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6 th Inform ation Design
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Blucher Design Proceedings
May 2014 , Vol. 1, Num. 2
www.proceedings.blucher.com.br/evento/cidi
Criação de fontes digitais a partir do estudo tipográfico do livro
do século XVI, La Geografia, de Claudio Ptolomeo Alessandro
Creation of digital fonts from the typographic study of the book of XVI century, La
Geografia, Claudio Ptolomeo Alessandro
Caio Lucas Farias de Lima, Josinaldo Barbosa da Silva, Elizete Coelho
tipografia, desenvolvimento de fontes, open type
Nossa pesquisa busca realizar um resgate histórico, estudando as tipografias que foram utilizadas na
impressão do livro do século XVI La Geografia, de Claudio Ptolomeo Alessandro, no desenvolvimento de
uma fonte digital. O desenho e as características da fonte a ser desenvolvida procuram fazer referência à
tradição tipográfica do renascimento italiano no século XVI, capturando o desgaste do tempo e
imperfeições de impressão, sob um processo experimental de desenvolvimento de tipografias digitais,
utilizando a tecnologia Open Type.
typography, developing type, open type
Our research intend to realize a historical rescue, studying the typographies that were used in the print of
the sixteenth century book La Geografia, from Claudio Ptolomeo Alessandro, in the development of a
digital type. The drawing and the type characteristics to be developed intend to make reference to the
typographic tradition of the sixteenth century Italian Renaissance, capturing the wear of time and
imperfections of print, in an experimental process of digital type development, using the Open Type
technology.
1 Introdução
Na história da tipografia, o renascimento foi um período importante com a produção de tipos
humanistas, ligados à razão e ao conhecimento. Usados em impressões de livros ligados às
ciências, procuravam se afastar dos tipos góticos usados na impressão de obras religiosas. O
livro La Geografia, de Ptolomeo é uma importante obra científica publicada nesse período, com
grande relevância na história da Geografia. Um exemplar do livro se encontra no acervo da
biblioteca do Instituto Ricardo Brennand. A partir dele iniciamos nossa pesquisa, estudando as
tipografias e utilizadas em sua impressão, para seleção e desenvolvimento de uma fonte digital,
sob um processo experimental de desenvolvimento e utilizando a tecnologia Open Type. O
desenho e as características da fonte buscam fazer referência à tradição tipográfica do período
e as características da impressão observadas nas análises. A pesquisa busca realizar um
resgate histórico e contribuir com a atual produção tipográfica nacional.
2 Revisão Bibliográfica
O livro La Geografia (figura 1), originalmente escrito em grego por Claudio Ptolomeo
Alessandro, é uma obra lançada durante o período do renascimento, traduzida para o italiano
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5º InfoDesign Brasil
6º Congic
Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.)
Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI
Recife | Brasil | 2013
Proceedings of the
6th Information Design International Conference
5th InfoDesign Brazil
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Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.)
Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI
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Lima, Caio Lucas Farias de; Silva, Josinaldo Barbosa da; Coelho, Elizete. 2014. Criação de fontes digitais a partir do estudo tipográfico
do livro do século XVI, La Geografia, de Claudio Ptolomeo Alessandro. In: Coutinho, Solange G.; Moura, Monica; Campello, Silvio
Barreto; Cadena, Renata A.; Almeida, Swanne (orgs.). Proceedings of the 6th Information Design International Conference, 5th
InfoDesign, 6th CONGIC [= Blucher Design Proceedings, num.2, vol.1]. São Paulo: Blucher, 2014. ISSN 2318-6968, ISBN
978-85-212-0824-2
DOI http://dx.doi.org/10.5151/designpro-CIDI-178
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por Girollamo Ruscelli. A obra aborda todo o conhecimento geográfico do período de Ptolomeo,
que viveu no século II d.c., sendo dividido em duas partes, atualizada por Ruscelli com mapas
cartográficos e informações geográficas de sua época. O livro é considerado um grande
clássico para a geografia e conhecimento universal, tendo diversas edições produzidas ao
longo do século XVI.
Figura 1: Folha de rosto do livro La Geografia, exemplar presente no acervo do IRB.
As letras humanistas que surgem na renascença italiana dividem-se em dois grupos
principais - romanas e itálicas -, derivadas, respectivamente das maiúsculas romanas e das
minúsculas carolíngias. (BRINGHURST, 1992). Os tipos romanos eram utilizados em livros
mais caros e prestigiosos enquanto as letras itálicas eram aplicadas em obras mais baratas
pela economia de espaço que proporcionavam. Não havia caracteres caixa-alta para os tipos
itálicos, que eram utilizados junto às versais romanas.
Figura 2: Exemplo de tipografia romana humanista retirada do livro La Geografia.
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Também identificamos o estilo itálico maneirista. Com o itálico maneirista se usam
caracteres versais romanos com eixo oblíquo que exercem função de caixa-alta no texto (figura
3).
