Dermatologia Urgências em Dermatologia Profa. Dra. Valéria Petri1 • Dra. Luciana Matayoshi2 • Dra. Patricia Maluly2 Dra. Giselle Guedes Pereira2 • Profa. Dra. Olenia Pesant Hernández3 INTRODUÇÃO U Dra. Luciana Matayoshi (à esq.), Profa. Dra. Valéria Petri, Dra. Patricia Maluly e Dra. Giselle Guedes Pereira. rgências dermatológicas são estados patológicos que requerem atenção médica imediata por risco de fatalidade, transmissibilidade, objetivo desconforto, expressivo sofrimento ou danos de notáveis extensão e intensidade. São situações de emergência cerca de 15% a 20% do total de casos de comprometimento cutâneomucoso. Em essência, pele, mucosas e anexos requerem imediata atenção quando estão significativamente comprometidos ou sob risco iminente as funções de barreira e outros sistemas vitais. A barreira cutânea é responsável pela regulação da homeostase, capacidade de síntese de moléculas com atividade pró-inflamatória e imunorreguladora, atividades hormonais e imunológicas. A função de barreira mecânica é encarregada de evitar perda de líquidos biológicos e proteger o organismo contra os diversos tipos de agressão ambiental, inclusive infecções. As infecções por perda da função de barreira são as principais causas de morte nas queimaduras extensas, síndrome 1 - Professora Titular Livre-Docente do Departamento de Dermatologia da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo - EPM/Unifesp. Chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Ipiranga da Secretaria de Estado da Saúde - São Paulo - SP. 2 - Médica Estagiária do Serviço de Dermatologia do Hospital Ipiranga da Secretaria de Estado da Saúde - São Paulo - SP. 3 - Médica. Professora Assistente. Master em Enfermidades Infecciosas - Departamento de Dermatologia - Hospital Hermanos Almeijeiras - Ciudad La Habana - Cuba. 128 Prática Hospitalar • Ano IX • Nº 54 • Nov-Dez/2007 de Lyell (necrólise epidérmica tóxica), eritrodermia e doenças auto-imunes. Os agentes implicados são, em geral, Staphylococcus aureus e Streptococcus epidermidis, além dos bacilos Gram-negativos multirresistentes cuja agressividade é facilitada pela corticoterapia. Pacientes idosos, neutropênicos ou com nefropatias têm maior risco de complicação por desequilíbrio da função de barreira cutânea. Nesses casos ocorrem perdas hidroeletrolíticas (3 a 4 litros por dia) com perda protéica (até 40 g/L), que acarretam sérias conseqüências hemodinâmicas, hipercatabolismo e transtornos da termorregulação. A obstrução das vias aéreas por edema abrupto e secreção abundante no trajeto da mucosa por liberação maciça de aminas vasoativas costuma ser desencadeada por fármacos e produtos químicos inalados, ingeridos, injetados, contactantes e alimentos com alérgenos. À inflamação do tegumento somam-se as disfunções secretora e imunológica com liberação maciça de mediadores, principalmente interleucina-1 e hipercatabolismo, que agrava as perdas protéicas e produz insulino-resistência tissular e periférica com tendência à acidose metabólica e depressão imunitária. SÃO URGÊNCIAS DERMATOLÓGICAS 1. Síndrome estafilocócica da pele escaldada. Condição grave, mais comum na infância, causada pela exotoxina esfoliativa A e B do Staphylococcus aureus (fagotipos 71 e 55). Ocorrem febre e eritema descamativo difuso, com bolhas grandes que se rompem, deixando extensas áreas erosivas circundadas por retalhos de pele. Associa-se a alta mortalidade, requer cuidado intensivo - hidratação e antibioticoterapia (oxacilina intravenosa na dose total de 50-100 mg/kg/dia em recém-nascido e 100-200 mg/kg/dia em adultos, a cada quatro a seis horas). 