Direcção Regional do Centro NOTA SOBRE O CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE MÉDIA DAS REGIÕES NUTS II e NUTS III PORTUGUESAS Pedro Ramos* Carla Coimbra** A produtividade do trabalho é normalmente apontada como um factor determinante, quer da evolução do PIB per capita (e consequentemente do bem-estar material) de um dado país ou região, quer ainda das disparidades observadas nesse indicador quando se comparam diferentes espaços geográficos. Com efeito, o PIB per capita pode ser decomposto como se segue: PIBpc = PIB PIB Emprego = × População Emprego População em que o rácio PIB/Emprego é uma medida da produtividade média do trabalho na economia, que, em consequência, e conjuntamente com o peso da população empregada no espaço territorial em análise, determina o PIB per capita desse território. Contudo, o conceito de produtividade é na sua raiz um conceito microeconómico. O aumento da produtividade do trabalho numa dada empresa significa, geralmente, que a empresa se tornou mais eficiente, quer porque adoptou uma nova tecnologia, ou melhorou a sua gestão, ou ainda porque foi capaz de motivar um maior empenhamento dos seus trabalhadores. A comparação de empresas do mesmo ramo de actividade, com base na sua produtividade, permite verificar que algumas empresas são mais eficientes que outras no desempenho das suas múltiplas tarefas. Porém, já comparar a produtividade do trabalho em empresas de diferentes ramos de actividades tem um significado reduzido, uma vez que alguns ramos, pela sua própria natureza, proporcionam produtividades muito elevadas, enquanto o mesmo indicador, noutros ramos de actividade, assume tipicamente valores bem mais diminutos. A noção que uma maior produtividade se fundamenta numa maior eficiência é frequentemente transposta da microeconomia para a macroeconomia. Quando um país revela uma menor produtividade média que outros seus congéneres – como é o caso de Portugal em contraste com a maioria dos seus parceiros europeus – tal é interpretado como derivando de um atraso tecnológico, ou atribuído à incapacidade da sua classe empresarial, ou até ainda à indolência natural do seu povo. O mesmo ocorre, é claro, nas comparações inter-regionais: quando algumas regiões registam uma maior produtividade média associada ao recurso trabalho, tal é identificado com uma maior eficiência produtiva desses espaços regionais. * Instituto Nacional de Estatística / Direcção Regional do Centro e Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra ** Instituto Nacional de Estatística / Direcção Regional do Centro Cadernos Regionais Acontece, contudo, que ao contrário da microeconomia, ao nível agregado da macroeconomia, e também à escala regional, produtividade e eficiência não podem ser tomados como sinónimos absolutos. Ainda que a eficiência seja realmente um dos factores que influenciam a produtividade média não é o único. Ao nível agregado, isto é para um país ou para uma região, uma maior produtividade pode resultar de uma efectiva maior eficiência, mas pode também ser simplesmente motivada por esse país/região se ter especializado em ramos de actividade que, pela sua natureza intrínseca, têm (em qualquer parte do mundo) uma maior produtividade. O problema pode ser clarificado se decompusermos a produtividade como se segue: VAB Produtividade média = = E ∑VAB i i E =∑ i VABi Ei × Ei E em que VAB é o valor acrescentado bruto1 , E é o emprego, e o índice i identifica diferentes ramos de actividade. O que a decomposição em cima mostra é que a produtividade média depende das produtividades dos diferentes ramos i (VABi /Ei), mas também da estrutura do emprego da economia por ramos de actividade (Ei /E). Mais precisamente, a produtividade média da economia é uma média ponderada das produtividades dos diferentes ramos de actividade, pelos pesos do emprego de cada ramo no emprego total. Sendo assim uma maior produtividade média, numa região ou país, pode realmente reflectir maiores produtividades nalguns ramos de actividade, significando maior eficiência das empresas que se agrupam nesses ramos. Mas a diferença também pode estar, não nas produtividades dos ramos, mas na estrutura do emprego. O que esta nota propõe é comparar as produtividades médias das diferentes regiões NUTS II e NUTS III portuguesas, para o ano de 1995 – o último para que há contas regionais com essa desagregação geográfica – expurgando esse indicador do efeito das diferentes estruturas de emprego nas diferentes regiões. Falaremos então, para designar os indicadores assim construídos, que pretendem reflectir a diferente eficiência económica das regiões, em “Produtividade Corrigida”. A metodologia prosseguida no cálculo desta produtividade corrigida é elementar, e consiste simplesmente em substituir os ponderadores Ei /E, que à partida diferiam de região para região, reflectindo diferentes