Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Exatas e da Terra Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais DISSERTAÇÃO DE MESTRADO OBTENÇÃO DE ÓXIDOS A BASE DE NÍQUEL E COBALTO PARA REAÇÃO DE OXIDAÇÃO PARCIAL DO METANO Ana Paula da Silva Peres Orientadora: Profª. Drª. Dulce Maria de Araújo Melo Dissertação nº 071/PPgCEM Janeiro - 2011 Natal - RN Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Exatas e da terra Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais Ana Paula da Silva Peres OBTENÇÃO DE ÓXIDOS A BASE DE NÍQUEL E COBALTO PARA REAÇÃO DE OXIDAÇÃO PARCIAL DO METANO Janeiro - 2011 Natal - RN ANA PAULA DA SILVA PERES OBTENÇÃO DE ÓXIDOS A BASE DE NÍQUEL E COBALTO PARA REAÇÃO DE OXIDAÇÃO PARCIAL DE METANO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências e Engenharia de Materiais. Orientadora: Profª. Drª. Dulce Maria de Araújo Melo Janeiro - 2011 Natal - RN “Aja como se tudo o que você faz fizesse a diferença. Pois faz.” A Deus por ter me abençoado, iluminado em todos os meus caminhos, estando ao meu lado sempre me dando forças para enfrentar e vencer todas as dificuldades. A minha super família: minha mãe Dalva e meu irmão João Paulo que caminharam comigo durante todo esse tempo, me incentivando a lutar em busca de conhecimento. A minha avó Nina, minha tia Leda e meu tio Naldo pela paciência, força e coragem, estando ao meu lado nas horas mais difíceis. Em especial ao meu avô Lourival (in memorian), pelo apoio, incentivo, amor e lições de vida e acima de tudo pelos momentos maravilhosos em que me proporcionou. Dedico esta conquista com a mais profunda admiração e respeito. AGRADECIMENTOS Sinto-me imensamente grata a muitas pessoas pela ajuda, direta ou indireta, durante a preparação deste trabalho. Quero iniciar manifestando minha gratidão a minha orientadora Prof.ª Dulce Maria de Araújo Melo pela confiança durante a realização deste trabalho. Agradeço também ao Prof.º Ademir Oliveira da Silva pela força, apoio, colaboração na realização das análises térmicas e sobretudo pela amizade demonstrada durante toda a minha graduação e mestrado. Ao Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) pela imensa ajuda na fase final do meu trabalho, especialmente ao Juan e o Cláudio por não medirem esforços para a realização do teste catalítico. Ao Prof.º Bráulio pela ajuda na discussão dos resultados e sugestões para o trabalho. Aos laboratórios de Síntese (LABSIN) e de Análise Térmica e Materiais (LABTAM) pela infra-estrutura cedida. Aos técnicos dos laboratórios de Difratometria de Raios X e Microscopia Eletrônica de Varredura da UFRN, Érico e Artejose. Ao Alexandre Fontes pelas análises de Medidas de Área Superficial Específica. Ao Danilo Brasil pelas análises de Difração de raios X. A minha grande amiga Andréia pelo apoio, incentivo, força, colaboração, amizade e valiosos momentos de discussão durante todo o desenvolvimento desse trabalho. Ao meu noivo, Antonio Carlos, pela sua imensa paciência e compreensão, pelo seu amor, por sempre estar disposto a me ajudar em qualquer situação e principalmente pelo seu apoio que me conforta e me deixa mais forte para superar todos os desafios. Agradeço também aos colegas do Laboratório de Síntese (LABSIN) e ao Laboratório de Tecnologia Ambiental (LABTAM) pelo incentivo e convivência diária, especialmente a Lidiane, Rayssa, Walquíria, Rosane e Patrícia. Em especial à família “LAPFIMC”, aos amigos do Laboratório de Propriedades Físicas dos Materiais Cerâmicos (LAPFIMC), Micheline, Eduardo, Cláwsio, Brena Kelly, Pedro Henrique, Paulo Henrique, Sheyla Karolina, Fernando Barcelos pelo auxílio nas idéias, apoio e amizade. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais (PPGCEM). A CAPES pelo apoio financeiro. SUMÁRIO Dedicatória Agradecimentos Sumário Lista de Figuras Lista de Tabelas Lista de Nomenclatura e Simbologia Resumo Abstract CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO E OBJETIVOS .................................................................... 19 1.1. Introdução ....................................................................................................................20 1.2. Objetivos .......................................................................................................................26 CAPÍTULO 2- REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................27 2.1. O Gás-natural ................................................................................................................28 2.1.1. Gás de síntese ............................................................................................................30 2.1.2. Hidrogênio .................................................................................................................30 2.2. Processos de Produção de Gás de Síntese ...................................................................31 2.2.1. Reações para Obtenção de Gás de Síntese ...............................................................32 2.2.1.1. Oxidação Parcial do Metano ..................................................................................32 2.2.1.1.1. Mecanismo para Reação de Oxidação Parcial do Metano ..................................33 2.2.1.1.2. Catalisadores empregados na Oxidação Parcial do Metano...............................36 2.2.1.2. Reforma a Vapor do Metano ..................................................................................39 2.2.1.2.1. Mecanismo da Reação a Vapor do Metano ........................................................42 2.2.1.2.2. Catalisadores empregados na Reforma a Vapor do Metano ..............................43 2.2.1.3. Reforma do Metano com CO2 ou Seca ...................................................................44 2.2.1.3.1. Mecanismo da Reforma Seca do Metano ...........................................................47 2.2.1.3.2. Catalisadores empregados na Reforma Seca do Metano ...................................48 2.2.1.4. Reforma Autotérmica do Metano ..........................................................................49 2.3. A estrutura Espinélio ....................................................................................................50 2.3.1. A Estrutura .................................................................................................................51 2.3.2. Soluções Sólidas.........................................................................................................55 2.3.3. Emprego das Cobaltitas como Catalisador ................................................................57 2.4. Métodos de Preparação ...............................................................................................60 2.4.1. Síntese de catalisadores ............................................................................................60 2.4.1.1. Método dos Precursores Poliméricos ....................................................................61 2.4.1.2. Método Sol-gel .......................................................................................................64 2.4.1.3. Método Sol-gel Protéico .........................................................................................65 2.4.1.3.1. Gelatina ...............................................................................................................65 CAPÍTULO 3- METODOLOGIA EXPERIMENTAL ...................................................................68 3.1. Materiais e Métodos ....................................................................................................69 3.1.1. Materiais ....................................................................................................................69 3.2. Síntese do Catalisador NiCo2O4 ....................................................................................70 3.3. Método de Caracterização do catalisador ...................................................................73 3.3.1. Difração de Raios X ....................................................................................................73 3.3.2. Análise Termogravimétrica........................................................................................74 3.3.3. Área Superficial Específica .........................................................................................74 3.3.4. Microscopia Eletrônica de Varredura ........................................................................75 3.3.5. Temperatura Programada de Redução .....................................................................75 3.3.6. Ensaio Catalítico ........................................................................................................76 3.3.6.1. Equipamento utilizado ...........................................................................................76 3.3.6.2. Procedimento Experimental...................................................................................78 3.3.6.2.1. Oxidação Parcial do Metano ...............................................................................79 CAPÍTULO 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................82 4.1. Análise Termogravimétrica...........................................................................................83 4.2. Difração de Raios X .......................................................................................................86 4.3. Microscopia Eletrônica de Varredura ...........................................................................93 4.4. Área Superficial Específica ............................................................................................97 4.5. Redução a temperatura programada ...........................................................................98 4.6. Oxidação Parcial do Metano.........................................................................................102 CAPÍTULO 5- CONCLUSÕES .................................................................................................110 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................113 LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 2 Figura 2.1- Representação da célula unitária do espinélio .................................................51 Figura 2.2- Sítios na estrutura do espinélio (a) cátion ocupante da posição A cercados por 4 íons O2- e (b) cátion na posição B rodeado por 6 íons O2- .........................................52 Figura 2.3- À esquerda, a representação de íons numa matriz cristalina. Ao centro, substituição de íons da matriz por íons diferentes (mecanismo substitucional) e, à direita, introdução de íons diferentes nos interstícios da rede cristalina (mecanismo intersticial) ...........................................................................................................................56 Figura 2.4- Representação da quelação de cátions metálicos pelo ácido cítrico ...............62 Figura 2.5- Representação da poliesterificação dos citratos metálicos ..............................62 Figura 2.6- Estrutura química de uma proteína (caso geral)...............................................66 CAPÍTULO 3 Figura 3.1. Esquema de preparação do catalisador NiCo2O4 por uma nova rota química de síntese .............................................................................................................................71 Figura 3.2. Esquema da caracterização do catalisador NiCo2O4 sintetizado por uma nova rota química ................................................................................................................72 Figura 3.3. Esquema da linha reacional para oxidação parcial do metano .........................77 CAPÍTULO 4 Figura 4.1- Curva termogravimétrica da gelatina pura .......................................................84 Figura 4.2- Curva termogravimétrica do precursor NiCo2O4 pré-calcinado a 350°C/4h.....85 Figura 4.3- Difratogramas de raios X do NiCo2O4 calcinados a (a) 350, (b) 550, (c) 750 e (d) 950°C ..............................................................................................................................86 Figura 4.4. Micrografia do catalisador calcinado a 350°C ...................................................94 Figura 4.5. Micrografia do catalisador calcinado a 550°C ...................................................94 Figura 4.6. Micrografia do catalisador calcinado a 750°C ...................................................95 Figura 4.7. Micrografia do catalisador calcinado a 750°C ...................................................95 Figura 4.8. Micrografia do catalisador calcinado a 950°C ...................................................96 Figura 4.9. Micrografia do catalisador calcinado a 950°C ...................................................96 Figura 4.10. Perfis de redução a temperatura programada do catalisador calcinado em diferentes temperaturas (a) 350, (b) 550°C, (c) 750 e (d) 950°C ........................................99 Figura 4.11. Comparação do consumo de H2 para as fases NiCo2O4 e NixCo1-xO presente no precursor catalítico em todas as temperaturas de tratamento térmico para os 1° e 2° picos de redução .............................................................................................................100 Figura 4.12. Conversão de CH4 versus tempo de reação para o NiCo2O4 a 550 e 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C................................................................103 Figura 4.13. Seletividade para CO e CO2 versus tempo de reação para o NiCo2O4 a 550°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C .....................................................104 Figura 4.14. Seletividade para CO e CO2 versus tempo de reação para o NiCo2O4 a 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C .....................................................105 Figura 4.15. Razão H2/CO versus tempo de reação para o NiCo2O4 calcinado a 550 e 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C .....................................................106 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 2 Tabela 2.1- Distribuição e ocupação do número de cátions nos sítios na estrutura espinélio...............................................................................................................................53 CAPÍTULO 3 Tabela 3.1- Procedência e pureza dos reagentes utilizados ...............................................69 Tabela 3.2- Condições operacionais do reator utilizadas para ativação do catalisador .....78 CAPÍTULO 4 Tabela 4.1- Fases identificadas, estruturas cristalinas e fichas JCPDS ................................87 Tabela 4.2- Indicadores de refinamento obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras ..............................................................................................................................91 Tabela 4.3- Quantidade de fases obtidas pelo método Rietveld para todas as amostras.. 