Células da Inflamação - Portal FOP

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PATOLOGIA GERAL - DB-301, FOP/UNICAMP
ÁREAS DE SEMIOLOGIA E PATOLOGIA
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TECIDO CONJUNTIVO E CÉLULAS DA INFLAMAÇÃO
INFLAMAÇÃO
CONCEITOS E PROTAGONISTAS
INTRODUÇÃO:
O termo inflamação (do latim inflamatio = incendiar; por extensão calor) ou flogose (do grego
phleg ou phlogos = queimar, phox = chama), provém de épocas remotas, mostrando que os antigos
médicos só reconheciam como inflamação ou flogose as alterações locais agudas das partes
superficiais do corpo (pele), cujas principais características eram o rubor e o aumento do calor local.
A inflamação é a resposta do tecido vascularizado a uma agressão local, com envolvimento de
células do conjuntivo e do sangue, e do plasma. Dependendo da intensidade da agressão e da resposta
inflamatória há também envolvimento sistêmico. Como depende dos vasos, a inflamação não ocorre
ou é menos eficiente em tecidos avasculares como córnea, cartilagem e epitélio. Alterações
vasculares, como ocorrem com a idade, diabetes e trombose, também dificultam a reação inflamatória.
A inflamação é um mecanismo de defesa, mas pode ela própria ser uma doença ou às vezes ter
efeitos clínicos indesejáveis. Doenças auto-imunes, artrite reumatóide e reações de hipersensibilidade,
são alterações com base nos fenômenos inflamatórios. Na meningite aguda, a inflamação pode causar
trombose e lesão cerebral, mais graves do que as alterações causadas apenas pelas bactérias. A própria
reparação pode resultar em cicatrizes que podem afetar a estética e a fisiologia dos tecidos, como as
articulações. É importante realçar que não há linha divisória entre inflamação e reação imunológica,
na realidade ocorrem concomitantemente, fazendo parte do mesmo processo. Na inflamação aguda, a
interação entre fenômenos imunológicos e não imunológicos pode ser menos evidente, sendo
pronunciada na crônica.
A interação agressor-hospedeiro é variável, podendo ser a nível sub-clínico ou causar a morte
do hospedeiro. Pode-se ter:
a. Sem sinais e sintomas - o sistema de vigilância neutraliza o agente agressor, sem lesões teciduais. É
o mais freqüente.
b. Agressão com lesão - neutralização do agente agressor, com restabelecimento da normalidade.
c. Lesão com acúmulo acentuado de neutrófilos, extensa destruição tecidual, e formação de abscesso.
d. Equilíbrio entre agressão-defesa - Cronicidade.
e. Morte do hospedeiro.
f. Desequilíbrio dos mecanismos de defesa - doenças auto-imunes, artrite, choque anafilático.
g. Imunização do hospedeiro
ETIOLOGIA:
A principal etiologia da inflamação é sem dúvida a invasão por microorganismos, entretanto
qualquer agente nocivo ao organismo pode provocá-la; ex.: calor, frio, traumatismo, substâncias
químicas, energia radiante, estímulos elétricos. Mais ainda, quando qualquer destes agentes provoca a
morte tecidual, as substâncias liberadas são prejudiciais e aumentam o processo inflamatório. A
queimadura por radiações ultravioleta (Sol) é um dos exemplos mais puros de um processo
inflamatório que se inicia por injúria celular. As células necróticas no infarto do miocárdio estimulam
uma reação inflamatória. Qualquer que seja a causa, os aspectos básicos da inflamação são sempre os
mesmos. Deve ser ressaltado também que a inflamação é um processo dinâmico, sofrendo constantes
modificações.
Tríplice Reação de Lewis
Clinicamente a inflamação se manifesta por sintomas e sinais locais e sistêmicos. Os locais são
representados pelo rubor, tumor, calor e dor. Os sistêmicos, pela febre, astenia, cefaléia e prostração.
Os fenômenos locais resultam de modificações funcionais da rede vascular terminal em resposta a
uma agressão.
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Sir Thomas Lewis estudou por volta de 1927 as respostas da pele, confirmando a hipótese de
John Hunter, segundo a qual as respostas são similares, independentemente do agente injuriante.
Estabeleceu com estas observações as bases dos mediadores químicos da inflamação.
