EIXO TEMÁTICO 2: ESTRATÉGIAS, MATERIAIS E RECURSOS DIDÁTICOS NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E BIOLOGIA MODALIDADE: PÔSTER – PO.29 OS CONTEÚDOS DE GENÉTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO: ITINERÁRIOS DE UMA PESQUISA Neima Alice Menezes Evangelista, UFJF, [email protected] Roney Polato de Castro, UFJF, [email protected] RESUMO O trabalho apresenta discussões que são resultado de uma pesquisa acerca dos conteúdos de Genética em livros didáticos de Biologia do Ensino Médio, a qual analisou de que modos esses conteúdos aparecem nos quatro livros mais utilizados em escolas públicas do município de Juiz de Fora (MG). Optamos por discutir as relações entre a relevância dos conteúdos de Genética na formação dos/as sujeitos e os modos como os livros do Ensino Médio apresentam esses conteúdos, passando pela questão da escolha do livro didático pelos/as professores/as como um ato social e político ligado à sua formação e visão de mundo. A seguir apresentamos os itinerários da pesquisa, destacando as etapas de seu desenvolvimento, desde a seleção dos livros até sua análise. Palavras-chave: conteúdos de Genética; livro didático; educação em Biologia. ABSTRACT This article presents discussions that are a result of a research about the Genetics content in Biology didactic books for high school, which analyzed in what ways these contents appear in the four most used books in public schools in the city of Juiz de Fora (MG). We chose to discuss the relationship between the relevance of Genetics issues in the formation of the subjects and the ways in which high school books demonstrate these contents, through the issue of school didactic books chosen by teachers as a social act and political linked to their formation and worldview. After that, we demonstrate the itineraries of research, pointing out the steps of his development from the selection of books until analysis. Keywords: Genetics of contents; Didatic book; Biology education. Este trabalho parte de inquietações vindas da formação docente, das relações com os conhecimentos de Genética nas disciplinas da graduação e as aproximações e distanciamentos para com os conteúdos desenvolvidos nas escolas. Destacam-se, neste ínterim, os modos como os/as estudantes de Ciências Biológicas que chegam ao Ensino Superior se relacionam com esses conhecimentos, expressando inconsistências e desconhecimentos de conteúdos vistos como básicos para compreender a Genética, que poderiam ter sido apropriados na Educação Básica. A partir dessas percepções, foi realizada uma pesquisa acerca dos conteúdos de Genética que são apresentados em livros didáticos do Ensino Médio adotados por escolas do município de Juiz de Fora (MG). O objetivo foi analisar os conteúdos apresentados quanto à sua relação com o conhecimento desenvolvido no campo da Genética e quanto às suas características de apresentação (linguagem adotada, esquemas e imagens utilizados, etc.). 1 – INTRODUZINDO A DISCUSSÃO A Biologia está no nosso cotidiano e faz parte da tomada de decisões de vários aspectos da vida humana. Nesse sentido, a educação em Biologia pode ser considerada indispensável para ajudar na formação dos sujeitos, pois a todo o momento tomamos decisões que afetam nossa saúde e bem estar. Isso implica a abordagem de temas tão diversificados quanto a prevenção e cura de doenças, a produção de medicamentos, o consumo de alimentos, a utilização sustentável dos recursos naturais, entre outros. Assim, os conceitos de Biologia são indispensáveis para o entendimento do ser humano, fundamentais para um futuro viável da humanidade, sendo relevante que todo/a cidadão/ã responsável entenda o mundo biológico e sua natureza. Em relação aos conteúdos de Genética, sua relevância vem sendo apontada a partir de sua constante presença em situações do cotidiano e nas mídias, fazendo circular um novo vocabulário com palavras como células-tronco, genoma, DNA, engenharia genética, que, devido à exploração pela mídia, tornam-se populares junto aos debates envolvendo transgênicos, terapias gênicas, clonagem, teste de paternidade (XAVIER et al, 2006; NASCIMENTO e MARTINS, 2007; CARABETTA JUNIOR, 2010; REIS et al, 2010). Tomando o contexto midiático como relevante na formação dos sujeitos, percebemos que há tendência dos meios de comunicação de massa apresentarem superficialmente os temas científicos, sem o compromisso com a orientação educativa, exigindo que as pessoas tenham conhecimentos que lhes possibilitem tomar decisões e compreender as notícias relacionadas a esses conhecimentos (PAIVA e MARTINS, 2005). No Brasil, o conteúdo de Genética é mais diretamente abordado no currículo do Ensino Médio, etapa de formação que corresponde à conclusão da Educação Básica, relevante na vida dos/as estudantes. Nesse momento escolar há uma preparação para prosseguir na convivência em sociedade, sendo necessária uma fundamentação teórico-prática mais consistente, considerando que para grande parte dos/as brasileiros/as é a última oportunidade para a construção de um conhecimento sistematizado sobre os sistemas vivos (GOLDBACH e EL-HANI, 2008; MELO e CARMO, 2009). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) dividem a biologia em seis temas estruturadores e a Genética é citada no tema "Transmissão da vida, ética e manipulação gênica", subdividido em unidades temáticas: “Os fundamentos da hereditariedade”, “Genética humana e saúde”, “Aplicações da engenharia genética”, “Os benefícios e os perigos da manipulação genética: um debate ético” (BRASIL, 2002). Percebese, nesse documento, uma tendência a contextualizar os conteúdos de Genética, de modo a propiciar uma educação que vá além de fornecer informações, desenvolvendo sujeitos que possam superar os limites do entendimento da transmissão de características e da engenharia genética, sabendo discutir algumas explicações, seus pressupostos, seus limites, o contexto em que foram formuladas, provocando a necessidade de se obter mais informações. Com esses conhecimentos, compreender a dimensão histórica e filosófica, identificando aspectos éticos, morais, políticos e econômicos envolvidos na produção científica e o caráter da verdade científica. O/a estudante deve transportar a visão científica para um contexto em que estão envolvidos vários aspectos da vida humana, superando posturas que induzem a julgamentos simplistas e, não raro, preconceituosos (BRASIL, 2012). Na prática, o ensino de Genética tem sido criticado por apresentar carência na problematização da CTS (ciência-tecnologia-sociedade) (GOLDBACH e EL-HANI, 2008). É um conteúdo conhecido por ter um aprendizado complexo (WOOD-ROBINSON et al, 2000) e uma das grandes dificuldades encontradas é o amplo vocabulário, a complexidade e especificidade, somados à dificuldade na compreensão e diferenciação dos conceitos envolvidos (CID e J. NETO, 2005). Esses fatores fazem com que seja difícil realizar a transposição para situações cotidianas relacionando-a com a construção de conceitos científicos (CARABETTA JUNIOR, 2010). Ao final dos anos de escolaridade dos estudantes, percebe-se grande carência na compreensão de conceitos e na relação entre eles, especialmente devido a dois fatores: (i) questões relativas à formação docente, pois como discutido por Vianna e Carvalho (2000), a maioria dos/as professores/as não tiveram oportunidade de ter contato com o processo de produção científica em sua formação acadêmica e profissional. Além disso, poucos/as têm acesso à formação continuada; (ii) os modos como os conteúdos são apresentados pelos livros didáticos, que trazem uma abordagem pouco integrada e fragmentada dos conteúdos de Genética (GOLDBACH e EL-HANI, 2008). Neste trabalho, os dois aspectos acima citados estão relacionados, embora nosso foco esteja no livro didático. Pensando nessa relação, analisamos que a escolha do livro didático pelo/a professor/a é uma responsabilidade social e política, que exige pensar no contexto real de vida dos/as estudantes (NÚÑEZ et al, 2003), pois essa seleção representa o que esse/a professor/a atribui à sua prática pedagógica, o que ele/a entende por ciência e qual o enfoque deseja que seus/suas estudantes tenham contato. Ou seja, esse processo de escolha diz da imagem que o/a professor/a tem de si mesmo/a, do lugar social que ocupa, do/a estudante e do ensino da ciência (CASSAB e MARTINS, 2003). Atualmente no Brasil existe o Plano Nacional de Livro Didático para o Ensino Médio, implantado em 2004. Os livros submetidos ao programa passam por avaliação de uma comissão constituída por professores/as de universidades e de escolas públicas. Nessa avaliação são considerados o respeito à legislação, a adoção de princípios éticos necessários para construção de cidadãos, adequação da abordagem do conteúdo, conceitualização correta e atual, orientação do Manual do Professor e estruturação gráfica da obra (BRASIL, 2012). O livro didático é, na maior parte das escolas, o único material de apoio para estudantes e professores/as (MEGID NETO e FRANCALANZA, 2003; NÚÑEZ et al, 2003; TEIXEIRA e DO VALE, 2003; BATISTA et al, 2010). Nesse sentido o livro didático pode se tornar não um instrumento auxiliar, mas, sim, a autoridade, modelo de excelência a ser adotado em classe (XAVIER et al, 2006), exercendo funções tão distintas quanto atualização do/a