89 Tabela 4.4- Tamanho médio de cristalitos obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras ..............................................................................................................................92 Tabela 4.5- Parâmetros de rede obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras Tabela 4.6- Resultados da área superficial específica para todas as amostras ..................97 LISTA DE ABREVIATURAS E SIMBOLOGIA BET - Brunauer, Emmett e Teller DRX - Difração de Raios X RTP - Redução a temperatura programada MEV - Microscopia Eletrônica de Varredura TG - Análise Termogravimétrica DTG - Derivada da curva TG SGCo - Solução da gelatina com cobalto MAUD - Do inglês: Materials Analysis using diffraction “Sig” ,“R-W” – Índices de qualidade do refinamento JCPDS - Do Inglês: Joint Commitee on Powder Diffraction Standards FWHM – Largura de Pico a meia altura HTS- Do inglês: High Temperature Shift LTS- Low Temperature Shift OSC - Do inglês: Oxigen Storage Capacity RESUMO Catalisadores a base de níquel suportados em alumina, têm sido amplamente empregados nas diversas reações para obtenção de gás de síntese ou hidrogênio. Normalmente, altos níveis de conversão são obtidos por estes catalisadores, entretanto, a desativação por formação de coque e sinterização das partículas metálicas são ainda problemas a serem solucionados. Diversas abordagens têm sido empregadas com a finalidade de minimizar estes problemas, dentre as quais tem se destacado nos últimos anos a utilização de aditivos como óxidos de metais alcalinos e metais terras raras. Paralelamente, o uso de metodologias de sínteses mais rápidas, fáceis, aplicáveis em escala industrial e que permitam o controle das características microestruturais destes catalisadores, pode em conjunto, prover a solução para este problema. Neste trabalho, óxidos com estrutura tipo espinélio AB2O4, onde A representa cátions divalentes e B representa cátions trivalentes, são uma classe importante de materiais cerâmicos mundialmente investigados em diferentes campos de aplicações. As cobaltitas de níquel (NiCo2O4) são óxidos do tipo espinélio que tem atraído considerável interesse devido a sua aplicabilidade em diversas áreas, como em sensores químicos, monitores de tela plana, limitadores ópticos, materiais para eletrodos, pigmentos, eletrocatálise, cerâmicas eletrônicas, entre outras. O precursor catalítico NiCo2O4 foi preparado por uma nova rota de síntese química usando a gelatina como agente direcionador. A resina polimérica obtida foi tratada termicamente a 350°C. As amostras foram calcinadas em diferentes temperaturas 550, 750 e 950°C e caracterizadas por difração de raios X, medidas de área superficial específica, redução a temperatura programada e microscopia eletrônica de varredura. Os materiais tratados termicamente a 550 e 750°C foram testados na oxidação parcial do metano. O conjunto de técnicas revelaram, nos sólidos preparados, a presença da fase de estrutura espinélio do tipo NiCo2O4 juntamente com a solução sólida NixCo1-xO. Esta solução sólida foi identificada através do refinamento Rietveld em todas as temperaturas de tratamento térmico. Os precursores catalíticos calcinados a 550 e 750°C apresentaram níveis de conversão em torno de 25 e 75%, respectivamente. A razão H2/CO foi em torno de 2 para o precursor tratado a 750°C, razão proposta pela reação de oxidação parcial do metano, pode-se concluir que este material pode ser indicado para produzir gás de síntese adequado para ser utilizado na síntese de Fischer-Tropsch. Palavras-chave: NiCo2O4, gelatina, catalisador, oxidação parcial de metano. ABSTRACT Nickel-based catalysts supported on alumina have been widely used in various reactions to obtain synthesis gas or hydrogen. Usually, higher conversion levels are obtained by these catalysts, however, the deactivation by coke formation and sintering of metal particles are still problems to be solved. Several approaches have been employed in order to minimize these problems, among which stands out in recent years the use of additives such as oxides of alkali metals and rare earths. Similarly, the use of methodologies for the synthesis faster, easier, applicable on an industrial scale and to allow control of the microstructural characteristics of these catalysts, can together provide the solution to this problem. In this work, oxides with spinel type structure AB2O4, where A represents divalent cation and B represents trivalent cations are an important class of ceramic materials investigated worldwide in different fields of applications. The nickel cobaltite (NiCo2O4) was oxides of spinel type which has attracted considerable interest due to its applicability in several areas, such as chemical sensors, flat panel displays, optical limiters, electrode materials, pigments, electrocatalysis, electronic ceramics, among others. The catalyst precursor NiCo2O4 was prepared by a new chemical synthesis route using gelatine as directing agent. The polymer resin obtained was calcined at 350°C. The samples were calcined at different temperatures (550, 750 and 950°C) and characterized by X ray diffraction, measurements of specific surface area, temperature programmed reduction and scanning electron microscopy. The materials heat treated at 550 and 750°C were tested in the partial oxidation of methane. The set of techniques revealed, for solid preparations, the presence of the phase of spinel-type structure with the NiCo2O4 NixCo1-xO solid solution. This solid solution was identified by Rietveld refinement at all temperatures of heat treatment. The catalyst precursors calcined at 550 and 750°C showed conversion levels around 25 and 75%, respectively. The reason H2/CO was around 2 to the precursor treated at 750°C, proposed reason for the reaction of partial oxidation of methane, one can conclude that this material can be shown to produce synthesis gas suitable for use in the synthesis Fischer-Tropsch process. Keywords: NiCo2O4, gelatin, catalyst, partial oxidation of methane. CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Introdução e Objetivos 1.1. PPGCEM INTRODUÇÃO Há uma crescente necessidade em aprimorar os processos de produção industrial, racionalizar as formas de utilização de energia e desenvolver métodos de obtenção de produtos com menor impacto ao meio ambiente, levando desta forma a inovações tecnológicas que passam obrigatoriamente pelo desenvolvimento de catalisadores [ZARAMAEV, 1996]. Essa necessidade deve-se ao fato de que cerca de 90% dos produtos de transformação da indústria química utilizam catalisadores em alguma etapa de sua produção [CARDOSO, 1987]. Nos últimos anos, tem-se observado uma tendência de crescimento no uso de combustíveis alternativos. O gás natural, atualmente, depois o metano e, no futuro próximo, o hidrogênio, são vetores de desenvolvimento de tecnologias específicas e competitivas, ambientalmente adequadas e economicamente atrativas [GASNET, 2010]. Devido ao significativo aumento na demanda por energia e por derivados químicos que podem ser obtidos a partir do gás de síntese, possivelmente o gás natural pode se tornar, a médio prazo, a fonte fóssil mais requisitada do mundo. O uso de gás natural como combustível proporciona um pequeno impacto ambiental em relação aos demais combustíveis fósseis, o que o torna mais atraente para o uso como fonte energética direta ou como matéria prima para inúmeros produtos, tais como diversos tipos de combustíveis lubrificantes, metanol e polímeros. O gás natural é uma alternativa promissora para a produção de gás de síntese (CO + H2) e hidrogênio para aplicações estacionárias e de transportes. O metano é o Ana Paula da Silva Peres 20 Introdução e Objetivos PPGCEM principal componente do gás natural e uma das opções de sua utilização envolve a conversão inicial em gás de síntese e sua subseqüente transformação em produtos de maior valor agregado e de mais fácil transporte. O gás de síntese pode ser convertido em combustíveis líquidos parafínicos através das reações de Fischer-Tropsch sobre catalisadores de Fe, Co, Ru ou metais similares. A reação de reforma a vapor do metano, que é a tecnologia mais desenvolvida para a produção do gás de síntese e hidrogênio, é altamente endotérmica, além de produzir uma baixa seletividade para CO e alta razão H2/CO. Assim, duas alternativas se mostram interessantes para a produção do gás de síntese, a reforma do metano com dióxido de carbono e a oxidação parcial do metano. O processo de reforma do metano com dióxido de carbono tem sido estudado intensivamente e recebido grande atenção do ponto de vista ambiental, pois a emissão de CH4 e CO2 na atmosfera leva ao aquecimento global através do efeito estufa. Através desta reação, estes gases prejudiciais podem ser simultaneamente convertidos a gás de síntese. A reforma com CO2 também apresenta algumas vantagens sobre o processo de reforma a vapor, tais como uma baixa razão H2/CO produzida (1:1 ou menor) e a possibilidade de produzir CO com pureza mais elevada. No entanto, existem alguns obstáculos que limitam a aplicação do processo de reforma seca. Os principais deles são: endotermicidade; a baixa taxa de reação, e os catalisadores usados estão sujeitos à desativação devido à deposição de carbono sobre a superfície dos mesmos. A reação de oxidação parcial de metano, por sua vez, apresenta como vantagens o fato de ser suavemente exotérmica o que faz com que os gastos com energia sejam minimizados [MORTOLA, 2006] e de produzir gás de síntese com razão Ana Paula da Silva Peres 21 Introdução e Objetivos PPGCEM molar H2/CO em torno de (2:1), o que possibilita que a mistura seja diretamente empregada na síntese do metanol ou na reação de síntese de Fischer-Tropsch [LIMA, 2006]. Para a produção do gás de síntese a partir do gás natural (metano) é necessário ter catalisadores ativos e resistentes a desativação para este processo. Alguns catalisadores foram estudados para esta reação. Dentre eles, catalisadores a base de níquel suportados em alumina [REQUIES et al., 2008; SONG et al., 2009], a base de níquel suportados em alumina usando metais terras raras como promotores [DI et al., 2006], a base de níquel e metais de terras raras [GUO et al., 2007], a base de níquel suportados em alumina modificados com cálcio e magnésio [REQUIES et al., 2006], catalisadores do tipo CaAl2O4 suportado em alumina usando metais de transição [KOH et al., 2007], catalisadores a base de platina impregnados em céria e zircônia [PASSOS et al., 2005], a base de Ni-Au suportados em alumina usando magnésio e alumínio como agentes modificadores [MANIECKI et al., 2009] e óxidos do tipo espinélio NiMn2O4 [OUAGUENOUNI et al., 2009]. Tradicionalmente, os catalisadores de níquel são muito utilizados para processos de obtenção do gás de síntese. No entanto, estes catalisadores apresentam a desvantagem de apresentar desativação pela formação de coque. Portanto, para a realização deste processo, torna-se indispensável à utilização de catalisadores que tenham elevada atividade, seletividade e que mantenham estas características inalteradas por um longo período de tempo, quando submetidos a condições adversas como altas temperaturas [MORTOLA, 2006]. Além disso, as propriedades catalíticas dependem muito do método de preparação dos catalisadores. As principais influências Ana Paula da Silva Peres 22 Introdução e Objetivos PPGCEM do método de preparação são: (a) tipo de espécie ativa formada, (b) dispersão apropriada da espécie ativa, (c) acidez do catalisador, (d) diferentes tipos de fases formadas e (e) área superficial. Métodos de síntese como impregnação, combustão em microondas, sol-gel, co-precipitação e entre outros têm sido extensamente estudados na literatura para otimizar a preparação de tais sistemas com propriedades adequadas as diferentes finalidades [SOUZA, 2007]. Vários catalisadores contendo metais nobres suportados (Rh, Pt, Ru, Pd) tem mostrado alta conversão e elevada seletividade para CO e H2. Dentre estes catalisadores, os metais nobres mostraram melhor desempenho quando comparados ao níquel. No entanto, o alto custo dos metais nobres torna atrativo o contínuo desenvolvimento de catalisadores de níquel para utilização industrial [LIMA, 2006]. Os óxidos metálicos mistos do tipo espinélio são uma importante classe de materiais catalíticos mundialmente investigados em diferentes campos de aplicações [SANTOS, 2007]. A atividade dos catalisadores de óxidos de metal de transição [HARUTA et al., 1989] melhora notavelmente com a combinação de dois ou mais óxidos para formar uma fase estável. Um exemplo é o catalisador do tipo NiCo2O4, o qual vêm sendo estudado recentemente em aplicações na área de catálise, para reação de oxidação de compostos orgânicos voláteis [CHEN & ZHENG, 2004]; nos processos de transformações químicas de p-nitrofenol para p-aminofenol [SWATHI & BUVANESWARI, 2008]; para oxidação de CO [ZHU & GAO, 2009]. Tem sido publicado que além de partículas metálicas altamente dispersas, a adição de óxidos de metais alcalinos, alcalinos terrosos e dos lantanídeos pode contribuir para reduzir a formação de carbono, aumentando a estabilidade catalítica. Ana Paula da Silva Peres 23 Introdução e Objetivos PPGCEM Partindo desta hipótese, o uso dos óxidos de estrutura espinélio, poderia inibir a produção de depósitos carbonáceos durante as reações de oxidação parcial do metano. Tendo em vista a necessidade do desenvolvimento de processos para a produção do gás de síntese com razões adequadas H2/CO e de catalisadores a base de níquel que sejam ativos para este processo e resistente à formação de depósitos carbonáceos. Neste trabalho, óxidos do tipo espinélio NiCo2O4 foram preparados por uma nova rota química de síntese usando a gelatina pura como precursor orgânico com o interesse de verificar o efeito do método de preparação na formação da fase espinélio e avaliar a sua atividade e estabilidade catalítica para a reação de oxidação parcial do metano. Ana Paula da Silva Peres 24 Introdução e Objetivos 1.2. PPGCEM OBJETIVOS Preparar óxidos mistos do tipo espinélio NiCo2O4 por uma nova rota química de síntese similar ao método dos precursores poliméricos usando gelatina pura como precursor orgânico, com a finalidade de minimizar os custos, tornando o método mais simples e prático; Avaliar a atividade e estabilidade catalítica do precursor catalítico (NiCo2O4) para a reação de oxidação parcial do metano. Ana Paula da Silva Peres 25 CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA Revisão da Literatura PPGCEM 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. O Gás Natural O gás natural é um combustível de origem fóssil, sendo composto por hidrocarbonetos leves, principalmente por metano (CH4) e normalmente apresenta baixos teores de contaminantes, e por isto, é considerado um combustível limpo, além de ser econômico e eficiente comparados a outros tipos de combustíveis [AMBIENTE BRASIL, 2010]. Pode ser encontrado em reservatórios subterrâneos podendo estar ou não associado ao petróleo. No primeiro caso, o gás recebe a designação de gás natural associado, enquanto que quando o reservatório contém pouca ou nenhuma quantidade de petróleo, o gás natural é dito não associado. As últimas previsões sobre o consumo mundial energético anual indicaram que foram utilizados 11,7 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo em 2010 e serão utilizados 14,2 bilhões em 2020 contra 8,9 bilhões em 1997. Apesar disso, os países já vêm apoiando o consumo do gás natural, em detrimento do petróleo, do carvão e da energia nuclear. Assim, o consumo de gás foi da ordem de 3,5 trilhões de m3 em 2010 e será 4,7 trilhões de m3 em 2020, contra 2,3 trilhões de m3 em 1997, ou seja, um crescimento de 34% por ano na próxima década. O gás natural é uma fonte abundante, com suas reservas somando 146 trilhões de m3, o equivalente a 60 anos de consumo quando é considerado um consumo de 2,4 trilhões de m3 ao ano. As reservas adicionais prováveis são de 260 trilhões de m3, ou 83 anos suplementares do consumo previsto para 2010. Trata-se de uma energia diversificada: no Oriente Médio, sua participação é de 32%; na comunidade Européia, de 37%; e no restante do mundo atinge 31%. A tendência de valorização dos derivados Ana Paula da Silva Peres 28 Revisão da Literatura PPGCEM do gás natural provocará uma oferta alternativa, em escala cada vez maior, de energéticos limpos. Com isso, haverá uma retração da demanda de petróleo antes dos fins das reservas. Até lá, teremos 50 anos de desenvolvimento tecnológico associado à disponibilidade cada vez maior de petróleo e do gás natural. No futuro próximo, antes mesmo do fim das reservas veremos acontecer com o petróleo o que aconteceu com o carvão. Esses dois energéticos fósseis nunca esgotáveis serão utilizados para conter qualquer tentativa de supervalorização de preços dos derivados do gás natural [GASNET, 2010]. As principais aplicações do gás natural são como combustível para fornecimento de calor, geração de eletricidade e de força motriz, como matéria prima nas indústrias siderúrgica, química, petroquímica, de fertilizantes e na área de transportes, como opção alternativa do óleo diesel, gasolina e álcool [MORTOLA, 2006]. No entanto, é como matéria prima que o gás natural é mais utilizado, tendo em vista sua pureza e características químicas, podendo ser convertido em produtos tradicionalmente derivados da petroquímica e combustíveis líquidos [GÁS NET, 2010]. Isto pode ser efetuado pela conversão do metano em hidrocarbonetos líquidos como o diesel, através da tecnologia GLT (gas to liquid) que envolve: (i) a conversão do metano em gás de síntese, (ii) a transformação do metano em hidrocarbonetos líquidos através da síntese de Fischer-Tropsch, (iii) o craqueamento para obtenção de gasolina e diesel [MORTOLA, 2006]. Ana Paula da Silva Peres 29 Revisão da Literatura PPGCEM 2.1.1. Gás de Síntese Os hidrocarbonetos do gás natural são colocados a reagir com vapor em presença de catalisadores e a altas temperaturas para produção de hidrogênio (H2), carbono (C) e óxidos de carbono (COx). A utilização de outros catalisadores permite a conversão completa dos hidrocarbonetos em óxidos de carbono e hidrogênio. A mistura de hidrogênio e monóxido de carbono é chamada de gás de síntese e se aplicam em diversos processos, tais como a produção de metanol, alcoóis Oxo e aplicação no processo Fischer-Tropsch [GASNET, 2010]. 