A Tríplice Reação de Lewis pode ser repetida dando-se uma pancada com uma régua na região
anterior do antebraço. Aparece uma linha com bordas vermelhas.. Em seguida a área golpeada sofre
elevação (vergão). Observa-se portanto, o rubor, tumor, calor e dor. O 5º sinal, Functio laesa (perda
de função), é mais facilmente observado numa articulação. O calor é observado nos tecidos
superficiais. Se a temperatura da pele é de 30-32ºC, na inflamação eleva-se a temperatura do sangue
(37ºC). Nos tecidos internos a temperatura já é de 37ºC.
DOR:
A dor é um mecanismo de defesa, que quando ausente pode ser fatal. Se não fosse pela dor a
apendicite levaria ao óbito muito mais comumente do que acontece. Cerca de 400 pessoas no mundo
não sentem dor. A ação direta sobre as fibras nervosas é a principal causa de dor no caso de
traumatismos, como na pancada com a régua exemplificada acima, ou então em casos de queimaduras.
A compressão das fibras nervosas pelo edema e acúmulo de exsudato também provoca dor. Além
disto, substâncias liberadas localmente podem causar dor, como a bradicinina e a serotonina. A
característica da dor inflamatória é a hiperalgesia, que é a sensibilização dos receptores da dor a
estímulos mecânicos ou químicos.
As PG (prostaglandinas) podem sensibilizar os receptores da dor a estímulos mecânicos e
químicos. Experimentalmente, a injeção subcutânea de bradicinina, histamina ou das duas não produz
dor. PGE1 sozinha também não. PG + histamina ou + bradicinina causa dor. As drogas tipo aspirina
atuam indiretamente na hiperalgesia inibindo a síntese de PG.
PROTAGONISTAS DA INFLAMAÇÃO
Tecido Conjuntivo
Vasos
Fibroblastos
Mastócitos
Matriz
Linfócitos- Plasmócitos
Monócitos -Macrófagos
Neutrófilos
Eosinófilos
Basófilos
Histamina
Prostaglandinas
Leucotrienos
Complemento
Anticorpo
Colagenase
Plasmina
Bactérias
Fungos
Vírus
Necrose
Neoplasia
Substâncias estranhas
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MECANISMOS DE DEFESA DO ORGANISMO
A inflamação é apenas um dos mecanismos de defesa do organismo. A maioria dos tecidos e
órgãos têm seus mecanismos de defesa, que participam da manutenção de suas funções normais. A
reação geral de defesa do organismo é a resposta do “lutar ou fugir”, quando submetido a estresse. Há
liberação de adrenalina e corticosteróides, com aumento da pressão sangüínea, freqüência cardíaca,
dilatação de brônquios e pupilas.
EXEMPLOS DE MECANISMOS DE DEFESA:
No pulmão - vibrissas, traquéia, muco, cílios, brônquios, macrófagos.
Na pele - queratina, melanina, pêlos, acidez do suor, ác. graxos das glândulas sebáceas, perda de
calor, unha . A pele tem por 1 cm2 200 terminações nervosas para dor, 25 para pressão, 12 para calor e
2 para frio.
Outros exs.
- saliva- lágrima- leite (IG para recém-nascido)- coagulação- vômito- dentes- tosse- síncope- calota
craniana- olfato- dor- febre- pérola da ostra -gordura (perda de calor, reserva de energia).
MATRIZ EXTRACELULAR (MEC):
Quando os protozoários começaram a se tornar metazoários, algum material precisava unir as
células e servir de arcabouço. Este material é a matriz extracelular, composta principalmente de
colágeno. Sem o colágeno, o corpo humano ficaria reduzido a um amontoado de células. A esponja
natural (a maioria usada atualmente é sintética) usada para o banho é composta de colágeno. A matriz
extracelular pode ser definida como uma rede complexa de fibras colágenas e elásticas, embebidas em
substância amorfa de constituição viscoelástica formada de proteoglicanos e glicoproteínas. As
diferenças morfológicas e mecano-fisiológicas dos diferentes tecidos conjuntivos dependem das
variações em concentração, estado de agregação e ordenação molecular de seus constituintes, isto é,
fibras, proteoglicanos e glicoproteínas. Há interação entre as células e os componentes da matriz,
como colágeno, fibronectina, laminina e proteoglicanos, através de receptores celulares como as
integrinas.
Colágeno - O colágeno é a proteína mais comum do organismo humano e do mundo animal, sendo
uma família de glicoproteínas, com pelo menos 14 tipos bem caracterizados e descritos. As fibras
colágenas foram assim chamadas porque quando fervidas em água, se hidratam formando uma
gelatina que pode servir como cola. Os tipos I, II e III possuem arranjo molecular de modo a formar
fibrilas, enquanto que os demais são amorfos .
