o ensino da música como formação integral e a motivação dos

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O ENSINO DA MÚSICA COMO FORMAÇÃO INTEGRAL E A
MOTIVAÇÃO DOS ALUNOS EM SALA DE AULA
CARVALHO, Marcos Paulo de1 - PUCPR
RODRIGUES, Evandro Afonso2 - PUCPR
CICHOCKI, Adriana Carla Dalazen3- SEEDPR
ABAD, Mariana Beilune4 - PUCPR
Grupo de Trabalho - Práticas e estágios nas licenciaturas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
No período de agosto a dezembro de 2012, o grupo de bolsistas do PIBID da PUC-PR
realizou no Colégio Estadual João Bettega no período da tarde, atividades de musicalização
infantil envolvendo sensibilização sonora, iniciação rítmica, abordando a música, suas
características, curiosidades e estilos. Tendo em vista que o ensino de música nas escolas
públicas é praticamente nulo, devido à falta de profissionais capacitados e de subsídio do
governo, foram elaboradas atividades utilizando todo o material, mesmo que limitado,
disponível no colégio, que fossem significativas e trouxessem conteúdos abrangentes que o
professor de artes não havia trabalhado. As aulas de observação juntamente com um
questionário aplicado, mostrou que os alunos não tinham interesse em conhecer novos estilos
musicais ou outros artistas do mesmo estilo que eles já tinham contato. Sendo assim as
atividades foram aplicadas visando uma vivência maior com a música não veiculada nos
principais meios de comunicação e buscando instiga-los a conhecer novos estilos musicais,
trazendo um melhor entendimento das noções musicais que seriam trabalhadas. Todas as
atividades foram baseadas na interação com os alunos e respeito aos seus gostos musicais,
sempre tendo em vista uma melhor visão do mundo da música. A proposta das atividades não
era de apenas trazer conteúdo musical novo para os alunos, mas sim uma interação entre os
alunos e bolsistas na busca de novos artistas e manifestações musicais e culturais, trabalhando
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Graduando em Licenciatura em Música pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bolsista do
Programa Institucional de Iniciação à Docência desde junho de 2012. E-mail: [email protected]
2
Graduando em Licenciatura em Música pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bolsista do
Programa Institucional de Iniciação à Docência desde agosto de 2012. E-mail: [email protected]
3
Graduada em Educação Artística/Artes Plásticas na Faculdade de Artes do Paraná, especialista em Metodologia
do Ensino da Arte pela Faculdade Internacional de Curitiba, professora da disciplina de Artes no Ensino
Fundamental e Médio pela Secretaria da Educação do Estado do Paraná no Colégio Estadual Marechal Cândido
Rondon. E-mail: [email protected]
4
Graduanda em Licenciatura em Música pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bolsista do
Programa Institucional de Iniciação à Docência desde junho de 2012. E-mail: [email protected]
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a música como uma formação integral do indivíduo. O trabalho desenvolvido neste período
serviu como base para o planejamento de novas aulas para o projeto de 2013, tendo em vista o
rendimento que as atividades resultaram. Este novo projeto além de aplicar os conteúdos
musicais, trabalhará com uma pesquisa da motivação dos alunos buscando meios de contornar
os problemas vividos em sala de aula, tornando todo o ensino significativo.
Palavras-chave: Educação Musical. Vivência Musical. Interação. Musicalização. Motivação.
Formação Integral.
Introdução
Este documento apresenta relatos de experiência das atividades desenvolvidas no
período de agosto a dezembro de 2012 do Programa Institucional de Iniciação à Docência, no
Colégio Estadual João Bettega, supervisionado pelo professor José Rittes, coordenado pela
professora Ângela Deeke Sasse.
Estes relatos se distribuem em três (4) tópicos. O primeiro trata das Atividades
Desenvolvidas, que se subdivide em Observações, Planejamentos e Aplicação; o segundo
apresenta os Resultados obtidos com as atividades aplicadas; o terceiro tópico faz uma
Análise dos Resultados e mostra soluções para os problemas enfrentados no projeto e na
educação musical brasileira; o quarto traz uma reflexão nas Considerações Finais.
Atividades desenvolvidas
As atividades tiveram início em Agosto nas turmas de 7º e 8º ano onde foram feitas
observações das aulas e análise da estrutura da escola e da região onde a escola está
localizada, entrevista com o professor e levantamento de materiais. Tendo os dados em mãos,
foram iniciados os planejamentos das aulas, levando em conta a realidade dos alunos e dos
professores que foram observadas, resultando, no desenvolvimento do planejamento, a
aplicação do conteúdo em sala de aula.
