Piperaceae e insetos: Defesa Química x Metabolismo Clécio Ramos Presumi-se que os primeiros insetos com registros fósseis na metade da era Carbonífera não eram herbívoros, mas saprófagos, e que adaptação à dieta de plantas verdes surgiu durante a co-evolução entre ambos. Em resposta a mudança do hábito saprófago de insetos, plantas desenvolveram defesas químicas contra estes acumulando compostos tóxicos ou fagos-inibidores, conhecidos como metabólitos secundários. Por outro lado, em oposição ao arsenal químico de plantas, insetos utilizam estratégias para superar as defesas químicas de plantas. Ainda há muitas discussões como exatamente isto ocorreu, mas há evidências que os insetos utilizam o mecanismo de biotransformação para desativar a toxicidade de substâncias de plantas. A família Piperaceae é considerada um fóssil vivo com mais de duas mil espécies distribuídas em cinco gêneros e conhecidas devida as potentes atividades biológicas de seus metabólitos secundários. Amidas e fenilpropanóides isolados de espécies de Piperaceae estão associadas à defesa química contra inimigos naturais, principalmente contra insetos. Os metabólitos safrole, dilapiol e piperina isolados de Piper divaricatum, P. aduncum e P. nigrum, respectivamente, apresentam potente atividade inseticida. Apesar do potencial inseticida de Piperaceae, insetos são frequentemente encontrados em suas espécies em diversas partes da planta. O sucesso de insetos em Piperaceae pode esta associado sua à capacidade de minimizar os efeitos nocivos de substâncias químicas tóxicas da planta utilizando a biotransformação como principal mecanismo de desintoxicação. Por exemplo, a larva da borboleta Heraclides brasiliensis biotransforma o composto 4nerolidilcatecol, um antioxidante e inseticida natural, constituinte majoritário das folhas Piper umbellata para seu respectivo acido, que é menos tóxico e mais polar do que o 4-nerolidilcatecol. O estudo de metabolismo de compostos de plantas por insetos, além de gerar informações que possam ajudar na compreensão do hábito alimentar dos insetos e como estes superaram as defesas químicas de plantas, este se constitui em uma estratégia promissora na busca de novos metabólitos secundários com potenciais para fármacos ou agroquímicos.