Tipo I - É encontrado na pele, osso, tendão, dentina, cápsula de órgãos, pericôndrio e cartilagem
fibrosa. As fibrilas do colágeno tipo I possuem diâmetro médio de 50 nm, e estão dispostas
paralelamente formando fibras. Servem principalmente para tensão, sendo grama por grama mais
resistente que o aço. A sua tripla hélice está formada por duas cadeias α 1 e uma α 2.
Tipo II - É encontrado principalmente na cartilagem hialina, mas também é encontrado na cartilagem
elástica e humor vítreo. Suas fibrilas têm diâmetro de 20 nm, e não formam fibras. Este tipo de
colágeno está altamente associado com proteoglicanos, principalmente condroitin sulfato. É formado
de 3 cadeias α 1.
Tipo III - Corresponde às antigamente chamadas fibras reticulares. É freqüentemente encontrado
onde há colágeno I, como fígado, vasos, útero, baço, pele, pulmões, músculos e nervos. O diâmetro
das fibras é de 40-45nm, não formando feixes, mas sim uma rede. Formado de 3 cadeias α 1.
Funcionam como molas biológicas, como na túnica média das artérias, músculo liso e órgãos
hematopoiéticos.
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Tipo IV - É encontrado nas membranas basais, não forma fibrilas, sendo amorfo. No microscópio
eletrônico aparece como filamentos. A membrana basal do cristalino é espessa e fornece bastante
material para estudos bioquímicos. A lâmina basal, além do colágeno IV, tem o colágeno V, laminina,
fibronectina e proteoglicano. Moléculas da lâmina basal aderem-se à receptores das células epiteliais
ou musculares e à matriz extracelular.
Colagenase - A degradação da matriz do conjuntivo é feita por um grupo de enzimas proteolíticas
chamadas de metaloproteinases (possuem átomos de zinco) que são sintetizadas pelas células do
conjuntivo e inflamatórias. As metaloproteinases são divididas em três grupos principais colagenases, que degradam os colágenos tipos I, II, III, clivando a tripla hélice em dois fragmentos,
que então são suscetíveis a digestão por outras proteases. Há dois tipos principais de colagenases, uma
sintetizada principalmente por fibroblastos (MMP-1- metaloproteinase), e uma por neutrófilos (MMP8). A 1ª colagenase foi descrita em 1962 por Gross na reabsorção da cauda de girino. As gelatinases A
e B (MMP-2 e MMP-9) quebram gelatina (colágeno desnaturado), elastina, colágenos IV e V. As
estromelisinas 1 e 2 (MMP-3 e MMP-10 ) degradam várias glicoproteínas do estroma (estrome) como
proteoglicanos, fibronectina, laminina, gelatina, colágenos IV, V, IX (não degradam colágenos
intersticiais tipos I,II,III). Foram assim chamadas porque foram descritas em célula estromal
(fibroblastos) e degradam várias proteínas da matriz (estroma).
As metaloproteinases estão envolvidas em vários processos fisiológicos durante a embriogênese,
assim como no metabolismo do tecido conjuntivo do adulto. Estão envolvidas na implantação do
óvulo, e no “turn over” da MEC do útero durante a gestação . O aumento de colágeno no útero
depende da diminuição de colagenase pela ação da progesterona, e a dilatação do cervix durante o
parto depende de colagenase dos neutrófilos.
Na degradação da matriz extracelular deve-se considerar também a plasmina que degrada proteínas da
matriz e ativa a colagenase. A plasmina é formada a partir do plasminogênio pela ação do ativador do
plasminogênio (há 2 tipos de ativador: tipo urokinase e tipo tissular).
Ativação do plasminogênio
Plasminogênio → plasmina
Pro-colagenase
↓
colagenase
pro-estromelisina
↓
estromelisina
Degradação da MEC
Fibras elásticas - As fibras elásticas se caracterizam por sua distensão, dando elasticidade aos
tecidos, como pele e vasos. A elasticidade das fibras elásticas pode ser exemplificada pelo lábio dos
botocudos. As fibras do sistema elástico são formadas principalmente de uma proteína chamada
elastina, que lembra o colágeno pelo alto teor de glicina e prolina, mas difere pelo alto teor de valina.
As rugas resultam de alterações das fibras elásticas e colágenas.
Glicoproteínas - O colágeno é uma glicoproteína, mas existem outras que servem de pontes entre as
células e a matriz extracelular (glicoproteínas adesivas). As duas mais estudadas são a fibronectina e
laminina, além dos colágenos não fibrilares.