Observações
Foram três (3) semanas de observações, onde foram observadas cerca de quinze (15)
aulas de Artes do professor José Rittes. As observações foram guiadas com o auxílio de um
roteiro com categorias para nortear os dados observados. O envolvimento entre os alunos,
roteiro com categorias para nortear os dados observados. O envolvimento entre os alunos,
formação de grupos, lideranças, rejeições, conteúdos trabalhados, interação dos alunos com o
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professor, recursos, interesses dos alunos, controle disciplinar, avaliação e frequência, foram
algumas das categorias observadas. Junto disto, foram feitos diagnósticos da caracterização
socioeconômica, da estrutura física e material, da política de ensino do colégio dentro do
Projeto Político-Pedagógico (PPP) e do Regimento Escolar, também norteados por um guia
de mapeamento analisando dados como área residencial e comercial aos arredores da escola,
situação de água e esgoto e situações que influenciam na realidade escolar, condições que o
espaço da escola apresenta, números de alunos, funcionários e professores, projetos
comunitários, tipo de gestão, atribuições aos funcionários, encaminhamentos, grupos de
estudos, planejamentos de aulas, concepção pedagógica, entre outros. Para concluir a
obtenção de dados, foi aplicado um roteiro de entrevista com o professor para coletar detalhes
de sua formação, especialização, regime de trabalho, tempo de magistério, seleção de
conteúdos, elaboração de atividades e sua opinião a respeito de ensino de Artes e Música
diante das dificuldades encontradas no ensino.
No início das observações foram apresentados os bolsistas e o projeto aos alunos, que
mostraram grande interesse em participar. Neste início também, foi aplicado um questionário,
elaborado para conhecer mais sobre suas vivências musicais, como seus estilos preferidos,
mídias que mais utilizam, influências dos parentes e amigos e seu interesse nas oficinas que
seriam realizadas, assim como qual o instrumento desejavam aprender. A partir deste
questionário, notou-se que suas vivências musicais são muito ligadas aos principais meios de
comunicação como rádio, internet e televisão, então seus estilos preferidos que os resultados
apontaram, foram os que mais estão sendo difundidos e comercializados atualmente, sendo
eles: funk, rap e sertanejo universitário.
Nas observações, a interação do professor com os alunos se mostrou um tanto
conflituosa. Ele aparentava ter certo desgaste na profissão, resultando uma aula tensa e com
muitos conflitos, que geraram agressividade verbal por parte do professor e dos alunos,
prejudicando o ensino e a aprendizagem. O conteúdo de ensino também foi duvidoso, pois
praticamente todas as aulas eram ministradas somente com o auxílio de recurso audiovisual,
isto é, os alunos assistiam a filmes estrangeiros, com pouco conteúdo didático, onde o
professor fazia pouca referência com o conteúdo de Artes planejado no PPP, com as histórias
dos filmes. Alguns dos temas que tiveram ligações com os filmes foram as cores primárias,
monocromia e policromia, mitologia e arte grega e as diferenças entre o cinema mudo e o
atual. Apesar de parecer que seriam úteis para as aulas, estes conteúdos não foram muito bem
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explicados, foram apenas superficialmente comentados, causando um distanciamento entre o
tema e estas informações, causando também desinteresse nos alunos.
Na entrevista com o professor, vimos que sua formação é bem fundamentada. Ele
conta com duas graduações e especializações. Sua prática de ensino, em teoria, mostrou ser
bem planejada de acordo com sua formação, mas sua atuação em sala de aula era
contraditória.
A escola contava com bom espaço e estrutura. Havia espaços de recreação, cantina,
sala de professores, auditório, laboratório de artes, sala de educação física, laboratório de
química, quadra poliesportiva aberta e fechada. Mas estes espaços estavam mal conservados,
as salas de aula tinham as portas e lousas danificadas, as vidraças contavam com alguns
vidros quebrados e as carteiras estavam deterioradas, em função do uso e do vandalismo.
Havia também uma variedade de materiais para utilização didática nas aulas de artes, assim
com vários instrumentos musicais que eram utilizados na fanfarra e no projeto “Ginga Total”
aplicado por voluntários da região que se disponibilizaram a ensinar ritmos como samba,
maracatu e axé para toda a comunidade. A região que escola estava localizada também tinha
uma boa estrutura, com uma rua de comércio com diversos estabelecimentos de fácil acesso.