2.1.2. Hidrogênio Há elevada demanda de hidrogênio para os processos de hidrogenação de produtos do petróleo, da petroquímica, da química e da indústria alimentícia. A produção de hidrogênio à partir do gás natural se realiza através de processos de oxidação parcial ou reforma por vapor que resultam em misturas de hidrogênio e óxidos de carbono. O armazenamento é considerado por muitos o calcanhar de Aquiles no caminho da sociedade do hidrogênio. Os problemas de armazenamento do hidrogênio resultam de algumas propriedades físico-químicas: o hidrogênio tem um teor muito baixo de energia em volume necessitando de grandes reservatórios e, como é uma molécula pequena e energética, tem a capacidade de se infiltrar na estrutura do material que o contém, enfraquecendo-o e gerando fugas. A baixa densidade de energia dificulta o armazenamento das quantidades adequadas à maioria das aplicações em espaços razoavelmente pequenos. O hidrogênio pode ser comprimido e Ana Paula da Silva Peres 30 Revisão da Literatura PPGCEM armazenado em um taque da alta pressão; arrefecido até atingir o estado líquido e armazenado em tanques devidamente isolados e; armazenado em materiais ou substâncias [LAMTEC, 2011]. Para a disseminação do hidrogênio como combustível é necessário construir uma infra-estrutura que permita movê-lo do local de produção até às estações de abastecimento e centrais de produção de energia. Os desafios à distribuição do hidrogênio incluem a redução dos custos associados, o aumento da eficiência dos sistemas, a capacidade destes assegurarem a pureza do hidrogênio e a minimização da ocorrência de fugas. Todos esses processos estão em amplo crescimento científico e tecnológico, pois o maior nicho de investigação ainda está no armazenamento e transporte do hidrogênio [LAMTEC, 2011]. 2.2. Processos de Produção de Gás de Síntese Atualmente, um crescente interesse tem sido voltado à produção do gás de síntese, entre os processos típicos de geração do gás de síntese inclui-se a transformação do gás natural através da reforma a vapor, reforma com CO2 ou seca, oxidação parcial do metano e reforma autotérmica. Ana Paula da Silva Peres 31 Revisão da Literatura PPGCEM 2.2.1. Reações para Obtenção de Gás de Síntese 2.2.1.1. Oxidação Parcial do Metano Uma alternativa para diminuir os custos energéticos para a produção do gás de síntese é o processo de oxidação parcial do metano, que tem recebido considerável atenção por ser um processo mais econômico para a geração de CO + H2, se comparado com a reação de reforma a vapor do metano. A oxidação parcial do metano para a produção do gás de síntese foi investigada pela primeira vez por volta dos anos 30 e esquecida por mais de 50 anos, por causa do aumento de interesse pela reforma a vapor do metano e pelo fato de não haver, na época, catalisadores que evitassem a formação de carbono. Neste processo, o metano é oxidado para a produção de CO e H2 de acordo com a equação 2.21. CH4 + 1/2O2 CO + 2H2 ∆H0298= -36 kJ/mol (equação 2.21) Este processo opera em altas temperaturas e altas pressões (150 atm) e apresenta algumas vantagens sobre a reforma a vapor do metano convencional, uma vez que, este último é um processo endotérmico e produz gás de síntese com razão H2/CO ≥ 3 [LIMA, 2006]. Com a crise energética, foram realizados muitos estudos para encontrar uma rota eficiente para a produção do gás de síntese com razão H2/CO = 2, que é desejável para síntese do metanol e para o processo de síntese de Fischer-Tropsch [CHOUDHARY, UPHADE & BELHEKAR, 1996; LIMA, 2006]. Assim, a oxidação parcial do metano é considerada uma alternativa promissora para substituir a Ana Paula da Silva Peres 32 Revisão da Literatura PPGCEM reforma a vapor, pois apresenta a razão H2/CO desejada e também é suavemente exotérmica [LIMA, 2006]. A reação do metano com oxigênio a altas temperaturas resulta principalmente em CO, CO2, H2O e H2. A composição do efluente gasoso depende da temperatura, pressão, composição do gás na entrada, e também de fatores cinéticos. 2.2.1.1.1. Mecanismos da Reação de Oxidação Parcial do Metano Na literatura, muitos são os trabalhos dedicados ao mecanismo de reação de oxidação parcial do metano. Existem duas propostas de mecanismos para a reação de oxidação parcial do metano, a oxidação parcial direta (via um passo) e o mecanismo via dois passos. O mecanismo sugerido para a oxidação parcial via um passo (assim como ocorre nas reações de reforma seca e a vapor) envolve a ativação do metano e a reação deste com átomos de oxigênio adsorvidos na superfície do catalisador [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996]. Em muitos casos, a ativação do metano requer altas temperaturas, devido ao fato dele apresentar uma estrutura molecular estável. Nas reformas seca e a vapor, o dióxido de carbono e o vapor de água são os responsáveis pelo fornecimento das espécies (Oads). A diferença entre estes processos está na rota do fornecimento de Oads e na taxa ou cinética da reação. Assim, a reação de oxidação parcial direta segue o seguinte mecanismo [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996]. Ana Paula da Silva Peres 33 Revisão da Literatura CH4 + 2M CH3-M + H-M PPGCEM (equação 2.9) CH3-M + 2M CH-M + 2(H-M) (equação 2.10) CH-M + M C-M + H-M (equação 2.11) O2 + 2M 2(O-M) (equação 2.22) CHx-M + O-M + (x-1)M CO-M + x(H-M) (equação 2.13) CO-M CO + M (equação 2.15) 2(H-M) H2 + 2M (equação 2.16) A reação da equação 2.22 consiste na decomposição do oxigênio que gera Oads (O-M), que é um dos principais compostos para a produção do gás de síntese [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996]. Este processo via um passo é muito similar aos processos de reforma seca e a vapor, exceto pelo uso do oxigênio no lugar da água e do dióxido de carbono para formar a espécie (O-M). O interessante é a presença do mesmo tipo de intermediário reativo (Oads) em ambas as reações [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996]. Na temperatura de reação, a espécie Oads pode se dessorver da superfície formando Og (oxigênio gasoso), o qual é mais reativo e menos seletivo que o Oads, e é responsável pela oxidação total do metano, produzindo CO2 e H2O. Como Og é mais ativo, é difícil evitar a oxidação total em condições experimentais. Então, é razoável sugerir que a oxidação parcial do metano procede por ambos os mecanismos, via um Ana Paula da Silva Peres 34 Revisão da Literatura PPGCEM passo e via dois passos (oxidação + reforma seca e a vapor), pois Oads e Og podem coexistir na temperatura de reação [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996]. A oxidação parcial via dois passos ocorre através das seguintes reações. CH4 + 2O2 CO2 + 2H2O ΔH= -802kJ/mol (equação 2.23) CH4 + H2O ↔ CO + 3H2 (equação 2.1) CH4 + CO2 ↔ 2CO + 2H2 (equação 2.8) CO + H2O(v) ↔ CO2 + H2 (equação 2.2) Primeiramente ocorre a oxidação total de uma parte do metano (equação 2.23) formando dióxido de carbono e vapor de água. Estes produtos reagem com o metano remanescente (equações 2.1 e 2.8) para a produção do gás de síntese. Também acontece a reação de deslocamento gás-água (equação 2.2) que acompanha as reações de reforma. A partir destas reações é possível verificar que a oxidação parcial via dois passos depende do progresso da oxidação total e das reformas para a produção do gás de síntese [DIAS 2002, LIMA, 2006]. Neste processo, a deposição de carbono, que é termodinamicamente favorável, deve ser considerada e pode se dar pelo desproporcionamento do monóxido de carbono (equação 2.4) (reação de Boudouard), ou pela decomposição catalítica do metano (equação 2.5). 2CO ↔ C + CO2 (equação 2.4) CH4 C + 2H2 (equação 2.5) Ana Paula da Silva Peres 35 Revisão da Literatura PPGCEM 2.2.1.1.2. Catalisadores empregados na Oxidação Parcial do Metano Os catalisadores de metais nobres, tais como Ir, Pt, Pd, Rh e Ru apresentam elevada atividade na oxidação parcial do metano [ELMASIDES et al., 2001, GRUNWALDT, BASINI & CLAUSEN, 2001; PANTU & GAVALAS, 2002]. Vários outros metais como Co, Fe, Ni, Mo, V e W também tem sido estudados [WANG & RUCKENSTEIN, 2001; VOLPE, 2001; ERDOHELYI et al., 2001; SONG et al., 2009]. Os catalisadores a base de níquel têm sido extensivamente usados devido a sua elevada atividade e custo relativamente baixo. No entanto, para inibir a formação de coque, eles tem sido modificados com a presença de óxidos de metais alcalinos ou de terras raras [LIU et al., 2001; MIAO et al., 1997; DI et al., 2006; REQUIES ET al., 2006]. Recentemente, há um crescente interesse em estudar catalisadores a base de metais não nobres, assim como o cobalto e níquel com ou sem promotores que são altamente ativos para a reação de oxidação parcial do metano. REQUIES et al., 2006 modificaram catalisadores tradicionais Ni/Al2O3 pela adição de cálcio e magnésio afim de melhorar a performance para a reação de oxidação parcial do metano, diminuindo a deposição de carbono. Os autores observaram que a adição dos metais alcalinos terrosos melhorou o desempenho nas reações, aumentando a dispersão do níquel e ocasionando uma menor deposição de carbono. Eles perceberam que a estrutura das espécies de níquel nos catalisadores modificados com magnésio se apresentou mais estável comparado ao do cálcio e o Ni/Al2O3. O melhoramento da atividade catalítica dos catalisadores modificados com magnésio e cálcio pode estar relacionado à presença de sítios ativos para a decomposição do metano em ausência de oxigênio. Ana Paula da Silva Peres 36 Revisão da Literatura PPGCEM Ensaios usando catalisadores de níquel suportados sugeriram que a oxidação parcial do metano ocorre pelo mecanismo via dois passos, pois foi observada no leito catalítico a presença de duas regiões distintas durante a reação: uma região exotérmica no início do leito que foi atribuída à combustão de 25% do metano alimentado, resultando no consumo total do oxigênio e, uma região endotérmica subseqüente, que foi relacionada às reformas seca e a vapor do metano remanescente. Foi verificado que a formação de hidrogênio e monóxido de carbono exige que o níquel esteja na forma reduzida, que é obtida em situações deficientes em oxigênio. Neste caso, a cinética do processo global é limitada pela taxa de difusão do oxigênio através do filme gasoso até o interior dos poros, sendo a concentração efetiva deste gás na superfície do catalisador durante a reação, essencialmente zero, permitindo a permanência do níquel no estado de oxidação zero [BHARADWAJ & SCHMIDT, 1995]. ZHU & FLYTZANI-STEPHANOPOULOS, 2001 estudaram a aplicação de catalisadores de níquel (5, 10 e 20%) suportados em céria dopada com 4% de lantânio para a reação de oxidação parcial do metano e verificaram que todos foram altamente ativos e seletivos a temperaturas superiores a 550°C. No entanto, somente a amostra contendo 5% Ni-Ce(La)Ox, com alta dispersão de níquel sobre o suporte, mostrou elevada resistência à deposição de carbono e, portanto, alta estabilidade sob condições de reação. Este efeito de resistência à deposição de carbono do sistema de Ni-Ce altamente disperso foi atribuído à facilidade de transferir oxigênio da céria para a interface do níquel, efetivamente oxidando algumas espécies de carbono produzidas pela dissociação do metano sobre o níquel. Ana Paula da Silva Peres 37 Revisão da Literatura PPGCEM Um catalisador do tipo Pt/CexZr1-xO2 apresentou maior estabilidade do que os catalisadores Pt/CeO2 e Pt/ZrO2. Esses resultados foram atribuídos a um bom equilíbrio entre a capacidade de transferência de oxigênio do suporte e da dispersão metálica. A maior taxa de transferência de oxigênio mantém a superfície do metal livre de carbono. Este mecanismo de remoção de carbono ocorre no perímetro de interface do metal-suporte. O catalisador contendo 50% de céria apresentou uma ligeira desativação durante a reação, apesar de seu valor elevado de OSC (Medida de Capacidade de Armazenamento de Oxigênio). Os resultados obtidos de desidrogenação de cicloexano mostrou que o catalisador Pt/Ce0,5Zr0,5O2 exibiu uma menor dispersão de metal em comparação com outros Pt/CexZr1-xO2. O aumento do tamanho das partículas do metal diminui a área de interface do metal-suporte, a eficácia do mecanismo de limpeza é reduzida para a baixa dispersão do metal. Isso poderia explicar por que este catalisador é menos estável durante a reação. Além disso, os catalisadores Pt/Ce0,75Zr0,25O2 e Pt/Ce0,25Zr0,75O2 exibiram alta estabilidade e desempenho similar na oxidação parcial do metano, que foi designado para a mesma quantidade de oxigênio disponível pela área de interface da partícula-suporte em ambos os catalisadores [MATTOS et al., 2002]. Catalisadores a base de níquel usando lantânio para a oxidação parcial do metano foram estudados por GUO et al., 2007. Os autores prepararam uma série de catalisadores La2NiO4 pelo método de complexação com ácido cítrico para avaliar a atividade catalítica na reação de oxidação parcial do metano para a formação do gás de síntese. Os resultados mostraram que a melhor performance catalítica pode ser alcançada usando a perovskita como precursor de catalisador. Dentre os catalisadores Ana Paula da Silva Peres 38 Revisão da Literatura PPGCEM testados, o catalisador La2NiO4 preparado com La:Ni:AC= 2:1:3 e calcinado em 850°C exibi a melhor atividade com excelente estabilidade. O catalisador mostrou boa atividade dentro de 80h de reação. OUAGUENOUNI et al., 2009 sintetizaram óxidos de níquel-manganês através de dois métodos de preparação, co-precipitação e sol-gel para avaliar a atividade catalítica frente à reação de oxidação parcial do metano. A fase espinélio NiMn2O4 foi obtida na temperatura de 900°C em ambos os métodos. No entanto, para a amostra preparada pelo método sol-gel obteve-se também a fase Mn2O3. Os experimentos catalíticos apresentam uma alta atividade em volta da reação de oxidação parcial do metano, caracterizado por uma conversão em torno de 80%. O motivo da alta conversão pode ser a estabilidade da estrutura que levou a uma boa dispersão das espécies de níquel. De fato, a presença do níquel oxidado limita o crescimento das partículas, provavelmente pela formação de interação entre o níquel metálico para fora da estrutura e o óxido de níquel da estrutura. 