do IFN-ɑ na resposta imune celular em pacientes HDV. O mais completo deles, foi realizado por (GRABOWSKI et al., 2011). Brevemente, os autores separaram os pacientes tratados com IFN-PEG em dois grupos, um de respondedores (n=7) e outro de não-respondedores (n=5). Além desses dois grupos principais, houve ainda um terceiro formado por pacientes tratados com Adefovir (n=5). O número de pacientes utilizados neste artigo experimental, somado a outros artigos clínicos que utilizam pacientes tratados para o HDV (ASLAN et al., 2006; HEIDRICH et al., 2014; LUNEMANN et al., 2015) demonstra que o quantitativo de pacientes utilizados nesta tese apresenta um número adequado e compatível com estudos que não são multicêntricos. Resumidamente, podemos inferir que utilizamos as seguintes preposições aos analisar os diversos pacientes, que compõe cada grupo. Aqueles que conseguem controlar a infecção pelo HDV e estão PCR negativo, sem a utilização de medicamentos, é o nosso modelo mais próximo do que seria uma resposta desejável frente a uma infecção viral. Os pacientes tratados são aqueles que tiveram uma resposta virológica, porém após a utilização de IFN-PEG e entecavir. Os pacientes HDV com PCR positivo não está conseguindo suprimir a replicação do Discussão – Capítulo I 38 HDV, sendo que o HBV pode estar replicando em baixos níveis ou não estar replicando e por fim, o grupo de pacientes monoinfectados, cujos pacientes são considerados os calibradores por possuir uma doença com prognóstico mais favorável e com mais estudos imunofisiopatológicos já realizados. Outro ponto que deve ser destacado é a importância das quantificações que realizamos no sangue periférico e que deram resultados significativos. Esses dados podem sugerir alguns mecanismos imunológicos de pacientes que estão conseguindo controlar a quantidade de vírus no sítio primário da infecção, ou cuja doença crônica possa estar evoluindo de modo favorável ou não. Essa hipótese de extravasamento dos eventos celulares é sustentada por diversos hepatologistas. Uma revisão recente realizada por (FAHEY; DEMPSEY; LONG, 2014) sobre o HCV destaca a microanatomia e a imunologia do fígado, o que faz com que o órgão seja único em alguns aspectos imunológicos e que isso reflita em vários achados comuns às infecções crônicas virais que acometem esse órgão. Mais especificamente, os autores descrevem: “Portanto, é importante discutir brevemente a estrutura original e propriedades imunológicas do fígado. A vascularização hepática é realizada pelas artérias hepática e veia porta, que drenam para uma rede de capilares especializados denominados sinusoides. Os sinusoides são revestidos com células endoteliais fenestradas (ECS) e células de Kupffer (KCS), e através do parênquima hepático permitem a perfusão do tecido com sangue oxigenado, nutritivo e rico em antígenos. Ao retornar para a circulação sistêmica, o sangue passa pelas veias hepáticas antes de sair através da veia cava extra-hepática inferior. Entre o endotélio sinusoidal e o parênquima hepático está o espaço de Disse que contém as células hepáticas estreladas (HSC) e células dendríticas residentes (DCs). A vigilância imunológica e a tolerância dentro do fígado é mediada por um sistema de defesa inata que dispõe de células -sentinelas, tais como natural killer (NK) e Linfócitos T natural killer (NKT). Além disso, o fígado possui uma população de células T e B efetoras e de memória, bem como células T reguladoras CD25+ FoxP3+ (Tregs).” Essas características refletem o órgão com grande poder de perfusão e faz com que os eventos imunológicos celulares alcancem rapidamente a circulação periférica do paciente, o que nos encoraja a correlacionar os resultados obtidos, com os eventos advindos do sucesso terapêutico do paciente. Dentre os resultados que obtivemos, o primeiro diz respeito ao TNF-. Foi observado que os pacientes HDV PCR negativo é o grupo que apresenta maior média desta citocina (6,33 pg/mL). A investigação desta citocina foi aprofundada após relatos recentes da reativação do vírus HBV em pacientes que possuíam doenças autoimunes e estavam sendo tratados com terapias anti-TNF- (NARD et al., 2015; PÉREZ-ALVAREZ et al., 2011). De acordo com os estudos, a terapia com Infliximab (ou outros medicamentos com ação anti-TNF) fez com que esses Discussão – Capítulo I 39 pacientes desenvolvessem lesões hepáticas graves associadas ao aumento de HBsAg, sugerindo a importância desta citocina para manter o controle da replicação viral. Deste modo, investigou-se em modelo animal se haveria aumento da carga viral de HBV durante a terapia anti-TNF-. Os autores terminam o estudo sugerindo que a falta de TNF no sítio inflamatório desencadeia um mecanismo de exaustão de células TCD 8+, reduzindo o tempo do clearance viral e contribuindo para a cronicidade da doença (CHYUAN et al., 2015). Deste modo, os nossos resultados poderiam sugerir que mais estudos envolvendo células TCD 8+ e mecanismos de exaustão em pacientes HDV devem ser realizados, pois se os pacientes PCR negativos poderiam controlar a infecção de uma maneira mais eficaz que os demais grupos devido aos níveis maiores de TNF-. Com relação a detecção de IFN-γ, os grupos PCR+ (10,05 pg/mL) e Mono (6,25 pg/mL) apresentram os níveis mais elevados da citocina mesmo com alguns pacientes pertencentes a estes grupos não produzindo IFN-γ. Alguns autores relatam que pacientes crônicos de HBV apresentam níveis de IFN-γ na tentativa de combater a infecção viral (DIMITROPOULOU et al., 2013) Já Grabowski e colaboradores (2011) também demonstra que ocorre a flutuação desta citocina durante o tratamento com IFN-PEG. Por fim, o estudo mais recente e intrigante associando esta citocina mostra que células T específicas contra HBV, após estimulação com epítopos virais produz baixa quantidade de IFNγ, não importando se os linfócitos foram obtidos de pacientes crônicos ou que resolveram a infecção (BRINCK-JENSEN et al., 2015). Deste modo, apesar de ser esperada maior quantidade desta citocina nos pacientes que estão conseguindo combater a infecção viral, isso não foi observado em nossos experimentos, uma vez que nossos pacientes estão com baixos níveis de IFN-γ, mesmo aqueles que estão respondendo à infecção viral. Como os artigos sugerem que a secreção desta citocina não se faz necessária em grandes quantidades, não é o a citocina-chave para levar a resolução das hepatites virais que estamos estudando e pode não estar presente fora do local da infecção, nossos achados encontram-se condizentes com a literatura. Ao quantificar as citocinas de alguns pacientes é possível observar a detecção de IL-12 em todos os indivíduos, entretanto, nota-se uma tendência de elevação da mesma no grupo de pacientes tratados, excetuando-se o grupo PCR – . Sabe-se que durante uma infecção viral a via do IL-12 desencadeia a produção de IFN- pelos linfócitos TCD8+ e que esta ativação é responsável pelo clearance do micro-organismo (NOVELLI; CASANOVA, 2004). Entretanto, nossos dados mostram que não existe correlação entre a produção de IL-12 e IFN- nos Discussão – Capítulo I 40 pacientes. Esses achados condizem com os de (IM et al., 2009), pois pacientes que possuem hepatite crônica causada pelo HBV apresentam elevados índices de IL-12 e da fração p40 desta citocina no soro, mas não se correlaciona com níveis de IFN- detectáveis. Apesar dos autores não conseguirem determinar o porquê da falta de correlação nos pacientes eles sugerem que a quantificação de IFN- deve ser monitorada durante todo tratamento para observar se não ocorre elevação em períodos iniciais. Um artigo mais antigo publicado por (LEIFELD et al., 2002) demonstra que, em biópsias hepáticas de pacientes que morreram com hepatite fulminante causada pelo HBV, a correlação entre IL-12 e IFN- é significativa. Os mesmos autores demonstram pelos cortes hepáticos e marcações de imunohistoquímica que somente as células linfocitárias é que foram responsáveis pela produção de IFN- e que a hepatite fulminante foi causada por uma resposta imune exacerbada, mediada por estas duas citocinas. Os estudos de Simmonds e Midgley (2005) e (SCHURICH et al., 2013) demonstraram que em pacientes com infecção crônica pelo HBV é possível observar uma exaustão de células TCD8+ e que o aumento de IL-12 é imprescindível como terceiro sinal, para a recuperação destes linfócitos. Este estudo condiz com a nossa hipótese de recuperação da exaustão nos pacientes que foram tratados, sugerindo que os níveis mais altos da IL-12 poderiam estar relacionados a um bom prognóstico. Outro estudo feito por (WANG et al., 2013) demonstraram que o HBsAg inibe a produção de IL-12 e que ensaios in vitro com células de pacientes mostram que a via JNK-MAPK é afetada pelo antígeno viral. Nossos dados sugerem que as altas concentrações de IL-12 encontradas nos pacientes podem ser proporcionais à quantidade de HBsAg nos pacientes, predizendo uma condição clínica favorável àqueles com um perfil mais elevado, entretanto, não podemos descartar efeitos do HDV e mais estudos são necessários para averiguar a participação do antígeno delta nestes achados. A citocina IL-10 é amplamente conhecida na hepatite B crônica por seu efeito imunossupressor em linfócitos T efetores (POOVORAWAN et al., 2013). Na Hepatite Delta, (GRABOWSKI et al., 2011) mostraram que sua expressão está aumentada em pacientes nãorespondedores ao tratamento com o IFN-PEG. Apesar da IL-10 ter sido detectada em todos os grupos, nenhum deles obteve resultados significativos para inferirmos como estaria ocorrendo a interferência desta citocina no pós-tratamento dos pacientes. Os autores citados sugerem que a produção de IL-10 está relacionada com a diminuição da produção de IL-2 e IFN-γ, o que sugeriria a falha terapêutica com IFN-PEG no grupo de pacientes respondedores. O teste Discussão – Capítulo I 41 estatístico de Pearson mostrou que não existe correlação entre a IL-2 vs IL-10 e IL-10 vs IFNγ nos nossos resultados. Outra característica da IL-10 é que existem evidências que a principal célula secretora desta citocina, em pacientes crônicos de HBV, seriam as Tregs CD4+CD25+FoxP3+ localizadas no PBMC (SPRENGERS et al., 2007). A parte experimental destes três trabalhos evidenciam justamente a produção de citocinas ao longo do tempo de tratamento e correlaciona pacientes que responderam ou não ao IFN-PEG até 72 semanas de tratamento.