professor/a, planejamento das atividades didáticas, seleção de conteúdos abordados em sala de aula e modelos de avaliações (NASCIMENTO e MARTINS, 2007). Resultados dos estudos mostram que, apesar de prévia avaliação pelo governo, os livros didáticos, de maneira geral, são pouco atualizados e defasados em relação aos: (i) temas da “Nova Biologia” - integração entre as novas tecnologias do DNA e novas aplicações da Genética, que inclui biotecnologia e biologia molecular (LORETO e SEPEL, 2003; XAVIER et al, 2006); (ii) primeiros estudos de Genética com as conclusões dos cientistas da época sem contextualização histórica (FERREIRA e JUSTI, 2004; MARTINS e BRITO, 2006). A abordagem superficial dos livros acaba por levar a confusões pelos/as estudantes, que acabam por não compreender diferenças entre processos como meiose e mitose, entre o significado de 'gene' e 'alelo', pois ambos os termos são usados indiscriminadamente e a diferença na linguagem cotidiana e na linguagem genética dos termos 'mutação' e 'ligação'. Em contato com esses conceitos mal elaborados dos livros didáticos, os estudantes fixam os conteúdos e os equívocos vão se repetindo, fazendo com que reforcem cada vez mais esses conceitos, enraizando-os. Assim, o processo de construção de significados dependentes de informações anteriores pode acontecer de forma distorcida ou compartimentada, levando a dificuldade dos estudantes de compreender os conceitos envolvidos e a fazer relações entre os conteúdos (CANTIELLO e TRIVELATO, 2001; SILVEIRA e AMABIS, 2003). 2 – CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Para iniciar uma aproximação com o tema desta pesquisa, foi realizada uma revisão bibliográfica, em revistas do campo de Educação em Ciências e os anais de congressos como o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, e do Congresso Brasileiro de Genética, que começou a ter uma seção específica do ensino apenas em 1999, onde constavam construções de modelos didáticos para auxiliar o aprendizado dos estudantes sobre Genética e pesquisas sobre concepções de alguns temas como clonagem, por exemplo (CASAGRANDE, 2006). A segunda etapa foi a busca dos livros que usaria para análise. A primeira fonte de pesquisas de livros foi o Guia Nacional do Livro didático destinado aos livros de biologia de 2012. A partir de experiências com os estágios na formação docente em escolas de Juiz de Fora (MG), nossa suspeita era de que o Guia parecia não refletir a “realidade” das escolas. Sendo assim, foi consultado o programa do vestibular da Universidade Federal de Juiz de Fora, pois as escolas que preparam seus estudantes para o vestibular se baseiam neste programa. No programa constavam cinco livros, dos quais quatro são aprovados pelo Guia Nacional do Livro Didático. Para selecionar dentre estes os livros mais utilizados pelas escolas públicas e particulares do Ensino Médio em Juiz de Fora, aproximando este trabalho de uma possível realidade escolar local, foi realizado um levantamento junto às escolas que oferecem o Ensino Médio da cidade. A escolha das escolas de cada região da cidade foi aleatória. Foi realizado contato por telefone, fornecido pelo site da prefeitura. Nesse contato buscamos indagar aos/às professores/as de biologia e/ou às diretoras e coordenadoras pedagógicas qual era a publicação utilizada no ano letivo de 2012. A partir das respostas obtidas, foram escolhidos para as análises os três livros mais utilizados nas escolas. Fizemos a opção por trabalhar com os livros separados em três volumes, descartando aqueles que se apresentavam em volume único, e selecionamos dentre os volumes aquele que tratava de Genética, investindo na ideia de que esses volumes parecem ter um aprofundamento maior do conteúdo, dando mais visibilidade às questões que gostaria de trabalhar e aos critérios que elegi para análise. Os temas a serem analisados nos livros didáticos foram definidos a partir de trabalhos como os de Camargo e Infante-Malaquias (2007) e Franzolin e Bizzo (2012), que buscaram definir, junto a professores/as de escolas e de universidades os temas de Genética considerados mais importantes para o trabalho com esse conteúdo no Ensino Médio. A partir desses trabalhos, foram definidos três supertemas para análise: (i) Padrões de herança (Primeira e Segunda Lei de Mendel, Fenótipo e Genótipo); (ii) Divisão celular (meiose e mitose); (iii) Biotecnologia e suas aplicações (ácidos nucléicos, DNA em dupla hélice, genes, código genético, mutações, Projeto Genoma Humano, DNA recombinante, clonagem, terapia gênica, transgênicos, aconselhamento genético). A base teórica para análise dos livros didáticos do Ensino Médio foi baseada nos