2.2.1.2. Reforma a Vapor do Metano A reação de reforma a vapor do metano é o principal processo industrial de produção do gás de síntese e hidrogênio [CRACIUN, DANIELL & KNOZINGER, 2002; KUSAKABE et al., 2004; TRIMM, 1999]. O primeiro estudo detalhado da reação catalítica entre vapor d’água e metano foi publicado em 1924, e durante todos esses anos muitos avanços na tecnologia do processo tem sido alcançados, verificando que muitos metais, incluindo níquel, cobalto, ferro e platina, podem catalisar esta reação [TANG, QIU & LU, 1995]. Ana Paula da Silva Peres 39 Revisão da Literatura PPGCEM Este processo consiste na reação provocada pela mistura reacional de vapor d’água e metano, gerando o gás de síntese, uma mistura de CO e H2. A razão H2/CO produzida neste processo é igual a 3, portanto mais adequada para a produção de hidrogênio [DANTAS, 2007]. Esta reação é altamente endotérmica sendo realizada a pressões de até 30 atm [LIMA, 2006]. Apesar da estequiometria da reação sugerir que é necessário apenas 1 mol de água por mol de metano, o excesso de vapor deve ser usado para minimizar a formação de depósitos de carbono no catalisador [LIMA, 2006; NAPOLITANO, 2005] A deposição de carbono é prejudicial ao processo, pois causa a desativação do catalisador, levando a diminuição de seu tempo de vida. As estruturas carbonadas formadas por reações na fase gasosa, que incluem alcatrões e fuligens, podem, depois de passar por uma etapa de difusão, sofrer precipitação sobre a superfície do catalisador. Desta forma, podem ocasionar a formação de tubos de carbono que, embora não obstruam de imediato a superfície do catalisador, provocam a fratura de seus grãos, com a posterior possibilidade de encapsulamento. Este motivo ocasiona o aumento da perda de carga nos reatores, em seguida a sua desativação [VALENTINI et al., 2003]. Por ser uma reação endotérmica, muitas unidades de reforma a vapor operam em temperaturas acima de 800°C [ARMOR, 1999]. A reforma a vapor do metano é tipicamente descrita pela reação dada pela equação 2.1. CH4 + H2O ↔ CO + 3H2 ∆H= +206 kJ/mol (equação 2.1) Este processo na maioria das vezes tem a contribuição de algumas reações, em certas condições de operação, as reações são mostradas pelas equações 2.2 a 2.8 [ARMOR, 1999]. Ana Paula da Silva Peres 40 Revisão da Literatura PPGCEM CO + H2O(g) ↔ CO2 + H2 ∆H= -40 kJ/mol (equação 2.2) CO2 + H2 ↔ CO + H2O(g) ∆H= +40 kJ/mol (equação 2.3) 2CO ↔ C + CO2 ∆H= -171 kJ/mol (equação 2.4) CH4 C + 2H2 ∆H= +75 kJ/mol (equação 2.5) CnHm + vapor ↔ nCO + m/2H2 (equação 2.6) CO2 + 2CH4 + H2O 3CO + 5H2 (equação 2.7) CO2 + CH4 ↔ 2CO + 2H2 ∆H= +247 kJ/mol (equação 2.8) O processo apresenta algumas desvantagens, pois requer uma grande quantidade de energia, o vapor superaquecido (em excesso) a alta temperatura tem um custo elevado, a reação de deslocamento gás-água produz concentrações significativas de dióxido de carbono no produto gasoso e, além disso, sofre algumas limitações como baixa seletividade para CO e alta razão H2/CO, que é inadequada para as reações de síntese do metanol e de Fischer-Tropsch. Assim, as reações de oxidação parcial do metano usando oxigênio e de reforma do metano com dióxido de carbono apresentam-se como alternativas promissoras para a produção de gás de síntese [TANG, QIU & LU, 1995; LIMA, 2006]. Ana Paula da Silva Peres 41 Revisão da Literatura PPGCEM 2.2.1.2.1. Mecanismo da Reação de Reforma a Vapor do metano O mecanismo proposto para a reação de reforma a vapor do metano é descrito nas equações abaixo, onde M é o sítio ativo [QIN, LAPSZEWICZ & JIANG, 1996; DIAS, 2002; LIMA, 2006]. CH4 + 2M CH3-M + H-M (equação 2.9) CH3-M + 2M CH-M + 2(H-M) (equação 2.10) CH-M + M C-M + H-M (equação 2.11) H2O + 3M O-M + 2(H-M) (equação 2.12) CHx-M + O-M + (x-1)M CO-M + x(H-M) (equação 2.13) CO-M + O-M CO2 + 2M (equação 2.14) CO-M CO + M (equação 2.15) 2(H-M) H2 + 2M (equação 2.16) 2CO + 2M C-M + CO2-M (equação 2.17) As reações dadas pelas equações 2.9 a 2.11 representam a ativação do metano e a reação dada pela equação 2.12 consiste na decomposição da água. Por outro lado, a reação 2.13 consiste na recombinação das espécies adsorvidas formando as espécies de CO-M e x(H-M), que são dessorvidos como mostra as equações 2.15 e 2.16 para a obtenção dos produtos CO e H2 [LIMA, 2006]. Estas reações estão envolvidas no processo de formação de carbono, que se deposita no catalisador, levando a obstrução dos poros e desativação do mesmo. A Ana Paula da Silva Peres 42 Revisão da Literatura PPGCEM formação de carbono ocorre na superfície do catalisador por meio da dissociação do metano sobre a superfície do metal, produzindo espécies altamente reativas, que provavelmente pode ser carbono atômico. Existem dificuldades em impedir a formação de carbono e muitos esforços têm sido realizados para diminuí-la. Atualmente, nas indústrias contorna-se o problema através da alimentação de excesso de vapor, embora exista uma tendência a se diminuir a razão de alimentação H2O/CH4 para reduzir o consumo de vapor e, consequentemente, o de energia. Para isso, se faz necessário o desenvolvimento de catalisadores mais estáveis para o processo [DIAS, 2002; LIMA, 2006]. 2.2.1.2.2. Catalisadores empregados na Reforma a Vapor do metano Os catalisadores a base de níquel são amplamente utilizados nos processos de produção do gás de síntese e hidrogênio frente à reação de reforma a vapor do metano, uma vez que oferece uma atividade catalítica apreciável, uma boa estabilidade [CORBO & MIGLIARDINI, 2007; FRENI, CALOGERO & CAVALLARO, 2000; LAOSIRIPOJANA & ASSABUMRUNGRAT, 2005], sendo extremamente barato e suficientemente ativo para estimular a sua utilização em escala industrial [LODENG et al., 1997; MARTURANO, AGLIETTI & FERRETTI, 1997; VASCONCELOS, 2006]. Esta reação também pode ser catalisada por compostos usando o níquel suportado em Al2O3, MgO ou MgAl2O4, promovidos com metais alcalinos terrosos tais como cálcio e magnésio [REQUIES et al., 2006] que atuam como modificadores do suporte e/ou da fase ativa, podendo aumentar a atividade catalítica e a resistência à deposição de carbono durante as reações a altas temperaturas. Os compostos de potássio, cálcio e magnésio são tipicamente usados para acelerar as reações de remoção de carbono Ana Paula da Silva Peres 43 Revisão da Literatura PPGCEM [BHARADWAJ & SCHMIDT, 1995]. O objetivo na adição de promotores nos catalisadores de níquel é favorecer a adsorção do vapor sobre o catalisador e aumentar a migração para a superfície do níquel dos grupos OH e/ou diminuir a dissociação do metano adsorvido. Essas modificações permitem reduzir a razão H2O/CH4 requerida para aumentar o tempo de vida do catalisador e alcançar uma razão estequiométrica apenas aumentando as temperaturas de pré-tratamento e de reação [LIMA, 2006]. Catalisadores de metais nobres são muito mais ativos e menos sensível à deposição de carbono, porém possuem um custo muito elevado para o uso comercial [VASCONCELOS, 2006]. 2.2.1.3. Reforma do Metano com CO2 ou Seca A reforma do metano com CO2 consiste em uma rota alternativa para a produção de gás de síntese. Com o CO2 como co-produto disponível, reagir CO2 com metano para produzir CO e H2 poderia ser atrativo, contudo há problemas sérios envolvendo a necessidade de purificar o CO2 [ARMOR 1999]. Esta reação foi estudada pela primeira vez por Fischer e Tropsch (1928) e cálculos indicaram que esta reação era termodinamicamente viável acima de 640°C [LIMA, 2006] segundo a reação abaixo. CH4 + CO2 ↔ 2CO + 2H2 ∆H= +247kJ/mol Ana Paula da Silva Peres (equação 2.8) 44 Revisão da Literatura PPGCEM Com o crescente interesse em minimizar emissões de CO2 e com o aumento da necessidade de produzir gás de síntese, a reforma do metano com CO2 tem recebido cada vez mais atenção. A reação de reforma seca é de fundamental importância, especialmente quando a razão H2/CO obtida for baixa, pois assim esses produtos podem ser convertidos em produtos de maior valor agregado quando direcionados para a síntese de hidrocarbonetos líquidos, na reação de síntese de Fischer-Tropsch. Porém, esta reação também apresenta algumas implicações positivas do ponto de vista ambiental, porque ambos os gases, metano e dióxido de carbono, são amplamente responsáveis pelo aquecimento global do planeta, causado principalmente pelo efeito estufa [WANG & LU, 1998]. Existem alguns obstáculos que limitam a aplicação do processo de reforma seca. Os principais são: a endotermicidade, a baixa taxa de reação e formação de depósitos carbonáceos. A maior dificuldade para realizar a reforma do metano com dióxido de carbono é a formação de carbono, termodinamicamente favorecida, que desativa os catalisadores. Os catalisadores a base de níquel são os mais propensos à desativação [RYNKOWSKI, et al., 2004]. Além da reação da equação 2.8, o processo de reforma do metano com CO2 pode estar acompanhado, em certas condições de operação, de outras reações paralelas termodinamicamente possíveis. Dentre elas, podem-se citar as reações de formação de carbono, representadas pela reação de Boudouard (equações 2.4) e pela reação de decomposição do metano (equação 2.5). 2CO ↔ C + CO2 CH4 C + 2H2 Ana Paula da Silva Peres ∆H= -171kJ/mol (equação 2.4) ∆H= +75kJ/mol (equação 2.5) 45 Revisão da Literatura PPGCEM Outras reações como as da equação 2.3 denominada reação reversa de deslocamento gás-água (reversa da shift) e da equação 2.18, podem também ter importante influência nos resultados finais do processo de reforma. CO2 + H2 ↔ CO + H2O(g) C + H2O(g) CO + H2 ∆H= +40kJ/mol (equação 2.3) ∆H= +131kJ/mol (equação 2.18) A reação da equação 2.8 pode ser constituída pela reversa da reação da equação 2.4 e da equação 2.5. Idealmente, o carbono formado na reação da equação 2.5 deveria ser consumido parcialmente pela reação reversa da equação 2.4 e, em menor escala, pela reação da equação 2.18. Esta pode ter um papel importante quanto à retirada do carbono formado, mas, no contexto da reação, o vapor é quase sempre formado via reação reversa de deslocamento gás-água (equação 2.3). Se a reação da equação 2.5 for mais rápida do que a taxa de remoção do carbono, haverá sérios problemas quanto à formação de coque, com conseqüente desativação do catalisador e bloqueio do reator pelo carbono formado, ou seja, a quantidade de coque aumenta impedindo o fluxo dos reagentes [EDWARDS & MAITRA, 1995]. A reação mostrada pela equação 2.4 e a reversa da reação ilustrada na equação 2.18; são favorecidas a baixas temperaturas e junto com a reação da equação 2.5, podem ser grandes geradoras de carbono. É interessante notar que a reação da equação 2.3, que consome hidrogênio, representa uma desvantagem, a menos que ambas as reações, equação 2.3 e 2.18, ocorram mantendo a estequiometria constante. Portanto, o catalisador adequado para esta reação seria aquele que não somente Ana Paula da Silva Peres 46 Revisão da Literatura PPGCEM acelerasse a reação e apresentasse uma alta conversão inicial, mas também evitasse a formação de depósitos carbonáceos e de água [EDWARDS & MAITRA, 1995]. 2.2.1.3.1. Mecanismo da Reação de Reforma Seca do Metano A ativação do metano ocorre similarmente à apresentada para a reforma a vapor [DIAS 2002; LIMA, 2006]. CH4 + 2M CH3-M + H-M (equação 2.9) CH3-M + 2M CH-M + (2H-M) (equação 2.10) CH-M + M C-M + H-M (equação 2.11) São produzidas espécies do tipo (CHx)ads, resultando na presença indesejável de carbono. Este carbono formado na superfície do catalisador provoca o bloqueio dos sítios ativos, impedindo a contínua dissociação do metano. A reatividade destes depósitos de carbono e suas transformações dependem de vários fatores e são sensíveis ao tipo de superfície catalítica, à temperatura e à duração dos períodos térmicos [EDWARDS & MAITRA, 1995; LIMA, 2006]. Considerações similares devem ser feitas com relação à ativação do CO2, através do seguinte mecanismo. CO2 + 2M CO-M + O-M (equação 2.19) CO-M + M C-M + O-M (equação 2.20) Apesar das espécies de metano e dióxido de carbono sofrerem dissociação separadamente, verificou-se que a dissociação do metano é facilitada pelo oxigênio Ana Paula da Silva Peres 47 Revisão da Literatura PPGCEM adsorvido, resultante da dissociação do dióxido de carbono. Por outro lado, a dissociação deste se estimula pela presença do hidrogênio adsorvido resultante da dissociação do metano e possivelmente, de outros resíduos (CHx)ads. Desta forma, as reações que devem ser consideradas para a reforma seca do metano estão descritas nas reações abaixo. CHx-M + O-M + (x-1)M CO-M + x(H-M) (equação 2.13) CO-M CO + M (equação 2.15) 2(H-M) H2 + 2M (equação 2.16) É necessário que se tenha uma sincronia da ativação do CH4 e do CO2. Caso isso não ocorra, haverá formação indesejada de depósitos de carbono e acúmulo no sítio ativo do catalisador o que, além de impedir a adsorção dos reagentes, diminuirá o rendimento da reação [DIAS 2002, LIMA, 2006]. 2.2.1.3.2. Catalisadores empregados na Reforma Seca do Metano Todos os metais nobres do grupo VIII-A, exceto o ósmio, e metais de transição como o níquel, cobre e cobalto, depositados em uma variada gama de suportes [BRADFORD & VANNICE, 1996]. A platina tem se mostrado adequado e seu emprego tem permitido operar o reator de modo a evitar o acúmulo de depósitos de carbono e a consequente desativação. Em termos de custos, as indústrias utilizam o níquel como catalisador, pois apresenta atividade comparável à dos metais nobres. No entanto, este desativa-se rapidamente devido à formação de depósitos carbonáceos. Ana Paula da Silva Peres 48 Revisão da Literatura PPGCEM Considerando o alto custo e a disponibilidade limitada dos metais nobres, é mais atrativo desenvolver um catalisador a base de níquel com alta performance catalítica e resistente á desativação pela formação de coques [WANG & LU, 1998]. 2.2.1.4. Reforma Autotérmica do Metano A reação de reforma autotérmica do metano é a associação de uma reação homogênea de oxidação parcial e de reforma a vapor [AASBERG-PETERSEN et al., 2001; BHARADWAJ & SCHMIDT, 1995; AASBERG-PETERSEN et al., 2003]. As reações de reforma (reações endotérmicas) ocorrem entre os produtos da combustão e a porção do metano não reagido [AASBERG-PETERSEN et al., 2003; MATTOS et al., 2002]. Este processo foi desenvolvido pela Haldor Topsoe S.A. no final dos anos 50 e desde então é utilizado para a produção do gás de síntese. Entretanto, algumas inovações foram implementadas nos anos 90, incluindo a operação em baixas razões vapor/carbono e o desenvolvimento de novos projetos de queimadores, estabelecendo uma operação segura [AASBERG-PETERSEN et al., 2001]. Na reação de reforma autotérmica do metano são realizadas reações exotérmicas e endotérmicas, e sua principal vantagem é que o calor gerado na reação exotérmica (pela oxidação parcial) pode ser aproveitado como fonte de energia para as reações endotérmicas, por isso o termo autotérmico [DANTAS, 2007; MORTOLA, 2006; AYABE et al., 2003, VASCONCELOS, 2006]. As reações envolvidas durante o processo estão descritas nas equações 2.24, 2.1 e 2.2. CH4 + 3/2O2 ↔ CO + 2H2O Ana Paula da Silva Peres ∆H0298= -520kJ/mol (equação 2.24) 49 Revisão da Literatura CH4 + H2O ↔ CO + 3H2 CO + H2O ↔ CO2 + H2 ΔH= + 206kJ/mol ΔH= -40kJ/mol PPGCEM (equação 2.1) (equação 2.2) A reforma autotérmica pode promover a redução de pontos quentes (hot spots) usando materiais sólidos sintéticos, como por exemplo a quartzo, provenientes da reação de oxidação parcial, evitando a desativação do catalisador por sinterização ou deposição do carbono [SOUZA & SCHMAL, 2005]. O vapor de água consegue evitar esta deposição. 2.3. A estrutura Espinélio Os óxidos metálicos mistos do tipo espinélio são uma importante classe de materiais catalíticos mundialmente investigados em diferentes campos de aplicações. Esses materiais são interessantes devido a sua natureza peculiar da distribuição dos cátions nos sítios tetraédricos e octaédricos [SANTOS, 2007]. Genericamente, as estruturas de fórmula química AB2O4 compreendem as estruturas típicas do mineral espinélio. A ocorrência natural do espinélio é o mineral MgAl2O4, recebendo essa classificação juntamente com outros minérios como, magnetita (Fe3O4), trevorite (NiFe2O4), gahnite (ZnAl2O4), entre outros [GOMES, 2009; FILHO, 2009]. O grande número de compostos com a estrutura do tipo espinélio, e a sua importância tecnológica, tem resultado no grande interesse na cristalografia e Ana Paula da Silva Peres 50 Revisão da Literatura PPGCEM propriedades químicas da estequiometria dos compostos binários AB2O4 e soluções sólidas [GOUVEIA, 2002; XAVIER, 2006]. 