(GRABOWSKI et al., 2011; POOVORAWAN et al., 2013; SPRENGERS et al., 2007). Contudo, olhando de maneira mais cautelosa os resultados obtidos pelos autores, nota-se que a IL-10 apresenta um aumento de sua secreção no decorrer do tratamento e este aumento é diferencialmente significativo entre os grupos respondedores e não-respondedores. Contudo, os valores médios obtidos após o término do tratamento é de aproximadamente 10 pg/mL, independente do sucesso terapêutico. Esses achados corroboram nossos resultados, uma vez que o grupo TTO apresenta um valor médio de 6,68 pg/mL. Com relação à IL-2, um estudo conduzido por (FALASCA et al., 2006) demonstrou níveis elevados desta citocina em pacientes HBV crônicos e com uma carga viral variando de 73 a 120 x103 UI/mL. Nossos resultados contradizem este estudo, pois todos os pacientes do grupo Mono possuíam carga viral acima do limite de detecção, contudo, nenhum dos indivíduos apresentou níveis detectáveis de IL-2 no plasma. Com relação ao HDV, (GRABOWSKI et al., 2011) relataram que o grupo de pacientes que respondiam à terapia apresentaram uma quantidade de IL-2 superior aos pacientes que não respondiam ao IFN-PEG. (LI et al., 2007), também observaram baixa quantidade de IL-2 no soro de usuários de drogas contaminados com hepatites virais, não tratados, além ter sido observado aumento de IL-4. Um estudo não associado a doenças virais crônicas pode sugerir alguns mecanismos relacionados aos achados dos pacientes. (DAVIS et al., 2008) demonstraram que o IFN-ɑ consegue aumentar de maneira sinérgica a produção de IL-2 por células T de memória central. Os autores separaram os linfócitos T de memória em duas populações: uma efetora e outra central, enquanto a primeira mantém a capacidade de secretar IFN-γ e TNF-α, a segunda circula através dos tecidos linfoides secundários e não secretam citocinas pró-inflamatórias, mas sim elevados níveis de IL-2. Os autores concluem que o desenvolvimento desta população de células T de memória central ocorre após estímulos com a citocina IL-12 em um microambiente rico em IFN-α/β. Esses achados condizem com a situação dos nossos pacientes tratados, uma vez que a secreção de IL-12, apesar de não ter resultado estatístico, evidencia um aumento no grupo TTO frente aos demais grupos. Discussão – Capítulo I 42 Por fim, neste trabalho, foram conduzidos ensaios para avaliar a quantidade sérica de nitritos, como medida indireta da produção de NO pelas células dos pacientes. Sabe-se que o Óxido Nítrico pode ser produzido por macrófagos e hepatócitos que estejam expostos a um ambiente inflamatório (TNF-, IFN- e IL-1β), contudo, somente esses estímulos não são suficientes para a manutenção da produção prolongada de NO (GELLER et al., 1993). Por outro lado, Chen e colaboradores. (2013), em estudos clínicos com pacientes crônicos do vírus B, observaram que a produção de iNOs está relacionada ao aparecimento do Hepatocarcionoma e sua produção é proporcional ao grau de severidade da doença. Posteriormente, descobriu-se que a produção de óxido nítrico elevada em tecido hepáticos é devido à presença da proteína X do HBV (HBx) em experimentos realizados com camundongos humanizados (PARK et al., 2013). Nossos dados revelam que os pacientes Mono, seguido dos pacientes PCR +, foram os que produziram maior quantidade de NO devido a presença de nitratos/nitritos que foram quantificados. Sabendo que o HBV está replicando na maioria dos pacientes que compõem estes grupos, poderíamos sugerir que a produção de NO realmente estaria aumentada devido a presença de HBx, o que não aconteceria nos outros grupos. Com isso, finalizamos um dos objetivos desta tese, que foi avaliar possíveis alterações nos perfis de citocinas dos diferentes grupos, achados que começam a desvendar possíveis propriedades antivirais do IFN-ɑ frente ao HDV, sugerindo mecanismos de como alguns pacientes alcançaram uma resposta virológica efetiva. . CAPÍTULO II – INVESTIGAÇÃO DO FATOR NUCLEAR DAS CÉLULAS T ATIVADAS Resultados – Capítulo II 45 5.6 EXPRESSÃO GÊNICA POR QRT-PCR Como a via NFAT é considerada uma das vias mais importantes para a expressão de IL2, ela foi escolhida inicialmente para investigar se a presença desta citocina detectada no soro dos pacientes tratados estaria sendo produzida por células do sangue periférico. Assim, para uma investigação inicial, priorizamos a análise dos pacientes tratados, e foi utilizada a quantificação relativa da expressão gênica nas amostras individuais empregando-se o método de 2-Ct. Abaixo, as figuras das corridas sendo a Figura 12 representado as curvas de eficiência dos genes analisados, neste caso a análise do pool para a expressão do GAPDH. As amostras foram corridas em duplicata. Figura 12. Curva de Eficiência para o gene GAPDH Em A e B estão apresentados as curvas de eficiência, as queias foram construídas a partir de diluições seriadas de razão 10, utilizando um pool de cDNA. Em A tem-se a curva de amplificação de cada ponto e em B visualiza-se as curvas de regressão linear fornecidas pelo software do aparelho Sabendo que o HBV leva a uma infecção crônica mais branda quando comparado ao HDV, utilizamos a média do padrão de resposta imunológica dos pacientes infectados somente com este primeiro vírus para ser o calibrador frente aos pacientes HDV/HBV. Portanto, avaliamos a expressão das três principais moléculas da via NFAT, a qual regula a transcrição de várias interleucinas indispensáveis para gerar um padrão de resposta imunológica, bem como a ativação de células importantes que culminam com a resolução, ou não, de diversas infecções virais (Figura 13). Resultados – Capítulo II 46 Figura 13. Expressão Gênica das proteínas da família NFAT Fatores de Transcrição NFAT1, NFAT2, NFAT4, nos diferentes grupos analisados. Não houve resultado estatístico entre os grupos analisados (Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de Dunn). Nota-se que existe um desvio entre os resultados obtidos, o que resulta em análises sem significados estatísticos, porém é possível notar algumas tendências entre os grupos. O NFAT1 poderia ser considerado o fator de transcrição mais expresso no grupo PCR -, enquanto o NFAT-2 estaria hiperexpresso no grupo TTO. Já o NFAT-4 possui uma maior expressão no grupo Mono. Outros perfis analisados foram dos dois principais receptores de IL-2: o CD25 (IL-2RA) e o CD122 (IL-2RB), cuja expressão é possível ver na Figura 14. Figura 14. Expressão Gênica dos Receptores de IL-2 Expressão Gênica dos Receptores IL-2RA (CD25) e IL-2RB (CD122) nos diferentes grupos analisados. Não houve resultado estatístico entre os grupos analisados (Kruskal-Wallis seguido do pós-teste de Dunn). Novamente, não foi obtido um valor significativo, apesar de ser observado o aumento do IL-2RA em pacientes do grupo mono. Resultados – Capítulo II 47 Os perfis obtidos nas expressões gênicas foram analisados pelo teste não-paramétrico de Kruskal-wallis, seguido pelo pós-teste de Dunn. Nenhum dos perfis avaliados foi estatisticamente significativo. Por fim, realizamos a correlação entre a IL-2 encontrada no soro dos pacientes com os níveis de expressão de seu receptor, o IL-2RA (CD25). Nota-se que não existe uma correlação entre a quantidade desta citocina circulante no plasma e a expressão de seus receptores nas células do PBMC (Figura 15). Figura 15. Correlação entre IL-2 e seu Receptor Gráfico de correlação entre IL-2 e seu receptor IL-2RA (CD25). Nota-se a ausência de uma correlação entre ambos. Não houve resultado estatístico entre os grupos analisados (Análise da Correlação de Pearson). Por fim, sabendo que o IL-15 também regula a via NFAT e está correlacionado com a citocina IL-2, observamos sua expressão e também de seu receptor específico, o IL-15RA, conforme Figura 16. Resultados – Capítulo II 48 Figura 16. Expressão Gênica de IL-15 e IL-15RA Nota-se que os altos desvios retornaram o resultado sem significado estatístico entre os grupos (KruskalWallis seguido do pós-teste de Dunn). Os altos desvios impedem que haja um significado estatístico, contudo, é possível notar que o grupo PCR – é aquele que apresenta a maior expressão da citocina e do seu receptor. Por fim, ao realizar a análise de correlação de Pearson entre a expressão gênica de IL15 e a família NFAT, observamos uma correlação negativa (r=-0,5523) e um p significativo (= 0,0058) entre a expressão da IL-15 e o NFAT-2, conforme Figura 17. Figura 17. Correlação entre IL-15 e NFAT2. Gráfico de correlação entre IL-15 e NFAT2. Nota-se correlação negativa (r= -0,5523) e um p significativo (0,0058) quando utilizada a análise de correlação de Pearson. Discussão – Capítulo II 49 DISCUSSÃO A produção de IL-2 pode ser modulada através de diversos mecanismos possíveis, uma vez que para a produção desta citocina é complexa e envolve uma cascata de moléculas, adaptadores, quinases e fatores de transcrição, os quais conduzem a um mecanismo efetor da resposta inata e auxilia na resposta imune adaptativa (revisado por Cha et al. 2014). Deste modo, colocamos em perspectiva alguns dados concretos: O grupo PCR – é formado por pacientes que até o momento conseguem controlar a infecção viral, o que seria uma resposta imune desejável. Também temos indícios que produção significativa de IL-2 nos pacientes tratados correlacionada com a elevação sugestiva de IL-12 neste mesmo grupo poderia levar à Resposta Virológica dos Pacientes que finalizaram o tratamento. Estes fatos tomados em conjunto, instigaram a investigação da via NFAT, que é uma via extremamente interessante para eventos relacionados com células T de memória e produção de IL-2 (revisado por FRIC et al., 2012; QIN et al., 2014). Para testarmos nossa hipótese, escolhemos a metodologia de PCR quantitativo em Tempo Real para as quantificações iniciais. A rapidez do método, sua sensibilidade, a possibilidade de realizar ensaios em duplicata e utilizar um controle endógeno dentro de cada reação, somados ao baixo desperdício de material biológico, faz com que vários autores comentem sobre as vantagens desta metodologia para testar as hipóteses iniciais de expressão gênica (LIVAK; SCHMITTGEN, 2001; PANEPUCCI et al., 2010; VALASEK; REPA, 2005). Escolhemos avaliar as subunidades NFAT-1, NFAT-2 e NFAT-4, pois somente essas subunidades estão sendo transcritas em linfócitos maduros, sendo, portanto, as proteínas que apresentam funções imunológicas que nos interessavam nesta segunda etapa, segundo revisado por (MACIAN, 2005). E caso nossa hipótese estivesse correta, esperaríamos o NFAT diferencialmente expresso no grupo TTO e que essa diferença de expressão se correlacionasse com a produção de IL-2. Nossos resultados apresentaram expressões não significativas nas análises realizadas entre os grupos e também nas correlações. Existem duas interpretações possíveis para estes achados. A primeira, levando em conta somente os resultados estatísticos, sugere que o PBMC não seria a população responsável pela produção da IL-2 no momento em que foi realizada a coleta dos pacientes, o que contradiz uma das ideias de que ocorre um homing de células T para o local da infecção (GRABOWSKI et al., 2011). Outra possível especulação seria observar que o gene NFAT-2 estaria com expressões distintas em pacientes