Tireoidectomia e Dissecção Cervical

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CAPÍTULO 1
Tireoidectomia e Dissecção Cervical
Amit K. Mathur, MD, e Gerard M. Doherty, MD
INDICAÇÕES
Lobectomia na glândula tireoide
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Nódulo tóxico unilateral.
Cisto ou adenoma solitário.
Tireoidectomia total
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Carcinoma tireóideo.
Doença de Graves.
Tireoidite de Hashimoto.
Bócio multinodular.
Bócio subesternal.
Dissecção cervical
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Carcinoma de cabeça e pescoço localmente avançado demonstrado clinicamente pela presença de doença linfonodal, por imagens pré-operatórias ou por biópsia de linfonodo sentinela.
CONTRAINDICAÇÕES
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Há poucas contraindicações para tireoidectomia ou dissecção cervical.
Absolutas (dissecção cervical)
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Disseminação de metástases dérmicas impedindo a realização de dissecção cervical completa.
Extensão intracraniana de tumor do pescoço.
Fixação tumoral na base do crânio ou na coluna cervical.
Relativas (dissecção cervical)
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Fixação tumoral na artéria carótida interna.
Doença localmente avançada na base do pescoço, próximo
à abertura superior do tórax.
Invasão periosteal da base do crânio.
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CONSENTIMENTO INFORMADO
Cirurgia tireóidea
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Estudos e imagens pré-operatórios adicionais para confirmar a presença de lesões e de doenças metastáticas.
Consulta anestesiológica (ver discussão mais adiante).
A. Benefícios esperados
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Ressecção curativa de malignidade potencial ou real.
Alívio de sintomas causados por bócios multinodulares
tóxicos ou de grandes dimensões.
Alívio de sintomas resultantes de doença tireóidea benigna.
POSICIONAMENTO DO PACIENTE
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B. Riscos potenciais
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Sangramentos que possam comprimir a via aérea e exigir
nova cirurgia.
Transecção ou paresia de nervo laríngeo recorrente causando rouquidão (temporária ou permanente).
Hipocalcemia que exija administração oral de cálcio ou de
vitamina D.
Cicatrizes.
Infecção.
Necessidade de tratamento clínico ou cirúrgico adicional.
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PROCEDIMENTO
Procedimentos tireóideos
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Dissecção cervical radical modificada
A. Benefícios esperados
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Remoção de tumores primários e de carcinomas localmente avançados do pescoço em todos os níveis linfonodais.
B. Riscos potenciais
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Danos a estruturas vitais adjacentes, incluindo o nervo espinal acessório, o músculo esternocleidomastóideo
(ECM), a veia jugular interna e o nervo vago.
Vazamento linfático provocado por trauma no ducto torácico.
EQUIPAMENTOS
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Não é necessário equipamento especial.
Um afastador ortostático pode ser usado para facilitar a
dissecção.
É comum a utilização de um estimulador manual do nervo laríngeo recorrente.
O bisturi harmônico também pode ser usado para facilitar
a dissecção.
O paciente deve permanecer em posição supina.
O manejo da via aérea é particularmente importante. A
consulta pré-operatória com um anestesiologista minimiza as preocupações relacionadas com posicionamento,
além de otimizar a segurança da via aérea do paciente durante o procedimento.
A colocação de uma toalha enrolada sob os ombros facilita
a tração do pescoço.
Os braços podem permanecer ao longo do corpo.
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Figura 1-1: Incisão curvilínea no pescoço um dedo abaixo da cartilagem cricóidea e aproximadamente dois dedos
acima da incisura esternal (ver passos a seguir).
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Utilização de uma dobra adequada de pele na parte inferior do pescoço como local da incisão.
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Divisão do tecido subcutâneo e do platisma utilizando
um cautério.
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Preparação de retalhos de pele acima do nível das veias
jugulares anteriores.
Figura 1-2: A parte mais profunda do pescoço é acessada dividindo-se os músculos infra-hióideos na linha média entre as veias jugulares anteriores.
