`Ofimdaeconomiacomoaconhecemos`

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Product: OGlobo PubDate: 05-02-2012 Zone: Nacional Edition: 2 Page: PAGINA_AA User: Schinaid Time: 02-04-2012 19:08 Color: C
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Domingo, 5 de fevereiro de 2012 2 Edição
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ECONOMIA
O GLOBO
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‘O fim da economia como a conhecemos’
Para ambientalista, países emergentes podem criar um modelo de desenvolvimento sem sacrificar mais o planeta
Paul Gilding, o
autor do livro “A Grande
Ruptura”, provoca discussões em todo o mundo quando afirma que chegamos ao fim da trilha do crescimento econômico. No
entanto, ele não se vê como um profeta do apocalipse.
ENTREVISTA
Paul Gilding
Simone Barreto*
[email protected]
O GLOBO: O senhor diz em seu
livro que a busca por lucro e
crescimento econômico chegou ao limite. A que se refere a
grande ruptura do título?
PAUL GILDING: A grande ruptura é o fim da economia como
a conhecemos, do consumismo desenfreado, de um estilo
de vida e de um crescimento
econômico que não medem o
impacto nos recursos finitos
do planeta.
l
O que podemos fazer individualmente para ajudar a retardar esse processo?
GILDING: O mais importante a
fazer é aprender como podemos melhorar a qualidade de
nossas vidas. No mundo moderno, estamos focados em fazer mais dinheiro, consumir
mais bens materiais, ter casas
maiores e por aí afora. Significa
que temos mais custos, que temos de trabalhar mais para pagar um custo cada vez maior e
l
LONDRES.
Muito pelo contrário, o ambientalista é um otimista
que acredita no poder de reação da Humanidade: “Podemos ser lentos, mas não somos estúpidos”. Gilding
é um veterano ambientalista, que foi chefe do Greenpeace Internacional, e hoje é consultor de sustentabilidade e professor associado ao Programa de Susten-
definitivamente não é assim
que melhoramos nossa qualidade de vida... Precisamos
aprender a viver com menos,
para termos mais tempo de fazer o que nos deixa realmente
felizes. Coisas simples como
viver em comunidade, ficar
com a família e os amigos.
porque também está claro que
dessa forma não vamos melhorar a qualidade de vida dos cidadãos desses países. Mas é
diferente quando falamos de
pessoas vivendo em países em
desenvolvimento. É como se o
mundo tivesse de abrir espaço
para o crescimento. E, na verdade, os países em desenvolvimento estão presos numa armadilha dos ricos, que resolvem tudo com o crescimento
econômico. A verdade é que
movimentos como Ocupem
Wall Street nos mostram que o
crescimento econômico não
entrega sempre uma integridade social; ao contrário, pode
criar mais conflitos e divisões
na sociedade. Nós temos de
criar um novo modelo de progresso, que permita o desenvolvimento sem sacrificar os
processos e o planeta. E países
como o Brasil, por exemplo,
têm neste momento uma grande oportunidade de fazer diferente, de tentar novos meios
de governar uma sociedade em
equilíbrio com o mercado.n
l O mundo está passando por
uma mudança bastante importante: enquanto os países ricos estão afundados numa
enorme crise financeira, os
emergentes estão indo às compras. Mas precisam zerar uma
dívida social enorme, o que
significa mais gente consumindo, mais gente comendo,
mais gente gastando dinheiro.
Como fechar essa conta?
GILDING: Eu acho que temos
diferentes abordagens para diferentes países. Os ricos terão
de fazer uma dramática redução nos gastos e no consumo.
Primeiro, porque está muito
claro que nosso planeta não
sustenta esse ritmo de crescimento econômico; e segundo,
Divulgação
GILDING: “O
crescimento
econômico não
entrega sempre uma
integridade social;
ao contrário, pode
criar mais conflitos
e divisões na
sociedade”
Para especialista, década terá crise grave
l De quantos planetas Terra
precisaríamos para sustentar
a taxa de crescimento atual?
PAUL GILDING: Precisaríamos
de dois planetas Terra em 2030
para sustentar o crescimento de
hoje. Três ou quatro em 2050. É
impossível manter este ritmo
porque temos uma só. Estamos
destruindo a infraestrutura sobre a qual a economia foi construída. Quanto mais danificamos
a terra, os oceanos, menos o planeta poderá suportar.
O senhor já disse que acredita
numa mobilização da sociedade para as mudanças que estão
por vir. Estamos acelerando o
passo dessa mobilização?
GILDING: Em geral, não estamos
realmente mobilizados. Ainda.