2.3.1. A Estrutura Os espinélios constituem uma família de compostos de estrutura cristalina AB2O4, em que o cátion A representa um cátion metálico divalente locado no centro de um tetraedro e B representa um cátion metálico trivalente locado no centro de um octaedro, no qual os vértices são ocupados por íons O2-. A energia de estabilização do campo do cristal, a constante de Mandelung e o tamanho do cátion são os principais fatores que decidem a estrutura do sistema [SREEKUMAR et al., 2000; SANTOS, 2007]. Observa-se, na figura 2.1, a célula unitária de um espinélio AB2O4. Figura 2.1- Representação da célula unitária do espinélio [MOURA, 2008]. Ana Paula da Silva Peres 51 Revisão da Literatura PPGCEM Na figura 2.2, pode-se verificar com mais detalhes as posições dos íons metálicos locados nos sítios A e B das sub redes tetraédrica e octaédrica, respectivamente. Sítio A Sítio B (a) (b) 2- Figura 2.2- Sítios na estrutura do espinélio (a) cátion ocupante da posição A cercados por 4 íons O e (b) 2- cátion na posição B rodeado por 6 íons O [MOURA, 2008]. A célula unitária da estrutura espinélio é constituída por 96 interstícios entre os ânions em uma célula unitária cúbica de face centrada, caracterizada pelo grupo espacial Fd3m, sendo 64 interstícios tetraédricos e 32 interstícios octaédricos. Entretanto, somente 24 desses interstícios são ocupados por cátions na estrutura do espinélio, sendo que 8 ocupam interstícios tetraédricos e 16 sítios octaédricos. Dessa forma permanecem 56 sítios tetraédricos e 16 octaédricos vazios no espaço intersticial da estrutura (Tabela 2.1) que, conceitualmente, poderia conter um cátion [XAVIER, 2006; SANTOS, 2007; SICKAFUS, WILLS & GRIMES, 1999; SREEKUMAR et al., 2000]. A estrutura espinélica pode apresentar algum grau de inversão (δ) devido a alta Ana Paula da Silva Peres 52 Revisão da Literatura PPGCEM eletronegatividade do oxigênio, que promove ligações de forte caráter iônico com os cátions divalentes e trivalentes. Isso depende da distribuição iônica dos cátions, sendo classificados como, espinélio normal, espinélio inverso e espinélio parcialmente inverso ou intermediário [GOMES, 2009]. Tabela 2.1: Distribuição e ocupação do número de cátions nos sítios na estrutura do espinélio. Tipo de Sítio Número Número Espinélio Espinélio Espinélio Disponível Ocupado Normal Inverso intermediário Tetraédrico (A) 64 8 8M2+ 8M3+ NM3+ e NM2+ Octaédrico [B] 32 16 16M3+ 8M3+ e NM3+ e NM2+ 8M2+ N- número de íons de elemento metálico e M- elemento metálico. Na estrutura do espinélio normal os cátions divalentes estão nos sítios tetraédricos “A” e os trivalentes estão nos sítios octaédricos “B”. Essa distribuição pode ser representada como (A)[B2]O4, com os colchetes referindo-se aos sítios octaédricos e os parênteses, sítios tetraédricos. Para o espinélio inverso a distribuição dos cátions ocorre conforme um arranjo inverso, (B)[AB]O4, onde os cátions divalentes e metade dos cátions trivalentes estão nos sítios octaédricos e a outra metade dos cátions trivalentes estão nos sítios tetraédricos [POLETI et al., 1994; XAVIER, 2006]. No caso do espinélio intermediário, os arranjos intermediários podem ser representado pela fórmula (A1-xBx)[AxB2-x]O4, em que x representa o grau de inversão [SUGIMOTO, 1980; XAVIER, 2006]. Ana Paula da Silva Peres 53 Revisão da Literatura PPGCEM A distribuição dos cátions na rede é muito influenciada pelo método empregado na síntese de obtenção desses materiais, além de ser altamente sensível ao tratamento térmico [REZLESCU et al., 2000; MOURA, 2008; TAILHADES et al., 1998; FILHO, 2009]. Naturalmente que, em função do efeito da substituição do íon e de sua quantidade de ocupação na rede espinélio são conseguidas alterações nas suas propriedades e características [REZLESCU et al., 2000; FILHO, 2009]. Como visto, a estrutura AB2O4 oferece muitas possibilidades de combinação para os cátions, os quais podem ser balanceados com as cargas negativas dos íons oxigênio [GOMES, 2009]. A determinação de cátions de um determinado óxido de espinélio é determinada pela energia total do cristal, cujo parâmetro depende de outros fatores, como tamanho de íons, interações coulombianas entre as cargas destes íons e o delimitado espaço entre as forças de repulsão, efeitos de polarização e ordenação dos cátions [GOMES, 2009]. Quando δ=0 (δ- grau de inversão), todos os íons divalentes estão nas posições tetraédricas pertencentes ao sítio (A) e todos os íons trivalentes ocupam as posições octaédricas no sítio [B], e então a estrutura é dita de um espinélio normal. Quando δ=1, os íons divalentes ocupam as posições octaédricas e os íons trivalentes estão igualmente distribuídos nas duas posições (octaédrica e tetraédrica), e o espinélio é dito inverso [GOMES, 2009]. Ana Paula da Silva Peres 54 Revisão da Literatura PPGCEM NiCo2O4 adota uma estrutura na qual todos os íons Ni ocupam os sítios octaédricos e o íons Co são distribuídos entre os sítios tetraédricos e octaédricos [BATTLE, CHEETHAM & GOODENOUGH, 1979; VERMA et al., 2008; MARCO et al., 2000]. 2.3.2. Soluções Sólidas Termodinamicamente, diz-se que um sistema de dois ou mais componentes forma uma solução sólida se o mesmo é constituído de uma única fase. Soluções sólidas podem ter composição variável, o que permite obter materiais com propriedades específicas, uma vez que estas são alteradas com a variação da composição do sistema [MARZANO, 2008]. Em uma solução sólida binária, o componente originalmente isolado em que se pretende introduzir frações de outro de estrutura parecida, é chamado de matriz, e o outro, que está sendo introduzido, é chamado de hóspede. As soluções sólidas podem ser formadas de acordo com dois mecanismos básicos (Figura 2.3), o primeiro é o substitucional, onde um íon substitui outro, de mesma carga, na estrutura cristalina da matriz; e o segundo, o intersticial, onde o íon introduzido ocupa um lugar originalmente desocupado na estrutura cristalina da matriz, não envolvendo, assim, eliminação de outro átomo ou íon da rede. Ana Paula da Silva Peres 55 Revisão da Literatura PPGCEM Figura 2.3- Á esquerda, a representação de íons numa matriz cristalina. Ao centro, substituição de íons da matriz por íons diferentes (mecanismo substitucional) e, à direita, introdução de íons diferentes nos interstícios da rede cristalina (mecanismo intersticial) [MARZANO, 2008]. Soluções sólidas mais complexas podem ser formadas pelos dois mecanismos simultaneamente, ou ainda pela introdução de um íon de carga diferente na matriz, desde que tenha tamanho compatível e que o balanço de cargas seja preservado. Entretanto, os fatores que determinam a formação de soluções sólidas, especialmente as mais complexas, são entendidos apenas qualitativamente. Assim, deve-se determinar experimentalmente se o sistema constitui uma solução sólida (monofásico) e qual a sua composição [MARZANO, 2008]. A difração de raios-X é a técnica tradicional para a identificação de soluções sólidas, entretanto, apresenta limitações, pois os parâmetros de rede da célula unitária e densidades devem variar significativamente com a concentração do substituinte, o que não acontece, por exemplo, se os compostos, matriz e hóspede forem isomorfos e tiverem densidades com valores próximos. Além disso, em concentrações abaixo de 5% do hóspede a DRX também se encontra limitada [MARZANO, 2008]. Ana Paula da Silva Peres 56 Revisão da Literatura PPGCEM Soluções binárias normalmente são formadas em toda faixa de concentração se os compostos, matriz e hóspede são isomorfos, ou seja, pertencem ao mesmo sistema cristalino. O mecanismo substitucional geralmente ocorre se o tamanho do íon substituinte não diferir em mais que 15% do tamanho do íon substituído [MARZANO, 2008]. 2.3.3. Emprego das Cobaltitas como Catalisador Neste item serão apresentados os resultados de alguns trabalhos relacionados com o uso do espinélio NiCo2O4 como catalisador. CHEN & ZHENG, 2004 estudaram o efeito do potássio e alumínio sobre o catalisador NiCo2O4 para a reação de oxidação de compostos orgânicos voláteis. Os catalisadores foram preparados através dos métodos de co-precipitação e impregnação. Os autores observaram que a adição de potássio sobre a superfície do catalisador NiCo2O4 melhorou consideravelmente a atividade catalítica do NiCo2O4. Os difratogramas de raios-X indicaram que a fase espinélio (NiCo2O4) foi observada em todas as amostras e o potássio foi bem disperso na superfície do NiCo2O4. A ordem de redutibilidade das três amostras foi de K-NiCo2O4> NiCo2O4 > Al-NiCo2O4, que foi coerente com a ordem da oxidação catalítica completa para compostos orgânicos voláteis. Os resultados indicaram que o potássio favorece a redutibilidade. No trabalho de SWATHI & BUVANESWARI, 2008 foi investigado uma nova aplicação para o NiCo2O4 na conversão de p-nitrofenol para p-aminofenol. Os resultados mostraram que a completa conversão foi atingida em um minuto. O óxido Ana Paula da Silva Peres 57 Revisão da Literatura PPGCEM misto foi sintetizado via método dos citratos precursores. A descoloração na ausência do catalisador NiCo2O4 ocorre em cerca de 5 horas e 30 minutos. Isso se deve ao fato de que a redução da capacidade de NaBH4 foi melhorada na presença do óxido espinélio. Concluiu-se que o processo de liberação de hidrogênio pela reação de hidrólise do NaBH4 e de água é acelerado devido à presença do óxido espinélio. AIELLO, SHARP & MATTHEWS, 1999 relataram que a hidrólise aquosa de NaBH4 produziu uma pequena quantidade de hidrogênio. ZHU & GAO, 2009 prepararam espinélios de MCo2O4 (M= Cu, Mn e Ni) e réplicas em sílica mesoporosa SBA-15 a fim de investigar a atividade catalítica para oxidação de CO. Os autores sugerem que os catalisadores CuCo2O4 e MnCo2O4 exibiram alta atividade para a reação de oxidação de CO, enquanto o NiCo2O4 revelou baixa seletividade à oxidação de CO, sendo observado uma contínua desativação do catalisador durante o teste catalítico. Este fato é explicado em função de uma acumulação de espécies hidroxilas proveniente do método de impregnação (solução aquosa de NaOH 2 molar) e de carbonatos que poderiam bloquear os sítios ativos. Nenhuma alteração estrutural ou segregação de fases foi observada. Portanto, a contínua desativação do catalisador também não se deve às mudanças físicas e texturais do sistema catalítico. Apesar da réplica de NiCo2O4 não ser um catalisador adequado para oxidação de CO, ele pode encontrar aplicações no campo da eletrocatálise devido sua alta propriedade eletrocatalítica em torno da reação de evolução de oxigênio em soluções alcalinas [CUI et al., 2008; SHCHUKIN et al., 2005]. Ana Paula da Silva Peres 58 Revisão da Literatura PPGCEM CHAUBAL & SAWANT, 2007 sintetizaram catalisadores de NiCo2O4 através de dois métodos: co-precipitação e outro utilizando o surfactante alquil poliglucosídeo (C10) com a finalidade de investigar sua atividade na redução do 4-cloro-nitrobenzeno. Os resultados mostraram que o espinélio obtido usando o surfactante alquil poliglucosídeo apresentou 100% de seletividade para o grupo amina. Através desse método obteve-se uma maior área superficial comparado ao catalisador produzido pelo método da co-precipitação. O aumento na área superficial promove o aumento da reação. Ana Paula da Silva Peres 59 Revisão da Literatura 2.4. PPGCEM Métodos de Preparação 2.4.1. Síntese de Catalisadores As propriedades catalíticas de óxidos do tipo espinélio dependem muito do método de preparação. A principal influência do método de preparação é da dispersão apropriada das espécies ativas (homogeneidade), na acidez do catalisador e na área superficial específica. Umas das exigências mais relevantes para um catalisador sólido é a dispersão apropriada das espécies ativas. Geralmente deseja-se uma elevada dispersão porque corresponde a uma maior utilização das espécies ativas. Método químico como precursores poliméricos, sol-gel convencional, sol-gel protéico que faz uso a gelatina comestível, co-precipitação e entre outros têm sido extensivamente estudados na literatura para otimizar a preparação de óxidos mistos com propriedades adequadas a diferentes finalidades [SOUZA, 2007]. Abaixo é possível observar uma breve descrição dos principais métodos utilizados na literatura para a preparação de sólidos, bem como também será descrito método de síntese utilizado neste trabalho. Diversas técnicas de preparo têm sido utilizadas na síntese desses materiais, tais como: reação do estado sólido, combustão, Pechini, etc. No entanto, o método mais comum para preparação desses materiais é a reação dos óxidos em estado sólido, porém esta apresenta algumas desvantagens que incluem longo período de calcinação a altas temperaturas, presença de fase secundária e limitado grau de homogeneidade do material final. Ana Paula da Silva Peres 60 Revisão da Literatura 2.4.1.1. PPGCEM Método dos Precursores Poliméricos (Pechini) O método dos precursores poliméricos, conhecido por Pechini, baseia-se na formação de uma resina polimérica produzida pela poliesterificação entre um quelato ácido metálico e um álcool polihidróxido [PECHINI, 1967; SOUZA, 2007]. A reação química de quelação pode ser descrita considerando a habilidade de certos ácidos carboxílicos (como ácido cítrico, lático, tartático, etc.) para formar ácidos polibásicos quelantes com vários cátions de elementos. As fontes de cátions metálicos podem ser carbonatos, nitratos, hidróxidos, acetatos, cloretos, sulfatos, óxidos, complexos, etc. Esses quelatos podem ser submetidos a poliesterificação quando aquecidos em álcool polihidróxido (etilenoglicol ou dietilenoglicol), para formar um material que tem alta homogeneidade química. A Figura 2.4 ilustra uma reação de quelação entre o ácido cítrico e um cátion metálico e a figura 2.5 mostra um exemplo de poliesterificação partindo-se de um quelato metálico mostrado na figura 2.3 e o etilenoglicol como álcool polihidróxido. O ácido cítrico é o quelante mais utilizado na síntese de materiais via método dos precursores poliméricos. O íon complexo metal-citrato tende a ser razoavelmente estável devido à forte coordenação do íon citrato com o íon metálico envolvendo dois grupos carboxílicos e um grupo hidroxil. A presença de um álcool polihidroxil, como etilenoglicol, permite a formação de um éster orgânico com o quelato ácido [SOUZA, 2007]. Ana Paula da Silva Peres 61 Revisão da Literatura PPGCEM Figura 2.4- Representação da quelação de cátions metálicos pelo ácido cítrico [SOUZA, 2007]. Figura 2.5- Representação da poliesterificação dos citratos metálicos [SOUZA, 2007]. Durante o aquecimento a moderadas temperaturas (80-90°C), a poliesterificação ocorre em toda parte do meio líquido, resultando na formação da resina polimérica, após a remoção do excesso de água. O aquecimento da resina polimérica causa a quebra do polímero e a expansão da resina pelo aprisionamento dos gases H2O, CO2 e CO, devido à decomposição, formando o que se denomina de Ana Paula da Silva Peres 62 Revisão da Literatura PPGCEM “puff’’. A resina expandida constitui-se de um material semicarbonizado, portanto preto, mostrando um reticulado macroscópico e frágil semelhante a uma espuma. Durante o processo de pirólise, mesmo quando as ligações químicas estão sendo distribuídas, há pouca segregação dos cátions presentes devido ao aumento da viscosidade. Esse aumento faz com que a mobilidade dos cátions seja baixa, e eles sejam aprisionados na cadeia polimérica. Nessa etapa, o poliéster é decomposto para eliminar o excesso de matéria orgânica formando a fase desejada [SOUZA, 2007]. A idéia geral do método é obter uma distribuição aleatória de cátions a nível atômico na resina polimérica. O método Pechini apresenta algumas vantagens para a síntese de diversos materiais tais como, considerável controle estequiométrico, boa homogeneidade química dos componentes e reprodutibilidade quando comparados aos métodos tradicionais. As desvantagens do método são a alta quantidade de matéria orgânica que gera uma grande perda de massa e pela facilidade de formação de fortes aglomerados durante a calcinação [PÔRTO, 2004; CESÁRIO, 2009; SALES, 2008; SOUZA, 2007; MAIA, 2005]. O método dos precursores poliméricos tem sido utilizado para a síntese de materiais com propriedades magnéticas, eletrônicas, ópticas e catalíticas. Diversas formulações de óxidos, nanocompósitos, carbetos, filmes e entre outras classes de materiais tem sido preparados por esse método. Ana Paula da Silva Peres 63 Revisão da Literatura 2.4.1.2. PPGCEM Método Sol-gel Este método envolve a síntese de uma rede polimérica através de reações químicas em solução. A principal característica desta reação é a transição de um líquido (sol, dispersão coloidal) para um gel. A transformação de sol para gel é definida como transição sol-gel, que constitui um fenômeno no qual uma dispersão coloidal transforma-se em gel pelo estabelecimento de ligações entre partículas, o que leva a formação de uma rede sólida tridimensional. O gel pode ser uma estrutura rígida de partículas coloidais ou de cadeias poliméricas, que imobilizam a fase líquida nos seus interstícios. Quando o gel é seco, ocorre à expulsão do líquido presente nos poros com a posterior redução de volume devido à formação de novas ligações por policondensação, e consequentemente, a resistência do gel aumenta e o tamanho dos poros se tornam menores. A etapa de secagem leva a formação de um estado de “gel seco” que também é chamado de xerogel, e este processo de redução do gel pela expulsão do líquido presente nos poros, é chamado de sinerese. O xerogel é um sólido que apresenta alta porosidade e uma grande área superficial específica [SOUZA, 2007]. O referido método é eficaz para facilitar o controle estequiométrico, da porosidade, da estrutura cristalina e do tamanho de partículas. Entretanto, a metodologia apresenta algumas desvantagens, como, alto custo de seus reagentes, sua preparação é limitada pela solubilidade dos alcoóis [MEDEIROS, 2007], a grande redução de volume associada aos processos de gelatinização e secagem de géis, as dificuldades na remoção de resíduos orgânicos indesejáveis, os períodos elevados de reação, os riscos à saúde devido à toxicidade das soluções e a sensibilidade das mesmas ao calor, umidade e luz [MAIA, 2005]. Ana Paula da Silva Peres 64 Revisão da Literatura 2.4.1.3. PPGCEM Método Sol-gel Protéico O processo sol-gel por dispersões coloidais usando precursores orgânicos é uma variante desse processo. O processo ainda é pouco difundido, pois existem poucos trabalhos divulgados na literatura. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará fazem uso do processo sol-gel protéico utilizando a gelatina comestível como precursor orgânico, já na Universidade Federal de Sergipe utiliza-se a água de coco. Outra variante do método sol-gel protéico está sendo estudada por outros pesquisadores, e utiliza-se da gelatina de peixe [MAIA, 2005; XU et al., 2004, TAN et al., 2002]. Neste contexto são citados alguns trabalhos que fazem uso desse método. Processo de fabricação de camadas finas óxidas utilizando a água de coco processada [MACÊDO, 1998], Processo e fabricação de pós nanoparticulados [MACÊDO & SASAKI, 2002]. 2.4.1.3.1. Gelatina A gelatina é uma proteína purificada, de origem animal, isolada através de hidrólise parcial das proteínas do colágeno, encontrada naturalmente [MEDEIROS, 2007]. Em geral, a gelatina é fabricada a partir de matérias primas que contêm um alto teor de colágeno, como pele suína, pele bovina e ossos de bovinos. O colágeno natural é uma escleroproteína baseada em uma cadeia de polipeptídeos que compreende aproximadamente 1050 aminoácidos. Três destas cadeias formam um helicóide triplo. A superposição de vários helicóides triplos produz as fibras de colágeno que são Ana Paula da Silva Peres 65 Revisão da Literatura PPGCEM estabilizadas por meio de ligações cruzadas e formam uma estrutura de rede tridimensional. Esta estrutura é responsável pela insolubilidade do colágeno, que através de uma hidrólise parcial bastante forte é transformado em colágeno solúvel, resultando ou em gelatina, ou em colágeno hidrolisado. Numa proteína, como mostrado na figura 2.6, os aminoácidos unem-se entre si através de ligações peptídicas que resultam da reação do grupo amina (NH2) de um aminoácido com o grupo carboxílico (COOH) de outro aminoácido [ARMSTRONG, 1983; CONN & STUMPF, 1980; LEHNINGER, 1995; MAIA, 2005]. Figura 2.6- Estrutura química de uma proteína (caso geral)[MAIA, 2005] Um terço dos aminoácidos do colágeno, e consequentemente da gelatina, é formado por glicina; outros 22% de prolina e hidroxiprolina e os restante 45% são distribuídos em 17 aminoácidos diferentes. Uma característica especial da gelatina é o seu alto teor em aminoácidos básicos e ácidos. Ana Paula da Silva Peres 66 Revisão da Literatura PPGCEM Neste trabalho, a cobaltita de níquel foi preparada por uma nova rota de síntese química similar ao método dos precursores poliméricos usando a gelatina comercial como precursor orgânico. Esta nova proposta de síntese foi desenvolvida com a finalidade de otimizar o processo reduzindo os custos e diminuindo o período de reação. No método Pechini tradicional utiliza-se dois agentes orgânicos, o ácido cítrico e o etilenoglicol, com funções de quelação e polimerização, respectivamente. Na nova proposta sugerida neste trabalho ocorre a substituição dos precursores orgânicos (ácido cítrico e etilenoglicol) pela gelatina que irá desempenhar os dois papéis, quelar e polimerizar. O processo apresenta algumas vantagens em relação ao método dos precursores poliméricos, tais como a diminuição da matéria orgânica produzida no final do processo e a redução do período de reação. Ana Paula da Silva Peres 67 CAPÍTULO 3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL Metodologia Experimental PPGCEM Este capítulo descreve a metodologia utilizada para síntese do óxido catalisador, as técnicas de caracterização empregadas, bem como as condições operacionais em que foram realizadas as análises. 3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL 3.1. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1.1. Materiais Os reagentes utilizados para a preparação do óxido NiCo2O4 por uma nova rota química de síntese usando a gelatina pura como precursor orgânico, em substituição ao ácido cítrico e etilenoglicol, são listados na tabela 3.1. Tabela 3.1- Procedência e Pureza dos reagentes utilizados. Reagentes Marca Teor (%) Co(NO3)2.6H2O Vetec 98-102 Ni(NO3)2.6H2O Vetec 97 Gelatina pura Nutragel 100 Ana Paula da Silva Peres 69 Metodologia Experimental 3.2. PPGCEM Síntese do catalisador NiCo2O4 Na figura 3.1 é mostrado o procedimento experimental utilizado para a preparação da amostra. Inicialmente, o procedimento consistiu em dissolver a gelatina pura em água destilada, a qual foi mantida sob agitação constante a uma temperatura de 40-50°C. Em seguida, adicionou-se o nitrato de cobalto à solução da gelatina pura e manteve-se o sistema sob agitação constante, enquanto a temperatura é aumentada para 60-70°C e mantido nessa temperatura por 20 minutos. O nitrato de níquel foi adicionado ao sistema e mantido sob agitação e temperatura constante a 70°C no mesmo intervalo de tempo. As quantidades de reagentes foram previamente calculadas usando a proporção mássica de 1:1,5 (pó precursor: gelatina). O sistema foi mantido a 70°C por 20 minutos resultando na formação de um gel polimérico que foi submetido a tratamento térmico num forno mufla para obtenção do pó precursor. O tratamento térmico desta amostra foi realizado a 350°C por 4 horas, a temperatura do sistema foi alcançada usando razão de aquecimento de 5°C/min. Em seguida, o material foi resfriado até a temperatura ambiente e logo após foi desaglomerado em almofariz de ágata. Após esse tratamento, o material precursor foi calcinado em diferentes temperaturas (550, 750 e 950°C) por 4 horas, usando razão de aquecimento de 5°C/min. A figura 3.2 apresenta, esquematicamente, a etapa de caracterização do catalisador. Ana Paula da Silva Peres 70 Metodologia Experimental PPGCEM Figura 3.1- Esquema de preparação do catalisador NiCo2O4 por uma nova rota química de síntese. Ana Paula da Silva Peres 71 Metodologia Experimental PPGCEM Figura 3.2- Esquema da caracterização do catalisador NiCo2O4 sintetizado por uma nova rota química. Ana Paula da Silva Peres 72 Metodologia Experimental 3.3. PPGCEM Método de Caracterização do catalisador 3.3.1. Difração de raios-X A identificação das fases cristalinas presentes na amostra tratada termicamente e nas amostras calcinadas foram realizadas através da análise de difração de raios-X pelo método do pó. Os difratogramas de raios-X foram obtidos em um difratômetro XRD-6000 da Shimadzu utilizando CuKα como fonte de radiação, filtro de níquel e 2θ na faixa de 10 a 80°, passo de 0,02 e tempo de contagem por passo de 2°/min. O percentual das fases NiCo2O4 e NixCo1-xO, os tamanhos de cristalitos, indicadores para o refinamento e parâmetro de rede foram determinados mediante refinamento pelo método Rietveld [RIETVELD, 1969], tendo sido usado o programa computacional MAUD versão 2.26. O programa Maud utiliza os parâmetros “Sig” e “R-WP” como referência ao grau de ajuste do padrão utilizado aos resultados experimentais da difração de raios-X da amostra. Segundo especificações do programa, ao fim do processo de refinamento, estes parâmetros devem apresentar valores característicos para que o processo seja considerado aceito. O valor do parâmetro de “Sig” deve estar entre 1 e 2 sendo considerado melhores resultados aqueles mais próximos de 1. Já o parâmetro “R-WP” deve assumir valores entre 10 e 20 sendo melhores resultados aqueles mais próximos de 10. No intuito de se obter os melhores resultados, o programa MAUD permite que se altere a distribuição dos cátions na rede do padrão utilizado, a fim de que esta distribuição mais se aproxime da distribuição da amostra refinada. Este procedimento Ana Paula da Silva Peres 73 Metodologia Experimental PPGCEM permite que possa se estimar a distribuição dos cátions na rede cristalográfica da amostra. As fases cristalinas presentes na amostra foram identificadas usando o banco de dados JCPDS (Joint Committee on Powder Diffraction Standards). 3.3.2. Análise Termogravimétrica A curva termogravimétrica da amostra pré-tratada termicamente a 350°C foi obtida em uma termobalança TGA 50 da Shimadzu, na faixa de 30 a 900°C, com razão de aquecimento de 5°C/min e vazão de 50mL/min. em atmosfera de ar utilizando cerca de 5 mg de amostra. 3.3.3. Área Superficial Específica A área superficial específica das amostras calcinadas em diferentes temperaturas (350, 550, 750 e 950°C) foi determinada em um analisador Quanta Chrome NOVA 2000. Para as análises foram usadas cerca de 200 mg de cada amostra. Para determinação da área total utilizou-se o método desenvolvido por Brunauer, Emmett e Teller (BET) de adsorção de nitrogênio na superfície da amostra. Antes da análise, as amostras foram submetidas, no próprio equipamento, em uma conexão de vácuo para eliminação de umidade e logo após é feita (desgaseificação ou DEGASretirada de gases adsorvidos) a 200°C com pressão de entrada do gás de 10psi. Ana Paula da Silva Peres 74 Metodologia Experimental PPGCEM 3.3.4. Microscopia Eletrônica de Varredura A morfologia das amostras calcinadas em diferentes temperaturas (350, 550, 750 e 950°C) foi observada através de um microscópio eletrônico de varredura da PHILIPS modelo XL-30 ESEM. Para preparação das amostras, as mesmas foram aderidas à porta amostra por meio de uma fita de carbono fina. As análises foram realizadas com ampliações de faixa 5000 a 20000 vezes. 3.3.5. Redução a temperatura programada A amostra NiCo2O4 em todas as temperaturas de tratamento térmico (350, 550, 750 e 950°C) foi caracterizada pela técnica de redução a temperatura programada em um analisador Micromeritics, modelo AutochemII 2920 denominado de sistema automático de caracterização de catalisadores. As medidas foram feitas usando aproximadamente 25 mg da amostra em duas etapas. A primeira consistiu em aquecer a amostra a 10°C/min até 150°C sob fluxo de 50 mL/min de N2 e mantido nessa temperatura por 15 minutos para eliminar água de adsorção superficial. Em seguida a temperatura foi reduzida para 50°C. Ao alcançar essa temperatura, o gás N2 foi substituído por uma mistura gasosa de 10% de H2/N2 mantendo a mesma vazão (50mL/min) e a amostra foi aquecida a 10°C/min até atingir 1000°C ficando isotermicamente por 30 minutos. Ana Paula da Silva Peres 75 Metodologia Experimental PPGCEM 3.3.6. Ensaio Catalítico O espinélio NiCo2O4 preparado foi submetido a ensaio catalítico para verificação do comportamento do mesmo quanto à estabilidade frente à reação de oxidação parcial do metano. 3.3.6.1. Equipamento Utilizado O teste catalítico foi realizado em uma unidade de avaliação catalítica para produção do gás de síntese disponível no Laboratório de Processamento de Gás (LPG) do Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis, o esquema está ilustrado na figura 3.3. Ana Paula da Silva Peres 76 Metodologia Experimental PPGCEM Figura 3.3- Esquema da linha reacional para oxidação parcial do metano. Em que, HV 8015 e 8013 são válvulas; V 8000 e V 8001 são vasos condensadores; PI 8016 é um indicador de pressão; PCV 8016 é uma válvula para controle de pressão e CG é o cromatógrafo. Ana Paula da Silva Peres 77 Metodologia Experimental 3.3.6.2. PPGCEM Procedimento Experimental A operação da linha de ensaio catalítico pode ser resumidamente descrita da seguinte forma: utilizou-se um pequeno reator tubular de leito fixo, construído em aço inoxidável colocando em sua base lã de quartzo para evitar a passagem do material para a parte inferior do reator. Foram pesados 100mg do catalisador a ser testado, o qual foi diluído com a proporção 10:1 (quartzo: catalisador), sendo utilizado o quartzo com granulometria retida na malha de 100 Mesh. A ativação foi feita com uma taxa de aquecimento de 10°C/min até a temperatura de 900°C, permanecendo nesta condição por 2 horas. Após a redução, a temperatura era ajustada para temperatura de reação (800°C). Na tabela 3.2 é mostrada as condições de operação do reator. Tabela 3.2- Condições operacionais do reator utilizadas na reação de oxidação parcial do metano. Condições Valores Temperatura de ativação 900°C Temperatura de reação 800°C Pressão na cabeça do reator 1 atm Fluxo de alimentação do metano 334mL/min Fluxo de alimentação do oxigênio 166mL/min Tempo de reação 18h Ana Paula da Silva Peres 78 Metodologia Experimental PPGCEM 3.3.6.2.1. Oxidação Parcial do Metano O ensaio de oxidação parcial do metano foi realizado nas amostras tratadas termicamente a 550 e 750°C com alimentação de metano puro (temperatura e pressão ambientes) a uma vazão de 334 mL/min e de oxigênio a uma vazão de 166 mL/min. A relação de alimentação CH4/O2 adotada foi 2. Inicialmente, o sistema foi purgado com nitrogênio com vazão de 200 mL/min durante aproximadamente 30 minutos para a retirada de oxigênio no sistema. O monitoramento cromatográfico era feito a cada 15 minutos. Logo após, mudou-se o fluxo para hidrogênio na mesma vazão anterior com velocidade espacial de 120 SL/hr/g-cat) com rampa de aquecimento de 10°C/min até a temperatura de 900°C, mantendo o patamar de ativação de 2 horas. Posteriormente, mudou-se a corrente gasosa de hidrogênio para nitrogênio mantendo-se a mesma vazão e reduzindo a temperatura do sistema para 800°C. Após a estabilização da temperatura em 800°C e comprovada a retirada do hidrogênio por análise cromatográfica iniciou-se o procedimento de ajuste da carga (CH4: O2) sem passar pelo reator para proteger o catalisador do contato com o oxigênio uma vez que as vazões da carga estava correta, o mesmo foi alinhado ao reator. O ensaio foi realizado por um tempo de 18 horas. O cálculo de conversão total do metano foi realizado por balanço de carbono, considerando desprezíveis as quantidades retidas na forma de coque, sendo verificado através da análise termogravimétrica. Desta forma, o cálculo se baseou no balanço de carbono no reator, no qual todo o carbono admitido ao sistema como metano saia como dióxido de carbono, monóxido de carbono ou metano não reagido, o que leva à fórmula de conversão abaixo. Ana Paula da Silva Peres 79 Metodologia Experimental 0 PPGCEM s X % = nCH 4 − nCH 4 x 100 nCH 4 (equação 3.1) 0 onde: X%= conversão total de metano em porcentagem; CH4s= número de mols de metano que sai do reator; CH40= número de mols de metano admitida no reator, que por balanço de carbono pode ser determinada pela equação 3.2. 