Figura 3: Exemplo de tipografia itálico maneirista com o uso em conjunto com o versal romano de eixo oblíquo.
(retirada do livro La Geografia).
São apresentadas no La Geografia também diversos tipos de capitulares. Existem
capitulares com desenho versal romano, bem ornamentadas, utilizadas em início de parágrafo
ou página, apresentam referências aos ideais, mitos clássicos e valores morais (figura 04).
Figura 4: Exemplo de capitular ornamentada (retirada do livro La Geografia).
3 Metodologia
Para análise das tipografias utilizadas no livro, foram retiradas fotos dos caracteres e das
páginas do exemplar do acervo do IRB, que foram impressas e encadernadas, facilitando a
visualização das fontes, de caracteres especiais, ligaturas, sinais de pontuação e outros
possíveis elementos tipográficos.
Em um segundo momento, após as primeiras análises, fotografamos novamente o livro La
Geografia. O foco agora foram às páginas que apresentavam capitulares, grande quantidade e
variedade de caracteres (romano, itálicos e de corpos diferentes) e também aquelas que
apresentavam caracteres com desenho diferenciado. A partir das análises das fontes e
discussão do grupo de pesquisa foi escolhida a itálica maneirista como tipografia que seria
trabalhada nas etapas seguintes do projeto.
Com as análises feitas a partir dos caracteres selecionados, percebeu-se diferenças de
peso e de traço nos caracteres da itálica maneirista, que apresentavam tamanhos diferentes
(figura 5).
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Figura 5: Contraste do tamanho de caracteres do estilo itálico maneirista.
Em se tratando da tecnologia de impressão tipográfica do século XVI, o corpo dos tipos para
impressão é outro fator determinante para a identificação de uma tipografia além de seu estilo
tipográfico. Logo, foi feita uma nova seleção entre os caracteres recortados, separando entre
tipografia “a” e “b”. A tipografia “a” (à esquerda na figura 5) é utilizada no corpo do texto no livro,
de tamanho menor em comparação com a tipografia “b” (à direita na figura 5), utilizada em
títulos.
Para as próximas etapas de desenvolvimento da fonte, foi escolhida a tipografia “a”. A
escolha foi baseada na maior variedade de caracteres encontrados e também pela maior
quantidade de ruído observado, característica interessante para nossa proposta de preservar
tais características no desenho tipográfico da fonte digital. Os caracteres da tipografia “b”
provavelmente por terem corpo maior apresentam impressão mais definida, com menos ruídos.
Foram revisitados os mapas de caracteres, dessa vez organizando os componentes da
tipografia “a” (ver anexos), nas mesmas categorias anteriormente citadas.
A partir dos caracteres organizados nos mapas, se iniciou o processo de experimentos na
edição das imagens do recortes, para o posterior processo de vetorização. Foi feito um teste
inicial de vetorização, utilizando a técnica manual (figura 6). Observou-se que em comparação
com a imagem de referência do caractere original, algumas características de ruídos, manchas,
borrões não ficavam fielmente registrados.
Figura 6: Primeiros testes de vetorização manual.
O processo posterior foi de edição das imagens dos recortes dos caracteres, até o presente
momento, com experimentos nos caracteres dos mapas caixa-alta e caixa-baixa concluídos. Os
experimentos foram realizados no Adobe Photoshop, buscando resultados que fossem
adequados para o posterior processo de vetorização automática, produzindo imagens
monocromáticas, e também registrassem com proximidade o caractere impresso, tal como se
apresenta nas páginas do livro.
Iniciamos selecionando uma dentre as amostras recortadas de cada glifo para o processo
de experimentos. Para a seleção eram evitadas imagens que apresentavam interferência
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fotográfica, como desfoque, desalinhadas, imagens muito escuras, selecionando as que
apresentavam melhor qualidade, ampliando as possibilidades de experimentação. A seguir, a
imagem é convertida em preto e branco, com ajuste nos níveis de preto e branco (figura 7),
evitando tons de cinza.
Figura 7: Da esquerda para direita: Recorte original do caractere, conversão em preto e branco e ajuste nos níveis.
Após o ajuste, são feitos experimentos configurando o nível de preto e branco, testando o
peso, espessura do traço e representação dos ruídos (figura 8). Também são configurados o
brilho e o contraste, evitando tons de cinza e controlando o nível de ruídos.
Figura 8: Exemplos de experimentos utilizando níveis, brilho e contraste.
São gerados até 11 (onze) experimentos por caractere. Ao final, são observados nos
resultados o nível de legibilidade, ruído e fidelidade com o caractere original. Glifos que
apresentam mais de um caractere, como o “e” e o “v” (figura) são feitos os experimentos e
armazenados para o posterior uso na fonte open type. A partir dos experimentos realizados,
foram feitos os primeiros testes de vetorização automática (figura), no Adobe Illustrator,
configurando a precisão, nível de pontos e curvas.
