UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE Rogério Carlos Sturm Vanderlei de Lima PERDAS DE ECLOSÃO COM A ESTOCAGEM DE OVOS DE GALINHA NO INCUBATÓRIO. Castro 2008 Rogério Carlos Sturm Vanderlei de Lima PERDAS DE ECLOSÃO COM A ESTOCAGEM DE OVOS DE GALINHA NO INCUBATÓRIO. Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista, no Curso de Especialização em Produção de Aves e Suínos da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador Prof. M. Sc. Sérgio J. M. Bronze Castro 2008 ii SUMARIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 2.2 HISTORICO..... ................................................................................................ 2.2 A ESTRUTURA DO OVO................................................................................. 2.3 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO NO PERÍODO DE INCUBAÇÃO....... 2.4 ESTOCAGEM DE OVOS................................................................................. 2.5 TEMPERATURA DE ESTOCAGEM DOS OVOS............................................ 2.6 TEMPERATURA DE INCUBAÇÃO.................................................................. 2.7 UMIDADE RELATIVA NA INCUBAÇÃO.......................................................... 2.8 TROCAS GASOSAS........................................................................................ 2.9 ORIENTAÇÃO E FREQUÊNCIA DE GIROS DOS OVOS............................... 3 METODOLOGIA................................................................................................. 3.1 INCUBADORA.................................................................................................. 3.2 CÂMARA DE ECLOSÃO.................................................................................. 3.3 CONTROLES................................................................................................... 3.4 CONTROLE DE TEMPERATURA DE BULBO SECO..................................... 3.5 CONTROLE DE TEMPERATURA DE BULBO ÚMIDO................................... 3.6 RENOVAÇÃO DE AR....................................................................................... 3.7 SERPENTINA................................................................................................... 3.8 AQUECEDORES.............................................................................................. 3.9 SOPRADORES................................................................................................ 3.10 FREQUÊNCIA DE GIROS E VIRAGEM........................................................ 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 5 CONCLUSÃO................................................................................................... 6. REFERÊNCIAS.................................................................................................. iii 1 2 2 5 8 14 17 18 18 19 19 20 21 22 22 23 23 23 24 24 25 25 25 28 29 RESUMO O presente trabalho relata um estudo referente a estocagem de ovos no processo de incubação, especificamente no que se refere ao tempo de estocagem. Os testes foram realizados na região norte do Paraná, no município de Castro, com altitude de 927 metros, em incubatório moderno com sistema de climatização em todas as salas, onde os ovos foram incubados em incubadoras Casp Mg 124 e. A incubadora de estágio múltiplo foi planejada para manter a temperatura de bulbo úmido em 28,9ºC (84ºF), e de temperatura do bulbo seco em 37,4ºC (99,4ºF), registrada de hora em hora. Foram utilizados 3.096 ovos da mesma postura, onde foram realizadas incubações diárias com estoque entre 0 a 12 dias, mantendo a armazenagem dos ovos com a mesma temperatura e umidade. Foram incubados 258 ovos por dia de estocagem, provenientes de matrizes Cobb 500 – slow, proveniente de um lote de matrizes com 39 semanas de idade. Foi constatado que os ovos com estocagem de 3 a 5 dias, apresentaram índice de eclodibilidade maior em relação aos demais dias. Com este resultado, poderemos ter maior ganho em produtividade se incubarmos ovos entre 3 a 5 dias de estoque. Palavras-chaves: Estocagem de ovos, eclosão. iv 1 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho objetivou estudar a estocagem de ovos no processo de incubação, especificamente no que se refere ao tempo de estocagem. Segundo Schmidt et al., (2001) a prática de estocagem é normal e muitas vezes necessária na incubação comercial. O objetivo, na maior parte das vezes, decorre da necessidade