2. Reações anafiláticas, urticária e angioedema. São respostas imediatas dependentes de IgE, quadros agudos quase sempre acompanhados de hipotensão, edema da glote e das vias respiratórias. Ao mesmo tempo pode haver urticária* e angioedema. O choque anafilático ocorre com urticária, edema de glote, hipotensão, sudorese e hipotermia, às vezes com eritema nodoso e vasculite. As reações urticarianas e anafiláticas são condições que associam freqüentemente exantema macular e lesões urticadas, com história típica de injeção ou ingestão de contraste ou penicilina, uso de conservantes, inalantes, infecções, doença sistêmica (lúpus eritematoso, artrite, hipertireoidismo, carcinomas, linfomas, policitemia vera), contato com plantas (dermatite venenata) e cosméticos. O angioedema agudo é o aumento de volume localizado e tenso, semelhante à urticária, porém mais profundo e difuso, sem prurido, causado por aumento da permeabilidade vascular no subcutâneo e nas submucosas. Atinge principalmente os lábios, genitais, trato gastrintestinal (disfagia, dores abdominais, vômitos, diarréia) e respiratório (dispnéia), palmas e plantas. Pode ser induzido por drogas, alimentos, venenos de insetos, material de contraste, doença do soro e contato com superfície fria. Figura 1. Necrólise epidérmica tóxica. O tratamento dos estados agudos de urticária e anafilaxia consiste da imediata interrupção do fármaco suspeito e da administração de epinefrina (0,3 a 0,5 mL de solução milesimal) subcutânea a cada 15 a 20 minutos. Mantidas livres as vias respiratórias, devem ser administrados bloqueadores H1, H2 ou ambos, glicocorticóides sistêmicos (hidrocortisona ou metilprednisolona EV, nos casos graves, com manutenção posterior – prednisona, 40 a 60 mg iniciais – e redução progressiva sob controle clínico). 3. Reações adversas a medicamentos. São lesões localizadas ou disseminadas na pele e/ou nas mucosas, provocadas direta ou indiretamente por fármacos, independentemente da dose ou via de administração. Cerca de 0,1% dos pacientes hospitalizados apresentam reações cutâneas potencialmente fatais em decorrência do uso de medicamentos (fig. 1). As reações adversas a fármacos se apresentam quase sempre como dermatoses (até 95%); o comprometimento sistêmico ocorre em pelo menos 30% dos casos, 5% desses como reações graves (síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica). Antibióticos e anticonvulsivantes são responsáveis pela maioria das ocorrências. Tabela 1. Fármacos que podem causar síndrome de Stevens-Johnson ou necrólise epidérmica tóxica Acetaminofeno Cefalosporinas Fembufeno Piroxicam Ácido tiaprofênico Cetoprofeno Fenilbutazona Rifampicina Ácido valpróico Claritromicina Fluoroquinolonas Sulfadiazina Alopurinol Clormezanona Flurazepam Sulfadoxina Aminopenicilinas Corticosteróide Hidantoínas Sulfassalazina Antiinflamatórios não-esteróides Cotrimoxazol Ibuprofeno Tiabendazol Benoxaprofeno Diclofenaco Isoxicam Tenoxicam Carbamazepina Etambutol Naproxeno Vancomicina Os pacientes com urticária aguda/angioedema/anafilaxia devem ser sistematicamente investigados quanto aos medicamentos de usos recente e contínuo. Na tabela 1 estão relacionados os principais medicamentos que podem causar reações adversas graves. 4. Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e necrólise epidérmica tóxica (NET) São padrões de reação mucocutânea e multissistêmica de alto risco que se distinguem entre si pela proporção de tegumento que apresenta necrose, bolhas flácidas serohemorrágicas e desprendimento da pele. A SSJ atinge até 10% da superfície corporal e a NET afeta mais que 30% (entre 10% e 30% admite-se a forma de transição SSJ - NET). Os fármacos induzem cerca de um terço dos casos de SSJ e 15% são atribuídos a infecções. Até 80% dos casos de NET devemse ao uso de medicação específica e menos de 5% dos pacientes não têm histórico de uso de medicamento. A NET provoca destacamento laminar da pele, expondo a derme avermelhada e úmida, com bolhas flácidas. O sinal de Nikolsky** é positivo. Pode haver lesões nas mucosas conjuntivais, orodigestiva e do trato respiratório. Daí os distúrbios oculares, disfagia, dor abdominal, melena e até perfuração do cólon. A taxa de mortalidade gira em torno de 30% a 40%. A NET e o SSJ devem ser distinguidos do eritema multiforme major. Este é tradicionalmente descrito como sinônimo de SSJ, tem sido considerado entidade distinta, ainda que grave. Trata-se de erupção aguda de lesões fixas, isoladas entre si, com as típicas lesões “em alvo”***, predominando nas extremidades e às vezes associadas