1. Fibronectina (FN) - Peso molecular de 450.000 daltons, presente no plasma, membrana basal e
superfície das células. Serve de ligação entre as células e tecido intersticial. A fibronectina é
classificada em pFN e cFN, dependendo da síntese no fígado e posterior presença no plasma, ou por
células teciduais, como fibroblastos, monócitos e endotélio. É quimiotática para fibroblastos,
queratinócitos, células endoteliais e macrófagos. No conjuntivo normal a fibronectina é vista pela
imunofluorescência principalmente na região da lâmina basal, e nas membranas basais dos vasos e do
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endomísio. O receptor da fibronectina do fibroblasto foi purificado e sequenciado, sendo do grupo das
integrinas. As integrinas são receptores celulares que ligam células à matriz intercelular.
2. Laminina - Presente na lâmina basal. A laminina tem a forma de cruz, com peso molecular de 820
000 daltons, com 3 cadeias: A, B1, B2. É sintetizada pelas células epiteliais e endoteliais, como ocorre
com os outros componentes da lâmina basal; colágeno IV e Heparan Sulfato.
Caderinas - Moléculas que unem células semelhantes, sendo dependentes de Ca++. É uma
glicoproteína de membrana com 720-750 a-a. In vitro, há tendência de células semelhantes se
aderirem. Ex.: hepatócito com hepatócito, mas não com células renais.
Proteoglicanos - Os proteoglicanos formam a substância amorfa do tecido conjuntivo, servindo como
material de preenchimento e de cimentação das fibrilas de colágeno. São assim chamados porque são
formados de um núcleo protéico e glicosaminoglicanos dispostos como as cerdas de uma escova de
limpar tubos. A papaína (enzima proteolítica) injetada por via endovenosa provoca a queda da orelha
de coelho, porque degrada a parte protéica dos proteoglicanos. Os proteoglicanos eram chamados de
mucopolissacarídeos porque eram ácidos e viscosos e não se conhecia o núcleo central protéico.
Apenas o ácido hialurônico é formado de glicosaminoglicanos, sem núcleo protéico. Os
glicosaminoglicanos são ácidos que apresentam grupos carboxílicos, grupos éster carboxílicos e éster
sulfato. Os glicosaminoglicanos são polímeros lineares de dissacarídeos, geralmente ácido urônico e
N. acetilglicosamina ou N. acetilgalactosamina. Um ou os dois açúcares contém resíduos sulfato,
exibindo portanto muitas cargas negativas. O P.M. e estrutura dos proteoglicanos é muito variável, e
são classificados de acordo com o glicosaminoglicano. Também são encontrados nas superfícies
celulares, facilitando a aderência das células à matriz extracelular.
Glicosaminoglicanos 1. ác. Hialurônico
Proteoglicanos
1. condroitin sulfato
2. dermatan sulfato
3. queratan sulfato
4. heparan sulfato ( a partir do qual forma-se a heparina).
FIBROBLASTO:
O fibroblasto é a célula mais comum do tecido conjuntivo. É uma célula polarizada, com o
núcleo numa extremidade e citoplasma bastante longo. Nas áreas de reparação, aumenta o seu número
por mitose. Sintetiza glicoproteínas e proteoglicanos da matriz, produz colagenase e pode fagocitar
fibrilas de colágeno. Parece ter papel importante na contração do tecido de granulação das feridas.
MASTÓCITOS:
Os mastócitos estão presentes em grande quantidade nos tecidos conjuntivos da pele,
intestinos, pulmões, gengiva e outros órgãos. No rato e camundongo também são encontrados nas
cavidades pleural e peritonial. A polpa dental tem quantidade muito pequena. É uma célula grande (20
µm), globosa, núcleo esférico e central, com grânulos citoplasmáticos contendo principalmente
heparina e histamina. Os mastócitos provavelmente se originam de precurssores da medula óssea. A
liberação dos grânulos pode ocorrer por mecanismos inespecíficos (48/80, trauma, água destilada), ou
através da IgE.
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MACRÓFAGO:
O Sistema Mononuclear Fagocitário (S.M.F) é formado pelos macrófagos que colonizam os
vários órgãos e tecidos, como baço e fígado. Antigamente era chamado de Sistema Retículo
Endotelial. Como estão difusos em vários tecidos, é praticamente impossível depletar totalmente um
animal de macrófagos. Os macrófagos se originam dos monócitos do sangue, e dependendo de suas
características recebem várias denominações.