de evitar a mistura de ovos de diferentes lotes e idades, ou de lotes com padrão sanitário duvidoso. No processo de incubação artificial, a eclodibilidade dos ovos é uma medida da viabilidade do embrião e esta diretamente relacionada à ação combinada de um grande número de fatores. O manejo de estocagem depende de vários fatores, entre eles as condições ambientais, linhagem, idade do lote, características físicas e químicas do ovo, estágio do desenvolvimento embrionário e tempo de estocagem, fatores esses que afetam a eclodibilidade e qualidade do pinto ao nascer. Como os resultados da incubação são influenciados pelas condições de armazenamento, as salas destinadas a esse fim devem apresentar boa climatização e, portanto, ser equipadas adequadamente. As condições de temperatura e umidade devem ser controladas e registradas, automaticamente, pelo menos duas vezes ao dia, por aparelhos de alta confiabilidade, que devem ser aferidos periodicamente. A aclimatação dos ovos antes da incubação tem efeito sobre a redução da mortalidade embrionária inicial e contaminação, pois permite a adaptação do ovo às futuras condições ambientais. Contudo, o prolongamento de um dia no tempo de estocagem pode reduzir em 1% a eclodibilidade e adicionar 1 hora no período de incubação. Períodos mais longos 2 poderão afetar o tempo entre o nascimento e o alojamento dos pintos, a eclodibilidade e a qualidade dos pintos (Schmidt et al., 2001). Para WILSON (2002), um prazo de 5 dias ou menos, a temperatura de armazenamento do ovo deve ser de 15 a 21ºC, e para um armazenamento a longo prazo, a temperatura deve ser diminuída para 11 a 13ºC, que é a temperatura fora do desenvolvimento do embrião. Portanto, leva-se a hipótese de que se o ovo permanecer 12 dias em estoque a eclosão poderia sofrer variações na eclodibilidade. Se este fato for confirmado, pode-se correlacionar diferença de eclosão, com cada dia que o ovo permanecer a mais no estoque? Levantar a perda de eclosão com a estocagem de ovos incubáveis no incubatório, bem como investigar o período em que temos menores perdas e conseqüentemente uma maior produtividade. Avaliar a interferência da estocagem de ovos com os resultados, demonstrando as vantagens de incubar os ovos no dia certo, diagnosticar qual fase da incubação ocorre maior perda de eclosão, acompanhar a temperatura e umidade no período de incubação. 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 HISTÓRICO Evidências datadas do século IV a.C. mostram que os egípcios, além de criar galinhas, também eram capazes de fazer incubação de ovos em larga escala. Tanto o Egito quanto a China Antiga foram sociedades de massa que dominaram essa 3 tecnologia. Cerca de 4000 anos atrás, os egípcios inventaram incubatórios capazes de chocar de 10 a 15 mil pintos de uma só vez. Os egípcios construíram chocadeiras de tijolos de barro nas quais o fogo era mantido aceso por um assistente que, sem qualquer outro tipo de termômetro senão a própria pele, ajustava a queima para manter a temperatura ao nível requerido para a incubação. Estas estruturas não só serviam para a incubação como também para a criação dos pintinhos até que eles tivessem preparados para viverem sem aquecimento. Esse processo de incubação foi uma das mais notáveis realizações tecnológicas dos povos que construíram as pirâmides. (ARASHIRO, 1989). Na época moderna, apenas recentemente, conseguiu-se construir chocadeiras em condições de incubar tantos ovos juntos eficientemente. A originalidade desse método, completamente diferente dos demais encontrados nas outras partes do mundo antigo, chama atenção não só para a sua sofisticação técnica, mas para a organização econômica e social dos povos que o desenvolveram. Segundo MENDES et al. (2004) essas construções eram feitas com o barro seco do Nilo, normalmente com dois compartimentos, os ovos eram empilhados sobre o solo. Uma espécie de gaveta para a queima de fezes de camelos era colocada abaixo dos ovos. Os operadores eram membros de famílias que tinham se especializado neste tipo de trabalho por séculos. Enquanto que na China, essa atividade era amplamente difundida e sujeita as inovações, no Egito a incubação era restrita a uma região relativamente pequena e a uma espécie de monopólio, mais tarde, transferido para a corporação dos artesãos. Provavelmente em conseqüência disso, houve menor mudança e inovação na tecnologia egípcia. 