a lesões mucosas. Não há pródromos e a evolução é tipicamente benigna. * Urticária é a erupção caracterizada pelo súbito aparecimento de urticas, pápulas eritematoedematosas efêmeras, migratórias, pruriginosas, produzidas pela liberação de mediadores vasoativos a partir dos mastócitos situados em torno dos vasos da pele. ** O sinal de Nikolsky é o descolamento da pele próxima da lesão bolhosa à pressão friccional. ***A lesão “em alvo” consiste de duas zonas distintas: uma externa eritematoedematosa e outra interna com necrose, vesículas ou bolhas, com base de tonalidade purpúrica ou violácea. Lesões em alvo são típicas do eritema multiforme, são também simétricas e situamse, principalmente, nos dorsos das mãos e pés e na face extensora dos antebraços. Prática Hospitalar • Ano IX • Nº 54 • Nov-Dez/2007 129 O tratamento da SSJ/NET consiste do suporte clínico em unidade de terapia intensiva ou centros de referência para grandes queimados (o tratamento de emergência para NET é semelhante ao tratamento dos grandes queimados), com administração de fluidos e nutrição parenteral. A antibioticoterapia profilática é controversa; parece mais coerente empregar tratamento específico com cultura de bactérias positiva. As medidas gerais incluem conforto térmico para reduzir a perda calórica, heparinização contra o risco de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar em pacientes acamados, proteção contra sangramento gastrintestinal, aspiração, debridamento de tecido inviável, curativos biológicos e eventual enxertia. O comprometimento ocular da fase aguda requer lubrificantes, colírio de corticosteróides, correção regular de simbléfaro, prevenção de úlceras de córnea e outras infecções. 5. Eritrodermia esfoliativa. Quadro sindrômico particularmente grave cuja causa é difícil estabelecer. Surge rapidamente e progride de modo subagudo ou crônico, com febre, calafrios, linfadenopatia, eritema e descamação furfurácea generalizados com prurido de intensidade variável. Essa síndrome pode ser devida ao agravamento de doenças subjacentes: eczemas (atópico, seborréico, de contato), psoríase, farmacodermia/toxidermia (sais de ouro, anestésicos, sulfamidas, arsenicais, cloroquina, nitrofuronas, ácido paraminosalicílico, fenilbutazona, barbitúricos, antibióticos, anticonvulsivantes), linfoma cutâneo, eritrodermia ictiosiforme congênita, líquen plano, pitiríase rubra pilar. Porque toda a superfície cutânea é atingida, o aumento da perfusão cutânea resulta em hipotermia, hipercatabolismo com perda protéica e hipermetabolismo compensatórios. As fases exsudativas e de desequilíbrio hidrossalino têm conseqüências variáveis e risco de septicemia e outras complicações letais. A hospitalização é essencial ao suporte e investigação da origem do processo – a hipótese de reação adversa a fármaco(s) somente deve ser abandonada se houver evidência consistente direcionada a outra etiologia. São indicados banhos com água turva de amido, Figura 2. Herpes-zóster necrotizante. equilíbrio hidroeletrolítico, anti-histamínicos, antibióticos e corticosteróides sistêmicos para controlar as fases críticas. 6. Erisipela e celulite. São infecções agudas da derme e subcutâneo em conseqüência da penetração de bactérias patogênicas em paciente suscetível (estreptococo beta-hemolítico do grupo A, Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes, Haemophylus influenzae). Os agentes se inserem nos tecidos por meio das portas de entrada (xerodermia intensa, fissuras, traumas, dermatomicoses e outros tipos de solução de continuidade). A erisipela é a forma superficial da celulite. Pode instalar-se em qualquer local, mas costuma atingir as pernas ou a face, preferindo terreno edematoso, com estase venosa e linfangite, em pacientes com diabetes e/ou neoplasias, desnutridos, imunodeprimidos, sob cortico ou quimioterapia, com doenças cardiorrespiratórias e hematológicas ou com dependência química de álcool. A evolução da erisipela é rápida, com febre, prostração, náuseas, vômitos e linfonodomegalia local. A área comprometida é eritematosa, edemaciada, quente e dolorosa, às vezes bolhosa. O tratamento consiste em repouso absoluto, no leito e com os pés elevados, se atinge membro inferior. Administra-se penicilina cristalina nas doses de acordo com a intensidade do quadro clínico e idade. Pacientes alérgicos à penicilina ou à sulfa podem ser tratados com azitromicina, eritromicina ou cefalosporina. O uso de heparina como terapia adjuvante está indicado em casos suspeitos de tromboflebite e trombose venosa profunda. 