Descoberta de portugueses abre caminho a novas próteses Cérebro. Rui Costa, da Fundação Champalimaud, que mobilidade publica na 'Nature' estudo que mostra restaurada com próteses comandadas pelo pensamento perdida pode ser O neurocientista Rui Costa, da Fundação Champalimaud, destaca a importância da descoberta FILOMENA NAVES As regiões do cérebro e os processos envolvidos numa qualquer tarefa física, como andar de bicicleta ou tocar piano, ou na sua aprendizagem, são os mesmos que o cérebro utiliza para operações puramente mentais. A descoberta, feita por investigadores portugueses da Fundação Champalimaud norte-americanos da Universidade de Berkeley, na Califórnia, tem importantes implicações no desenvolvimento de próteses que possam ser controladas apenas pelo pensamento, para pessoas com problemas motores, como as que têm lesões da medula ou sofreram um AVC e ficaram com movimentos afetados. Publicado ontem onlinena revista Nature, este é um novo avanço na compreensão do cérebro e e dos seus processos, cujas repercussões podem ser imensas, como explicou ao DN o neurocientista Rui Costa, da Fundação Champalimaud e um dos coordenadores da investigação. "Já se suspeitava de que o cére- bro é muito plástico, mas não se sabia que para a realização de uma ação abstrata, como é o pensamento puro, utilizamos as mesmas zonas e processos cerebrais que usamos para aprender habilidades motoras", afirmou o investi- gador português. As novidades deste estudo não ficam, no entanto, por aqui. Como Rui Costa e o seu colega de Berke- ley José Carmena conseguiram agora demonstrar, neste processo o cérebro aprende muito rapidamente a manipular as operações abstratas, mesmo que as regras sejam arbitrárias. Ou seja, se não houver indicações de como um determinado dispositivo pode ser controlado só com o pensamento, ao fim de um dias o cérebro aprende sozinho a fazê-10. "O processo é similar ao que acontece quando temos de aprender a usar um de- terminado instrumento sem que nos dêem instruções nenhumas. Aprendemos a manipulá-lo por tentativa e erro", explica Rui Costa. de próteNo desenvolvimento ses este pormenor torna-se decisivo: elas não precisam, afinal, de ser feitas à medida de um determinado circuito neural, de forma a po- derem ser controladas pelo pensamento. Pelo contrário, o cérebro consegue aprender rapidamente a controlar a "máquina", como os investigadores verificaram quase com surpresa nas experiências que fizeram com ratos. O cérebro tem afinal essa enorme capacidade e plasticidade. Para chegar aqui, os investigadores utilizaram ratos que recompensavam com comida ou açúcar quando eles conseguiam contro- lar a altura de um som com o pensamento - tinham um pequeno chipno cérebro para o fazer. "Em apenas seis dias os ratos aprenderam a fazê-lo só com o pensamento", conta Rui Costa, sublinhando que "eles ficavam muito quietos durante a operação mental". A descoberta abre assim novas perspetivas para o desenvolvimento de neuropróteses. "O cérebro pode aprender regras abstratas arbitrárias e usar a plasticidade dos circuitos cerebrais para se adaptar a elas", conclui Rui Costa. PERFIL RUI COSTA Coordenador de grupo no programa Neurociência > Champalimaud Tem 39 anos > Fez Medicina Veterinária na Universidade Técnica de Lisboa e doutorou-se em Neurociências na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos EUA. Liderou durante vários anoso o laboratório de Neurobiologia da Ação dos National Institutes of Health (NIH)no mesmo país. No programa Champalimaud coordena 14 pessoas e 10 projetos. Já recebeu vários prémios. >