livros Griffiths, Miler e Lewontin (2009) e Pierce (2011), recomendados para as disciplinas de Biologia Celular, Genética e Genética Molecular do ensino superior de cinco instituições federais do país (UFRJ, UFJF, UFG, UnB, UFSJ), segundo pesquisa da bibliografia sugerida nas ementas dessas disciplinas e sugeridos como leitura para realização de provas para ingresso em programas de pós-graduação em Genética, como o da UFJF. Foram levados em conta os critérios estabelecidos em estudos anteriores: (i) atualização e clareza dos conceitos; (ii) exemplificação do tema; (iii) contextualização com a vida cotidiana dos estudantes; (iv) imagens; (v) modo como os conceitos aparecem no livro (dentro do texto; box; leitura complementar; nota de rodapé, etc.) (BATISTA et al, 2010). A análise constituiu em estar de posse do livro e verificar no índice em que página do livro estaria o tema. Quando não achado no índice, as páginas eram folheadas até que se encontrasse os conceitos procurados. Para não constituir uma análise longa, de todo o texto do livro, focamos em achar o conceito ou o enunciado que trouxesse de forma direta os itens que constituíram a análise. Cada item foi analisado subsequentemente em cada livro. Assim era possível exercitar uma comparação entre um livro e outro. A ordem de escolha dos livros foi aleatória, porém, por questão de organização, eles foram numerados: Livro 1: BANDOUK, A. C.; CARVALHO, E. G.; AGUILAR, J. B. V.; SALLES, J. V.; NAHAS, T. R. Ser Protagonista. Volume 3. 1 ed. São Paulo: Edições SM, 2009. Livro 2: AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume 3. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2009. Livro 3: LINHARES, S. & GEWANDSZNAJDER, F. Biologia Hoje. Volume 3. 12 ed. São Paulo: Ática, 2012. Livro 4: LOPES, S. & ROSSO, S. Bio. Volume 2. 2 ed, São Paulo: Saraiva, 2010. Todos os livros pesquisados apresentam, no geral, boxes para discussões, para ampliação do conhecimento, que trazem curiosidades ou utilidades públicas para tentar aproximar o conteúdo da realidade dos/as estudantes. Porém, é preciso tomar cuidado com a utilização exagerada desses recursos, para que haja relação direta entre o texto e o box e não haja conteúdos que deixem de ser tratados pelo texto do livro e explorados apenas por boxes. Considerando as especificidades do evento, fizemos um recorte da pesquisa e apresentamos neste trabalho apenas a análise referente ao supertema “Padrões de herança”. 3 – UM EXEMPLO DE ANÁLISE: O TEMA “PADRÕES DE HERANÇA” I – Padrões de herança A – A primeira Lei de Mendel Segundo Pierce (2011): "O princípio da segregação diz que cada organismo possui dois alelos que codificam uma característica. Esses alelos segregam-se quando são formados os gametas, e um alelo vai para cada gameta". Especialmente no livro 2 o tema aparece com um título diferente: "Lei da segregação dos fatores". Todos os livros apresentam um conceito de acordo com o nosso conceito referência, com os experimentos de Mendel bem ilustrados, porém os livros 1, 2 e 4 apresentam um texto de difícil compreensão, visto que introduzem ao final do enunciado uma frase quanto à pureza em relação ao fator, que poderia ser discutido em outro momento, deixando o enunciado da lei mais objetivo, como fizeram os autores do livro 3.Temos como exemplo de enunciado confuso, o que aparece no livro 4 "Cada caráter é determinado por um par de fatores que se separam na formação dos gametas, indo apenas um dos fatores do par para cada gameta, que é, portanto, puro". No livro 3, esse tema não é trazido para o cotidiano1 dos estudantes, tampouco exemplificado. No livro 2, há exemplificações porém não contextualizadas com o cotidiano dos estudantes (são exemplos do livro: folha de Coleus blumei, tipo de asa em drosófila). Já nos outros dois livros há aproximação com a realidade dos estudantes, sendo no livro 1 sugerida uma prática de características humanas para ser feita em grupo (exemplificando com a forma do lóbulo da orelha e presença ou ausência do "bico de viúva") e no livro 4, passando algumas páginas, há um tópico específico intitulado "Algumas características humanas que obedecem à primeira lei de Mendel" com 11 exemplos do cotidiano dos estudantes (exemplos: capacidade de dobrar a língua, presença de sardas, entre outros). Sendo um tema que lida com as características herdáveis, acho interessante que os livros tragam muitos exemplos, o que pode estimular a participação dos estudantes, principalmente com atividades que discutam as transmissões de características humanas. B – A segunda Lei de Mendel Segundo Griffiths et al (2009): "Pares de genes e cromossomos diferentes separam-se independentemente