7. Eczema herpético. É a infecção cutâ- 130 Prática Hospitalar • Ano IX • Nº 54 • Nov-Dez/2007 nea disseminada pelo vírus do herpes simples sobre dermatoses ou doenças preexistentes: atopia, linfomas, doença de Darier, hiperceratose epidermolítica e pênfigo foliáceo. Febre, toxemia e vesículas (por vezes umbilicadas) disseminadas sofrem erosão, formam crostas e podem infectar-se com bactérias patogênicas. O tratamento é sintomático e de suporte, com cobertura antibacteriana e antiviral (aciclovir, penciclovir, valaciclovir), nas doses correspondentes à gravidade do quadro. 8. Herpes-zóster (“cobreiro”). É a infecção aguda que geralmente envolve a pele e os nervos de um dermátomo e está associada à reativação do vírus varicelazóster. Pode atingir indivíduos de quaisquer idades, mas a incidência aumenta com a idade, à medida que diminui a imunidade celular. Caracteriza-se por dor unilateral do tipo nevrálgica com subseqüente erupção com agrupamento de vesículas sobre base eritematosa, cuja extensão limita-se a um ou dois dermátomos. A dor durante o surto pode ser intensa e angustiante em indivíduos com mais de 45 anos. A neuralgia pós-herpética pode ser resistente entre idosos, condicionando a situação de necessidade crônica de analgesia, pelo menos durante alguns meses. O zóster necrotizante também representa situação de urgência entre imunodeprimidos e desnutridos, idosos ou não, especialmente quando atinge o ramo oftálmico (fig. 2 ). Assim, caracteriza-se no zóster a urgência dermatológica, neurológica e oftalmológica. A evolução pode ser atípica e a cicatrização aberrante. A angústia por conseguir algumas horas de sono e os paroxismos de dor lancinante obrigam o paciente a permanecer insone e ansioso. O desespero e o suicídio não são raros. O tratamento com antiviral específico sistêmico (aciclovir, penciclovir, valaciclovir, fanciclovir) deve ser precoce e associado a corticoterapia oral visando conter o processo inflamatório que leva à neuropatia periférica. Na vigência da dor lancinante e incoercível com analgésicos comuns, recorre-se à analgesia proporcional à sintomatologia - o anestesista tem condições de avaliar e controlar a dor intolerável por meio de bloqueio nervoso e sedação. Dermatologia 9. Reações hansênicas. A hanseníase é infecção bacteriana granulomatosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, transmitida por contato inter-humano direto, estreito e freqüente, especialmente atingindo crianças e adultos jovens. Compromete a pele, o sistema nervoso periférico, o trato respiratório superior, os olhos e testículos. As manifestações clínicas, evolução natural e o prognóstico da hanseníase dependem da resposta do hospedeiro. São consideradas quatro formas clínicas da hanseníase: tuberculóide (comprometimento localizado da pele e dos nervos periféricos com poucos BAAR na biópsia cutânea); virchowiana (comprometimento generalizado, especialmente pele, mucosas das vias respiratórias superiores, sistema reticuloendotelial, glândulas supra-renais e testículos, com numerosos BAAR nos testículos); limítrofe, dimorfa ou borderline (apresenta características das duas formas anteriores, com muitos BAAR presentes e lesões cutâneas de aspecto variável) progride para o pólo tuberculóide ou lepromatoso. As formas indeterminadas se apresentam como máculas hipocrômicas com alterações de sensibilidade e são as mais importantes do ponto de vista do controle da hansenía­ se; podem curar-se espontaneamente ou evoluir para as demais formas da doença. Requerem acompanhamento, investigação de foco entre os conviventes e tratamento específico. As reações