tratados, pois o primeiro encontra-se diminuído e o segundo aumentado. Sabe-se que enquanto o NFAT-1 encontra-se de forma abundante no citoplasma de células T do sangue periférico e o NFAT-2 só começa a ter sua expressão induzida durante a ativação das Discussão – Capítulo II 50 células T (ZHOU et al., 2002), sugerindo uma maior ativação em pacientes tratados, conforme observado na Figura 12 dos resultados apresentados. Nossa próxima etapa envolveu analisar se a IL-2 secretada estaria interagindo com o PBMC dos pacientes. Essa pergunta é pertinente, uma vez alguns autores sugeriram que a resolução da infecção dependia da presença de células TCD4+ citotóxicas circulantes (ASLAN et al., 2006; MAINI; BERTOLETTI, 2000; NISINI et al., 1997). Sabe-se que para ocorrer a sinalização pela IL-2 ela precisa se ligar ao seu receptor celular. Segundo revisão feita por (LÉTOURNEAU et al., 2009) o receptor desta citocina não é uma única cadeia proteica, ao contrário, é uma proteína heterodimérica formada pelo arranjo de 3 subunidades distintas, chamadas de ɑ, β e γ . O receptor IL-2Rγ é um receptor de ligação comum às citocinas IL-2, IL-4, IL-7, IL-9, IL-15 e IL-21. O IL-2Rβ também não é específico à IL-2, pois também é utilizado como receptor da IL-15, e está presente em várias linhagens celulares, como Linfócitos naïves, células NK entre outros. O receptor IL-2Rɑ (conhecido como CD25), além de específico para o reconhecimento da IL-2, está presente em células efetoras e Tregs. Nossos resultados, demonstram que poucas células do PBMC estão expressando CD25, porém essa expressão não se relaciona com a IL-2 encontrada nos pacientes. Este resultado é possível, pois muitas células possuem afinidade intermediária pela citocina, ou seja, neste caso a ligação ocorre entre os receptores IL-2Rγ e IL-2Rβ, sem a participação do IL-2Rɑ (revisado por ROCHMAN et al. 2009). Contudo, a participação do CD25 está associado a receptores de alta afinidade para a IL-2, além de ser um receptor expresso em Tregs e células efetoras (LÉTOURNEAU et al., 2009). Isso pode sugerir que os pacientes que responderam ao IFNPEG secretam IL-2, mas que essa citocina não está se ligando fortemente às células do PBMC e que estas células não expressam o CD25 em sua superfície. Frente aos nossos achados, também deve-se pensar que a secreção de IL-2 está acontecendo no fígado (local da infecção) e as células presentes no ambiente hepático são aquelas que estão sendo influenciadas por este microambiente de citocinas e outros mediadores da resposta imune, levando os pacientes a manterem a RV. Outra hipótese, seria que mesmo com a monitorização da viremia, e ela sendo considerada um dos parâmetros para a cura do paciente em diversas infecções virais, artigos sobre o HBV vem demonstrando que a sua ausência não significa eliminação completa do vírus no organismo. Autores relataram que pacientes com baixos níveis de HBsAg no plasma apresentavam uma quantidade alta de HBsAg no local da infecção, ou seja, os hepatócitos e que o DNA do vírus continua sendo detectado(CHU; YEH; LIAW, 1998). Os mesmos autores mais recentemente (Chu e Liaw, Discussão – Capítulo II 51 2012) demonstram que 25% dos pacientes que apresentam níveis indetectáveis de HBsAg na periferia, ainda não soro-converteram totalmente durante um período de dez anos de acompanhamento. E quando analisado a presença de DNA viral no soro dos pacientes sem HBsAg quase 20% deles ainda apresentavam material genético viral. Esses achados demonstram que os pacientes do nosso estudo podem não possuir HBsAg detectável, mas que eles ainda podem ter o antígeno presente nas células hepáticas. Com relação ao HDV, nenhum estudo correlacionando presença de antígeno viral nos hepatócitos com viremia foi realizado até o momento. Por fim, notamos que o grupo PCR - apresentou níveis mais elevados de IL-15 e seu receptor IL-15RA. Esta citocina só é apresentada ligada ao receptor (PERERA et al., 2012) e nossos dados sugerem que isso pode estar ocorrendo com os pacientes analisados. A IL-15 vem sendo estudada em pacientes com HCV e HBV, sendo relacionadas a um bom prognóstico dos pacientes tratados com IFN do tipo I (PERERA et al., 2012; TAN et al., 2014). Em ambas infecções, nota-se que o IFN-PEG administrado aos pacientes aumenta a quantidade de IL-15 produzida nos bons respondedores. Os estudos na infecção pelo HCV são mais abundantes e relatam que ocorre ativação de células NK nos pacientes que produzem a IL-15 e que esta citocina estimula a produção natural de IFN-α/β nas linhagens monocíticas (revisado por PERERA et al., 2012). Recentemente, outro mecanismo foi proposto para a importância da IL-15 na resposta imune nas infecções virais. Sabe-se que ocorre uma baixa expressão de moléculas MHC-I em células infectadas com vírus, o que faz que a resposta imune celular mediada por Células T seja menos eficiente. Assim, a ativação de células via trans pela IL-15 faria com que a essa deficiência na expressão de MHC-I fosse “compensada” e os linfócitos conseguissem eliminar de maneira eficiente as células infectadas (JABRI; ABADIE, 2015). Nossos dados, podem sugerir que os pacientes PCR –realizam a expressão de IL-15 de uma maneira mais evidente, o que sugeriria combate à infecção viral de maneira mais efetiva que os outros grupos. Assim, pouco se sabe da dinâmica entre eventos relacionados ao sítio primário da infecção (o fígado) e os eventos que ocorrem neste mesmo local. O Ministério da Saúde, através da Portaria nº 602, de 26 de Junho de 2012, aprovou as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Câncer de Fígado no Adulto. Nesta diretriz, procedimentos de biópsia só são permitidos quando outras técnicas por imagem falharam ou geraram dados inconclusivos. E o item 6.1 constante no Anexo desta diretriz, versa sobre a monitorização do tratamento, onde se lê : “A avaliação da resposta ao tratamento do hepatocarcinoma deve ser feita pelo uso de métodos radiológicos dinâmicos...”, o que impede a biópsia no grupo TTO. Discussão – Capítulo II 52 O modelo experimental in vivo é feito com marmotas (CASEY; GERIN, 2006; FREITAS et al., 2012) ou camundongos humanizados (revisado por DANDRI; LÜTGEHETMANN, 2014). O primeiro tipo de modelo limita e impossibilita muitos ensaios imunológicos, uma vez que não existem muitos marcadores e anticorpos desenvolvidos para este tipo de roedor, já os camundongos humanizados representam um alto custo de aquisição e manutenção. Deste modo, a etapa final deste projeto visa validar in vitro os achados correspondentes a IL-2 e que podem estar ocorrendo nas células do fígado. Diversos grupos de pesquisa em HDV utilizam modelos de co-cultura para validação de seus estudos ((ALVES; FREITAS; CUNHA, 2008; CASACA et al., 2011; GRECO-STEWART; PELCHAT, 2010; MOTA et al., 2008), uma vez que os modelos animais são limitados. Espera-se desta maneira iniciar a elucidação dos possíveis mecanismos envolvendo a produção de IL-2 pelos pacientes com RV e que os possíveis desdobramentos possam consolidar este estudo na região Amazônica. Este estudo pode servir como referência para o protocolo terapêutico da Hepatite Delta na tentativa de personalizar os tratamentos para os pacientes, diminuindo a falha terapêutica, os efeitos adversos/colaterais observados e aumentando a porcentagem de cura. Assim, a terceira e última parte da tese utilizou o antígeno Delta obtido, conforme a metodologia descrita neste trabalho (item 4.7), para estimular as linhagens celulares, na tentativa de avaliarmos in vitro como este antígeno pode reprimir ou estimular a produção de determinadas citocinas pelo sistema imunológico em ensaios que simulam uma infecção envolvendo linfócitos e monócitos periféricos. CAPÍTULO III – ENSAIOS IN VITRO Resultados – Capítulo III 5.7 55 CLONAGEM, EXPRESSÃO E PURIFICAÇÃO DO SDAg Para avaliar a correta orientação do cDNA dentro do vetor, procedeu-se a digestão dos plasmídeos com a enzima HincII. Essa enzima promove a clivagem do vetor pGEX-6P-2, gerando fragmentos de965pb, 783pb e 671pb nos vetores vazios, os clones com os plasmídeos com inserção correta, deveriam produzir um padrão de 1163pb e outro com 896 pb. A Figura 18 mostra o resultado do gel de agarose. No primeiro poço, a digestão feita com plasmídeos não clonados. Os poços 7, 8 e 12 com as colônias que produziram os plasmídeos esperados. O M representa o marcador GeneRuler DNA Ladder Mix (Fermentas/ThermoScientific, Vilnius – Lituânia). Figura 18. Análise dos diferentes plasmídeos recombinantes Os diferentes plasmídeos recombinantes isolados em gel de agarose 1%. A letra M representa o marcador GeneRuler DNA Ladder Mix (Fermentas) e os poços 7, 8 e 12 representam os plasmídeos com os fragmentos de tamanhos esperados. Após essa etapa, somente os três clones que possuíam os insertos com os tamanhos de fragmentos esperados poderiam ser utilizados para dar continuidade ao processo. Foi escolhido o clone do poço 7, que possuía maior intensidade de banda, para dar continuidade ao processo de expressão, induzido por IPTG 1mM. Após a indução da expressão as bactérias foram lisadas e as proteínas totais separadas em géis de 12% poliacrilamida por SDS-PAGE (Figura 19). A proteína GST/SDAg antes da purificação está mostrada na linha 1. Os lisado total de E. coli foi purificado por cromatografia de afinidade, em colunas GSTrap, e o domínio GST foi separado da SDAg por digestão com a protease PrecSicion. O resultado desta purificação pode ser avaliado na linha 2. As linhas 3, 4 e 5 correspondem aos extratos totais de E. coli separados por eletroforese para demonstrar os efeitos dos diferentes tempos de indução de 3, 2 e 1 horas, respectivamente, para a produção do antígeno. As setas indicam a proteína GST/SDAg ou o SDAg purificado. A letra M representa o marcador que possui o peso molecular ao lado. Resultados – Capítulo III 56 Figura 19. Lisados obtidos após a indução da Expressão proteica Eletroforese em poliacrilamida 12% dos lisados obtidos após a indução da Expressão proteica. A letra M é o marcador, com os respectivos pesos moleculares indicados ao lado de cada banda. O poço 1 representa o lisado total e a seta o local onde encontra-se o SDAg ainda fusionado ao GST (GST-SDAg). O poço 2 é o lisado após purificação parcial em coluna e digestão proteica, sendo a seta indicando o SDAg. Os poços 3, 4 e 5 representam o GST-SDAg após indução com IPTG nos tempos de 3, 2 e 1 hora, respectivamente. O SDAg obtido foi liofilizado e transportado para o Brasil. Deste modo, após a ressuspensão do antígeno em solução PBS 1X, foi corrido um gel de poliacrilamida com malha de 12,5% em condições desnaturantes para observar possíveis contaminações e/ou degradações do material antes do início dos experimentos in vitro. A Figura 20 mostra o resultado do gel com o marcador de peso molecular Full-range Rainbow Marker Amersham (GE Healthcare, Uppsala, Uppsala län, Suécia). Resultados – Capítulo III 57 Figura 20. Integridade do antígeno SDAg Nota-se que o SDAg é uma banda única, pois foi purificado e que o HBsAg possui vários padrões de banda, uma vez que é composto por todas as subunidades (as proteínas L, M e S). Deste modo, os antígenos puderam ser utilizados nos ensaios in vitro. 