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Determinação de um plano entre os músculos esterno-hióideo e esterno-tireóideo no sentido mediolateral.
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Determinação de um plano penetrante entre o músculo esternotireóideo e a glândula tireoide.
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Divisão da veia tireóidea média.
PREPARAÇÃO DO PACIENTE
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Recomendação ao paciente de não ingerir nada por via
oral na noite anterior à cirurgia.
Administração pré-operatória de antibióticos, de acordo
com a necessidade, em casos de patologia valvular, válvulas cardíacas artificiais, articulações artificiais, etc.
Consulta com um anestesiologista, se necessário, com base
no exame da via aérea ou na presença de doença comórbida, ou ambos.
Ultrassonografia para auxiliar o cirurgião a identificar lesão tireóidea, dimensões da glândula tireoide, localização
das estruturas circunjacentes, etc.
Figura 1-1
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CURRENT / Cirurgia: procedimentos
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Figura 1-3: Mobilização da glândula no sentido anterior
para expor o nervo laríngeo recorrente. A divisão das inserções do polo superior pode facilitar esse tipo de mobilização.
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Penetração no espaço cricotireóideo, ao longo do aspecto medial do lobo, para mobilizar o polo superior
do lobo da glândula tireoide.
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Divisão das inserções do lobo superior, nas proximidades da glândula, para evitar lesão nas ramificações do
nervo laríngeo superior.
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Identificação da glândula paratireoide superior em posição posterior em relação ao nervo laríngeo recorrente.
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Identificação do nervo laríngeo recorrente e de seu trajeto, confirmados pelo estimulador de nervos.
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Identificação da glândula paratireoide inferior em posição anterior ao nervo, com subsequente divisão das
inserções do polo inferior.
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Identificação e divisão meticulosa das inserções finais
nas proximidades do nervo e do ligamento de Berry,
sem tração ou pressão direta sobre o nervo laríngeo
recorrente. Deve-se evitar o uso de cautério ao redor
do nervo durante a dissecção com a glândula tireoide
retraída no sentido anterior.
Figura 1-4: Dissecção da glândula tireoide a partir de
suas inserções na traqueia e subsequente divisão no istmo
para possibilitar a lobectomia.
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Corno inferior da
cartilagem tireóidea
Polo superior da
artéria e da veia
tireóidea
Ligadura da veia
tireóidea média
Glândula
paratireoide
superior
Ligadura da
veia tireóidea
média
Nervo
laríngeo
recorrente
Glândula
paratireoide
inferior
Artéria carótida
Visão lateral direita da glândula
tireoide refletida anteriormente
Artéria e veia
tireóideas
Figura 1-3
Platisma
Istmo
dividido
ECM
Arco
jugular
Figura 1-2
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Traqueia
Figura 1-4
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Dissecção cervical
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Quando a dissecção cervical for necessária, a incisão deve
estender-se lateralmente na direção do aspecto posterior
do pescoço.
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O objetivo dessa dissecção é expor a parte anterolateral
do pescoço e os triângulos posteriores.
Figura 1-5: A dissecção cervical remove o envolvimento
tumoral nas regiões linfonodais das partes anterolateral e
posterior do pescoço (no carcinoma tireóideo, níveis linfonodais II a V).
Figura 1-6: Criação de retalhos de pele no sentido superoinferior. A figura mostra a musculatura exposta depois
da preparação dos retalhos.
Figura 1-7: Tração e exposição do músculo ECM utilizando-se um dreno de Penrose.
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Nossa preferência é iniciar a dissecção no triângulo
posterior.
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Inicialmente, a remoção das inserções do espécime no
trapézio é feita por meio de dissecção romba, principalmente antes da identificação do nervo espinal acessório. Em dissecções cervicais radicais modificadas, deve-se procurar preservar o nervo.
Figura 1-8: Progressão da dissecção no lado esquerdo (o
ECM não aparece).