É o monócito que migrou para os tecidos, ficando mais ativado. Torna-se maior, citoplasma
mais abundante, com mais mitocôndrias, lisossomos, maior capacidade de fagocitose e núcleo
arredondado ou oval. O macrófago tem papel central nas reações imunológicas, sendo a célula
processadora e apresentadora de antígeno aos linfócitos. Quando ativado o macrófago sofre
modificações ficando maior, com mais mitocôndrias, lisossomos e maior capacidade de fagocitose. O
macrófago tem receptores para C3b, Fc da IgG, Fc da IgM. Produz proteases (colagenase, elastase),
PG, Leucotrienos (LT), IL-1 e TNF. As células de Langerhans do tecido epitelial, como os
macrófagos, são apresentadoras de Ag, mas não fagocitam .
MONÓCITO:
Leucócito do sangue, com núcleo riniforme. Constituem 4-6% dos leucócitos circulantes, e
permanecem no sangue em média 32 horas.
CÉLULA DE KUPFER:
Macrófago que recobre os sinusóides hepáticos.
CÉLULA EPITELIÓIDE:
Macrófago modificado, presente em granulomas.
CÉLULA GIGANTE MULTINUCLEADA:
Resultante da fusão de macrófagos em algumas inflamações, como paracoccidioidomicose e
nas respostas a corpos estranhos. Na TUBERCULOSE, a célula multinucleada tem características
particulares, sendo chamada de célula de Langhans. Também são derivados dos macrófagos o
osteoclasto e seus similares, dentinoclasto e cementoclasto.
REABSORÇÃO ÓSSEA
LPS
osteoclasto
PGE2
OAF
AMP-C
linfócito
colagenase
colágeno
reabsorção
OAF- Fator ativador do osteoclasto
NEUTRÓFILOS (PMN):
Os neutrófilos constituem 50-70% dos leucócitos circulantes. Permanecem na circulação por
alguns dias. Os PMN têm cerca de 12 µm de diâmetro, núcleo lobulado (2-5 lóbulos) e grânulos
citoplasmáticos. Constituem-se na 1ª linha de defesa do organismo, tendo intensa atividade
fagocitária. Quando migram, fagocitam ou morrem, liberam enzimas lisossomiais potentes que
causam destruição das bactérias e dos componentes teciduais. A ação bactericida é feita através de
peróxidos e substâncias não oxidantes, como a lisozima. Substâncias oxidantes, como O2 (ânion
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superóxido), H2O2, HOCl (ác. hipocloroso), o Cl (hipoclorito) são importantes nos mecanismos
bactericidas.
ABSCESSO:
Abscesso é o acúmulo localizado de grande quantidade de neutrófilos num órgão ou tecido,
com destruição das estruturas normais, e formação de líquido viscoso chamado pus. É uma necrose
por liquefação. O abscesso geralmente é causado por bactérias piogênicas, mas substâncias químicas
também o provocam, como os óleos de terebentina e de croton.
A medida que aumenta a quantidade de pus, o organismo tenta eliminar, como ocorre
freqüentemente na pele e boca. O DNA oriundo principalmente dos neutrófilos aumenta a viscosidade
do pus, dificultando a drenagem. Em abscessos causados por bactérias, o uso indevido de antibióticos
pode retardar a drenagem, e favorecer o estabelecimento de uma massa necrótica, difícil de ser
reabsorvida. Em abscessos dentários a antibioticoterapia deve ser feita imediatamente antes da
drenagem.
FURÚNCULO:
Causado por estafilococos que penetram nos folículos pilosos, causando inflamação aguda do
folículo e das glândulas sebáceas. O chamado “carnegão” é formado por bactérias, restos celulares,
secreção glandular, sangue e neutrófilos. Estas substâncias formam o pus.
FLEGMÃO (celulite):
Inflamação purulenta difusa devida a estreptococos do grupo β hemolítico. A difusão é
facilitada pela produção de hialuronidase.
FAGOCITOSE:
A fagocitose é o englobamento de partículas de 0,1 µm ou mais, pelos macrófagos e
neutrófilos. A fagocitose é facilitada pela fração Fc da IgG e IgM e C3b do complemento, chamadas
de opsoninas. Estas moléculas se fixam a receptores da membrana dos neutrófilos e macrófagos.
FAGOCITOSE DE Candida albicans - Macrófagos e neutrófilos podem ser incubados “in vitro”
com partículas de C.albicans (CA) para o estudo da fagocitose.