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Figura 9: Primeiros experimentos de vetorização automática, a partir das imagens trabalhadas.
Durante todo o processo são feitas reuniões periódicas com o orientador e coorientadora
apresentando os resultados obtidos, discussões, instruções e compartilhamento de
informações para as próximas atividades previstas no cronograma.
3.1 Resultados e Discussão
A partir da análise das tipografias encontradas no La Geografia e um estudo sobre o seu
período de impressão, fomos capazes de identificar os estilos tipográficos utilizados. No
entanto, não nos foi possível precisar sobre a autoria das fontes e nem seus respectivos
tipógrafos.
Dentre as fontes encontradas no livro, temos exemplos de caracteres gregos (figura 10), e
também o romano humanista (figura 2) e o itálico maneirista (figura 3). É importante salientar
que estas fontes de mesmo estilo, apresentam-se em vários tamanhos, caracterizando várias
fontes, tendo em vista a tecnologia de impressão da época.
Figura 10: Exemplo de caracteres gregos (retirado do livro La Geografia)
Foram encontradas capitulares romanas não ornamentadas (figura 11). Identificamos
grupos de capitulares ornamentadas (figura 12) que apresentam o mesmo desenho, indicando
não serem o mesmo tipo impresso, ou um desenho de mesmo tema, mas com forma diferente,
como nível de detalhes e espessura do traçado.
Figura 11: Exemplo de capitular versal romana sem ornamentos (retirada do livro La Geografia).
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Figura 12: Capitulares ornamentadas (Retirado do livro La Geografia)
Há casos em que as versais romanas oblíquas são utilizadas como capitulares (figura 13).
Nesses casos, elas costumam estar inseridas dentro de uma margem, que corresponderia ao
tamanho de uma capitular como as das figuras 3, 5 e 6. A substituição pelas versais romanas
oblíquas pode indicar a possibilidade da falta de tipos capitulares de determinada letra no
momento de composição da página.
Figura 13: Exemplo de capitular versal romano oblíquo (Retirado do livro La Geografia)
Foi montado um mapa de caracteres com até 6 (seis) amostras de cada glifo por letra. Não
foram encontrados os caracteres “j” e “w” na tipografia itálica maneirista presente no livro. Com
o recorte e a seleção dos caracteres da tipografia itálica humanista foram montados mapas de
caracteres (ver anexos). Procurou-se registrar com as amostras suas características singulares
de ruídos de impressão e formatos diferenciados.
Foram encontrados dois caracteres que aparentemente representam o “y” (figura 14). O
segundo caractere aparenta ser o “y” com trema “ÿ”, no entanto, também é uma forma
alternativa da ligatura “ij” em flamengo (BRINGHURST, 1992: 349), a partir dessa hipótese, há
possibilidade de desenvolver o caractere “j” que não foi encontrado com o desenho deste glifo.
O caractere “ij” está presente no mapa de ligaturas (ver anexos).
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Figura 14
4 Conclusão
O levantamento de dados sobre as tipografias do livro não pôde identificar seus nomes e
autores pelas razões já citadas de falta de acesso a registros, e pelo fato de termos apenas as
impressões dos caracteres nas páginas, que estão passíveis de sofrerem deformações
alterando seus desenhos originais. Identificamos os estilos tipográficos utilizados e tamanhos,
de acordo com o período, e a partir disso pudemos avançar nas análises, levantamento de
dados, montagem dos mapas de caracteres. Realizamos experimentos a partir dos caracteres
dos mapas caixa-alta e caixa-baixa para as posteriores etapa de vetorização, estudo do
desenho tipográfico e geração do arquivo open type final da fonte.
5 Anexos
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Referências
BRINGHURST, Robert. 2006. Elementos do Estilo Tipográfico. São Paulo: Cosac Naify.
LUPTON, Ellen. 2009. Pensar com tipos: um guia para designers, escritores, editores e
estudantes. São Paulo: Cosac Naify.
BUGGY. 2007. O MECOTipo. Recife: Tipos do aCASO.
VIEIRA, Silvânia Cosmo Esmerindo. 2012. Joaquim Nabuco Uma fonte de simulação
caligráfica inspirada na memória. Recife: UFPE.
SMEDRESMAN, Gabe. 2008. Printing History: “Geofroy Tory's Champ fleury in the context of
the renaissance reconstruction of the Roman capital alphabet”. p.10. Disponível em:
<http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA206688479&v=2.1&u=capes58&it=r&p=AA
ON&sw=w>. 04/10/12.
BROWN, Frank Chouteau. 2007. Letters and Lettering A Treatise With 200 Examples. Boston.
Disponível em: < http://www.gutenberg.org/ebooks/20590#download>. 14/10/12.
Sobre os autores
Caio Lucas Farias de Lima, IFPE, Brasil <[email protected]>
Josinaldo Barbosa da Silva , IFPE, Brasil <[email protected]>
Elizete Coelho, IFPE, Brasil <[email protected]>
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