5.8 ANTÍGENOS VIRAIS INDUZEM MORTE CELULAR A avaliação in vitro descrita nos itens 4.8 e 4.9 serviu para mimetizar os eventos que estavam sendo observados nos pacientes. Contudo, foram realizados vários ensaios para padronizar a quantidade de estímulos que seriam utilizados nos experimentos. Primeiramente, foram utilizadas somente células da linhagem Jurkat para a padronização. Os estímulos utilizados foram o PBS 1X para as células controle, o LPS (lipopolissacarídeo) para as células de controle positivo, o HBsAg, o SDAg e uma mistura na proporção 1:1 de HBsAg+SDAg. Esses estímulos foram mantidos até o final e nossa primeira meta era estabelecer a concentração que seria utilizada dos antígenos virais, devido a ausência de dados na literatura. Curiosamente, os antígenos na concentração de 100 ng/mL foram capazes de promover a morte celular destas células em 24 horas, Figura 21. Assim, os testes preliminares com a Jurkat nos fez reduzir a quantidade de cada antígeno para 25 ng/mL e com isso reduzir a quantidade de células que sofreu morte celular. Resultados – Capítulo III 58 Figura 21. Morte Celular após estimulação com os antígenos As fotomicrografias representativas tiradas a partir de microscópio de inversão (aumento de 10X) sugerem que as células estimuladas com os antígenos virais (na concentração de 100 ng/mL) por 24 horas induz morte celular quando comparadas às células que não receberam estímulo ou que foram estimuladas com LPS. Também é possível notar que a associação do HBsAg e SDAg promove morte celular celular mais evidente quando comparado aos antígenos isolados. Posteriormente, foi realizado um novo ensaio de cultura de células, desta vez com a adição da linhagem THP-1 na proporção de 1:4, mimetizando a proporção de monócitos no sangue periférico, em forma de co-cultivo. A concentração de antígenos utilizada foi de 25 ng/mL, conforme padronizada no experimento anterior. Curiosamente, a adição de THP-1 aumentou de maneira relevante a citotoxicidade das células que foram estimuladas, conforme pode ser observado na Figura 22. Resultados – Capítulo III 59 Figura 22. Morte Celular em ensaio de co-cultivo após estimulação com os antígenos As fotomicrografias representativas tiradas a partir de microscópio de inversão (aumento de 10X) sugerem que as células co-cultivadas estimuladas com os antígenos virais (na concentração de 25 ng/mL) por 24 horas induz morte celular quando comparadas às células que não receberam estímulo ou que foram estimuladas com LPS. Também é possível notar que a associação do HBsAg e SDAg promove morte celular mais evidente quando comparado aos antígenos isolados Diante destas observações, sugeriu-se que a THP-1 poderia estimular o desencadeamento da morte celular, mesmo com concentrações reduzidas de antígenos. Assim, optou-se por realizar o tratamento com IFN-PEG e não realizar redução na concentração de antígenos. O protocolo de tratamento in vitro foi realizado com células em co-cultivo e 24 horas de estímulo antigênico (25 ng/mL). Após 24horas, foi adicionado IFN-PEG na concentração de 100 ng/ml e as células foram incubadas novamente por 24 horas, totalizando 48 horas de experimento. Notou-se que diminuição da morte celular, conforme Figura 23. Resultados – Capítulo III 60 Figura 23. Interrupção da morte celular em ensaio de co-cultivo após tratamento com IFN-PEG As fotomicrografias representativas tiradas a partir de microscópio de inversão (aumento de 10X) sugerem que as células co-cultivadas estimuladas com os antígenos virais (na concentração de 25 ng/mL) por 24 horas e posteriormente incubadas com IFN-PEG (100ng/mL) são mais preservadas. 5.9 O TRATAMENTO COM IFN-PEG REVERTE A TOXICIDADE APRESENTADA PELAS CÉLULAS ESTIMULADAS COM OS ANTÍGENOS VIRAIS Para confirmar que a adição do IFN-PEG, além de conseguir inibir a morte celular, também fez com que as células voltassem a se proliferar, foi realizado o ensaio de citotoxicidade. Esse ensaio foi realizado nas primeiras 24 horas quando as células só possuíam os estímulos e nas 48 horas, quando as células, além dos antígenos, também possuíam o tratamento. A citotoxicidade dos antígenos virais foi avaliada pelo método de MTT. Compostos que levam à morte celular fazem com que a atividade mitocondrial seja reduzida e o sal de tetrazolium-MTT não seja metabolizado pelas células. Deste modo, pode-se observar que os antígenos virais causam morte celular comparáveis ao LPS, sendo que na presença de células THP-1 a porcentagem de citotoxicidade fica maior (Figura 24A). Contudo, ao adicionarmos tratamento de IFN-PEG (100 ng/mL) as células revertem a toxicidade e se proliferam mostrando valores negativos no eixo y (Figura 24B). Resultados – Capítulo III 61 Os resultados mostram que os antígenos virais causam morte celular tanto quanto o LPS e que nos ensaios de co-cultivo de Jurkat com THP-1 (J+T) a citotoxicidade é muito maior chegando a 30%. Quando o IFN-PEG é adicionado, as células voltam a proliferar em alguns ensaios (representado pelas barras invertidas no eixo y) e também diminuem a morte celular nos co-cultivos com os antígenos virais (Figura 23) fazendo que a média da porcentagem de citotoxicidade fique abaixo dos 10%. Figura 24. Ensaio de Citotoxicidade B A Morte celular de cada grupo expressa em porcentagem. A figura A mostra a citotoxicidade frente a diferentes estímulos, enquanto a Figura B mostra as células nas mesmas condições após tratamento com IFN-PEG. Nota-se que ocorre proliferação ou diminuição da morte celular. 5.10 QUANTIFICAÇÃO DAS CITOCINAS SECRETADAS IN VITRO Nos experimentos reportados previamente nos Itens 5.8 e 5.9 foi possível observar que o HBsAg e o SDAg, levaram à morte celular e no co-cultivo de linhagens linfocíticas e monocíticas isso se tornou mais evidente. Além disso, também foi observado que a administração de IFN-PEG fez com que a citotoxicidade fosse revertida quando utilizada somente a Jurkat, e que a morte celular foi bastante diminuída na simulação com o sangue periférico. Deste modo, nosso próximo passo foi investigar se as citocinas produzidas preferencialmente por Linfócitos estariam participando do processo. Deste modo, realizamos o ensaio de Elisa para averiguar os níveis das citocinas IL-2 (Figura 25A) e IFN- (Figura 25B) secretadas. Na primeira citocina investigada notamos que as células que não sofreram nenhum estímulo e tampouco foram tratadas (Controle) apresentaram uma secreção de IL-2 baixa, Resultados – Capítulo III 62 porém ainda assim produziram níveis basais. Apesar de não ter significado estatístico nota-se que as células que foram estimuladas com HBsAg produziram menos IL-2 do que o Controle, sugerindo uma possível inibição desta via. Figura 25. Concentração de IL-2 e IFN- no sobrenadante dos experimentos in vitro A B Quantificação de IL-2 e IFN- no sobrenadante das células, estimuladas com diferentes antígenos e na ausência ou presença de tratamento (IFN-PEG na concentração de 100 ng/mL). Resultados expressos em média e desvio-padrão de um número de 4 amostras independentes. No gráfico de IL-2 *** p<0.0001 quando comparado ao Controle; %%% p<0,0001 quando comparado ao LPS; ###p<0,0001 quando comparado ao HBsAg; & p<0,05 comparado ao HBsAg+SDAg. No gráfico de IFN-*** p<0.0001 quando comparado ao Controle; %%% p<0,0001 quando comparado ao LPS; ###p<0,0001 quando comparado ao HBsAg; &&& p<0,0001 comparado ao HBsAg+SDAg. Foi utilizado o teste estatístico Two-way ANOVA, seguido do pós-teste de Bonferroni. Resultados – Capítulo III 63 Outra observação foi que a secreção de IL-2 nas células estimuladas com SDAg e posteriormente tratadas com IFN-PEG aumentou significativamente (p<0,0001) quando comparada ao grupo Controle, tratado com LPS e HBsAg e com HBsAg+SDAg (p<0,05). A produção de IFN-, todavia, só ocorreu na situação em que havia o co-cultivo na presença do SDAg e após o tratamento, conforme pode ser visto na Figura 25 B. Ainda que nas mesmas condições do grupo com estímulo SDAg, as células que foram estimuladas com os dois antígenos (HBsAg+SDAg) não foram capazes de secretar IFN-, mesmo após a adição do tratamento, sugerindo participação do HBsAg neste evento. Este resultado, levou-nos a investigar a participação da linhagem monocítica e do tratamento para que os linfócitos fossem estimulados a produzir IFN-. Deste modo, foi necessário quantificar a citocina IL-12, anteriormente correlacionada com a produção de IL-2 pelos pacientes (Figura 9). Apesar da citocina IL-12 ter sido quantificada no sobrenadante celular, a maior produção aconteceu nas linhagens estimuladas com SDAg e que foram tratadas com IFN-PEG. Os valores obtidos foram significativos (p<0,001) quando comparados ao Controle e LPS, sugerindo uma produção de IFN- aumentada após o aumento da secreção de IL-12. Figura 26. Concentração de IL-12 no sobrenadante dos experimentos in vitro Quantificação de IL-12 no sobrenadante das células, estimuladas com diferentes antígenos e na ausência ou presença de tratamento (IFN-PEG na concentração de 100 ng/mL). Resultados expressos em média e desviopadrão de um número de 4 amostras independentes. ** p<0,001 quando comparado ao Controle; %% p<0,001 quando comparado ao LPS. Foi utilizado o teste estatístico Two-way ANOVA, seguido do pós-teste de Bonferroni. Discussão – Capítulo III 64 DISCUSSÃO Os resultados obtidos nos experimentos in vitro proporcionam dados importantes e únicos sobre os possíveis mecanismos da resposta imune do hospedeiro envolvendo o HDV e a exaustão celular. Primeiramente, nossos dados in vitro suportam que os antígenos HBsAg e SDAg possuem ação citotóxica. A morte celular observada não fez parte de investigações mais profundas, pois estávamos buscando a padronização do tratamento in vitro e esses achados foram relativamente surpreendentes, uma vez que os relatos da citotoxicidade relacionados com HDV datam dos anos 1990 (MACNAUGHTON et al., 1990). Os autores corroboram a citotoxicidade do HDV observada em ensaios celulares, contudo, ela é mais presente nos períodos iniciais da cultura celular e que esses efeitos diminuem com o passar dos dias. Nossos experimentos tiveram duração máxima de 48 horas, o que condiz com os achados dos autores que mostram os períodos iniciais relacionados com a morte celular. Os achados que mostram que o IFN-PEG pode reverter a citotoxicidade são dados interessantes e que merecem investigações futuras, contudo, o foco dos ensaios in vitro era