Tipos de partículas que podem ser usadas:
1. C.A. apenas
IgG
2. C.A. tratada com soro - CA
C
3. C.A. com soro sem complemento - CA IgG
4. C.A. apenas com compelento
IgG
CA C
Ferver
CA C
Lisossomos se fundem com a partícula internalizada, formando o fagolisossomo. A liberação
de enzimas lisossomiais auxilia na lise de partículas ingeridas.
FATORES ENVOLVIDOS NA FAGOCITOSEOpsoninas - IgG, IgM, C3b
Miofilamentos - a citocalasina B desagrega miofilamentos (actina e miosina), inibindo a fagocitose.
Microtúbulos - a inibição com colchicina e vinblastina não interfere muito com a fagocitose.
C-AMP - o aumento intracelular de c-AMP diminui a atividade celular e a fagocitose.
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C-GMP - o aumento de c-GMP favorece a fagocitose.
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LINFÓCITOS:
Há cerca de 2 x 1012 linfócitos no corpo humano, massa celular semelhante a do fígado. O
camundongo produz na medula óssea 5x107 linfócitos/dia. São formados na medula óssea, sofrendo
maturação no timo ou na própria medula óssea. Nas aves o linfócito B sofre maturação na Bursa de
Fabricius. O núcleo é volumoso, ocupando quase toda a célula, que fica com escasso citoplasma e
poucas organelas. Estão presentes no sangue, linfa e órgãos linfóides. Os linfócitos constituem 2530% dos leucócitos do sangue e 99% da linfa. No sangue 60-70% são do tipo T. Os linfócitos têm
vida longa (100-200 dias) e alguns duram 10-20 anos. De acordo com a sua maturação são
classificados em virgem, efetor e memória. Os virgens são oriundos dos órgãos linfóides primários
(timo e medula óssea). Os linfócitos recirculam nestes tecidos, i-e, passam do sangue para os órgãos
linfóides e linfa.. Os órgãos linfóides guardam as portas de entrada do corpo: amígdala - boca,
adenóide - nariz, linfonodos axilares - braço, linfonodos inguinais - pernas, placas de Peyer intestinos, baço - sangue. A importância dos linfócitos nas reações imunológicas foi descrita no final
da década de 1950. Até então pouco se conhecia destes leucócitos. Na década de 60 foram descritos os
linfócitos B e T.
Obs.: Mais complexo e sofisticado que o sistema imune, apenas o sistema nervoso.
“Regarding the lymphocyte, I am sure that all who are engaged in the study and teaching of
pathology will agree that the complete ignorance of the function of this cell is one of the most
humiliating and disgraceful gaps in all medical knowledge .... Nothing of importance is known
regarding the potentialities of these cells. Arnols Ric. Arch. Pathol., 22: 228-254, 1936. “
CD - Cluster de diferenciação - São proteínas da superfície dos linfócitos que permitem classificálos. São expressas de acordo com a diferenciação dos linfócitos. Ex.: CD-4, CD-8. As glicoproteínas
que mediam o reconhecimento de Ag contém elementos estruturais sugestivos de evolução genética
semelhante. Todas têm um ou mais domínios semelhantes a Ig. Nesta superfamília incluem-se: Ac,
MHC, receptores de células T, CD2, CD4, CD8, receptores Fc.
LINFÓCITOS B:
Quando estimulados se proliferam e se diferenciam em linfócitos B memória e plasmócitos.
São responsáveis pela produção de anticorpos ,tendo também anticorpos na superfície da membrana
celular.
LINFÓCITOS T:
Os linfócitos T são divididos em T auxiliares (T4) e T citotóxicos (T8). Os LT4 são
reguladores e os LT8 efetores, matando principalmente células infectadas com vírus. Os LT auxiliares
estão divididos em Thelper 1(Th1) e Thelper 2 (Th 2). Os Th1 produzem IL-2, TNF-β e os Th2
liberam IL-6, IL-5, IL-4, TGF-β.
Os LT4 reconhecem Ag associados ao MHC-II (Major Histocompatibility Complex) presentes
nos macrófagos, linfócitos, células de Langerhans. Os LT 8 reconhecem Ag apenas quando ligados a
glicoproteínas do complexo MHC-I.
Linfócitos NK (“Natural killer”) são linfócitos citotóxicos não identificados como B ou T.
Atuam de maneira inespecífica, não se sabendo como reconhecem a célula alvo. As células citotóxicas
provocam poros na célula alvo, através de proteínas chamadas perfurinas.
Ativação do LT4.