estruturas produtivas dessas regiões, por um vector de ponderadores comum a todas as regiões, no caso a estrutura do emprego por ramos de actividade ao nível nacional. A expressão retida para esse cálculo foi pois: 1 No início desta nota definimos a produtividade a partir do PIB, enquanto agora o fazemos por recurso ao VAB. A diferença entre os dois conceitos reside nalguns impostos que oneram os produtos, que são parte do PIB, mas estão excluídos do VAB porque as contas nacionais não prevêem a sua ventilação por ramos de actividade. No que a este artigo respeita, a diferença entre os dois conceitos pode ser considerada irrelevante. Direcção Regional do Centro Produtividade média corrigida da região R = ∑ i VABiR EiN × N EiR E em que R identifica uma região e N refere-se ao espaço nacional. O Quadro 1 resume os resultados obtidos, comparando os valores da produtividade média do trabalho das diferentes regiões, quer usando a definição habitual, quer computando a produtividade corrigida. QUADRO 1 Unidade: contos por trabalhador NUTS/RAMOS Produtividade Média Produtividade Média Corrigida Portugal 3 443,4 3 443,4 Norte Centro Lisboa e Vale do Tejo Alentejo Algarve Açores Madeira 3 063,4 2 935,2 4 123,1 3 562,2 3 351,7 3 044,6 3 044,4 3 325,1 3 362,4 3 634,1 3 500,8 3 004,9 2 848,1 3 109,6 Minho-Lima Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre Douro e Vouga Douro Alto Trás-os-Montes Baixo Vouga Baixo Mondego Pinhal Litoral Pinhal Interior Norte Dão-Lafões Pinhal Interior Sul Serra da Estrela Beira Interior Norte Beira Interior Sul Cova da Beira Oeste Grande Lisboa Península de Setúbal Médio Tejo Lezíria do Tejo Alentejo Litoral Alto Alentejo Alentejo Central Baixo Alentejo Algarve Açores Madeira 2 327,2 2 690,7 2 771,3 3 769,6 2 146,8 2 942,4 3 324,6 2 602,8 3 298,8 3 352,1 3 114,5 2 426,6 2 416,2 1 985,4 2 526,7 2 502,1 3 105,1 2 602,8 2 989,4 4 519,3 3 842,7 3 063,0 3 302,1 4 814,7 3 146,0 3 194,0 3 468,4 3 351,7 3 044,6 3 044,4 3 114,0 3 004,9 3 164,9 3 441,5 2 855,1 3 131,6 3 243,7 3 376,9 3 517,7 3 462,5 3 446,3 2 774,5 3 241,1 2 721,6 2 719,0 3 090,9 3 304,3 3 018,9 3 109,4 3 779,9 3 417,0 3 052,9 3 197,5 3 727,1 3 074,2 3 245,8 2 944,9 3 004,9 2 848,1 3 109,6 1995 Um exame, ainda que sumário, do Quadro 1 permite concluir que: - As grandes disparidades verificadas na produtividade a nível regional, quando esta é calculada pelo processo padrão, surgem consideravelmente esbatidas quando se computa a produtividade corrigida. A eficiência das empresas tende, até um certo ponto, a ser a mesma onde quer que estas se localizem. Ainda que não haja uma completa igualização, as diferenças inter-regionais na produtividade corrigida tendem a ser diminutas. Cadernos Regionais - Uma breve análise ao nível das 7 regiões NUTS II portuguesas parece confirmar (ainda que com excepções) a conclusão anterior: a Região de Lisboa e Vale do Tejo, que aparentava possuir uma produtividade que excedia o valor médio do país em 20%, de facto só excede essa média nacional, se se tomar a produtividade corrigida, em 5,5%. No entanto, no caso dos Açores, o défice de produtividade em relação à média nacional aproxima-se dos 18%, no indicador corrigido, enquanto antes dessa correcção se afigurava ser somente 11,5%. A outra excepção foi o Algarve que, tal como os Açores, revela uma maior distância em relação à produtividade média do país quando se toma o indicador corrigido, que quando se calculava a produtividade pelo processo padrão. - O ranking das regiões NUTS II, por ordem decrescente da produtividade, que era quando este conceito não estava ainda na forma corrigida: Lisboa e Vale do Tejo – Alentejo – Algarve – Norte – Açores – Madeira – Centro; torna-se depois, quando se adopta a noção de produtividade corrigida: Lisboa e Vale do Tejo – Alentejo – Centro – Norte – Madeira – Algarve – Açores. O Centro, o Norte e Madeira viram o seu índice de produtividade aumentar em resultado da correcção efectuada, enquanto em Lisboa e Vale do Tejo, no Alentejo, no Algarve e nos Açores esse indicador diminuiu. - Ao nível mais desagregado das regiões NUTS III observa-se, computando a produtividade pelo processo habitual, que somente cinco regiões excedem a produtividade média portuguesa: Alentejo Litoral – Grande Lisboa – Península de Setúbal – Grande Porto – Baixo Alentejo. Tomando o conceito de produtividade corrigida as regiões que excedem a média nacional continuavam a ser 5, mas são agora: Grande Lisboa – Alentejo Litoral – Baixo Vouga – Baixo Mondego – Pinhal Litoral (curioso é o facto de o Grande Porto deixar de fazer parte deste grupo privilegiado, embora de facto a sua produtividade corrigida se situe somente marginalmente abaixo da média nacional). Sublinhe-se que a região que regista uma maior produtividade deixou de ser o Alentejo Litoral para ser agora, após correcção da produtividade, a Grande Lisboa.