4 A especialização e tecnologia apareceram no Egito milênios antes de elas se estabelecerem em qualquer outro lugar no mundo. As incubações de milhares de ovos de uma só vez requeriam grandes planteis de galinhas e métodos de coleta e identificação de ovos férteis bastante avançados, o que, por sua vez, implicava em alta eficiência no manejo das aves e dos ovos e na comercialização das aves de corte para carne. Se lembrarmos que até recentemente, um plantel de três a quatro mil aves era considerado um empreendimento em grande escala nos Estados Unidos e Europa Ocidental, perceberemos o grau de organização e a habilidade tecnológica alcançada pelos egípcios muito tempo antes da era cristã e o quanto eles foram superiores aos gregos na agricultura e na criação animal (MENDES, 2004). De um modo semelhante, os chineses podem ter aprendido a técnica de incubação de um grande número de ovos pela necessidade de alimentar os trabalhadores que construíram a Grande Muralha da China. Dessa forma, egípcios e chineses dominaram por séculos os conhecimentos referentes à incubação, mesmo que, de maneira prosaica e primitiva. O primeiro incubatório artificial na era moderna surge por volta de 1880 nos Estados Unidos com a especialização dos setores em produção de pintos. A seguir instalou-se uma fábrica de chocadeiras e, em 10 anos, seis outros incubatórios foram instalados, tornando-se a Califórnia o maior pólo produtor de ovos daquela época (FABRIS, 2000). O fim do século XX e início do XXI podem ser caracterizados como épocas do domínio da ciência e da tecnologia, marcadas pelo avanço do conhecimento de forma bastante generalizada e, principalmente, com foco voltado aqui, para a produção de 5 alimentos. Isso é um fato que pode ser constatado após a Segunda Guerra mundial, sendo que o conhecimento aplicado na forma de tecnologias foi o transformador da Europa faminta em importante exportador de alimentos, fazendo com que, a tecnologia agrícola sepultasse a ameaça de fome generalizada no mundo. A história da incubação artificial representa um dos capítulos mais interessantes e importantes dentro do cenário do desenvolvimento da avicultura, tanto como ciência como fator de produção de alimentos. No Brasil, os avanços tecnológicos no agronegócio foram significativos nas últimas décadas. Os resultados desse processo podem ser facilmente mensurados pelos indicadores gerais: Qualidade de Produto (Eficácia) e Produtividade (Eficiência) cujos atributos de efetividade vêm-nos colocando como importante produtor mundial de proteína animal, em especial, a de carne de frango. 2.2 A ESTRUTURA DO OVO A estrutura do ovo é apresentada na Figura 1. O núcleo da célula feminina (oócito) é uma pequena mancha branca e brilhante do tamanho da cabeça de um alfinete. Localiza-se parte superior da gema, logo abaixo da membrana vitelina, e aí será fecundado pelo espermatozóide. O vitelo (gema), que normalmente se apresenta como camadas concêntricas de faixas escuras e claras, possui uma área central denominada latebra, a qual se estende até o blastodisco através de uma camada de gema clara (pescoço da latebra). A composição do blastodisco e da gema branca que o circunda conferem-lhe uma menor densidade que o vitelo. Desse modo, o blastodisco fica sempre voltado para cima. O blastodisco do 6 ovo não fecundado é menor do que aquele do ovo fecundado, apresentando muitos vacúolos, o que lhe dá a aparência de uma massa esponjosa e disforme. No ovo fecundado, o blastodisco (já na forma de blastoderma) contém um conjunto de blastômeros (unidade celular do ovo em desenvolvimento), diferenciando-se do ovo não fecundado por apresentar uma formação uniforme, bem circunscrita, e na dependência do período de desenvolvimento, ligeiramente oval e sobressalente. A membrana vitelina circunda a gema, dando-lhe uma aparência esférica e separando-a das camadas de albúmen (clara) líquido e denso. Uma parte da clara forma a chalasa (albúmen denso retorcido pelos movimentos do ovo no trato reprodutivo), cuja função é manter a gema em uma posição central dentro do ovo. A clara é a principal fonte de água para o embrião, fornecendo também proteína, carboidratos e sais minerais. Ainda, funciona como uma camada protetora, mecânica e química (avidina, lisosima, ovomucóide). 