hansênicas são fenômenos imunológicos agudos ou subagudos, podem interromper a evolução lenta da doença e constituem urgência porque podem resultar em lesões neurológicas incapacitantes. Podem ocorrer espontaneamente, ou com início após a terapêutica específica. Há dois tipos de reações: a. reação de tipo 1 ou reação reversa: ocorre entre dimorfos tendendo ao pólo tuberculóide: febrícula, lesões cutâneas inflamatórias e muito dolorosas. As neurites agudas requerem tratamento urgente, pois é alto o risco de seqüelas permanentes; b. reação do tipo 2 ou eritema nodoso hansênico: ocorre nos virchowianos e Figura 3. Úlcera aguda em eczema de contato extenso e estase. dimorfos antes, durante e após o início da terapêutica, quando os bacilos se fragmentam. Os doentes têm febre, mal-estar, dores no corpo, linfonodos aumentados e dolorosos, artralgia, placas e nódulos eritematosos que podem sofrer ulceração, irites e iridociclites, orquites e orquiepididimites, hepatoesplenomegalia dolorosa, icterícia e até trombose. Em nenhum dos estados reaccionais deve ser suspensa a medicação específica. O tratamento da reação reversa leve pode ser controlado com repouso, analgésicos e corticosteróides, conforme a intensidade do surto reacional. A talidomida é empregada nos casos em que não ocorre neuropatia (100 mg três vezes ao dia, com redução conforme haja melhora), respeitada a proibição de administrar em mulheres em idade fértil. Quando a talidomida está contra-indicada pode ser usada pentoxifilina na dose de 400 mg três vezes ao dia durante dois a três meses. O eritema nodoso hansênico requer repouso, analgésicos, prednisona (40 mg/dia iniciais, com doses decrescentes conforme melhora) e clofazimina (300 mg iniciais, reduzindo de acordo com a evolução). 10. Dermatoses bolhosas. São estados de eclosão abrupta de bolhas e erosões, com descompensação geral: pênfigo vulgar, penfigóide bolhoso, epidermólise bolhosa adquirida, eritema polimorfo bolhoso, pênfigo paraneoplásico, herpes gestacional, dermatite herpetiforme. Dependendo da extensão do processo, os pacientes devem ser internados e receber suporte enquanto se necessita esclarecimento diagnóstico. 11. Dermatite de contato generalizada. Caracterizada pelo surgimento progressivo de eritema, vesículas, bolhas e exsudação com prurido intenso e posteriores descamação e crostas (fases aguda e subaguda). Quando compromete grande parte da superfície cutânea surgem as complicações sistêmicas: hipovolemia, hipoproteinemia e sepse. Na fase exsudativa estão indicadas as soluções anti-sépticas e adstringentes (água sulfatada, solução de Burow), anti-histamínicos orais, corticosteróides orais ou injetáveis (de liberação lenta). Na fase subaguda está indicada corticoterapia oral, anti-histamínico oral e cremes emolientes. Deverão ser investigados pelo dermatologista o agente etiológico e o alérgeno específico (fig. 3). A dermatite venenata é associada ao contato com plantas (fitodermatite alérgica) e ocorre em indivíduos sensibilizados a uma variedade de alérgenos vegetais. Caracteriza-se por dermatite eczematosa aguda, com bolhas, muito pruriginosa, freqüentemente em arranjo linear. A fitofotodermatite, por outro lado, é reação de fotossensibilidade que ocorre em indivíduos que tiveram contato com substância química fotossensibilizadora derivada de planta sobre a pele, com subseqüente exposição solar. Podem ser quadros graves, como queimaduras que se assemelham a celulite ou doença bolhosa. O tratamento local consiste na aplicação de compressas úmidas frias durante 30 minutos, três vezes ao dia. Cremes de barreira (argila, loção de bentonita a 18%), cremes de silicone ou vaselina podem ser úteis nos primeiros dias. Ocasionalmente administra-se creme de corticosteróide por tempo limitado (sete a dez dias, uma ou duas aplicações diárias) e anti-histamínico. 