1. Ag fagocitado pelo macrófago
2. O linfócito T virgem interage com o macrófago, que apresenta o Ag ligado ao MHC-II.
3. Macrófago produz IL-1.
4. IL-1 estimula LT4 a sintetizar IL-2 que estimula os próprios LT4 a proliferarem.
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PLASMÓCITOS:
O plasmócito produz anticorpos. É facilmente reconhecido nas áreas de inflamação pelo
núcleo excêntrico, com cromatina condensada na parede nuclear em forma de roda de carroça. O
citoplasma é abundante, rico em RER e o Golgi é proeminente, aparecendo como espaço claro junto
ao núcleo. Representa o estágio final de diferenciação do LB.
O corpúsculo de Russel é o
plasmócito hialinizado.
EOSINÓFILOS (E∅):
Erlich em 1879 descreveu o eosinófilo como um leucócito com afinidade peculiar a eosina.
Constituem 1-2% dos leucócitos circulantes. Participam de reações alérgicas e infecções por parasitas
. São encontrados em grande número sob epitélios que têm grande população bacteriana, como nasal,
intestinal e vaginal. Entretanto não participam das inflamações gengivais dos humanos. O EØ
permanece no sangue de 3-8 horas, migrando para os tecidos onde deve permanecer alguns dias. A
proporção de EØ sangue/tecido é estimada em 1:300. O EØ do homem tem núcleo bilobado, enquanto
que o do rato é circular. Os grânulos citoplasmáticos são elipsóides e eosinófilos, com material
cristalóide na região central. A membrana tem receptores para C3b e Fc da IgG.
Os grânulos do EØ não têm lisozina e lactoferrina, presentes nos neutrófilos. Contém
peroxidase, fosfatase ácida, fosfolipase-D. O cristalóide central tem a MBP (Major Basic Protein)
capaz de neutralizar a heparina.
Eosinofilia Infecções por parasitas -Schistosoma mansoni por ex.
Reações alérgicas - alergia a drogas, urticária, asma, rinite, dermatites
Pênfigo
Granuloma Eosinófilo
Doenças pulmonares com acúmulo de EØ.
COMPLEMENTO:
Conjunto de 20 proteínas plasmáticas, sintetizadas no fígado. Nove participam da via clássica,
fatores B e D da via alternada e as demais são produtos de clivagem. O complemento é assim
chamado porque “complementa” a ação dos anticorpos, principalmente nas bactérias, provocando
furos que alteram o equilíbrio iônico e osmótico. Atuam também na permeabilidade vascular,
quimiotaxia, opsonização.
Pfeiffer descreveu em 1894 que soro de cobaias imunizadas eram capazes de lisar vibriões da
cólera. O soro perdia esta propriedade quando aquecido a 56ºC por 30 min. Voltava a lisar se soro de
cobaia normal era adicionado. A lise era devida a presença do Ac. e a um fator lábil ao calor que
existe normalmente no soro, e que foi chamado de complemento.
O sistema C pode ser ativado por Ac ligado a superfície dos microorganismos ou por
polissacarídeos bacterianos. O fator C3 é um dos mais importantes. Indivíduos deficientes de C3 têm
infecções bacterianas sérias e freqüentes. Os fatores ativos do C são neutralizados rapidamente. A
meia vida do C3b e C4b é de 0,1 milisegundo.
Atividades C3a e C5a - são chamadas de anafilotoxinas porque atuam liberando histamina dos mastócitos e
plaquetas, aumentando a permeabilidade vascular.
C5a- quimiotaxia
C3b - opsonina
Complexo C5b-9 - lisa membranas (bactérias, hemácias).
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Propriedades 1. está presente nos soros normais dos mamíferos. Não é uma molécula mas um complexo de
proteínas séricas.
2. inibido a 56ºC por 30 min. As imunoglobulinas são estáveis.
3. se liga aos complexos Ag-Ac, exceto aqueles envolvendo IgA e IgE.
4. complemento é pouco específico - complemento de cobaias se liga a Ag-Ac de humano, coelho e
outras espécies.
5. o complexo de proteínas do complemento é necessário para a ação lítica
6. não aumenta de quantidade na imunização.
7. hemácias são bons exemplos para o estudo das propriedades líticas do C.
DEFEITOS DOS LEUCÓCITOS:
Doenças raras são fundamentais para o melhor entendimento dos processos básicos da
natureza, e assim conhecer melhor os fenômenos gerais. Pacientes com deficiências de número ou
função dos leucócitos podem ter infecções mais graves.