7 Figura 1: a) representação esquemática da estratificação da gema em um ovo de galinha. b) estrutura do albúmem e membranas do ovo. c) representação esquemática de um corte transversal da casca, indicando sua constituição estrutural. Fonte: Beig, 1990 8 2.3 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO NO PERÍODO DE INCUBAÇÃO Quando o ovo é colocado em condições de incubação, isto é, temperatura (37,5°C), umidade relativa (60%), oxigenação e vira gem (uma a cada hora) adequadas, o embrião se desenvolverá completamente em ±21 dias (504 horas). A temperatura é apontada como um dos fatores mais importantes que afeta o desenvolvimento embrionário. Temperaturas baixas determinam atraso no desenvolvimento e altas, aceleram o desenvolvimento. Ambas condições prejudicam as taxas de eclodibilidade. Outro fator que não deve ser descuidado é a viragem dos ovos. Além de não deixar o embrião se aderir à casca, a movimentação é importante para permitir o crescimento adequado das membranas extra-embrionárias, o equilíbrio dos fluidos embrionários, com conseqüente intercâmbio de nutrientes do albúmen para o embrião. A falta de viragem determina queda do número de eclosão e/ou nascimento de pintainhos de má qualidade. Na descrição abaixo e nos esquemas da Figura 2 são apresentadas as alterações macroscópicas que ocorrem no embrião durante o período de incubação: Primeiras 24 horas 18 h: início da formação do trato alimentar 19 h: início da formação da prega neural 20 h: início de formação do cérebro e sistema nervoso 21 h: início da formação da cabeça 23 h: aparecimento das ilhotas de sangue 24 h: início da formação dos olhos 9 Até 48 horas O embrião começa a se colocar no seu lado esquerdo Formação dos vasos sangüíneos e do coração que começa a bater Fechamento do canal neural para formar o tubo neural Início da formação da vesícula auditiva Término de formação das três regiões do cérebro Aparecimento dos primeiros sinais de âmnio Até 72 horas Aparece o vestígio da cauda Formação dos botões dos membros inferiores e superiores Presença do âmnio e do córion Início da formação das narinas Aparecimento das lentes oculares Até 96 horas Completa-se a formação das membranas extra-embrionárias (âmnio, córion e alantóide). O corpo do embrião posiciona-se sobre o seu lado esquerdo. A gema, no ponto de implantação, torna-se mais alongada. O embrião se apresenta numa forma de C Início da formação da boca e língua Começa o aparecimento das fossas nasais A alantóide se infiltra entre o âmnio e o córion Aos 5 dias Aumento do tamanho do embrião, do saco vitelino e da alantóide. 10 Maior diferenciação das partes da boca Distingue-se a estrutura externa dos olhos ("olho preto grande") Formação do pró-ventrículo e moela Os botões locomotores são mais salientes Aos 6 dias Início da formação do bico O saco vitelino apresenta um número maior de pregas O coração está bem grande e fora do corpo Os apêndices locomotores começam a adquirir a forma da ave Aos 7 dias Já se tornam proeminentes os dígitos da asa e pernas O abdômen se torna saliente devido ao desenvolvimento das vísceras O coração está dentro da cavidade torácica O ouvido e seus condutos estão completamente visíveis A alantóide cobre completamente a gema Aos 8 dias Início da formação das penas As asas e pernas estão completamente diferenciadas Aos 9 dias O embrião começa a ter aparência própria da espécie O bico, apêndices superiores e inferiores e pigóstilo estão bastante diferenciados. Aos 10 dias Ocorre endurecimento do bico 11 Os poros da pele estão visíveis a olho nu Aos 11 dias O corpo e pescoço assumem a forma característica das aves A cabeça é mais proporcional ao tamanho do corpo O embrião está coberto por uma penugem fina Aos 12 dias Os dedos estão completamente formados As unhas dos pés começam a se formar Completa-se o empenamento Está terminando a utilização do albúmen Aos 13 dias Aparecem as escamas e unhas Aparecimento da protuberância calcítica ("dente", diamante) sobre o bico. A cabeça move-se para a direita do corpo Aos 14 dias O embrião dirige a cabeça em direção à câmara de ar Aos 15 dias O corpo e a cabeça são mais proporcionais em tamanho Ocorre a penetração do intestino para o interior da cavidade abdominal Aos 16 dias Escamas, bicos e unhas estão firmes e cornificadas. O embrião está bem emplumado Desaparecimento quase total do albúmen Aos 17 dias 12 O bico está voltado para a câmara de ar Há uma diminuição do líquido amniótico Aos 18 dias A crista está visível O embrião está quase do tamanho normal A cabeça está sob a asa direita Aos 19 dias Começa a penetração do saco vitelino na cavidade abdominal O embrião ocupa totalmente o ovo, exceto