na meiose". Novamente com um título diferente no livro 2: "Lei da segregação independente". Todos os conceitos apresentados nos livros estão de acordo com os apresentados no livro de referência e apresentam fácil entendimento, não apresentando termos diferentes, exceto pelo livro 4 que introduz o termo "cromossomos não homólogos" e pelo livro 2 que introduz a palavra "híbrido", ambos de forma sutil e bem explicados. Em todos os livros há ilustrações explicativas dos experimentos de Mendel e são dados exemplos, porém nem todos se aproximam da realidade cotidiana (como cor do olho e forma da asa em drosófila). Alguns outros exemplos podem ser melhor visualizados no cotidiano como cor e forma do fruto em abóbora e cor e textura dos grãos de milho e no livro 3, dentro de um box, há um texto "A segunda lei de Mendel e a agricultura" que menciona a produção de frutos mais doces, com amadurecimento mais rápido e resistentes a parasitas, contextualizando o tema. C – Genótipo e Fenótipo 1 Entendo que o cotidiano é variável em cada realidade escolar, portanto tomei como exemplo a realidade de alunos de classe baixa da rede estadual de uma cidade de porte médio, que não têm acesso a laboratórios de ciências. Segundo Griffiths et al (2009) genótipo é “o conjunto completo de genes herdados por um organismo individual” e fenótipo é “todos os aspectos da morfologia, fisiologia, comportamento e relações ecológicas do organismo individual”. Todos os livros trazem uma explicação dos termos de acordo com o que foi definido, com fácil entendimento pelos estudantes, sendo que os livros 1 e 2 trazem a etimologia das palavras. Livros 1, 2 e 4 trazem uma discussão sobre o que influenciaria os aspectos fenotípicos, considerando o ambiente interno das células (livro 4) e o tempo de vida do indivíduo. Estes livros trazem muitas ilustrações. Ao contrário dos outros, o livro 3 faz uma rápida pincelada no tema, trazendo uma figura pouco ilustrativa. Em um outro tópico (10 páginas adiante e com 7 temas entre eles), volta ao assunto e explica a "norma de reação", agora, sim, trazendo diversos exemplos e aproximando à realidade do estudante. 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há um livro que consiga englobar todos os assuntos e abordá-los profundamente. O tempo que os/as professores/as têm para lecionar todo o conteúdo é pequeno e a Genética possui muitos termos para serem compreendidos e trabalhados que afetam no entendimento do conteúdo posterior. Isso nos traz a preocupação da dependência dos/as professores/as com o livro didático. Já que este livro não está completo e não traz tópicos importantes, como o/a professor/a pode se ater somente a esse conteúdo? É uma questão que deve ser trabalhada na formação de professores/as, inicial e continuada. Apesar dos novos rumos que o ENEM dá à educação do Ensino Médio com a priorização da discussão de temas polêmicos sobre a memorização de conceitos, ainda há uma cultura de memorizar o que pode cair na prova do vestibular, deixando de lado a problematização da ciência e o entendimento de alguns processos. Isso se torna evidente em algumas passagens dos livros, que não promovem debates acerca do conhecimento científico, do contexto histórico (não basta apenas citar o momento histórico, é interessante que se faça uma contextualização com as informações e tecnologia disponíveis) e não trazem conexões entre os temas estudados, caracterizando um ensino fragmentado. Devemos repensar, também, a grade curricular proposta para o conteúdo de Genética nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos editais de seleção das universidades. Discutimos muito sobre o pouco tempo que o/a professor/a tem para desenvolver o conteúdo e a problematização do mesmo, desejando que se façam debates, contextualização. Porém, não nos preocupamos em pensar se realmente todo o currículo é necessário para a formação de um cidadão capaz de atuar na sociedade. Se não desejamos formar especialistas, para que querer sempre mais tempo para lecionar o conteúdo ao invés de reduzir os saberes, voltando-os não para uma educação técnica, mas uma educação crítica e contextualizada? Cabe ao/à professor/a decidir-se por qual foco quer trabalhar com os/as estudantes, lembrando que ele/a não deve se prender a somente uma leitura, mas realizar pesquisas para preparar-se e para mesclar as ideias de cada autor/a, pois, assim, os temas podem ser mais abrangidos e algumas discussões trazidas por outros/as autores/as podem ser incorporadas ao ensino, que terá uma melhor qualidade. REFERÊNCIAS BATISTA, M. V. A., CUNHA, M. M. S., CÂNDIDO, A. L. 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