entender porque a produção de IFN-γ não foi observada nos pacientes sendo que havia a presença de IL-2 e IL-12 com correlação significativa. Nossa suposição principal é que o IFN- estaria sendo produzido nos pacientes tratados com IFN-PEG. Grabowski e colaboradores (2011) relataram que os níveis dessa citocina podem declinar com o passar do tratamento e nosso grupo TTO foi constituído de pacientes que estavam na fase de acompanhamento com seis meses pós-término do tratamento, sugerindo que a produção da IL-2 e IL-12 estão presentes para manutenção de clones específicos e que a detecção do IFN- não ocorreu por utilizarmos um período tardio (GRABOWSKI et al., 2011). Nossa hipótese foi comprovada com os experimentos in vitro, pois a produção de IFN aconteceu nas primeiras 24 horas de tratamento nas mesmas condições que os níveis de IL-2 e IL-12 se tornaram significativos, comparados aos outros grupos. Isso nos permite inferir que o tratamento e o sinergismo do co-cultivo foram estímulos suficientemente capazes de induzir um microambiente em cultura favorável para a geração e manutenção de um padrão de resposta TH1 correlacionada in vivo. A resposta imune a patógenos tem sido atribuída fortemente à resposta de células TCD4+. As células utilizadas em co-cultivo foram da linhagem THP-1, que são monócitos de sangue periférico e responsáveis pela secreção da citocina IL-12. A IL-12 atua favorecendo o padrão TH1 induzindo a secreção de IFN- pelo linfócitos (TRINCHIERI; PERITT; GEROSA, 1996). Neste experimento, os linfócitos utilizados foram da linhagem Discussão – Capítulo III 65 Jurkat, a qual não possui um perfil de resposta estabelecido, podendo ser levada tanto para o padrão TH1 quanto para TH2 (MANTEL et al., 2007). Ou seja, nossos ensaios demonstram que as condições existentes in vitro (estímulo + tratamento) levaram à produção de IFN- e induziram um perfil inflamatório clássico na presença do SDAg. A secreção de IL-2 sugere que pode haver uma regulação positiva deste padrão, pois ela é responsável pela indução e expressão da cadeia β2 do receptor de IL-12 nos linfócitos (LIAO et al., 2011). Todos estes fatos somados, sugerem que o mecanismo para o sucesso terapêutico dos pacientes portadores de HDV passa pela resposta clássica de reconhecimentos de patógenos e posterior regaste de células CTL que estavam em exaustão (Figura 27). Figura 27. Representação dos possíveis mecanismos envolvidos em pacientes que responderam à terapia com IFN-PEG As células Natural Killer (NK) e as Células Apresentadoras de Antígeno (APCs) começam a produzir IFN- e IL12, respectivamente após o estímulo externo do IFN-PEG, que mimetiza o IFN-α Com base na literatura e nos achados experimentais, pode-se sugerir uma sequência de eventos para a cronificação da doença e posterior tratamento dos pacientes infectados pelo HDV. Primeiramente, o HDV suprime a produção de IFN-α produzida pelas células frente à infecção viral por mecanismos que interferem na via JAK-STAT (PUGNALE et al., 2009) e o Sistema Imune entra em exaustão devido a grande quantidade de HBsAg circulante, levando a Discussão – Capítulo III 66 uma queda na resposta imune celular responsável pelo combate da infecção (KONDO et al., 2013). Os pacientes, ao iniciarem o tratamento com IFN-PEG conseguem restabelecer a produção de IL-12 e IFN-, com isto o linfócito TCD4+ se diferencia e produz uma quantidade maior de IFN-, além da produção de IL-2 e uma exacerbação na quantidade de IL-12, evento este de extrema importância para retirar as células T do estado de exaustão, atuando desta forma como um terceiro sinal de resgate (FERRARI, 2015; MAINI; BERTOLETTI, 2000; SCHURICH et al., 2013; YE et al., 2015). Os experimentos in vitro indiretamente comprovam que a presença de HBsAg induziu um tipo de “estado de exaustão”, pois na presença deste estímulo não foi detectada produção de IFN- e, por consequência, os eventos subsequentes ficaram prejudicados. Esses dados podem justificar porque a terapia combinada tem se mostrada mais eficaz, pois enquanto o IFN-PEG atua recuperando a via do IFN-α que está inibida pelo HDV, os análogos de nucleosídeos impedem que ocorra uma nova exaustão do Sistema Imune, suprimindo a replicação do HBV e, consequentemente, evitando a produção de mais HBsAg. Por fim, sugere-se que a resposta virológica nos pacientes que responderam ao tratamento ocorra pelo resgate da resposta da imunidade celular, como descrito num estudo, o qual demonstra que o IFN-α e IFN- não impedem a replicação do HDV no interior das células infectadas (MCNAIR et al., 1994). Os autores sugerem que essas citocinas atuam na ativação do Sistema Imune do hospedeiro e que a resposta celular destruiria as células infectadas. Os estudos abordados neste trabalho revelaram achados interessantes sobre o papel da resposta imune envolvendo pacientes com HDV. Os resultados obtidos conduziram a inferir que a infecção crônica pelo vírus delta leva à exaustão das células T do Sistema Imune e que a terapia associada diminui quantidade de HBsAg, favorecendo de maneira indireta com que ocorra a recuperação celular efetiva. Contudo, é possível inferir que a resposta virológica com as terapias disponíveis atualmente se dá por diversos mecanismos associados e que, o balanço que leva ao sucesso terapêutico está intimamente ligado à variabilidade que o Sistema Imune de maneira individual, o que abre diversas possibilidades envolvendo estudos sobre as principais vias para produção de citocinas e outros parâmetros imunológicos que possam se encontrar diferenciados nos pacientes com o vírus. Conclusões 67 6 CONCLUSÕES Os pacientes que responderam ao tratamento apresentam uma quantidade sérica de IL-12 e IL-2 aumentadas e correlacionadas frente aos demais grupos de pacientes, sugerindo o estabelecimento de um padrão de resposta TH1 para a resposta virológica na fase pós tratamento; A via NFAT não é a responsável pela hiperexpressão da citocina IL-2, do mesmo modo que esta citocina não está atuando na proliferação da população de células mononucleares do sangue periférico dos pacientes estudados; A expressão de IL-15 está aumenta em pacientes PCR – e deve ser investigada em trabalhos futuros, pois pode estar relacionada ao controle natural da resposta imune contra a infecção pelo HDV; Os ensaios in vitro mostraram que o SDAg e o HBsAg são antígenos citotóxicos e que a presença de IFN-PEG preserva as células da morte; As células em co-cultivo estimuladas com SDAg e posteriormente tratadas com IFN-PEG desencadeiam um padrão de resposta TH1 em ensaios que simularam a infecção aguda seguida de tratamento; As células em co-cultivo na presença do HBsAg não conseguiram secretar IFN- , sugerindo que esta citocina pode levar aos mesmos mecanismos de exaustão celular descritos nas infecções crônicas do HBV; Os ensaios in vitro sugerem que diminuir as taxas de HBsAg pode ser importante para a resposta virológica em pacientes HDV e que esta depende da variabilidade individual do Sistema Imune para ser alcançada com as terapias atuais. Referências Bibliográficas 7 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, Z.; ABBAS, M. Management of hepatitis delta: Need for novel therapeutic options. World journal of gastroenterology, v. 21, n. 32, p. 9461–5, 28 ago. 2015. AGARWAL, S.; AVNI, O.; RAO, A. AGARWAL, S., AVNI, O. & RAO, A. Cell-typerestricted binding of the transcription factor NFAT to a distal IL-4 enhancer in vivo. Immunity v p, v. 12 SRC - , n. 6, p. 643–652, jun. 2000. ALDABE, R. et al. Animal models of chronic hepatitis delta virus infection host-virus immunologic interactions. Pathogens (Basel, Switzerland), v. 4, n. 1, p. 46–65, jan. 2015. ALVES, C.; BRANCO, C.; CUNHA, C. Hepatitis Delta Virus: A Peculiar Virus. Advances in virology, v. 2013, p. 560105, jan. 2013. ALVES, C.; FREITAS, N.; CUNHA, C. Characterization of the nuclear localization signal of the hepatitis delta virus antigen. Virology, v. 370, n. 1, p. 12–21, 5 jan. 2008. ASLAN, N. et al. Cytotoxic CD4 T cells in viral hepatitis. 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Apêndice A – Representação da análise de citocinas em gráfico de barras Anexo A – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Anexo B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Anexo C – Artigos Publicados Relacionados com a Tese International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 Contents lists available at ScienceDirect International Journal of Infectious Diseases journal homepage: www.elsevier.com/locate/ijid Treatment of hepatitis delta virus genotype 3 infection with peg-interferon and entecavir Lourdes Maria Pinheiro Borzacov a, Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete a, Luan Felipo Botelho Souza, Alcione Oliveira dos Santos, Deusilene Souza Vieira, Juan Miguel Villalobos Salcedo * Research Center for Tropical Medicine of Rondônia – CEPEM/SESAU, and Federal University of Rondônia – UNIR, Rua da Beira, 7671 -BR364, Km 3.5 Bairro Lagoa, Porto Velho, Rondônia, Brazil A R T I C L E I N F O Article history: Received 23 November 2015 Received in revised form 14 March 2016 Accepted 15 March 2016 Corresponding Editor: Eskild Petersen, Aarhus, Denmark. Keywords: HDV Genotype 3 Treatment PEG-IFN Entecavir S U M M A R Y Objectives: Hepatitis delta virus (HDV) is recognized as the most pathogenic and infectious among the hepatotropic viruses. Studies on the treatment of HDV have predominantly included European patients and carriers of genotype 1 (HDV-1) in their clinical protocols. For the Amazon region, data show that infected individuals have mainly Native American ancestry and that >90% of HDV carriers have the genotype 3 (HDV-3). Thus combined therapy clinical protocols do not adequately address the treatment of these patients. Methods: A prospective, non-randomized study was conducted in which 22 patients received 180 mg of pegylated interferon alpha 2a (PEG-IFN) plus entecavir at a dose of 0.5 mg for 48 weeks, with a subsequent 24-week follow-up. Throughout treatment, the patients were monitored for biochemical responses and the kinetics of hepatitis B virus (HBV) and HDV viral loads. Results: Of the 22 patients treated, 15 presented normal alanine aminotransferase values at the end of treatment (p = 0.002). At week 24 of treatment, 86.4% of the patients did not present detectable HDVRNA; at week 48, the rate of negative patients increased to >95% and remained the same after 6 months. With regard to HBV, only two patients (9%) still presented detectable HBV genetic material at the end of treatment, suggesting the effectiveness of combined therapy in combating the two viruses. Conclusions: These findings support the use of this effective therapeutic protocol for HDV-3 in patients of non-European ethnicity and suggest a possible ‘easy to treat’ variant when compared to HDV-1. ß 2016 The Authors. Published by Elsevier Ltd on behalf of International Society for Infectious Diseases. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/bync-nd/4.0/). 1. Introduction Hepatitis delta virus (HDV) was identified by Rizzetto et al. upon examination of the liver biopsies of patients infected with hepatitis B virus (HBV) presenting abnormal symptoms of severe liver disease.1 This virus is recognized as the most pathogenic and infectious among the hepatotropic viruses.2 Millions of people are susceptible to infection as a result of already being carriers of HBV, and as the replication of HDV cannot be inhibited with the same drugs used for mono-infected patients, * Corresponding author. Tel.: +55 069 3219 6012; fax: +55 069 3219 6000. E-mail address: [email protected] (J.M.V. Salcedo). a Lourdes Maria Pinheiro Borzacov and Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete contributed equally. the search for an effective treatment is essential. Some authors have reported the efficacy and safety of pegylated interferon (PEGIFN) use in patients with chronic hepatitis delta. However, the results obtained after treatment were extremely variable, making it difficult to assess the true impact of interferon (standard or pegylated) on the course of this severe liver disease.3–6 The fact that combination therapy increases the effectiveness in the treatment of co-infections of HBV and hepatitis C virus (HCV),7 led to the investigation of whether or not the association of conventional interferon alpha (IFN-a) with lamivudine (or ribavirin) would also be beneficial for the treatment of chronic hepatitis delta. A small increase in the virological response was obtained in patients treated with conventional IFN-a plus lamivudine (28%) compared to those treated with IFN alone (17%), but the difference was not statistically significant.8 Based on this evidence, new articles have emerged suggesting that combination therapy for HBV and HDV is http://dx.doi.org/10.1016/j.ijid.2016.03.017 1201-9712/ß 2016 The Authors. Published by Elsevier Ltd on behalf of International Society for Infectious Diseases. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/). L.M.P. Borzacov et al. / International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 the best way to treat hepatitis delta.9 The association of PEG-IFN with oral antivirals used in the treatment of HBV infection has become an alternative therapeutic protocol (named combined therapy), and some clinical studies have suggested several advantages when compared to IFN treatment alone.10–12 The mechanisms involved in this approach are not known, but it is suggested that the suppression of viral replication for prolonged periods decreases the chances of hepatic decompensation.10 These prior studies have two important shortcomings. The first is with respect to the population studied. Although the virus presents a worldwide distribution, the patients recruited in already published studies have predominantly been Caucasian.12–17 Since Brazil shows a more heterogeneous trend in ethnic groups, the present study population comprised Caucasians, Native Americans, and blacks.18,19 The second concerns the prevailing HDV genotype, which could interfere with combination therapy. It is known that the different genotypes can lead to different clinical outcomes and that HDV genotype 3 (HDV-3) is associated with more severe forms of the disease.20 Despite the apparent participation of the genotype in cases of fulminant hepatitis, the influence of the genotype on the course of treatment has not been verified as with other hepatotropic infections (i.e., HBV and HCV); these other hepatotropic infections 83 have presented different responses to treatment with PEG-IFN according to the viral genotype.21–23 As there is no effective therapy for chronic hepatitis delta patients and patients in the authors’ outpatient setting have a different epidemiological profile from those included in other reports, it was sought to assess the efficacy of treatment with PEGIFN combined with a nucleoside analog (entecavir) in the treatment of chronic hepatitis delta, as well as to correlate the response to treatment with genotype 3 of the virus (HDV-3). 2. Methods 2.1. Study population and experimental design This study was approved by the local ethics committee (process number CAAE 0012.0.046.000-11, 2011/Set/09). Informed consent was obtained from each patient. A prospective, non-randomized study was performed with a treatment regimen of 48 weeks in duration for 22 selected patients (Figure 1). Throughout the treatment period, 180 mg of pegylated interferon alpha 2a (PEG-IFN) was administered subcutaneously once a week along with the nucleotide analog entecavir at an oral dose of 0.5 mg daily. Figure 1. Flowchart showing the monitoring of patients during the therapeutic protocol. 84 L.M.P. Borzacov et al. / International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 This clinical study was performed on an outpatient basis under strict supervision by the research team. The following inclusion criteria were established: (1) age >18 and <70 years, (2) serological diagnosis of infection with HBV and HDV, (3) PCR positive for genetic material from HDV, (4) no antiviral therapy used in the past 6 months, (5) the patient had to present a floating or persistent elevation of alanine aminotransferase (ALT) on at least two occasions in the 3 months leading up to the start of treatment, (6) the patient had to present compensated liver disease classified as Child–Pugh A <7 points or MELD <12, (7) the patient had to be negative for hepatocellular carcinoma, and (8) the patient had to present laboratory criteria that would allow the use of PEG-IFN. Exclusion criteria were the following: (1) pregnant women or those who did not acknowledge contraceptive control, (2) patients who had been treated with PEG-IFN in the 6 months preceding the start of the study, (3) patients who had used nucleos(t)ide analogs in the 12 weeks preceding the study, (4) patients who had undergone anticancer or immunomodulatory therapies in the 5 years prior to the start of the study, (5) those with a positive test for hepatitis A virus (HAV) IgM antibodies, (6) those testing positive for antibodies to HIV 1 or 2 (anti-HIV), (7) patients with a history or clinical evidence of other concomitant liver disease, (8) those with autoimmune diseases, alcoholic liver disease, or exposure to toxins, (9) alcohol consumption higher than 30 g per day, (10) those with decompensated liver cirrhosis, (11) any other ongoing decompensated disease such as heart disease, diabetes mellitus, etc., (12) hemophiliac patients, (13) patients with psychiatric disorders considered serious (evaluation with psychiatric report), (14) patients with chronic renal failure, (15) patients with neutropenia, carriers of hemoglobinopathies, and/or hemolytic anemia, and (16) patients with other diseases that would prevent them from complying with the established protocol. 2.2. Clinical monitoring A treatment period of 48 weeks was completed and a subsequent 24-week follow-up was performed. Possible adverse reactions to medications such as itching, nausea, vomiting, diarrhea, headache, and leukopenia were also monitored, and the patients were assessed and treated according to the reaction presented. 2.3. Hematological and biochemical tests Patients were monitored as outpatients and, when necessary, complete blood count, prothrombin time, direct bilirubin, creatinine, alkaline phosphatase, gamma-glutamyl transferase, urea, aspartate aminotransferase, and blood glucose tests were performed. In addition to these procedures, the patients had blood collected in the pre-treatment weeks and at 4, 12, 24, and 48 weeks post-treatment for the quantification of the ALT enzyme (normal value considered to be below 35 U/l). than 2 cm; these were fixed in 10% formalin and later embedded in paraffin. The histopathological technique consisted of serial histological sections stained with hematoxylin–eosin, complemented with separate sections stained with the following special stains: PAS (periodic acid–Schiff) with diastase, reticulin, picrosirius, Perls, and orcein.24 The material collected was satisfactory for 18 patients. The liver biopsy results of these 18 patients were reviewed according to the METAVIR classification,25 which is able to evaluate the different degrees of inflammation and fibrosis. 2.6. Viral load For this study, the methodology described by dos Santos et al. was used to determine the HBV load (sensitivity of 20 IU/ml).26 To monitor HDV, the quantification method described by BotelhoSouza et al. was used (sensitivity of 75 copies/ml of viral RNA).27 Some of the samples were sent at random to the Genome Center in São Paulo for external control and to validate the results. 2.7. Genotyping of HDV For the determination of the HDV genotype, all of the previous procedures described by Botelho-Souza et al. were followed, including primers, cycle conditions, nucleotide sequencing, and phylogenetic analysis.18 2.8. Statistical analysis GraphPad Prism 5 (GraphPad Software, La Jolla, CA, USA) was used for the statistical analysis, as well as the design of the graphs. Quantitative values were recorded as medians and statistical differences were assessed using several parametric and nonparametric tests, including column statistics, the t-test, Pearson’s correlation, and two-way analysis of variance (ANOVA), as appropriate. For analyses of qualitative data, the Chi-square test was used. Differences were considered significant at p < 0.05. 3. Results 3.1. Patient population Twenty-two patient began treatment between July 2011 and July 2012. Detailed patient characteristics are presented in Table 1. All patients were treated simultaneously for HBV and HDV for 48 weeks. Of these 22 patients, none abandoned treatment or died before completion at week 48. No patient failed to attend follow-up during the 24 post-treatment weeks. Because this is an endemic region there was no association with risk factors such as the use of intravenous drugs, blood transfusions, or tattoos. No patient was working as a healthcare professional. Serological tests were performed pre-treatment and all patients presented positive HBsAg, negative hepatitis B surface antibodies (anti-HBs), negative HBeAg, positive anti-HBe, positive anti-HDV IgG, negative HCV antibodies (anti-HCV), and negative anti-HIV. 2.4. Serological tests 3.2. Dual therapy side effects Immediately before starting treatment, all patients were tested for the detection of the following viral markers using the ELISA technique in accordance with the manufacturer’s instructions: hepatitis B surface antigen (HBsAg), hepatitis B e antigen (HBeAg), hepatitis B e antibody (anti-HBe), and total HDV antibodies (anti-HDV). 