Mas aos arredores da escola, também havia uma região que influenciava a conduta dos
alunos. Esta região contava com alto nível de criminalidade, onde muitos dos alunos que
estavam no colégio eram influenciados por ex-alunos, que agora estão inseridos neste meio.
Outro problema eram as invasões ao colégio, que se tornaram comuns no dia a dia. Estas
invasões eram de ex-alunos que desejavam interagir com os alunos lá dentro, assim como
invasões no período noturno para vandalismo, depredações e roubos. Assim como a invasão
era comum, a evasão também se tornou uma realidade na escola. Deixando claro que a
desmotivação estava presente nestes alunos, que não tinham a visão dos estudos como algo
bom, apenas algo obrigatório, “chato” e maçante que atrapalhava seus momentos de lazer.
Com todos estes resultados, tivemos todas as informações necessárias para início dos
planejamentos.
Planejamentos
Os planejamentos das aulas foram marcados por dificuldades relacionadas ao tempo
de planejamento/aplicação e aos conteúdos, pois os alunos precisavam de aulas específicas,
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porém voltadas às suas necessidades. A estrutura que a escola dispunha foi um fator positivo,
que serviu como bases para os planos de aula.
Tendo isso, foram planejadas aulas de iniciação musical, com conteúdos básicos e de
fácil aplicação. As primeiras aulas foram focadas na musicalização, porém não foram
aprofundadas, pois havia o tempo curto que deveria contar com aulas e uma apresentação
final com a divulgação dos resultados.
Os planos de aula foram baseados na falta de musicalização que o ensino no Brasil
dispõe. A noção e percepção do ritmo foi algo primordial para ser trabalhado, para que a
apresentação final tivesse bons frutos. Além disto, a ampliação do repertório musical dos
alunos também foi algo presente nos planejamentos de praticamente todas as aulas.
Aplicação
O tema da primeira oficina foi sobre Som e Silêncio, conceituando o som e o silêncio
juntamente com os elementos básicos da música, visando criar novas visões sobre o que é
música. Este tema foi trabalhado com os alunos, como se fosse seu primeiro contato com o
universo musical. Foram trabalhados os conceitos de música e algumas curiosidades, como o
concerto “4’33”(1952) do compositor americano John Cage (1912 – 1992), onde ele, com
esta obra, afirma que o silêncio também é música. A recepção dos alunos às estas
curiosidades foi bem positiva, mas a ideia que o compositor quis transmitir nesta obra causou
uma polêmica entre os alunos, pois alguns dele não conseguiam conceber a ideia de uma
música apenas com silêncio. Foi interessante notar, que muitos dos alunos já queriam ter
contato com os instrumentos e começar as aulas práticas.
Seguindo com estes elementos básicos vistos na primeira oficina, que prepararam os
alunos para a musicalização a partir do ritmo, foram trabalhadas, na segunda oficina,
dinâmicas com Ritmo Corporal, que torna a internalização do ritmo muito mais significativo.
As atividades foram muito úteis para perceber e entender melhor as turmas e a forma com que
elas trabalhavam em equipe, assim como suas dificuldades na percepção do ritmo e do tempo.
Na terceira oficina, foram abordados os estilos musicais que eles têm mais vivência,
ousando em apresentar a história de seus estilos preferidos e quebrar o preconceito que eles
têm de músicas antigas. Desta forma, foram separadas algumas músicas de sucesso nos
últimos anos que usam samples, uma técnica que consiste em utilizar a melodia e o arranjo de
músicas antigas como base para uma nova música. Os alunos se mostraram surpresos, pois
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não sabiam que suas músicas preferidas eram inspiradas em músicas antigas, que eles tinham
como música “ruim”. Junto disto, foram discutidos pontos sobre o mercado da música
atualmente, que vê a música como produto e não como arte. A influência que os alunos têm
da música comercial, acabou causando polêmica também entre os alunos que gostavam de tais
músicas com os que não gostavam.
Na quarta oficina, foi trabalhada uma sequência dos conteúdos abordados na segunda
oficina (Percussão Corporal), porém com materiais recicláveis (Percussão Instrumental).
Foram apresentados alguns novos conceitos de ritmo e tempo, utilizando os materiais
disponibilizados pelo colégio. A aula se baseou em ostinato rítmico e no acompanhamento de
algumas músicas, trazendo a percepção do tempo de cada música. Alguns alunos sentiram
muitas dificuldades para sentirem o tempo, e quando percebiam, tinham problemas em manter
este tempo no acompanhamento. Foi interessante notar que alguns alunos que gostavam de
dançar, tinham muito mais facilidade para perceberem o tempo, fato este que provavelmente
seja resultado da prática da dança que também se apoia no tempo da música para acontecer.