a câmara de ar. Aos 20 dias O saco vitelino está totalmente na cavidade abdominal. O umbigo está aberto A alantóide pára de funcionar e começa a secar O embrião rompe a âmnio e começa a respirar através da câmara de ar O embrião atinge o tamanho normal Aos 21 dias O pinto bica a casca O pinto emerge da casca (eclosão) Seca as penas, cicatriza o umbigo. Nasce um novo ser. Pelo menos seis períodos são considerados críticos no crescimento do embrião: entre o 2º e 4º, 9º, 14º, 16º, 19º e 20º dia. Esses períodos estão relacionados ou com fases de retardamento do crescimento embrionário (9º, 16º e 20º dia) ou com ocorrência de maior mortalidade embrionária devido às influências físicas da incubação 13 (temperatura, umidade, oxigenação, ventilação, viragem dos ovos) e até mesmo a deficiências nutricionais das matrizes (entre 2o e 4o, e 14o. dias). 1 DIA 2 DIAS 3 DIAS 4 DIAS 5 DIAS 6 DIAS 7 DIAS 8 DIAS 9 DIAS 10 DIAS 11 DIAS 12 DIAS 13 DIAS 14- DIAS 15 DIAS 16 DIAS 17 DIAS 18 DIAS 19 DIAS 20 DIAS 21 DIAS Figura 2: Esquema do desenvolvimento do embrião de galinha. 14 2.4 ESTOCAGEM DE OVOS Na moderna avicultura, a genética e o manejo evoluíram muito nos últimos 3040 anos. Como resultado, um frango de corte moderno é criado em 40 a 42 dias. Isto significa que o pintinho de corte passa aproximadamente um terço de sua vida numa incubadora, isto exige da ave o máximo de desempenho e rendimento, é fundamental o processo de incubação artificial. Segundo Patrício (1994), o ovo incubável ou fértil é aquele produzido por reprodutores acasalados numa proporção de 8% a 10% de galos e que apresenta o blastoderme. Os ovos produzidos por lotes de reprodutores saudáveis devem apresentar uma fertilidade variando de 94% a 97% durante a vida econômica das aves. A quantidade de ovo incubável por ave alojada depende de muitos fatores, como: Ambiente, nutrição, sanidade, linhagem, idade das matrizes e higiene dos ovos. Um ovo com a qualidade garantida apresenta as seguintes características: • Livre de doenças transmissíveis; • Livre de microorganismos; • Peso de 52g a 65 gramas; • Boa espessura de casca; • Forma ovoidal com câmera de ar íntegra; • Ser fértil; • Não apresentar deformidades; 15 • Não apresentar trincas. O ambiente onde o ovo é produzido tem grande influencia sobre sua qualidade. A granja deve possuir condições de biosseguridade para evitar possíveis contaminações. O isolamento, a ventilação, a distribuição dos equipamentos e a condição da cama são fatores importantes na produção de um ovo com boa qualidade. Os ovos devem permanecer o menos tempo possível nos galpões. Uma vez por dia serão transportados para o incubatório. O ambiente onde são armazenados deve ser mantido limpo e desinfetado. O furgão de transporte de ovos deve ser higienizado diariamente e fumigados no mínimo duas vezes por semana. Para se evitar quebras durante o transporte, recomenda-se repor o sistema de suspensão do veículo e instruir o motorista sobre os cuidados com a carga perecível. Os ovos transportados à longa distância por mais de 12 horas exigem um veículo especial, com furgão climatizado com temperatura entre 20°C a 22°C e umidade entre 70% a 75%. Segundo North (1984), o ovo perde umidade através da difusão e perde temperatura para o ambiente por condução, resfriando-se lentamente, levando até 18 horas para perder a temperatura inicial de 32,2°C e atingir 18°C. O embrião suporta variações de temperaturas dentro do limite de sobrevivência que, segundo estudos científicos, está entre 11°C e 25°C. O embrião morre quando as variações de temperaturas são bruscas ou prolongadas. Uma temperatura de 25°C por 12 horas pode matar o embrião. 16 Resfriamento muito rápido e tempo prolongado de armazenam enfraquecem o embrião, que acaba morrendo na 1ª fase entre 24 a 26 horas. Umidade muito baixa, menos de 50%, e muito alta, mais de 85% pode enfraquecer o embrião. Essas perdas são evitadas dando-se condições físicas para o embrião, como: • Resfriar o ovo lentamente desde os 41°C para 23°C em 6 a 8 horas; • Armazená-lo numa sala fria com temperatura de 18°C a 19°C, umidade de 75% a 88% e ventilação de 0,66m3 ar/ hora para 1.000 ovos. • Armazenar os ovos postos pela manhã, sempre à tarde, e os ovos postos à tarde armazenar sempre à noite. Estocar os ovos por 2 a 4 dias. Após esse tempo, diminuem a eclodibilidade e qualidade dos pintainhos. Segundo (Decuypere & Michels, 1992), as condições ideais de armazenamento de ovos férteis seriam conforme tabela abaixo: Tabela 1: condições ideais de armazenamento de ovos férteis 17 Na moderna avicultura, em que se exige da ave o máximo de desempenho e rendimento, é fundamental o processo de incubação artificial. Mesmo considerando toda a especialização pertinente a esta área, a tarefa de transformar com qualidade o ovo em um pinto de 1 dia permanece carente de conhecimentos referentes às condições de incubação e sua relação com o processo de desenvolvimento embrionário (GONZÁLES & GUADAGNIN, 1994). 