Doença granulomatosa crônica (DGC) - Pacientes com doença granulomatosa crônica morrem sem
atingir a juventude, porque os PMN não destroem bactérias devido à deficiência na produção de H2O2
no sistema bactericida. A infecão é freqüentemente causada por Stafilococos aureus, com infecções
granulomatosas na pele, linfonodos, pneumonia, osteomielite. A DGC é ligada ao cromossomo X,
recessiva, afetando portanto crianças do sexo masculino.
Periodontite juvenil - Na periodontite juvenil, considera-se que os PMN têm deficiência quimiotática
e fagocítica. A fagocitose é facilitada por receptores de membrana, do tipo C3b.
Neutropenia cíclica
Síndrome de Chediak-Higashi -deficiência na migração de leucócitos.
Síntese de adesinas - distúrbio recessivo autossômico do cromossomo 21, com deficiência de síntese
de adesinas.
Radio e quimioterapia
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REAÇÕES INFLAMATÓRIA E IMUNOLÓGICA
Agente agressor
- químico
- físico
- biológico
↓
Lesão celular
Dor
Mediadores
(Function Laesa)
↓
hiperemia (rubor, calor)
↓
permeabilidade vascular
↓
Edema (tumor)
↓
↑viscosidade ↓ velocidade
↓
marginação e migração de leucócitos
Interação Mec. de defesa, agente agressor ,tecido conj.
Eliminação do
Equilíbrio
Predominância do
irritante Agressor/Defesa
Agressor
Normalidade
Cronicidade
Abscesso Morte
AG
Macrófagos
Bactérias
Ag
LB (bursa)
Memória Plasmócitos
LT (timo)
Memória
Efetor
Tb
Vírus
Transplante
1. As duas reações ocorrem geralmente simultaneamente, sendo interdependentes.
2. Como toda fisiologia do organismo as duas reações são estereotipadas, dependentes do agressor e
mediadores químicos.
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Objetivos: Inflamação: Conceitos e Protagonistas
-Conceituar inflamação
-Discuta a importância dos vasos na inflamação.
-Explique porque a inflamação pode ser uma doença.
-Discuta as características e as conseqüências da inflamação, de acordo com a interação agressorhospedeiro.
-Cite as principais causas da inflamação.
-Explique a tríplice reação de Lewis.
-Comente os sinais cardinais da inflamação.
-Discuta as características e a importância da dor na inflamação.
-Cite os protagonistas da inflamação.
-Cite dez (10) mecanismos de defesa do organismo, não relacionados a inflamação.
-Descreva os mecanismos de defesa das vias aéreas superiores e dos pulmões.
-Descreva as funções da matriz extracelular.
-Cite as glicoproteínas da matriz extracelular.
-Dê as principais características dos colágenos tipos I, II, III e IV.
-Discuta a participação da colagenase no metabolismo do tecido conjuntivo normal e alterado.
-Cite os principais tipos de metaloproteinases.
-Esquematize a degradação da MEC pela plasmina, colagenase e estromelisina.
-Dê as principais características das fibras elásticas.
-Comente fibronectina.
-Comente laminina.
-Comente caderinas.
-Conceitue proteoglicanos.
-Descreva a morfologia e as principais características dos: fibroblastos, mastócitos, linfócitos,
neutrófilos, eosinófilos, monócitos e macrófagos, células de Langhans, Langerhans e epitelióide.
-Explique a interação mastócito/IgE.
-Que é sistema mononuclear fagocitário?
-Esquematize e explique reabsorção óssea.
-Conceitue abscesso, furúnculo e flegmão.
-Cite os tecidos onde os linfócitos são encontrados.
-Discuta a recirculação dos linfócitos.
-Que é CD (“cluster de diferenciação”).
-Dê as principais funções dos linfócitos B.
-Cite as funções dos linfócitos T4 e T8.
-Que são linfócitos NK?
-Cite as etapas para ativação dos linfócitos T4.
-Que são plasmócitos?
-Cite em que condições ocorrem eosinofilia.
-Que é complemento.
-Cite os fatores do C ativos e suas ações.
-Explique a fagocitose do fungo C.albicans mediada ou não por opsoninas.
-Conceitue opsoninas.
-Descreva fagocitose.
-Discuta porque a resposta inflamatória é deficiente na doença granulomatosa crônica.
-Esquematize as respostas inflamatória e imunológica.
-Como exercício complementar estude e descreva as principais características da pneumonia, febre
reumática, artrite, meningite.
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