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Dissecção do espécime no sentido lateromedial com
atenção especial às estruturas subjacentes. Deve-se buscar a preservação da veia jugular interna, que deve ser
incluída no espécime nos casos em que não for possível
separá-la dos tecidos linfonodais circunjacentes macroscopicamente acometidos.
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Dissecção do espécime no sentido inferossuperior (a
partir dos níveis IV a II).
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O espécime deve ser removido em bloco, etiquetado e
preparado para exame patológico.
II
I
III
VI
V
IV
Figura 1-5
Glândula
parótida
Veia facial
Nervo auricular
magno
Músculo omo-hióideo
ECM
Músculo infra-hióideo
Figura 1-6
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CURRENT / Cirurgia: procedimentos
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Nervo auricular
magno intacto
ECM
Figura 1-7
Glândula parótida
Glândula
submandibular
Veia facial
Ventre anterior
do músculo digástrico
Coto hióideo do
músculo omo-hióideo
Tecido adiposo
dissecado
Figura 1-8
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Figura 1-9: Inspeção da incisão, logo após o término da
dissecção, para verificar a hemostasia.
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Colocação de um dreno por meio de contraincisão na
parte anterolateral do pescoço.
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Reaproximação do platisma e do tecido subcutâneo com
sutura absorvível e fechamento da incisão com uma sutura monofilamentar absorvível ou cola tecidual.
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CUIDADOS PÓSOPERATÓRIOS
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Nos casos de doença tireóidea benigna, a reposição do
hormônio tireóideo deve ser iniciada somente após tireoidectomia total.
Nos casos de doença maligna, a reposição do hormônio tireóideo deve ser adiada até a realização de varredura pós-operatória com iodo radioativo.
Monitoramento dos níveis pós-operatórios de cálcio; a reposição é empírica.
O controle da dor deve ser iniciado com agentes intravenosos; quando a ingestão estiver adequada, pode-se mudar para narcóticos orais.
O avanço da dieta deve ser progressivo.
Inspeção dos drenos para verificar se não há vazamento linfático. O paciente deve ser orientado sobre a forma
como cuidar dos drenos.
Remoção dos drenos depois que a produção diminuir
para 30 mL ou menos por dia.
Ramificação mandibular
marginal do nervo facial
Glândula
parótida
Ramificações do
nervo auricular magno
Nervo lingual
Artéria lingual
Músculo estilo-hióideo
Músculo digástrico
ECM
Artéria facial
Músculo estilo-hióideo
Músculo digástrico
Músculo milo-hióideo
Osso hioide
Nervo hipoglosso
Nervo acessório
Músculo escaleno anterior
Nervo frênico
Veia tireóidea superior
Artéria carótida comum
Artéria tireóidea superior
Músculo omo-hióideo
Nervo vago
Artéria
carótida
ECM
Veia jugular interna
Figura 1-9
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CURRENT / Cirurgia: procedimentos
COMPLICAÇÕES POTENCIAIS
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Lesões nervosas: nervo espinal acessório; lesão no nervo
laríngeo recorrente (nos casos em que a dissecção cervical
central for incluída no procedimento); plexo braquial.
Lesões vasculares: veia jugular interna; artéria carótida
causando hematoma cervical, que pode progredir para
comprometimento da via aérea.
Lesão no ducto torácico provocando vazamento linfático,
o que possivelmente exigirá intervenção cirúrgica e ligadura ductal.
Lesão traqueal.
Lesão esofágica.
Recidiva de doença local.
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CURIOSIDADES E DICAS
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Um dos focos principais da dissecção cervical deve ser as
estruturas neurovasculares subjacentes, mantendo-se a
meta de ressecção oncológica completa.
REFERÊNCIAS
Doherty GM. Complications of Thyroid and Parathyroid Surgery. In: Mulholland MW, Doherty GM, eds. Complications
in Surgery. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins;
2006:575-593.
Gauger PG. Thyroid Gland. In: Mulholland MW, Lillemoe KD,
Doherty GM, et al, eds.Greenfield’s Surgery: Scientific Principles & Practice, 4th ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams
& Wilkins; 2006:1310-1334.
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