2.5 TEMPERATURA DE ESTOCAGEM DOS OVOS Segundo CARTWRIGHT (2001), a temperatura de estocagem nunca pode ser maior que 22ºC e menor que 8ºC e a umidade relativa ficar na faixa de 70 a 80%. A ótima temperatura para ovos com 3 a 7 dias de armazenamento é de 16 a 17ºC e com mais de 7 dias 10 a 12ºC (BUTLER, 1991) e (WILSON, 1991). Para WILSON (2002), um prazo de 5 dias ou menos, a temperatura de armazenamento do ovo deve ser de 15 a 21ºC, e para um armazenamento a longo prazo, a temperatura deve ser diminuída para 11 a 13ºC, que é a temperatura fora do desenvolvimento do embrião. RUIZ & LUNAM (2002), estudaram os efeitos das condições de estocagem sobre a eclodibilidade dos ovos. No período de 1 a 3 dias de estocagem a temperatura de 20ºC comparada com 16,5 ºC influenciou de maneira negativa a eclodibilidade dos ovos. 18 2.6 TEMPERATURA DE INCUBAÇÃO A temperatura é um dos fatores físicos que determinam o sucesso da incubação. Conseqüentemente, é essencial determinar uma temperatura que promova uma eclodibilidade mais elevada garantindo a qualidade da incubação (NAKAGE et al., 2002). A embriogênese das aves está diretamente relacionada à temperatura de incubação que na galinha se processa no oviduto à temperatura de aproximadamente 40ºC (104 ºF). Após a postura, a incubação se processa a 37,5ºC (99,5 ºF) (DIAS & MÜLLER, 1998). O ajuste da temperatura da incubadora deve ser de 37,5ºC e se a temperatura oscilar mais que 0,28ºC (0,5ºF) poderá causar problemas de eclosão (CARTWRIGHT & POWERS, 2001) e (WILSON, 2002). 2.7 UMIDADE RELATIVA NA INCUBAÇÃO Ovos perdem água durante o período de incubação. A taxa de perda depende da umidade relativa que é mantida dentro da incubadora. O balanço metabólico precisa ser mantido ao longo do período de incubação. Um ovo perde entre 11 e 13% de água durante a incubação. Se a umidade relativa for muito baixa, a perda de água será excessiva, atrasando a eclosão, e muitos embriões não eclodirão, mesmo em pleno desenvolvimento. Se a umidade for muito alta, os embriões tendem a eclodir precocemente, sendo freqüentemente molhados e pegajosos e, em casos extremos, podem eclodir sem alcançarem o pleno 19 desenvolvimento (PEEBLES et al., 2000). 2.8 TROCAS GASOSAS Durante o desenvolvimento do embrião, o fluxo metabólico dos gases e da água é limitado pela difusão através dos poros na casca do ovo, provocado pela diferença de concentração dos gases entre o interior e o exterior dos ovos, capturando o O2 e liberando o CO2 (PAGANELLI et al., 1989). MAULDIN (2003) afirmou que pode ocorrer queda de até 1% na eclodibilidade quando a concentração molar de dióxido de carbono está acima de 0,5%. 2.9 ORIENTAÇÃO E FREQUÊNCIA DE GIROS DOS OVOS Em condições naturais, a posição normal de um ovo durante a incubação é completamente horizontal. A viragem ou alteração da posição do ovo durante a incubação tem uma alta influência sobre a taxa de mortalidade do embrião, porém a orientação dos ovos durante o período de estocagem e/ou incubação e a freqüência diária de giros são fatores que também podem influenciar o desenvolvimento in ovo. Um sistema adequado de viragem dos ovos (giro de 45 graus para a esquerda e depois para a direita a cada hora) é fundamental para o bom desenvolvimento embrionário durante a primeira metade da incubação. Na ausência de um sistema circulatório, nos primeiros dias de incubação, a viragem dos ovos facilita a difusão dos gases pelo albúmem e as trocas gasosas entre o embrião e o meio externo. Além disso, ela previne a aderência do embrião á 20 membrana interna da casca e promove o desenvolvimento correto das membranas extraembrionárias (WILSON, 1991). 