Após essa inicialização musical, começaram as preparações para a apresentação final,
como escolha de instrumentos, repertório, tema e a divisão dos alunos por naipes (coral,
percussão, flauta e violão). O tema utilizado para a escolha do repertório foi: música brasileira
com uma letra significativa. Este tema visava uma nova vivência musical, com músicas que
eles já conhecem, mas não tem o costume de ouvir. A aula inteira acabou sendo necessária
para a escolha das músicas, pois eles queriam tocar suas músicas favoritas, que não se
encaixavam com a proposta do repertório. Esta aula também serviu para saber quais alunos
queriam tocar quais instrumentos. Talvez devido à vergonha ou à falta de interesse em tocar
outros instrumentos ou cantar, a maioria dos alunos queria participar da apresentação apenas
tocando percussão, tendo poucos voluntários para cantar, tocar violão e flauta. Depois de
algum tempo, foi possível dividir as turmas de forma mais homogênea entre os instrumentos.
Tendo as músicas escolhidas e os alunos em seus devidos grupos, houveram então dois
ensaios iniciais, dos quais, um foi com os grupos separados com cada bolsista coordenando
um grupo de ensaio, e o outro foi toda a turma completa, como um ensaio geral.
Devido à falta de musicalização que os alunos têm, os ensaios se tornaram bem
complicados, pois faltava musicalidade para a boa execução do repertório. Os ensaios então
foram adaptados, para serem mais que ensaios, seriam aulas de musicalização de forma que
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seriam trabalhadas as músicas da apresentação ao invés de músicas voltadas para este tipo de
dinâmica.
Com os preparativos para a apresentação em andamento, surgiu-se a necessidade de
uma breve iniciação teórica. Foram então abordados temas teóricos e históricos da notação
musical, junto de mais alguns outros elementos básicos. Os alunos gostaram de aprender a ler
partituras, pois viam esta atividade como se fosse um jogo. Mas como foi notado em outras
aulas, as turmas queriam aulas práticas com os instrumentos, não gostando da ideia de aulas
teóricas.
Depois desta aula teórica, foram feitos os três últimos ensaios antes da apresentação
final. Ensaios que foram menos tumultuados que os primeiros, pois as músicas tinham sido
mais bem trabalhadas nas musicalizações, com as turmas mostrando um progresso em suas
percepções musicais.
A apresentação final foi um tanto diferente do que era esperado. A data escolhida para
esta apresentação era de um evento comemorativo na escola, então muitos alunos não
compareceram, sabendo que não haveria falta na lista de chamada se não fossem, o que
atrapalhou a apresentação, pois houve turmas onde foram muito poucos alunos para que o
recital tivesse sucesso. A vergonha foi um problema que também estava presente nesta data
tão esperada, causando desfalque nos grupos que se apresentaram. Sendo assim, apenas duas
das cinco músicas ensaiadas para a apresentação foram executadas, sendo elas: “Vamos
Fugir” de Gilberto Gil (1942) e “Pais e Filhos” de Renato Russo (1960 – 1996), mas, mesmo
que breve, o evento foi muito rico para os participantes e todos que estavam no local,
principalmente aos alunos que se apresentaram e que mostraram um grande progresso
musical.
Resultados
Durante as aulas foi visível o progresso da qualidade, tanto das aulas, como do
interesse dos alunos com o conteúdo que estava sendo abordado. As aulas teóricas eram
sempre complicadas, pois os alunos tinham em mente que música é apenas prática e que
teoria não é importante, mesmo com as aulas teóricas planejadas para ter algumas dinâmicas
práticas entre as explicações de teoria, discussões sobre a atividade musical e contexto sócio
histórico da música, foi notório a falta de interesse em tais assuntos pelos alunos. Problema
este que também foi discutida nas aulas, com o objetivo de ampliar a visão da prática musical,
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não sendo algo apenas para diversão e prazer, mas uma coisa séria que depende de diversos
fatores para acontecer.