0 s nCH 4 = nCH 4 + nCO s + nCO 2 s (equação 3.2) onde: COs= número de mols de monóxido de carbono que sai do reator; CO2s= número de mols de dióxido de carbono que sai do reator. De acordo com o balanço de carbono, a seletividade dos produtos para CO e CO2 pode ser representada por estas reações que seguem abaixo. % CO = 100 x nCO s s nCO + nCO2 Ana Paula da Silva Peres (equação 3.3) s 80 Metodologia Experimental % CO2 = 100 x nCO2 PPGCEM s (equação 3.4) s nCO + nCO2 s De acordo com o balanço de H2, a seletividade dos produtos para H2 e H2O pode ser descrito a seguir pelas equações 3.5 e 3.6. % H 2 = 100 x nH 2 s s nH 2 + nH 2 O % H 2 O = 100 x (equação 3.5) s nH 2 O s s nH 2 + nH 2 O (equação 3.6) s onde, nH2S= número de mols de hidrogênio que sai do reator; nH2OS= número de mols de água que sai do reator Ana Paula da Silva Peres 81 CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Resultados e Discussão PPGCEM 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Análise Termogravimétrica A análise termogravimétrica foi realizada com o precursor do catalisador, para identificar as temperaturas em que ocorrem as transformações durante a etapa de calcinação. As curvas termogravimétricas da gelatina pura utilizada na síntese e do NiCo2O4 a 350°C obtido através de uma rota química são mostradas nas Figuras 4.1 e 4.2, respectivamente. A decomposição da gelatina (consiste de glicina, prolina e hidroxiprolina) ocorre em três etapas distintas. A primeira etapa de decomposição 25180°C está associada com a umidade (água de hidratação). A segunda ocorre na faixa de 180-400°C pode ser atribuída à eliminação dos fragmentos de aminoácidos, usualmente prolina, a qual é termodinamicamente susceptível a degradação térmica em atmosfera oxidante [MENEZES et al., 2007]. A última etapa de decomposição térmica ocorre na faixa de temperatura de 400-640°C que pode estar associada à degradação da glicina. Após 640°C a fração orgânica remanescente é totalmente eliminada. Ana Paula da Silva Peres 83 Resultados e Discussão PPGCEM 100 Perda de massa (%) 80 60 40 20 0 111.9 193.1 276.8 360.3 443.6 528.3 611.9 695.4 778.3 Temperatura(°C) Figura 4.1- Curva termogravimétrica da gelatina pura. Na Figura 4.2 é mostrada a curva termogravimétrica do NiCo2O4 pré-calcinado a 350°C. Observam-se três etapas de perda de massa. A primeira ocorre na faixa de temperatura de 25-380°C, sendo atribuída a perda de moléculas de água. A segunda etapa ocorre na faixa de 380-550°C, o qual é observado um pequeno ganho de massa atribuído as reações de oxidação, devido à atmosfera oxidante do ar. A última etapa na faixa de 550-830°C pode está relacionada à eliminação de resíduos de carbono, assim como decomposição dos nitratos provenientes da rota de síntese utilizada. Os resultados mostram máxima perda de massa até 830°C, de aproximadamente 4%. Pode-se sugerir que praticamente toda matéria orgânica foi eliminada no tratamento térmico utilizado (350°C), ocorrendo a reação de combustão no próprio forno (mufla), que pode estar relacionado à decomposição desses constituintes orgânicos, devido ao longo período de reação (4 horas). Ana Paula da Silva Peres 84 Resultados e Discussão PPGCEM 100 Perda de Massa/ % 98 96 94 92 90 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Temperatura/ °C Figura 4.2- Curva termogravimétrica do precursor NiCo2O4 pré-calcinado a 350°C/4h. Ana Paula da Silva Peres 85 Resultados e Discussão 4.2. PPGCEM Difração de raios X A análise de DRX da amostra calcinada em diferentes temperaturas (350, 550, 750 e 950°C) é mostrada na Figura 4.3. É possível observar que para todas as amostras o tratamento térmico utilizado foi suficiente para a formação da estrutura espinélio do tipo NiCo2O4. ♦ • (d) • NiCo2O4 Iexp. ♦ NixCo1-xO NiCo2O4, NixCo1-xO ♦ • • • • • • (c) • • Iexp. NiCo2O4, NixCo1-xO Intensidade/ cps ♦ • • • ♦ • • • • • (b) Iexp. NiCo2O4, NixCo1-xO • ♦ • • • (a) • • ♦• • Iexp. NiCo2O4, NixCo1-xO • • • 10 20 30 40 • • ♦ • • 50 ♦ 60 70 2θ Figura 4.3- Difratogramas de raios X do NiCo2O4 calcinados a (a) 350, (b) 550, (c) 750 e (d) 950°C. Os picos de difração característicos da estrutura espinélio foram indexados e estão de acordo com a fase NiCo2O4 segundo ficha padrão (JCPDS 20-0781). No entanto, além dos picos correspondentes à estrutura espinélio, linhas de difração de Ana Paula da Silva Peres 86 Resultados e Discussão PPGCEM NiO (JCPDS 65-2901) foram detectadas. Entretanto, o deslocamento observado na posição dos picos referente a esta fase, sugere a formação de uma solução sólida NixCo1-xO, em decorrência do parâmetro de rede da solução sólida apresentar um valor maior do que a fase NiO pura. O parâmetro de rede da solução sólida varia de a= 4,168Å a 4,221Å, já o da fase NiO o valor de a= 4,178Å. Uma análise mais detalhada de todo o difratograma indicou pequenas discrepâncias de posição, o que pode ser explicado a existência da solução sólida. Entretanto, esta suposição é de difícil confirmação visto que estas fases apresentam padrões de difração muito semelhantes e a sobreposição de picos dificulta uma identificação precisa. Nota-se que no material pré-calcinado a 350°C já se observa linhas de difração característica da fase espinélio de estrutura cúbica (JCPDS 20-0781), sendo o pico de maior difração centrado em 36,7°. As fases identificadas, as estruturas cristalinas e as fichas JCPDS utilizadas para a comparação são ilustradas na Tabela 4.1. Tabela 4.1- Fases identificadas, estruturas cristalinas e fichas JCPDS. Ficha JCPDS Fase Estrutura Cristalina 20-0781 NiCo2O4 Cúbica 65-2901 NiO Cúbica CABO et al., 2009 observaram a presença da fase NiO junto com a fase NiCo2O4 nos materiais calcinados a 550°C. As principais reflexões da estrutura NiO de fase cúbica estão locadas em 2θ= 43,4° e 2θ= 63,0°, respectivamente. A decomposição parcial do espinélio em NiO é conhecido e ocorre em temperaturas acima de 400-500°C [VERMA, et al., 2008; KOBAYASHI, et al., 2008]. Em todos os casos, o parâmetro de rede da fase NiCo2O4 é ligeiramente maior que o valor catalogado Ana Paula da Silva Peres 87 Resultados e Discussão PPGCEM (a= 8,114 Å). A diferença é aproximadamente 0,15% e pode ser atribuída à natureza nanocristalina das partículas formadas que afeta o deslocamento dos picos e a composição química [ZHANG, et al., 2002]. Além disso, a formação da fase NiO contribui para um espinélio deficiente em níquel, resultando na distorção da rede da estrutura espinélio ideal. VERMA et al., 2008 mostraram a formação de uma fase espinélio homogênea, o que corrobora também com o padrão simulados para NiCo2O4 (a= 8,11Å, JCPDS 20-0781). Para a amostra tratada a 500°C, reflexões adicionais são observadas no padrão de difração de raios X, e estes são devidos à formação de nanopartículas de NiO, devido a decomposição parcial do espinélio NiCo2O4. A amostra inicia a decompor-se acima de 400°C para formar NiO como uma fase de impureza. Os valores dos parâmetros de rede para as amostras calcinadas a 200 e 300°C foram de 8,13Å e 8,12Å, respectivamente, e são ligeiramente maiores que o valor reportado anteriormente (8,11Å). Este efeito pode ser atribuído a natureza nanocristalina dos pós formados, como foi reportado anteriormente para alguns casos [ZHANG et al., 2002]. O valor do parâmetro de rede calculado para o material a 500°C é (a= 8,11Å), onde há uma pequena mudança de 0,12% da estequiometria das partículas NiCo2O4. Isto implica que a formação da fase NiO pode ser acompanhada pela formação de nanopartículas ricas em cobalto não estequiométrico, resultando em uma distorção da rede cristalina da estrutura espinélio ideal. MANDZHUKOVA et al., 2009 revelaram que os padrões de difração apresentaram a formação de duas fases cúbicas, uma do tipo rocksalt de grupo espacial Fm3m e outra do tipo espinélio de grupo espacial Fd3m. O valor do parâmetro de rede da fase espinélio (a= 8,114Å) corresponde ao NiCo2O4 (JCPDS 73-1702). Ana Paula da Silva Peres 88 Resultados e Discussão PPGCEM O parâmetro de rede da fase rocksalt é a= 4,201Å, um valor um pouco maior que (a= 4,177Å) de ficha padrão (JCPDS 78-0429) indicando que a fase provavelmente contém algumas espécies de cobalto. Para a amostra calcinada a 550°C, verifica-se um aumento na intensidade dos picos referentes a ambas as fases, quando comparadas ao material obtido a baixa temperatura. Os difratogramas do material calcinado a 750°C revelam a diminuição da fase espinélio NiCo2O4 e aumento da solução sólida NixCo1-xO. Este fato pode ser explicado devido à segregação do níquel e algumas espécies de cobalto da fase espinélio para a solução sólida. Com o aumento da temperatura de calcinação foi observado também uma maior definição dos picos referentes à fase NixCo1-xO, enquanto que os picos atribuídos ao NiCo2O4 diminuíram consideravelmente. CABO et al., 2009 concluíram que houve formação da estrutura NiCo2O4 monofásica em baixas temperaturas (375°C), considerando que as fases NiCo2O4 e NiO foram formadas na temperatura de calcinação de 550°C. Em todos os casos, NiCo2O4 decomposto para NiO, produzindo quantidades de impurezas em torno de 7-10% em peso. A confirmação das fases espinélio e da solução sólida NixCo1-xO, assim como a determinação do tamanho médio de cristalito foram feitos mediante refinamento pelo método Rietveld. Através do tratamento dos dados de raios X pela técnica de refinamento Rietveld é possível extrair informações detalhadas sobre os parâmetros das estruturas cristalinas obtidas. A análise por Rietveld confirmou a formação da fase espinélio NiCo2O4 do tipo cúbica de grupo espacial Fd3m para todas as amostras calcinadas. No entanto, também se confirmou a formação da solução sólida NixCo1-xO. Inicialmente, a microficha do NiO foi alterada adicionando ao sítio do níquel a espécie de cobalto, Ana Paula da Silva Peres 89 Resultados e Discussão PPGCEM sendo incorporados na estrutura, indicando a formação de uma estrutura mais complexa, com composição (Ni= 0,7 e Co= 0,3), formando uma solução sólida. As Tabelas 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5 apresentam os indicadores para o refinamento (R-W e Sig), as quantidades de cada fase, tamanho médio de cristalitos e os parâmetros de rede, respectivamente. É verificado que com o aumento da temperatura de tratamento térmico, um aumento no tamanho de cristalito é esperado. Os tamanhos médio de cristalitos variaram em função do tratamento térmico, sendo exibido um maior valor para a solução sólida na amostra tratada a 750°C. NO material calcinado a 950°C, ocorre diminuição no tamanho de cristalitos para ambas as fases, que pode estar relacionado possivelmente com o início de sinterização. É observado átomos de níquel e algumas espécies de cobalto da estrutura espinélio (NiCo2O4) possivelmente segregaram para a solução sólida NixCo1-xO. Em relação aos parâmetros de rede das fases identificadas foi observada uma ligeira alteração. Esta diferença pode estar atribuída à natureza nanocristalina das partículas formadas [ZHANG et al., 2002; CABO et al., 2009]. Conforme reportado por SOARES et al., 2005 e MACEDO et al., 2002, existe uma dependência entre o tamanho médio de cristalito e a temperatura de calcinação. Um aumento da temperatura causa um aumento do tamanho de partícula de cristalito, como consequência direta do processo de sinterização das partículas. Ana Paula da Silva Peres 90 Resultados e Discussão PPGCEM Tabela 4.2- Indicadores de refinamento obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras. Amostras Indicadores R-W Sig 350°C 14,28 1,11 550°C 14,51 1,13 750°C 15,09 1,16 950°C 16,59 1,28 Tabela 4.3- Quantidades de fases obtidas pelo método Rietveld para todas as amostras. Amostras Quantificação de fase (%) NiCo2O4 NixCo1-xO 350°C 80,1 19,9 550°C 81,8 18,2 750°C 67,8 32,2 950°C 25,2 74,8 Ana Paula da Silva Peres 91 Resultados e Discussão PPGCEM Tabela 4.4- Tamanhos médio de cristalitos obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras. Amostras Tamanho de cristalitos (nm) NiCo2O4 NixCo1-xO 350°C 23,5 20,3 550°C 32,9 22,9 750°C 118,3 142,0 950°C 99,9 105,1 Tabela 4.5- Parâmetros de rede obtidos pelo método Rietveld para todas as amostras. Amostras Parâmetros de rede (Å) NiCo2O4 NixCo1-xO 350°C 8,116 4,168 550°C 8,110 4,178 750°C 8,094 4,196 950°C 8,082 4,221 Ana Paula da Silva Peres 92 Resultados e Discussão 4.3. PPGCEM Microscopia Eletrônica de Varredura As micrografias das amostras calcinadas a 350, 550, 750 e 950°C são ilustradas nas Figuras 4.4 a 4.9. Na amostra tratada a 350°C, de uma forma geral, é observada homogeneidade na distribuição dessas partículas, revelando uma superfície irregular, resultantes da intensa eliminação de gases e formação do composto durante a reação de síntese. No material tratado termicamente a 550°C, verificou-se a existência de plaquetas irregulares e elevada porosidade. Na amostra calcinada a 750°C, as micrografias apresentam regiões com partículas finas de características nanométricas de tamanho na faixa de 0,1-0,2 µm. Com o aumento da temperatura de calcinação, pode-se verificar que as placas dão lugar a partículas com tamanhos homogêneos. Na amostra calcinada a 950°C, é possível verificar a presença de partículas esferoidizadas, homogeneidade e distribuição uniforme no tamanho de partículas, com porosidade intergranular. Observou-se um aumento no tamanho de partículas, foi evidenciado a formação de pescoço e a diminuição de quantidade de vazios, ambos relacionados com ao início de sinterização observada. Ana Paula da Silva Peres 93 Resultados e Discussão PPGCEM Figura 4.4- Micrografia do catalisador calcinado a 350°C. Figura 4.5- Micrografia do catalisador calcinado a 550°C. Ana Paula da Silva Peres 94 Resultados e Discussão PPGCEM Figura 4.6- Micrografia do catalisador calcinado a 750°C. Figura 4.7- Micrografia do catalisador calcinado a 750°C. Ana Paula da Silva Peres 95 Resultados e Discussão PPGCEM Figura 4.8- Micrografia do catalisador calcinado a 950°C. Figura 4.9- Micrografia do catalisador calcinado a 950°C. Ana Paula da Silva Peres 96 Resultados e Discussão 4.4. PPGCEM Área Superficial Específica Os resultados de área superficial específica, apresentados na Tabela 4.6, sugerem influencia relacionada com o efeito da temperatura de tratamento térmico, Outro fator importante que deve ser levado em consideração é a quantidade de gases gerados durante a decomposição dos nitratos e da gelatina, como também dos gases liberados durante a calcinação, provenientes dos resíduos da reação de combustão da matéria orgânica. De uma forma geral, o aumento do tempo de calcinação diminuiu a área superficial dos materiais. As amostras calcinadas a 350 e 550°C obtiveram maiores valores de área superficial, o qual está relacionado à presença de matéria orgânica remanescente. No material tratado termicamente a 950°C, é observado o início de sinterização, levando à redução do valor da área superficial. Tabela 4.6- Resultados da área superficial específica para todas as amostras. Catalisador NiCo2O4 Área superficial (m2/g) 350°C 28 550°C 37 750°C 9 950°C 7 Ana Paula da Silva Peres 97 Resultados e Discussão 4.5. PPGCEM Redução a Temperatura Programada Os perfis de redução à temperatura programada do catalisador NiCo2O4 calcinado em diferentes temperaturas 350, 550, 750 e 950°C são apresentados na Figura 4.10 e mostram bandas de consumo de hidrogênio, resultantes da superposição de picos de redução que, ao serem decompostos, fornecem informações sobre o número de fases redutíveis presentes. Estes resultados mostram, inicialmente, que o tratamento térmico usado foi capaz de decompor todo o nitrato proveniente do sal precursor, pois não se observou a existência de picos em temperaturas menores que 300°C [SANTOS et al., 2005]. Para as amostras tratadas a 350 e 550°C, os perfis de redução exibiram comportamento semelhante. É possível observar a presença de um pico com máximo a aproximadamente 350°C, sendo atribuído à redução das espécies Ni2+ para Ni0 da estrutura espinélio (NiCo2O4). Estes dados foram comparados com os resultados de difração de raios X, para melhor compreensão dos processos envolvidos. No material a 750°C, verificou-se o aparecimento de um ombro em 470°C, que pode ser referente à redução das espécies Ni2+ para Ni0 da solução sólida NixCo1-xO. Na amostra calcinada a 950°C, o primeiro pico apresentou-se bastante alargado, indicando a presença de mais picos superpostos, além