3 MATERIAIS E MÉTODOS O teste foi realizado no estado do Paraná, no município de Castro, com altitude de 927 metros, em incubatório moderno com sistema de climatização em todas as salas, onde os ovos foram incubados em incubadoras Casp Mg 124 e. A incubadora de estágio múltiplo foi planejada para manter a temperatura de bulbo úmido em 28,9ºC (84ºF), e de temperatura do bulbo seco em 37,4ºC (99,4ºF), registrada de hora em hora. Após o período de 19 dias de incubação, os ovos foram transferidos para a câmara de eclosão, onde permaneceram até o 21ºdia para a eclosão. Foram submetidos às temperaturas médias de bulbo seco em 36,94ºC (98,5ºF) e temperatura de bulbo úmido em 31,11ºC (88ºF). Se a temperatura oscilar mais que 0,28ºC poderá causar problemas de eclosão (CARTWRIGHT & POWERS, 2001) e (WILSON, 2002). Foram utilizados 3.096 ovos da mesma postura, onde foram realizadas incubações diárias com estoque entre 1 a 12 dias, mantendo a armazenagem dos ovos com a mesma temperatura e umidade. Foram incubados 258 ovos por dia de estocagem, provenientes de matrizes Cobb 500 – slow, proveniente de um lote de matrizes com 39 semanas de idade. Na preparação dos ovos para avaliação comparativa, levou-se em conta para que os ovos não sofram variações (Número do aviário, classificador, número da coleta). 21 Foram utilizados ovos coletados na granja entre 10:00 horas as 12:00 horas. Os resultados de eclosão foram comparados conforme os dias de estoque, onde a temperatura da sala de ovos foi mantida entre 19°C a 21°C e umidade de 65% a 75%. 3.1 INCUBADORA A seguir são apresentadas as especificações técnicas da incubadora utilizada: · Máquina de grande porte tipo carros e estágio múltiplo de incubação; · Modelo: CASP – Mg 124e; · Bandeja plásticas para 86 ovos; · Ovos por carro: 5.160; · Nº de carros: 24; · Capacidade nominal 123.840 ovos; · Dimensões: 2,38 x 6,92 x 4,25m (altura, comprimento e largura); · Vazão de ar para refrigeração: 1.800 m3/h; · Estrutura central e pás dos ventiladores e sopradores em aço inox; · Sistema de exaustão: possui 2 dutos na parte superior com diâmetros de 0,20 m; · Sistema de ventilação (renovação ar): possui 2 sopradores e 4 dampers com diâmetros de 0,20 m. 22 3.2 CÂMARA DE ECLOSÃO Especificações técnicas do equipamento utilizado: · Modelo: CASP – G 21 HR; · Nº de suportes: 04; · Ovos por suporte: 5.160; · Nº de gavetas: 240; · Capacidade Nominal: 20.640 ovos; · Capacidade por gaveta: 86 ovos; · Dimensões: 2,32 x 2,95 x 2,78 m (altura, comprimento e largura); · Vazão de ar para refrigeração: 700 m 3/h · Sistema de exaustão: Possui um duto na parte traseira com diâmetro de 0,30m; · Sistema de ventilação (renovação ar): Possui um soprador e 1 damper com diâmetro de 0,30 m; · Estrutura central e pás dos ventiladores em aço inox. 3.3 CONTROLES A base do funcionamento do equipamento é um controlador microprocessado, que possui um programa para manter os ovos dentro de uma condição de conforto. Controla a temperatura e umidade em torno dos ovos para um bom desenvolvimento embrionário. A condição de conforto é delimitada por valores em torno do ponto de controle da temperatura de bulbo seco e de bulbo úmido, com operação normal para o intervalo de controle de 0,2ºF (± 0,1ºF). 23 3.4 CONTROLE DE TEMPERATURA DE BULBO SECO O controle de temperatura de bulbo seco é do tipo on/off com histerese. O sensor de temperatura é construído para operar na faixa de 21,1 a 43,3ºC (70 a 110ºF) e é calibrado pelo sistema através de um termostato de calibração de alta precisão. O sistema de aquecimento atua com o primeiro e segundo grupo de aquecedores juntamente com o processo de fechamento da renovação de ar. A refrigeração inicia-se com o processo de abertura da renovação de ar e/ou soprador e/ou serpentina dependendo da programação. 3.5 CONTROLE DE TEMPERATURA DE BULBO ÚMIDO O sensor de temperatura é construído para operar na faixa de 21,1ºC a 43,3ºC (70 a 110ºF), e é calibrado pelo sistema através de um termostato de calibração de alta precisão. O controle da temperatura de bulbo úmido é do tipo “on/off” que é referenciada ao ponto de controle. O bico atomizador de ar/água será acionado aumentando a umidade do equipamento. 3.6 RENOVAÇÃO DE AR A renovação do ar nos equipamentos é realizada através de tubulações com abertura interna variável (dampers), situados na parte superior da incubadora e da câmara de eclosão. 24 A renovação de ar possui duas funções principais: auxiliar no controle de temperatura e controlar a oxigenação dentro do equipamento. Para o controle de temperatura a renovação de ar irá fechar caso necessite aquecer o equipamento e irá abrir se necessitar esfriar. Este é um dos principais dispositivos para manter a estabilidade do sistema. Caso a programação dos parâmetros de atuação da renovação de ar não esteja ajustada ao sistema, o controle não conseguirá manter as temperaturas de bulbo seco e bulbo úmido. 