O questionário forneceu os estilos musicais que os alunos tinham vivência, então
houveram várias conversas, onde os alunos foram estimulados a procurar novos artistas e
produções musicais. Nestas discussões foi totalmente notável de que os alunos não tinham
nenhum tipo de educação musical e que a música comercial, produto dos principais meios de
comunicação é muito cultivada entre eles, causando uma grande influência em sua vivência
cultural. A finalidade destas discussões não era desmerecer tais estilos musicais, mas sim
mostrar pra eles que existem outros tipos de músicas que possam trazer pelo menos uma
mensagem para o contexto em que o aluno está inserido. Nesta área que entra a música como
formação integral do aluno. Em todas as aulas foi mostrado pros alunos benefícios de se
estudar música, sendo a prática musical algo que todos deveriam exercer, independentemente
de sua profissão, por trazer maiores conexões mentais, estimular a paciência, a percepção, a
criatividade, a lógica, a disciplina, assim como a identificação cultural e histórica da arte e do
mundo.
Ao longo das aulas foi perceptível o desenvolvimento do interesse com aquele assunto
desconhecido, dessa forma o progresso da capacidade de atenção e concentração foram
gradualmente difundidos através das aulas de ritmo e de instrumentos. Os ensaios
fortaleceram a capacidade da percepção sonora, pois cada aluno era responsável por um
instrumento e dessa forma era preciso atenção para a execução na hora e no ritmo correto em
sincronia com os demais.
Os resultados dos questionários mostraram que os alunos estavam fechados a novos
estilos e experiências, mas depois de conhecer novos caminhos musicais nas oficinas, muitos
preconceitos foram quebrados. Apesar de o programa ser curto, as aulas serviram com o seu
propósito que era trazer curiosidades e estimular o interesse pela arte musical, onde os alunos
viram a importância e a grandeza da música.
Análise dos resultados
Durante o período em que as aulas foram realizadas o progresso de vários alunos, a
curiosidade por parte deles em conhecer outros estilos musicais, de ter a oportunidade de ter o
contato com os instrumentos que havia na escola, como os violões e os instrumentos de
percussão assim como as flautas fornecidas pela professora Ângela, da PUCPR, e
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instrumentos pessoais levados pelos bolsistas. Mas infelizmente houveram também os alunos
desinteressados e que não desenvolveram a curiosidade e gosto pelas músicas e as novidades
levadas até eles, pelo menos não de forma explícita. Muitas vezes era por falta de
flexibilidade de admitir que existam outras músicas além daquelas que eles gostam. O
preconceito é um problema muito comum ao se falar de música com os alunos, talvez devido
à falta de educação musical nas escolas e da forte influência dos amigos e familiares que
também preferem as músicas comerciais e não veem a música como algo grande e que mereça
respeito. O principal educador musical das crianças e população em geral desde o fim da
década de 1970 foi a televisão e o rádio, que suprem apenas interesses comerciais e não
artísticos, oferecendo uma vivência musical carente para seus espectadores. Em todas as
oficinas, o respeito às opiniões dos alunos e a imparcialidade das opiniões pessoais dos
bolsistas eram tarefas primordiais, tornando as aulas uma relação horizontal na busca da
grandeza da arte musical e introduzi-los a música e as diferentes formas artísticas que
existem. Um dos objetivos das aulas também era o de mudar o conceito de música que estava
pré-estabelecido em suas concepções, criando assim novas fronteiras musicais em suas
vivências. Música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos dentro ou fora de salas de
concerto, respondeu John Cage a Murray Schafer (1933), quando questionado a esse respeito.
Para Cage (A. DE CAMPOS, in. J.CAGE, 1985, p. 5),
a música não é só uma técnica de compor sons (e silêncios), mas um meio de refletir
e de abrir a cabeça do ouvinte para o mundo. [...] Com sua recusa a qualquer
predeterminação em música, propõe o imprevisível como lema, um exercício de
liberdade que ele gostaria de ver estendido à própria vida, pois ‘tudo o que fazemos’
(todos os sons, ruídos e não-sons incluídos) é música.
Mas foi possível observar que mesmo com estas fortes influências da mídia e dos
colegas, muitos alunos não se deixavam levar pela opinião alheia e tinham gostos musicais
bem particulares, dividindo suas experiências sempre que podiam.
Os retornos por parte dos professores, alunos e colegas foi muito positivo. O ensino da
música, mesmo com poucas aulas, pode oferecer novos recursos de busca e entendimento
musical. Foi possível perceber até uma mudança na disciplina dos alunos que foi notada nas
aulas de observação, onde estavam bastante desgastados com a disciplina de Artes e muito
desinteressados em participar das atividades. Mas as dinâmicas em grupo proporcionaram
uma nova relação entre os alunos e o professor de Artes.