2.5. Histological evaluation Twenty-two patients underwent percutaneous liver core needle biopsy blindly. All liver specimens were fragments larger The most common adverse reactions were related to the administration of PEG-IFN. Arthralgia, myalgia, and asthenia were reported in all patients. Weight loss was observed in 83% of patients, with a mean weight loss of 5 kg during treatment. Headache, epigastric pain, and fever were reported by 50% of patients, and other less frequent symptoms such as diarrhea and dizziness were also mentioned. The drugs used for symptomatic relief, when present, were dipyrone (at a dose of 500 mg orally every 6 h for those with no history of allergy to this medication), L.M.P. Borzacov et al. / International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 Table 1 Patient characteristics Patient characteristics Sex Male Female Race White African Native American HCV/HIV infections Age, years Median Range Biopsy characteristics Activity (A) A1 A2 A3 Fibrosis (F) F1 F2 F3 F4 Pre-treatment features HBV viral load, log IU/ml HDV viral load, log copies/ml ALT, IU/l Alpha-fetoprotein, up to 8.5 ng/ml HDV genotype I III Other Previous treatment 85 were considered serious enough to require dose adjustment or justify the suspension of medications. Number % 14 9 61 39 10 1 12 0 44 4 52 0 3.3. Treatment outcomes 45 18–70 Number % 3 10 5 16 55 29 7 5 5 1 39 28 28 5 Number % a 2.10 3.78a 98.00a 22 100 0 22 0 0 0 100 0 0 HCV, hepatitis C virus; HIV, human immunodeficiency virus; HBV, hepatitis B virus; HDV, hepatitis delta virus; ALT, alanine aminotransferase. a Mean values. paracetamol (at a dose of 750 mg orally every 8 h), omeprazole (at a dose of 40 mg orally once daily), and metoclopramide (at a dose of 10 mg orally every 8 h). Throughout treatment, the patients were monitored at the frequency stipulated in the protocol. No reported adverse events 3.3.1. Biochemical response Due to laboratory differences, ALT value results of less than 35 U/l were treated as normal. Of the 22 patients treated, 15 presented normal values at the end of treatment and 14 out of 15 maintained a biochemical response after 24 weeks of follow-up. Comparing the pre- and post-treatment analyses, a p-value of 0.0015 was obtained (Figure 2A). Regarding fluctuations in the enzyme (Figure 2B), it was found that the desired values began to be achieved after 48 weeks of treatment and remained in tests conducted at 24 weeks after the completion of treatment. Among the patients who did not achieve normal values, six showed a reduction in ALT at the end of treatment, four showed a steady increase of between 10 and 50 U/l during treatment, and ALT levels remained stable in two (data not shown). 3.3.2. Kinetics of viral loads The HDV and HBV viral loads of the patients were evaluated at time points considered important to evaluate the prognosis.17 Thus, the patient viral loads were analyzed during the pretreatment period, at 24 weeks after the start of the treatment (week 24), at 48 weeks after the start of treatment (week 48), and at 24 weeks after the end of treatment, as detailed in Table 2. At week 24, 82.6% of the patients no longer presented detectable HDV-RNA, and at the subsequent time points, the rate of negative patients increased to values >95%, remaining the same at 6 months after treatment completion. Only one subject was positive until the end of treatment, but the amount of genetic material detected for this patient at 24 weeks after the completion of treatment was about half the pre-treatment value. Figure 3 shows the dynamics of the HDV viral load tracking for each individual patient. With regard to HBV, 15 patients (60%) had replicating HBV; at week 24, the number of patients with a detectable viral load decreased to nine individuals. At the end of treatment, only two patients (9%) still presented detectable genetic material, suggesting the effectiveness of combined therapy in combating the two viruses. Figure 4 shows the kinetics of the two viruses, suggesting that combination therapy of PEG-IFN with entecavir inhibits HBV from multiplying when the amount of HDV decreases. Figure 2. Reduction in the amount of alanine aminotransferase (ALT; IU/l) measured in the patients’ serum. (A) Quantification of patients pre-treatment and at 6 months posttreatment; the Wilcoxon test was used (p = 0.002). (B) The median of all 22 treated patients whose sera were quantified in the weeks before treatment, at 4 weeks, 12 weeks, 24 weeks, and 48 weeks of treatment, and at 6 months after the end of treatment; Pearson’s correlation test showed a significant p-value of 0.0296. L.M.P. Borzacov et al. / International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 86 Table 2 Individually assessed kinetics of HDV and HBV viral loads Patient number 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 HDV, log10 copies/ml HBV, log10 IU/ml Pre-treatment Week 24 Week 48 6 months post- treatment Pre-treatment Week 24 Week 48 6 months post- treatment 4.58 4.13 3.83 5.54 3.02 2.24 4.28 4.22 3.74 2.45 5.27 3.23 2.06 3.32 4.31 5.39 4.64 3.53 4.85 3.05 3.77 4.07 3.47 0.00 0.00 0.00 0.00 2.21 5.03 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 2.60 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 2.63 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 7.28 2.83 0.00 0.00 3.91 7.82 2.99 2.30 3.51 0.00 0.00 2.37 2.00 2.76 0.00 2.32 2.74 3.04 1.96 2.58 0.00 2.51 0.00 2.55 3.57 0.00 2.15 1.70 0.00 2.47 0.00 0.00 0.00 1.78 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1.93 2.51 0.00 1.89 2.42 0.00 1.26 2.16 0.00 2.41 1.85 0.00 0.00 1.88 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 2.01 0.00 0.00 0.00 0.00 3.15 6.36 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 HDV, hepatitis delta virus; HBV, hepatitis B virus. Figure 3. The individual analysis of each patient using the Wilcoxon test, showing p < 0.0001 between the pre-treatment week and week 24, where one can notice the absence of viral load in 18 of the 22 patients. 4. Discussion In the Amazon, hepatitis delta is considered a neglected disease associated with high morbidity and mortality epidemics that rapidly leads to chronicity, cirrhosis, and hepatocarcinoma.28 It is believed that several factors lead to this clinical condition, such as poor access to health centers, low education level, poor hygiene conditions, and the high prevalence of HDV-3 in the region.18 In addition to these factors, there is a lack of published studies on the efficacy and safety of the clinical protocol of combination therapy used in patients who are not of the European standard (male, Caucasian, with HDV -1).12–17 This has led to a clinical gap with regard to the type of follow-up that patients from the Amazon region should follow. Thus, the initial design of this clinical trial was followed by a total of 22 patients who entirely fulfilled the characteristics advocated in the inclusion criteria for the selection of the project population. This sample size is similar to those used in other Figure 4. Monitoring of the average viral loads of HDV and HBV during the pretreatment phase (Pre), at 24 weeks and 48 weeks of treatment, and at 6 months post-treatment (Post). The total number of patients included in these results ranged from a minimum of 18 to a maximum of 22, depending on the availability of biological material. There was no correlation between the HBV and HDV loads. However, the t-test showed a p-value of 0.0065 between the different treatment times, showing a significant reduction in viral load for both viruses over time. published studies, for example that by Grabowski et al., who assessed PEG-IFN associated with adefovir in 17 patients,14 that by Castelnau et al., who treated hepatitis delta in 14 patients,4 and that by Niro et al., who completed a study on PEG-IFN alone in 16 patients.29 Epidemiologically, the present findings shed some light on the type of patient found outside of Europe. It was observed that the patients tolerated the side effects of PEG-IFN well and did not require dose adjustments. Regarding sex, it has been reported that female sex is associated with clinical decompensation during the follow-up period;30 however this was not corroborated in the present study since men and women responded to the treatment in the same way. Regarding the race of the patients, it was found that Native American descendants represented more than half of the patients (52%) in this study, which may have been a differential in the high virological response rates achieved. A recent study analyzed the presence of different polymorphisms in several cytokines responsible for a predominantly Th1 response pattern in this ethnic L.M.P. Borzacov et al. / International Journal of Infectious Diseases 46 (2016) 82–88 group.31 It is not known how these single nucleotide polymorphisms (SNPs) are passed to future generations, nor the influence of ancestry on the present work. However, the authors do not believe that the ethnicity factor was predominant, since the other 43% of patients who responded to treatment had different ethnicities. Another population data point concerns cirrhotic patients. Thirty-three percent of patients in the study had advanced fibrosis (F3 and F4). These patients were clinically stable before the start of therapy, classified as Child–Pugh A and with calculated MELD scores below 12. The percentage of cirrhotic patients in the present study was higher than that reported in some other studies. Previous studies have reported varying percentages of cirrhotic patients: Castelnau et al. included 29% of patients with this condition,4 Yurdaydin et al. studied a population in which approximately 35% had cirrhosis,32 and Niro et al. reported approximately 75% of participating patients as being cirrhotic.29 However, these studies reported a much lower virological response than that found in the present study (30%, 13%, and 21%, respectively), which suggests that patients with cirrhosis have a higher chance of being null or poor responders, thus presenting a lower virological response than patients without advanced fibrosis. ALT levels are proposed to represent a good marker of the prognosis in these patients. In laboratory tests performed before treatment, it was observed that the values were above normal (>35 IU/l) in 20 out of 22 patients, indicating potential liver damage from HBV/HDV. The normalization of this biochemical parameter occurred at the end of week 48 in 14 patients, and 12 of these patients continued with ALT levels within the normal range. Other studies have presented higher values when compared to those in the present study.4,17,33 However, in the