3.7 SERPENTINA A serpentina consiste numa tubulação de cobre que se localiza ao lado do ventilador na parte interna da incubadora e da câmara de eclosão, sua função é de um trocador de calor. Quando o controlador aciona-a, circula água pelo tubo que esfria o ar dentro do equipamento. 3.8 AQUECEDORES Existem dois grupos de aquecedores localizados entre os ventiladores no interior dos equipamentos, que são acionados quando há diferença entre a temperatura de bulbo seco e o seu ponto de controle. 25 3.9 SOPRADORES Os sopradores estão localizados na parte superior da incubadora e da câmara de eclosão, sua função é realizar a entrada forçada de ar no equipamento, aumentando a troca térmica, fazendo que a temperatura no equipamento diminua. A sua eficiência depende principalmente das condições do ambiente, quanto mais quente estiver o ambiente menos eficiente será a atuação do soprador. 3.10 FREQUÊNCIA DE GIROS E VIRAGEM Os carros de incubação possuem corrediços onde são colocadas as bandejas de ovos, esses corrediços são inclináveis e o ângulo de inclinação normalmente é de 20 a 45º em relação ao eixo horizontal. Essa inclinação é chamada de viragem e a freqüência de giros é realizada automaticamente pela incubadora a cada hora, 24 vezes por dia. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados de eclosão (Figura 4), apesar do R2 ser baixo, mostra que os ovos que foram incubados com 12 dias de estocagem, apresentaram menor eclosão. De acordo com os resultados obtidos, os dados referentes à eclosão, sugerem que na incubação de ovos entre 3 a 5 dias de estocagem, obteve o melhor resultado. 26 Os índices de eclodibilidade registrados no presente trabalho concordam com os encontrados por DECUYPERE & MICHELS (2003), os quais obtiveram uma eclodibilidade semelhante até 4 dias de estocagem (Figura 3). Figura 3: Efeito do tempo de estocagem sobre a eclodibilidade (Decuypere & Michels, 1992). 27 5960 97 5940 96 95 5920 94 5900 93 5880 92 5860 91 5840 ECLOSÃO (%) PESO DO OVO (g) Eclosão dos ovos férteis e perda de umidade do ovo. 90 5820 89 5800 88 1 2 3 4 2 y = -0,1166x - 2,3824x + 5930,4 R2 = 0,403 y = -0,0488x 2 + 0,4272x + 93,387 R2 = 0,4296 5 6 7 8 9 10 11 12 DIAS DE ESTOQUE PESO DO OVO (g) ECLOSÃO (%) Polinômio (PESO DO OVO (g)) Polinômio (ECLOSÃO (%)) Figura 4. Resultados dos índices de eclosão e perda de umidade do ovo. Os parâmetros perda de umidade do ovo na transferência confirmam as observações de PEEBLES et al. (2000), os dados peso do ovo não diferiram significativamente quanto a perda de peso em relação aos dias de estocagem dos ovos. Na tabela 3. Os dados de temperatura e umidade das máquinas e salas de incubações e nascedouros foram registrados durante o período de incubação, constatou-se que as médias não apresentaram variações significativas do setpoint. 28 Tabela 3. Dados de temperaturas e umidades das salas e máquinas de incubações. Local Temperatura (ºF) Umidade (%) Sala de ovos 19,31 77,94 Sala de incubação 24,70 66,4 Sala de nascedouro 24,73 64,15 Máquina de incubação 99,39 84,05 Máquina de nascedouro 98,60 88,30 Fonte: Sistema supervisório CASP. 5 CONCLUSÃO Ovos incubados com estocagem entre 3 e 5 dias apresentaram melhor desempenho nos índices de eclodibilidade, em relação aos demais dias. O dia com menor desempenho de eclosão foi o 12º cuja eclosão foi significativamente afetada, confirmando a hipótese que, quanto mais dias os ovos permanecerem em estoque menor será a eclodibilidade dos ovos férteis. Portanto, devemos estar mais atentos com a estocagem de ovos em relação à performance de eclosão do que á perda de peso do ovo na incubação. 29 6 REFERÊNCIAS ARASHIRO, O. A historia da avicultura no Brasil. Gessulli Editores Ltda. São Paulo, 1989. BEIG, D. Embriologia e desenvolvimento embrionário. In: CURSO DE INCUBAÇÃO, 1, Águas de São Pedro, Facta, 1990. Anais Campinas: FACTA, 1990. p.61-71. BUTLER, D.E. Egg handling at the farm and hatchery. In: Avian Incubation. Tullett, S.G. (ed.) Poultry Science Symposium. v.22, p.195-203. 1991. CARTWRIGHT, A.L.; POWERS, T.G. Hatching Eggs in the Classroom: A Teacher’s Guide. Department of Poultry Science, Texas Agricultural Extension Service, the Texas A&M University System. p. 1-10. 2001. Decuypere, K; Michels, H. 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