Mas vejo que, desde que comecei a palestrar sobre a grande
ruptura de que falo no livro, há
uma aceitação maior ao fato de
que precisamos discutir uma nova abordagem. Tanto que hoje
muitos experts adotaram a ideia
e falam sobre o equilíbrio que deve haver entre o crescimento
econômico e o balanço social.
l
l
O senhor é um otimista?
“
Precisaríamos de dois planetas Terra em
2030 para sustentar o crescimento de hoje
GILDING: Sim! Eu sou um otimista incomum. Acho que o
mundo vai ficar muito instável,
que vai sofrer uma crise complexa, com muitos conflitos e
um grande rompimento econômico. Mas nossa sociedade reage bem às crises. Então, apesar
de muitas pessoas me acharem
um pessimista quando digo que
essa crise é inevitável, eu discordo. Sou otimista sobre o potencial de resposta da Humanidade a momentos como este, e
a sua capacidade de fazer mudanças, e muito rápidas. Basta
olhar o exemplo da Segunda
Guerra Mundial e de como os
ingleses reagiram numa situação limite. Nós somos realmente bons, extraordinários numa
crise, temos grande capacidade
de transformação e mobiliza-
ção. Essa reação é universal.
l Quando o senhor espera que
deva acontecer essa grande
parada da economia?
GILDING: Nesta década. Não estamos mais falando de longo prazo, para os filhos de nossos filhos. Vai acontecer logo, pois,
quando algo é insustentável,
eventualmente para. Também
acredito que durará bastante,
porque teremos exaustão de recursos e vejo o fornecimento de
comida como uma das questões
de maior importância.
Segundo as projeções atuais,
vamos chegar a 2050 com nove
bilhões de pessoas no planeta
que precisarão de comida.
GILDING: Não é com a quantidade de pessoas vivendo, mas
l
tabilidade da Universidade de Cambridge, no Reino
Unido. Aos 52 anos, Gilding vive numa fazenda, na
Tasmânia, ilha ao sul da Austrália, com a mulher e
dois de seus cinco filhos. Durante suas férias no verão
australiano, Gilding falou ao GLOBO sobre o fim da
economia como a conhecemos hoje.
com o estilo de vida delas que
temos que nos preocupar. É
possível termos nove bilhões
de pessoas e alimentá-las. Na
Índia, as emissões de carbono
estão em duas toneladas per
capita, enquanto nos Estados
Unidos vemos 26 toneladas
per capita. Só não será possível se vivermos como hoje nos
países ricos, sem pensarmos
no desperdício e em como
conduzimos nosso consumo.
O que o senhor ensina para
seus filhos sobre o futuro do
planeta?
GILDING: Você não quer que
as crianças fiquem preocupadas com o futuro. Mas eu procuro ensinar as coisas em que
acredito. Eu tenho cinco filhos, quero que eles sejam felizes. Eu tento ensinar como viver bem sem precisar de muito. Quero que eles saibam como é possível ter uma boa vida
num mundo de nove bilhões
de pessoas.n
l
(*) Especial para O GLOBO
• ‘TEMOS QUE REVER O QUE CONSIDERAMOS PROGRESSO’, na página 38
Grécia tenta fechar acordo
sobre novas reformas hoje
FMI e UE exigem apoio de todos os partidos
A Grécia avançou
ontem em direção a um novo pacote de socorro, ao fechar um plano de recapitalização para os bancos do
país. Mas permanecem outros obstáculos, e os parlamentares gregos terão de
ser convencidos a apoiar
reformas dolorosas.
Atenas precisa fechar hoje
as negociações sobre uma
nova ajuda, de C 130 bilhões,
a fim de assegurar que haja
recursos suficientes para
honrar C 14,5 bilhões em vencimentos no mês que vem.
Só que o país não tem conseguido convencer o Fundo
Monetário Internacional
(FMI) e a União Europeia
(UE) de que está comprometido com as reformas. O ministro de Finanças, Evangelos Venizelos, disse que eles
estão perdendo a paciência.
— Há muita pressão —
disse Venizelos à imprensa
l ATENAS.
depois de participar de uma
teleconferência, que classificou de “muito difícil”, com
representantes de FMI e UE.
Ainda há impasses sobre
cortes de gastos e salários.
Venizelos, que se reuniu
com os demais ministros,
disse haver muito em jogo:
— A distância entre um
acordo bem-sucedido e um
impasse é muito pequena.
O premier Lucas Papademos vai se reunir hoje com
os líderes dos principais
partidos para tentar conseguir apoio para as reformas,
como exigem FMI e UE.
Com relação aos credores
privados, Venizelos disse
que as discussões estão “em
uma fase crucial”. Representantes dos bancos chegaram
a Atenas ontem à noite.
Ontem houve protestos
de jovens e comunistas em
frente ao Parlamento contra
as medidas de austeridade.
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