da redução de espécies Ni2+ para Ni0 da fase espinélio, possivelmente pode estar se reduzindo as espécies de Ni2+ para Ni0 da solução sólida, sendo deslocado para menores temperaturas em relação ao material tratado a 750°C. O segundo pico de redução que ocorre em 755,5°C, possivelmente pode ser correspondente a redução parcial de espécies Co3+ para Co2+ da fase espinélio e Co2+ para Co0 de ambas as fases. Ana Paula da Silva Peres 98 Resultados e Discussão +2 +2 +2 0 Ni → Ni NixCo1-xO 0 Ni → Ni NiCo2O4 (d) +3 +2 Co → Co +2 0 Co → Co NiCo2O4 +2 0 Co → Co NixCo1-xO (c) 0 Ni → Ni NiCo2O4 Consumo de H2/ u.a. PPGCEM +2 0 Ni → Ni NixCo1-xO +2 0 +2 0 Ni → Ni NiCo2O4 (b) (a) Ni → Ni NiCo2O4 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Temperatura/ °C Figura 4.10- Perfis de redução a temperatura programada do catalisador calcinado em diferentes temperaturas (a) 350, (b) 550, (c) 750 e (d) 950°C. Estudos anteriores de TPR demonstraram que o cobalto em diferentes ambientes sofre uma redução em diferentes temperaturas. A temperatura na qual ocorre redução do cobalto é fortemente influenciada não só pelo estado de oxidação do cobalto, mas também pela natureza dos cátions metálicos vizinhos e/ ou fases de óxido de metal [HARRISON et al., 2003]. Ana Paula da Silva Peres 99 Resultados e Discussão 100 PPGCEM 100 1° Pico 2° Pico 90 90 550°C 80 950°C 350°C 70 80 70 60 60 50 50 40 40 30 30 750°C 950°C 20 550°C % NiCo2O4 % NixCo1-xO 750°C 20 350°C 10 10 0 0 1 10 100 -1 Consumo de H2/ mL. g Figura 4.11- Comparação do consumo de H2 para as fases NiCo2O4 e NixCo1-xO presente no precursor catalítico em todas as temperaturas de tratamento térmico para os 1 e 2° picos de redução. Na Figura 4.11 é considerado que o consumo de hidrogênio no primeiro pico é relacionado à redução das espécies Ni2+ para Ni0 da fase espinélio, enquanto que o segundo pico foi relacionado à redução das espécies Ni2+ para Ni0 da solução sólida NixCo1-xO. No primeiro pico de redução, referente à redução das espécies Ni2+ para Ni0 da fase espinélio, a amostra calcinada a 750°C apresentou um consumo de hidrogênio de 301 mL/gcatalisador, próximo ao da amostra tratada a 550°C que ficou em torno de 293 mL/gcatalisador. O consumo de hidrogênio do primeiro pico na amostra calcinada a 350OC foi superior e o mesmo diminui com a redução de % da fase espinélio. Enquanto isso, o consumo de hidrogênio a temperaturas maiores (segundo pico) aumenta proporcionalmente com o aumento percentual da fase de solução sólida (NixCo1-xO) o Ana Paula da Silva Peres 100 Resultados e Discussão PPGCEM que esta diretamente ligado à temperatura de calcinação, favorecendo a conversão catalítica para a amostra tratada a 750°C. Ana Paula da Silva Peres 101 Resultados e Discussão 4.6. PPGCEM Oxidação Parcial do Metano O precursor catalítico NiCo2O4 calcinado a 550 e 750°C foram testados na reação de oxidação parcial do metano à temperatura de 800°C. Conversão de CH4, seletividade para CO e CO2 e razão H2/CO foram acompanhados em função do tempo de reação. Os resultados são apresentados nas Figuras de 4.12 a 4.15. CLARIDGE et al., 1993 sugeriram que a maior parte da deposição de carbono é provável que seja proveniente da decomposição de metano. Pode ser observado que diminui o coque com proporções crescentes de cobalto. O cobalto é conhecido por ser um bom catalisador de oxidação para fuligem [HARRISON et al., 2003], e acredita-se que sua presença leva a uma diminuição na taxa de formação de coque, catalisando a oxidação da superfície carbono para CO e CO2. De acordo com a Figura 4.12, o percentual de conversão do metano para o catalisador NiCo2O4 calcinado a 550°C foi de aproximadamente 25% e a razão H2/CO= 1. No entanto, para o catalisador tratado termicamente a 750°C, a conversão ficou em torno de 75% e a razão H2/CO= 2. Os catalisadores apresentaram estabilidade durante as 18 horas de reação, não evidenciando sinais de desativação. É possível observar que a conversão de CH4 apresentou maior valor para a amostra calcinada a 750°C em torno de 75%, isto pode estar ocorrendo devido ao maior número de espécies ativas de níquel disponível do que no precursor catalítico tratado a 550°C. A presença da solução sólida pode favorecer o aumento da conversão, pois a quantidade desta fase era de aproximadamente 18% na amostra calcinada a 550°C e 32% na amostra tratada a 750°C. O aumento da conversão de CH4 Ana Paula da Silva Peres 102 Resultados e Discussão PPGCEM para o catalisador calcinado a 750°C sugere que o mesmo continua sendo ativado durante as primeiras horas de reação. 80 Conversمo de CH4/ % 70 550°C 750°C 60 50 40 30 20 10 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo/ h Figura 4.12- Conversão de CH4 versus tempo de reação para o NiCo2O4 calcinado a 550 e 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C. A redução parcial dos óxidos contendo níquel pode promover melhor dispersão e controle do tamanho de partícula da espécie ativa. É de se esperar que os níveis de conversão de metano obtidos durante a reforma catalítica estejam associados ao teor de níquel reduzido. Entretanto, teores elevados de níquel reduzido podem facilitar à sinterização e crescimento de partícula conduzindo a formação de carbono e consequentemente à desativação do catalisador. Para os precursores catalíticos tratados a 550 e 750°C, a seletividade para CO atingiram valores iniciais próximos a 60 e 70%, respectivamente (Figura 4.13 e 4.14). Observou-se para o material a 750°C, que a partir de 8h de reação, essa seletividade aumentou para 85%. Como esperado que o perfil das curvas de seletividade para CO e Ana Paula da Silva Peres 103 Resultados e Discussão PPGCEM CO2 é oposto, com aumento da seletividade de CO ocorre uma diminuição da seletividade de CO2 em função do incremento da conversão de metano. Esta relação entre as seletividades de CO e CO2 sugere a ocorrência de reações que propiciem a obtenção de um deles em função do consumo do outro. Desta forma é presumível a ocorrência da reação de deslocamento gás-água (CO + H2O ↔ CO2 + H2, equação 2.2) e/ou da reação de Boudouard (2CO C + CO2, equação 2.4), ambas termodinamicamente favoráveis a baixas temperaturas, consequentemente as reações reversas são favorecidas em altas temperaturas, podendo assim justificar o aumento da seletividade de CO de 70% para 85% após 8 horas de reação. Esse aumento também pode estar relacionado à estabilidade do catalisador, pois quando o mecanismo ocorre via duas etapas para a produção do gás de síntese é esperado que ao longo do tempo reacional, a formação de CO aumente e de CO2 diminua, até a estabilização de ambos. 100 Seletividade CO Seletividade CO2 Seletividade/ % 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo/ h Figura 4.13- Seletividade para CO e CO2 versus tempo de reação para o NiCo2O4 a 550°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800° Ana Paula da Silva Peres 104 Resultados e Discussão PPGCEM 100 Seletividade CO Seletividade CO2 Seletividade/ % 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Tempo/ h Figura 4.14- Seletividade para CO e CO2 versus tempo de reação para o NiCo2O4 a 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C. É possível estabelecer uma relação entre os níveis observados de conversão de metano e o teor de níquel reduzido e, consequentemente entre a estabilidade da estrutura e o método de preparação. Maior quantidade de níquel reduzido pode significar maior quantidade de sítios ativos, mas também maior possibilidade de sinterização levando ao crescimento das partículas da espécie ativa. Por isso é importante que o níquel tenha uma forte interação com as espécies de cobalto no espinélio ou na solução sólida. Os resultados da amostra calcinada a 750°C mostram que a razão H2/CO foi em torno de 2 (Figura 4.15), razão adequada para ser insumo na reação de síntese de Fischer-Tropsch. Como a reação de oxidação parcial pode estar ocorrendo via mecanismo dois passos uma parte do metano é consumido durante a combustão, seguida da reação reversa de deslocamento gás-água que provavelmente acompanha as reações de reforma. A deposição de carbono na superfície do precursor catalítico Ana Paula da Silva Peres 105 Resultados e Discussão PPGCEM pode se dá pelo desproporcionamento do monóxido de carbono ou pela decomposição catalítica do metano. 2CO ↔ C + CO2 ∆H=-171kJ/mol (equação 2.4) CH4 C + 2H2 ∆H=+75kJ/mol (equação 2.5) 2,2 2,0 550°C 750°C Razمo H2/ CO 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Tempo/ h Figura 4.15- Razão H2/CO versus tempo de reação para o NiCo2O4 calcinado a 550 e 750°C sintetizado por uma rota química. Treação= 800°C. Os resultados de seletividade para CO, CO2 e a razão H2/CO podem ser explicados pelo mecanismo da reação de oxidação parcial do metano, conforme sugerido por MATTOS et al., 2002 e apresentado nas reações 2.23, 2.8 e 2.1. Inicialmente, ocorre a combustão completa do metano com formação de H2 e CO. Na segunda etapa, há a formação do gás de síntese (mistura de H2O e CO2) a partir das reações de reforma com CO2 e a reforma a vapor do metano não reagido na primeira etapa do processo. Por isso que ao longo do tempo, a quantidade de CO aumenta até estabilizar e a de CO2 apresenta o perfil oposto. Ana Paula da Silva Peres 106 Resultados e Discussão PPGCEM - Primeira etapa: CH4 + 2O2 CO2 + 2H2O (equação 2.23) - Segunda etapa: CH4 + CO2 2CO + 2H2 (equação 2.8) CH4 + H2O CO + 3H2 (equação 2.1) Havendo formação excessiva de coque, a segunda etapa do processo é inibida ocorrendo apenas à formação de dióxido de carbono e H2O. Desta maneira, quando altos valores de seletividade para a formação de CO2 são obtidos, significa que a segunda etapa da reação está sendo prejudicada. No caso da amostra em estudo, verificou-se alta seletividade para a formação de CO enquanto que para CO2 foram encontrados baixos valores, indicando que não ocorreu desativação por formação de coque na amostra. Os resultados do presente trabalho mostram que as espécies de níquel metálico são as principais responsáveis pela reação de reforma, ou seja, a produção de H2 e CO e a menos que o catalisador esteja reduzido, o consumo de O2 e CH4 não é observado. Entretanto, sugere-se que a existência de espécies de oxigênio parcialmente oxidadas é necessária para o mecanismo de reação. Ana Paula da Silva Peres 107 Resultados e Discussão PPGCEM JIN et al., 2000 estudaram o mecanismo da reação de oxidação parcial do metano para catalisadores Ni/α-Al2O3. Os autores observaram que, sobre o catalisador reduzido (Ni0/Al2O3), a ativação do metano segue o mecanismo de dissociação, enquanto, sobre catalisadores oxidados (NiO/Al2O3), o metano é primeiramente oxidado a dióxido de carbono e água e, simultaneamente, o NiO é reduzido a Ni0. A dissociação do CH4 ocorre sobre sítios ativos de Ni0, gerando H2 e espécies superficiais de carbono. Os autores observaram um processo transiente durante a reação de CH4 e O2. O estado de oxidação do níquel passava de NiO para Ni0 em certa temperatura crítica, e simultaneamente, a reação passava rapidamente de oxidação total do metano para oxidação parcial. Os autores ainda consideram as espécies de Ni0, como sendo os sítios ativos para a oxidação parcial do CH4. Tanto CH4 quanto O2 são ativados nos sítios de Ni0, gerando espécies superficiais do tipo Ni.....C e Niδ+.....Oδ-. Os autores consideram também a formação destas duas espécies, como sendo parte do mecanismo da reação de oxidação parcial. A espécie Niδ+.....Oδ- sobre a superfície de Ni0, fracamente adsorvidas são espécies móveis de oxigênio. A reação entre os intermediários Niδ+.....Oδ- e Ni.....C gera o produto CO. A presença do NiO na superfície reduz significativamente a seletividade a CO. Os autores concluem, portanto, que as espécies de NiO não são possíveis intermediários para a oxidação parcial e que o mecanismo de reação deve seguir a rota de oxidação direta. JUN et al., 2006 propuseram que a reação de oxidação parcial ocorre primeiramente pelo mecanismo de dissociação direta do CH4. O COads adsorvido é um intermediário comum da reação e facilmente se dessorve para a formação de CO(g), especialmente em altas temperaturas, ou convertido a CO2(g), preferencialmente em Ana Paula da Silva Peres 108 Resultados e Discussão PPGCEM baixas temperaturas. Foi observado também que catalisadores totalmente reduzidos exibiram menor atividade, e isto é atribuído à necessidade da existência de sítios de níquel metálico e sítios parcialmente oxidados para que altas atividades e seletividades sejam obtidas. VAN LOOIJ & GEUS, 1997 estudaram a natureza da fase ativa de um catalisador Ni/SiO2, aplicado à oxidação parcial do metano. Segundo os autores, a combustão do CH4, ocorre parcialmente no óxido de níquel bulk. A maior parte da reação de combustão é atribuída a uma fase altamente ativa associada a uma espécie de níquel parcialmente oxidada e para a reforma do metano a gás de síntese, é necessária a presença de sítios metálicos de níquel. É afirmado ainda que, a natureza da fase ativa não é uniforme ao longo do leito catalítico em condições de reação. Com base nestes resultados sugerimos que o precursor catalítico calcinado a 750°C apresentou boa atividade em termos de conversão de metano, assim como uma maior resistência a uma possível formação de depósitos de carbono. Ana Paula da Silva Peres 109 CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES Conclusões PPGCEM 5. CONCLUSÕES A partir da análise dos resultados obtidos e considerando as condições experimentais empregadas neste trabalho, as seguintes conclusões podem ser listadas: A rota de síntese proposta neste trabalho favoreceu a formação da fase espinélio do tipo NiCo2O4 em todas as temperaturas de tratamento térmico. No entanto, observou-se também a presença da solução sólida NixCo1-xO. Com o aumento da temperatura de calcinação, ocorre a segregação do níquel da rede espinélio para a fase NixCo1-xO. Na amostra tratada a 750°C o teor da fase espinélio, calculada através do método Rietveld, apresentou valor de aproximadamente 70%. As amostras calcinadas a 550 e 750°C apresentaram tamanhos de cristalitos entre 105-142nm para a solução sólida NixCo1-xO. As micrografias das amostras calcinadas em 750 e 950°C revelaram uma elevada porosidade interpartículas, distribuição uniforme no tamanho de partículas e partículas esferoidizadas. Para o material tratado a 950°C é verificado o início de sinterização, evidenciado pela formação de pescoço. O resultado obtido na reação catalítica para a amostra tratada a 750°C foi promissor, indicando uma conversão do metano em torno de 75% com seletividade a CO de 85% na temperatura de 800°C. A razão H2/CO apresentou um valor pouco acima de 2, devido a outras reações que podem estar ocorrendo paralelamente em pequenas proporções, tais como deslocamento gás-água e de decomposição do metano. Entretanto, para o precursor catalítico calcinado a 550°C, a conversão foi de Ana Paula da Silva Peres 111 Conclusões PPGCEM aproximadamente 25%, devido a presença de vapor d´água que pode oxidar parte do níquel reduzido levando a uma diminuição dos níveis de conversão observado. Em virtude da sua boa conversão e seletividade à CO, pode-se concluir que o precursor catalítico NiCo2O4 tratado termicamente a 750°C é um material promissor para a produção de gás de síntese na reação de oxidação parcial do metano. O material pode ser indicado para produzir gás de síntese adequado para ser utilizado na síntese de Fischer-Tropsch, visto que a razão da reação apresentou valor em torno de 2. Ana Paula da Silva Peres 112 REFERÊNCIAS Referências PPGCEM REFERÊNCIAS AASBERG-PETERSEN, K.; CHRISTENSEN, T. S.; NIELSEN, C. S.; DYBKJAER, I. Recent developments in autothermal reforming and pre-reforming for synthesis gas production in GTL applications. Fuel processing technology, v. 83, p. 253-261, 2003. AASBERG-PETERSEN, K.; HANSEN, J. H. B.; CHRISTENSEN, T. S.; DYBKJAER, I.; CHRISTENSEN, P. S.; NIELSEN, C. S.; MADSEN, S. E. L. W.; ROSTRUP-NIELSEN, J. R. Technologies for large-scale gas conversion. Applied catalysis A: General, v. 221, p. 379-387, 2001. AIELLO, R.; SHARP, J. 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