12. Púrpura fulminans. Ocorre no decurso de septicemias com distúrbio generalizado da coagulação sangüínea. Os pacientes Prática Hospitalar • Ano IX • Nº 54 • Nov-Dez/2007 131 Dermatologia apresentam prostração, equimoses e choque por sepse bacteriana (por meningococo, pneumococo, Escherichia coli, Pseudomonas), complicações obstétricas, neoplasia maligna disseminada ou traumatismo maciço, com sangramento em vários focos. Há liberação de endotoxinas com formação de microtrombos na pele e em outros órgãos, particularmente adrenais. Petéquias, equimoses, hematomas, sangramento e choque podem ocasionar a morte em até 24 horas. A internação visa ao tratamento do choque e da infecção, com administração de heparina e corticóide. As lesões apresentam-se com coloração purpúrica e bordas eritematosas bem demarcadas, como bolhas hemorrágicas e necrose extensa, especialmente nas extremidades distais e áreas de pressão, até com auto-amputação. 13. Vasculite necrotizante. É estado de hipersensibilidade vascular de pequenos vasos que se expressa, clinicamente, por febre, mal-estar, mialgia, dor articular e lesões que caracterizam a chamada “púrpura palpável”, com lesões urticariformes, bolhas hemorrágicas, nódulos e até necrose, principalmente no dorso e extremidades. Pode ter como causa medicamentos (penicilina, sulfamida e soros), infecções (hepatite C, estreptococo beta-hemolítico A, Staphylococcus aureus, M. leprae). Pode também estar associada a neoplasias (doenças linfoproliferativas e carcinoma renal), colagenopatias (lúpus eritematoso, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren, disproteinemia, hipergamaglobulinemia). Ocorre comprometimento sistêmico de vários níveis: renal, muscular, articular, digestivo e dos nervos periféricos. A púrpura de Schonlein-Henoch é um tipo de vasculite por hipersensibilidade associada a IgA. 14. Fasciite necrotizante. É infecção profunda, potencialmente fatal, causada por múltiplos agentes microbianos, que acomete a fáscia de um braço ou perna e progride rapidamente com necrose do tecido subcutâneo. São implicados os microrganismos anaeróbios Peptostreptoccocus, Enterobacter e Proteus, que penetram na pele por meio de ferimentos, queimaduras, procedimentos cirúrgicos ou traumas, especialmente em pacientes com diabetes mellitus, doença vascular periférica e imunossupressão, insuficiência renal, neoplasia maligna, alcoolismo, arteriosclerose. O paciente apresenta dor lancinante e incoercível, lesão edematosa difusa igual a uma celulite de menor gravidade, o que pode confundir o examinador, que o dispensa com diagnóstico de celulite. Sucede que em poucos dias o paciente piora da dor, tem febre alta, leucocitose, edema localizado com mancha central de tonalidade azulacinzentada e bolhas. O tratamento consiste em antibioticoterapia intensiva específica (conforme antibiograma), debridamento cirúrgico e remoção da fáscia e do subcutâneo. 15. Psoríase pustulosa generalizada. É forma grave de psoríase que pode ser desencadeada por infecções, hipocalcemia ou tratamento intempestivo com esteróides. Na gravidez assume o aspecto de impetigo herpetiforme e pode derivar para mortalidade materna e fetal. Lesões pustulosas podem resultar em desidratação, hipocalcemia, hipoalbuminemia e septicemia, além dos sintomas constitucionais. O tratamento é delicado, pois depende da resposta favorável ao uso de metotrexato, retinóide oral ou ciclosporina. 16. Doenças sexualmente transmissíveis. As doenças sexualmente transmissíveis são urgência indiscutível porque representam risco a terceiros. A identificação e o tratamento precoce da sífilis, do cancro mole e da gonorréia são urgentes porque são imediatamente controláveis, o que não acontece com o condiloma acuminado e o herpes genital. Porém, a associação dessas doenças (sífilis + HPV + herpes simples) favorece a instalação de outros agentes, incluindo o HIV. t REFERÊNCIAS 1. Freiman A, Borsuk D, Sasseville D. Dermatologic emergencies. Canadian Med A J. 2007;173(11):1317-19. 2. Bowen T, Cicardi M, Farkas H et al. Canadian 2003 international consensus algorithm for the diagnosis, therapy, and management of hereditary angioedema. J Allergy Clin Immunol. 2004;114(3):629-37. 3. Sigurdsson V, Toonstra J, HezemansBoer M, et al. Erythroderma. 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