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Esta experiência serviu para mostrar que o ensino da música não é apenas para
musicalização, formar apreciadores ou para torna-los músicos, mas também para fortalecer
relações, estimular novas conexões cerebrais não desenvolvidas em outras atividades, entre
outros benefícios como a inteligência interpessoal, valores éticos e estéticos. São inúmeras as
vantagens de se estudar música como formação integral do indivíduo, sendo que mostrar para
eles esses benefícios em todas as aulas era uma tarefa primordial.
Infelizmente houve pouco tempo para ministrar as aulas que foram planejadas no
início do projeto, mas as experiências foram muito ricas para o projeto deste ano. As
atividades que obtiveram ou não sucesso foram anotadas para as aulas que serão ministradas
no projeto “Descobrindo a Orquestra” desenvolvido no Colégio Estadual Marechal Candido
Rondon, tema adotado com o intuito de desenvolver a curiosidade e aproximar os alunos dos
instrumentos e da prática orquestral que é muito rica, mas muito distante dos alunos, devido a
um grande preconceito, muito parecido ao que os alunos tinham a respeito de músicas antigas.
Sendo assim, a cada aula serão levados dois (2) instrumentos da cada naipe da orquestra,
trazendo a história do instrumento e algumas curiosidades. O objetivo maior é mostrar que a
orquestra não serve apenas para a execução da música erudita, mas sim para a prática musical
geral. Deste modo, serão levados vídeos de músicas populares sendo executadas em
instrumentos de orquestra. Junto disto, a motivação será algo amplamente trabalhado junto
dos conteúdos planejados.
A partir das experiências no programa PIBID, surgiu-se a necessidade de um
aprofundamento nas pesquisas a respeito da motivação dos alunos em sala de aula. Problema
este muito presente neste texto. Podemos observar que está cada vez mais difícil manter os
alunos motivados e interessados a conhecer os conteúdos abordados, tornando as aulas cada
vez menos produtivas. Sendo assim, será feito um questionário com os alunos para medir sua
motivação, e professores para saber suas técnicas motivacionais. Com estes dados, serão
buscados pensados métodos para contornar este problema e tornar a aprendizagem mais
significativa.
A motivação dos alunos infelizmente é trabalhada de forma equivocada com as
turmas. Muitos professores adotam a ideia que motivar os alunos, dizendo-lhes que estudar a
matéria que estão ministrando ajudará no futuro dos alunos. Mas os motivam apenas pelo lado
financeiro, isto é, se o professor de português motiva os alunos a estudar esta matéria para
“ganhar dinheiro” no futuro, os alunos vão querer apenas estudar português, pensando que só
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precisam daquilo para ter seu sucesso financeiro. A sociedade em que estamos inseridos tem
muito forte a ideia de que a felicidade é fruto apenas do acúmulo de um capital, sendo o
conhecimento apenas um meio de conseguir esta meta. Desta forma, os alunos excluem a
necessidade de estudar outras matérias, pois elas não vão dar o sucesso financeiro que elas
planejam para seus futuros. A motivação dos alunos deve ser trabalhada de forma que mostre
os benefícios de se estudar todas as matérias, como meio de uma formação integral de
conhecimento, formação esta que será de muita importância para suas conquistas pessoais,
quanto sua visão do mundo e sua noção de felicidade.
Considerações Finais
A aplicação do projeto do PIBID em 2013 trará uma ampla observação e levantamento
de dados a respeito das técnicas motivacionais adotadas pelos professores. A própria
motivação dos professores também é um problema real na educação brasileira. Com pessoas
motivadas, teremos melhores resultados. Com melhores resultados teremos uma melhor
educação, uma melhor educação que nos trará uma sociedade melhor, com indivíduos
formados integralmente, com consciência cultural, histórica e ética. A música entra nessa
formação como um dos meios de formar essa integração, visto que o estudo da música se
baseia em leis da Física, Química e da Matemática; tem seu movimento fundamento na
História, na Sociologia e Filosofia; algumas de suas expressões dependem de fatores
linguísticos expressados através da linguagem; trazendo também uma expressão corporal
amplamente ligada a atividades de Educação Física. Estes são apenas alguns exemplos que
fazem da música algo de grande importância para a formação integral do indivíduo no
caminho de sua motivação pessoal.
REFERÊNCIAS
CAGE, John. De Segunda a um ano: Novas conferências e Escritos. São Paulo: Editora
Hucitec, 1985.
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