most recently published study it can be seen that patients who responded to treatment showed lower levels.17 The only non-responding patient, patient 1, presented a floating ALT, and post-treatment follow-up showed values of 47 IU/l. Thus, the present study also found that this increase in ALT after the end of treatment is suggestive of a relationship with increasing HBV/HDV viral loads, ultimately suggesting that liver damage continues to occur even with medication. Regarding the monitoring of viral load, all patients who showed undetectable HDV at week 24 (p < 0.0001) continued to show this until treatment was completed and also during follow-up. On comparing these findings to those reported in the single article that correlates viral load and prognosis, it appears that the data are consistent with those described by the authors.17 In addition, since there were only three patients who were still positive at week 48, and only one patient who did not become negative, it was not possible to perform a statistical analysis on exact values expected in week 24, but it is possible to suggest that the article by Keskin et al.17 can be extrapolated to genotype 3. These findings help strengthen the idea that combination therapy is effective in the treatment of HDV-3 in patients of non-European ethnicity. However, to obtain an answer above initial expectations, future studies should be conducted in collaboration with other places so that it can be demonstrated whether or not HDV-3 is an ‘easy to treat’ variant when compared to genotype 1. Regardless of future studies, this is the first study to demonstrate an effective therapeutic protocol that can be followed in patients with genotype 3. Acknowledgements The authors are grateful to Amy Nicole Grabner for the language revision. This work was supported financially by Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientı́fico e Tecnológico (CNPq), Brazil. 87 Conflict of interest: None References 1. Rizzetto M, Canese MG, Aricò S, Crivelli O, Trepo C, Bonino F, et al. Immunofluorescence detection of new antigen–antibody system (delta/anti-delta) associated to hepatitis B virus in liver and in serum of HBsAg carriers. Gut 1977;18:997–1003. 2. Abbas Z, Siddiqui AR. Management of hepatitis B in developing countries. World J Hepatol 2011;3:292–9. 3. 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Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Vol. 111(4): 275-276, April 2016 275 Correlation between TH1 response standard cytokines as biomarkers in patients with the delta virus in the western Brazilian Amazon Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete1,2,3/+, Lourdes Maria Pinheiro Borzacov2, Deusilene Souza Vieira1,2,3, Roberto Nicolete1,3, Juan Miguel Villalobos Salcedo1,2,3 Universidade Federal de Rondônia, Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental, Porto Velho, RO, Brasil 2 Centro de Pesquisa em Medicina Tropical, Porto Velho, RO, Brasil 3 Fundação Oswaldo Cruz, Laboratório de Biotecnologia Aplicada à Saúde, Porto Velho, RO, Brasil 1 Hepatitis D virus (HDV) is endemic in the Amazon Region and its pathophysiology is the most severe among viral hepatitis. Treatment is performed with pegylated interferon and the immune response appears to be important for infection control. HDV patients were studied: untreated and polymerase chain reaction (PCR) positive (n = 9), antiHDV positive and PCR negative (n = 8), and responders to treatment (n = 12). The cytokines, interleukin (IL)-2 (p = 0.0008) and IL-12 (p = 0.02) were differentially expressed among the groups and were also correlated (p = 0.0143). Future studies will be conducted with patients at different stages of treatment, associating the viral load with serum cytokines produced, thereby attempting to establish a prognostic indicator of the infection. Key words: HDV - TH1 cytokines - patients treated Hepatitis delta is considered the most severe form of viral hepatitis and is caused by the hepatitis D virus (HDV) (Pascarella & Negro 2011). This virus is a RNA, hepatotropic virus, and is dependent on the hepatitis B virus (HBV), since HDV uses the HBV surface antigen (HBsAg) for the assembly of new viral particles (Karayiannis 1998). Currently, there are 240 million people positive for HBsAg worldwide (Ott et al. 2012), making the prevalence of HDV infection about 15 million carriers. In Brazil, the endemic areas correspond to states of the western Amazon Region (Acre, Amazonas, Rondônia, and Roraima) with a prevalence of 41.9% among carriers of HBsAg (Braga et al. 2012). The most recent studied treatments consist of the association between pegylated interferon (PEG-IFN) and HBV reverse transcriptase inhibitors, as adefovir and tenofovir, for extremely long periods (Heidrich et al. 2013, 2014, Lunemann et al. 2015). In order to reinforce the importance of the host immune response against viral infection, this study investigated whether serum cytokines could indicate some response in the antiviral therapy of patients who achieved a negative HDV RNA at week 24, consistent with a virological response against HDV. Therefore, the cytokines interleukin (IL)-2, IL-10, IL-12, IFN-γ, and tumour necrosis factor-alpha were quantified using the ELISA method (Opteia, USA). Nine untreated patients and polymerase chain reaction (PCR) positive for HDV RNA (HDV posi- doi: 10.1590/0074-02760160035 Financial support: CNPq (470455/2013-6), FIOCRUZ + Corresponding author: [email protected] Received 3 February 2016 Accepted 17 March 2016 tive), eight anti-HDV positive and PCR negative for HDV patients (HDV negative), 12 patients with HDV who ended the specific antiviral treatment remained PCR RNA negative for the virus six months after the treatment protocol ended (HDV TTO) (Ethical Committee approval: 146.474 of 11/14/2012 CAAE 08485112.4.0000.5300). After the quantification of cytokines in the patients’ serum, the Kruskal-Wallis test was used followed by Dunn’s post-test in order to compare the results obtained. A p-value < 0.05 was considered significant. Among all the cytokines tested, IL-2 and IL-12 were shown to be differentially expressed with values of p = 0.0008 (A in Figure) and p = 0.02 (B in Figure), respectively. The increase in IL-2 and IL-12 showed a significant positive correlation (p = 0.0143) after Spearman analysis (C in Figure). One study analysed the profile of cytokines in HDV patients during treatment with PEG-IFN and associated the virological response of subjects who were responders with those who produced IL-2, IFN-γ, and inducible protein-10 (Grabowski & Wedemeyer 2010). Our results also showed that the production of IFN-γ by patients presented medians of 0.69, 2.77, and 1.27 pg/mL (data not shown) in the groups HDV positive, HDV negative, and HDV TTO, respectively, suggesting a decrease in production in the groups in which HDV is replicating. With respect to IL-2, the same above mentioned authors suggest that, despite the effects of treatment with PEG-IFN, patients who responded and who present decreased HDV viral load must have an antigen-specific T-cell dependent cellular immune response. Our study also suggested that the exacerbation of IL-2 is not observed in the other groups and is important in the virological response after the end of treatment. Perhaps this is so because of the importance of this cytokine in the clonal expansion of specific cells that fights the virus effectively (Nijkamp & Parnham 2011, Boyman & Sprent 2012). Patients who responded to treatment also presented an elevated quantification of IL-12. Although it is usuonline | memorias.ioc.fiocruz.br 276 Cytokines as biomarkers in HDV patients • Larissa Deadame de Figueiredo Nicolete et al. A: the significant difference of the interleukin (IL)-2 cytokine (p = 0.0008) in patients who completed treatment. The statistical tests used were the Krusal-Wallis test followed by the Dunn post-test; B: the same statistical test for the cytokine IL-12. The p-value was significant (p = 0.002); C: Spearman analysis. The values of IL-2 vs. IL-12 were positively correlated (p = 0.0143); HDV: hepatitis D virus. ally not a cytokine analysed in patients with HDV, some authors have correlated the increase of this cytokine in HBV patients, when treatment of this disease was performed with IFN-α (Cavanaugh et al. 1997, Ozkan et al. 2010). Our results suggest that IL-12 may be important in those patients in whom the HDV virus is replicating represented by the HDV positive group. By analysing the correlation obtained between IL-12 and IL-2, the polarisation of a TH1 standard cell response is strongly suggested in patients who completed treatment (Boyman & Sprent 2012). Although there are no reports with HDV, the participation of peripheral cells in HBV infection is well established (Jung & Pape 2002). Human leukocyte antigen class II restricted CD4+ helper T-cells are responsible for the recognition of innumerable viral antigens and also for the mechanisms which lead to vaccine protection against the virus (Caillat-Zucman et al. 1998). Thus, our results support the T-cell homing hypothesis (Grabowski et al. 2011) in order for individuals to remain HDV RNA negative after the end of the treatment protocol, since the HBV envelope is essential for delta virus replication and can support assembly and release of new infectious HDV particles (Freitas et al. 2014). Thus, the results obtained in this study suggest that IL-2 is a potential biomarker for the indication of a good prognosis for the patient. Regarding the importance of these cytokines for the maintenance of an effective viral response, we believe that the different levels of the produced cytokines measured may occur due to the dynamics of the treatment protocol. Future studies with IL-2, IL-12, and IFN-γ will be conducted with patients at different stages of treatment in order to better understand how the response to treatment may possibly be dependent on the status of the host immune system. Therefore, its cellular and humoral parameters should be further studied and taken into account when improving the current treatment protocol. REFERENCES Boyman O, Sprent J 2012. The role of interleukin-2 during homeostasis and activation of the immune system. Nat Rev Immunol 12: 180-190. Braga WSM, Castilho MC, Borges FG, Leão JRDT, Martinho ACS, Rodrigues IS, de Azevedo EP, de Barros Jr GM, Paraná R 2012. Hepatitis D virus infection in the western Brazilian Amazon - far from a vanishing disease. Rev Soc Bras Med Trop 45: 691-695. Caillat-Zucman S, Gimenez JJ, Wambergue F, Albouze G, Lebkiri B, Naret C, Moynot A, Jungers P, Bach JF 1998. Distinct HLA class II alleles determine antibody response to vaccination with hepatitis B surface antigen. 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