CONJUNTURA MACROECONOMIA A novela grega Fernando de Holanda Barbosa Professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV/EPGE Desde 2009 a Grécia já teve cinco primeiros-ministros. O último, Alexis Tsipras, pertence ao partido político Syriza, uma coalizão da esquerda radical. Esta coalizão é um verdadeiro parque jurássico das ideias políticas que foram enterradas com o fracasso do experimento soviético. Tem de tudo: marxistas, leninistas, maoístas etc. Todos têm em comum o fato de serem anticapitalistas. Essa árvore dá frutos? A Grécia está numa crise econômica sem precedentes, com uma dívida pública de quase 180% do produto interno bruto (PIB), uma taxa de desemprego para senhor nenhum botar defeito (mais de 25%), uma economia que andou para trás mais de 20% desde 2010, numa verdadeira depressão. Quem foi responsável por essa crise? Lendo-se os jornais tem-se a impressão que a Troika, leia-se o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu e a Comissão Econômica Europeia, está exigindo da Grécia uma austeridade desumana de um povo tão sofredor. Os fatos, todavia, mostram que a quase totalidade dos problemas foram gerados pelos representantes do povo grego, seus políticos. Nenhum país europeu gasta com pensões e aposentadorias 16% do PIB, como faz o governo grego. A corrupção é endêmica e o esporte nacional é não pagar impostos. Ademais, um país que não segue prática de responsabilidade macroeconômica decidiu filiar-se a um clube que requer de seus membros regras de comportamento bastante estritas. A adesão ao euro significou a perda dos instrumentos das políticas monetária (a taxa de juros) e cambial (a taxa de câmbio). O único instrumento que sobrou de política econômica foi a política fiscal. Se você é irresponsável com as contas públicas, quando um choque ocorre na economia e há necessidade de uso do instrumento fiscal, o país fica de pires na mão à mercê do empréstimo de outros países. Quem empresta dinheiro sem impor condições? Somente agiotas, que cobram a dívida usando métodos violentos. A Grécia está, portanto, nas mãos da Troika, que exige estrita obediência às regras europeias, e não aos votos dos eleitores gregos. Antes do fracasso do regime comunista, os partidos de esquerda da Europa, o partido trabalhista da Inglaterra, o partido da democracia-social da Alemanha e os partidos socialistas de vários países tinham como objetivo de longo prazo a utopia da extinção do sistema capitalista, com a socialização dos meios de produ- ção. No curto prazo propunham reformas do sistema capitalista, diferente dos comunistas que pregavam a revolução. Depois do fracasso do socialismo real do império soviético os principais partidos de esquerda da Europa abandonaram a utopia e aderiram à economia de mercado, como um instrumento poderoso no progresso econômico. Não deixaram de lado o objetivo do bem-estar social que é função precípua do Estado. Neste contexto, o que acontecerá com a Grécia comandada por um partido de esquerda radical como o Syriza? Certamente ficar onde está ou andar para trás. O capitalismo produziu desde meados do século XVIII um aumento da produtividade da mão de obra permitindo que o trabalhador no mundo desenvolvido tenha um excelente padrão de vida. Este fato é decorrente da elevada taxa de retorno do capital devido às inovações tecnológicas. Quando os capitalistas ganham, os trabalhadores também ganham ao contrário do que afirma a teoria marxista. O povo grego tem que decidir se deseja ir à contramão da história, repetindo os erros da antiga União Soviética, ou se deseja tornar-se um país europeu. A novela grega terá novos capítulos mesmo depois que um eventual acordo seja feito com a Troika. J u l h o 2 015 | C o n j u n t u r a E c o n ô m i c a 2 7